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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES – UCAM
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
CURSO DE PSICOPEDAGOGIA
ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL,
SEGUNDO A FILOSOFIA MONTESSORIANA
por Cláudia Gonçalves Bigogno Soldati
orientador Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas
RIO DE JANEIRO
2004
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES – UCAM
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
CURSO DE PSICOPEDAGOGIA
ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL,
SEGUNDO A FILOSOFIA MONTESSORIANA
Monografia apresentada à coordenação do Curso de
Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicopedagogia da
Universidade Cândido Mendes, como requisito parcial
para a obtenção do grau de especialista.
RIO DE JANEIRO
2004
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço à Deus pela minha
vida, por toda força, amor e proteção que fizeram-me
chegar aqui.
Ao meu marido Antônio Paulo e meu filho
João Victor, que souberam, com muita compreensão,
suportar o meu cansaço, a minha ausência, dando-me
sempre muito apoio e amor.
Aos meus pais, Gilson e Celina, que sempre me
deram todo amor e carinho, me incentivando a nunca
desistir.
Ao orientador Nilson Guedes de Freitas, pela
dedicação e ensinamentos.
À minha amiga Maria de Fátima, que esteve
presente durante esta caminhada sempre me dando
muito apoio e carinho.
Enfim, à todos que de alguma maneira foram
responsáveis pela realização deste trabalho, que com
certeza não foi fácil, porém muito enriquecedor.
Esperando assim deixar alguma contribuição.
Muito obrigada!
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DEDICATÓRIA
Ao meu marido Antônio Paulo e ao meu filho
João Victor, que a cada dia transformam minha vida
numa bênção.
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EPÍGRAFE
“Quando falamos da liberdade da criança, não nos
referimos aos atos externos desordenados que estas,
abandonadas a si mesmas, realizariam como evasão de
uma atividade qualquer, mas damos a esta palavra
“liberdade” um sentido profundo: trata-se de libertar a
criança de obstáculos que impedem o desenvolvimento
normal da vida.”
(Maria Montessori)
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RESUMO
O Método Montessori propõe estratégias onde a educação toma um novo caminho,
buscando liberar as potencialidades humanas e não apenas voltar-se em grande parte
para a transmissão de conhecimento. A pesquisa bibliográfica foi utilizada na busca
de informações sobre o significado da liberdade nas classes de Alfabetização, no
Método Montessori de Ensino, de classe média, com o objetivo de analisar sobre
como essa liberdade atende às reais necessidades e interesses das crianças, a fim de
que o processo de alfabetização ocorra de maneira natural, sem gerar ansiedade e
respeitando a individualidade. Ao permitir que a criança desde muito pequena faça
escolhas, busque formas adequadas de expressar-se, exercite a responsabilidade com
seus objetos pessoais e coletivos, estamos dando a oportunidade de educar a vontade,
fazer escolhas e desenvolver o caráter moral. Quando esta criança tiver que fazer
uma opção por conta própria, a única coisa que vai guiá-la no momento do ato
independente, é a soma de todas as escolhas que ela teve oportunidade de viver. Por
isso o ambiente montessoriano é socializante; permite, pela liberdade, a livre escolha
de atividades, dos materiais necessários, autocrontole e autocorreção das tarefas,
ajuda mútua e colaboração espontânea, entre as crianças e com a professora quando
julgado oportuno. Se a educação continuar a percorrer os caminhos antigos, das
velhas linhas de mera transmissão de conhecimento, o problema será insolúvel. É
neste sentido que considero que Montessori trata do desenvolvimento moral e
prepara para ávida mais do que um simples método educacional.
Palavras-chave: Liberdade. Individualidade. Ambiente preparado. Independência.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................8
1-
MÉTODO MONTESSORIANO ......................................................................11
2-
MATERIAIS MONTESSORIANOS ...............................................................20
3-
A LIBERDADE NA EDUCAÇÃO MONTESSORIANA ...............................26
4-
ALFABETIZAÇÃO, SEGUNDO MONTESSORI ..........................................32
CONCLUSÃO ...........................................................................................................38
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ...........................................................................40
ANEXOS ...................................................................................................................41
ÍNDICE ......................................................................................................................43
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INTRODUÇÃO
O ritmo acelerado da vida moderna e a pressão das exigências sociais
diminuíram as horas de intimidade das famílias. Para o futuro das crianças, para a
formação de sua personalidade, é importante que sua infância não seja privada desse
íntimo contato afetivo. A atividade dos pais com a criança neste período influi
profundamente no desenvolvimento de sua personalidade. Aquilo que ela vai
aprender dependerá exclusivamente deles como educadores.
A criança possui capacidades que pais e educadores devem despertar.
De particular importância aos olhos de Maria Montessori é a necessidade de
compreender melhor as disposições e as capacidades da infância. Existem muitos
adultos que não conseguem ver na criança, um ser humano inteligente, capaz de
aprender. Ao falar da “mente absorvente da criança”, a Dra. Montessori coloca em
evidência a extraordinária facilidade que tem a criança de assimilar, quase
inconsciente, o mundo externo. Convencida de que a criança absorve os
conhecimentos do ambiente físico em que vive, ela cria um ambiente predisposto
para os pequenos com quem trabalha. Neste ponto, porém, define de imediato que “o
ambiente deve relevar a criança e não plasmá-la”. A educação não deve ser imposta à
criança. Em um ambiente favorável à aprendizagem, a criança será livre para agir e
desenvolver-se, ao longo de linhas próprias de orientação. A Dra. Montessori sentia
que, no fundo da criança, deve reinar liberdade, indispensável para um harmônico
desenvolvimento físico, mental e espiritual (MONTESSORI, 1987, p. 141).
A atual Educação Infantil dá muito pouca importância à continuidade do
processo de formação e o educador tende a fazer muito ele mesmo e deixar a criança
fazer muito pouco. Aprender a aprender é uma capacidade conquistada, que deve ser
cultivada na primeira infância, para que surja, em seguida uma pessoa inteligente e
capaz de pensar.
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A aquisição de novos conhecimentos no trabalho de teóricos modernos veio
somar-se à prática pedagógica já desenvolvida, porém, o que faz a diferença em
Montessori é sua atemporalidade.
Com o objetivo de analisar o método, iniciamos o primeiro capítulo, pois a
metodologia Montessori é para muitos desconhecida, e o “processo de alfabetização”
que é cuidado desde o Berçário (Nido), da Agrupada I, da Classe dos “4 anos...”,
passa despercebido. Entretanto cada uma destas etapas tem grande importância,
correspondem à bagagem com que a criança enche o seu “baú de conhecimentos”, e
que na época da formalização, ela arruma tudo o que colocou lá dentro: de pouco em
pouco decodifica o mundo, descobre a realidade à sua volta, nomeia objetos, atribui
qualidades, conta, enumera, aprimora seu vocabulário... É desta forma que se
constitui o processo da leitura e da escrita: do caminho das representações do mundo
que a criança faz, do real ao ortográfico. Um caminho que tem como “estrada” o
desenvolvimento natural da criança. O educador, no método Montessori é um
observador sempre pronto a guiar e dirigir, animado na intenção de manter vivo nas
crianças o entusiasmo pela aprendizagem, sem jamais interferir nos seus esforços
para aprenderem sozinhas.
A apresentação dos materiais montessorianos se faz necessária no segundo
capítulo para que haja a compreensão de que é através deste material que se produz a
concentração, porque ele contém características dignas de absorver a atenção da
criança. O material escolar deve ser adequado às suas necessidades de aprender
através do movimento, porque na verdade é do movimento que parte o trabalho
intelectual. A sala de aula Montessori é preparada funcionalmente para a criança e
lhe permite trabalhar, mover-se e desenvolver-se livremente. O próprio cômodo e
mobiliário deverão ser proporcionais ao tamanho da criança. Cada objeto no
ambiente é destinado a um uso específico e nada existe que a criança não possa ver e
tocar. O material de desenvolvimento desperta nas crianças o interesse e o desejo de
aprender, ensina a amar o trabalho pelo único prazer de aprender. Cada passo é uma
preparação para o passo seguinte e o material de desenvolvimento adequado a este
programa. Uma vez que cada criança interage com o material e reage a ele de
maneira diversa das outras crianças, cada uma deve ter liberdade de avançar segundo
sua força vital.
