Artigo Original
Tumorações cervicais: prevalência num
Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço
do Município de Montes Claros / MG
Cervical mass: the prevalence Service Head and Neck
Surgery in the city of Montes Claros / MG
Resumo
Francis Balduino Guimarães Santos 1
Maria do Carmo Tolentino Figueiredo 2
Madson Rodrigo de Souza Paula 3
Abstract
Introdução: As tumorações cervicais podem ser compreendidas
como qualquer aumento de volume na região do pescoço,
representadas pelas linfadenomegalias, nódulos, cistos, massas e
neoplasias. Podem ser a expressão de doenças locais, regionais
ou sistêmicas. Objetivo: Estudar quais as principais doenças
que podem cursar com a formação de tumores no pescoço e
avaliar a sua distribuição segundo tecido histológico acometido
e a sua localização anatômica no pescoço. Método: Estudo
retrospectivo, descritivo e cunho exploratório, avaliando 4.011
pacientes portadores de doenças que evoluíram com a formação
de uma tumoração cervical, em um serviço de cirurgia de cabeça
e pescoço em Montes Claros/Minas Gerais. Resultados: Os
principais tecidos histológicos acometidos foram a glândula
tireoide (40,9%), os linfonodos cervicais (34,3%) e as glândulas
salivares maiores (11,2%). Os cânceres representaram 25% dos
casos, mas observadas também doenças infecciosas endêmicas
da Região do Norte de Minas Gerais. Discussão e conclusões: O
tema ´tumorações cervicais` mostrou-se intrigante e desafiador,
evidenciando um número elevado de doenças e de situações
clínicas distintas. O reconhecimento das doenças mais prevalentes
que produzem as tumorações cervicais e o conhecimento da
anatomia do pescoço podem auxiliar o diagnóstico.
Introduction: The cervical tumors can be understood as any
swelling in the neck region, represented by lymphadenomegaly,
nodules, cysts, masses and tumors. May be the expression of
disease local, regional or systemic. Objective: To study what are
the main diseases which can occur with the formation of tumors in
the neck and evaluate their distribution according to histological
tissue lesion and its anatomic location in the neck. Method: A
retrospective, descriptive and exploratory, assessing 4011 patients
with disease that progressed with the formation of a cervical tumor
a surgery department head and neck in Montes Claros / Minas
Gerais. Results: The main histological tissue affected were the
thyroid gland (40.9%), cervical lymph nodes (34.3%) and salivary
glands (11.2%). Cancers accounted for 25% of cases, but also
observed infectious diseases endemic to the Region North of
Minas Gerais. Discussion and conclusions: The theme ‘neck
lump `proved intriguing and challenging, showing a large number
of diseases and medical conditions different. Recognition of
the most prevalent diseases that produce cervical tumors and
understanding the anatomy of the neck may help the diagnosis.
Key words: Prevalence; Head and Neck Neoplasms; Neck.
Descritores: Prevalência; Neoplasias de Cabeça e Pescoço;
Pescoço.
Introdução
O pescoço (ou região cervical) é uma região da anatomia humana compreendida entre a cabeça e o tórax e
apresenta grande relevância clinica1, uma vez que abriga diversas estruturas anatômicas com variadas funções
orgânicas - Quadro 1. Praticamente todas elas podem
ser sede de doenças que durante o seu curso clínico
produzem algum tumor no pescoço. Uma tumoração
cervical pode ser compreendida como qualquer aumento
de volume no pescoço causada por linfadenomegalias,
nódulos, cistos, massas ou neoplasias.
A presença de tumor cervical é cotidiana na prática
médica e pode ser a expressão de doença local, regional ou sistêmica e, por sua vez, pode ter etiologia neoplásica, inflamatória, autoimune, infecciosa, congênita e
até traumática2, 3. Nem sempre é tarefa fácil o reconhecimento e a descrição de uma anormalidade à palpação
1) Mestrado (Professor universitário UNIMONTES).
2)Mestre e doutoranda pela UNIFESP (Professora universitária UNIMONTES ).
3) Acadêmico (Acadêmico do curso médico da UNIMONTES.).
Instituição: Universidade Estadual de Montes claros – UNIMONTES.
