SUJEITOS PROCESSUAIS
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Para o desenvolvimento da ação condenatória haverá,
necessariamente, a participação de três sujeitos: o
autor e o réu, que defendem interesses antagônicos na
relação processual, e o juiz, órgão estatal imparcial a
quem se entrega a resolução da lide. Dessa matriz
essencial é que decorre a clássica definição do
processo como actus trium personarum: judicis,
actoris et rei'.
Dentre esses sujeitos essenciais ou principais do
processo, pode-se fazer a seguinte distinção
doutrinária:
a) sujeitos parciais: o autor (Ministério Público ou
querelante) e o réu;
b) sujeito imparcial: o juiz ou, com maior rigor
técnico, o Estado-juiz".
MUITA ATENÇÃO

Há, ainda, os sujeitos acessórios ou secundários,
ou seja, aqueles cuja participação não é
imprescindível para a existência do processo, mas
que nele podem, acidentalmente, intervir: o
assistente de acusação, os auxiliares da justiça,
terceiros intervenientes etc .
JUIZ
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
O juiz (ou órgão jurisdicional) é a autoridade estatal
investida de jurisdição, a quem incumbe dar solução
pacífica à lide penal, por meio de substituição da
vontade das partes. Em primeiro grau de jurisdição,
salvo no que respeita ao Tribunal do Júri, os órgãos
jurisdicionais (juízos) são monocráticos ou singulares,
ao passo que em segundo grau (tribunais e turmas
recursais) e nas instâncias especial e extraordinária
(tribunais superiores) são colegiados.
São pressupostos para o exercício da função
jurisdicional:
a) investidura - procedimento previsto em lei que dá
ensejo à nomeação para o exercício das funções
próprias dos integrantes do Poder Judiciário;
b) capacidade técnica, física e mentalatributo que decorre da investidura e do qual se
presume, em caráter absoluto, serem dotados os
juízes, até que ocorra a desinvestidura;
 c)
imparcialidade - qualidade do sujeito
estranho à causa (o que decorre da estruturação
acusatória do processo penal pátrio, que exige a
separação entre o órgão acusador e o órgão
julgador) e desvinculado dos interesses dos
litigantes, que propicia condições de não tomar
partido sobre as questões que lhe são submetidas
.

Juiz natural
 Atento ao fato de que a imparcialidade do juiz é
condição essencial para o exercício da função
jurisdicional, o constituinte inscreveu, com tintas
fortes, o princípio do juiz natural em nossa Carta
Política, de modo a assentar que "não haverá
juízo ou tribunal de exceção" (art. 5°, XXXVII, da
CF) e que "ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade competente"
(art. 5°, LIII, da CF).

Impedimentos e incompatibilidades
 A legitimidade democrática do exercício da
função jurisdicional resulta, em grande medida,
da imparcialidade (neutralidade) com que os
juízes distribuem justiça em estrita consonância
com a lei, daí a necessidade de previsão de
hipóteses em que o magistrado pode ter de
afastar-se da causa por não se revelar isento o
suficiente para julgá-la. Em tais casos, o juiz
(pessoa física) é quem deve afastar-se da causa,
sem que, no entanto, haja alteração do órgão
jurisdicional por qual tramita a ação, que
prosseguirá pela mesma vara ou tribunal.
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O juiz estará impedido de funcionar no processo em
que (art. 252 do CPP):
a) Tiver funcionado seu cônjuge ou parente,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o
terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado,
órgão do Ministério Público, autoridade policial,
auxiliar da justiça ou perito - o vínculo familiar do
juiz com o defensor, membro do Ministério Público,
advogado
do
ofendido,
autoridade
policial,
serventuário da justiça ou perito o inabilita para
exercer a jurisdição no processo.
Na medida em que a união estável é reconhecida como
entidade familiar e foi equiparada, pelo texto
constitucional, ao casamento (art. 226, § 30, da CF),
essa causa de impedimento aplica-se não apenas no
que diz respeito aos cônjuges, mas, também, em
relação aos companheiros.

b) Ele próprio houver desempenhado qualquer
dessas funções ou servido como testemunha também estará inabilitado para funcionar no
processo o juiz que houver funcionado no processo
como representante do Ministério Público,
defensor ou advogado, autoridade policial ou
auxiliar da justiça, ou, ainda, que nele houver
colaborado na condição de testemunha.
c) Tiver funcionado como juiz de outra instância,
pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a
questão - a participação do juiz, em instância
diversa no processo, dá ensejo ao impedimento,
desde que tenha praticado ato com algum
conteúdo decisório, na medida em que os atos de
mero expediente não constituem causa para sua
inaptidão.
 Já se entendeu que a circunstância de o juiz, no
exercício de atividade correicional, instaurar e
presidir sindicância em desfavor de serventuário
é causa de impedi- mento para o julgamento de
ação penal relativa aos mesmos fatos". Há,
contudo, entendimento em sentido contrário".

d) Ele próprio ou seu cônjuge ou parente,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral
até o terceiro grau, inclusive, for parte ou
diretamente interessado no feito no processo em
que ele próprio ou parente figurar como parte ou
como interessado, o juiz não poderá, obviamente,
funcionar.
 Não apenas o vínculo do matrimônio faz nascer o
impedimento, mas também a convivência em
união estável.

SUSPEIÇÃO
O art. 254 do Código de Processo Penal dispõe
que o juiz dar-se-á por suspeito:
 a) Se for amigo íntimo ou inimigo capital de
qualquer das partes
para que se mostre
configurada situação de amizade íntima
caracterizadora da suspeição, deve existir
especial sentimento de afeição entre o juiz e uma
das partes (réu ou ofendido), que exceda a meras
manifestações de cordialidade e urbanidade.
 Não é causa de afastamento do juiz a amizade
com advogado, que não está abrangido pelo
conceito de parte", nem, tampouco, com o membro
do Ministério Público.

b) Se ele, seu cônjuge, ascendente ou
descendente, estiver respondendo a processo por
fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja
controvérsia - essa circunstância revela interesse
indireto do juiz na causa, circunstância que lhe
influencia a apreciar a matéria sob a ótica que
mais favoreça a tese que sustenta em processo do
qual é réu ou no qual seu cônjuge, ascendente ou
descendente figura como acusado.
 Os companheiros, também para esses fins,
equiparam-se aos cônjuges.
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
c) Se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo,
ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar
demanda ou responder a processo que tenha de
ser julgado por qualquer das partes - é intuitivo
que o juiz não atuaria com independência se
tivesse que julgar ação cuja parte seria
responsável pela posterior decisão de causa em
que ele ou seu parente é diretamente interessado.
d) Se tiver aconselhado qualquer das partes - a
suspeição se dará se o juiz revelar seu
pensamento ou interesse quanto à questão que
deve julgar; assim, mera manifestação sobre tese
jurídica não acarreta o afastamento do julgador.
 e) Se for credor ou devedor, tutor ou curador, de
qualquer das partes - o interesse que retira a
imparcialidade do juiz pode advir desses laços
existentes entre ele e as partes.
 f) Se for sócio, acionista ou administrador de
sociedade interessada no pro- cesso - em tais
situações, sobressai o interesse financeiro do juiz
em relação ao deslinde da causa.

