IMPLANTES INTRA-OCULARES EM CÃES
Jorge da Silva Pereira1, Amarilis Botelho Ferreira da Silva Pereira2, Carlos Gandolf
Lieberknecht3, João Telhado4
ABSTRACT:
PEREIRA,
J S;
PEREIRA,
ABFS;
LIEBERKNECHT,
CG;
TELHADO,J. Intra-ocular Lens Implantation in Dogs . Intra-ocular lens implantation
have been choosen in veterinary medicine since the 80’s decade, after a removal of a
cataratous lens, either by phacoemulsification or extra capsular surgery. The purpose of
this paper is to evaluate the results of cataract phacoemulsification with a Corneal®
foldable intra-ocular lens implantation in 22 eyes of 18 dogs of different breeds, males
and females, aging between 2 to 14 years. Time of US needed, long term post operative
intraocular hipertension, inflamation and corneal edema are discussed, as well as the
visual acuity.
KEY WORDS: Dog, Iol, Phacoemulsification
RESUMO
O Implante de uma lente intra-ocular após a extração de um cristalino cataratoso,
seja por facoemulsificação ou mesmo pela extração extra-capsular tradicional da
catarata, tem sido o procedimento de escolha em Medicina Veterinária, desde a década
de 80. O presente trabalho é uma avaliação dos resultados de 22 olhos de 18 caninos de
diferentes raças, machos e fêmeas, com idades variando entre 2 e 14 anos, que foram
submetidos à facectomia ultrasônica com o implante de uma lente intra-ocular dobrável
Corneal®. Foram avaliados o tempo total de US necessário para emulsificar e aspirar
todo o cristalino e, a longo prazo, a PIO, o grau de inflamação e edema corneanos bem
como a acuidade visual obtida através do procedimento.
PALAVRAS CHAVE: Cão, LIO, Facoemulsificação
INTRODUÇÃO
1,2,3,4
O único tratamento eficaz para a catarata é a cirugia
. Dentre estas, a
Facoemulsificação (FE) tem sido relatada como a técnica mais eficaz para o momento
4,5,6,7
. Embora a extração simples de um cristalino cataratoso devolva ao cão a
capacidade de voltar a se locomover em seu ambiente, considerada visão funcional, uma
hiperopia de, em torno de 14 dioptrias (D), fica instalada2,5,8,9,10. O implante de uma
lente intra-ocular (LIO) tende a devolver a mesma acuidade visual que o paciente
possuía antes de desenvolver a opacificação do cristalino3;4;11;12. Diferentes próteses
intra-oculares vêm sendo utilizadas3;4;8;13;14;15 e estudadas, quanto a efeitos colaterais
decorrentes do implante das mesmas, principalmente relacionadas à inflamação intraocular, pressão intra-ocular (PIO) e edema corneano pós cirúrgico3;4;7;11;12. O presente
1, 2 MV, Centro Estudos, Pesquisa e Oftalmologia Veterinária – CEPOV
3 MV, Clinica Veterinária Lieberknecht
4 MV, Prof Adjunto Clínica Medica UFRRJ, Ms PhD
trabalho é um estudo retrospectivo do estado de saúde de 22 olhos de 18 animais que
foram operados com a técnica de FE seguida de um implante de uma LIO do fabricante
Corneal®, França, modelo PFI2000 – 41D, nos últimos 3 anos, em nossa rotina
cirúrgica.
MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi realizado no Centro de Estudos, Pesquisa e Oftalmologia Veterinária
(CEPOV), em Teresópolis, Estado do Rio de Janeiro, e na Clínica Veterinária
Lieberknecht, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, onde foram submetidos a
facectomia ultra-sônica , um total de 22 olhos de 18 caninos de diferentes raças, machos
e fêmeas, com idades variando entre 2 e 14 anos. Todos os animais foram
facectomizados sob efeito de anestesia geral com Isoflorano7,9,14,15,16,17, através do uso
de um facoemulsificador Universal Alcon® (Fig 1) Para o procedimento, a câmara
anterior (CA) foi acessada através da confecção de uma abertura com um bisturi 150
9,13,15
Alcon®
, por vezes em córnea clara e por outras na região límbica1,5. A CA foi
então preenchida com uma bolha de ar, seguida por uma solução de azul de tripano a
0.1%, com a finalidade de corar a cápsula anterior e assim, facilitar a
capsulorexis16,18,19,20,21,22,23,24,25. A capsulorexis foi feita com o uso de uma agulha
25x5.517,18,21,22, acoplada à caneta de irrigação e com o pedal do equipamenjto acionado
em posição I, irrigação (IRR) (Fig 2). A abertura da CA foi ampliada para 3.2mm,
permitido ambas, a retirada da cápsula anterior e a penetração da caneta de FE. A
função ultra-som (pedal em posição III – US) foi evitada, tanto quanto possível,
preferindo-se retirar o córtex cristaliniano utilizando-se a função irrigação / aspiração
(IRR/ASP), pedal em posição II (Fig 3). Após a extração do cristalino cataratoso, foi
feita a aspiração dos restos corticais5,7,8,9, utilizando-se a caneta específica para tal
função com o pedal em posição II (IRR/ASP) e a incisão foi novamente ampliada para
3.8mm, a fim de permitir acesso do cartucho injetor à bolsa cristaliniana (Fig 5). O
cartucho injetor foi preenchido com uma solução de metilcelulose a 3% e a LIO foi
aplicada no sulco deslizante e posicionada com o posicionador. O cartucho foi então
introduzido na seringa de titânio, aparelho injetor (). Assim, cada cão recebeu uma LIO
acrílica dobrável Corneal®, modelo PFI 2000 de 41D em plataforma, de 14 mm de
diâmetro (Fig 4, Fig 6). Os dados coletados para avaliação foram o tempo de US
necessário para emulsificar totalmente os núcleos cataratosos, a centralização da LIO, a
PIO pré e pós-operatória, a inflamação pós-operatória, avaliada pela quantidade de
fibrina em CA, e presença ou não de edema corneano pós-operatório. Os animais foram
avaliados nas primeiras 24h de pós-operatório, aos 7 dias de operados, 15 dias, 6 meses,
1, 2 e 3 anos, quando possível.