Montes Claros / MG – Brasil.
Correspondência: Francis Balduino Guimarães Santos - Rua São Pedro, 112 – Bairro: Todos os Santo - Montes Claros / MG – Brasil – CEP: 39400-123 – Telefone: (+55 38) 3221-9353 – E-mail:
[email protected]
Artigo recebido em 12/03/2013; aceito para publicação em 26/05/02013; publicado online em 30/06/2013.
Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há.
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Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.42, nº 2, p. 70-76, abril / maio / junho 2013
Tumorações cervicais: prevalência num Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Município de Montes Claros / MG.
Quadro 1. Estruturas anatômicas do pescoço.
Órgãos
Laringe, Faringe, esôfago cervical.
Glândulas
Salivares maiores (Sublinguais,
Submandibulares e Parótidas),
Tireoide, Paratireóides.
Músculos
Supra e infra-hióideos, Esternocleidomastóideo, Escalenos e cervicais
posteriores.
Ossos
Coluna cervical, Hioide, Clavículas e
primeiras costelas.
Vasos
Gânglios Linfáticos (profundos,
superficiais, Ducto Torácico), veias
(Jugulares e tributárias) e Artérias
(Carótidas e Ramos).
Nervos
Pele e tecido celular
subcutâneo
Vago, Acessório, Hipoglosso,
Glossofaríngeo, Plexo cervical
superficial, Plexo Braquial.
Anexos da Pele (Glândulas
Sebáceas, Sudoríparas, folículo
piloso), Gordura do Subcutâneo.
do pescoço. É observado na literatura e mesmo entre os
especialistas o uso de termos tidos como sinônimos e
que em verdade expressam condições clínicas diferentes4, 5. Sabe-se, por exemplo, que não há clara distinção
entre nódulo e massa no pescoço, considerando o seu
volume ou tamanho - Quadro 2.
Para formular a hipótese diagnóstica de um tumor
cervical é necessário um conjunto de informações, a começar pela apresentação de um abaulamento no pescoço onde podem coexistir outros sinais e sintomas. O
quadro clínico pode ser diversificado e acarretar situações médicas desafiadoras a um diagnóstico preciso6, 7,
mas é necessário estar atento às graves doenças envolvidas. O aparecimento de um ´caroço no pescoço` parece assustar boa parte das pessoas, remetendo-as a um
provável diagnóstico de câncer.
Informações como idade, tempo de evolução, características clínicas e a localização anatômica do tumor
cervical centralizam parte do raciocínio clinico8, 9. Apesar de existirem diferenças estatisticamente marcantes
entre tumores cervicais incidentes nas faixas etárias
pediátricas e adultas, ambos compartilham de inúmeras
doenças e estas não devem ser excluídas somente pelo
critério da idade10. Crianças e adolescentes têm aproximadamente 75% das massas cervicais por adenopatias inflamatórias ou infecciosas. Menos de 5% são por
neoplasias malignas e menos de 20% são causadas
por alterações do desenvolvimento embrionário ou adquiridas11. O diagnóstico diferencial fundamenta-se na
avaliação clínica, através de uma anamnese detalhada,
um exame otorrinolaringológico com rigor propedêutico
e complementada por exames subsidiários quando necessário.
É tarefa complexa avaliar a prevalência das tumorações cervicais, considerando o grande contingente
de doenças envolvidas12. Dentre as condições clínicas
Santos et al.
Quadro 2. Características das tumorações cervicais.
Linfadenomegalia: aumento de volume dos linfonodos ou
gânglios linfáticos.
Cisto: geralmente de formato esférico, circundado por epitélio e conteúdo líquido em seu interior.
Nódulo: geralmente de formato esférico, ´menor que 3 cm
no geral` e frequentemente sólido.
Massa: geralmente de volume maior, formato aleatório e
algumas vezes com limites mal definidos.
Neoplasia: são tumores verdadeiros, formados por grupos
de células com crescimento acelerado, podendo ser benigno ou maligno (câncer).
Abscesso: aumento de volume no pescoço com coleção
de pús no interior dos tecidos, habitualmente associado à
sinais flogísticos.