CESSAÇÃO DOS IMPEDIMENTOS
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O art. 255 do Código de Processo Penal estabelece que
"o impedimento ou suspeição decorrente de
parentesco por afinidade cessará pela dissolução do
casamento que lhe tiver dado causa, salvo sobrevindo
descendentes; mas, ainda que dissolvido o casamento
sem descendentes, não funcionará como juiz o sogro, o
padrasto, o cunha- do, o genro ou enteado de quem for
parte no processo".
A dissolução do casamento, que pode dar-se pelo
divórcio ou pela morte de um dos cônjuges, faz cessar
o impedimento ou a suspeição do juiz em decorrência
de vínculo de afinidade, salvo, segundo o texto legal,
no que diz respeito ao sogro, ao padrasto, ao cunhado,
ao genro e ao enteado. Assim, não subsistirá, nessa
hipótese, a causa de impedimento ou de suspeição em
relação ao parente por afinidade em terceiro grau
(sobrinho do cônjuge, por exemplo).
Suspeição artificiosa
 Se a parte injuriar o juiz ou de propósito der
motivo para arguir a suspeição, não será possível
que seja declarada ou reconhecida (art. 256 do
CPP), uma vez que a lei não agasalha a má-fé.
Assim, "se a parte ofende o magistrado, nos autos
ou fora dele, somente para, em seguida, acoimá-lo
de inimigo capital, deve arcar com sua viperina
atitude?" .
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FUNÇÕES E PODERES DO JUIZ
O princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5°,
XXXV, da CF) impõe ao juiz a obrigação de, uma vez
provocado, entregar a prestação jurisdicional.
Esse encargo, de um lado, interdita a possibilidade de
o juiz não decidir a causa e, de outro, exige que
observe o princípio do impulso oficial, movendo o
procedi- mento de fase em fase, até exaurir a função
jurisdicional".
De modo a possibilitar que o dever de prestar o
serviço jurisdicional seja observado, o Código previu
que "ao juiz incumbirá prover à regularidade do
processo e manter a ordem no curso dos respectivos
atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública"
(art. 251 do CPP), estabelecendo, assim, dois gêneros
de poderes a serem exercidos pelo dominus processus:

1) Poderes jurisdicionais - são aqueles atinentes
ao desenvolvimento do pro- cesso e que se
destinam a evitar que a atividade processual
desvirtue-se. Esses poderes permitem que o juiz
garanta a realização de todos os atos úteis para a
resolução da lide penal, bem como que impeça a
realização
dos
inúteis
ou
protelatórios.
Subdividem-se em:


1a) poderes-meios - que englobam os poderes
ordinatórios (ou seja, os relacionados ao impulso
oficial, como, por exemplo, a determinação da citação)
e os instrutórios (relacionados ao recolhimento de
elementos de convicção).
No tocante aos poderes instrutórios, é preciso
registrar que o princípio da verdade real, que informa
o processo penal, orienta o juiz a não se contentar com
a prova produzida pelas partes e, ainda, a adotar
iniciativas para suprir a deficiência do quadro
probante, sempre que os elementos de convicção
revelarem-se insuficientes para a elucidação do fato.
Não é por outro motivo que se confere ao juiz a
prerrogativa de ordenar, antes do início da ação penal
ou durante sua tramitação, a realização de diligências
necessárias ao esclarecimento da verdade (art. 156, I
e lI, do CPP).

lb) poderes-fins - compostos por poderes
decisórios (decisão sobre imposição de medida
cautelar, prolação de sentença etc.) e executórios
(destinados a dar eficá- cia prática ao conteúdo
das decisões).

2) Poderes administrativos - respeitantes à
manutenção da ordem no curso dos trabalhos e ao
exercício da atividade de direção e correição sobre os
serventuários da justiça. Confiram-se alguns poderes
dessa categoria: poder de polícia para manutenção da
ordem na audiência ou sessão (art. 794 do CPP);
poder de determinar que um ato seja realizado a
portas fechadas, limitando o número de pessoas que
possam estar presentes, se da publicidade puder
resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de
perturbação da ordem (art. 792, § 1°, do CPP); poder
de, nas sessões do Júri, regular a polícia das sessões e
mandar prender os desobedientes; requisitar o auxílio
da força pública, que ficará sob sua autoridade; e
interromper a sessão por tempo razoável, para
repouso ou refeição dos jurados (art. 497, I, II e VIII,
do CPP).

Ao juiz são conferidos, ainda, poderes
anômalos, tais como a remessa dos autos de
inquérito, de cujo arquivamento discordar, ao
Procurador-Geral de Justiça (art. 28 do CPP); a
remessa de cópias e documentos relativos à
existência de crime de ação penal pública ao
Ministério Público (art. 40 do CPP); o
recebimento de representação do ofendido (art. 39
do CPP); e a requisição da instauração de
inquérito policial (art. 5°, lI, do CPP) .
ATENÇÃO
Prerrogativas e vedações
 Não é demais recordar que, para garantir que o
juiz exerça com independência suas funções, livre
de quaisquer receios ou constrangimentos, a
Constituição Federal lhe confere as seguintes
garantias funcionais:


a) Vitaliciedade - é a garantia de que o juiz não
perderá o cargo, salvo por sentença judicial
transitada em julgado. É adquirida após dois
anos de exercício e não se confunde com
perpetuidade, já que o magistrado será
compulsoriamente aposentado aos 70 anos (art.
95, I, da CF). Sem essa garantia, o juiz poderia
sentir-se ameaçado pela perda do cargo e, assim,
ficaria mais exposto a pressões.
b) Inamovibilidade - consiste na prerrogativa
de não ser transferido de seu cargo senão por sua
vontade (promoção ou remoção voluntária) ou em
virtude de interesse público, por decisão da
maioria absoluta do respectivo tribunal ou do
Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla
defesa (arts. 95, II, e 93, VIII, ambos da CF).
 c) Irredutibilidade de vencimentos - tem por
escopo assegurar que o juiz não sofrerá
perseguições de ordem financeira por parte dos
superiores ou dos governantes (art. 95, III, da
CF).

