A PRÁTICA DO LAZER COMO FATOR DE QUALIDADE DE VIDA: A EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO DE CONVIVÊNCIA DE IDOSOS NO CARIRI CEARENSE Débora Guedes Oliveira Santos1; Ticyanne Pereira Gomes2 Magnollya Moreno de Araújo Lelis3; Renata Peixoto Oliveira4 1Universidade Regional do Cariri – URCA E-mail: [email protected] 2Universidade Regional do Cariri – URCA. E- mail: [email protected] 3Universidade Federal do Ceará – UFCA. E-mail:[email protected] 4Universidade Regional do Cariri – URCA. E-mail:[email protected] Ingrid Mikaela Moreira de Oliveira Orientadora, Professora Mestre da Universidade Regional do Cariri [email protected] RESUMO Objetivou-se refletir sobre os significados que os idosos, participantes de um Centro de Convivência no Cariri, atribuem às atividades de lazer lá desenvolvidas, para a sua qualidade de vida. Durante todo o processo pretendeu-se analisar a questão da velhice, haja vista sua maior notoriedade decorrente do crescente aumento do segmento na população brasileira. Ademais, procurou-se perpassar a prática de lazer enquanto expressão de vitalidade para os velhos participantes do Centro. Por entender que esse processo é dinâmico tal como a história, a pesquisa foi baseada no Método Dialético Crítico que proporcionou uma maior aproximação com a realidade, uma vez que oferece ao estudo uma fundamentação das determinações sócio-econômicas dos indivíduos. Esta investigação foi desenvolvida a partir do método quali-quantitativo, voltada para a compreensão de processos subjetivos, grupais e sociais através de seus discursos, costumes, tradições etc. Assim, ao mesmo tempo em que se almejava compreender o modo de vida dos partícipes, os dados estatísticos do grupo eram igualmente analisados. O referido grupo foi composto de 76 idosos, dentre eles 53 são assíduos das atividades desenvolvidas. A construção do perfil foi realizada de acordo com os dados de todos os idosos, e seis responderam os formulários específicos sobre às atividades de lazer. Com base nos resultados, concluiu-se que a prática de lazer emerge como uma oportunidade singular para que o velho participe de projetos políticos e coletivos, e esteja, também dessa forma, expressando sua vitalidade. Palavras-Chave: Lazer, Qualidade de Vida, Idosos. Anais CIEH (2015) – Vol. 2, N.1 ISSN 2318-0854. ABSTRACT The objective was to reflect on the meanings that seniors participating in a Community Center in Cariri, attach to leisure activities carried out there, for their quality of life. Throughout the process was intended to examine the issue of old age, given their greater notoriety due to the increasing segment of the Brazilian population. Moreover, it tried to pervade the practice of leisure as an expression of vitality to the old participants of the Centre. By understanding this process is dynamic as the history, the research was based on Dialectical Method Critical which provided closer to reality, since the study provides a foundation of social and economic determinations of individuals. This research was developed from the qualitative and quantitative method, focused on the understanding of subjective processes, group and social through his speeches, customs, traditions etc. Thus, while it aimed to understand the way of life of the participants, the statistical data of the group were also analyzed. This group was composed of 76 elderly people, among them 53 are regulars of activities. The construction of the profile was performed according to the data of all the elderly and six responded to the specific forms of leisure activities. Based on the results, it was concluded that leisure practice emerges as a unique opportunity to participate in the old political and collective projects, and is also thereby expressing its vitality. INTRODUÇÃO A escolha pelo referido estudo que versa sobre o envelhecimento populacional provém de uma preocupação acerca do segmento, haja vista o aumento significativo e crescente do número de pessoas mais velhas apontado em dados estatísticos. Além disso, a opção pelo tema também possui uma força incentivadora proveniente do interesse pessoal da pesquisadora. O aumento da população mais velha, tanto em nível mundial como na realidade brasileira, tem sido bastante acentuado nos últimos anos. Analisando os dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do censo demográfico de 2000, percebe-se que a população velha, em relação à população total do país, obteve um crescimento bem mais acelerado. O número de velhos no planeta jamais foi tão grande em toda a história. A maioria deles está concentrada no continente europeu, em 1995 já eram 578 milhões. Em 2050, a expectativa de vida nos países desenvolvidos será de 87,5 anos para os homens e 92,5 para as mulheres (contra 70,6 e 78,4 anos em 1998). Já nos países em desenvolvimento, será de 82 anos para homens e 86 para mulheres, ou seja, 