O termo inglês ´´tumor neck`` frequentemente é usado para
designar neoplasias no pescoço e ´´mass neck`` no sentido
genérico para massas ou tumorações no pescoço.
que cursam com a formação de tumores no pescoço,
as doenças da tireoide têm prevalência elevada na população e acomete 8 a 10% da população feminina13. A
presença de linfadenomegalia cervical reacional inflamatória também é frequente, especialmente na idade pediátrica14. Por outro lado, as doenças que acometem as
glândulas salivares parótida e submandibular são pouco
frequentes e representam apenas 3 a 5% dos tumores
em cabeça e pescoço15. Os estudos em grande parte
ocorrem dissociados, ora como doenças da tireoide, linfadenomegalias, glândulas salivares, cistos congênitos
e assim por diante. Embora assim seja mais didático, o
tema torna-se fragmentado e finda por não apresentar
todo o seu universo.
Contrapondo às diversas publicações encontradas
na literatura sobre as tumorações cervicais, observamos
que poucos são os estudos de prevalência. Não se sabe
ao certo a sua ocorrência na população ou quais são as
suas principais características, sendo então necessário
um maior número de pesquisas médicas. O objetivo deste estudo é avaliar quais são as principais doenças que
produzem tumores cervicais e observar a sua distribuição segundo o tecido histológico acometido (estruturas
anatômicas) e a sua localização no pescoço.
Método
Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo e de
cunho exploratório, uma vez que pretende averiguar e
aprofundar o conhecimento acerca das tumorações cervicais. Realizado análise descritiva com avaliação das
proporções absolutas e relativas.
Para este estudo de prevalência foram levantados
7.381 prontuários de um serviço de cirurgia de cabeça
e pescoço no município de Montes Claros/MG, entre
os anos de 1996 a 2009 e selecionados como amostra
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Tumorações cervicais: prevalência num Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Município de Montes Claros / MG.
4.011 (54.34%) indivíduos com tumorações cervicais.
Montes Claros é a cidade pólo do Norte do Estado de
Minas Gerais, tendo esta região uma população superior
a 1.600.000 habitantes16.
Esta pesquisa foi aprovada pela .Universidade ...
através da Resolução Nº 130 do CEPEX/2008 - Parecer
004/2008-2011.
Critérios de inclusão:
Indivíduos portadores de doenças que produziram
tumorações cervicais palpáveis ao exame clínico e/ou
confirmados por propedêutica de imagem, sendo estes
o ultrassom, a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética nuclear.
Variáveis do estudo:
a) Etiologia: doenças descritas no prontuário médico
como hipótese diagnóstica principal.
b) Tecido histológico acometido: glândula Tireoide (e
paratireóides), glândulas salivares maiores de localização cervical, linfonodos, tecidos embriológicos,
anexos da pele e os tecidos de origem mesenquimal.
Embora a(s) paratireóide(s) seja(m) uma glândula
distinta, a mesma foi considerada junto à tireoide pela
sua proximidade a esta.
c) Localização no pescoço, considerando para sua
descrição as classificações anatômicas pertinentes: linfonodos - classificação por níveis cervicais da
ACHNO/2002, alterações do desenvolvimento embriológico - linha média ou lateral do pescoço, glândulas cervicais - anatomia topográfica ou de superfície
e os tumores mesenquimais / pele e tecido celular
subcutâneo - trígonos cervicais17, 18, 19, 20.
Santos et al.
Nas glândulas salivares - Tabela 1, as diferenças na
distribuição das doenças entre a parótida e a submandibular foram substanciais. Nas Parótidas as doenças
neoplásicas ocorreram em 199 (69,84%) indivíduos enquanto nas glândulas submandibulares somente em 49
(29,7%), sendo que nesta as causas inflamatórias foram
mais frequentes com 116 (70,3%). O adenoma pleomórfico foi o tumor benigno mais frequente neste grupo.
Os tumores cervicais produzidos pelas alterações do
desenvolvimento embrionário foram a quarta mais frequente, representadas especialmente pelos cistos cervicais, distribuídos entre o cisto do ducto tireoglosso com
202 (54,4%), cisto branquial com 89 (24,0%) e o cisto
dermóide com 17 (4,6%). Em conjunto os cistos congênitos representaram 86% das alterações do desenvolvimento embrionário, restando o higroma cístico com 25
(6,7%) dos casos.