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Estabelecer a liberdade na educação Montessori é o que se propõe o terceiro
capítulo. Num ambiente preparado, respira-se uma atmosfera de liberdade e
autonomia. Maria Montessori acreditava que “ a mão educadora é uma mão livre” e
que a “disciplina deve ir através da liberdade” . O ambiente é estudado de propósito
para eliminar as causas de distrações e oferecer ocasiões de estímulo para um
trabalho construtivo. Ajudar a criança a construir-se é o papel dos adultos; de todos
com quem convive quer seja na escola ou em casa. Formar hábitos, construir
vínculos com o trabalho e a responsabilidade, desenvolver habilidades, ampliar a
compreensão do mundo atribuindo significado a tudo que a cerca, construindo o
conhecimento é o caminho que a criança precisa percorrer plenamente.
O estudo se completa com a análise do processo de alfabetização no Método
Montessoriano. As primeiras escritas são como desenho, palavras desenhadas... mas
têm significado. Representam a leitura do mundo e permitem a comunicação. A
escrita reflete o resultado de um processo de análise que a criança desenvolve para
perceber como a sociedade usa esses sinaizinhos, as letras, para registrar mensagens.
Depois, mais uma conquista: a leitura, que implica novamente em decodificar os tais
sinaizinhos e ainda num processo de síntese. Momentos diferentes de um processo
que a natureza humana pode acontecer em ordem direta ou inversa.
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1. O MÉTODO MONTESSORI
Maria Montessori, médica e pesquisadora italiana, observando através de
crianças com dificuldades, os resultados obtidos nas experiências de médicos e
psicólogos de fins do século XIX, desenvolveu suas próprias experiências e, chegou
à feliz conclusão de que, os resultados positivos obtidos com crianças deficientes
comprovaram que o desenvolvimento deles dependia de um bom método pedagógico
de trabalho e não apenas de tratamento clínico. Com o passar do tempo, despertou
para a seguinte realidade: “se com deficientes consegui bons resultados, aplicar essa
metodologia a crianças normais, serão muito mais surpreendentes, ainda, os
resultados que obterei.” Foi a partir daí que deu início a seu trabalho como pedagoga,
iniciando suas experiências e observações com crianças de um subúrbio romano,
filhos de operários. Surgiu, então, a 1a Casa dei Bambini, em 1906. Nessa escola,
Montessori iniciou seu trabalho com a proposta de canalizar as energias das crianças
que, ficando sós, enquanto seus pais trabalhavam, destruíam o prédio onde moravam.
Canalizar energias, criar hábitos, implantar atitudes, enfim, educar, incluindo
uma importância muito grande para o lado moral da educação, foi assim que surgiu o
Método Montessori de Ensino. As necessidades iam surgindo, dando idéias para
materiais, esses iam sendo criados com papelão, posteriormente, em madeira e foi-se
aperfeiçoando a parte material do método, com objetivos bem delineados. Um
método, não apenas uma etapa mecânica do ensino, é toda uma filosofia de trabalho
e, pode-se até, dizer, uma filosofia de vida. É assim, o Método Montessori de Ensino.
Uma filosofia com bases científicas, para o perfeito desenvolvimento do educando,
cuidando não apenas de seu desenvolvimento físico ou intelectual mas, dando grande
realce ao seu conteúdo moral, também.
A preparação do ambiente, a formação adequada de professores, o atendimento
às necessidades básicas da criança, uma avaliação constante do trabalho, são pontos
básicos do trabalho baseado em Montessori.
Através da aplicação do Método Montessori de Ensino estamos tornando
indivíduos capazes de serem úteis à sociedade em que vivem, capazes de suprirem
suas
necessidades,
tornando-se
independentes,
sensorialmente
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refinados,
observadores, bem informados e, indispensavelmente, respeitadores de si próprios,
de seu meio e de seu próximo. Serão indivíduos felizes, sem dúvida alguma.
1.1. Princípios do Método Montessori de Ensino
Montessori, revelando as leis do desenvolvimento da criança e criando uma
pedagogia para melhor atender a essas leis, traçou como princípios básicos de seu
método.
a) O amor e o respeito pela criança – podemos considerar ter sido esse o
princípio básico e originador de todos os outros, em sua metodologia.
b) Importância dos primeiros anos no desenvolvimento da personalidade –
quanto mais cedo iniciado o trabalho de auxílio ao desenvolvimento,
melhores serão os resultados obtidos.
c) A mente absorvente – a criança dispõe de uma “força psíquica” especial que
auxilia em seu desenvolvimento. Maria Montessori ressalta a capacidade da
criança de absorção de cultura, pela sua vida afetiva, motora, mental e
também sensorial. A mente absorvente inconsciente é o período criativo da
inteligência. Dele a criança nada lembrará mais tarde, mas absorve em si
todas as impressões que o ambiente lhe oferece, os costumes, os hábitos do
lugar onde vive.
d) Os períodos sensitivos –as crianças passam por períodos definidos nos quais
revelam aptidões psíquicas e possibilidades que mais tarde desaparecem. É
por isso que em certas épocas de sua vida revelam um intenso e
extraordinário interesse por certos objetos e exercícios, que mais tarde não se
encontram mais.
e) A necessidade do movimento e da atividade para o pleno desenvolvimento da
criança – não podemos impedir a movimentação natural decorrente da
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necessidade da criança em desenvolvimento intelectual. Não deve haver
separação, como havia antigamente, entre “aprender” e “movimentar-se”.
f) Fundamentos sensoriais do desenvolvimento intelectual – a criança é um
explorador nato. “Quanto mais ela tiver oportunidade de usar suas mãos na
“descoberta” do mundo, maior será seu desenvolvimento mental e mais forte
será seu caráter”. Ao aprimorarmos a percepção, favoreceremos a maior
atividade mental.
g) Ambiente – fator crucial do desenvolvimento. O ambiente preparado deve
oferecer à criança liberdade, livre escolha de atividades programadas; agindo
pessoalmente, por decisão e esforço próprios, chega à descoberta do “eu” e do
“não eu”, da causa e do efeito, da percepção do espaço e do tempo. Há a
intensificação das relações sociais e a discriminação de atitudes desejáveis,
frente a aprovação ou não do adulto.
h) Novo conceito de liberdade e disciplina – liberdade é uma conseqüência do
desenvolvimento. É o caminho que deve ser seguido para a maturação. A
disciplina nasce da concentração na atividade recompensadora e produtiva.
i) Estímulo à independência – para a criança, seu trabalho é um instrumento de
aperfeiçoamento, de desenvolvimento. Ela só poderá construir-se a si mesmo
agindo, fazendo, atuando.
j) Um novo conceito de obediência – obediência não é submissão, mas vontade
que impede a atividades benéficas à vida. É claro que isso só é possível,
quando há condições adequadas.
k) Um novo papel para a educação e para o professor – o aluno não mais
depende do professor para aprender. Ele aprende por si mesmo, através de sua
própria atividade, do material, do ambiente. O professor é o orientador, o
guia, o organizador da situação de aprendizagem.
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1.2. A Mestra
A educação é compartilhada pela mestra e pelo ambiente. A antiga mestra
“instrutora” é substituída por todo um conjunto, muito mais complexo; isto é, muitos
objetos (os meios de desenvolvimento) coexistem com a mestra e cooperam para a
educação da criança.
A diferença profunda que existe entre este método e as lições objetivas dos
métodos antigos é não constituírem “os objetos” um auxílio para a mestra que os
deverá explicar, mas são, eles próprios, “meios didáticos”.
Os objetos, assim, tornam-se “meios de desenvolvimento”.
Todavia, a mestra tem inúmeras incumbências, difíceis, por certo; sua
cooperação não deve ser excluída, mas há de ser prudente, delicada e multiforme.
Suas palavras, energia, ou severidade não são necessárias; o que importa é o atento
espírito de observação, sua visão ao servir, interferir, retirar-se, calar-se, segundo os
casos e as necessidades. Deverá adquirir uma habilidade moral que nenhum método,
anteriormente, exigira; habilidade feita de calma, de paciência, caridade e humildade.
