PROPOSTA CURRICULAR – ANOS INICIAIS – ENSINO FUNDAMENTAL CADERNO – 4 ACOMPANHANDO E AVALIANDO PROFA. SELMA M. S. PEREIRA APRESENTAÇÃO O foco deste Caderno: - Discriminação de procedimentos relacionados ao diagnóstico e à avaliação, tanto da aprendizagem dos alunos quanto do trabalho desenvolvido pelas escolas no contexto da alfabetização. Essa abordagem se desdobrará em 03 seções: A revisão do núcleo conceitual da avaliação que se considera necessária e compatível com um sistema de ciclos; 2. A produção de instrumentos compartilhados pela escola para o diagnóstico e a avaliação do ensinoaprendizagem no CA; 3. A necessidade de criação de reagrupamentos dinâmicos de alunos e de mecanismos de intervenção para fazer face às dificuldades e descompassos dos alunos em relação às capacidades esperadas nos diferentes patamares do Ciclo. 1. 1. Revendo a concepção de avaliação em um sistema de ciclos Na última década, a avaliação educacional passou a ocupar lugar central nas políticas públicas de educação no Brasil; Ampliou-se bastante o conjunto de referências sobre as ações e estratégias avaliativas, articuladas a concepções alternativas e reformas educativas, que passaram a adotar o ciclo como perspectiva de formação escolar. Nesta perspectiva da organização por ciclos, a avaliação assume uma dimensão formadora, especialmente no CA – que visa proporcionar aos educandos entre 6 e 8 anos – uma proposta educativa que seja adequada às características de seu desenvolvimento e de sua aprendizagem; A avaliação se configura como fonte de informação para formulação de práticas pedagógicas e os registros passam a incorporar referências mais descritivas do desempenho dos alunos ao longo do processo, com ênfase em progressões e não em rupturas; Avaliar a aprendizagem do aluno em tal perspectiva, significa considerar que, ao detectar problemas na aprendizagem dos alunos, o professor também deverá considerar que ocorrem problemas em sua prática de ensino; O trabalho do professor é permanentemente avaliado – pelos outros profissionais e pelos pais dos alunos -, sempre tendo como parâmetro o resultado da aprendizagem de seus alunos. Contudo, o professor não é o único responsável pelo processo ensino-aprendizagem dos alunos; É responsabilidade de todos os profissionais da escola a criação de um espaço coletivo para discussão e análise dos problemas de aprendizagem dos alunos, bem como elaboração conjunta de planejamentos, sempre informada pelos dados pertinentes à formação contínua das crianças. A avaliação da aprendizagem dos alunos Duas dimensões têm sido associadas às ações avaliativas: 1) Técnica ou burocrática – tem como função a regulação de recortes dos tempos escolares (ciclo ou série); - Apresenta um caráter classificatório, somativo, controlador; - Tem objetivo de certificação ou de atendimento à dimensão burocrática da instituição e do sistema; - Envolve sistemas fechados, dominantes em nossa tradição pedagógica; - Traduzidos em registros quantitativos e medidas de produtos definidores da promoção ou da reprovação dos alunos. 2) Formativa ou continuada – tem uma função diagnóstica, processual, descritiva e qualitativa; - Sinalizadora do patamar de aprendizagens consolidadas pelo aluno, de suas dificuldades ao longo do processo e das estratégias de intervenção necessárias a seus avanços; - Envolve sistemas abertos de avaliação, a serviço das orientações das aprendizagens dos alunos ao longo dos ciclos. Têm sido significativos os avanços conceituais e curriculares no que diz respeito à progressão continuada – uma lógica educativa que busca ultrapassar as distorções da lógica seriada; Um passo decisivo nesse sentido se configurou no capítulo da Ed. Básica da LDB 9394/96, que postula, em seu art. 24: V- A verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a) Avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) Possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) Possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação de aprendizado; d) Aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e) Obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar (...) A avaliação das aprendizagens dos alunos continua representando fonte de muitas dúvidas, conflitos e contradições – em relação a projetos e expectativas do sistema, da escola, do professor e da própria comunidade escolar. Em decorrência dessas dificuldades, têm sido cada vez mais frequentes, por ex., as manifestações de descrédito quanto às ações avaliativas, em posições expressas por educadores e pais, em reuniões formais ou interações mais espontâneas: “No sistema de ciclos não existe