Álcool é o vilão dos casos de violência doméstica
Pesquisa da Unifesp aponta que o consumo de bebidas alcoólicas está associado a 50% dos
casos
Fonte: Jornal Primeira Hora
Uma pesquisa recentemente divulgada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas (Cebrid) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta o consumo de
bebidas alcoólicas como o vilão nos casos de violência doméstica. O estudo mostra que 50%
dos casos de violência doméstica está associado ao álcool.
O levantamento envolveu 7.939 domicílios em 108 cidades brasileiras com mais de 200 mil
habitantes. De 34,9% de casos de violência doméstica relatados, 17,4% ocorreram sob efeito
do álcool. O estudo também aponta que a gravidade das agressões é maior quando há
ingestão da droga.
O uso de armas e o abuso sexual, tanto ameaça quanto consumação, ocorreram,
respectivamente, numa proporção dez e quatro vezes maior, quando comparados aos
domicílios nos quais o agressor não estava sob efeito do álcool. A crença de que o álcool é
responsável pelas agressões diminui a culpa do agressor e aumenta a tolerância da vítima.
Droga lícita
O álcool é a droga lícita mais utilizada no Brasil, com estimativa de 74,6% de uso na vida e
12,3% de dependência. De acordo com dados do Cebrid da Unifesp, não somente está
associada à violência como também parece favorecer o seu prolongamento.
Apresentado como dissertação de mestrado pelo psicólogo Arilton Martins Fonseca, o
levantamento comparou a recorrência das agressões e verificou que, nos domicílios com
agressores embriagados, a violência ocorre três vezes mais em períodos de um a cinco anos;
seis vezes mais, entre 6 e 10 anos e, quatro vezes mais, quando as situações ultrapassam
uma década.
De acordo com Fonseca, a crença de que o álcool é responsável pelas agressões diminui a
culpa do agressor e aumenta a tolerância da vítima, podendo favorecer novos episódios. Além
disso, o padrão crônico de beber pode ser importante fator na reincidência das agressões e
agravado quando a dependência já está instalada, afirma o psicólogo.
Independentemente de sinais de embriaguez, os agressores são, em sua maioria, homens.
Entretanto, quando o álcool está presente nessas situações, o sexo masculino é responsável
por quase 90% dos casos de violência, contra 53% quando o homem está sóbrio. Entre as
vítimas mais atingidas estão as esposas. 35,7% quando há embriaguez e 17,9% nos episódios
com sobriedade.
Medo, vergonha e despreparo
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Procurar ajuda ainda é um obstáculo a ser superado, tanto por quem apanha quanto por quem
agride. Oitenta e seis por cento das vítimas de agressores alcoolizados e 89% dos agressores
sóbrios nunca procuraram ajuda. Entre os agressores alcoolizados, apenas 11,4% procuraram
apoio especializado para diminuir ou parar o uso da droga.
Segundo o psicólogo, fatores como medo, vergonha da família e perante a sociedade fazem
com que muitas mulheres deixem de denunciar seus agressores e de procurar ajuda em
serviços de saúde básica.
Apesar de ainda muito pequena, a procura por ajuda é cinco e sete vezes maior,
respectivamente, nos serviços de segurança e nos serviços de saúde quando as vítimas são
de agressões pelo álcool.
- A busca, em maior número, pelos serviços de saúde pode estar associada à maior severidade
da violência que ocorre quando o agressor está embriagado -, afirma o pesquisador Arilton.
Fonseca explica que, embora a violência doméstica venha ganhando cada vez mais espaço
em estudos, ainda são poucos os serviços organizados para atender a esses casos. - Os
profissionais de saúde não contam com instrumentos de reconhecimento e registro dos casos
atendidos nesses serviços, além de não estarem preparados para orientar essas vítimas sobre
seus direitos e encaminhá-las aos demais serviços de apoio existentes -, afirma.
Para ele, esses profissionais ainda têm dificuldades em reconhecer a violência doméstica como
problema de saúde pública. - O uso de álcool e a violência doméstica são fenômenos
complexos e, para que haja uma compreensão da questão álcool e violência é preciso que
esses profissionais somem esforços para se estabelecer redes inter e multidisciplinares -,
explica o psicólogo.
Detalhes da pesquisa
Características sociodemográficas:
58,4% dos entrevistados eram mulheres;
44,6% eram casados;
51,3% tinham mais de 35 anos;
28,3% eram analfabetos ou tinham o ensino fundamental incompleto;
42,2% pertenciam à classe baixa. Entre os agressores alcoolizados, esse índice subiu para
49,8%, contra 17,2% dos agressores alcoolizados de classe alta e, 33%, de classe média.
Histórico de violência:
34,9% relataram algum episódio violento, em, 17,4% houve a presença de álcool associada;
61,4% dos agressores alcoolizados tinham entre 31 e 59 anos. Apenas 11,4% deles
procuraram ajuda para diminuir ou parar o uso da droga;
35,7% das vítimas de agressores alcoolizados são esposas. Esse índice cresce duas vezes
quando comparado a agressores não alcoolizados;
86,4% das vítimas de agressão por álcool não buscaram ajuda em serviços especializados;
A recorrência de violência é seis vezes maior quando o álcool está envolvido num período
entre seis e dez anos e, quatro vezes, quando ultrapassa uma década.
A proporção de agressão física quando há presença de álcool foi duas vezes maior; o uso de
armas, 10 vezes, e, o abuso sexual, quatro vezes.
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