São as virtudes, e não as palavras, a sua máxima preparação.
Se quiséssemos resumir seu dever principal, na prática, deveríamos dizer que a
mestra deve explicar o uso do material. Ela representa, antes de tudo, um traço de
união entre o material e a criança. É um dever simples, modesto, e, entretanto, bem
mais delicado que nos sistemas antigos em que o material não passava de um traço
de união destinado a facilitar a correspondência intelectual entre a “mestra”, que
transmite suas idéias, e a criança que as recebe.
Segundo o Sistema Montessori de Ensino, outra coisa ela não faz senão facilitar
à criança um trabalho ativo e contínuo, orientando-a, porque compete a esta
“escolher os objetos” e exercitar-se com eles.
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A tarefa da mestra é dupla; é necessário que ela conheça o trabalho que dela se
exige, e o papel reservado ao “material”, isto é, aos “meios de desenvolvimento”.
Será difícil uma preparação “teórica” da mestra; precisará “autoformar-se”, aprender
a observar, ser calma, paciente e humilde, conter seus próprios ímpetos; sua tarefa é
eminentemente prática; delicada sua missão. E tem mais necessidade de um
trampolim para sua alma que de um livro para sua inteligência.
Seu dever, contudo operante, poderá ser clara e facilmente enunciado: ser a
entidade que põe a criança em relação com seu reativo. Há de saber escolher o objeto
e apresentá-lo de maneira a suscitar o interesse da criança.
Convém, pois, que ela conheça perfeitamente o material, tenha-o continuamente
ao espírito, e aprenda, com exatidão, tanto a técnica da sua apresentação como a
maneira de tratar a criança a fim de poder mais eficientemente orientá-la. Ela poderá
estudar teoricamente os princípios gerais que lhe serão úteis na prática, mas é
somente com a experiência que adquirirá esta modalidade pois varia de
conformidade com os temperamentos; não se pode atrasar certas inteligências, já
suficientemente evoluídas, utilizando um material inferior à sua capacidade, o que
levaria logo ao tédio; como também, por outro lado, não se pode oferecer objetos que
a criança não pode ainda apreciar, o que poderia causar um esfriamento nos
primeiros entusiasmos infantis.
1.2.1. Conhecimento do material
Para conhecer o material, a mestra não deve contentar-se com ver, estudar pelos
livros e aprender-lhe o uso seguindo uma exposição teórica. É preciso que ela
manipule durante longo tempo; que procure constatar, experimentalmente, as
dificuldades ou interesse que cada objeto possa apresentar; esforce-se por interpretar,
embora imperfeitamente, as impressões que a criança poderá receber deles. Se,
depois, ela tiver paciência bastante a ponto de “repetir o exercício” tantas quantas
vezes que a criança o repete, então poderá calcular, por si mesma, a energia e
resistência de que é capaz uma criança numa determinada idade. Neste intuito,
poderá reunir os objetos do material em conformidade com o grau de adiamento de
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seus alunos e medir, assim, a atividade que acriança poderá desenvolver nos anos
sucessivos.
1.3. Educação dos movimentos
A criança deve ser ajudada na conquista de seus movimentos. Esses são
indispensáveis na sua maturação. Assim, como um membro parado atrofia, se todo o
corpo permanecer em repouso, atrofiará também.
Torna-se imprescindível conhecer a criança. Estudar a psicologia evolutiva faz
muito bem ao educador. Conhecer as fases do seu crescimento, é o primeiro passo
para ajudá-la.
O ambiente a ser vivenciado por ela deve ser organizado, os objetos devem estar
a seu alcance e principalmente rico de possibilidades para movimentar-se. A criança
mais evoluída será aquela cujos impulsos motores forem mais obedientes; quando
uma vontade exterior age sobre a sua, ela conseguirá dominar seu impulso.
1.3.1 . Ginástica e trabalho
É interessante estabelecer um paralelo entre os exercícios musculares que as
crianças realizam durante as horas destinadas à educação física e o exercício
muscular exigido pelos diversos “exercícios de prática” espontaneamente escolhidos
e executados por elas. Com relação a esses últimos, logo se verá tratar-se de uma
verdadeira ginástica em que se exercitam todos os músculos, em todas as partes do
corpo, no próprio ambiente em que vive a criança.
Todavia, os exercícios de vida prática não devem ser considerados apenas uma
simples ginástica muscular: eles constituem um trabalho. É o trabalho dos músculos
que se ativam sem cansar-se, porque o interesse e a variedade reanimam-se a cada
movimento.
1.3.2 . Vida Prática – o que é?
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Vida prática é um indispensável ao método. Nele podemos observar realmente se
houve ou não aprendizagem por parte do educando. Vida prática é a própria vida da
criança, seu cotidiano, sua relação com o meio – familiar ou escolar – seu quarto,
seus objetos. Se na mesa de lanche ela freqüentemente deixa derramar o suco é
porque sua movimentação não está boa. Alguma falhou na sua formação.
Se por outro lado ela age no cotidiano com segurança, equilíbrio e firmeza,
mostrará que integrou à sua vida toda a movimentação proposta por Montessori.
Dentro desse ponto de vista podemos afirmar que a vida prática é a avaliação mais
eficaz que o professor montessoriano pode efetivar.
Ela não é uma avaliação formal, quantificável, mas tem uma característica que
nenhuma avaliação apresenta. Ela se faz na vida, ela é a vida.
Não devemos confundir “exercícios de vida” com “vida prática”. Os primeiros
dizem respeito a uma série de atividades preparatórias aos movimentos mais
freqüentes do cotidiano, enquanto a vida prática é a avaliação precisa da
aprendizagem, o último momento da lição de três tempos.
1.4 . Lição dos Três Tempos
Neste sentido, julgo excelente, para crianças “normais”, a lição em três tempos
empregada por Séguin, para obter, da criança deficiente, a associação entre a imagem
e a palavra correspondente; por isso, foi adotada nas escolas montessorianas.
Primeiro tempo: exatidão da palavra e associação da percepção sensorial com o
nome. A mestra deverá, inicialmente, pronunciar os nomes e os adjetivos
necessários, sem acrescentar mais nada: ela deve pronunciar as palavras bem
separadas das outras, com voz bem clara, de maneira que os sons que compõem a
palavra sejam distintamente percebidos pela criança.
Assim, por exemplo, fazendo a criança tocar o papel liso e a lixa nos primeiros
exercícios, a mestra lhe dirá: “Este é liso!”; e “Este é áspero!”, repetindo várias vezes
a palavra, com diferentes inflexões de voz, mas sempre claramente.
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Segundo tempo: distinção do objeto correspondente ao nome. A mestra deverá
sempre obter uma prova de que a sua lição atingiu o objetivo colimado.
A primeira prova será constatar que o nome fica associado ao objeto, na
consciência da criança. É preciso, para isto, deixar transcorrer um tempo necessário;
isto é, entre a lição e a prova, ela deverá observar uns instantes de silêncio. Depois,
muito lentamente, interrogará a criança, pronunciando com clareza o único nome (ou
adjetivo) ensinado: “Qual é liso? Qual é áspero?”
A criança designará o objeto com o dedo, e a mestra saberá, então, se a
associação foi feita com acerto.
Este segundo tempo é o mais importante; é ele que encerra a verdadeira lição, a
ajuda para a memória e associação. Quando a mestra constatou que a criança
compreendeu e que ficou interessada, ela repetirá várias vezes as mesmas perguntas:
“Qual é liso?” – E... qual... é... liso?” – “Qual é áspero?”
Ao repetir várias vezes a mesma pergunta, a mestra insistirá numa palavra que,
ao fim, ficará registrada na memória da criança; e a cada repetição, a criança, que
responde indicando o objeto, repete a associação que, aos poucos, vai sendo fixada
na memória. Contudo, se amestra perceber, desde o início, que a criança não está
disposta a prestar atenção, ou se equivocar, não se empenhando em responder
acertadamente, em lugar de corrigir e insistir, deverá suspender a lição para
recomeçá-la em outro momento ou em outro dia. Pois, que adiantará corrigir? Se a
criança não consegue associar o nome com o objeto, o único meio de fazê-la
conseguir esse intento será repetir o gesto e o nome; isto é, repetir a lição. Mas, se a
criança se engana, isto significa que ela não está, no momento, disposta à associação
psíquica que se pretende provocar nela; será, então, mais conveniente deixar a lição
para outra oportunidade.