mais avaliação; o papel do professor é anulado, porque ele não pode reprovar; sem a nota, acaba a motivação do aluno, que não precisa se esforçar para alterar resultados...” Na base dessas e de outras incompreensões e equívocos, podem ser localizadas 02 situações mais frequentes: a) A tendência a se considerar a “progressão continuada” como equivalente a “progressão automática” – concepção que retira do professor sua plena função avaliativa, por limitá-lo à dimensão burocrática desse procedimento. - Produz uma nova forma de exclusão dos alunos, ao permitir seu avanço no sistema de ensino sem que lhes seja assegurada a devida aprendizagem dos conteúdos e capacidades pertinentes a cada patamar ou ciclo; b) A incorporação isolada e desarticulada da ideia de progressão continuada como um conjunto de descrições vagas e pouco qualificadas – o que acaba não conferindo ao sistema de ciclos a necessária consistência avaliativa, justificando a perplexidade de professores e pais: afinal, o que a criança aprendeu? Como saber se ela está se desenvolvendo, de fato, na escola? 2. Instrumentos para diagnóstico e avaliação no CA A primeira ação educativa à avaliação é o diagnóstico; Diagnosticar é coletar dados relevantes, através de instrumentos que expressem o estado de aprendizagem do aluno, tendo em vista objetivos e capacidades que se pretende avaliar, em relação a determinado objeto de conhecimento. Essa concepção evidencia 03 vertentes que deverão estar na base de qualquer abordagem da avaliação, na perspectiva dos ciclos de formação (COLL, 2000): OBJETIVOS GERAIS DO CICLO Capacidades que os alunos devem desenvolver em cada eixo proposto CONTEÚDOS Análise de blocos de conteúdo e distribuição por ciclo, em função de critérios valorizados na área CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DO CICLO Tipo e grau de aprendizagem em relação a cada bloco de conteúdos ou eixo de capacidades avaliadas 2.1. Instrumentos mais relevantes no contexto da progressão continuada a) Observação e registro: procedimento fundamental desde o momento de diagnóstico dos conhecimentos prévios dos alunos em relação ao sistema de escrita, até as avaliações das capacidades desenvolvidas em sua trajetória no Ciclo; - Recursos mais adequados aos registro: fotos, gravações em áudio e em vídeos, fichas descritivas, relatórios individuais, cadernos ou “diários de campo”; É imprescindível que o registro contemple: - A identificação da escola, do aluno e da turma, do professor e da equipe relacionada ao processo, dos períodos do registro; - A especificação de objetivos do trabalho no período em foco; - A explicitação de conteúdos trabalhados no mesmo período; - A explicitação de atividades e projetos desenvolvidos; - Observações sobre níveis atingidos pela turma (aspectos comuns ou compartilhados pela maior parte) e pelo aluno particularmente focalizado; - Sugestões de linhas de ação a serem desenvolvidas na própria classe, em outros espaços ou instâncias da escola e em interações com os familiares. b) Provas operatórias: instrumentos assim designados devido à sua ênfase em operações mentais envolvidas nos conhecimentos que estão sendo processados pelos alunos, ao longo de seu desenvolvimento e de suas aprendizagens; c) Auto-avaliação: estratégias que propiciam o levantamento de informações relevantes para regular o processo de construção de significados pelo próprio aluno. Sua principal finalidade é a tomada de consciência pelo aluno, de suas capacidades e dificuldades; d) Portifólio: organização e arquivo de registros das aprendizagens dos alunos, selecionados por eles próprios, com intenção de fornecer uma síntese de seu percurso ou trajetória de aprendizagem. 2.2. Utilização de critérios observáveis nas propostas de avaliação Os critérios de avaliação merecem cuidadosa análise no que se refere às possibilidades e aos limites das categorias de interpretação selecionadas para a descrição dos desempenhos dos alunos: - Sinais indicadores da simples presença ou ausência de capacidades (+ ou -), sem maior qualificação quanto às categorias utilizadas; - Escalas indicadoras da frequência dos desempenhos Nunca – raramente - algumas vezes – frequentemente - sempre - Conceitos atribuídos ao desempenho Fraco – regular – bom – ótimo - Códigos sinalizadores do patamar atingido ao longo do processo AD – aquém do desenvolvimento ED – em desenvolvimento AS – avanço significativo Ou ND – não domina DP – domina parcialmente DT – domina totalmente OBS.: Essas alternativas, entre várias outras já implementadas ou possíveis, indicam que sempre se busca envolver, através das categorias utilizadas, alguma forma de comparação e classificação de desempenhos de alunos, muitas vezes com discriminação pouco clara dos critérios selecionados. Assim, pouco informam ao aluno, aos seus pais e aos profissionais que atuarão nas classes dos anos seguintes. 