ANÁLISE DA TEMPERATURA DO AR NO INTERIOR DE ABRIGOS PARA O
CULTIVO DE HORTALIÇAS
Felipe Heck Schallenberger1
Simone Vieira de Assis2
Euclides Schallenberger3
RESUMO
O trabalho constou da coleta e análise de dados de temperatura do ar obtidos simultaneamente em
seis ambientes de cultivo de hortaliças (cinco ambientes protegidos e um a céu aberto), de
15/10/2002 à 29/01/2003, durante um ciclo da cultura de tomateiro (Lycopersicon esculentum). Os
dados foram comparados entre si e também com os dados da temperatura do ar livre nesse mesmo
período. O objetivo foi avaliar as alterações ocorridas na temperatura média do ar no interior dos
abrigos, provocadas pelas suas diferentes configurações, uma vez que foram utilizados três tipos de
telas antiinsetos na construção dos ambientes que estavam dispostos no mesmo local e assim
sujeitos às mesmas condições climáticas. A análise desses dados revelou que o uso de telas
antiinsetos nas laterais de abrigos do tipo pampeano cobertos com PEBD (Polietileno de Baixa
Densidade) provoca aumento na temperatura média do ar, e o uso de tela antiinsetos na cobertura
superior e lateral dos abrigos provoca diminuição da temperatura média do ar.
ABSTRACT
In this paper some temperature data from six vegetables culture environments (five protected
environments and one not protected environment) had been collected and analyzed, from
2002/10/15 2003/01/29, during a tomatoes culture (Lycopersicon esculentum). These data were
compared between itself and also with the data from the outside air’s temperature, collected in the
same period. The main goal of this article is to analyze the modifications occurred in the
temperature of the air in the interior of the greenhouses, provoked by its different configurations.
Notice that three different kinds of insect-proof screens were used to build the environments. The
greenhouses were at the same place, and so they suffered the same climatic conditions. The analysis
of these dada showed that the use of insect-proof screens in the laterals of greenhouses covered with
PEBD (Polyethylene of Decrease Density) provokes increase in the air’s temperature, and the use of
insect-proof screens in the top and laterals of the shelters provokes decrease in the temperature of
air.
Palavras-Chave: Ambiente protegido, temperatura do ar, telas antiinsetos.
INTRODUÇÃO
O sucesso da produção agrícola nos dias atuais depende muito das condições atmosféricas do
ambiente em que as plantas estão sendo cultivadas. Dentre essas condições, a temperatura do ar é
um dos fatores que exerce maior influência no desenvolvimento desses vegetais. Sabe-se que cada
espécie tem exigências específicas quanto à temperatura ideal para expressar o seu máximo
potencial produtivo. Com isso, grandes variações tanto acima quanto abaixo destes valores ideais
______________________________
1 Aluno de Graduação do Curso de Meteorologia, DMET/FAC.MET/UFPEL, [email protected]
2 Professora do curso de Meteorologia, DMET/FAC.MET/UFPEL, [email protected]
3 Eng. Agr. Dr., Pesquisador da Epagri, C. P. 277- Itajaí-SC, [email protected]
podem inviabilizar o cultivo destas espécies.
O cultivo protegido tornou-se então uma alternativa à proteção das plantas contra as
adversidades climáticas, permitindo a produção em períodos críticos, além de possibilitar a
regularização da oferta e melhor qualidade dos produtos. Isso acontece porque no cultivo protegido
ocorrem alterações microclimáticas que favorecem e protegem as culturas, possibilitando melhores
condições de desenvolvimento e produção das plantas (Sentelhas & Santos, 1995). No entanto, estas
alterações microclimáticas dependem do tipo e da configuração dos ambientes. Sabe-se que o uso
de telas antiinsetos na construção desses ambientes também provoca alterações no microclima da
estufa.
Neste trabalho foram comparados dados de temperatura do ar coletados simultaneamente em
abrigos de cultivo protegido (com ou sem o uso de telas antiinsetos nas laterais dos abrigos) e a céu
aberto, durante um ciclo da cultura de tomateiro. Paralelamente foram coletados também dados da
temperatura do ar ao ar livre, para comparação com os dados das estufas. O objetivo foi analisar as
diferenças na temperatura do ar ocorridas entre estes ambientes, que estavam no mesmo local
(portanto sujeitos às mesmas condições climáticas), mas possuíam configurações distintas.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido na área de pesquisa da Estação Experimental de Itajaí, pertencente a
EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, em Itajaí – SC.
O local está em latitude Sul de 27o 34’, longitude Oeste de 48o 30’ e altitude de 5 m. O clima do
lugar é temperado, com chuvas bem distribuídas e verão quente, do tipo Cfa, conforme a
classificação de Köeppen.