Terceiro tempo: lembrar-se do nome correspondente ao objeto. O terceiro tempo
é uma verificação rápida das lições feitas precedentemente. A mesma pergunta à
criança: “Como é isto?...” E se a criança já estiver apta para responder, dirá os nomes
ouvidos antes: “É liso”, “É áspero”.
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E como ocorre não raro que a criança não esteja bem certa da pronunciação
destas palavras, o mais das vezes novas para ela, a mestra poderá insistir e fazê-la
repetir uma ou duas vezes, exigindo uma pronúncia mais clara: “Que é isso?”... E se
a criança revela notórios defeitos de pronunciação, a mestra deverá solicitamente
anotá-los para eventuais exercícios de pronunciação.
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2. MATERIAIS MONTESSORIANOS
Montessori encarava a educação como o meio através do qual a criança
desenvolve sua personalidade até que, eventualmente, adquira maturidade e
independência (MONTESSORI, 1987, p.43). Por isso, seu material visa auxiliar as
crianças a tingirem este objetivo.
O ambiente do homem moderno é grandemente diferenciado e complexo.
Qualquer pessoa que fosse apresentada pela primeira vez ao mundo de hoje sentir-seia bastante confusa. A adaptação só é possível através da experiência, e cabe aos
adultos propiciarem à criança liberdade para realizar suas experiências a seu jeito. Ao
mesmo tempo, os adultos devem ajudá-la, na medida do possível, a explorar e
assimilar o mundo e os princípios que o fazem funcionar. Os adultos devem,
portanto, construir uma ponte entre o seu mundo e o mundo da criança. O método
Montessori constrói esta ponte na medida em que tem por objetivo fornecer à criança
ambientes especialmente projetados para atender a suas necessidades e neste
momento, o material Montessori desempenha papel fundamental. A idéia básica não
é reproduzir o mundo adulto em miniatura, e nem distorcer a realidade em um
paraíso no qual se consideram os desejos e as fantasias das crianças. Ao contrário, o
ambiente projetado por Montessori deve trazer à criança toda a realidade do mundo,
ou seja, o mundo adulto.
A fim de se conseguir isto, a preparação do ambiente deve atender a certos
requisitos básicos. Em primeiro lugar, deverá ser atraente, estética e praticamente, e
refletir o mínimo de ordem necessário ao bom funcionamento de qualquer
comunidade. As regras são válidas para todos os casos, e devem derivar não do
impulso dos adultos de imporem sua autoridade, mas de um desejo de permitir a
todos os indivíduos liberdade de ação na medida em que esta liberdade não interfira
na ação de outros. O ambiente deverá também estimular o interesse da criança em
todos os tipos de atividades, atividades que serão organizadas com o intuito de
propiciar o seu desenvolvimento, deixando-as livres para realizarem e conduzirem
estas atividades a sua maneira. O ambiente não deve objetivar apenas o
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desenvolvimento de uma função específica; deve apelar para toda a personalidade da
criança. Além disso, devem haver amplas oportunidades no sentido da criança
integrar, através de seu trabalho, as habilidades que já possuía com qualquer
conhecimento que adquira posteriormente, o que se aplica também com relação ao
comportamento. As crianças devem sentir-se confortáveis em seu ambiente. Suas
limitações bem como suas possibilidades deverão ser levadas em conta ao se
preparar este ambiente, o qual deve ser feito à sua medida, de maneira que elas
possam agir com toda a independência. Se o ambiente não for arranjado desta
maneira, as crianças estarão constantemente confrontando-se com tarefas que elas
vêem os adultos executar, mas que não podem imitar em virtude de serem muito
pequenas para lidar com os objetos envolvidos. Finalmente, o ambiente deve conter
um material construído e selecionado com o propósito de proporcionar à criança
meios de desenvolver certas experiências essenciais ao seu desenvolvimento. O
material Montessori não é puramente didático, e nem constitui-se essencialmente de
brinquedos, apesar das crianças aprenderem com ele e brincarem com ele, e o que é
mais importante, adorarem usá-lo.
O material Montessori é apenas um dos vários instrumentos pelos quais os
princípios Montessori podem ser expressos. Quando usado adequadamente, este
material serve a dois objetivos principais. Por um lado, favorece o desenvolvimento
interno da criança: especificamente, a preparação que deve preceder a estruturação
de cada função do ego. Por outro lado, ele ajuda a criança a adquirir novas
perspectivas na sua exploração do mundo objetivo. A criança toma consciência de
certas qualidades dos objetos, suas interrelações, a existência dos princípios de
diferenciação entre as categorias, seqüências organizacionais, e técnicas especiais
para o manuseio dos objetos. Ele desafia a inteligência da criança, a qual mostra-se
primeiro intrigada, e depois, completamente absorvida. O material não transmite à
criança conhecimentos prontos. Em lugar disso, ele torna possível que elas
reorganizem seu conhecimento de acordo com novos princípios, o que aumenta sua
capacidade de aprender.
O material oferecido à criança corresponde ao tipo de atividade que a interessa
especialmente em uma determinada fase, e se sua inteligência alcançou um nível tal
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que a capacite a entender a idéia envolvida. Se o material for dado, antes disso, a
criança o achará muito difícil e se depois, parecerá maçante; mas no momento certo
ele será experimentado como um desafio que pode ser vencido. O material
Montessori oferece à criança símbolos e meios pare interpretar seu mundo de um
modo mais coerente e diversificado, estimulando seu desejo de aprender, ao tornar a
aprendizagem nem frustrante, nem pesada, mas uma experiência agradável.
O material Montessori é, em geral, usado individualmente nas salas de aula, e
por isto, torna-se importante examinar se um método que enfatiza o trabalho
individual pode atender à necessidade de socialização das crianças.
Historicamente, o método Montessori tem sido chamado do individualista.
Entretanto, a educação social sempre teve lugar importante nas escolas Montessori.
Vários fatores contribuem neste tipo de educação: o papel dos professores, a
liberdade no trabalho, o ambiente preparado - encorajando o respeito aos outros e ao
meio - e a inclusão de crianças de diferentes idades no mesmo grupo.
O equilíbrio entre a liberdade individual e a necessidade do grupo é uma outra
característica especial de educação social no método Montessori. Só se pode falar em
um verdadeiro grupo quando cada um de seus membros sente-se suficientemente
livre para ser ele mesmo, ao mesmo tempo que ajusta sua própria liberdade em favor
do bem estar geral. É nesta busca de equilíbrio entre a independência pessoal e a
dependência do grupo que o comportamento social é formado. A excessiva liberdade
individual leva ao caos. A excessiva uniformidade imposta pelos adultos, leva a um
conformismo impessoal ou à rebeldia.
O ambiente criado por Montessori encoraja o desenvolvimento social porque
torna necessário o respeito aos objetos e à individualidade alheia. Sendo projetado de
acordo com as necessidades das crianças torna-se atraente e estimulante, convidandoas a participarem de todos os tipos de atividades. Existem certas restrições e a
primeira delas é que o material impõe condições ao seu uso uma vez que foi
projetado com o intuito de desenvolver o autocontrole. Uma das características deste
material é a de fazer a criança confrontar-se com determinados problemas para os
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quais ela deverá encontrar a melhor solução se quiser concluir as tarefas a que se
propuser. Esta relação de fato com os objetos propicia um ajustamento interno para
seu desenvolvimento.
De maneira análoga, o ajustamento ao meio também é necessário, pois cada
objeto no ambiente tem um lugar determinado aonde deve ser recolocado depois de
usado. Assim todos sabem onde procurá-lo, e no caso de não encontrá-lo percebem
que o objeto está sendo utilizado por alguém naquele momento. O ajustamento ao
meio é adquirido de acordo com as instruções dos professores, através da
conscientização da criança de que ela não pode viver sozinha e pela própria
arrumação do ambiente, que lhe desperta o desejo de colaborar em sua manutenção.
