AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO DO CONCRETO ATRAVÉS DA VELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO DA ONDA ULTRA-SÔNICA Ricardo Oliveira Mota1,4; Paulo Francinete Jr.2,4; Rodrigo Augusto Souza 3,4 (1) Bolsista PIBIC/UEG (2) Professor-Orientador (3) Voluntário Iniciação Científica PVIC/UEG (4) Curso de Engenharia Civil, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas, UEG. Resumo Este trabalho se insere na linha de inovação tecnológica do concreto tendo como objetivo contribuir para o domínio da técnica do ensaio não destrutivo de determinação da velocidade de propagação da onda ultra-sônica no concreto, procurando estabelecer uma correlação com a resistência à compressão. Para tanto, foram estudados concretos produzidos com diferentes classes de resistências (variação da relação água/cimento) e diferentes tipos de agregados graúdos. Levando em consideração esta variáveis foram realizados ensaios de determinação da velocidade de propagação da onda ultra-sônica de acordo com a NBR 8802 e o ensaio de resistência à compressão de acordo com a NBR 5739. Os resultados mostram que a técnica de determinação da velocidade da onda ultra-sônica pode fornecer informações importantes para a avaliação das estruturas de concreto. Palavras-Chave: concreto; ultra-som; resistência; ensaio. Introdução A resistência à compressão normalmente é considerada como a propriedade mais importante do concreto, embora, em muitos casos práticos, outras características, como a durabilidade e a permeabilidade sejam, de fato, mais importantes. Não obstante, a resistência dá uma idéia geral da qualidade do concreto, pois ela está diretamente relacionada com a estrutura da pasta de cimento hidratada. Além disso, a resistência é a propriedade especificada pelos engenheiros projetistas para fins de dimensionamento e aceitação da estrutura. Isto porque, diferentemente de outras propriedades à resistência a compressão é relativamente fácil de ser determinada. Deve-se destacar, porém que, o que realmente interessa é conhecer o comportamento real do concreto na estrutura, neste caso pode ser útil corpos-de-prova curados no campo ou testemunhos. No entanto, os primeiros exigem uma programação prévia e os últimos são ensaios destrutivos que, embora localizados, provocam danos à estrutura. Para contornar esses problemas, foram desenvolvidos ensaios do concreto na estrutura que não provocam danos. Esses ensaios são denominados não destrutivos1 e entre eles os que mais se destacam são o da avaliação da dureza superficial e o da avaliação da propagação de onda ultra-sônica. Os ensaios não destrutivos podem apenas estimar a resistência à compressão do concreto e não medi- la. Assim, é útil estabelecer uma relação experimental entre o resultado que está sendo obtido em um ensaio não destrutivo e a resistência de corpos de prova de concreto. Essa 1 Deve-se entender que pode haver um pequeno dano à estrutura, embora não prejudique a sua aparência nem seu desempenho. relação poderá ser usada para converter o resultado do ensaio não destrutivo em valor de resistência à compressão do concreto. Alguns autores (MEHTA & MONTEIRO, 1994; NEVILLE, 1997) afirmam que a relação entre a velocidade de pulsos ultra-sônicos e resistência é influenciada por uma série de variáveis como idade, condições de umidade, tipo de agregado, relação agregado/cimento e etc. Comentam também que uma relação física entre essas duas grandezas ainda não foi estabelecida. Diante do exposto, o presente projeto tem por finalidade propor um estudo comparativo da determinação da resistência à compressão do concreto através da ruptura de corpos-de-prova cilíndricos e da determinação através do ensaio de velocidade de pulsos ultra-sônicos. Ensaios Não Destrutivos - Os ensaios não destrutivos são aqueles que não causam danos à estrutura que se está ensaiando, pois não provocam perda na capacidade resistiva . Estes ensaios podem ser feitos em qualquer idade do elemento a ser ensaiado. Nos elementos novos faz-se o uso destes ensaios para o controle da evolução de sua resistência e outras propriedades relevantes em estruturas de concreto como, corrosão, índice de vazios e permeabilidade. Os ensaios realizados em estruturas já existentes visam avaliar a sua integridade e capacidade resistiva a novas cargas. Os