492
A percepção do indivíduo na gestão do conhecimento
organizacional: estudo teórico-empírico das influências da
interferência nos fluxos informacionais na criação de
conhecimento e tomada de decisão
Regis Garcia (UNESP/Marília)
Bárbara Fadel (Uni-FACEF/Franca)
1 O PROBLEMA
1.1
Introdução
É fato que a sociedade da informação e do conhecimento já tem por
consolidada a idéia de que são os fluxos informacionais que, convergidos e ou
emanados dos indivíduos, constituem um dos principais elementos de sua
construção. A construção contínua (SCHEIN, 1982) é uma função vital das
organizações. “A hegemonia econômica e social é exercida não mais pelos
proprietários dos meios de produção, e sim por aqueles que administram o
conhecimento e podem planejar a inovação” (TARAPANOFF, 2001).
A informação que subsidia os processos decisórios e que viabiliza a criação
de conhecimento com vista à inovação, no entanto, só faz sentido a partir de sua
relação com o sujeito do processo de decisão. Como seu processamento é feito na
mente humana, a organização que deseja inovar deve agir primeiramente na
compreensão e incentivo do indivíduo. Ela tem como objetivo subsidiar a construção
de
conhecimento
e
sempre
depende
de
uma
interpretação
humana
(VALENTIM;ZWARETCH, 2007). É dinâmica, e é ela que mantém as organizações
unificadas (MORAES, FADEL, 2007).
A maior parte dos indivíduos está de alguma forma inserida num contexto
organizacional, principalmente empresarial. Essa inserção forma o que se denomina
de “contrato psicológico” (SCHEIN, 1982, p.18) devido ao fato de que “há um
conjunto não explícito de expectativas” atuando intra-organizacionalmente.
A influência da organização no comportamento humano, devido pela
presença do indivíduo nas organizações extrapola a do próprio tempo de
convivência. Os esforços para a compreensão dos elementos influenciadores desse
comportamento representa desafio para a ciência. A organização tem reflexo bem
maior no comportamento humano do que se poderia deduzir pela análise do tempo
493
de permanência dentro delas (MARCH; SIMON, 1970).
As organizações empresariais são como micro-sociedades submetidas a toda
sorte de mutações do ambiente externo, influenciada e influenciadora desse
ambiente e são os indivíduos que por meio da tomada de decisões as modificam e
as constroem continuamente.
Muitas das habilidades dos indivíduos que influenciam a vida das
organizações emanam de sua íntima percepção. As ações, muita das vezes, são
guiadas pelo que está dentro da mente do próprio indivíduo influenciando sua autoestima e motivação para gerir a si mesmo e aos outros com impacto direto nas
rotinas organizacionais (ARGYRIS, 1993).
É importante a compreensão da organização como núcleo social constituindo
uma congregação de indivíduos (VALENTIM, 2007). Tal idéia coloca o indivíduo
como sujeito de transformação e, portanto, como elemento principal da formação do
conhecimento, organizacional e da própria sociedade.
Uma vez apresentado o relacionamento existente entre a sociedade, a
organização e o indivíduo, destacada a importância da informação neste contexto,
este projeto propõe uma pesquisa focada nos elementos comportamentais dessa
relação, especificamente aqueles que envolvem a percepção do sujeito quanto aos
fluxos informacionais.
1.2
Questão de pesquisa
Procurar-se-á responder: na percepção dos indivíduos - em que pese às
limitações cognitivas enquanto sujeitos do processo decisorial – quais as
influências do volume e qualidade das informações - disponibilizadas e ou
infundidas1 - na criação de conhecimento e tomada de decisão, a partir da
interferência nos fluxos informacionais?
1.3
Objetivo geral
A pesquisa procurará identificar sob a percepção dos indivíduos, quais as
influências do volume e qualidade das informações - disponibilizadas e ou infundidas
- na criação de conhecimento e tomada de decisão, a partir da interferência nos
1
O verbo infundir aqui proposto foi escolhido por representar sinônimo de duas das ações que uma
organização pode executar em relação ao trato com as informações que deseja fazer chegar aos
indivíduos. Primeiramente pode representar incutir, inspirar, fazer penetrar no ânimo, ou seja, com
sentido mais propenso ao incentivo. Por outro lado também pode representar uma imposição do qual
deriva pressão e constrangimento. Na teoria de Takeuchi e Nonaka (2008) o termo utilizado é incutir.