O trabalho constou de medições da temperatura do ar em seis ambientes de cultivo (cinco
estufas e um a céu aberto) e no ambiente ao ar livre (apenas gramado), realizadas durante um ciclo
da cultura do tomateiro (Lycopersicon esculentum), de outubro de 2002 a janeiro de 2003.
Os seis ambientes de cultivo tinham dimensões de 10,0m x 7,0m. Quatro ambientes eram
abrigos tipo pampeano medindo 10,0m x 7,0m, com altura de pé direito de 2,0m e altura da
cumeeira de 3,5m. Estes abrigos apresentavam o teto com PEBD (Polietileno de baixa densidade),
com espessura de 100µm. Em três destes foram colocados diferentes tipos de telas antiinsetos nas
laterais dos abrigos, instaladas antes do plantio e permanecendo até o final do experimento. No
quarto abrigo não havia tela nas laterais. O quinto ambiente constituiu-se de área totalmente
revestida com tela tipo citros, tanto nas laterais como na parte superior, medindo também 10,0m x
7,0m, com altura de pé direito de 2,0m e altura da cumeeira de 3,5m, e também colocada antes do
plantio e permanecendo até o final do experimento. O sexto ambiente de cultivo foi a céu aberto. O
sétimo ambiente foi ar livre, sem cultivo de tomateiro (solo gramado).
Os três tipos de telas antiinsetos avaliados foram:
a) – Tela afídeo: 50 mesh - malha 0,5 x 0,5 mm - (20 fios/cm de tela)
b) – Tela citros:
25 mesh - malha 1,0 x 1,0 mm - (10 fios/cm de tela)
c) – Tela clarite:
2 mesh - malha 2,0 x 2,0 mm - ( 5 fios/cm de tela)
As denominações dadas aos ambientes utilizados foram:
- Ambiente 1 - Cultivo em abrigo tipo pampeana com tela tipo citros (1,0 x 1,0mm) nas
laterais
- Ambiente 2 - Cultivo em arcabouço de abrigo sem PEDB, revestido por tela tipo citros
superior e lateralmente
- Ambiente 3 - Cultivo em abrigo tipo pampeana com tela clarite (2,0 x 2,0mm) nas laterais
- Ambiente 4 - Cultivo em abrigo tipo pampeana com tela afídio (0,5 x0,5mm) nas laterais
- Ambiente 5 - Cultivo a céu aberto
- Ambiente 6 - Cultivo em abrigo tipo pampeana sem proteção de tela nas laterais
- Ar livre - aparelhos meteorológicos colocados em ambiente sem cultivo ao lado dos abrigos
de tomate.
Os dados de temperatura foram coletados simultaneamente nos 6 ambientes e ao ar livre, de
15/10/2002 à 29/01/2003, em intervalos de hora em hora. Neste trabalho foram utilizados os dados
da temperatura instantânea do ar a 70 cm de altura nos intervalos regulares de hora em hora das 00h
às 23h de cada dia. Foi calculada a média aritmética simples (média verdadeira) diária da
temperatura de cada ambiente.
A coleta dos dados foi feita por uma estação meteorológica automática, com transmissão de
dados instantâneos via telefonia. Foi usado um “datalogger” marca Campbell modelo CR10X, com
12 portas analógicas de 13 “bits” de resolução e 128.000 “bits” de memória. Para ligar um maior
número de sensores foi usado um “multiplexer” de estado sólido para termopares da marca
Campbell, modelo AM25T, com 25 entradas, e um “multiplexer” chaveado por relês da marca
Campbell, modelo AM 16/32, com 32 entradas. A temperatura do ar foi medida com o transmissor
“Transmicor” modelo T220 da Gefran. Este equipamento possui um sensor de temperatura Pt100
com exatidão de 0,2ºC.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A temperatura do ar no interior dos abrigos plásticos para cultivo protegido está ligada ao
balanço de energia, que irá depender do tamanho do abrigo, do tipo de plástico e das condições
meteorológicas locais (Buriol et al., 1993).
Durante o dia, por causa da radiação líquida positiva, a superfície aquece a parcela de ar
próxima a ela, desencadeando um processo convectivo. Com isso, as temperaturas máximas no
interior dos abrigos podem atingir valores bem superiores aos observados no exterior dos abrigos
(Sentelhas & Santos, 1995).