Os tumores mesenquimais de localização cervical Tabela 1, ficaram assim distribuídos por ordem de frequência: os lipomas/fibrolipomas com 90 (56,3%), os
neuromas/ neurofibromas com 44 (27,5%) e os hemangiomas com 11 (6,9%). Outros tumores menos frequentes também foram observados em 15 (9,4%) e dentre
estes alguns cânceres menos frequentes. Quanto aos
anexos da pele foram identificados somente lesões císticas, sendo eles cistos sebáceos, triquilemais e epidérmicos.
Ao se distribuir as tumorações cervicais por neoplasias malignas - Tabela 2 identificou-se que estes ocorreram em 1.066 indivíduos (26,5%) e as neoplasias
benignas em 404 (10,2%). Dentre as neoplasias malignas apenas dois tecidos histológicos concorreram com
95,5%, sendo o câncer dos linfonodos os mais prevalentes (75,1%).
Resultados
Ao se distribuir as tumorações cervicais por tecido
histológico - Tabela 1 pôde-se observar que a glândula
Tireoide foi a mais acometida com 1.614 (40,9%), seguida pelos Linfonodos com 1.376 (34,2%) e pelas glândulas salivares com 450 (11,2%). Em conjunto estes três
tecidos histológicos responderam por 86,4% das tumorações cervicais.
Na glândula tireoide - Tabela 1, o bócio foi a alteração tireoidiana mais comum com 838 (51%) indivíduos,
excetuando-se os bócios mal definidos. O câncer da tireoide apresentou-se com 217 (13,2%) indivíduos e as
doenças das paratireóides com 18 (1,1).
Nos linfonodos - Tabela 1, se pôde observar uma
maior variedade de doenças, mas as metástases cervicais de carcinomas do trato aerodigestivo superior foram as mais prevalentes com 602 (43,8%) indivíduos,
seguidos pelas linfadenomegalias inflamatórias reacionais inespecíficas com 402 (29,2%) e pelos cânceres
primários dos linfonodos - os linfomas com 104 (7,6%).
Entre as doenças infecciosas específicas dos linfonodos, a tuberculose mostrou ser a mais prevalente com
23 ocorrências.
Tabela 2. Distribuição das frequências das neoplasias
malignas e benignas, segundo o tecido histológico.
Tecido histológico Neoplasias malignas (câncer)
Linfonodos (Carcinomas TADS,
Metástases 1º não-CP, Linfomas)
Glândula tireoide Glândulas salivares Tumores mesenquimais Tecidos embriológicos
Anexos da pele
Total
Neoplasias benignas
Linfonodos Glândula tireoide (e paratireóide)
Glândulas salivares (sialógenos e
não sialógenos)
Tumores mesenquimais Tecidos embriológicos
Anexos da pele
Total
n
%
801
217
38
7
3
0
1.066
0
21
75,1
20,4
3,6
0,7
0,3
0
26,5
232
153
0
0
57,1
37,7
0
0
406
10,2
Total de neoplasias (benignas e malignas) 1.472
72 R��������������������������������������������������
0
5,2
36,7
Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.42, nº 2, p. 70-76, abril / maio / junho 2013
Tumorações cervicais: prevalência num Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Município de Montes Claros / MG.
Santos et al.
Tabela 1. Distribuição e frequência das tumorações cervicais segundo os tecidos histológicos e a etiologia.
Tecido histológico / Etiologia
1 - Tireoide
Bócios
n
1.614
838
% Específica
51
Bócios mal definidos
Carcinomas
288
217
17,5
13,2
Tireoidites- outras condições
196
10,3
36
18
1.376
602
2,2
1,1
43,8
402
29,2
104
95
7,6
6,9
67
4,9
93
13
450
6,8
0,9
166
33
66
58,24
11,6
23,2
20
7,0
44
5
104
26,7
3,0
63,0
12
333
202
89
25
17
160
90
44
7,3
Adenomas
Doenças das Paratireóides
2 - Linfonodos cervicais
Metástases cervicais do Ca.
