Transcrição do discurso do Ministro Edson Santos Em primeiro lugar, boa noite a todos os presentes, à direção da Universidade SUAM, sua Reitoria, suas Subs‐reitorias, funcionários e funcionárias, alunos e alunas, todos os presentes aqui, quero cumprimentar e dizer que é uma satisfação estar aqui com os senhores e com as senhoras, quero cumprimentar um companheiro meu de vida parlamentar Vereador Jorginho, aqui presente, quero cumprimentar a Presidente da Associação de Moradores do Horto, Emília Santos, aqui presente, prestigiando aqui esse evento. Eu estava conversando com a Professora Angélica e com o Eloi sobre o que tratar aqui, como a gente dialogar sobre esse tema da igualdade racial no século XXI. O que isso significa para todos nós, na medida em que diante da correria do nosso dia‐a‐dia, de viagem para lá, viagem para cá, a gente não teve tempo de preparar uma intervenção com base na sistematização da nossa experiência enquanto militante político. Enquanto hoje, ministro da Igualdade, a gente não teve tempo para sistematizar uma palestra para vocês com dados retirados do trabalho que a gente desenvolve no nosso dia‐a‐dia. Mas patente, para a gente é a necessidade de o país tratar dessa questão. O Brasil foi um país doente durante muito tempo e um doente que não queria se tratar. O Brasil era vendido e apresentado ao mundo como um país da democracia racial, um país que tinha resolvido o problema das relações raciais no mundo, aonde, todo dia a gente tinha notícia de ações ou de estados que discriminavam a pessoa por sua raça, por opção religiosa, por nacionalidade, e o Brasil era apresentado como algo fora desse contexto, mas quem vinha ao Brasil via que não havia igualdade. Teve até a posse do Presidente Jânio Quadros, onde o embaixador da Alemanha quando se falava do ambiente pacífico em nosso país aonde negros e brancos conviviam em igualdade, ele disse: Pois é, mas nesse salão eu não estou vendo nenhum negro convidado para a posse do presidente. Os únicos negros que aqui vejo são os garçons que estão nos servindo. Eram perguntas que ficavam sem resposta e as pessoas não queriam tratar disso. E o pior doente é aquele que não tem consciência de sua doença, porque não tem consciência que padece de uma determinada doença, seja dependência química, ou qualquer outra coisa, é impossível tratar. O primeiro passo para a cura é admitir que está doente, e o Brasil não admitia isso. Era o país da democracia racial, quando o histórico do Brasil é efetivamente um histórico onde o negro foi colocado em uma situação de exclusão e de invisibilidade ao longo da nossa história. Nós tivemos a abolição da escravidão que não foi um ato como alguns dizem uma farsa. E nem um ato de bondade da Princesa Isabel, que acordou num determinado dia, pegou uma caneta e assinou a Lei áurea. A Lei Áurea foi fruto de uma luta, a primeira campanha civilista do nosso país. Onde o país se dividiu, o país discutiu, o país debateu, o congresso nacional debateu a abolição da escravidão no nosso país. Grandes mobilizações ocorreram no Brasil por conta da luta pelo fim da escravidão. A Lei Áurea foi apresentada e ficou 10 dias no Congresso Nacional sendo debatida, com posições favoráveis e posições contrárias, e ao final foi aprovada. O Congresso funcionava ali na Praça XV. O Congresso estava cercado de populares, que ao obterem informações da aprovação da lei, jogavam flores sobre os parlamentares. Imagine, hoje, eu sou deputado federal, em nível de votar numa lei e receber flores e abraços da população comovida com aquela decisão tomada pelos nossos congressistas. Mas essa luta pelo fim da escravidão vem de muito tempo, com quilombos, com revoltadas como a cabanagem, como a Revolução dos Alfaiates na Bahia, a Revolta dos Malês, também na Bahia, que foram lutas que eu diria que não obtiveram vitórias, mas que acumularam no processo de contestação ao sistema escravista que caracterizava o nosso país. E no período da abolição se colocavam os abolicionistas Machado de Cais, que no mesmo passo que faríamos a abolição, nós faríamos uma reforma agrária, porque o Brasil era um país rural, um país agrário, para a pessoa viver ela teria que ter um pedaço de terra para trabalhar senão seria marginalizado pelas atividades econômicas em nosso país. Pois bem, foi feita a abolição da escravidão e não houve as medidas complementares que eram exatamente terra para que o ex‐escravo pudesse se manter e sustentar sua família. Ao lado