RESULTADOS
Os tempos de US utilizados variaram entre 1.1 a 4.7 min. (media 2.2 min), sendo este
menor em animais mais jovens e nos mais velhos, nos quais o córtex já se apresentava
menos denso e, às vezes liquefeito. A LIO apresentava-se bem centralizada em todos os
olhos, desde as primeiras 24h da cirurgia e até o terceiro ano, nos casos em que foi
possível completar esse período de acompanhamento. Em apenas um olho, foi possível
notar presença de fibrina (++) na CA, nas primeiras 24h que aumentou para (+++) aos 7
dias de pós-operatório. Este olho, após 6 meses de tentativa de controle de inflamação
intra-ocular, apresentava-se pthísico. Embora dentro da faixa de normalidade geral, em
um caso, a PIO apresentou-se elevada, tendo aumentado de 13mmHg em pré-operatório
para 24mmHg nas primeiras 24h, voltando a 15mmHg aos 7 dias de pós operatório.
Apenas o olho que apresentou fibrina em CA no primeiro dia, apresentou também
edema corneano (++). Todos os 22 olhos operados tiveram um acompanhamento de até
1 ano, ocasião em que 95% dos olhos apresentavam-se isentos de fibrina em CA, com a
PIO dentro dos limites, com a córnea transparente e sem edema, e com a LIO
centralizada na bolsa capsular.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Os tempos médios de ultra-som foram maiores na idade adulta (a partir de 5 anos para
exemplares de porte pequeno e 3 anos para exemplares de porte grande), tornando a
diminuir em cães mais idosos (em torno de 11 anos nas raças de porte pequeno e 8 anos
em raças de porte grande) com cataratas em estágio de hipermadurecimento,
confirmando relatos anteriores7,8,9. A aplicação da LIO utilizada no experimento foi
facilitada pelo aparelho injetor, reduzindo o trauma intra-ocular pertinente a este tempo
cirúrgico. A centralização da LIO dentro da bolsa capsular demonstra que o diâmetro da
mesma, atendeu as necessidades dos olhos estudados. A presença da LIO não
determinou aumento de fibrina em CA e a PIO não foi alterada em função da presença
da LIO, o que difere das citações da literatura especializada5,15,16. Essa ausência quase
absoluta de fibrina em CA, diferentemente de citações anteriores4,6,12 poderia se
justificar pela opção pelo não uso de endo-protetores como sulfato de condroitina, n
metilcelulose, ácido hialurônico, sabidamente causadores de inflamação bem como
hipertensão intra-ocular no pós-operatório imediato5,7,12. Da mesma maneira, não foi
observado edema corneano que pudesse ser relacionado à presença da LIO na bolsa
capsular, fato que também merece maiores investigações pois, da mesma maneira, pode
estar ralacionado ao não uso de endoprotetores oculares. No único olho a apresentar
edema corneano, este estava relacionado à severa uveite pós-operatória. Em todos os
olhos implantados noa quais não sofreram intercorrências pós-operatórias (95%), os
animais apresentaram acuidade visual semelhante a um indivíduo normal, que podia ser
notada pelo comportamento (segurança ao caminhar em ambientes desconhecidos,
desviar de objetos e boa percepção de movimento) dos mesmos, e boa resposta ao
reflexo de ameaça, confirmando achados de outros autores1,3,4,5. A oftalmoscopia direta
pós-cirúrgica foi possível, focalizando o aparelho em lente 0, o que poderia sugerir o
estado de emetropia ou de condição refrativa similar à de antes do desenvolvimento da
catarata. Merece atenção o fato de que em todos os casos estudados, substâncias
viscoelástas foram utilizadas apenas para o preenchimento do cartucho injetor e assim
facilitar o deslizamento da lente no mesmo até sua acomodação na bolsa capsular.
Embora sejam necessários estudos mais detalhados, os resultados observados neste
permitem concluir que a LIO aqui utilizada atendeu as necessidades de correção de
refração, sem determinar inflamação crônica decorrente da presença da mesma,
aumento de PIO ou outro dano às estruturas e ao funcionamento do globo ocular.
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Fig 2 Capsulorexis com
azul de tripano
Fig 3 Facoemulsificação:
escultuta em 4 quadrantes
Fig 1 Modelo de Facoemulsificador
Fig 4 a) Embalagem da LIO, Posicionador, cartucho e seringa
injetora b) Foto de perfil da LIO c) Desenho esquemático da
Fig5 Cartucho em direção Fig 6 LIO implantada
LIO
à bolsa capsular
Jorge da Silva Pereira, MV – MsC
Diplomado CLOVE – Diplomado CBOV
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