EXEMPLO:
QUANTIFICAÇÃO DAS AÇÕES OFENSIVAS DO GOALBALL NOS JOGOS
PARALÍMPICOS DE LONDRES 2012
Thiago Magalhães / UNICAMP
Otávio Luis Piva da Cunha Furtado / UNICAMP
Márcio Pereira Morato / USP
Diego Henrique Gamero / UNICAMP
Milton Shoiti Misuta / UNICAMP
[email protected]
RESUMO
O goalball é um esporte coletivo praticado por pessoas com deficiência visual e
baseado na troca de arremessos entre as equipes, vencendo a equipe que marcar
o maior número de gols. O objetivo deste estudo foi investigar a quantidade e a
eficácia das ações ofensivas nos jogos de goalball das Paralímpiadas de Londres
2012. Os dados foram extraídos dos Match Results de cada partida, disponibilizados
na internet no site da competição. Foram analisados 36 jogos masculinos e 27
femininos. Foram computados 6782 arremessos no masculino, sendo 97,95%
destes de jogo efetivo e 2,05% de pênaltis. A eficácia dos ataques, isto é, aqueles
convertidos em gol, no masculino foi de 3,1% para o jogo efetivo e 50,4% nas
cobranças de pênalti. No feminino foram analisados 4929 ataques, sendo 98,88%
de jogo efetivo e 1,12% de pênaltis. Para o feminino, a eficácia foi de 2,0% para o
jogo efetivo e 47,3% nos pênaltis. Foi observada uma menor eficácia dos ataques
se comparada aos jogos de Pequim 2008 tanto para o jogo efetivo, quanto para as
cobranças de pênalti em ambas as categorias. Sugere-se que futuros trabalhos
associem tais variáveis a vitória, empate ou derrota nas partidas como acontece em
outros esportes.
Palavras-Chave: Goalball, Análise de Jogo, Olimpíadas.
INTRODUÇÃO
O goalball é uma modalidade esportiva coletiva praticada por pessoas com
deficiência visual. Desde 1976 compõe o quadro de modalidades dos Jogos
Paralímpicos de Verão. A dinâmica do jogo é pautada na exploração das percepções
auditivas e táteis pelas quais os atletas localizam a bola através do som emitido
pelos guizos internos que a mesma possui, e orientam-se tendo como referência a
baliza e as linhas em alto relevo que formam a quadra (ALMEIDA et al., 2008;
MORATO, 2012).
A quadra apresenta nove metros de largura por dezoito metros de
comprimento. O confronto se dá através da troca de lançamentos efetuados pelos
três jogadores de cada equipe. O objetivo do jogo é fazer com que a bola adentre
a baliza adversária assim como evitar que a mesma adentre seu próprio gol. Vence
a equipe que ao final dos dois tempos de doze minutos, tempo regulamentar da
partida, apresentar o maior número de gols (MORATO; GOMES; ALMEIDA, 2012).
Estudiosos dos jogos coletivos apontam a análise de jogo como uma
importante
ferramenta
para
a
análise
da
performance,
promovendo
o
desenvolvimento de métodos de treino que garantam maior especificidade,
consequentemente maior transferibilidade para o jogo (GARGANTA, 2001;
GLAZIER, 2010). Partindo do princípio que as incidências do jogo obedecem a uma
lógica interna particular (TEODORESCU, 1985; GARGANTA, 1997), vários autores
têm procurado modelar um quadro de exigências que se constitua como referência
fundamental para a melhoria das modalidades desportivas individuais e coletivas
(GARGANTA, 1997; MOUTINHO, 2000).
O conhecimento científico produzido a respeito da caracterização dos padrões
de jogo no goalball se resume a dois trabalhos. Amorim et al. (2010) sistematizaram
as ações presentes no jogo, buscando comparar equipes de nível nacional
participantes da temporada 2007/8 do campeonato português com seleções
participantes da terceira divisão do Campeonato Europeu 2009. No Brasil, Morato
(2012) elaborou uma modelagem dos padrões do jogo de goalball obtidos a partir
da análise de vinte jogos dos Jogos Paralimpícos de Pequim 2008, sendo dez jogos
masculinos e dez femininos. Entretanto a literatura não apresenta estudos que
tratem de uma amostra mais expressiva como todos os jogos de uma importante
competição.
Assim, o objetivo desta pesquisa foi investigar a quantidade e a eficácia das
ações ofensivas nos jogos de goalball dos Jogos Paralímpicos de Londres 2012, das
categorias masculina e feminina.
MÉTODOS
Os dados foram extraídos dos documentos Match Results de cada partida da
modalidade goalball dos Jogos Paralímpicos de 2012. Os documentos de todas as
partidas estão disponíveis na homepage da competição (CHANNEL4, 2012). Foram
analisados 36 jogos da categoria masculina e 27 jogos da feminina. Não foram
incluídos no estudo 2 jogos masculinos, que terminaram por diferença de 10 gols e
um jogo feminino, que foi para prorrogação.
As variáveis selecionadas foram referentes a categoria, ao número total de
lançamentos, número total de gols, número de lançamentos e gols provenientes de
jogo efetivo (exceto pênaltis), cobranças de penalidades e gols de pênalti. A eficácia
do ataque foi obtida dividindo a quantidade de arremessos resultantes em gol pela
quantidade total de arremessos efetuados em cada situação - jogo efetivo e
cobrança de penalidade.