Estes aspectos do ajustamento são muito importantes para o processo de adaptação
que leva ao desenvolvimento social do indivíduo.
O respeito mútuo é desenvolvido pelo relacionamento entre crianças e professor.
Quando a criança vai pela primeira vez à escola, na idade de dois anos e meio a três
anos, ela quase não teve contato com outras crianças; até então lidara, quase que
exclusivamente com adultos, estabelecendo vínculos pessoais, primeiro com a mãe,
depois com o pai e então com os outros adultos nos quais confia. Os professores
ocupam um lugar importante na sala de aula, como a mãe o faz em casa, e as crianças
voltam-se naturalmente a eles para pedir ajuda. O relacionamento que se estabelece é
menos pessoal que o relacionamento mãe-filho, mas um laço positivo entre professor
e criança é a única base satisfatória para a educação.
2.1. Educação Sensorial
Através da percepção das diferentes propriedades do que o cerca, o indivíduo dá
as suas experiências um significado que é o encaminhamento para o pensamento
lógico (formam-se conceitos). Esta é a base para o conhecimento matemático que se
desenvolverá.
Verifica-se o valor da estimulação sensório-motora para o desenvolvimento
intelectual na criança.
24
2.1.1 .Os Períodos Sensíveis
Na criança de até 6 anos de idade, período chamado por Montessori, de
“mente absorvente”, a criança absorve do mundo, tudo o que existe a seu redor,
através dos sentidos que, amadurecem segundo as leis naturais do desenvolvimento
(MONTESSORI, 1987, p. 46).
É preciso não deixar passar desapercebido cada período sensível da criança para
que as conquistas sejam feitas naturalmente. Durante o crescimento, a criança passa
por vários períodos sensíveis que fazem com que a criança se relacione com o
mundo, intensamente, entusiasticamente.
O
conjunto
de
materiais
sensoriais,
também
chamados
“abstrações
materializadas”, surgiu à proporção que Montessori via as preferências e observa os
resultados positivos através dos materiais que havia colocado à disposição das
crianças. O conjunto foi selecionado visando levar a criança a distinguir o essencial
do acidental, a colocar em ordem e aclarar os conceitos adquiridos.
2.2. Estudos Sociais e Ciências na Educação Infantil
Aproveitar o grande interesse que a criança demonstra com relação ao mundo
que a cerca, é o maior objetivo do trabalho nas áreas de Estudos Sociais e Ciências.
A criança naturalmente é observadora, gosta de analisar e verificar tudo o que a cerca
portanto, uma vez mais, não desperdiçar toda essa possibilidade é um objetivo e faz
com que demos ao desenvolvimento de cada assunto referente a essas áreas, a
máxima importância.
2.2.1. Objetivos
A- desenvolver a capacidade de análise, de observação, de comparação.
B- desenvolver o espírito científico.
C- desenvolver a percepção das diferentes “épocas” da vida do Homem.
D- favorecer a percepção da relação existente entre os três Reinos da Natureza.
25
E- estimular e educando a tirar conclusões, após experimentar.
F- conscientizar a criança de seu papel no mundo, preparando-a para uma visão
Cósmica da vida (relação entre o Homem Novo e um Mundo Novo).
G- preparar a criança para a valorização produtiva (trabalho) como alavanca do
processo coletivo, bem como de fator de auto realização.
2.3. Matemática
As fortes tendências da Dra. Montessori pelas Ciências Exatas colaboraram para
que chegasse à elaboração da metodologia para a matemática, partindo de uma
posição experimental, obedecendo a técnicas e recursos científicos, para ajudar o
educando a desenvolver sua mente matemática em potencial.
O Sistema Montessori de Ensino, através das diversas atividades oferecidas a
longo prazo, leva a criança a “gostar e admirar” a matemática pois, percebe seu
conteúdo naturalmente, ao longo de suas experiências com materiais concretos que
podem ser considerados “campo de exercícios de ginástica mental” (MONTESSORI,
1987, p.54).
Através da atividade concreta com o material, do exercício ativo, adquirem-se e
aproximam-se os conhecimentos matemáticos.
Características do material:
a) elaborado cientificamente - isolam dificuldades progressivas;
b) abstrações materializadas - induzem ao raciocínio lógico e abstrato;
c) permite auto-atividade - levam ao gosto pela pesquisa;
d) é auto-corretivo - a verificação dos conceitos é imediata, favorecendo a autoconfiança necessária ao educando, na execução dos exercícios;
e) polivalente - pode ser retomado a níveis diferentes, com fins diversos.
26
3. A LIBERDADE NA EDUCAÇÃO MONTESSORIANA
No Sistema Montessori o ambiente preparado suscita na criança a eclosão de um
processo de conquista de independência, uma vez que ela encontra liberdade para
movimentar-se espontaneamente, para livre escolha de atividades, dispondo de
material autocorretivo que a livre da dependência do adulto, pondo-se à disposição
dos companheiros para dar e receber ajuda, para atuar no ambiente, dominando-o
pelas atividades de Vida-Prática.
Mas sua independência continua evoluindo quando desenvolve sua capacidade
de abstração, libertando-se do uso do material didático. E mais ainda, quando é capaz
de dominar as diferentes formas de comunicação, seja pela linguagem falada ou
escrita, pelo desenho, pelo gesto e mímica, pela música ou dança.
Se as condições educacionais o permitirem, sua independência vai num
crescendo progressivo, no campo das idéias, das opiniões, das decisões e dos
compromissos. Tudo isto é magnífico no processo de conquista da criança, tornandoa dona de si, pelo desenvolvimento de todo o seu potencial. Mas o processo de
liberação, embora inclua o tornar independente, é muito mais do que isso e só
alcança seu verdadeiro sentido e valor quando se dirige para o fim essencial que é
“ser mais”, ou seja, quando visar a plenitude, a maturidade. A própria liberdade, sem
a direção de crescimento em plenitude, pode tornar-se tirania e até escravidão.
Educar verdadeiramente é proporcionar condições de libertação, seja livrando a
vida da criança dos obstáculos que lhe impedem o desenvolvimento normal,
exteriormente, seja ajudando-a a fazer desabrochar do seu interior a riqueza potencial
que nela existe em germe. Para Maria Montessori, “educar é liberar o potencial da
criança para que ela se autodesenvolva” (MONTESSORI, 1987, p.62).
A criança tem uma grande missão que a impele: a de crescer e tornar-se homem.
Inconsciente de sua missão e de suas necessidades internas, e estando os adultos
longe da possibilidade de interpretá-las, criam-se em torno das crianças, em nossa
vida social e na escola, muitas circunstâncias erradas que impedem o expandir-se da
27
vida infantil. Remover quanto possível aquelas circunstâncias, estudando mais
profundamente as necessidades íntimas e profundas da primeira infância, para
corresponder-lhe com nossa ajuda, é libertar a criança. Este conceito implica, da
parte do adulto, maiores cuidados e mais fina observação das verdadeiras
necessidades infantis; e, como primeiro ato prático, conduz a criar o ambiente
adaptado, onde a criança possa agir em vista de uma série de fins, de interesses a
alcançar, canalizando na ordem e no aperfeiçoamento a sua irrefreável atividade.
No exercício de atividades, num ambiente preparado, a criança se libertará
paulatinamente do que a impede de crescer harmoniosamente: do egoísmo, da
ignorância por alienação do conhecer e sentir a existência do real, dos bloqueios
inconscientes, das dificuldades de ordem motora e afetiva, dos condicionamentos
pelos hábitos, tabus, preconceitos e modismos.
O contexto social do mundo de hoje é o grande desafio da libertação do homem.
Só a educação, visando a formação consciente e livre, pode fazer surgir um homem
novo para um mundo novo. Guiado pelos valores de verdade, de bem pessoal e
comunitário e, portanto, de justiça, poderão as crianças e jovens hoje e os adultos
amanhã descobrir a adequada estrutura de vida social, condigna com a natureza do
ser humano.