2.3. Avaliação de conhecimentos e capacidades no Ca Nas práticas pedagógicas sustentadas pelos atuais parâmetros curriculares, a produção de instrumentos de avaliação tem levado em consideração várias dimensões ou eixos do conhecimento: a) Conceituais – capacidades para operar com símbolos, imagens, ideias ou representações, em função das áreas de conhecimento contempladas na Proposta Curricular; b) Procedimentais – apropriação de instrumentos ou equipamentos relacionados à aquisição da escrita e da leitura; c) Atitudinais – comportamentos que expressam apreciações e incorporação de valores, normas, hábitos ou atitudes relacionadas à organização do trabalho escolar e à socialização, expressa nas interações com os professores, com os pares e com grupos em geral. As ações avaliativas implementadas em um ciclo - - necessitam abranger conteúdos de todos os campos de conhecimento pertinentes: à escolarização inicial, ao conhecimento de mundo, às diferentes linguagens, à formação pessoal e social dos alunos e, às suas capacidades relacionadas a dimensões corporais e motoras, cognitivas, sócio-afetivas, éticas, estéticas. 3. As tomadas de decisão: reagrupamentos dinâmicos e estratégias de intervenção Uma das alternativas mais valorizadas e incorporadas pelos educadores, para fazer face às dificuldades dos alunos, tem consistido no reagrupamento dos mesmos – importante estratégia de organização do trabalho pedagógico; Apesar do reconhecimento desses aspectos, as maiores dificuldades têm se situado no estabelecimento de critérios para tais reagrupamentos; Decisões dessa natureza envolverão, tanto o professor como o coordenador do ciclo: - É desaconselhável que a formação de grupos de trabalho em sala de aula se paute, unicamente, na livra escolha dos alunos; - É importante indagar como se sentirão as crianças que se percebem “sobrando” ou que não são correspondidas em suas escolhas. 3.1. Algumas orientações pertinentes a agrupamentos e reagrupamentos a) A intervenção do professor – é imprescindível para - - que os alunos aprendam a entender a importância de observar outros critérios, além da escolha por afinidades ou simpatias. Uma outra dimensão importante: consiste na adequada orientação sobre as formas de participação esperadas de cada membro do grupo. Principal objetivo – propor atividades conjuntas e alternativas que possibilitem aos alunos a superação de dificuldades diagnosticadas; b) A definição do número de participantes em cada grupo – aconselha-se que se trabalhe com grupos menores – duplas, trios ou, no máximo, quatro alunos, a depender da atividade proposta; - É importante que se observe a rotatividade em diferentes grupos, para se evitar a cristalização de relações, de formas de trabalho e, sobretudo, de discriminações de colegas com maiores dificuldades no processo; c) Os critérios de seleção dos participantes do grupo – devem ser flexíveis e variados: - Em algumas ocasiões – “por similaridade de possibilidades”; - Em outras – “reunir heterogeneidades extremas”; - Em outras – “proximidades relativas”. 3.2. Dificuldades de aprendizagem e de ensino: avaliando o aluno, a escola e o sistema A consideração das capacidades desenvolvidas pelos alunos, registradas em relatórios ou fichas, indica que o professor deverá se regular pelas necessidades de aprendizagem evidenciadas em sua turma, à luz do trabalho didático implementado; A perspectiva de avaliação não pode se esgotar na relação ensino-aprendizagem que se processa nos limites da sala de aula (a partir dos diagnósticos obtidos supõe-se uma avaliação abrangente de todo o projeto da escola, em torno de questões complementares). Palavras Finais A complexidade das dimensões das ações avaliativas precisa acompanhar todo o trabalho desenvolvido pelos profissionais engajados na tarefa de alfabetizar: é necessário avaliar as aprendizagens dos alunos, o processo de ensino, a realização de metas de planejamento, programas e projetos estabelecidos pela escola e pelo sistema. Por essa razão, a necessidade de trabalho coletivo e articulado; Ampliação do tempo dos professores para atividades de planejamento e avaliação do trabalho realizado, e a garantia de sua formação continuada. Referência Coleção: Orientações para a Organização do Ciclo Inicial de Alfabetização; 4 – Acompanhando e Avaliando/Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, 2004.