VEDAÇÕES
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
As vedações previstas pelo texto constitucional, por
outro lado, são as seguintes (art. 95, parágrafo único,
da CF):
a) exercício, ainda que em disponibilidade, de outro
cargo ou função, salvo uma de magistério;
b) recebimento, a qualquer título ou pretexto, de
custas ou participação em pro- cesso;
g) dedicação à atividade político-partidária;
h)recebimento, a qualquer título ou pretexto, de
auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades
públicas ou privadas, ressalvadas as exceções
previstas em lei;
e) exercício da advocacia no juízo ou tribunal do qual
se afastou, antes de decorridos três anos do
afastamento do cargo por aposentadoria ou
exoneração.



MINISTÉRIO PÚBLICO
Depois do abandono da concepção privatista da ação penal
(sistema que outorgava ao ofendido ou a qualquer pessoa do
povo o encargo de processar o criminoso), a evolução
histórica conduziu o processo penal, aos poucos, de um
modelo de características inquisitivas (em que as funções
de acusar e julgar recaíam sobre o mesmo órgão) para uma
matriz de estruturação acusatória, que se caracteriza pelo
exercício das funções de acusar e julgar por órgãos
distintos",
A institucionalização do Ministério Público foi a fórmula
encontrada para que o Estado pudesse, sem abdicar da
neutralidade judicial, assumir a titularidade da ação penal,
em ordem a restabelecer a paz social violada pela prática
criminosa. Foi a criação do Ministério Público, portanto,
que permitiu a transposição do modelo inquisitório para o
acusatório.
Em harmonia com o que estabelece a
Constituição, o Código de Processo Penal define,
em seu art. 257, a essência da atividade do
Ministério Público no processo criminal, a quem
cabe:
 a) promover, privativamente, a ação penal
pública, na forma estabelecida no Código;
 b) fiscalizar a execução da lei.


Embora o Ministério Público assuma, em regra, a
condição de parte no processo penal (somente na
ação privada é que intervirá na qualidade de
custas legis), é correto dizer que sua atuação
reveste-se de imparcialidade, uma vez que, como
órgão estatal que é, deve buscar apenas a justa
aplicação de sanção penal. Assim é que, mesmo
tendo exercido a ação penal, poderá opinar pela
absolvição do réu (art. 385 do CPP), bem como
recorrer em prol do acusado ou, ainda, impetrar
habeas corpus em favor dele .
MUITA ATENÇÃO
Garantias e vedações
 A Constituição Federal conferiu aos membros do
Ministério Público as mesmas garantias dos
magistrados, para que possam exercer com
independência as suas funções (art. 128, § 5°, I):

a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não
podendo perder o cargo senão por sentença
judicial transitada em julgado;
 b) inamovibilidade, salvo por motivo de
interesse público, mediante decisão do órgão
colegiado competente do Ministério Público, por
voto da maioria absoluta de seus membros,
assegurada ampla defesa;
 c) irredutibilidade de vencimentos.

VEDAÇÕES

As vedações impostas aos magistrados também
se aplicam aos membros do Ministério Público
(art. 128, § 5°, II, da CF) .



Impedimentos e suspeição
A lei prevê a extensão do regime de impedimentos e
suspeições dos juízes aos membros do Ministério
Público, no que lhes for aplicável (art. 258 do CPP),
estabelecendo que "não funcionarão nos processos em
que o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge, ou
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive".
Assim, se está o juiz impedido de atuar no feito em
que seu cônjuge ou parente atuou previamente na
condição de órgão do Ministério Público (art. 252, I, do
CPP), o promotor é que estará impedido de funcionar
se seu cônjuge ou parente oficiou precedentemente na
qualidade de juiz.
ATENÇÃO

Não há impedimento na atuação sucessiva, no
mesmo processo, de membros do Ministério
Público que sejam cônjuges ou parentes, já que
tal situação não se enquadra em nenhum das
restrições estabelecidas na lei a título de
impedimento. A propósito: "Nada impede a
atuação sucessiva de cônjuges, como Promotores
de Justiça, no curso do mesmo processo" (STF -HC 77.959/PB -- Ia Turma -- Rel. Min. Octavio
Gallotti -- Df 21.05.1999 -- p. 00003).
Promotor natural
 É corrente a interpretação de que a garantia
insculpida no art. 5°, LIII, da Constituição
Federal ("ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade competente")
consagra não apenas o princípio do juiz natural,
mas, também, o direi- to de toda pessoa ser
acusada por um órgão estatal imparcial, cujas
atribuições tenham sido previamente definidas
pela lei - o promotor natural.

MUITA ATENÇÃO




Princípios institucionais
Nos termos do disposto no art. 127, § 1°, da Constituição
Federal, são três os princípios que regem a atuação
ministerial:
a) unidade - do caráter uno do Ministério Público decorre o
fato de que quando seus membros atuam fazem-no em
nome da instituição, e não em nome próprio. A unidade
restringe-se ao âmbito de cada um dos Ministérios
Públicos", sem que possa se falar em irradiação do princípio
para abarcar instituições diversas (não há unidade entre o
Ministério Público Federal e os dos Estados, entre os
Ministérios Públicos de Estados diversos etc.);
b) indivisibilidade - permite que os membros do
Ministério Público sejam substituídos uns pelos outros, nas
formas previstas em lei, sem qualquer prejuízo para o
processo;

c) independência funcional- consubstancia-se
na não vinculação do membro do Ministério
Público a qualquer manifestação processual
externada anterior- mente por ele próprio ou por
outro integrante da carreira e, ainda, na não
sujei- ção a influências exercidas por órgãos
superiores no tocante ao seu comporta- mento
processual.
Promotor ad hoc
 As funções do Ministério Público só podem ser
exercidas, por força de norma de estatura
constitucional (art. 129, § 2°, da CF), por
integrantes da carreira, o que impossibilita a
nomeação, pelo juiz, de promotor ad hoc para o
exercício de qualquer atividade cometida à
instituição .

Atuação e ônus processuais
 A atuação do Ministério Público pode iniciar-se
antes do exercício da ação penal, tal como ocorre
quando requisita a instauração de inquérito
policial ou a realização de diligências
investigatórias (art. 129, VIII, da CF).


