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LEITURA DAS FICHAS DE SEGURANÇA DOS PRODUTOS QUÍMICOS EM
AULAS DE QUÍMICA COM ENFOQUE CONTEXTUALIZADO
GT3 Educação e Ciências Matemáticas, Naturais e Biológicas
Jicelia Adne Freire Moraes
Josevânia Teixeira Guedes
Vera Lucia Maia Santos
RESUMO
Este estudo aborda a temática da leitura das Fichas de Produtos Químicos a fim de
aperfeiçoar na linguagem formal, na interpretação de dados a contextualização dos
conteúdos químicos abordados no cotidiano dos alunos, objetivando o despertar e o
interesse dos alunos pelo ensino de Química. A pesquisa foi realizada em uma turma de
Primeiro Ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Tobias Barreto. Os resultados obtidos
evidenciaram que a aplicação da metodologia constitui-se como viável ao processo
educativo, além de contribuir para formação do cidadão, propondo uma alternativa
sustentável dentro da sociedade.
PALAVRAS CHAVE: Contextualização, Ensino de Química. Educação Científica.
ABSTRACT
From the thematic reading of Sheets Chemicals in order to improve the formal language, the
interpretation of data contextualization of content covered chemicals in everyday students
aiming to arouse student interest in teaching chemistry as a tool to promote science
education. The survey was administered to a group of First Year High School State School
Tobias Barreto. The results showed that the application of the methodology is feasible as the
educational process, and contribute to the formation of citizens, offering a sustainable
alternative within society.
KEYWORDS: Context, Teaching of Chemistry. Science Education.

Graduada em Química pela Faculdade Pio Décimo, pesquisadora voluntária do grupo de Iniciação
Formação de professores e processos de ensino aprendizagem da Faculdade Pio Décimo.
[email protected];

Mestra em Educação pela Universidade Tiradentes, especialista em Metodologia do Ensino
Superior pela Faculdade Pio Décimo. Professora da Educação Básica e da Faculdade Pio Décimo.
Coordenadora da Linha de Pesquisa Iniciação à Pesquisa Científica na Educação Superior do Grupo
de Pesquisa Políticas Públicas, Gestão Socioeducacional e Formação de Professor
(GPGFOP/PPED/Unit/CNPq) e Voluntária do Projeto TRANSEJA do Observatório de Educação da
UNIT/CAPES/INEP. E-mail: [email protected]

Master Of Science Em Ciências da Educação pela Universidade Internacional de Lisboa,
especialista em Administração e Supervisão Escolar pelo Associação de Ensino e Cultura Pio Décimo
Faculdade Pio Décimo (1995) e Professora da Educação Básica e da Faculdade Pio Décimo. E-mail:
[email protected]
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INTRODUÇÃO
As Fichas de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ’s) são
instrumentos que possuem informações sobre o produto a ser utilizado e/ou
consumido pela população e apresenta dados físico-químicos e de segurança
pessoal e ambiental. Esses aspectos de grande relevância na abordagem Ciência –
Tecnologia – Sociedade – Ambiente (CTSA) para o ensino de ciências não são
observados em salas/laboratórios de aulas, a portabilidade de dados referentes aos
reagentes a serem manipulados, bem como em lares pouco é observado quem
analisa com cautela os itens contidos nos rótulos dos produtos químicos utilizados
nos lares. Para tanto, faz-se necessário uma nova conscientização a respeito destas
manipulações visando à preservação da saúde e do meio ambiente.
Mendes et al (2011, p. 226) afirmam que “A maioria dos laboratórios
brasileiros não está preparada para enfrentar situações de emergência ou catástrofe
porque não identifica e controla os seus riscos [...]”. A postura de cautela ao exercer
qualquer atividade deve também partir do indivíduo, em uma situação de risco ao
qual a pessoa está sendo inserida cada qual deve avaliar a continuidade da
atividade e adoção de posturas seguras.
