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Letras
COMPETÊNCIA DE INTERPRETAÇÃO X CONSTRUÇÃO DO
CONHECIMENTO: UMA ANÁLISE SOBRE O PAPEL DO
PROFESSOR E O PROCESSO DE INTERAÇÃO COM OS ALUNOS
DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) NO RIO DE
JANEIRO.
Por Terezinha Machado1
Ideias Chave: EJA, Linguagem, papel do professor
E
ste artigo tem como objetivo discutir
ótica dos alunos, buscando refletir sobre o que
as dificuldades do aluno da EJA
os impedem de interpretar os textos com maior
diante da mensagem dos textos
facilidade.
trabalhados em sala de aula. Discuto se a
Algumas hipóteses para a dificuldade
linguagem é ou não dificultada pela forma
demonstrada
como são escritos: realizo atualmente, uma
interpretação de textos: seleção vocabular,
pesquisa de campo na Escola Municipal Pio X,
sintaxe,
em turmas de sexto e sétimo anos do Ensino
desconhecimento de termos técnicos, falta ou
Fundamental deste segmento, onde estou
colhendo
dados
para
serem
utilização
alunos
do
de
EJA
na
metáforas,
excesso de imagens, entre outros.
analisados
posteriormente em publicação mais ampla,
mas acredito que já posso apresentar aqui neste
pequeno artigo alguns elementos que discuta a
1
pelos
Minha pesquisa no Mestrado mostrou a
análise de dados que configuraram o Perfil do
Professor do Ensino Supletivo (atual EJA),
Possui graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1976), graduação em Letras pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1970) e mestrado em Educacao pela Fundação Getúlio Vargas (1989).
Atualmente é aluna do Doutorado em Língua Portuguesa pela UERJ, professora da Universidade Cândido Mendes e das
Faculdades Integradas Simonsen.
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revelado pela categoria “linguagem”. Nela
A situação da EJA é delicada, em relação
comprovei, pela análise da fala dos integrantes
ao insucesso dos alunos e acaba por marcar
do processo ensino-aprendizagem da EJA, que
também os professores, alguns colegas ainda
havia uma rotulação que pesava sobre esta
marginalizam este segmento do Ensino
clientela. Grande parte dos entrevistados, de
Fundamental. Muitas vezes senti isto na pele,
acordo com material gravado e analisado, tinha
como professora municipal, estadual e no setor
uma ideia pré-concebida de que o aluno do
privado, quando me perguntavam em que
EJA, em sua maioria, não apresentava
escolas lecionava, quando falava da escola
condições
Apontavam
noturna, percebia um certo preconceito, como
causas como: cansaço (pois a maioria
se eu fosse menos preparada do que eles,
trabalhava durante o dia e seguia para a escola
apesar do concurso ser o mesmo e exigir
noturna), fome (algumas escolas públicas não
licenciatura plena.
de
aprendizagem.
ofereciam merenda), sono (em virtude de
Sobre
a
pesquisa
realizada
no
terem que acordar muito cedo para ir ao
Mestrado, apliquei alguns questionários em
trabalho)
turmas que lecionava para relativizar a fala dos
e,
sublinhavam
um
aparente
desinteresse por parte dos alunos. Na verdade,
entrevistados:
cansaço, fome e sono são três situações que
pedagógicos e diretores. Uma das questões
levam a maioria das pessoas a aparentar
professores,
supervisores
propostas era que o aluno apontasse que
desinteresse. Havia outro complicador, grande
disciplina lhe trazia mais dificuldade para
parte dos professores também vinha de outra
interpretar
jornada de trabalho, chegando cansado, com
Aproximadamente,
fome e sono. Ou seja, professor e aluno da EJA
Portuguesa como a mais difícil, seguida pela
possuem algumas dificuldades em comum.
disciplina
A Educação de Jovens e Adultos é um
os
de
textos
60%
História.
trabalhados.
apontou
Alguns
Língua
poucos
apontaram Ciências e outros, Geografia.
sonho que não quero abandonar, apesar de
Existe uma diferença bem marcada na
todas as dificuldades, há caminhos que ainda
condição de comunicação do ser humano,
não foram experimentados pelos professores.
todos falam, mas nem todos possuem a mesma
Felizmente, vejo aumentar o número de
condição na hora de se expressar. Quando
profissionais do ensino interessados em
trabalhava os textos em sala de aula, fazia,
pesquisar sobre a EJA com a intenção de
preliminarmente, uma preparação com os
colaborar para maior produtividade deste setor
alunos sobre o que iríamos ler, o que eles já
de ensino.