Quando atua como parte, tem a atividade vinculada
aos princípios da obrigatoriedade (ou da legalidade) e
da indisponibilidade, daí por que tem de exercer a
ação penal sempre que verificar a existência de prova
da existência do fato criminoso e de indícios de
autoria, além do que dela não pode desistir. Na
qualidade de parte, deve arcar com os ônus
processuais decorrentes do exercício do direito de
ação, zelando, após o oferecimento de denúncia, pela
produção das provas necessárias ao convenci- mento
do magistrado, acompanhando a realização dos atos
processuais e, se for o caso, apresentando recurso ou
ações de impugnação, inclusive em favor do acusado.
ATENÇÃO

Diante das particularidades das funções do
Ministério Público na ação penal privada
subsidiária da pública e da imprescindibilidade
de sua atuação, fala-se, em tal hipótese, que é
interveniente adesivo obrigatório .
Intimação
 O art. 41, IV, da Lei n. 8.625/93 (Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público) assegura aos
integrantes da carreira a prerrogativa de receber
intimação pessoal em qualquer processo e grau
de jurisdição, através da entrega dos autos com
vista. Já o art. 18, lI, h, da Lei Complementar n.
75/93 (Estatuto do Ministério Público da União)
confere aos membros da instituição a
prerrogativa de receber intimação pessoalmente
nos autos em qualquer processo e grau de
jurisdição nos feitos em que tiver que oficiar.


Os promotores e procuradores, portanto, não são
intimados pela imprensa ou por oficial de justiça,
mas por meio da entrega a eles dos autos em que
devam manifestar-se ou de cujo teor tenham de
tomar conhecimento.

Nos termos do disposto no art. 800, § 2°, do
Código de Processo Penal, por outro lado, os
prazos do Ministério Público contar-se-ão do
termo de vista, salvo para a interposição de
recurso, hipótese em que serão contados a partir
da intimação, ou da audiência ou sessão em que
for proferida a decisão, se nela estiver presente
seu representante ou, ainda, do dia em que o
órgão manifestar nos autos ciência inequívoca da
sentença ou despacho (art. 798, § 5°, do CPP).
PRAZO

O Supremo Tribunal Federal já decidiu, porém,
que, não havendo coincidência entre a data de
ingresso dos autos no Ministério Público e a data
em que o membro apôs seu ciente na decisão,
deve-se ter em conta, para fins de contagem da
fluência do prazo recursal, aquele primeiro
evento.
Prerrogativas funcionais
 A Lei n. 8.625/93 estabelece prerrogativas
institucionais e processuais de que gozam os
integrantes do Ministério Público, dentre as
quais se destacam:
 a) ter vista dos autos após distribuição às Turmas
ou Câmaras e intervir nas sessões de julgamento,
para sustentação oral ou esclarecimento de
matéria de fato (art. 41, III);
 b) examinar, em qualquer Juízo ou Tribunal,
autos de processos findos ou em andamento,
ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar
peças e tomar apontamentos (art. 41, VII);

c) examinar, em qualquer repartição policial,
autos de flagrante ou inquérito, findos ou em
andamento, ainda que conclusos à autoridade,
podendo copiar peças e tomar apontamentos (art.
41, VIII);
 d) tomar assento à direita dos Juízes de primeira
instância ou do Presidente do Tribunal, Câmara
ou Turma (art. 41, XI) .

ACUSADO
Acusado (ou réu) é a pessoa em face de quem se
deduz a pretensão punitiva, ou seja, é o sujeito
passivo da relação processual.
 Têm capacidade para estar em juízo os entes
suscetíveis de imputação criminal:
 a) as pessoas físicas maiores de 18 anos;
 b)as pessoas jurídicas, relativamente aos crimes
ambientais (art. 225, § 3°, da CF e art. 3° da Lei
n. 9.605/98).

Não têm, por outro lado, personalidade judiciária
(legitimatio ad processum):
 a) os entes inanimados, os animais e os mortos";
 b) os menores de 18 anos;
 c)
as pessoas que gozam de imunidade
parlamentar ou de imunidade diplomática.

ATENÇÃO

Diferentemente do que ocorre em relação aos
menores de 18 anos, que se sujeitam às normas
de legislação especial e, portanto, são
insuscetíveis
de
imputação
criminal
(inimputáveis), os portadores de anomalia
psíquica (doentes mentais ou pessoas com
desenvolvimento
mental
incompleto
ou
retardado) têm capacidade processual passiva, já
que tanto as penas como as medidas de
segurança são aplicadas em decorrência de
processo criminal.

No curso da investigação, não se fala em acusado,
mas em investigado ou, se formalmente apontado
como suspeito, em indiciado, ao passo que entre o
ofereci- mento e o recebimento da denúncia,
empregam-se os termos denunciado e imputado,
reservando-se as fórmulas acusado e réu para as
etapas que se seguem ao recebimento da
denúncia" .
Identificação do acusado
 A certeza acerca de quem é o acusado é
indispensável para a propositura da ação penal,
pois a responsabilidade criminal, de caráter
personalíssimo, não pode ser atribuída a pessoa
diversa daquela a quem se imputa a infração.
 Será sempre necessário, portanto, identificar o
acusado, oferecendo informações sobre caracteres
que permitam distingui-lo dos demais indivíduos,
de modo a garantir que "a pessoa submetida ao
processo é a mesma contra a qual se dirige a ação
penal". (características)


O método dactiloscópico e o registro fotográfico
são meios de identificação bastante seguros, que,
em regra, permitem delimitar a pessoa a quem se
referem. Assim, é perfeitamente possível o
oferecimento de denúncia e até mesmo a prolação
de sentença em desfavor de pessoa de quem se
tem apenas esses caracteres (p. ex., pode o juiz na
sentença condenatória, referir-se ao acusado
como "a pessoa de qualificativos ignorados cujas
impressões papilares estão apostas no boletim de
identificação criminal juntado aos autos") .