Como, então, ajudar a criança, em vista do homem novo? Proporcionando-lhe
condições para viver o processo de libertação, num ambiente que possibilite a
espontaneidade, a livre escolha e a ajuda mútua. As atividades programadas,
portanto, com finalidades e com dificuldades progressivas, deverão contar com
recursos de autocorreção para impedir a dependência danosa do adulto.
Suscitando-se a descoberta de valores humanos e as correspondentes atitudes
desejáveis, em vista do bem pessoal e comum, pode-se orientar a criança para uma
auto disciplina consciente, tão importante na convivência social.
A reflexão a partir de situações concretas conscientizará do sentido dinâmico de
liberdade, como escolha entre os vários meios que conduzem ao crescimento, uma
28
vez que o ser humano foi criando para atingir a maturidade de vida no
desenvolvimento do potencial para a verdade, justiça e amor. Então, o que liberta é a
vivência desses valores. E a felicidade da liberdade consiste na harmonia interior do
agir, segundo a forma que mais convém. Em classe, são limitações da liberdade
pessoal: o respeito aos direitos do outro, a necessidade de esperar a sua vez, sempre
que as circunstâncias o exigirem, o fato de que a escolha pressupõe o conhecimento,
pois para agir é preciso saber do que se trata e, ainda, o uso adequado do material
didático, pois se a criança usa o material de qualquer maneira não haverá nem
desenvolvimento, nem auto-educação.
Em classe montessoriana é evidente a manifestação de ajuda mútua, uma vez
que cada criança percebe sua necessidade de ser ajudada para crescer e a liberdade
proposta pela professora, o que favorece o relacionamento altruísta de uns para com
os outros. É a razão pela qual a classe montessoriana pode ser numerosa: cada
criança pode contar com a professora, mas , sobretudo, com o companheiro amigo.
Para que a criança entre e se mantenha em processo de normalização, cabe à
educadora propor-lhe: liberdade até de errar, com a condição de não atrapalhar os
outros. Desde a fase inicial, deve a criança sentir-se aceita, valorizada, querida,
embora perceba, pelas reações de desaprovação da professora, que seu
comportamento não foi considerado adequado. A criança terá muitas ocasiões de
confrontar suas atitudes com a de crianças disciplinadas e posteriormente chegará a
comportamentos desejáveis.
Terá a criança oportunidade de realizar atividades de livre-escolha, num
ambiente que a solicite para trabalho consciente. Pouco a pouco ela caminhará para a
concentração e interiorização. Na medida em que a criança experiência a
concentração espontânea, até que se torne um hábito, ela vai progredindo na
normalidade. É indispensável que a criança encontre-se em condições de constatar as
limitações à sua liberdade e de respeitá-las por princípio de justiça.
Pelas atividades de Vida Prática propostas no Sistema Montessori, as crianças se
acalmam, tornam-se sensíveis e orientam-se segunda a realidade, ajustando-se a ela.
29
Manifestam atitudes pacíficas e alegres. Visando o domínio de si, propõe-se à
criança situações de relacionamento consigo mesma, com os outros, com as coisas e
com Deus.
No relacionamento consigo mesma a criança desenvolverá os cuidados pessoais
de higiene e bom gosto: pentear-se, escovar os dentes, vestir-se, calçar-se, enfeitarse... No relacionamento com os outros: o cumprimentar, servir,... No relacionamento
com as coisas do ambiente interno: varrer, lavar, passar a ferro, tirar o pó, abrir e
fechar portas, lustrar metais, abotoar, usar fivelas ... ; separar sementes, transportar
líquidos de um frasco para outro; enxugar louça, arrumar vasos de flores; preparar
sucos, saladas ... No ambiente externo são atividades importantes para a criança:
varrer, cuidar de plantas, cuidar de animais...
Toda a manifestação de normalização se sintetiza no que tanto preocupa a
educação – a disciplina. Implicando numa atitude interior e exterior da criança,
Maria Montessori, além das atividades de cada dia escolar, propõe a normalização
também de forma sistemática, sugerindo o traçado de uma linha no chão da sala onde
se fazem os exercícios, tornando-a como referencial também para o sentido do
movimento. Com a criança pequena, trata-se de fomentar a evolução natural da
motricidade voluntária. Será necessário ensiná-la a coordenar todos os seus
movimentos, analisando-os e desenvolvendo-os paulatinamente. É necessário ensinar
as diferentes graduações de imobilidade que aos poucos levam até o silêncio
completo: os movimentos para levantar-se e sentar-se, para andar naturalmente,
caminhar na ponta dos pés, conservando-se com equilíbrio, na posição vertical...
Assim, o aperfeiçoamento sucessivo dos movimentos e a imobilidade devem surgir
como que automaticamente a ordens ou sugestões do ambiente. Os exercícios sobre a
Linha devem ser repetidos freqüentemente, uma vez aprendidos. Estimulam assim o
desenvolvimento harmonioso da vida da criança que, então, revela comportamento
disciplinado.
As lições de silêncio constituem estratégia de grande alcance no Sistema
Montessori. Procurando neutralizar a trepidação do mundo exterior, tão prejudicial
ao desenvolvimento equilibrado da criança,a prática do silêncio, de forma didática,
30
favorece-lhe a normalização. O professor oferece situações à classe em que sugere
esforços de atenção, concentração, intercalados de momentos relaxantes para,
posteriormente, convidar à imobilidade, à inibição voluntária. Aqui também deve
haver uma progressão e seqüência: imobilidade física, ouvir o ruído de fora, ouvir o
ruído de dentro, fixar-se numa imagem mental, numa idéia e, finalmente, abster-se
até de pensar, num crescendo de domínio pessoal.
Nessa estrutura escolar, libertação significa o processo que possibilita o
desabrochar, é um processo natural
e construtor, uma vez que se desenvolve
segundo a linha do desenvolvimento harmonioso da personalidade. É uma conquista
paulatina, no domínio entre os desvios, a ignorância, preconceitos e supervalorização
pessoal, em detrimento dos outros. Visa a maturidade do homem integral, pela
normalização física, psíquica, espiritual, tornando-o o que deve ser.
São frutos da libertação a conquista de fidelidade à própria individualidade, o
aprimoramento da capacidade de concentração espontânea que manifesta
exteriormente o desenvolvimento interior, dentro de seu próprio ritmo, a capacidade
de obedecer, resultante de escolha e não de imposição e, conseqüentemente, a
disciplina.
A virtude da obediência está estreitamente ligada à formação da vontade que se
desenvolve pela ação educativa no ambiente: realizando atividades conforme o fim
para o qual foram programadas; pela repetição de exercícios, com paciência e
perseverança; pela concentração no trabalho, com abstenção de outros movimentos
inúteis, e fixação de atenção voluntária; no respeito de uns para com o trabalho de
outros; desenvolvendo a paciência na espera do uso de material desejado, bem como
na espera do atendimento, quando a professora está ocupada; mantendo a ordem no
ambiente e cuidando da conservação dos materiais. Enfim, é fundamental que a
criança aprenda a se dominar, para poder executar uma ordem vinda de fora. Então,
ela é capaz de organizar suas capacidades de vontade e equilibrar seus impulsos e
inibições, em vista do bem.
31
A criança torna-se, em condições interiores de viver, membro independente ativo
e livre, numa sociedade em miniatura, pois que ela encontra continuamente ocasião
de praticar bom relacionamento com as coisas e com seus semelhantes.
A educação libertadora, na linguagem montessoriana, é sinônimo de
“normalização”, processo pelo qual a criança vai assumindo um crescimento
harmonioso, no desenvolvimento de seu potencial, capacitando-se para viver pessoal
e comunitariamente na verdade, justiça e paz.
32
4. ALFABETIZAÇÃO, SEGUNDO MONTESSORI
A linguagem é o recurso que o homem se utiliza para complementar seu
relacionamento com o grupo social. Já está provado que o ser humano nasce com
plena capacidade para desenvolver o processo da linguagem, adequando-se
naturalmente às imposições do meio onde tenha nascido. A capacidade física de
articulação é adequável a qualquer estrutura lingüística, bastando haver um período
de absorção que possibilite o indivíduo a tomar contato com a realidade lingüísticocultural a que pertença.