Considerando-se o alto desenvolvimento das tecnologias, o simples ato
de manipulação de reagentes químicos não demonstra muita preocupação a
respeito dos danos que estes oferecem. Esta é uma preocupação partilhada por
Costa e Felli (2004, p. 269) quando comentam que:
A manipulação das substâncias é comum em salas mal ventiladas,
espaço físico inadequado, problemas com equipamentos, mistura de
substâncias químicas, ritmo acelerado de trabalho, pressões das
chefias, longas jornadas de trabalho, uso inadequado de EPI e falta
de medidas de proteção coletiva que possibilitam ou intensificam a
exposição dos trabalhadores.
Levando-se em consideração as dificuldades enfrentadas pelos alunos
em salas de aula, especificamente quando se trata de educação química, para
compreensão de assuntos que são abordados, devido à ausência de ações práticas
que possibilitem a construção do aprendizado, como também a minimização dos
professores e até mesmo dificuldades de criatividades para expor os assuntos de
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forma mais precisa, no sentido de estuda-se estes assuntos para que se possa ser
compreendido fatos do cotidiano, fatos como utilização segura de soda cáustica para
desentupimento de pias, por este produto apresentar riscos de queima de pele.
As fichas de segurança podem ser abordadas como recursos didáticos,
instrumentos auxiliadores no processo de ensino, possibilitando uma mediação do
conhecimento através das informações em que se deseja transpor por parte do
docente ao receptor, o discente. Com enfoque a disciplina Química, os professores
devem viabilizar o contexto para que seus alunos percebam a importância do estudo
da Química e suas contribuições as sociedades.
No entender de Wilmo Júnior (2010, p.220),
O professor de Ciências é também um professor de leitura. Em
outras palavras, pode-se assumir que este também é responsável
em empreender oportunidades para que os alunos exerçam a leitura
em sala de aula. Isso porque todas as disciplinas escolares são
suportadas na linguagem escrita.
Os professores de ciências precisam desenvolver hábitos de observação
a partir de práticas de leituras realizadas em suas aulas, para entender como está
sendo o desenvolvimento das leituras referentes às ciências, uma vez que os laços
entre a leitura e os fenômenos científicos acompanham o ser humano há anos como
ensina Maar (2008, p.216) “A partir da difusão do livro impresso a divulgação
científica ficou mais fácil [...],textos tornaram-se mais acessíveis. [...] século XVI
foram publicados diversos textos práticos de Química, que tiveram grande influência.
Incorporar a leitura das fichas de segurança de produtos químicos nos
espaços escolares e não escolares aperfeiçoa a linguagem formal, a interpretação
de dados e contextualiza os assuntos químicos ao dia a dia dos alunos, facilita a
aprendizagem e torna o processo de ensino e de aprendizagem com significação.
De acordo com Lima et al (2000, p.26) “[...] a não-contextualização da
química pode ser responsável pelo alto nível de rejeição do estudo desta ciência
pelos alunos, dificultando o processo de ensino-aprendizagem [...].” . A
contextualização permite ao aluno a compreensão da realidade, o motivo pelo qual
as situações ocorrem, faz-se necessário que o professor em sala de aula atue com
criatividade, de modo a demonstrar aos alunos, o sentido do ensino exposto ao dia a
dia.
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Quanto à contextualização da Química, os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) (1999, p.93),
Contextualizar a química não é promover uma ligação artificial entre
o conhecimento e o cotidiano do aluno, Não é citar exemplos como
ilustração ao final de algum conteúdo, mas que contextualizar e
propor situações problemáticas reais e buscar o conhecimento
necessário para entendê-las e procurar solucioná-las.
Este estudo vislumbra a resposta para um questionamento: Será que
práticas de leituras em salas de aula das Fichas de Segurança de produtos químicos
utilizados em casa podem dinamizar e unir o assunto ao dia a dia do aluno,
facilitando a aprendizagem?
A inserção de técnicas que possibilita demonstrar aos alunos o significado
do que se está sendo ensinado, promove melhores rendimentos no processo de
ensino e aprendizagem, porém requer dos professores, das variadas áreas,
habilidades quanto a ações pedagógicas em sala de aula e a metodologia da
utilização da leitura das fichas de segurança possibilita uma dinamização do ensino.