Retificação da qualificação
A qualquer tempo, no curso do processo de
conhecimento ou da execução, se for descoberta a
qualificação do acusado, deve-se proceder à
retificação, por termo, sem qualquer prejuízo dos atos
precedentes (art. 259, 2a parte, do CPP). Igual
procedimento deverá ser adotado caso se verifique que
o autor do crime foi denunciado ou até condenado com
nome falso.
Na prática forense, é muito comum que, ao verificar
que o réu utilizou nome falso, o promotor ofereça
aditamento à denúncia com o escopo de corrigir a
imprecisão, o que, na verdade, não é adequado, já que
a retificação deve ser aperfeiçoada por termo judicial.
Condução coercitiva
 Faculta-se
ao juiz determinar a condução
coercitiva do acusado que não atender à
intimação para o interrogatório, reconhecimento
ou qualquer outro ato que não possa ser realizado
sem sua presença (art. 260, caput, do CPP).
 A legitimidade da providência dependerá, no
entanto, da constatação de que a presença do
acusado é indispensável para o ato, de modo que
a condução coercitiva para o interrogatório
deverá
ocorrer,
apenas,
quando
houver
necessidade de qualificação ou de esclarecimento
sobre a vida pregressa do réu.



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
Direitos e deveres do acusado
Constituem expressões do devido processo legal as
seguintes prerrogativas ou- torgadas ao sujeito
passivo da ação penal:
a) direito ao processo -- a pretensão punitiva
estatal deve ser sempre submetida ao Poder
Judiciário, sem que se possa cogitar da aplicação de
pena por decisão de autoridade não investida de
jurisdição (nulla poena sine judicio);
b) direito ao conhecimento do teor da acusação
(direito de informação) -- desdobra-se no direito à
citação e no direito ao prévio conhecimento do teor da
imputação;
c) direito à presunção de inocência (art. 5°, LVII,
da CF);
 d) direito ao julgamento em prazo razoável (art.
5°, LXXVIII, da CF);
 e)direito ao contraditório e à ampla defesa (art.
5°, LV, da CF) -- engloba o direito de intervenção
(produção de provas e exercício de atividade
argumenta- tiva), o direito à bilateralidade dos
atos, o direito à paridade de armas, o direito de
presença, o direito à autodefesa e o direito à
defesa técnica;

f) direito de não ser processado com base em
prova ilícita (art. se, LVI, da CF);
 g) direito ao juiz natural (art. 5°, XXXVII e LIII,
da CF);
 h) direito ao silêncio (art. 5°, LXIII, da CF);
 i) direito de não ser preso senão em flagrante
delito ou por ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente (art. 5°, LXI, da
CF);
 j) direito de recorrer, na forma da lei.

ATENÇÃO



O regime a que estão submetidos os acusados contém
diversos deveres, cuja inobservância pode acarretarlhes consequências jurídicas:
a) dever de comparecimento a atos processuais para
cuja realização sua presença seja necessária - o
desatendimento a convocação para comparecimento
pode ensejar a condução coercitiva do acusado (art.
260 do CPP);
b) dever de responder com a verdade em relação a sua
identidade e seus antecedentes - na medida em que é
defeso ao réu calar-se ou mentir no interrogatório de
qualificação (art. 187, § 1°, do CPP), o silêncio ou a
falsa resposta podem ensejar sua responsabilização,
respectivamente, por desobediência ou por falsa
identidade;

c) dever de sujeitar-se a medidas cautelares
pessoais diversas da prisão que lhe tenham sido
impostas - o desrespeito a obrigações decorrentes
de medida cautelar pode ensejar a decretação da
prisão do acusado .
DEFENSOR


Defensor é o sujeito processual com qualificação
técnico-jurídica, com o auxílio de quem o acusado
exerce sua defesa, entendida essa como a atividade de
resistência ao exercício da pretensão punitiva.
Por destinar-se à salvaguarda do inalienável direito à
liberdade, a defesa técnica (ou defesa específica) tem
caráter
necessário,
o
que
conduz
à
imprescindibilidade da participação do defensor no
processo, como preceitua o art. 261, caput, do Código
de Processo Penal: "Nenhum acusado, ainda que
ausente ou foragido, será processa- do ou julgado sem
defensor". A autodefesa (ou defesa genérica), por
outro lado, é facultativa, constituindo ônus do
acusado.
ATENÇÃO

Apenas o advogado (profissional inscrito na
Ordem dos Advogados do Brasil) pode
desempenhar a defesa técnica, na medida em que
a qualificação específica é necessária para
garantir que haja equilíbrio no antagonismo com
o órgão acusador, que é jurisperito. São
oportunas, sobre o tema, as palavras de Germano
Marques da Silva: "É do interesse da justiça que
a defesa seja eficaz e por isso que a acusação é
exercida por um órgão tecnicamente qualificado
importa que a defesa o seja também".
Espécies de defensor
 Há quatro espécies de defensor:
 a) constituído ou procurador;
 b) dativo;
 c) público;
 d) ad hoc.




Defensor constituído
Denomina-se defensor constituído (ou procurador) o
advogado eleito pelo acusado para auxiliá-lo em sua
defesa.
A atuação do defensor constituído é a regra no
processo penal, já que um dos conteúdos do princípio
da ampla defesa é a faculdade de o acusado, ainda
que ausente, escolher representante de sua confiança.
Por essa razão, haverá nulidade quando o juiz, ante a
renúncia do advogado constituído pelo acusado,
nomear defensor dativo sem oferecer oportunidade ao
réu de constituir outro procurador de sua confiança.
Também no caso de destituição do defensor
constituído que teve desempenho insufi- ciente deverá
o juiz, antes de nomear outro profissional, intimar o
acusado a constituir novo procurador.
ATENÇÃO
A constituição de defensor pode ocorrer a
qualquer momento, até mesmo na fase da
investigação, além do que o acusado pode, a todo
tempo, substituí-lo por outro.
 Duas são as formas de constituição de defensor
(art. 266 do CPP):
 a) por procuração, hipótese em que é obrigatória
a juntada aos autos do instrumento de mandato,
sob pena de não se conhecer dos requerimentos
que vierem a ser formulados;
 b) por indicação no momento do interrogatório
(nomeação apud acta), o que dispensa a juntada
de instrumento de mandato.

ATENÇÃO





É importante lembrar, todavia, que o interrogatório
passou a ser o último ato da audiência de instrução,
circunstância que restringiu a utilidade da
constituição apud acta aos casos em que o réu
pretende, naquela oportunidade, substituir o defensor
que vinha atuando em seu favor (constituído ou
dativo).
Para três finalidades há exigência de que o acusado
outorgue poderes especiais ao procurador:
1) para aceitar o perdão do ofendido (arts. 55 e 59);
2) para arguir a suspeição do juiz (art. 98);
3) para arguir a falsidade de documento (art. 146).