disso, também não foram propiciadas políticas de educação que visassem atender ao escravo e aos seus filhos e isso evidentemente gerou um quadro de desigualdade histórica no Brasil. Onde a gente vê que a nossa pirâmide social vem se colorindo, na medida que vai se aproximando da sua base e os problemas sociais vividos em nosso país atingem principalmente a população negra e pobre do nosso Brasil. Mas o Brasil é um país que ele decide as coisas não com rupturas, mas com acúmulos, acúmulos, até que se faz a transição para uma outra situação, e assim foi a questão da temática racial. O Brasil se colocava como país da democracia racial, um país miscigenado e que, portanto, não caberiam políticas diferenciadas para a população negra. Isso foi contestado por pequenos segmentos, principalmente, a partir da década de 30 e 40 veio amadurecendo, na década de 70 ganha relevo a luta das entidades do movimento negro e combate ao mito da democracia racial, até que na década de 80 é votada uma lei pequena, mas que dizia que o dia 20 de novembro era o Dia Nacional da Consciência Negra, início da década de 80, que é o dia 20 de novembro, que foi colocado em contra posição ao dia 13 de maio que é uma data importante. Hoje, a gente tem que dar o devido relevo a cada momento vivido em nosso país, a cada data histórica no nosso país, mas que era a data que consagrava a história do mito da democracia racial e foi com base na luta dos movimentos sociais, na luta dos movimentos negros, que o 20 se consagra, hoje inclusive o Rio de Janeiro nós temos feriado nessa data, começou no Município do Rio de Janeiro, e, hoje, nós temos feriado estadual e futuramente nós teremos um feriado nacional para marcar a presença do negro na sociedade brasileira. Alguns contestam isso, dizendo que isso é necessário, dizendo que isso é racializar as relações no nosso país. Mas o que dizer, por exemplo, sobre a comemoração do centenário da imigração japonesa, onde a gente viu que as tradições são mantidas, para as crianças que têm referência em sua origem, na origem do seu povo, né? No Japão, e que aqui chegou com benefícios do estado. A imigração japonesa, assim como a italiana e a alemã que se concentra no Sul do Brasil, recebeu terra. Olha, venham para o Brasil que vocês receberão terra para se fixar e se manter. E efetivamente isso aconteceu, isso é, eu acho que é algo positivo vide, hoje a situação socioeconômica desse segmento no Brasil. Em sua grande maioria, há uma expressão grande de figuras oriundas desses segmentos ocupando funções de destaque em empresas ou setores públicos e eu acho que isso foi importante. Pena que não foi feito para os negros, a mesma política voltada para a população negra, que gerou esse quadro de desigualdade. Mas eu estava falando na década de 80, no Dia Nacional da Consciência Negra, temos feriado com essa data aqui no Rio de Janeiro, mas faltava o Estado assumir as condições desiguais nas relações raciais no Brasil. Isso vem amadurecendo, cria‐se uma Instituição, a Fundação Cultural Palmares, ainda no governo Itamar Franco, se consolida, hoje é um órgão do Ministério da Cultura, que atua no âmbito da defesa e do estimulo às manifestações culturais da população negra no Brasil. Mas ainda faltava o Estado assumir a questão da desigualdade, porque fazer política racial não é só fazer política cultural. Fazer política de promoção da igualdade racial é fazer política transversal e que contamine todas as esferas de governo. Então, com base nisso, teve inclusive uma conferência em Durban, em 2001, em que o Brasil comprometeu‐se com a adoção de políticas de promoção da igualdade racial. Conferência que aconteceu em Durban, na África, conferência da ONU, conferência internacional, contra toda forma de discriminação, de racismo, de xenofobia e intolerância e o Brasil foi signatário do documento oriundo dessa conferência, que orientava aos estados a construírem políticas de promoção de igualdade racial. E em 2003, o presidente Lula logo que assume cria a Secretária de Políticas de Igualdade Racial. Aí sim, o Estado não só assume a desigualdade, mas o Estado assume a sua responsabilidade com a adoção de mecanismos de políticas públicas que visem à promoção da igualdade, por conseguinte o combate a desigualdades no nosso país. Esse, na verdade, é o órgão que eu dirijo por delegação do Presidente da República. E qual é a característica desse órgão? Esse órgão atua transversalmente, construindo e coordenando políticas