494
fluxos informacionais, visando contribuir com a discussão e construção da base
teórica da gestão do conhecimento tratada pela ciência da informação de forma
interdisciplinar.
1.4
Objetivos específicos
Para o atendimento ao objetivo geral se estabelecem alguns objetivos
específicos:
•
exteriorizar a percepção dos indivíduos em relação ao impacto das
informações no seu aprendizado e tomada de decisões na hipótese de
disponibilização dessas pelo ambiente organizacional, sem imposição ou
constrangimento explícito;
•
exteriorizar essa percepção na hipótese das informações lhes serem
infundidas pelo ambiente organizacional; e
•
discutir com base nessas percepções o impacto da interferência nos
fluxos informacionais e a influência no aprendizado e tomada de decisão.
1.5
Hipóteses
H0 - A depender da extensão e do modo de interferência nos fluxos
informacionais, da forma com que se faz a oferta de informações aos indivíduos
intra-organizacionalmente, do volume e qualidade disponível, haverá influência
significativa no processo de criação de conhecimento e tomada de decisão, de tal
forma que a percepção positiva ou negativa do sujeito pode influenciar todo o
restante desses processos.
Derivadas da hipótese principal levantam-se três hipóteses secundárias:
H1: A interferência nos fluxos de informação dentro das organizações, na
percepção dos sujeitos tomadores de decisão, é o principal elemento da gestão do
conhecimento.
H2: O alto volume e os múltiplos significados das informações derivadas dos
variados meios informacionais externos, presentes no ambiente social dos
indivíduos, estão criando sentimentos de angústia e ansiedade demasiados que
deslocam o foco do sujeito dos objetivos da organização, necessitando-se, portanto,
da interferência da organização.
H3: Os fluxos informacionais internos podem ser geridos pela organização,
pondo foco nos objetivos sem que o volume e a qualidade das informações
495
representem angústia ou ansiedade demasiada no ambiente informacional.
1.6
Justificativas e contribuições
A experiência e a publicação de trabalhos envolvendo o estudo da percepção
do indivíduo tomador de decisões, por parte do autor deste projeto, é um dos
elementos motivadores deste trabalho. Além disso, outros trabalhos de alta
relevância vêm contribuindo para a elevação do indivíduo no contexto das
organizações.
Davenport (1998) destaca a importância de se identificar todos os passos de
um processo informacional, as fontes envolvidas, as pessoas que afetam cada
passo e os problemas que surgem. Recentemente, Neto e Barbosa (2008, p.168)
consideraram ser fundamental o desenvolvimento de pesquisas na área da ciência
da informação “pari passu ao afastamento da estéril dissensão derivada da
discussão terminológica”.
Considera-se que dentre as principais interações informacionais, estão as
intra-organizacionais, principalmente as que envolvem o indivíduo e os fluxos
informacionais.
O estudo proposto se justifica a partir de pelo menos três considerações:
I. como os indivíduos se enquadram como elementos principais do processo de
criação de conhecimento para as organizações, necessitam ter suas
percepções consideradas no que tange à gestão dos fluxos informacionais, e
somente estudando empiricamente essas percepções é que a ciência da
informação poderá compreendê-las;
II. que o processo de interferência nos fluxos informacionais é algo necessário
nas organizações que desejam criar condições para a criação de
conhecimento, e estudar qual o impacto dessa interferência no processo de
criação de conhecimento e tomada de decisões pode representar um
importante passo da ciência da informação no sentido de criação de um
referencial teórico consistente; e
III. a promoção de condições para a criação de conhecimento é um elemento
crítico para as organizações,
justamente porque não é simples a
conceituação de uma visão sobre o tipo de conhecimento a ser desenvolvido
(TAKEUCHI; NONAKA, 2008).
