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4. Portabilidade do crédito ainda patina
15/04/2009 Gazeta Mercantil SP Jornal Insper B01
São Paulo, 15 de Abril de 2009 - A palavra portabilidade nunca esteve tão em voga. A possibilidade de os brasileiros
mudarem de operadora de telefonia celular, levando consigo o número, reaqueceu a concorrência entre as operadoras do
setor. No setor bancário, onde a portabilidade do crédito é possível há mais de dois anos, os efeitos práticos da medida são
pouco conhecidos. Lançada em setembro de 2006 pelo governo como parte de um pacote para estimular a concorrência e
baixar o spread bancário, a chamada portabilidade do crédito ainda não deslanchou. O Banco Central (BC) e a Federação
Brasileira dos Bancos (Febraban), procurados pela reportagem, afirmaram que não existem dados sobre os efeitos
concretos da medida. O crédito consignado é o único segmento em que houve, segundo executivos do setor, uma
intensificação da disputa pelo cliente, estimulada pela portabilidade.Desde o lançamento do pacote de estímulo à
concorrência e de mudanças posteriores que ampliaram a abrangência da medida, créditos como cheque especial,
consignado, crédito direto ao consumidor (CDC) e financiamentos de veículos e imóveis podem ser levados de um banco
para outro pelo cliente, em busca de melhores taxas. Para o presidente da Associação Brasileira dos Bancos (ABBC),
Renato Oliva, os efeitos do pacote do governo são limitados porque nem sempre é interessante para o cliente, o que limita a
demanda pela portabilidade.Oliva cita dois exemplos de operações bem distintas. "Em créditos de curto prazo, de alguns
meses como o CDC, não vale a pena nem para o cliente nem tampouco para o banco entrar na briga para estimular a
portabilidade de uma operação de três ou seis meses", explica Oliva. Já para o crédito imobiliário, de mais longo prazo, o
problema é outro, ligado ao modelo adotado no País. "Disputar esse cliente, estimulando a portabilidade do crédito, sai muito
caro e compromete uma eventual redução na taxa de juros cobrada", diz o executivo, lembrando custos como averbação do
imóvel para o banco que assumirá o crédito, com a avaliação do imóvel, certidões negativas, registro de nova hipoteca,
entre outros. "Negociações do setor imobiliário no Brasil são muito burocratizadas."Na prática, diz Oliva, a portabilidade do
crédito só acabou funcionando bem no segmento consignado. "Neste caso, a formalização é mais fácil. O custo para a
portabilidade do crédito é muito pequeno e tem sido grande a disputa entre os bancos", diz ele.Para o professor de finanças
do Ibmec-SP Alexandre Chaia, uma característica particular do mercado brasileiro dificulta a utilização maciça da
portabilidade. "O brasileiro preza o relacionamento com seu banco, com o gerente, e ninguém quer perder este histórico de
relacionamento porque isto é importante", diz Chaia. "O nível de fidelização no Brasil é muito elevado e a medida de
portabilidade do crédito esbarrou neste aspecto."Quando o assunto é o crédito consignado, lembra o professor do Ibmec-SP,
a disputa pelo cliente ocorreu, principalmente, entre os bancos médios. "Neste caso, é menos comum o longo
relacionamento banco-cliente. O vínculo é baixo, o que facilita a portabilidade", explica. Para Chaia, no futuro o que pode
ajudar é o cadastro positivo, por meio do qual os bancos vão compartilhar as informações do cliente. "Quando isso ocorrer, o
relacionamento banco-cliente perderá a importância na hora de conseguir um crédito ou elevar o limite estabelecido, mas
isso demandará tempo." Procurados, Banco do Brasil, Bradesco, Santander e Itaú-Unibanco não falaram sobre o
assunto.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Jiane Carvalho)
Data de geração: 21/07/2010 Página 8
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