de promoção de igualdade no âmbito do governo, seja no Ministério de Trabalho, Saúde, Ministério da Educação, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Ciência e Tecnologia. Enfim, em cada local que você for em nível da atuação do governo e de políticas públicas, a questão das políticas de promoção de igualdade racial vão estar presentes. Porque as desigualdades se manifestam de diferentes formas na sociedade brasileira. Eu vou dar um exemplo: no âmbito do Ministério da Educação, nós temos a lei 10.639, que trata da revisão historiográfica do Brasil, inserindo nele o papel do negro na formação do Estado brasileiro e a história da África. Isso é fundamental não só para o nosso enriquecimento cultural, mas para o resgate e a elevação da auto‐estima do nosso povo. Nosso povo não tem que ter vergonha de ser o que é e muito do que ocorre em relação a preconceito é oriundo da ignorância das pessoas por não conhecerem a história, não conhecerem, inclusive, que o nosso vocabulário, o nosso português, que é riquíssimo, tem uma grande contribuição das populações africanas que para cá vieram. E não só isso. No âmbito da nossa cultura, da nossa diversidade religiosa, no âmbito das lutas desenvolvidas no Brasil, não só de zumbi, não só de João Cândido, e tantos outras heróis de nosso povo. As lutas desenvolvidas no Brasil tiveram uma contribuição expressiva da população negra. Então, é fundamental dar visibilidade a isso, para que a criança negra saiba, e para que a criança não negra também saiba. Que a lei 10.639 não é uma lei para a escola pública, como muitos pensam. A lei 10.639 é uma lei para o sistema de ensino no Brasil, ou seja, a escola pública e particular tem que adotar essa disciplina. E vai ser fundamental para a gente ter um homem brasileiro despido de preconceito na medida em que o conhecimento sobre a nossa origem, da nossa população, lhe seja facultado. Estou falando na lei 10.639 no âmbito da Educação. No âmbito da Saúde, nós temos uma doença que atinge a população negra no mundo: a anemia falciforme. Então, inclusive, nós da SEPPIR estamos desenvolvendo junto com o Ministério da Saúde uma campanha educativa à população e aos órgãos públicos alertando para a existência da anemia falciforme, para a necessidade da criança assim que nasça passe pelo teste do pezinho, que é um teste específico. Para que se detecte na origem, a existência ou não dessa doença, para que isso seja tratado a tempo. Porque se não for tratado a tempo, leva o cidadão à morte. E é inevitável isso. A questão de cardiopatia, que, principalmente, para as mulheres, é fundamental ter‐se um olhar diferenciado para a mulher negra, principalmente aquela no período de gestação. Na medida em que a nossa tendência à pressão arterial alta é uma característica muito forte em nosso povo. Então não tem que tratar os desiguais como iguais senão estaríamos cometendo grandes injustiças. Então, esse olhar diferenciado para o segmento negro no Brasil, seja no âmbito da educação, da saúde, é fundamental. Mas gente, eu estava pensando, nós estamos em 2008. Se eu fosse convidado para falar desse tema há 20 anos atrás não teria espaço para tratar disso. Não teria espaço para tratar desse tema da desigualdade racial. Hoje, ainda existem manifestações contrárias, mas essas manifestações, no meu entendimento, são minoritárias na sociedade brasileira, hoje, são minoritárias. Veja como o Brasil amadureceu, vejamos como é bom o ambiente de democracia, que nos faz trocar idéias e com isso ter oportunidade de enriquecer o nosso conhecimento, é essa questão que eu estava pensando, se alguns anos atrás eu fosse convidado, não conseguiria nem começar a falar é fruto do amadurecimento da nossa sociedade. Mas vejam vocês, a abolição da escravidão se deu ao final do século XIX, nós passamos todo o século XX, praticamente, sem tratar disso. No século XXI, eu coloco que esse é o nosso grande desafio. Eu não trouxe aqui os indicadores preparados para vocês, mas os indicadores que nós temos, produto de pesquisas realizadas pelo IBGE, pelo Ipea, colocam que os indicadores da população negra são sempre inferiores ao das populações não negras. Se formos pegar taxa de evasão escolar, a criança negra sai da escola, ela tem um tempo de permanência na escola menor do que o das crianças não negras. Se formos pegar no ambiente de trabalho, as diferenças salariais do homem e das mulheres negras são sempre inferiores ao dos não negros. Se formos buscar