Defensor dativo
É a denominação que se emprega para designar o
advogado nomeado pelo juiz para representar o
acusado que se omitiu em constituir seu
representante.
Todo acusado, tenha ou não recursos econômicos para
constituir advogado, tem direito a que lhe seja
nomeado defensor.
Diferentemente do defensor público, portanto, que só
pode exercer a representação dos necessitados, o
dativo será nomeado para qualquer acusado que não
tiver defensor, independentemente de sua condição
econômica, mas o réu que não for pobre ficará
obrigado a pagar seus honorários, que serão
arbitrados pelo juiz (art. 263, parágrafo único, do
CPP).
ATENÇÃO
A indisponibilidade do direito à defesa técnica
exige que o juiz nomeie defensor dativo ao
acusado assim que constatada a omissão na
constituição de procurador, ou seja, tão logo se
escoe o prazo para a resposta escrita (art. 396-A,
§ 2°, do CPP) ou, ainda, na hipótese de o acusado
ficar sem procurador no curso da ação, quando a
renúncia produzir efeitos.
 A nomeação de defensor dativo não impede que o
acusado, a todo tempo, opte por constituir
advogado de sua confiança (art. 263, caput, do
CPP), que, então, substituirá o profissional
nomeado pelo juiz, assumindo a causa no estágio
em que se encontrar.

ATENÇÃO


O advogado que for nomeado pelo juiz para exercer o
munus de defensor dativo não poderá recusar-se a
fazê-lo, salvo por justo motivo (art. 34, XII, da Lei n.
8.906/94 e art. 264 do CPP).
Consideram-se motivos justos para a recusa: estar
impedido de exercer a advocacia; ser procurador
constituído pela parte contrária ou ter com ela
relações profissionais de interesse atual; ter
necessidade de ausentar-se da sede do juízo para
atender a outro mandato anteriormente outorgado ou
para defender interesses próprios inadiáveis; já haver
manifestado por escrito opinião contrária ao direito
que o necessitado pretende pleitear; e haver dado à
parte contrária parecer escrito sobre a contenda (art.
15 da Lei n. 1.060/50).
ATENÇÃO

Uma vez investido na função, cujo exercício é
intransferfvel
(vedado,
pois,
o
substabelecimento), incumbirá ao advogado
nomeado praticar todos os atos do pro- cesso que
interessem à defesa do acusado.
Defensor Público
 Para dar concretude ao preceito que garante
assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos (art. 5°,
LXXIV, da CF), a Constituição Federal previu a
criação da Defensoria Pública, instituição
essencial à função jurisdicional do Estado, à qual
incumbe a orientação jurídica e a defesa, em
todos os graus, dos necessitados (art. 134, caput,
da CF).




A Defensoria Pública, portanto, assumirá a defesa do
acusado que não tenha defensor constituído sempre
que essa atividade estiver afinada com sua finalidade
institucional, que é prestar assistência aos que
comprovarem insuficiência de recursos.
A Lei Complementar n. 80/94 assegura aos defensores
públicos a prerrogativa de recebimento de intimação
pessoal mediante entrega dos autos com vista e,
ainda, de contagem em dobro dos prazos processuais
(art. 44, I; art. 89, I; e art. 128, I).
A previsão de que a Defensoria tem, em seu favor, os
prazos contados em dobro, suscitou controvérsia, já
que a mesma regalia não é conferida ao Ministério
Público, o que acaba por desequilibrar o embate
processual, violando, assim, o princípio do tratamento
isonômico das partes.
SUBSTITUIÇÃO
 A nomeação de substituto para o ato só poderá
ocorrer, todavia, se o defensor do acusado tiver
sido regularmente notificado e desde que não
tenha comprovado, até a abertura da audiência,
motivo que justifique sua ausência. A propósito:
"Não há falar em cerceamento ou deficiência de
defesa pelo fato de haver o juiz nomeado defensor
ad hoc para a audiência de início da instrução,
pelo não comparecimento do defensor constituído,
apesar de regularmente intimado para o ato"

Assistência a mais de um acusado
 Na hipótese de litisconsórcio passivo, é possível
que cada um dos corréus apresente tese
antagônica à dos demais, de modo a caracterizar
a colidência de defesas, o que pode, acaso tenham
o mesmo defensor, comprometer o exercício do
direito de defesa.
 Deve o juiz evitar, portanto, em caso de
pluralidade de acusados, nomear apenas um
defensor dativo, pois é possível, em tese, que
venham a sustentar versões contraditórias,
tornando deficiente o desempenho defensivo.




Abandono do processo
De acordo com o art. 265, caput, do Código de
Processo Penal, "o defensor não poderá abandonar o
processo senão por motivo imperioso, comunicando
previamente o juiz, sob pena de multa de dez a cem
salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções
cabíveis".
É possível concluir que o defensor, dativo ou
constituído, incidirá em multa se deixar de praticar
ato processual que lhe incumba sem ter antes
comunicado ao juiz a decisão de desvincular-se do
feito. Anote-se que, mesmo depois de realizada a renúncia ao mandato, o defensor tem de exercer a
representação pelos 10 dias seguintes à notificação do
assistido (art. 5°, § 3°, da Lei n. 8.906/94), salvo se for
substituído antes desse prazo, sob pena de incidir na
multa e em sanção disciplinar .
Impedimento
 O Código prevê que não funcionarão como
defensores os parentes do juiz (art. 267 do CPP)
e, assim, estabelece regra de impedimento
fundada na ordem de precedência da atuação nos
autos: se o advogado atuou anteriormente, está
impedido o juiz; se foi o juiz quem primeiro atuou,
está impedido o advogado" .

CURADOR
Denomina-se curador a pessoa incumbida de
suprir a falta de capacidade plena do réu
submetido a incidente de insanidade (art. 149, §
2°, do CPP) ou reputado inimputável pelos
peritos (art. 151 do CPP).
 Para o exercício do munus, não se exige
habilitação técnica, ou seja, não é necessário que
seja advogado, bastando que a pessoa sobre a
qual recaia o encargo demonstre maturidade
para zelar pelos interesses do acusado e,
eventualmente, para traduzir sua vontade. Nada
impede, porém, que o próprio defensor ou
procurador do acusado seja nomeado para a
função, desde que goze da confiança do juízo.

ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO
A existência de um autor e de um réu é sempre
necessária para a existência válida do processo,
razão pela qual esses sujeitos recebem a
designação de partes necessárias.
 Ao lado desses sujeitos, pode intervir na ação
penal o assistente de acusação, cuja atuação,
todavia,
não
é
imprescindível
para
o
desenvolvimento da relação processual, daí por
que se diz tratar-se de parte contingente (ou
acessória). Em nosso ordenamento, o assistente
de acusação é a única parte contingente admitida
no pro- cesso penal".