496
1.7
Delimitações do estudo
Tendo em vista a pluralidade das abordagens possíveis em relação ao objeto
de estudo proposto, fazem-se necessários alguns recortes, a fim de possibilitar um
maior aprofundamento no referencial teórico e desenvolvimento das análises.
O enfoque que se pretende dar à pesquisa é especifico ao ambiente
informacional e ao desenvolvimento de políticas de incentivo à criação de
conhecimento (fim) sob a abordagem das interferências nos fluxos informacionais
(meio).
O estudo se restringe às organizações empresariais
1.8
Representação gráfica da pesquisa
A seguir uma representação gráfica sobre o posicionamento da questão de
pesquisa.
497
Tensão (AB)
Necessidade de diferenciação, a
capacidade decisória como elemento
principal, conhecimento como base e
necessidade informacional sem a qual
não ocorrerá a transmissão/criação de
significados que resultam na criação de
novos conhecimentos.
Desafio
Reunir indivíduos com conhecimento e
capacidade decisória, gerir o
conhecimento intra-organizacional
interferindo positivamente nos fluxos
informacionais como forma de fomentar
a criação de conhecimento constante.
DA INFORMAÇÃO/CONHECIMENTO
AxB
ORGANIZAÇÕES
(Gestão do conhecimento)
Ambiente
informacional:
Davenport
(1998)
SUJEITO DA
TOMADA DE
DECISÕES
BxC
Situação problema
I - A necessidade da organização em gerir o conhecimento a faz interferir nos fluxos
informacionais e a ter uma conduta de incentivo ou de imposição.
II - O indivíduo percebe de que forma essa interferência e sua influência no processo de
criação de conhecimento e tomada de decisão?
Tensão (BC)
Necessidade de diferenciação, a
capacidade decisória como elemento
principal, conhecimento como base e
necessidade informacional sem a qual
não ocorrerá a transmissão/criação de
significados que resultam na criação de
novos conhecimentos.
Desafio
Captar as informações disponíveis e ou
infundidas dentro da organização,
processá-las e tomar decisões.
Figura 1: Representação gráfica da pesquisa
Fonte: O autor (2009)
2 As organizações, os indivíduos e os fluxos informacionais
Os indivíduos se organizam em prol de objetivos comuns formando a
498
sociedade. As organizações empresariais podem ser vistas como micro-sociedades
influenciadas
e
influenciadoras
da
macro-sociedade
da
informação
e
do
conhecimento. Para Schein (1982, p.12) elas são “uma coordenação planejada de
atividades de uma série de pessoas [...]”.
Os ambientes, nos quais a informação é elemento primordial como no caso
das organizações, se apresentam como campo fértil de estudo, o que se deve ao
fato de envolver inúmeros fatores de difícil quantificação e ou qualificação. Isso se
dá principalmente em relação à compreensão do comportamento informacional dos
indivíduos, porque o universo informacional “é extremamente complexo [...]”
(VALENTIM, 2007, p.13).
Potencialmente as organizações estão focadas nos estímulos (incentivos) à
criação de insights e na capacitação decisória e acabam, algumas vezes, ignorando
a característica perceptiva do indivíduo o que impõe riscos, pois o estímulo “pode ter
conseqüências imprevistas por evocar um complexo de reações [...]” (MARCH E
SIMON, 1970, p.62).
Ocorre que existem fatores situacionais que impactam diretamente a
motivação do indivíduo tomador de decisão sendo que um dos principais se refere
ao contexto organizacional, ou ambiente no qual ocorrem os fluxos informacionais
(SCHEIN, 1982).
Compreende-se, no entanto, a necessidade das organizações interferirem nos
fluxos informacionais de modo a incentivar seus subsistemas e indivíduos a
desenvolverem um espírito de socialização das informações para impulsionar a
criação de conhecimento. Modelos de gestão e ferramentais tecnológicos surgem
buscando viabilizar instrumentalmente o fluxo horizontal das informações como meio
para a viabilização dessa criação.
Ocorre que de um lado está um enorme volume de problemas a serem
solucionados a todo o momento, de outro “infinitas” fontes de informações, com
possibilidades de acessos facilitados e uma variedade múltipla de abordagens sobre
um mesmo problema ou tendência.