conheciam sobre o assunto, se conheciam o
autor, se já haviam lido algum texto dele,
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enfim, procurava dar condições aos alunos
A
questão
do
“erro”
atinge
para que falassem sobre o texto, antevendo,
profundamente o aluno adulto, pois há uma
pelo título sobre o que achavam que seria o
carga subjetiva em nossa sociedade que “é feio
desenvolvimento do mesmo. Dessa forma,
errar”. Dessa forma, vejo muitos alunos do
evitava o que costumo chamar de aplicar uma
EJA desistirem de estudar, convencidos pelos
“interpretação a sangue frio”, pois, sem
resultados obtidos na escola que estudar não é
preparação adequada (contextualização), não
para eles. Isso não é dito abertamente, mas o
se estará fazendo um trabalho de interpretação
aluno vai percebendo que tem algumas lacunas
e nem de construção de conhecimento e, sim,
que o impedem de prosseguir no processo
uma
ensino-aprendizagem.
avaliação
da
competência
de
interpretação.
Após
a
primeira
avaliação, é notório o número de desistentes,
Um viés importante nesta questão é a
uma turma que inicia o semestre com cerca de
forma como o professor entende este tipo de
cinquenta alunos, geralmente, ao final do
trabalho. A interpretação de um texto literário
período letivo, não chega a trinta. Durante a
pode e tem muitas formas de serem lidas.
pesquisa de campo, atualmente realizada para
Quando o autor coloca no papel sua ideia e seu
o Doutorado em Língua Portuguesa, percebi
texto chega ao leitor há todo um caminho que
que diminuiu a matrícula dos alunos da EJA.
envolve muitas informações, habilidades, nível
As turmas costumam ficar entre dezoito e vinte
de letramento, conhecimento do léxico e
e cinco alunos, no máximo, bem diferente na
estruturas sintáticas que possam levar o aluno
década de noventa quando fiz a Pesquisa para
a ter uma empatia com o autor em seu texto ou
o Mestrado.
não.
Uma das causas que observei está na
Algumas entrevistas com autores de
livros
literários
mostram
que
algumas
grande distância entre a oralidade e o texto
escrito. Quando o aluno é convidado a
interpretações de seus escritos passam distante
interpretar
um
texto,
suas
respostas,
de sua intenção inicial. Por isso a importância
geralmente, carregam as marcas da oralidade.
do professor tratar o texto com maior leveza,
Entram aqui algumas especificidades dos
sem procurar ser o “dono da verdade”, fato que
alunos jovens e adultos: embora estejam fora
tanto aborrece o aluno, que na maior parte das
da idade escolar, trazem uma bagagem de vida,
vezes quer colaborar, ter voz em sala de aula,
influências marcantes do falar de seu grupo
muitas vezes cortada pelo conceito de “certo
social. Ninguém pula etapa na construção do
ou errado” que o professor carrega consigo.
conhecimento, todos são falantes, mas nem
todos conseguem se expressar bem, tanto
oralmente como por escrito. É descabida a
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exigência de observar os padrões gramaticais
sobre
o
processo
ensino-aprendizagem,
logo no início do Ensino Fundamental,
envolvendo a construção do conhecimento,
independentemente da idade que tenha o aluno.
tendo o aluno como centro deste processo,
Criança, jovem ou adulto têm as mesmas
ainda enfrenta resistências por parte de
dificuldades de aprendizagem, o que muda é a
algumas escolas e professores.
maior vivência, no caso do adulto. Talvez, por
A questão de como é selecionado o
falta de um preparo mais específico no Curso
conteúdo programático de Língua Portuguesa
de Formação de Professores para quem irá
pode ser uma dificuldade a mais para o aluno
trabalhar com turmas da EJA, o professor
da EJA. Alguns planejamentos partem do
entenda que “cobrar” correção gramatical logo
pressuposto de que os alunos devem trazer
no início, irá ajudar seu aluno a se expressar
determinados conteúdos que são pré-requisitos
melhor. Desconsidera que o falante da língua
e, se o aluno, não recebeu aquele conteúdo ou
materna já possui uma gramática internalizada
se não teve a aprendizagem, fica com uma
para construir sua fala e nem sempre a sua
lacuna que dificultará seu desenvolvimento
lógica
naquela série. Muitas vezes, o Professor
encontra-se
dentro
dos
padrões
normativos.