a presença dentro de universidades, e essa tendência vem diminuindo, entrada e permanência do jovem negros e negras, os indicadores ainda são muito inferiores aos dos não negros. Se formos pegar em funções qualificadas, de gerências e direção de empresas, quanto mais qualificado é o ambiente de trabalho, maiores são as desigualdades. Essa é que é a realidade do Brasil. Daí, a gente ter, em nível de Estado, primeiro a questão da desigualdade se combate com educação, para todos, de forma universal, e há um esforço do governo federal no sentido da melhoria da qualidade da educação básica do ensino médio e do ensino universitário. A SUAM mesmo passa pelos testes do MEC, que dão nota paras os cursos universitários. Hoje, já há no MEC uma preocupação, que é fundamental, que é também medir o nível do ensino fundamental, que é por onde nós ingressamos no ambiente de ensino. E se entra mal, não é nem preciso dizer que vai sair mal. Se entra mal, sai rápido, na verdade. Então, há uma preocupação do governo com a melhoria da qualidade da educação até porque esse é um grande desafio que o Brasil tem no sentido de ser um país que tenha o nível de crescimento econômico, e que esse nível de crescimento econômico se mantenha ao longo do tempo. Para vocês terem uma idéia, hoje, com o crescimento de investimento na área de construção civil, no setor petrolífero também, há carência de quadros qualificados para atuar nesses segmentos. Hoje, eu estava conversando com um companheiro da área dos complexos petroquímicos. Até para ser o motorista de uma refinaria de petróleo, tem que ser treinado e qualificado. Até para ser o motorista. Então não basta saber dirigir. Então, hoje, não basta querer trabalhar. Tem que saber trabalhar. Tem que estar qualificado para o trabalho, porque senão, não consegue. Então, esse é um desafio geral que temos no Brasil. O Estado tem que dar mais para quem tem menos. Se o negro tem uma condição menor de acesso ao ambiente de universidade, de escolas técnicas, nós, enquanto estado, temos que oferecer mais condições para que o negro, o jovem negro, tenha oportunidades. Estou falando em relação ao negro, mas se tivermos outros segmentos, será a mesma coisa. O estado não pode tratar os desiguais enquanto iguais, porque nós estaremos cometendo uma grande injustiça. É a mesma coisa que você ter um copo com um quarto d’água e um copo pela metade. Se você colocar meio copo em cada um, você estará mantendo a desigualdade de volume, de líquido dentro desse copo. Então, é preciso ter políticas diferenciadas, é preciso ter um olhar diferenciado para a população negra. E qual é essa questão? Que inclusive é objeto de polêmica hoje no Brasil. Um, é a política de cotas. Cotas nas universidades públicas. As universidades públicas têm que ser universidades públicas. Todos aqui, de alguma forma, pagam do seu imposto a manutenção da UFRJ ou da UFF enquanto universidade. Nós garantimos com nosso imposto, que vai para o Orçamento Geral da União e depois retorna à universidade para a sua manutenção, a não ser a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que é mantida pelo Estado. Então, ela não pode ser apropriada por determinado segmento e essa é a grande polêmica de costas nas universidades. E aí, eu entro em algumas questões que eram colocadas na adoção das políticas de cotas. Primeiro, que ia rebaixar o nível das universidades. Agora, a gente teve formados os alunos na UnB, na Universidade de Brasília, e na UERJ, que entraram em 2003, com cinco anos já tem turma formada. Na UnB, já foi feito um estudo, qual é o resultado do estudo a grosso modo? Os alunos de cota, qual foi o grau de evasão? 1.1%. Qual o grau de evasão dos cursos nas universidades públicas de uma forma geral? Qual é a média? 20% a 30%. Então, vocês peguem os alunos cotistas: 1.1%. Média no ensino universitário nos cursos de Ciências Humanas e Ciências Biomédicas a média desses alunos foi acima da média da universidade. Só em Ciências Exatas, por motivos óbvios, por falta de base no ensino fundamental, é que o rendimento ficou um pouco abaixo da média. Então isso desmonta aquele argumento, de que não era a universidade que não estava preparada para os alunos, os alunos não estavam preparados para entrar na universidade. Está desmontado isso. E eu não canso de dar um exemplo da Ministra, porque ela contou no ambiente público e não fez questão de esconder e ela conta isso sempre. É a Ministra Nilcéia, Ministra da Secretaria de