No período inicial da vida, favorecer ao máximo a perfeita absorção dos
indispensáveis para a construção lingüística é dever de todos que se envolvam no
processo de educação da criança. Dar-lhe oportunidade de ouvir claramente todos os
componentes do discurso para que em sua mente possa estruturar de modo
conveniente a língua de que vai se utilizar futuramente; oportunidade de exercitar-se
na fala, sendo ouvida com paciência, são os pontos de partida para estimular-se o
perfeito desabrochar da linguagem oral e, conseqüentemente, iniciar a organização
do raciocínio na criança.
No período de 2 a 6 anos de idade pode-se verificar a curiosidade da criança na
aquisição de vocabulário novo. Ela está atravessando o “período sensível da
linguagem” (MONTESSORI, 1987, p.74). Para atender a esse “período sensível”,
inicia-se, através da lição de três tempos, a ampliação do vocabulário infantil. Assim
como possibilidades de nomear seus amigos, os objetos da sala de aula, a criança
poderá nomear figuras geométricas, cores. É com enorme satisfação que ela se
envolve nas atividades de fixação do vocabulário novo. Ela aprende a servir-se de
termos específicos enquanto adquire pronúncia correta.
Nesta fase do desenvolvimento infantil, a fixação das percepções é duradoura, os
elementos lingüísticos captados assistematicamente, favorecerão a fala consciente.
Desde o momento em que a criança chega a uma linguagem compreensível, de modo
assistemático, inconscientemente ela inicia um processo de aperfeiçoamento através
do uso de vocabulário ligado aos materiais sensoriais, atividades de composição oral
33
(análise de gravuras, narrar parte de uma história ...). Posteriormente, lhe são
oferecidas oportunidades de trabalho que levarão a uma aquisição sistematizada ou a
uma organização do processo de aprendizagem da linguagem.
No desenvolvimento sistemático do processo da linguagem há dois trabalhos a
serem feitos. Ensinar a escrita e ensinar a leitura. Neste ponto se inicia a aquisição
consciente da linguagem.
4.1. Desenvolvimento da escrita
No sistema Montessori, a aprendizagem da escrita precede a da leitura. Para que
o processo da escrita possa desenvolver-se perfeitamente, inicia-se a preparação da
mão desde o momento em que a criança ingressa na escola montessoriana. “Quando
os exercícios sensoriais movem a mão em várias direções e com vários objetivos
imediatos, repetindo uniformemente os mesmos atos, estes exercícios preparam
indireta e inconscientemente a criança a escrever”(MONTESSORI, 1987, p.98).
4.1.1. A preparação indireta da mão
O uso adequado de materiais sensoriais, as atividades de vida prática, os
exercícios específicos de psicomotricidade, as atividades artísticas (desenho, pintura,
modelagem) são os recursos preparatórios da mão para a escrita, de forma indireta.
Exercícios como:
•
encaixes sólidos - a peça leva a um refinamento de movimentos; o encaixe
intencional favorece a segurança do traço;
•
educação do tato - desenvolvendo-se o toque, o refinamento da exploração de
superfícies, a criança terá maiores possibilidades para o toque das letras de lixa;
•
pinçar grãos - segurança e controle motor são exigidos e facilitarão o controle do
uso do lápis e sua movimentação sobre o papel.
Atividades como estas levam a mão a uma segurança ideal para o
desenvolvimento do processo da escrita.
34
4.1.2. Preparação direta da mão à escrita
Através da série de atividades que então foram oferecidas à criança, verifica-se
um despertar para o mundo exterior, uma grande curiosidade por ler e escrever para
que possa inteirar-se de tudo o que acontece a sua volta.
Para que o educando atinja as novas conquistas, é preciso que o professor analise
cuidadosamente as dificuldades que deverão ser superadas e ofereça recursos
adequados para que cada uma dessas dificuldades possa se realizar de forma
completa.
Como no Sistema Montessori de Educação, a aprendizagem da escrita precede a
da leitura, as mãos são o primeiro ponto a ser desenvolvido. Para isso, além da
preparação indireta já estabelecida pelo material sensorial e pelas atividades da vida
prática, há uma série de materiais específicos para esse fim: formas metálicas ou
encaixes de desenho; letras de lixa; letras de mural; alfabeto recortado; alfabeto
móvel.
A- Formas Metálicas ou Encaixes de Desenho: são figuras geométricas que
favorecerão o controle motor fino. O conjunto é formado por dez figuras geométricas
(figuras vazadas e figuras de encaixe).
Exercícios: a criança seleciona uma figura (vazada e encaixe), uma folha de
papel no tamanho 14cm x 14cm e dois lápis de cor. Após utilizar a forma vazada, ela
superpõe o encaixe e repete o movimento, da esquerda para a direita. Posteriormente,
o espaço que fica delimitado deve ser preenchido também da esquerda para a direita.
Com essas etapas dos exercícios anteriores, a criança conquista um movimento,
além de seguro, refinado, um traço único sobre o papel.
B- Letras de Lixa: o alfabeto em placas de 15cm x 15cm, com as letras recortadas em
lixa e colocadas sobre as placas. As vogais são em placas vermelhas e as consoantes,
em azul.
Exercícios:
35
1) toque sensorial - leva a criança a perceber a movimentação correta do símbolo ao
qual foi apresentada acompanhando a movimentação, a criança toma conhecimento
do som a ela referente. A noção de letra virá posteriormente.
2) jogos - 1º) apresentar o símbolo para a criança emitir o som;
2º) emitir o som para a criança indicar o símbolo.
C- Letras de Mural: placas de 12cm x 19cm, na cor verde, com as letras recortadas
em lixa escura ou papel esmeril.
Exercícios:
a) fixação visual dos símbolos já conhecidos;
b) dar a ordem alfabética, através dos símbolos afixados na parede, posteriormente;
c) reconhecer os símbolos iguais nas letras de lixa e nas letras murais;
d) dar a noção de letra e de alfabeto.
D- Alfabeto Recortado: letras recortadas em madeira (vogais em vermelho e
consoantes em azul).
Exercícios: através da possibilidade de contato sensorial com as letras, o material
favorece a formação ou “construção” das primeiras palavras. Esta etapa ainda não
significa que a criança esteja lendo. Apenas está descobrindo o que pode formar
coma reunião das letras conhecidas. Iniciou-se a fase da “composição” na escrita.
E- Alfabeto Móvel: as letras vêm gravadas em plaquetas de madeira e arrumadas
num pequeno móvel com divisão para cada letra.
Exercícios: composição de palavras, expressões e até pequenas frases.
Após vários dias desenvolvendo estas etapas é que acontecerá a “exploração da
leitura”. Nesta época a criança começa a compreender as palavras que formou e que
outra pessoa forme. Ela lerá as palavras criadas.
4.1.3. Aperfeiçoamento da Escrita
A esta fase estamos vendo crianças lendo e descobrindo cada vez mais as
possibilidades que têm de transformar gradativamente o que enunciam verbalmente.
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Para auxiliar o processo de fixação da escrita, isto é a ortografia, usamos os
materiais:
A- Ditado-Mudo: uma série de figuras em plaquetas de madeira, agrupadas em
móvel adequado, por dificuldades ortográficas. Com o apoio das letras do alfabeto
móvel, a criança “escreve” o que está indicado pelo desenho.
B- Lousa Pautada e Papel Pautado (pauta dupla colorida): as pautas servem de guia
para o processo de caligrafia. Posteriormente a criança se libertará dessas “guias”,
podendo utilizar a pauta comum.
Seqüência da pauta dupla, em folhetos de linguagem:
1) 1º Folheto de Linguagem
A pauta tem uma largura de 1,5cm. Visa atender o movimento da mão ainda não
suficientemente controlada, bastante largo.
2) 2º Folheto de Linguagem
A pauta tem largura de 1cm. São duas pautas. A criança já consegue fazer um
movimento menor, já há mais controle em sua mão.
C- Quadro de Letras Maiúsculas e Minúsculas: em cartelas compridas, colocam-se as
letras maiúsculas e minúsculas, relacionadas. A seqüência é em ordem alfabética e
pode ser feita na vertical ou na horizontal.