Após o pôr do sol, à medida que a noite avança, o balanço de energia vai se tornando negativo
devido à alta transmissividade do plástico à radiação de onda longa, permitindo a perda noturna de
energia. Com isso, a temperatura do ar no interior dos abrigos cobertos com polietileno de baixa
densidade sofre uma queda acentuada, fazendo com que a temperatura mínima do ar tenda a ser
igual ou ligeiramente superior ao ambiente externo. Isso pode acontecer em noites com ventos
moderados associados à céu limpo. No interior dos abrigos, devido à ausência de mistura mecânica
das camadas de ar influentes, a perda de energia se torna intensa, causando a inversão térmica
(Montero et al., 1985; Buriol et al., 1993; Pezzopane et al., 1995). Para Castilla Prados (1998), em
dias ensolarados a temperatura no interior dos abrigos durante o dia será bem superior à temperatura
externa.
A análise dos dados demonstrou que a temperatura média do ar variou nos diferentes
ambientes estudados. Na Figura 1 visualiza-se a temperatura média do ar nos diferentes ambientes
de cultivo do tomateiro.
26,5
26,073
26
25,5
25,237
24,997
24,971
24,729
25
24,94
24,746
24,5
re
rl
iv
A
m
bi
en
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5
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m
bi
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4
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bi
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A
A
m
bi
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te
3
te
2
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bi
en
A
m
bi
en
A
te
6
24
te
1
Temperatura (ºC)
Temperatura Média do ar
Figura 1: Temperatura média do ar obtida durante o ciclo da cultura do
tomateiro no período de 15/10/2002 à 29/01/2003 nos ambientes já citados
Observou-se que a maior temperatura média do ar ocorreu no Ambiente 4 (abrigo tipo
pampeana com tela afídio (0,5 x 0,5mm) nas laterais), e a menor temperatura média do ar ocorreu
no ambiente 2 (Cultivo em arcabouço de abrigo sem PEDB, revestido por tela tipo citros superior e
lateralmente). Schallenberger (2005) constatou que o uso de telas antiinsetos nas laterais dos
abrigos provoca aumento da temperatura do ar no interior dos abrigos. Teitel, (2001); Reisser
Júnior, (2002); Fanatssi et. al., (2003) também constataram aumento da temperatura do ar no
interior de abrigos cobertos por plásticos e com telas antiinsetos nas laterais.
O maior valor de temperatura média (observado no cultivo em abrigo tipo pampeana com tela
afídio (0,5 x 0,5mm)) se deve ao fato de que a tela afídio dificulta a troca de calor por advecção,
sendo este o ambiente o que mais se assemelha a uma estufa totalmente revestida por PEBD (tanto
superior quanto lateralmente).
Já o menor valor (observado no cultivo em arcabouço de abrigo sem PEBD, revestido por tela
tipo citros superior e lateralmente) se explica pelo fato de que a parte superior do abrigo, revestida
com tela citros, provoca sombreamento no interior do abrigo. Ou seja, a quantidade de radiação
solar (onda curta) que entra no abrigo é menor quando comparada aos abrigos com cobertura de
PEBD. Por outro lado, assim como o PEBD, a tela citros é transmissível à radiação terrestre (onda
longa), sendo então muito pequeno o efeito estufa proporcionado. Assim, o balanço de energia é
alterado e a temperatura média fica afetada.
Observou-se também que as temperaturas médias dos ambientes 1, ambiente 3 e ambiente 6
ficaram muito próximas umas das outras. Uma possível explicação para este fato é que a tela tipo
citros e a tela clarite permitem alguma troca de calor por advecção, assim como ocorre em estufas
que não possuem proteção de telas nas laterais.
CONCLUSÃO
Concluiu-se que o uso de telas antiinsetos nas laterais de abrigos cobertos com PEBD
(Polietileno de Baixa Densidade) provoca aumento na temperatura média do ar, sendo seu uso
recomendado em épocas mais frias do ano, nas latitudes mais altas. Já a estufa revestida superior e
lateralmente com telas antiinsetos, que apresentou diminuição da temperatura média do ar no
interior dos abrigos, pode ser usada em épocas mais quentes, para culturas que exigem temperaturas
mais amenas.
AGRADECIMENTOS
À EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A., em
especial à EEI – Estação Experimental de Itajaí, pela disponibilidade de material e pessoal.
Ao CIRAM – Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia, pela
instalação e manutenção dos equipamentos e disponibilidade de pessoal.
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Pelotas, 2005. 128 f. Tese (Doutorado em produção vegetal) – Universidade Federal de Pelotas,
Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Programa de Pós-Graduação em Agronomia. Pelotas,
2005.
TEITEL, M. The effect of insect-proof screens in roof openings on greenhouse microclimate.
Agricultural and Forest Meteorology, v.110, p. 13–25, 2001.
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