21 anos a mais do que hoje, que é de 62,1 e 65,2. Diante dessas informações, evidencia-se que o número de pessoas velhas tende a aumentar em escala mundial. Anais CIEH (2015) – Vol. 2, N.1 ISSN 2318-0854. Em virtude dos avanços científicos, em especial no ramo da medicina, do decréscimo da taxa de mortalidade e natalidade, do aumento da expectativa de vida, a pirâmide etária sofre alterações. O processo de envelhecimento populacional é hoje um fenômeno universal e, por isso, traz a preocupação de dar respostas às demandas do referido público. Envelhecer trata-se de uma experiência heterogênea e, portanto, são necessários vários estudos a fim de contemplar as particularidades do tema. A partir de tal relevância e urgência, este trabalho se propõe a compreender os significados que as atividades de lazer desenvolvidas em um Centro de Convivência de Idosos da Região do Cariri, representam para os participantes. Ademais, como objetivos específicos deste processo investigativo, destacam-se: conhecer o trabalho desenvolvido pelo Centro de Convivência em estudo, com vistas a identificar se as estratégias utilizadas contribuem para uma melhor qualidade de vida dos indivíduos; apreender o perfil sócio-econômico dos velhos participantes, haja vista a importância de se avaliar e refletir sobre seus reais modos e condições de vida; refletir como o Estado, através dos Centros de Convivência para idosos, têm construído e viabilizado políticas públicas no sentido de institucionalizar direitos. METODOLOGIA Para a realização desta pesquisa investigatória baseou-se, como referencial teóricometodológico, no Método Dialético Crítico por considerar que ele é o que mais se aproxima com a realidade, uma vez que, inseridos numa sociedade capitalista, proporciona ao estudo uma fundamentação da luta de classes e da realidade sócio-econômica dos indivíduos. O Método permite observar mais claramente a realidade, haja vista sua ênfase dada às contradições e à historicidade, enquanto componentes fundamentais no processo de desvelamento da realidade, pois “[...] nos auxilia com instrumentos que possibilitam não só realizar a leitura crítica da realidade social, mas, e isto é fundamental, com subsídios para propor e intervir no real.” (KIST, 2008). Lançou-se mão da pesquisa quali-quantitativa devido à postura científica da autora estar voltada para a compreensão de processos subjetivos e sociais que visam o estudo de indivíduos Anais CIEH (2015) – Vol. 2, N.1 ISSN 2318-0854. e dos grupos através de seus discursos, costumes, tradições, dentre outros aspectos; sem perder de vista os dados estatísticos. A esse respeito, Minayo (1998) esclarece: “A abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados, das ações e das relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas [...]”. O grupo estudado é composto de 76 idosos, dentre eles 53 são partícipes assíduos das atividades desenvolvidas. Como técnica para a coleta de dados, lançou-se mão da entrevista semi-estruturada, a qual permitiu realizar uma conversa informal e, ao mesmo tempo em que marcava as opções que lhes convinham, o sujeito da pesquisa estava aberto a falar a respeito daquela escolha, se assim o desejasse. Ademais, a pesquisa documental foi outro instrumento utilizado para respaldar a pesquisa, tais como: listas de freqüência dos participantes nas atividades, prontuários dos participantes e relatórios de atividades semanais. A construção do perfil foi realizada de acordo com os dados de todos os velhos assíduos, e seis responderam aos formulários específicos em relação às atividades desenvolvidas no Centro em questão. A tabulação dos dados foi realizada com o embasamento metodológico da análise de conteúdo cuja técnica abrange a exploração do material, o tratamento dos resultados e a interpretação. De acordo com Bardin (1977), o estágio de exploração do material consiste em codificá-lo numericamente; enquanto o tratamento e a interpretação dos resultados abarca a fase em que o pesquisador, já embasado teoricamente sobre o tema, pode intercruzá-lo com a realidade apresentada, sistematizando as ilações. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os velhos entrevistados têm preferência pelas atividades religiosas, pelos passeios e viagens e pelas atividades festivas e de dança. Grande parte afirmou que não existem empecilhos para viver tais tipos de lazer e que com a chegada da velhice, aumentaram as possibilidades de viver mais plenamente. Todos reconhecem o desconto de 50% em atividades lúdicas, respaldado pelo Estatuto do Idoso, porém seu acesso ainda é um processo. Com relação às atividades desenvolvidas pelo Centro, eles assinalaram a preferência por quatro delas, quais sejam:, passear e/ ou viajar; realizar atividades físicas e/ ou esportivas; participar das festas com música e dança; e, por fim, assistir à TV e/ ou ouvir rádio. Já as atividades de Anais