Diante da “enxurrada” de problemas e informações, da preocupação das
organizações
em
estarem
na
vanguarda
informacional,
pode
haver
equivocadamente a priorização do volume em detrimento da qualidade. Utilizando
uma metáfora, parece que em alguns casos o ambiente organizacional se torna
verdadeiras “feiras livres” de dados. Ao transitarem por ela seus clientes, os
499
indivíduos, sentem-se confusos e ansiosos por nem sempre saberem se o que está
sendo oferecido é o que lhes suprirá satisfatoriamente a necessidade informacional.
O volume (sem discutir a qualidade) de informações vem transbordando a
mente das pessoas. “Antigamente a gente sabia de cor o telefone e data de
aniversário de todos os amigos [...]” (NETO, 2006). Ocorre, porém, que tal situação
interfere no comportamento desse sujeito e de seus pares dentro da organização
visando à sobrevivência na competição de saberes, característica das organizações
onde o produto informação significa status e poder.
Outro processo que sofre influência dessas ações de interferência nos fluxos
informacionais é o de comunicação que é o meio/canal de distribuição,
disseminação e transferência de dados, informação e conhecimento no ambiente
corporativo (VALENTIM, 2007). Essa interferência pode influenciar também a
tomada de decisão, uma vez que a comunicação é o meio pelo qual transitam as
informações: subsidio do processo de escolha.
Cervantes e Valentim (2007) destacam que a qualidade e a diponibilização
das informações têm sido discutidas constantemente. Além do foco em relação à
forma com que as informações são disponibilizadas e ou infundidas dentro das
organizações, a terminologia com que chegam aos indivíduos a de ser pensada, o
que remete à idéia de que a percepção do indivíduo extrapola os aspectos
meramente focados no volume de informações.
Seria ingênuo desconsiderar a necessidade das interferências nos fluxos
informacionais, mas não se podem ignorar os reflexos dessa interferência no
comportamento dos indivíduos e o fato delas nem sempre resultarem ganho de
qualidade informacional.
O olhar da sociedade contemporânea para o estudo da informação,
principalmente no âmbito organizacional reconhecendo-a como matéria prima para a
criação de conhecimento, necessita considerar a questão das interferências nos
fluxos informacionais.
O problema reside na falta de equidade entre a atenção dada à
tempestividade, precisão e quantificação em relação à qualidade das informações e
a
dispensada
no
processo
de
tratamento
e
sintetização,
considerando
principalmente, as características cognitivas e comportamentais do indivíduo usuário
dessas informações. O subsídio informacional oferecido a qualquer custo para o
indivíduo pode resultar em indesejáveis consequências.
500
O estudo apenas das conseqüências da decisão pode ocultar problemas, pois
o comportamento interpretativo do sujeito tomador de decisão sofre influência da
forma com que o fluxo informacional é tratado pelas organizações. Trata-se de se
dar atenção ao processo (meio) e não apenas a ação (fim). A vida na organização
não
envolve
apenas
escolha,
ela
passa
necessariamente
também,
pela
interpretação (CHOO, 2003).
3 A abordagem de Davenport
Um dos estudos relevantes que aborda a questão do fator humano no
contexto do ambiente informacional foi feito por Thomas H. Davenport em 1997
(DAVENPORT, 1998). Segundo Moresi (2001) é um “valioso referencial conceitual
que pode ser usado na ciência da informação para conduzir pesquisa sobre
informação nas organizações”.
A preocupação de Davenport com o modo como as pessoas usam e dão
destinação à informação, faz deste trabalho um excelente referencial para a
compreensão dos efeitos das interferências organizacionais nos fluxos de
informacionais.
A proposta é de uma modelo que represente a qualificação das informações
com foco no indivíduo como elemento central da ecologia da informação, título do
trabalho. A grande quantidade sugere o autor, dá lugar ao uso de informações
selecionadas em pequena quantidade. Pressupõe que deva haver seleção
informacional, portanto, um modo de interferência no fluxo normal da informação.
O ser humano é colocado como o elemento principal do contexto
informacional sendo que os ferramentais informacionais devem ser encarados como
auxílio tecnológico.