percebe essa defasagem e tenta saná-la, mas se
Liliana Tolchinsky e Mabel Pipikin, em
julgar que essa demora em cumprir o programa
seu artigo ”Seis Leitores em Busca de um
poderá ser cobrada pela equipe pedagógica,
Texto”, chamam a atenção para as diferentes
acabará por deixar de lado tais dificuldades e
maneiras de se ler um texto: “Há leituras
tenderá seguir o planejamento. Acompanhar o
intensivas, minuciosas e atentas; há leituras
rendimento
distraídas, seletivas ou verticais. Há leituras
Planejamento é flexível é bastante difundido
silenciosas entre leitores silenciosos ou leitura
nas escolas, mas na prática, o que se vê, em
em voz alta enquanto os outros ficam calados.”
muitas escolas, é que o Professor que não
Esta forma de se pensar o leitor, em sua relação
cumpre o “programa” acaba sendo mal visto.
da
turma
e
dizer
que
o
com o texto, pode representar um universo de
Há muito que se pesquisar e estudar para
possibilidades diferentes de se atingir ao que
que se possa levar ao aluno da EJA uma
foi dito pelo autor. Um dos entraves que vejo
possibilidade
na aula de Língua Portuguesa, é que muitos
aprendizado da língua. Uma delas centra-se
Professores são pressionados pela Instituição
nos critérios existentes para selecionar os
onde
o
textos a serem lidos pelos alunos. Ainda com
ser
as autoras Tolchinsky e Pipikin, faz-se a
conteudistas, o movimento de renovação
reflexão de que tipo de texto deve ser oferecido
trabalham
Programa.
As
para
escolas
que
cumpram
tendem
a
metodológica em relação a um novo pensar
concreta
de
sucesso
no
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ao aluno: o mais fácil, com vocabulário sem
Como diz um compositor brasileiro em uma de
maiores dificuldades, textos literários ou
suas músicas: “Ninguém sabe tudo, ninguém
informativos? E como consequência vem a
sabe nada!”
pergunta antiga: o que é um texto literário? E
A leitura pode ter vários objetivos: obter
apontam para uma seleção com base numa
informação, distração, estudar determinado
possível apreciação e aceitação dos alunos:
assunto, entre outros. A leitura é um processo
“(...) Escolhemos livros que foram escritos
que irá preenchendo lacunas em nosso
para serem lidos, interpretados, criticados e
conhecimento, sempre. Não há verdades
sentidos, e não para ensinar a ler ou para
definitivas, todas são provisórias, então a
ensinar a compreensão da leitura (...)”.
forma
mais
adequada
para
se
manter
É conhecida a ideia de que não forma
atualizado é a leitura, seja em livros, revistas,
leitor quem não é leitor. Se não há prazer de
jornais, em sites na Internet, não importa a
ler, como passar como verdade que é um prazer
forma e, sim, o conteúdo que é oferecido.
ler? Professores que leem têm mais chances de
encantar seus alunos sobre a leitura.
O Professor precisa estar preparado para
intervir de forma positiva na dificuldade de
O aluno adulto, que já faz uma leitura de
leitura de seu aluno. Reforço o conceito de que
mundo, não consegue suportar um estudo de
a leitura é um processo e, como tal, envolve
leitura que seja descontextualizado, precisa ler
vários personagens (autor, leitor, mediador,
textos que falem de alguma coisa que tenha
outros leitores), várias ideias e diferentes
conexão com a sua experiência de vida ou que
atribuições de sentido ao texto, dependendo da
lhe aguce a curiosidade para que possa vencer
vivência e da bagagem de conhecimentos de
o cansaço e o sono e trabalhar o texto em sala
cada leitor.
de aula.
A importância dada à leitura é básica,
O professor tem que assumir seu papel
assim
como
a
promoção
de
outras
de mediador entre texto e aluno, não
competências de igual importância; falar
subestimar
vencer
(expressão adequada a cada situação de fala),
obstáculos e chegar a uma leitura mais
saber escutar (quem ouve mais tem condições
satisfatória, com uma interpretação que seja
de aprender mais), escrita (necessidade de
aceitável. Dúvidas sempre acontecerão no
colocar no papel ideias concatenadas). As
percurso
quem
questões linguísticas não se fundamentam
costuma ler com frequência, que continua seus
apenas na leitura, mas no que ela envolve de
estudos de forma regular e chega a Pós-
conhecimentos importantes na aquisição do
Graduação
saber.
sua
do
capacidade
aluno-leitor,
enfrentará
em
mesmo
algumas
barreiras.
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Irandé Antunes, uma das autoras que tem
que exercemos na sociedade. É bonito ouvir
se dedicado à pesquisa sobre a aprendizagem
falar da relevância de nossa profissão na
da leitura, enfatiza que “(...) ainda falta
construção da sociedade, permanentemente em
perceber que uma língua é muito mais do que
mudança. Mas, o que precisamos é assumir
uma gramática. Muito mais, mesmo. Toda a
algumas atitudes de forma concreta no dia a dia
história, toda a produção cultural que uma
de sala de aula.
língua carrega, extrapola os limites de sua
gramática. (...)”.