A análise dos dados compreendeu estatística descritiva utilizando o software
Statistica 7.0 (STATSOFT, 2004). Arremessos e penalidades foram expressos por
mediana e valores mínimo e máximo, pois os dados não apresentaram aderência à
distribuição normal, determinado pelo teste Kolmogorov-Smirnov.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram computados 6782 arremessos no masculino, dos quais 6643 (97,95%)
realizados com bola em jogo e 139 (2,05%) em cobranças de penalidade. No
feminino foram 4874 arremessos de jogo efetivo (98,88%) e 55 de penalidade
(1,12%), de um total de 4929 ataques. O resumo das ações e eficácia dos
arremessos estão expressos na Tabela 1.
Tabela 1 - Descrição das ações ofensivas por equipe durante jogo efetivo e cobrança
de penalidade na modalidade goalball nos Jogos Paralímpicos de 2012.
n – número de ocorrências de determinado evento; M – mediana; Min-Máx –
valores mínimos e máximos.
A mediana do número de arremessos por partida foi de 188 para o masculino
e 181 para o feminino. Resultados superiores tanto aos encontrados por Amorim et
al. (2010), que foram médias de 133,9 e 162,8 para equipes nacionais portuguesas
e seleções europeias respectivamente, quanto aos encontrados por Morato (2012),
com médias de 156,0 para o masculino e 149,1 para o feminino. Esta diferença se
justifica pelo acréscimo do tempo regulamentar da partida, alterado de 20 minutos
em Pequim 2008 para 24 minutos em Londres 2012. A análise do número de
arremessos por minuto apontou frequência semelhante em ambas as competições
(7,8 no masculino e 7,5 no feminino). Tal semelhança se explica pela existência da
regra de posse de bola, que limita cada ataque a no máximo 10 segundos.
Comparando o presente resultado com aqueles obtidos por Morato (2012),
pode-se verificar que, apesar do aumento do número de arremessos por jogo, não
houve aumento de gols por partida que, no masculino, foi de 8,1 em Pequim 2008
e 7,8 em Londres 2012 e, no feminino, de 4,2 e 4,5, respectivamente. Tal fato pode
ser explicado pela menor eficácia dos ataques em 2012 em ambas as categorias.
No masculino, a eficácia nos ataques de jogo efetivo caiu de 5,2% em 2008 para
3,1% em 2012; enquanto no feminino foi de 2,8% para 2%. Em relação às
cobranças de penalidade, foi de 56% para 50,4% no masculino e de 54,2% para
47,3% no feminino.
CONCLUSÃO
O número de lançamentos encontrados foi superior aos de outros estudos,
isso ocorreu devido a mudança na regra da modalidade, aumentando o tempo da
partida de 20 para 24 minutos. De acordo com nossos achados tal aumento não
possibilitou um incremento no número de gols por partida. Contatou-se a diminuição
da eficácia do ataque tanto para o jogo efetivo quanto para as cobranças de
penalidade em ambas as categorias.
Notou-se
que
apenas
aproximadamente
metades
das
cobranças
de
penalidade foram revertidas em gols. Isso certamente é um fator a ser melhorado,
pois as chances de pontuar nessa situação são notavelmente maiores.
Podemos apontar como limitação deste estudo a falta de informações a
respeito dos critérios utilizados na mensuração dos Match Results de onde foram
extraídos os dados desta pesquisa.
Uma possibilidade para futuros estudos seria associar o comportamento de
tais varáveis nas situações de vitória, empate ou derrota buscando compreender a
correlação destas com desempenho a exemplo do que acontece em outras
modalidades esportivas.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, J. J. G.; OLIVEIRA FILHO, C. W.; MORATO, M. P.; MUNSTER, M. A. V.;
MATSUI, R. Goalball: invertendo o jogo da inclusão. 1. ed. Campinas: Autores
Associados, 2008.
AMORIM, M. L. D. C.; BOTELHO, M. F. D. C.; SAMPAIO, E., SAORÍN, J. M.;
CORREDEIRAS, R. M. N. Caracterización de los patrones comportamentales de los
atletas con discapacidad visual practicantes de goalball. REIFOP, v.13, n.3, p.4757, out. 2010.
CHANNEL4. Results & Schedule. 2012. Disponível em:
<http://paralympics.channel4.com/the-sports/goalball/>. Acesso em: 07 set.
2012.
GARGANTA, J. Modelação táctica do jogo de futebol: estudo da organização da
fase ofensiva em equipas de alto rendimento. 1997. Tese (Doutorado em Ciências
do Desporto) –Faculdade de Desporto, Universidade do Porto, Porto, 1997.
GARGANTA, J. A análise da performance nos jogos desportivos. Revisão acerca da
análise do jogo. Revista Portuguesa de Ciências do desporto, v. 1, n. 1, p.
57-64, 2001.
GLAZIER, P. S. Game, set and match? Substantive issues and future directions in
performance analysis. Sports medicine, v. 40, n. 8, p. 625-634, 2010.
MORATO, M. P. Análise do jogo de Goalball: modelação e interpretação dos
padrões de jogo da Paralimpíada de Pequim 2008. 2012. Tese (Doutorado) –
Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
2012.
MORATO, M. P., GOMES, M. S. P.; ALMEIDA, J. J. G. D. The self-organizations
processes of goalball. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 34, n. 3, p.
741-760, 2012.
MOUTINHO, C. A. S. S. Estudo da estrutura interna das ações da
distribuição em equipes de voleibol de alto nível de rendimento: contributo
para a caracterização e prospectiva do jogador distribuidor. 2000. Tese
(Doutorado em Ciências do Desporto) –Faculdade de Ciências do Desporto e de
Educação Física, Universidade do Porto, Porto, 2000.
TEODORESCU, L. Problemas de teoria e metodologia nos jogos desportivos.
Lisboa: Livros Horizonte, 1984.
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