Dentre as abordagens da informação tratadas por Davenport a do capital
intelectual/ conhecimento é a que mais se relaciona com o indivíduo e os fluxos
informacionais dentro da organização. Essa abordagem destaca o conhecimento
acumulado pelas pessoas que é um importante ativo que pode ser capitalizado.
Por essa abordagem infere-se que os fluxos informacionais da comunicação
horizontal poderiam, ao serem incentivados de maneira racional, ser capazes de
maximizar a capitalização desse conhecimento pela troca entre os indivíduos.
A concepção de que a o processo de escolha e suas consequências é o
501
elemento principal das políticas de informação instiga às reflexões importantes
como: gestão dos conflitos, preocupação com a auto-imagem, enfrentamentos
políticos entre outros aspectos relacionados ao comportamento do indivíduo dentro
das organizações.
A evidência de que o modelo de Davenport implica na interferência da
organização nos fluxos informacionais se dá pela afirmação de que o “ecologista da
informação” deve ter como maior preocupação a mudança da maneira como as
pessoas usam a informação. Também é tratada a questão sobre o nível e
quantidade de informação capaz de ser percebida e apreendida pelos indivíduos.
O ambiente informacional é analisado sob o enfoque do indivíduo como
demonstra a Figura 2, com destaque para o componente crítico (item 3) que se
refere especificamente ao comportamento deste em relação à informação.
AMBIENTE EXTERNO
AMBIENTE DA ORGANIZAÇAO
AMBIENTE
INFORMACIONAL
Indivíduo,
sujeito da
tomada de
decisões.
ELEMENTOS CRÍTICOS DA ECOLOGIA DA INFORMAÇÃO
(1) Estratégia da informação.
(2) Política da Informação.
(3) Cultura e comportamento em relação à informação.
(4) Equipe especializada em informação
(5) Processo de gerenciamento de informação.
(6) Arquitetura da infromação.
Figura 2: O indivíduo no contexto do modelo ecológico de gestão da informação
Fonte: Adaptado de Davenport (2008)
Cultura e comportamento em relação à informação
Esse componente discute o núcleo do ambiente informacional centrado no
indivíduo. Dois fatores interagem e constituem os elementos desse ambiente.
O primeiro se refere à como o indivíduo reage às experiências informacionais
na organização: positivamente ou não. De acordo com Davenport esse
comportamento interfere na criação da cultura informacional da organização.
A depender da interferência da organização nos fluxos informacionais, de
502
como as informações são disponibilizadas e qual o volume e qualidade dessas, o
indivíduo poderá ter um comportamento de aceitação ou de aversão.
É a cultura informacional, se adequada ao modelo, a determinante do nível de
sucesso quanto à valorização, o compartilhamento e o grau de aceitabilidade das
informações geradas e transmitidas dentro das organizações.
Os três comportamentos que são considerados contributivos a um bom
ambiente informacional são: (1) compartilhamento; (2) gestão de sobrecarga
informacional; e (3) redução dos significados dos termos. Somente com a
disseminação desses elementos intra-organizacionalmente é que a cultura
informacional adequada se faz presente.
4 Interferência nos fluxos informacionais para promoção de conhecimento
A interferência nos fluxos informacionais acontecerá no sentido de promover
as condições para a criação do conhecimento o que se dá pela (TAKEUCHI;
NONAKA, 2008):
Intenção: representa a aspiração da organização às suas metas. É
pressuposto para que se iniciem e se mantenham as ações em prol da criação do
conhecimento. Ela proporciona os critérios mais importantes de julgamento dos
conhecimentos criados.
Autonomia: condição que impacta diretamente o comportamento do indivíduo
uma vez que lhe proporciona liberdade de ação. Tal pressuposto de gestão
organizacional visa à auto-organização individual, eliminação tanto quanto possível,
de barreiras burocráticas como mecanismo facilitador da comunicação.
Flutuação e caos criativo: diferente de desordem, mas até certo ponto com
padrão de difícil previsão, funcionam como estimuladoras da comunicação interna e
externa. Pressupõe que as organizações adotem uma atitude aberta dirigida aos
sinais ambientais.