ATENÇÃO

Nos termos do art. 268 do Código de Processo
Penal, poderá intervir em todos os termos da ação
penal, como assistente do Ministério Público, o
ofendido ou seu representante legal, ou, na falta,
seus
sucessores
(cônjuge,
ascendente,
descendente ou irmão - art. 31 do CPP).
ATENÇÃO

Releva acentuar que a assistência tem lugar,
exclusivamente, na ação pública, uma vez que,
em se tratando de ação privada, exclusiva ou
subsidiária da pública, o ofendido atuará na
qualidade de querelante, ou seja, como parte
necessária.



Legitimados
O legitimado principal à assistência é o ofendido, que,
se incapaz, será representado por um dos pais, por
guardião, tutor ou curador.
No caso de morte do ofendido, seus sucessores
legitimam-se a exercer a assistência, de acordo com a
ordem prevista no art. 31 do Código de Processo Penal
(cônjuge, ascendente, descendente ou irmão),
observada a regra de que o comparecimento de um
dos sucessores exclui a possibilidade de intervenção
dos demais que não ocupem o mesmo patamar de
precedência. O companheiro ou companheira do
ofendido também poderá sucedê-lo, uma vez que a
união estável equipara-se ao casamento".
ATENÇÃO

Assim, a assistência conjunta será possível
apenas quando se tratar de sucessores que não
tenham precedência um sobre o outro: o pai e a
mãe do ofendido morto poderão habilitar-se
conjuntamente, ainda que por intermédio de
advogados diferentes, assim também mais de um
irmão da vítima.
ATENÇÃO



Em regra, a Administração Pública não pode ser
aceita como assistente, pois o Ministério Público é o
órgão estatal incumbido da persecução penal, mas há
previsão legal de intervenção de pessoas jurídicas de
direito público em algumas hipóteses especiais:
a) órgãos federais, estaduais ou municipais
interessados, nos casos de crime de responsabilidade
de Prefeito (art. 2°, § 1°, do Dec.-Lei n. 201167);
b) a Ordem dos Advogados do Brasil- OAB, nos
processos em que advogado figure como acusado ou
ofendido (art. 49, parágrafo único, da Lei n. 8.906/94);
c) a Comissão de Valores Mobiliários - CVM e o Banco
Central do Brasil, nas hipóteses de crime contra o
Sistema
Financeiro
Nacional
praticado
em
decorrência de atividade sujeita à fiscalização por
aqueles órgãos (art. 26, parágra- fo único, da Lei n.
7.492/86);

d) a União, os Estados, os Municípios e o Distrito
Federal, bem como as entidades e órgãos da
Administração Pública, direta ou indireta, ainda
que sem personalidade jurídica, especificamente
destinados à defesa dos interesses e direitos do
consumidor e, ainda, as associações constituídas
há pelo menos um ano e que incluam entre seus
fins institucionais a defesa dos interesses e
direitos do consumidor, nos crimes contra as
relações de consumo (art. 80 da Lei n. 8.078/90) .
Processamento da habilitação
 O assistente pode ser admitido em qualquer
momento do processo: desde o recebimento da
denúncia até o trânsito em julgado a sentença.
Não é cabível a assistência, portanto, na fase do
inquérito ou da execução da pena. No que diz
respeito ao julgamento pelo Júri, o assistente
somente será admitido se tiver requerido sua
habilitação até 5 dias antes da data da sessão na
qual pretenda atuar (art. 430 do CPP).
 Ajuizado o pedido de admissão, o juiz ouvirá o
Ministério Público (art. 272 do CPP), mostrandose desnecessária, no entanto, a colheita da
manifestação da defesa.

ATENÇÃO

O juiz, que não estará adstrito à opinião do
Ministério Público, deve analisar apenas a
legalidade da admissão (em geral, a legitimidade
do pretendente), sem que possa indeferir a
habilitação por razões de conveniência.

A decisão que admite ou não o pedido de
habilitação é irrecorrível (art. 273 do CPP), mas
ficará exposta a impugnação por mandado de
segurança quando o interes- sado dispuser de
prova pré-constituída de que seu direito líquido e
certo à assistência foi desrespeitado.

Uma vez admitido, o assistente receberá a causa
no estado em que se achar (art. 269 do CPP), a
partir do que será notificado para participar de
todos os atos ulteriores do processo. O processo,
todavia, prosseguirá independentemente de nova
notificação do assistente, quando, notificado,
deixar ele de comparecer a qualquer dos atos
injustificadamente (art. 271, § 2°, do CPP) .
MUITO IMPORTANTE
Atribuições do assistente
 A atuação do assistente é restrita", podendo
praticar somente os atos taxativa- mente
previstos em lei:
 a) Propor meios de prova (art. 271, caput, do
CPP) - o assistente pode sugerir a realização de
diligências probatórias (perícias, buscas e
apreensões, juntada de documentos etc.), cabendo
ao juiz, depois de ouvir o Ministério Público (art.
271, § 1°, do CPP), analisar a pertinência das
providências.

b) Dirigir perguntas às testemunhas (art. 271,
caput, do CPP) - a inquirição pelo assistente,
dirigida às testemunhas de acusação ou de
defesa, sempre sucede aquela levada a efeito pelo
Ministério Público.
 c) Aditar os articulados (art. 271, caput, do CPP) embora o Código tenha empregado o termo
aditar, cuida-se de previsão da possibilidade de
manifestação autônoma por meio de memorial
(arts. 403, § 3°, e 404, parágrafo único, do CPP),
com o qual exercerá atividade argumentativa
destinada a influir no convencimento do juiz.



d) Participar do debate oral - Faculta-se ao assistente
participar das alegações orais no procedimento
ordinário (art. 403, § 2°, do CPP), sumário (art. 534, §
2°, do CPP), assim também na fase do sumário da
culpa nos processos de competência do Tribunal do
Júri (art. 411, § 6°, do CPP), dispondo, em todos os
casos, de dez mi- nutos, depois de concluída a fala do
Ministério Público, hipótese em que o tempo
destinado à manifestação da defesa será acrescido de
igual período.
Tal prerrogativa também é assegurada ao assistente
no julgamento em Plenário pelo Tribunal do Júri (art.
476, § 1°, do CPP) e nos processos de competência
origi- nária dos tribunais (art. 12, I, da Lei n.
8.038/90).