Diante desse contexto, o presente estudo, através da utilização das
Fichas de Segurança em salas de aula, visa ampliar o conhecimento a respeito dos
riscos relacionados à manipulação de produtos químicos em geral, no que se refere
a sua utilização a fim de tornar os estudantes capazes de relacionar conteúdos
químicos através da leitura dos dados dos produtos.
A minimização dos acidentes provocados por produtos químicos tornar-se
mais eficaz posterior à educação das comunidades, orientações quanto a medidas
corretas de estocagem, de utilização e de prevenção. As medidas de segurança
tornam-se eficazes mediante opção por parte dos consumidores, de escolhas por
produtos com rótulos e registrados.
O presente estudo apresenta uma característica de pesquisa de
abordagem contextualizada sobre Produtos Químicos e sua relação com o ensino de
Química. Foi desenvolvida em turma de Ensino Médio do Primeiro Ano de uma
Escola da Rede Estadual de Ensino de Aracaju, Escola Estadual Tobias Barreto, na
turma 1° Ano G, em aulas de forma expositiva, relacionando o conteúdo químico a
produtos utilizados nos lares, como sabonetes, detergentes, água sanitária, e outros,
como forma de promover a contextualização através da leitura e interpretação dos
dados contidos nas Fichas de Segurança e nos rótulos dos produtos.
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Inicialmente foi solicitado aos alunos que respondessem a um
questionário de sondagem inicial que forneceu a situação de conhecimento químico
em que os alunos se encontravam. Posterior ao questionário inicial procedeu a
ministração do assunto Substâncias Químicas e suas Propriedades e durante
explanação foi relacionado às propriedades das substâncias contidas nas Fichas de
Segurança, bem como nos rótulos dos produtos.
A análise dos questionários respondidos possibilitou a interpretação do
nível de conhecimento sobre os produtos químicos presentes nas casas dos alunos,
fato que demonstrado no Gráfico 1 abaixo referenciado, em que demonstra que
aproximadamente metade da turma, não sabia relacionar a utilização de alvejantes,
pedra sanitária, água sanitária, shampoos, sabões, como produtos químicos.
Avaliando os resultados das respostas dos questionários, respondidos
pelos alunos, um grande percentual deixou em branco, outros não sabiam
responder. Partindo dessa ilustração, foi necessário a apresentação do assunto de
forma
mais
clara,
definindo
analogicamente
os
temas
Químicos
com
a
características das Fichas de Segurança de Produtos Químicos.
Gráfico 01 – Resultados sondagem inicial referente aos conhecimentos dos alunos quanto aos
produtos químicos utilizados em suas casas
Fonte: Moraes, J. A. F. (2012) – Elaborado a partir dos estudos da Pesquisa.
A maioria das escolas tem dado maior ênfase à transmissão de
conteúdos e à memorização de fatos, símbolos, nomes, fórmulas, deixando de lado
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a construção do conhecimento científico dos alunos e a desvinculação entre o
conhecimento químico e o cotidiano.
Silva, Almeida e Brito (2011, p. 12) ensinam que:
A aprendizagem de Química deve possibilitar aos alunos a
compreensão das transformações químicas que ocorrem no mundo
físico de forma abrangente e integrada, para que estes possam julgála, com fundamentos, as informações adquiridas.
Durante a aplicação do estudo foi apresentado aos alunos uma apostila
com o tema substância química e suas propriedades explicada em sala para revisão
do assunto abordado, seguiu-se a aplicação do questionário, objetivando a avaliação
da Metodologia utilizada para a abordagem de fichas de segurança de produtos
químicos como recurso didático.
Para Pinheiro, Medeiros e Oliveira (2010, p. 1996),
Os pesquisadores em Ensino de Química, de modo geral, concordam
que as ações didático-pedagógicas devem contemplar o pensamento
do aluno, os conceitos de significação, além dos aspectos sóciocientíficos, tais como questões ambientais, políticas, econômicas,
éticas, sociais e culturais relacionadas à tecnologia e ciências, tanto
no ensino superior como do ensino médio.