Precisamos levar em conta o papel do
aprendizado da língua na construção da
A questão apontada por Antunes é tão
identidade nacional e na formação da
simples de ser entendida e tão difícil de ser
cidadania plena. Sem condição de leitura e
colocada em prática. O que costumo ver é o
escrita não há condição de promoção de
professor utilizar o texto como pretexto para
desenvolvimento nos grupos sociais. E menor
ensinar gramática: classes gramaticais, funções
será a chance de vermos nosso país melhorar a
sintáticas, classificação de orações etc.
qualidade de vida através da tão sonhada
Algumas vezes o texto nem ao menos é
melhoria da qualidade em educação.
lido antes de se trabalhar a gramática, ou seja,
Em que momento a escola deve parar e
o texto fica como pano de fundo numa aula de
se perguntar: - Quem é o leitor que queremos
Língua Portuguesa, quando deveria ocupar um
preparar? O Planejamento de uma aula de
lugar de destaque. Uma discussão com os
Língua Portuguesa reflete a realidade do aluno
alunos sobre o texto poderia aguçar a
da EJA? O Professor desse segmento tem o
curiosidade do aluno sobre o mesmo, nesse
perfil de seus alunos? O Planejamento é
envolvimento, nessa interação aluno-texto, o
confeccionado
Professor tem uma função importante de
“imaginando” o perfil do aluno ao qual se
destacar algumas estratégias utilizadas pelo
destina? Ou o Planejamento é apenas uma
autor, falar sobre o léxico selecionado, enfim,
exigência administrativo-pedagógica?
mostrar por sua atitude frente ao texto que,
de
forma
hipotética,
Para o Professor comprometido com a
antes de se valorizá-lo como um celeiro de
aprendizagem do aluno, este aluno para o qual
fatos gramaticais, tem que se olhar a sua
planejou é real, concreto, tem dúvidas,
tessitura.
muito
desconhecimentos, mas possui a matéria-
importante para que se possa dimensionar o
prima para ser trabalhado. É necessário que a
alcance da mensagem do texto.
escola tenha a consciência que não formará
A
contextualização
é
Nós, professores de Língua Portuguesa,
leitor sem a soma perfeita de livro+texto+leitor
temos que nos dar conta da função importante
e que o Professor detém conhecimento sobre as
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estratégias de leitura que possibilitarão seu
a possibilidade de ler e tirar suas próprias
aluno a desenvolver o processo da aquisição da
conclusões. Isto dá ao ser humano o que
leitura com interpretação.
deveria ser um direito respeitado por todos:
ao
enfoque
dos
textos
construir e definir suas ideias, reforçando-as
quando
inseridos
nos
livros
através de aquisição de conhecimento onde
didáticos, os alunos do EJA sentem-se
quiser, não apenas no livro didático da escola,
“desprotegidos”, o seu encaixe numa unidade
mas no jornal, na revista, no mural, no outdor,
que, por exemplo, pretenda trabalhar os
nos cartazes da rua, enfim, como ensinou Paulo
Voltando
literários,
pronomes pessoais, dependendo da ótica do
autor, poderá minimizar toda a beleza e
variadas possibilidades deste texto num
Freire (citação de memória): “Ninguém é
analfabeto oral e antes de ingressar na escola,
o sujeito já faz a leitura do mundo”.
“armazém” onde se possa comprar os
pronomes pessoais. Somente.
A postura de um professor deve ser antes
de tudo, reflexiva. Não se pode imaginar
Não sou contra o livro didático, pelo
depois de tantas pesquisas levando em
contrário, há coleções imperdíveis, que os
consideração a prática e a teoria que um
alunos gostam de trabalhar, entretanto o apelo
professor do século XXI deixe de refletir sobre
que faço é sobre a forma de utilizá-los. Não
o porquê de suas ações em sala de aula.
podem ser “os senhores” da aula. Pedir para o
Precisa-se de uma boa base teórica para
aluno abrir o livro na página tal, ler o texto e
desenvolverem-se as teorias que envolvem a
responder às perguntas de interpretação e
Língua, suas normas e suas regras. Mas não há
depois fazer os exercícios sobre o vocabulário
e, finalmente, trabalhar com os exercícios
como deixar de lado outro aspecto, talvez mais
importante, que é a língua em uso.
gramaticais empobrece demais a aula de
Penso que a boa interação entre texto-
Língua Portuguesa e o aluno fica na impressão
leitor será feita por um Professor-mediador que
que aula de português é assim mesmo: “chata”.