CIEH (2015) – Vol. 2, N.1 ISSN 2318-0854. que menos gostam promovidas pelo Centro são os jogos de mesa e às relacionadas com leitura e/ ou escrita. Quanto ao perfil desses idosos, pôde-se destacar que não difere muito do perfil nacional do segmento. Em geral, a maior parte é feminina; encontram-se na faixa etária de 60 a 80 anos; mantêm-se casados; possuem um nível de escolaridade baixo; são custeados através de beneficios previdenciários, os quais somam, individual e majoritariamente, um salário mínimo; não trabalham; residem em casa própria e moram com duas a três pessoas; e, por fim, são naturais do interior cearense. CONCLUSÃO Com base nos resultados, concluiu-se que a prática de lazer emerge como uma oportunidade singular para que o velho participe de projetos coletivos, e esteja, dessa forma, expressando sua vitalidade. Os entrevistados têm preferência, majoritariamente, pelas atividades que lhes possibilitam mexer o corpo. Assim, percebeu-se que o Centro proporciona não somente o momento de diversão, o recorte do dia de um daqueles idosos, mas possui um significado maior. Constatou-se, pois, ao longo de toda a trajetória da pesquisa, que o velho, independentemente de suas determinações sociais, sente a necessidade de estar em um ambiente onde o contato e a identificação com o outro sejam uma constante. Os centros/ grupos de convivência para idosos, enquanto espaço de (re) socialização do indivíduo, representam uma nova visão de mundo para o velho, pois é ali que ele pode expressar a sua vitalidade, através das atividades de lazer. A inserção da pessoa mais velha em grupos possibilita-lhe, portanto, um outro olhar ao mundo, na medida em que abre oportunidades ao novo. O fato de conhecer novas pessoas – mais do que isso, de identificar-se com elas – traz o sentimento de pertença e, com isso, surgem os elos de amizade, fundamentais no processo de autonomia e construção de novos projetos de vida. Ao adentrar ao grupo, o velho passa a se interessar mais por si mesmo, a interagir com Anais CIEH (2015) – Vol. 2, N.1 ISSN 2318-0854. outras pessoas, a ser mais curioso pelo outro e por novas informações. Esses aprendizados representam uma forma de renovar a vitalidade e de viver mais e melhor. As atividades desenvolvidas surgem como possibilidade única de o velho mostrar, para a sociedade e para si próprio, que está vivo o seu desejo de mexer o corpo e, sobretudo, de realização pessoal. Para isso, é igualmente necessário que a equipe multidisciplinar existente nos centros/ grupos de convivência esteja preparada, tanto numa perspectiva de formação profissional, como de respeito e ética, para trabalhar e conviver com o idoso. Essa formação deve ser contínua e intensa para que a intervenção profissional seja cada vez mais incisiva, questionadora, crítica e, acima de tudo, propositora. Sugere-se também que os grupos, não apenas o em estudo, adotem, de maneira sistemática, atividades intergeracionais cujo público seja composto também da família do velho, uma vez que essa necessidade de integração configura-se como algo muito forte no indivíduo, especialmente na fase da velhice. Outro apontamento é em relação à vida pública dos participantes, pois, de acordo com o que foi estudado, há muito os centros deixaram de ser apenas um local de vivência do lazer. Para reivindicar direitos sociais é preciso conhecê-los e, acima de tudo, elevar as discussões a um patamar coletivo cujo objetivo permeie a luta pela cidadania e a garantia de direitos. Assim, o grupo deve incentivar atividades que esclareçam os direitos do segmento, bem como propiciar momentos políticos de intervenção. Destacam-se como pontos fortes para o velho participante: aquisição de novos aprendizados, crescimento pessoal, socialização, ampliação do círculo de amizade, valorização da auto-estima. Como pontos fracos, apontam-se o insuficiente estímulo à leitura e à escrita; a ausência de um educador físico que conheça as especificidades das atividades físicas que podem e devem ser desenvolvidas com o público mais velho; uma carência enorme de estrutura e materiais adequados para realizar o devido trabalho social com o idoso, além da burocratização e demora para o recebimento dos recursos. REFERÊNCIAS 1. ARENDT, Hannah. A condição Humana. São Paulo, Forense/Edusp, 1981. 2. BARDIN, Lourence. Análise do Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. 3. BEAUVOIR, Simone de. A Velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. Anais CIEH (2015) – Vol. 2, N.1 ISSN 2318-0854. 4. BRASIL, República Federativa do. Política Nacional do Idoso (1994). Brasília, 2004. ______. Estatuto do Idoso (2003). Brasília, DF, 2003. 5. BRUSCHINI, Cristina. Gênero e Trabalho no Brasil: novas conquistas ou persistência da discriminação? 1985/95. 6. CAMARANO, Ana Amélia. Os Novos Idosos Brasileiros. Muito Além dos 60? 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