Mulheres. Ela era reitora da UERJ, quando houve o debate de cotas, então a universidade efetivamente se dividiu entre aqueles que queriam cotas e aqueles que não queriam. E gente até progressista, democrata, que mais corporativamente a universidade não poderia ser apropriada por esse segmento, a partir de uma lei que forçava a universidade a adotar a política de cotas. Então houve aquele debate. Ela estava na dúvida. Quando ela entrou no elevador da universidade tinha duas alunas de direito conversando. Aí, olha o papo das meninas: “Agora a gente não pode deixar nem deixar nossa bolsa na sala de aula, que essa gentinha vai entrar aqui e acabou o nosso sossego.” Ela falou: Edson, uma universidade pública tem que ter cotas, porque uma universidade pública não pode formar jovens com essa concepção de mundo. E ela foi convencida e a UERJ hoje tem cotas e o curso de medicina da UERJ, que é um curso de excelência, é o melhor curso do Brasil, com alunos cotistas lá dentro. Eu acho que basta ter vontade política de mexer com privilégios de corporações no Brasil, para a gente ter um resultado muito bom para toda a sociedade, porque cota não é bom só para o pobre e o negro que entram na universidade. Cota é bom para todo mundo. Porque as pessoas vão interagir e vão conhecer efetivamente que país é esse, que Estado do Rio de Janeiro é esse, no qual o jovem está se preparando para ser um advogado, ser um engenheiro, médico e não pode ser um profissional que não goste do povo, ou que não tenha nenhuma relação com o povo mais pobre desse país. Então, esse é um elemento importante na nossa política. Outra é a questão do ProUni, eu sei que a Universidade SUAM tem historicamente oferecido bolsas, principalmente, para a juventude aqui desse entorno. Mas, qual é a diferença? Eu acho que a Educação é uma responsabilidade do Estado. A parceria com o setor privado, a iniciativa privada atuando é importante? É. Mas ao Estado cabe a responsabilidade de oferecer as condições de educação para o conjunto da população. Então, o ProUni o que que é? É um incentivo fiscal para que as escolas particulares, as universidades particulares, recebam jovens pobres, jovens negros, em seu interior oferecendo‐lhes os cursos que esses jovens não teriam condição de ter acesso se tivessem que pagar mensalmente o custo desses cursos. Então, isso é uma política pública, nossa, que está implantada e que efetivamente tem oferecido resultados para a formação da nossa juventude. Então, o que vai decorrer daí? O que vai decorrer? Então, se você tem pessoas qualificadas, quem estuda aqui na SUAM está estudando aqui pra quê? Ninguém sabe? Você sabe aí de camisa branca? Se formar pra quê? Fala alto, rapaz. Opa, ele falou que está se formando para trabalhar. Mas é isso mesmo. Se formar, estudar, é um investimento. Muitos aqui trabalham, já tem família etc, mas se sacrificam porque não é só o pagar, mas é o sacrifício de sair do trabalho e vir para a universidade. É um investimento que a gente tá fazendo no nosso futuro, no futuro da nossa família. Qual o problema que vai se colocar? Nós estamos formando nesse final de ano. São 50.000, Eloi? São 50.000 jovens do ProUni vão sair da universidade, desses 45% são negros. Olha aí o que está colocado. Qual a evolução dessa discussão? Mercado de trabalho. E aí, aquela história que precisa‐se de pessoa de boa aparência para trabalhar como engenheiro num determinado local. Vai criar problema. Vai ter problema. As empresas, não é o departamento de recursos humanos, não. Porque o departamento de recursos humanos executa aquilo o que o presidente, o senhor daquela empresa determina. Então, as empresas têm que se preparar, têm que mudar sua concepção, porque não só de cor da pele, do esteriótipo da pessoa, mas também da origem. Também tem aquela história: Você mora aonde? Moro ali em Bonsucesso. Mas em que lugar de Bonsucesso? Moro ali no Morro do Alemão. Pô, cara, a vaga já foi, não tem vaga pra você. Isso tem que acabar, porque o Estado está colocando muita gente no mercado de trabalho e se o mercado de trabalho não absorver esse jovem, o que teremos? Nós teremos um problema social grave e político. Grave. Porque uma coisa é negar a quem não enxerga. Uma pessoa que não tem clareza do Brasil, do seu espaço e dos seus direitos. Outra coisa é dizer que você não pode trabalhar em determinado local porque você mora no Morro do Alemão ou porque você é negro. E isso diante de uma massa de pessoas que estão sendo formadas e qualificadas para o mercado de trabalho. Olha, o Brasil só com filho de elite não resolve o seu problema. Se só investir em quem já tem condição, em quem estuda no Santo Inácio etc. Não é discriminar, mas tem que abrir espaço para outras pessoas. O Estado brasileiro é muito grande. Os desafios do nosso país são enormes, a segunda maior obra do mundo, obra civil, é o complexo petroquímico de Itaboraí e falta gente para trabalhar na sua implantação e vai faltar gente para trabalhar no complexo. Nós tivemos também o complexo siderúrgico da Tysen Group, sabe quantas pessoas vieram da China, estão aqui da China para trabalhar no complexo Petroquímico? 