TADS
Linfadenomegalia reacional
inespecífica (adenites)
Linfomas
Metástases cervicais diversas
Infecciosas específicas
Linfadenomegalia mal definida
Outros
3 - Glândulas Salivares
Parótida
Adenomas
Carcinomas
Diversos
Tumores não sialógenos
Submandibular
Adenomas
Carcinomas
Diversos
Tumores não sialógenos
4 - Tecidos embriológicos
Cistos Tireoglosso
Cisto Branquial
Higroma cístico
Cisto Dermóide
5 - Tumores mesenquimais
Lipomas/fibrolipomas
Neuroma/ neurofibroma
Hemangiomas
Outros
6 - Anexos da pele
Cistos não congênitos
Total
11
15
50
50
4.011
% Global
40,9
Considerações etiológicas (n)
Bócio multinodular atóxico (470).
Demais bócios e cistos coloide (368).
Propedêutica incompleta.
Papilar (133), Insular (3), folicular/ Hürthle (58),
medular (7), indiferenciado (16).
Principalmente Hashimoto e Graves, De Quervain,
Ridel, Plummer.
Tipo folicular e embrionário.
Hiperplasia principalmente IRC (15) e adenoma (3).
34,3
Nasofaringe, cavidade oral, orofaringe, laringe,
hipofaringe e rinofaringe.
Incluindo viroses inespecíficas e afecções bacterianas, abscessos.
Hodgkin e não-Hodgkin.
Sítio 1o Indeterminado (32), primário não-cabeça e
pescoço (45), Pele (18).
Tuberculose (23), Toxoplasmose (17), Blastomicose (5), Mononucleose (5), citomegalovírus (4),
Leishmaniose (2), AIDS (3), Doença da arranhadura do gato (2), Cisticercose (1) e outros (5).
Propedêutica incompleta.
Doença de Castleman (2), Sarcoidose (2), diversos.
11,2
285 (63,3%)
Principalmente adenoma pleomórfico (157). Também Warthin, ad. Monomórfico, fibrohistiocitoma.
Carcinoma mucoepidermóide, ex-adenoma pleomórfico, adenoide cístico, epidermóide, teratoma,
linfoma tipo MALTHE, lipossarcoma.
Parotidites, sialoses, Sindrome Sjogren.
Lipoma, hemangioma, linfangioma
165 (36,7%)
Principalmente adenoma pleomórfico (40).
Carcinoma mucoepidermóide, adenoide cístico,
adenocarcinoma.
Sialoadenites, sialolitíases e sialoses diversas.
Lipoma, hemangioma.
8,3
60,6
26,7
7,5
4,6
Cistos ou fistulas, Ca. folicular (2)
Cistos ou fistulas, cisto branquial malignizado (1)
Maioria crianças (linfangioma).
Submandibular e em fúrcula esternal
4,0
56,3
27,5
Incluindo a doença de Madelung (6).
Incluindo do plexo braquial (5) e doença de Von
Recklinghausen (4).
Maioria adultos.
Glômus carotídeo (5), osteoma da coluna cervical (3).
Malígnos: lipossarcomas (3), rabdomiossarcomas
(2), Ca. neuroendócrino(2).
6,9
9,4
1,2
100,0
Sebáceo, triquilemal e epidérmico.
100
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Tumorações cervicais: prevalência num Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Município de Montes Claros / MG.
Santos et al.
Entre as neoplasias benignas, as glândulas salivares
concorreram com 232 (57,1%), seguidos pelos tumores
mesenquimais com 153 (37,7%).
Ao distribuir os tecidos histológicos segundo a localização anatômica - Tabela 3, ficou evidenciado o acometimento dos linfonodos nos níveis mais altos I, II e III
em 967 (70,2%). Os níveis linfáticos póstero-inferiores
foram os menos acometidos. Em relação à localização
glandular, a topografia da tireoide foi a mais representativa com 78,4%. Os tumores mesenquimais juntamente
com os anexos da pele distribuíram-se difusamente no
pescoço, mais frequentemente no trígono anterior com
47 (22,5%) e em menor intensidade nos trígonos submandibular e submentoniano. Por fim as alterações do
desenvolvimento embriológico distribuíram-se especialmente na linha média do pescoço com 219 (65,7%) e na
linha lateral com 114 (34,2%).