métodos não destrutivos são convenientes para: - Controle tecnológico de pré- moldados; - Monitoramento do desenvolvimento da resistência; - Localização e determinação da extensão de fissuras, vazios e falhas de concretagem; - Aumento do nível de confiança de um pequeno número de ensaios destrutivos; - Avaliação do potencial de durabilidade do concreto; - Programação da remoção de formas e escoramento; - Verificação de danos provocados por incêncidios; - Acompanhamento dos efeitos de aditivos e adições. Método Ultra -som - Os primeiros relatos sobre estudos com ondas ultra-sônicas foram nos Estados Unidos em meados de 1940. Constatou-se que a velocidade depende das propriedades elásticas do material e não da sua geometria. Nos anos 60 foi desenvolvido um aparelho portátil, cuja fonte de energia era bateria e que possuía um mostrador digital que fornecia o tempo de trânsito da onda. O método baseia-se no fato de que a velocidade de propagação está ligada a qualidade do concreto. Conhecendo-se à distância entre o transdutor emissor e o transdutor receptor da onda ultra-sônica e medindo-se o tempo decorrido para este percurso calcula-se a velocidade de propagação da onda no concreto. A velocidade da onda depende principalmente dos seguintes fatores: coeficiente de poisson, módulo de deformação, massa específica e também da presença ou não de armadura. O equipamento utilizado para a medição da velocidade da onda ultra-sônica é bastante simples de ser operado e de custo não muito elevado. A ligação entre o transdutor do aparelho e a superfície do concreto é um dos pontos críticos do método. Um outro problema que pode influenciar nos resultados é a presença de fissuras, vazios ou descontinuidades no concreto. Desse modo, não se pode afirmar que haja uma relação teórica entre a velocidade de propagação e a resistência do concreto, sendo, portanto necessário estudar cada caso aonde vai se aplicar o método. Programa Experimental Materiais Empregados - Para a produção dos concretos foram utilizados os seguintes materiais: - Cimento portland composto (CP II F 32) - Agregado miúdo (areia natural) - Agregado graúdo (micaxisto e seixo rolado) A Tabela 1 apresentada as caracterizações dos agregados graúdo e miúdo. Tabela 1 -Caracterização dos agregados. Areia Brita 1 Características natural Micaxisto Dimensão máxima característica (mm) 4,8 19 Módulo de finura 2,11 6,99 Massa específica – SSS (g/cm³) 2,59 2,70 Teor de Impurezas Orgânicas + clara -Massa unitária (kg/ dm³) 1,51 1,52 Teor de Material Pulverulento(%) 0,91 -- Seixo Rolado 25 7,06 2,65 -1,58 -- Método de Ensaio NBR 7217 NBR 7217 NBR 9937 NBR 7220 NBR 7251 NBR 7219 Variáveis Estudadas - No presente trabalho foram avaliadas as seguintes variáveis: - Relação água/cimento (0,35; 0,45 e 0,55); - Tipo de agregado graúdo (micaxisto e seixo rolado) Os concretos tiveram o abatimento fixo e igual a (6±1) cm, medido através do tronco de cone (NBR 7223). Corpos-de-Prova - Os corpos-de-prova foram moldados de acordo com a NBR 5738 (ABNT, 1984). Foram determinados 6 traços diferentes de concreto, moldou-se corpos de prova cilíndricos nas dimensões de 10x20 cm. Os traços e a caracterização dos concretos no estado fresco são apresentados na Tabela 2. Tabela 2 - Caracterização do concreto no estado fresco. Massa Teor Consumo Abatimento Traço Unitário Concreto Específica de ar de cimento (mm) 2 (Kg/m³) (%) (Kg/m³) (c:a:b) a/c Micaxisto a/c=0.35 1 0,91 1,15 0,35 2290 1,5 689,72 50 Micaxisto a/c=0,45 1 1,09 1,39 0,45 2320 1,5 602,11 50 Micaxisto a/c=0,55 1 1,68 2,13 0,55 2370 1,5 476,67 60 Seixo a/c=0,35 1 0,69 1,60 0,35 2400 1,5 560,79 50 Seixo a/c=0,45 1 0,82 1,93 0,45 2370 1,8 433,33 50 Seixo a/c=0,55 1 1,55 3,61 0,55 2450 2,0 287,41 70 2 (c:a:b) = cimento: areia: brita em massa. Métodos - No estado fresco os concretos foram caracterizados pelos seguintes métodos: Consistência pelo abatimento do tronco de cone (NBR 7223) e Massa específica e teor de ar (NBR 9833). A determinação da resistência á compressão do concreto foi determinada de acordo com a NBR 5739 (ABNT, 1980). A velocidade de propagação da onda ultra-sônica era determinada nos corpos-de-prova cilíndricos antes dos mesmos serem capeados para o ensaio de resistência à compressão. Para a determinação da velocidade de propagação da onda ultrassônica utilizou-se o