64º Congresso Nacional de Botânica
Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013
O ALCANCE DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL COM
BASE NA DISTRIBUIÇÃO DAS ESPÉCIES RARAS E/OU AMEAÇADAS DE
APOCYNACEAE
1
2
Lara Pugliesi *, Alessandro Rapini
1,2
Universidade Estadual de Feira de Santana; *[email protected].
Introdução
Apesar da redução acelerada de áreas naturais, poucos
trabalhos têm focado o alcance das Unidades de
Conservação (UC) na proteção da biodiversidade
brasileira. O objetivo deste trabalho foi avaliar a
representatividade de espécies de Apocynaceae raras
e/ou ameaçadas que estão protegidas em UC como base
para essa avaliação. Embora as Apocynaceae
representem ca. 2,5% da riqueza de angiospermas do
Brasil e 3,5% das espécies raras, elas compreendem
uma grande amplitude morfológica, ocorrem em
praticamente todos os hábitats e estão amplamente
distribuídas
no
país,
legitimando
extrapolações
conservacionistas para angiospermas no Brasil.
ocorrência entre as espécies ameaçadas, criando uma
distribuição desigual, com áreas que abrigam maior
concentração de espécies vulneráveis.
Metodologia
Os registros georreferenciados das espécies raras [1] e
ameaçadas [2] de Apocynaceae, obtidos a partir de
exsicatas de herbários, literatura e bancos de dados
virtuais, foram intersectados aos shapes das UC do Brasil
(CNUC/MMA).
Resultados e Discussão
Foram reunidos 600 registros de Apocynaceae,
representando 100 espécies raras e/ou ameaçadas: 85
raras e 48 ameaçadas. Essas espécies estão
concentradas no Sudeste (ca. 70%), principalmente em
Minas Gerais, e, secundariamente, no Nordeste (ca.
20%), praticamente restritas à Bahia. Os Campos
Rupestres, na Cadeia do Espinhaço, e a Mata Atlântica,
na costa leste do Brasil, reúnem a grande maioria dessas
espécies. Essa distribuição desigual está associada a
artefatos amostrais, como maior esforço de coletas
nessas áreas, mas também a aspectos biológicos e
sociais. Ambas são regiões essencialmente montanhosas
que geralmente representam berço e refúgio de espécies,
reunindo uma grande concentração de linhagens, boa
parte delas com distribuição bastante restrita. Além do
mais, são áreas altamente fragmentadas, com longo
histórico de perturbação, e portanto, com suas áreas
naturais reduzidas. Dessa maneira, tanto os Campos
Rupestres quanto a Mata Atlântica reúnem uma grande
quantidade de espécies ameaçadas e merecem atenção
especial em planos de conservação.
Embora a área continental de proteção integral no Brasil
corresponda a ca. 6% do território nacional, ela
contempla aproximadamente um terço das espécies
ameaçadas e/ou raras de Apocynaceae. Considerando a
área total de UC (incluindo também as áreas de uso
sustentáveis), correspondendo a 17% do território
nacional, aproximadamente metade dessas espécies de
Apocynaceae passa a estar protegidas. Essa proporção é
especialmente representativa se considerarmos que o
Sudeste e o Nordeste, onde se concentra a maioria das
espécies raras/ameaçadas, estão entre as Regiões com
menores porcentagens de áreas protegidas em UC. Tal
relação se deve especialmente ao alto grau de co-
Figura. Biomas, Unidades de Conservação e distribuição das
espécies raras e/ou ameaçadas de extinção de Apocynaceae.
Fonte: IBGE/2004; CNUC/MMA.
Conclusões
Avaliações desse tipo devem ser realizadas para outros
grupos de organismos, mas os resultados obtidos com
Apocynaceae apontam uma grande concentração de
espécies ameaçadas em áreas de Campos Rupestres e
Mata
Atlântica.
Eles
sugerem,
também,
que
aproximadamente metade das espécies de angiospermas
ameaçadas ou raras provavelmente não se encontra
protegida em nenhum tipo de UC e reforçam a ideia de
que a implantação de UC de maneira planejada, com
base em informações científicas, pode otimizar
sensivelmente a relação área-espécie protegida,
repercutindo substancialmente na conservação da
biodiversidade brasileira.
Agradecimentos
À CAPES e ao CNPq pelo apoio aos projetos PNADB e
REFLORA. Os autores são bolsistas de mestrado e de
produtividade (Pq2) do CNPq, respectivamente.
Referências Bibliográficas
[1] Rapini, A.; Silva, R.F.S. & Sampaio, L.N.P. 2009.
Apocynaceae. Pp. 54-64. In: I Giulietti, A.M.; Rapini, A.;
Andrade, M.J.G.; Queiroz, L.P.; Silva, J.M.C. (eds.). Plantas
Raras do Brasil. Belo Horizonte, Conservação Internacional
do Brasil; Feira de Santana, UEFS.
[2] Rapini, A. & Koch, I. Apocynaceae. Pp.32-49. In: Livro
Vermelho da Flora do Brasil. (no prelo). Disponível em
http://cncflora.jbrj.gov.br/plataforma2/book/familia.php?familia=
APOCYNACEAE.
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