Tabela 3. Distribuição das frequências das tumorações
cervicais, segundo a localização anatômica e tecido histológico.
Conclusões e discussão
Total parcial
Neste estudo, apesar do número limitado das variáveis envolvidas pôde-se observar que cerca de 86% das
tumorações cervicais ocorreram em apenas três tecidos
histológicos: a tireoide (40,9%), os linfonodos (34,3%) e
as glândulas salivares (11,2%). O reconhecimento destes tecidos mais acometidos poderá facilitar na compreensão do tema e na formulação da hipótese diagnóstica.
Em relação à Tireoide, entre todos este foi o tecido
mais acometido por doenças que cursaram com uma tumoração cervical e o bócio foi a doença mais prevalente
(51%), tendo como conceito ´qualquer aumento da tireoide, de natureza não inflamatória e nem tumoral21. Ficou
evidenciada assim a importância das doenças da tireoide no contexto das tumorações cervicais, especialmente
para o sexo feminino.
De igual importância, os linfonodos apresentaram-se
como o segundo mais acometido e apresentou-se com
uma maior heterogeneidade de doenças. A metástase
cervical do câncer do trato aerodigestivo superior foi a
doença que mais acometeu os linfonodos do pescoço
(43,8%), fato este coerente com uma clínica oncológica22. Os cânceres primários dos linfonodos - os linfomas,
também se apresentaram com índices consideráveis
(7,6%). Este fato torna-se mais relevante para indivíduos acima de 40 anos de idade, em que se excluída a
tireoide, cerca de 80% dos tumores no pescoço serão
neoplasias e destes cerca de 80% serão malignos - regra dos 8023, 24. Sendo assim, toda linfadenomegalia em
adultos deve ser conduzida juntamente com um médico
a um esclarecimento.
Por outro lado, ao se utilizar das informações de um
serviço de cirurgia de cabeça e pescoço, uma sub-especialidade oncológica, este estudo evidenciou um número
elevado de indivíduos com câncer, especialmente metástases para os linfonodos cervicais oriundos de cânceres do trato aerodigestivo superior - viés de seleção.
Embora não se tenha utilizado a idade como variável
neste estudo, possivelmente a situação seria diferente
Classificação anatômica / tecido histológico
Linfonodos cervicais - níveis cervicais
Nível I (a+b) submentoniano e submandibular
Nível II (a+b) cadeia jugulo-carotídea alta
Nível III cadeia jugulo-carotídea médio
Cervical posterior, retro-auricular e occipitais*
Nível IV cadeia jugulo-carotídea baixo
Nível V (a+b) trígono posterior
Nível VI compartimento ´´central``
Total parcial
n
%
302 21,9
420 30,5
245 17,8
125 9,1
119 8,7
110 8,0
55 4,0
1.376 100
Glândulas localizadas no pescoço - Topográfica Região tireoideana
1.624
Região parotideana
285
Região submandibular
165
Glândula paratireóide (essencialmente por imagem)18
78,4
12,7
8,1
0,8
2.092 100
Tumores Mesenquimais e Anexos da Pele - Trígonos Cervicais
Trígono Anterior
47 22,4
Região cervical posterior e retro-auricular
40 19,0
Trígono posterior
37 17,6
Trígono Supraclavicular
33 15,7
Trígono Carótico
22 10,5
Trígono submandibular
17 8,1
Trígono Submentoniano
15 7,1
Total parcial
210 100
Tumores de origem embriológica Linha média
Cisto e fístula do ducto tireoglosso
Cistos dermóides
Linha lateral
Higroma cístico (linfangioma)
Cisto e fístula branquial
202 60,6
17 5,1
25 7,5
89 26,7
Total parcial
333 100
Total global
4.011 100
* As regiões cervical posterior, retro-auricular e occipitais não
fazem parte da classificação de linfonodos por níveis cervicais.
numa clínica pediátrica onde 90% das linfadenomegalias
são inflamatórias reacionais inespecíficas e não se pode
de imediato presumir pelo diagnóstico de malignidade
neste grupo, uma vez que a grande maioria das crianças
apresentam doença branda e autolimitada24, 25,26. Somente 5% dos cânceres em pediatria ocorrem no sítio da cabeça e pescoço27.