equipamento da marca controls modelo 58-E0048, com transdutores de 54kHz e diâmetro de 50mm. O procedimento adotado foi o da NBR 8802 (ABNT, 1994), empregando a transmissão direta entre os transdutores. A calibração do equipamento foi realizada antes de cada ensaio empregando-se uma barra cilíndrica de referência (d=50mm e h=160mm). Em cada idade e para cada tipo de cura foram ensaiados 3 corpos de prova cilíndricos (10mm x 200mm). As medições foram feitas ao longo do comprimento do corpo de prova. Resultados A Tabela 3 apresenta os resultados médios obtidos de resistência à compressão e velocidade de propagação da onda ultra-sônica dos concretos estudados. Tabela 3 – Resultados médios de resistência à compressão e velocidade de propagação da onda Agregado Relação a/c seixo micaxisto 0,35 0,45 0,55 0,35 0,45 0,55 Fc (MPa) -23,23 11,30 33,80 -19,60 3 dias 7 dias Velocidade Fc Velocidade (m/s) (MPa) (m/s) ---3314,00 --2697,04 16,65 3207,7 3775,28 37,60 3405,08 ---2532,61 22,30 2465,30 28 dias Fc Velocidade (MPa) (m/s) 31,67 4012,00 24,95 3265,00 22,37 3169,96 40,50 3731,58 37,05 3889,45 27,47 3094,46 A Figura 1 apresenta a relação obtida entre resistência à compressão e velocidade de propagação da onda ultra-sônica. Velocidade (m/s) 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 y = 42,739x + 2128,1 2 R = 0,5709 0 10 20 30 40 50 Resistência à compressão (MPa) Figura 1 – Relação entre resistência à compressão e velocidade de propagação da onda ultrasônica Velocidade (m/s) Observando a Figura 1 nota-se a tendência de crescimento da velocidade de propagação da onda com o aumento da resistência à compressão do concreto. Nesse trabalho foi obtida uma correlação linear entre essas duas propriedades com um r2 igual a 0,57. Esse índice de correlação é melhorado quando se leva em consideração o tipo de agregado, como pode ser observado na Figura 2. 5000 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 y = 55,436x + 2075 2 R = 0,846 y = 66,812x + 1186,8 2 R = 0,845 0 10 20 30 40 Resistência á Compressão (MPa) seixo 50 micaxisto Figura 2 – Relação entre resistência à compressão e velocidade de propagação da onda levando em consideração o tipo de agregado graúdo usado na produção do concreto A Figura 2 mostra que quando o tipo de agregado graúdo utilizado na produção do concreto é levando em consideração para relacionar a resistência à compressão com a velocidade de propagação da onda ultra-sônica obtêm-se índices de correlação mais confiáveis (r2 =0,84). O que comprova que o ensaio de determinação da velocidade de propagação da onda ultrasônica pode ser utilizado para estimar a resistência à compressão do concreto, mas para obter resultados com maior confiabilidade é necessário conhecer outras características do concreto, como o tipo de agregado graúdo usado. Analisando a Figura 2 nota-se ainda que para os mesmos níveis de resistência à compressão os concretos produzidos com o agregado seixo apresentam maiores valores de velocidade de propagação da onda ultra-sônica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Ensaio de Compressão de Corpos-de-prova cilíndricos de concreto. NBR-5739, Rio de Janeiro, 1980. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Concreto Fresco – Determinação da Massa Específica e do Teor de Ar pelo Método Gravimétrico. NBR-9833, Rio de Janeiro, 1987. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Concreto – Determinação da consistência pelo abatimento do tronco de cone. NBR-7223, Rio de Janeiro, 1992. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Moldagem e Cura de Corpos de Concreto, Cilíndricos ou Prismáticos. NBR-7223, Rio de Janeiro, 1992. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Concreto Endurecido – Determinação da velocidade de propagação da onda ultra -sônica. NBR-8802, Rio de Janeiro, 1994 MEHTA, P. K. & MONTEIRO, P. J. M., Concreto: estrutura, propriedades e materiais, Editora Pini, São Paulo, 1994. NEVILLE, M. A., Propriedades do Concreto, Tradução Eng.º Salvador E. Giammusso, 2ª edição rev. atual, Pini, São Paulo, 1997. Agradecimentos − Ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás por viabilizar o desenvolvimento do programa experimental em seus laboratórios; − A Universidade Estadual de Goiás pela concessão de bolsas de iniciação científica aos alunos envolvidos no projeto.