O FUNK E O DIREITO À CIDADE: EXPRESSÕES DA CULTURA NEGRA
CONTEMPORÂNEA EM BELO HORIZONTE
Júnia Martins M. de Morais¹
Centro universitário UNA
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GT03 - Relações Étnicas e Raciais - Branquitude e Negritude
RESUMO
Primeiramente, objetiva-se uma discussão teórica sobre o que é funk, sua relação com a
cidade de Belo Horizonte e seu papel na interatividade e convivência de certos grupos
urbanos. Além das perspectivas teóricas, serão abordadas técnicas como a observação
participante e etnografia. Por fim, pretende-se verificar se os participantes dessa
manifestação cultural contribuem para a construção do direito à cidade a partir da
ocupação festiva do urbano, e, entender como se dá suas relações sociais através da
dança, especificamente os passinhos². O funk carioca sempre foi visto como um gênero
musical marginal, subgênero musical ou até mesmo lixo. Disseminado pela grande
mídia e acatado por segmentos da sociedade que acredita que o funk carioca é problema
de segurança pública. O que o torna perseguido pela mídia, poder público e outros
setores da classe dominante. No entanto, o funk carioca além de ser um gênero musical
e estilo de vida de milhares de jovens das periferias e favelas brasileiras, é também
expressão da diáspora africana no Brasil, tornando-o a princípio cultura urbana no Rio
de Janeiro, até se espalhar pelo Brasil, tornando-o cultura nacional. Desde os anos 90 o
ritmo constrói as relações sociais e interação social dos jovens das camadas populares.
Ao mesmo tempo em que o funk é criminalizado, os jovens manifestam suas denúncias
através da música, da dança. E, afirmam a identidade das favelas e sua própria
identidade, como integrantes da cidade. Denunciando os abusos sofridos pelo poder
público, preconceito racial, preconceito de classe. E tentam retirar o mito de que
favelado é bandido e que favela é só lugar de violências. Para compreendermos o potencial
de comunicação do funk na contemporaneidade, é preciso entender que ele é o estilo musical
mais disseminado nas periferias e favelas. Tanto nas favelas quanto no asfalto os bailes funk
reúnem inúmeros jovens. Na atual conjuntura, os jovens mineiros estão reconhecendo o
seu direito em acessar a cidade, conhecer outros jovens. Expressando sua realidade através
dos passinhos. Realidade essa que é múltipla. Transforma em diversão e arte a linguagem da
favela, através de sua dança.
PALAVRAS CHAVE: funk. favela. passinho. direito à cidade.
1
“Dizem que nós somos violentos.
Mas, desse jeito eu não aguento.
Dizem que lá, falta educação.
Mas, nós não somos burros, não!
Dizem que não temos competência.
Mas, isso sim, que é violência!
Que só sabemos fazer refrão.
1
Graduanda em Serviço Social pelo Centro Universitário UNA e integrante da Frente de Pesquisa Cultura
de Rua – Cidade e Alteridade UFMG
² Dança feita em sincronia: em grupo, dupla em forma de duelo ou individual.
Se liga, sangue bom!
Mas, não é assim.
Nós temos escola,
Nós temos respeito,
Se quer falar de nós,
Vê se fala direito!
Estou documentado doutor.
Cidadão brasileiro e tenho o meu valor.
Meu pai é pedreiro, mamãe costureira.
E eu cantando rap pra massa funkeira.
O ritmo é quente é alucinante.
Eita povo valente, eita povo gigante.
Eu quero ouvir geral no refrão:
Cidade de Deus, Cidade de Deus.”
[...]
(Cidinho e Doca)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ESSINGER, Silvio. Batidão – Uma história do Funk. Rio de Janeiro; Record, 2005.
LEFEBVRE, Henri. A revolução Urbana. Belo Horizonte: UFMG, 1999.
LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. 1ª ed. São Paulo: Moraes, 1991.
PALOMBINI, Carlos. Soul brasileiro e funk carioca. Opus, Goiânia, v. 15, n. 1, p. 3761, jun. 2009.
PALOMBINI, Carlos. Notas sobre o funk carioca. Disponível em:
http://www.proibidao.org/notas-sobre-o-funk/ Acesso em: 23 de novembro de 2014.
RIBEIRO, Matilde. (organizadora) As políticas de igualdade racial: reflexões e
perspectivas. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2012.
VIANNA, Hermano. O mundo funk carioca. Rio de Janeiro, ed. Zahar, 1988.
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