Ainda nos linfonodos cervicais, observamos doenças
típicas de regiões tropicais como a Leishmaniose, Blastomicose e especialmente a Tuberculose. Podemos até
dizer que as linfadenomegalias cervicais se distribuem
distintamente, considerando-se as diferentes regiões geográficas de um país ou do mundo, sendo importantes
os estudos de prevalência28, 29.
O acometimento das glândulas salivares maiores
são pouco frequentes na população em geral, mas foi
o terceiro tecido histológico mais acometido (11,4%) e
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Tumorações cervicais: prevalência num Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Município de Montes Claros / MG.
deve ser lembrado nas tumorações cervicais. Foi possível identificar uma miscelânea de doenças entre as
glândulas salivares, desde neoplasias, sialoadenites,
sialolitíases a até as sialoses. A parótida apresentou um
número significativamente maior de neoplasias se comparado à submandibular e esta por sua vez mostrou-se
com maior prevalência de doenças inflamatórias, estando coincidente com os achados da literatura30. As neoplasias malignas ocorreram em apenas 11,6% na parótida e
3% na glândula submandibular, havendo predomínio dos
tumores benignos.
As alterações do desenvolvimento embriológico são
causas de tumorações cervicais especialmente em pediatria, embora não exclusivas desta faixa etária. Os resultados desta casuística foram compatíveis com dados
da literatura31, evidenciando o cisto do ducto tireoglosso
como a condição mais prevalente dentre os cisto congênitos (54,4%), seguido pelo cisto branquial (24%). Entre
os tumores mesenquimais os mais prevalentes foram os
lipomas (42,9%), seguidos pelos neuromas (23,8%). As
doenças originárias da pele foram a causa menos frequente entre todas as tumorações (1,2%), sendo estas
mais observadas em ambientes de dermatologia ou cirurgia ambulatorial.
As neoplasias verdadeiras foram encontradas em
36,7% do total, estando a neoplasia maligna (câncer)
envolvida em aproximadamente 25% das tumorações
cervicais neste estudo e praticamente com ocorrência
nos linfonodos e na tireoide (95,5%).32,33. Estes achados são coerentes com a cirurgia de cabeça e pescoço
e denotam a importância da especialidade no contexto
oncológico.
Por fim, enquadrar as tumorações cervicais nas
regiões anatômicas do pescoço, associando-as às estruturas histológicas e às classificações existentes não
é uma tarefa fácil. Usando-se a classificação dos níveis
linfáticos, a cadeia mais acometida no pescoço foi o nível
II a+b (30,5%), possivelmente influenciados pelas metástases dos carcinomas do trato aerodigestivo superior.
É plausível que diferenças sejam encontradas entre as
diversas especialidades que atuam na saúde e que mostram outros níveis linfáticos como os mais acometidos34.
A classificação por trígonos cervicais pôde ser realizada
com relativa facilidade para descrever o acometimento
cervical não-linfático. Nesta condição a distribuição dos
tumores mesenquimais foi dispersa, mas o trígono anterior (22,4%) e posterior (17,6%) foram os mais acometidos. A localização anatômica, de uma maneira mais
simples e direta pode somar-se para uma formulação
diagnóstica.
Por outro lado, as classificações anatômicas, quadros e esquemas de condutas para as tumorações
cervicais apresentam-se ora simples e incompletas ou
complexas e pouco aplicáveis à prática médica cotidiana. Tais dificuldades induzem alguns a encaminharem os
seus pacientes com tumorações cervicais aos especialistas, dado a dificuldade à formular-se um diagnóstico
mais preciso.
Santos et al.
As tumorações cervicais podem apresentar-se como
uma condição intrigante e desafiadora aos profissionais
da saúde, considerando-se o elevado número de doenças e situações clínicas nela contidas. Uma abordagem
padronizada poderá auxiliar de forma mais decisiva no
diagnóstico das tumorações cervicais.
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