O quando é fixado à parede para que a criança possa observá-lo e consultá-lo
periodicamente.
Exercícios:
1) relacionar maiúscula e minúscula;
2) pesquisas em jornais e revistas;
3) relacionar letra cursiva e letra impressa ou script.
As letras minúsculas, também são feitas em lixa, para aumentar a percepção de
suas formas.
4.2. A Leitura
37
A partir do momento em que criança desperta para a leitura, é preciso estimulála, através de vários exercícios que são oferecidos:
A- Nomenclaturas: esses exercícios são iniciados desde muito cedo. Para que surja a
curiosidade real de ler, a criança precisa perceber que o que ela conhece de forma
concreta, pode ser representado. Inicialmente a representação é feita através do
desenho, da gravura, para posteriormente surgir a palavra.
B- Cartões de Relacionamento: os cartões são usados para a criança nomear todos os
elementos da sala de aula, desde o mobiliário, as portas e janelas, até cada material
disposto nas estantes.
C- Livros: os livros servem não apenas para fixar e desenvolver a leitura, bem como
para enriquecer o vocabulário infantil. A leitura, segundo Montessori (1987), deve
ser mental, para favorecer o surgimento do sentido.
A leitura oral só virá após o amadurecimento total do mecanismo de leitura
mental e sua interpretação pela criança.
A leitura articulada representará a linguagem transmissora do pensamento, à
distância.
D- Leitura de Comandos: os comandos podem ser simples (palavra, ação) ou
complexos (leitura de frase e execução do que está indicado).
E- Leitura de Histórias Ilustradas, Pequenos Versos, de fácil compreensão: além
destes recurso, o ambiente escolar e familiar devem estimular a observação,
verbalização e conversação, para favorecer o enriquecimento do vocabulário infantil.
Vencidas todas estas etapas, a conquista e o domínio das linguagens escrita e
oral já se fizeram. A criança venceu todos os obstáculos que o caminho lhe oferecia.
Atingiu sua meta. O processo de alfabetização está concluído.
A criança já está apta a sistematizar os conceitos de gramática necessários à sua
vida escolar.
38
CONCLUSÃO
É de grande importância o período da infância que vai do nascimento até os seis
anos de idade. Nesta fase a criança inicia seu desenvolvimento, absorvendo o mundo.
Utiliza sentidos e movimento e é na sua ação que ela descobre, experimenta e
desenvolve a inteligência, sendo comprovada a importância de um ambiente
preparado que favoreça o trabalho da criança: no observar, pesquisar, elaborar e
construir o conhecimento de forma prazerosa, para construir-se.
Neste ambiente a criança interessa-se pelas coisas como um explorador nato,
tendo oportunidade de escolher atividades, buscar materiais necessários às suas
aprendizagens, agir por decisão e esforço, sendo agente do seu processo de
desenvolvimento.
Em múltiplas atividades que um ambiente assim oferece, a criança conhece suas
possibilidades e limitações, busca meios de vencê-las sozinha, com ajuda dos
companheiros ou do educador; conquista sua segurança ao perceber que é capaz de
resolver problemas, conscientizando-se da sua valorização pessoal.
Conforme visto no Capítulo 3, é no exercício de livre escolha que a criança
desenvolve o senso crítico, enfrenta suas diferenças e as dos outros e prepara-se para
assumir responsabilidades pessoais e sociais.
Na Escola Montessori o ambiente preparado favorece, sem dúvida, um processo
de conquista da independência, uma vez que cada um é livre para movimentar-se,
para estar à disposição dos companheiros, dando e recebendo ajuda, aprendendo e
ensinando. Independência que continua evoluindo pela vida afora numa atuação de
verdadeira cidadania.
O Método Montessori propõe um plano de educação integral que dá à criança
uma visão cósmica da realidade. Proporcionando a vivência de um ambiente
preparado, com estímulos e possibilidades de atuação apropriados, a criança tem
39
oportunidade de efetivar a construção do conhecimento, não através de matérias, mas
sob um aspecto real e sistêmico que possibilita desvendar o mundo em que vive e
apreciá-lo no que tem de belo e harmonioso.
Como sugestão para novas pesquisas, podemos citar: “educação cósmica”, um
dos fundamentos do Sistema Montessori para ajudar a formar uma relação entre a
criança e o Universo incluindo a Humanidade, através do sentimento de respeito e
valorização por tudo que incluem ajudando o desenvolvimento da apreciação pela
dignidade e o potencial único de cada indivíduo; “a criança em família”, pois é
preciso pensar também no ambiente familiar, onde a criança tem o seu primeiro
contato com o mundo e as relações humanas, já que o Método Montessori não se
resume a apenas um Sistema de Ensino, mas a uma “maneira de viver” em que se
considera a criança como um elemento essencial na construção de uma sociedade
diferenciada; “pedagogia científica”, como forma científica de educar, proposta pelo
Método Montessori, com meios e fins que asseguram o conhecimento do educando,
para mais adequadamente ajudar o seu desenvolvimento físico, mental e espiritual.
As sementes lançadas na Educação Infantil proporcionam-lhe ser uma pessoa
feliz, um cidadão consciente e harmonizado com seu planeta.
A proposta de trabalho apresentou o problema sobre o significado da liberdade
nas classes de Alfabetização Montessorianas, com a hipótese de que a liberdade,
dentro do método Montessori de Ensino, significa liberdade para o trabalho, para a
vida útil. Sabe-se que a criança aprende mexendo-se, e por isso é preciso dar-lhe
liberdade de movimentos, para que ela possa explorar o ambiente, atendendo às
necessidades básicas de seu organismo físico e de sua mente, sempre elaboradora.
Valido a hipótese apresentada, pois a palavra liberdade consiste num ambiente
voltado para o “despertar” da vida da criança, favorecendo a independência,
iniciativa, ajudando-a a agir sozinha, construindo sua personalidade e conquistando
confiança em si mesma.
40
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MONTESSORI, Maria. A Criança. Rio de Janeiro: Ed. Nórdica, 1987.
MONTESSORI, Maria. Mente Absorvente. Rio de Janeiro: Ed. Nórdica, 1987.
MONTESSORI, Maria. Pedagogia Científica. Rio de Janeiro: Ed. Flanboyant, 1965.
MONTESSORI JR., Mario M. Educação para o desenvolvimento humano. Rio de
Janeiro: Ed. Obrape, 1989.
41
ANEXOS
42
43
ÍNDICE
RESUMO .....................................................................................................................6
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................8
1- MÉTODO MONTESSORIANO .........................................................................11
1.1. Princípios do Material Montessoriano de Ensino .......................................12
1.2. A mestra ......................................................................................................14
1.2.1. Conhecimento do material .................................................................15
1.3. Educação dos movimentos ..........................................................................16
1.3.1. Ginástica e trabalho ........................................................................16
1.3.2. Vida Prática – o que é? ...................................................................16
1.4. Lição dos três tempos .................................................................................17
2- MATERIAIS MONTESSORIANOS ..................................................................20
2.1. Educação Sensorial .....................................................................................23
2.1.1. Os períodos sensíveis ......................................................................24
2.2. Estudos Sociais e Ciências na Educação Infantil ........................................24
2.2.1. Objetivos .........................................................................................24
2.3. Matemática ..................................................................................................25
3- A LIBERDADE NA EDUCAÇÃO MONTESSORIANA ..................................26
4- ALFABETIZAÇÃO, SEGUNDO MONTESSORI .............................................32
4.1. Desenvolvimento da escrita ........................................................................33
4.1.1. A preparação indireta da mão .........................................................33
4.1.2. Preparação direta da mão à escrita ..................................................34
4.1.3. Aperfeiçoamento da escrita ............................................................35
4.2. A leitura ......................................................................................................36
CONCLUSÃO ...........................................................................................................38
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ...........................................................................40
ANEXOS ...................................................................................................................41
44
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós- Graduação “Lato Sensu”
Titulo da Monografia:
“Alfabetização na Educação Infantil, segundo a filosofia
Montessoriana”
Data da Entrega: 25/ 09/ 04
Avaliação:
Avaliado por: ___________________________________ Grau: ________________
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