Nesse tipo de conduta são permitidos elementos que de certa forma não são
bem vistos pelas organizações ocidentais como: ambigüidade, redundância e ruídos.
Redundância: no sentido proposto pela teoria dos autores, o termo
representa a existência de informação além das exigências operacionais imediatas.
Significa uma sobreposição intencional de informação.
Requisito variedade: representa o produto da combinação de informações
503
variadas entre os membros da organização. A variedade informacional se
caracteriza pela idéia, tanto quanto possível, de que todos devem saber um pouco
de tudo a fim de enfrentarem as contingências. O contrário seria haver diferenciais
de informação que impedem que haja interação entre os indivíduos baseados numa
linguagem (termos) comum.
Essas cinco condições promotoras da criação de conhecimento permitem que
ocorram, no modelo proposto pelos autores, cinco processos: (1) compartilhamento
do conhecimento tácito; (2) criação de conceitos; (3) construção de um arquétipo; e
(5) nivelação do conhecimento, conforme pode ser visto na Figura 3.
Condições promotoras
Interação
Autonomia
Flutuação/caos criativo
Redundância
Variedade requisito
Conhecimento explícito
na organização
Conhecimento tácito
na organização
Socialização
Compartilhamento do
conhecimento
tácito.
Externalização
Internalização
Combinação
Justificação de
conceitos
Criação de
conceitos
Criação de um
arquétipo
Nivelação do
conhecimento
Mercado
De organizações
colaboradores.
Conhecimento
tácito.
Dos usuários.
Interlalização
pelos usuários.
Conhecimento explicito
como propaganda, patentes,
produtos e/ou serviços.
Figura 3: Cinco fases do processo de criação de conhecimento organizacional.
Fonte: Kao Corporation apud Takeuchi e Nonaka (2008, p.82)
O ambiente no qual o conhecimento é criado deve ser propenso e adequado,
pois conforme destaca Takeuchi e Nonaka (2008) ele é específico ao contexto e
depende dos fatores temporais e de espaço. Na definição utilizada pelos autores, o
espaço no qual o conhecimento é criado (ba), pode emergir dos indivíduos ou de
suas formas de organizações em grupo, como reuniões, equipes etc.
Nessa
concepção
pressupõe-se
que
as
interferências
nos
informacionais também influenciam a emersão desses espaços de criação.
5 METODOLOGIA
fluxos
504
5.1
Caracterização e método
A pesquisa proposta se enquadra na área social uma vez que tratará de
assuntos relacionados à percepção humana no contexto das organizações
empresariais, as quais estão inseridas na sociedade influenciando e sendo
influenciadas por ela. Segundo Rummel (1974, p.4) a pesquisa social “é devotada ao
estudo da humanidade em seu ambiente social, e está interessada em melhorar a
sua compreensão de ordens, grupos, instituições sociais e ética”.
O método de abordagem, conforme sugerem Lakatos e Marconi (2005) será o
dedutivo que segundo Richardson et al. (1999) prevê que as teorias e leis predizem
a ocorrência dos fenômenos particulares. Conforme Lakatos e Marconi (2005)
pressupõe que o conteúdo factual da conclusão já está, mesmo que implicitamente,
nas premissas teóricas.
5.2
Tipo de pesquisa
A pesquisa proposta se classifica como teórico-empírica uma vez que
procurará interagir com as abordagens teóricas, mas ao mesmo tempo pontuando
com os dados coletados e suas análises a partir da observação da realidade.
É explicativa à medida que segundo Vergara (2006, p.47) nesse tipo de
pesquisa o objetivo principal é tornar o fenômeno mais inteligível justificando seus
motivos, esclarecendo quais fatores contribuem para sua ocorrência.
De acordo com seus objetivos ela pode ser classificada “de fundamento” à
medida que ela, conforme Laville e Dionne (1999, p.85-86), objetiva contribuir para
“aumentar a soma dos saberes disponíveis, mas que poderão, em algum momento,
ser utilizados com a finalidade de contribuir para a solução de problemas posto pelo
meio social”.