300 funcionários. Por quê? E lá, eu não estou acompanhando mais, mas estão treinando os jovens nossos aqui e também na Alemanha para trabalhar naquela siderúrgica. Então, gente, quando eu falo da questão da promoção da igualdade racial mesclada com a questão do desafio econômico do Brasil e com a questão social. Não vamos tratar a questão racial dissociada desse contexto do Brasil. Não é por piedade, nada disso. Há uma necessidade histórica de o Brasil mudar. De o Brasil ser mais democrático no âmbito da oportunidade para os nossos jovens. Ou nós vamos nos contentar em ser campeões de indicadores de morte de jovens entre 16 e 24 anos. E que jovens são esses? São negros. São agentes e vítimas de violência. Em cidades como o Rio de Janeiro. Agora mesmo, que nós estamos conversando, deve estar morrendo um. E não é só violência policial, que a gente acaba falando, é morte entre nós mesmos, entre negros e negros. Em bandos, em gangues, que por falta de oportunidade em comunidades como as nossas, a juventude acaba sendo capturada, né? Pelas forças do narcotráfico, têm uma vida muito efêmera, entra com 16 e com 24 tá morto. Quantas meninas, inclusive, de comunidades, hoje, são mães solteiras. Aqui na SUAM vocês devem ter esses indicadores. Mãe solteira? O pai é falecido ou pai tá preso. Então, nós não podemos conviver, né? Não podemos querer ter paz num mundo com essa característica. Numa cidade com a característica da cidade do Rio de Janeiro. Então é por isso que eu agradeço inclusive esse convite, que foi feito para falar aqui na SUAM que está localizada num espaço de grande vulnerabilidade social no Rio de Janeiro. Eu sei que a SUAM absorve aí um bom número de jovens dessas comunidades. É importante esse papel que vocês têm aqui, mas nós, Estado, queremos ser parceiros disso. Queremos nos colocar na condição de parceiros. Para que a gente possa potencializar isso, que já é uma iniciativa da universidade. Enfim, eu acho que é isso o que a gente queria aqui colocar. A gente vai ter eleição agora, eu acho que tem um setor da mídia querendo criminalizar, essa é minha opinião pessoal, criminalizar os espaços dos pobres no processo eleitoral. E isso pode afastar da política, que é a boa política mesmo, que é discutir a cidade, discutir suas representações e tal. Prefeitos e vereadores, uma parcela expressiva da nossa população. Então, não tem como se há infiltração desse ou daquele. É fácil fazer uma investigação e impedir o acesso dessas pessoas ao poder legislativo. E eu termino aqui a minha intervenção fazendo esse alerta, aqui tem várias pessoas que são de comunidades: Não deixem que a mídia os afastem da política. Não deixem. Vocês têm que discutir o seu local, suas carências, suas potencialidades e quem efetivamente pode contribuir para a melhoria de suas condições de moradia. Política e eleição não é caso de polícia. Política é caso de política. E todos terão que ter liberdade para escolher seus representantes. Todos terão de ter o mesmo direito. Se tem um celular, de ir votar com seu celular. Não tem porque tratar diferente o cara que mora no Alemão e o de Ipanema. O cara que mora em Ipanema pode votar com o celular ou com o Ipod. O cara que mora no Alemão ou na Cidade de Deus, de onde eu venho, não vai pode ter o celular para se comunicar com as pessoas na hora de votar. Eu acho isso um despropósito. Acho isso uma forma muito vil de discriminação, e eu faço esse alerta aqui para os senhores e para as senhoras para que não aceitem esse tipo de postura por parte de representantes públicos do Estado do Rio de Janeiro. Muito obrigado. Espero ter correspondido um pouco às expectativas da direção da SUAM e dos senhores e das senhoras. Muito obrigado. 
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Transcrição do discurso do Ministro