Após apresentação das fichas de segurança, dos produtos químicos
caseiros e desenvolvimento do assunto: Substância Química - Propriedades
Químicas e Misturas - foi distribuído para cada aluno uma ficha de segurança
juntamente com seu rótulo e embalagem. Alguns alunos demonstraram interesses
em escolher o produto para conhecimento e foram entregues os questionários de
avaliação da metodologia, momento em que os alunos procederam com as
respostas.
Foi ressaltado a segurança e os riscos que são corridos devido à falta de
conhecimento e até de atenção ao que se pode conter nos frascos reutilizados. Foi
reforçada a turma que o ideal para armazenamento de água é as jarras de água e
que os produtos de limpeza caseiros, devem ser identificados com rótulos, momento
em que se abriu uma discussão sobre o que realmente está sendo comprado nestes
frascos e o que devem conter para ser vendidos como produto de limpeza.
O assunto ministrado foi referente a substâncias químicas e suas
propriedades foram solicitadas aos alunos, que encontrassem nas fichas de
segurança fornecidas às propriedades de cada produto, ou seja, cada aluno devia
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fazer uma relação entre as propriedades químicas ensinadas e as propriedades que
deveriam encontrar nas fichas. Neste momento, alguns alunos solicitaram os frascos
dos produtos para encontrar em seus rótulos, as propriedades.
No questionário, na indagação: “O que você achou de interessante ao ler
a ficha de segurança do produto químico utilizado em sua casa?” as repostas se
referiram ao conhecimento quanto à estocagem correta e medidas de segurança.
Em sala de aula, alguns alunos relataram a ocorrência de acidentes em suas casas
e que ao ler a ficha de segurança perceberam que as medidas adotadas não foram
corretas, mas que estas informações deveriam constar nos rótulos.
Ao questionamento da atividade “Quais as propriedades encontradas em
sua Ficha de Segurança?” foi possível chegar à conclusão de que a metodologia de
utilização das Fichas de Segurança como recurso didático é eficaz, levando-se em
consideração que os alunos souberam relacionar as propriedades e os conteúdos de
seguranças contidos nos rótulos.
Imagem 01 – Aluno que havia solicitado fazer comparação entre ficha de segurança e o rotulo do
produto.
Fonte: Moraes, J. A. F. (2012) – Obtido a partir de imagens fotográficas da autora da pesquisa
Para nivelamento, durante a abordagem do assunto, todas as discussões
foram relacionadas à ficha de segurança. Ao passo que se avançava a discussão do
assunto, era relacionado ao assunto ministrado aos conteúdos da ficha de
segurança, de modo a familiarizar os alunos, uma melhor interpretação dos dados.
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Durante apresentação dos assuntos químicos, fazia-se relação dos dados
dos rótulos juntamente aos dados das fichas de segurança, o que apresentava aos
alunos a química do dia a dia nos lares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência da utilização da metodologia em adotar as fichas de
segurança como recurso didático avaliativo de itens que podem ser relacionados às
características, propriedades, funções de conteúdos de natureza química, e
características de saúde ambiental e humana foram positivas, através das respostas
de questionários avaliativos, se pode perceber o avanço da aquisição dos
conhecimentos, dos conteúdos ministrados em sala de aula, de maneira
contextualizada.
É, portanto, constatável que as fichas de segurança, utilizadas como
recurso didático, auxiliam no processo de ensino e de aprendizagem, de forma
significativa quando os alunos são envolvidos as situações do dia a dia. Através da
evolução do conhecimento, de acordo com as respostas das atividades, foi possível
promover o conhecimento a respeito dos riscos relacionados à manipulação de
químicos, relacionando através da análise dos dados das fichas ao assunto
apresentado em sala de aula, podendo o aluno melhor interpretar os rótulos dos
produtos.
Os educadores devem traçar planos que facilitem o processo de ensino e
de aprendizagem, que alavanquem com o desempenho dos alunos, que formem
cidadãos capazes de serem críticos, avaliativos dos acontecimentos, alunos aptos a
exercer a cidadania.
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Contextualização no Ensino de Cinética Química. Química Nova na Escola. n.11, p.
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MAAR, Juergen H. História da Química – 2 Ed. – Florianópolis: Conceito Editorial,
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