5.3
Métodos
Vale a ressalva de que não se pode estabelecer de forma rígida e imutável
um conjunto de metodologias aplicáveis a cada tipo de pesquisa. Existe uma
pluralidade de métodos que são aplicáveis às pesquisas em dados momentos que
talvez não o possam ser em outro.
Pesquisa bibliográfica, incluindo o referencial teórico disponível nas mais
variadas fontes como bases de dados digitais, bibliotecas, bancos de teses e
dissertações, anais de congressos, participação de eventos científicos entre outros.
505
A execução dessas tarefas deverá se dar tanto presencialmente como virtualmente
pela utilização do computador e da internet.
Pesquisa empírica: se fará a partir da pesquisa de campo, que segundo
Rudio (1980, p.89), necessita da especificação de como os dados serão coletados
para a análise o que define como: “à fase do método de pesquisa, cujo objetivo é
obter informações da realidade”.
5.4
População, amostra, coleta e análise dos dados
População: O universo de pesquisa a ser explorado é amplo: organizações
empresariais que atuam no contexto da sociedade contemporânea da informação e
do conhecimento no Brasil, porém para a viabilidade operacional da pesquisa,
pretende-se analisar um extrato dessa população. A sub-população, portanto, é a
das empresas multinacionais relacionadas ao setor de imagem, com filiais no Brasil
e participantes da maior feira de imagem da América Latina a Photo Image Brazil e
contempla Kodac, Fuji Film, Canon, Xerox, Agfa, Noritsu, Roland entre outras.
Essa escolha se deu primeiramente pela acessibilidade do pesquisador à alta
direção dessas organizações e por elas representarem empresas que devido à sua
característica de “globalizadas” são excelentes exemplos práticos de ambientes
informacionais conectados à sociedade da informação e do conhecimento.
Amostras: serão calculadas com base nos princípios da estatística
probabilística, com fator de correção finita, nível de confiança de 95% e erro de 5%.
Coleta de dados e análise: se fará por meio de questionário semiestruturado e por entrevistas. O questionário será elaborado considerando as teorias
discutidas no referencial. Para a melhor qualificação será feito um pré-teste dos
instrumentos antes do envio definitivo.
O objetivo é o de primeiro cotejar as informações obtidas e as teorias
pesquisadas e num segundo momento identificar as percepções dos pesquisados de
forma desprendida e focada exclusivamente nas interferências ocasionadas no seu
modo de criar conhecimento e tomar decisões. Pretende-se utilizar o meio eletrônico
para a aplicação dos questionários e a visita in loco para as entrevistas. O objetivo é
o de, após a aplicação da análise de conteúdo, dar maior confiabilidade às
informações obtidas pela aplicação do questionário.
506
5.5
Tratamento dos dados
Além da estatística descritiva, pela qual se obterá informações gerais sobre a
percepção do indivíduo, se utilizará a estatística discriminante que identificará o nível
de compatibilidade entre suas percepções declaradas nas respostas ao questionário
e à entrevista, e as teorias discutidas no referencial. A ferramenta a ser utilizada
deverá ser a análise de componentes principais que possivelmente sugerirá a
metodologia da análise logística multinominal como forma de se destacar as
variáveis relevantes e influenciadoras dos processos em estudo.
6 EXPECTATIVAS
A
partir
do
aprofundamento
do
referencial
teórico
necessário
à
fundamentação do trabalho e da execução da pesquisa empírica, espera-se a
confirmação da hipótese principal. A depender da extensão e do modo de
interferência nos fluxos informacionais, da forma com que se faz a oferta de
informações aos indivíduos intra-organizacionalmente, do volume e qualidade
disponível, haverá influência significativa no processo de criação de conhecimento e
tomada de decisão. Assim sendo a percepção positiva ou negativa do sujeito pode
influenciar todo o restante desses processos.
Se confirmada essa hipótese o trabalho poderá propor uma modelagem da
forma de influência nos fluxos informacionais no contexto organizacional o que
poderá contribuir para o aumento da eficácia informacional e sua consequente
influência no processo decisório dos indivíduos.
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VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração.
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