tenha
Ler e interpretar representa um objetivo
conhecimentos
Psicolinguística,
da
advindos
da
Linguística,
da
a ser alcançado por todos. Na maioria das
Sociolinguística, da Pedagogia, da Sociologia
entrevistas, se não na totalidade das realizadas
e da Psicopedagogia Cognitiva, entre outras
pelos canais que têm programação educativa,
áreas do conhecimento.
todas as vezes que vejo adultos analfabetos que
Foram tantos anos de trabalho com
voltam à escola para aprender a ler, a resposta
alunos jovens e adultos por escolha, não por
é unânime: sentem-se melhor porque estão
acaso, pois ninguém se fixa num determinado
agora aprendendo algo que é muito importante:
segmento de ensino se não for por total
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afinidade com esse grupamento. Via em meus
mim como a verdade que vivi em salas de aula
alunos o olhar da esperança em poder aprender
da EJA. Nesta comunicação, há alguns
a falar, ler e escrever melhor, eles sentiam que
parágrafos falei sobre a questão do Professor e
eu
o cumprimento do Planejamento, mas:
acreditava
neles,
que
torcia
pelo
crescimento e sucesso deles. Acho que foi este
o diferencial que me fez, em tantos anos nunca
desistir deles, nunca. Uma das lembranças
mais marcantes destes alunos, foi de uma
turma de alfabetização de adultos que estava
sem
Professor.
Eu
estava
em
função
pedagógica, mas resolvi assumir a turma. Foi
Tão importante quanto o cuidado
para cumprir esse programa é a postura
que pode ser adotada na abordagem de
suas questões (...). O Professor que está
em sala de aula é também ‘ator’
participante de sua própria vida, da vida
de outros falantes, de outros atores do
espetáculo verbal!
uma das turmas que tive mais retorno em tudo
que levava para a aula. Ao final do semestre,
fui surpreendida com uma das minhas alunas
escolhida para representar o nosso Núcleo de
EJA/Jacarepaguá/RJ, como a aluna mais idosa
a terminar, com aproveitamento, a turma de
Alfabetização.
oitenta
ensino que use a aula como um texte de
“competência de interpretação” ao invés de
incluí-lo numa aula que busque a “construção
do conhecimento” é um dos grandes erros que
os professores tem cometido neste segmento.
A alegria de um aluno que entra com
quase
Descartar o aluno da EJA através de um
anos
numa
turma
de
Alfabetização e obtém sucesso, deixa em nós
Alterar esta perspectiva seria o primeiro passo
na tentativa de melhorar os resultados na
Educação de Jovens e Adultos.
uma marca que jamais será apagada, a função
primordial do Professor é exatamente esta,
possibilitar que nossos alunos alcancem um
Referências
lugar melhor no grupo social.
ANTUNES, Irandé. Aula de Português:
Conclusão
Finalizo com um fragmento de Irandé
Antunes (2012), falando sobre “As armadilhas
encontro &interação/Irandé Antunes.-São
Paulo: Parábola Editorial, 2003-(Série
Aula;1).
da rotina da escolarização dos conteúdos” e
_______________. Língua, texto e ensino:
com uma reflexão que tem motivado minhas
outra escola possível/ Irandé Antunes.-
pesquisas e atuação docente. Muito do que
São Paulo: Parábola Editorial, 2009-
Antunes coloca em seus livros repercute em
(Estratégias de Ensino;10).
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_______________.O território das palavras.-
TOLCHINSKY, Liliana e PIPKIN, Mabel.
São Paulo: Parábola Editorial, 2012-
Seis leitores em busca de um texto. In
(Estratégias de Ensino;28).
Compreensão de Leitura – A Língua como
HENRIQUES, Claudio Cezar. Léxico e
Semântica: estudos produtivos sobre
procedimento.-Porto
Alegre:
Artmed,
1995.
palavra e significação/Claudio Cezar
Henriques.- Rio de Janeiro: Elsevier,
2011. Il.-(Português na Prática)
Ler e escrever; compromisso de todas as
áreas/organizado por Iara Conceição
Bittencourt Neves... [et al.]-9.ed.-Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2011.
Como Citar: MACHADO, Terezinha.
Competência de interpretação x Construção
do conhecimento: uma análise sobre o papel
do professor e o processo de interação com os
alunos da educação de jovens e adultos (EJA)
no Rio de Janeiro. In: Revista Digital
Simonsen. Rio de Janeiro, n.1, Dez. 2014.
Disponível
em:
<www.simonsen.br/revistasimonsen>
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Competência de interpretação x construção do conhecimento