e) Arrazoar os recursos interpostos pelo
Ministério Público - o assistente pode apresentar
razões
autônomas
em
qualquer
recurso
interposto pelo Ministério Público e, embora não
haja previsão legal, pode, também, apresentar
contrarrazões quando da interposição de recurso
pela defesa. O prazo para o assistente arrazoar a
apelação é de 03 dias (art. 600, § 1°, do CPP), ao
passo que, no tocante ao recurso em sentido
estrito, o prazo deve ser idêntico ao conferido às
partes (art. 588, caput, do CPP).
f) Formular quesitos e indicar assistente técnico
(art. 159, § 3°, do CPP) - quando for necessária a
produção de prova pericial, ao assistente é
assegurado o direito de formular quesitos e de
indicar assistente técnico.
 g) Requerer o desaforamento de julgamento afeto
ao Tribunal do Júri (art. 427, caput, do CPP) - o
assistente, assim como o Ministério Público, o
querelante e o acusado, por meio de
requerimento, e o juiz, por meio de representação,
podem provocar o Tribunal a desaforar
julgamento em caso de interesse da ordem
pública, dúvida sobre a imparcialidade do júri ou
risco para segurança do acusado .

Legitimidade recursal
 O Código prevê a possibilidade de o ofendido (ou
seus sucessores), mesmo que não se tenha
habilitado como assistente, interpor recurso em
situações específicas, as quais pressupõem,
contudo, que o Ministério Público não tenha
recorrido.

São três os as hipóteses em que o ofendido
(assistente ou não) pode recorrer supletivamente:
 1) apelação contra a decisão de impronúncia (art.
584, § 10, do CPP);
 2)recurso em sentido contra decisão que declara
extinta a punibilidade do acusado (art. 584, § 10,
do CPP);
 3) apelação contra sentença relativa a crimes de
competência do Tribunal do Júri ou do juiz
singular (art. 598, caput, do CPP).

No tocante à controvérsia sobre a possibilidade de
o assistente recorrer da sentença condenatória,
remetemos o leitor às considerações feitas quando
da análise do fundamento de sua atuação no
processo penal (supra).
 A apelação supletiva, nos termos do disposto no
art. 598, caput, do Código de Processo Penal, não
terá efeito suspensivo.
 O prazo para interposição dos recursos depende
de estar o ofendido habilitado ou não como
assistente.

Se habilitado, o prazo é o mesmo previsto para as
partes, ou seja, de 05 dias (arts. 586 e 593 do
CPP) e será contado:
 a) do término do prazo para o Ministério Público,
se o assistente for intima- do antes dele, nos
termos da Súmula n. 448 do STF ("O prazo para o
assistente recorrer, supletivamente, começa a
correr imediatamente após o transcurso do prazo
do Ministério Público");
 b) da intimação do assistente, quando intimado
após o Ministério Público.

AUXILIARES DA JUSTIÇA
 Os auxiliares da justiça não são, propriamente,
sujeitos processuais, já que não participam da
relação processual, mas apenas auxiliam o juiz,
esse, sim, sujeito da relação jurídica processual.
 Para que possa oferecer a tutela jurisdicional
invocada pelas partes, porém, o juízo necessita da
colaboração de órgãos auxiliares, aos quais
incumbe a realização de tarefas que não podem
ser efetivadas pessoalmente pelo magistrado
(documentação dos atos processuais, realização
de diligências fora da sede do juízo, guarda de
bens apreendidos etc.).

IMPORTANTE
Esses órgãos auxiliares podem ser:
 a) permanentes - os órgãos que atuam em todos
os processos em trâmite pelo juízo (escrivão,
oficial de justiça, distribuidor etc.);
 b) eventuais - que intervêm somente em alguns
processos, nos quais realiza- rão tarefas especiais
(intérpretes, peritos etc.).


O escrivão" é o auxiliar do juízo, encarregado de
chefiar o cartório, de documentar os atos
processuais (inclusive participando de audiências
ou designando escreventes para tal fim), de
redigir ofícios, mandados e cartas precatórias, de
guardar os autos etc. Sob a responsabilidade do
escrivão oficiam os escreventes e auxiliares.
Os atos externos, ou seja, aqueles cuja execução
deva dar-se fora da sede do juízo, são praticados
pelo oficial de justiça, a quem incumbe cumprir
as ordens do juiz, procedendo às intimações e
notificações, citações, prisões, avaliações, além de
buscas e apreensões.
 Têm fé pública, isto é, gozam de presunção
relativa de veracidade, os escritos e certidões
firmados por esses órgãos auxiliares.
 Aos serventuários e funcionários da Justiça
aplicam-se, no que couber, prescrições sobre a
suspeição dos juízes (art. 274 do CPP) .




Peritos e intérpretes
Nos casos em que a solução de determinada questão
de fato depender de conhecimentos técnicos,
científicos ou artísticos especializados, o juiz valer-seá de profissional qualificado para auxiliá-lo: o perito.
Tratando-se de munus, a nomeação pelo juiz obriga o
perito a aceitar o encargo, salvo escusa atendível (art.
277, caput, do CPP), o que faz nascer os seguintes
deveres: acudir à intimação ou chamado da
autoridade; comparecer no dia e local desig- nados
para o exame; e apresentar o laudo ou concorrer para
que a perícia seja realizada no prazo estabelecido (art.
277, parágrafo único, do CPP).
ATENÇÃO





O perito que se recusar a aceitar o encargo sem justo
motivo, ou deixar de obedecer aos deveres legais,
incorrerá em multa (art. 277 do CPP) e, no caso de
não comparecimento injustificado, poderá ser
conduzido coercitivamente (art. 278 do CPP).
Além das hipóteses de suspeição relativas aos juízes,
que lhe são extensivas (art. 280 do CPP), não poderá
funcionar como perito a pessoa que:
a) estiver sujeita à interdição de direitos - isto é,
encontrar-se proibida de exercer a atividade ou ofício
em virtude de pena restritiva de direitos;
b) tiver prestado depoimento no processo ou opinado
anteriormente sobre o objeto da perícia;
c) for analfabeta ou menor de 21 anos.

Os intérpretes são equiparados, para todos os
efeitos, aos peritos (art. 281 do CPP). Nos
Juizados Especiais Criminais, existe a figura do
conciliador (art. 60 da Lei n. 9.099/95), que, sob a
orientação dos juízes, deve atuar na audiência
preliminar com o objetivo de conduzir as partes a
uma composição. A existência da figura do
conciliador e a forma pela qual será recrutado
dependem da edição de lei no âmbito de cada
Estado federado .
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atenção - Corrêa & Corrêa Advogados