stf.empauta.com Brasília, 09 de abril de 2006 Correio Braziliense - Brasília/DF STF | Ministros Aposentados | Ministro Maurício Corrêa Nada há de encoberto que não venha a ser revelado OPINIÃO Maurício Corrêa Advogado A CPMI dos Correios terminou seus trabalhos. Frustrada a tropa de choque do PT, aprovou-se, com pequenas modificações, a conclusão do relatório apresentado. A proposta de indiciamento a ser levada ao Ministério Público Federal sugere a incriminaçãodemais deuma centena defigurõesdaRepública pelo cometimento de crime eleitoral e de sonegação fiscal. É o mensalão, que se sabe ter existido, mas que os representantes da base de apoio do governo queriam de toda forma descaracterizar como inexistente. De todo o apurado, constatou-se que a fonte de sustentação dos pagamentos da compra de votos e de outras suspeitíssimas rubricas teve como origem recursos provenientes de órgãos do Estado. Nada mais oportuno do que terem citado no preâmbulo da peça divulgada pelo relator as palavras de Jesus, citadas por Mateus ( 10: 26) : "Não tenhais medo dos homens, pois nada há de encoberto que não venha a ser revelado, e nada há de escondido que não venha a ser conhecido". Fico a pensar se os dignos representantes do povo na CPMI dos Correios não tiveram coragem, para não dizer medo, tal qual adverte o mestre, de fatos de que se sabe terem existido, mas que não foram devidamente revelados, e que permitiriam o enquadramento de Lula; todos obviamente a ele imbricados, se não por sua ação direta, pelo menos pela escancarada omissão com que se portou diante de abusos cometidos por subalternos. Da conclusão do relatório consta o indiciamento do então chefe do Gabinete Civil e do ex-titular da Secretaria de Comunicação Social, para citar apenas esses dois, que possuíam gabinetes colados ao de Lula, com quem, aliás, tinham contatos diários para tratar dos mais variados assuntos. Lula não sabia de nada? É admissível também aceitar que toda a trama concebida por José Genoino, Delúbio Soares, Silvinho stf.empauta.com et caterva, na direção do PT, com tudo que aprontaram, tenha sido feita à margem de qualquer conhecimento do presidente? Todo mundo sabe que a programação política do governo era toda delineada pelo então chefe da Casa Civil, a quem incumbia o relacionamento com a comunidade política e o gerenciamento da distribuição de cargos, além de ser o representante junto à iniciativa privada para os negócios de governo. Diga-se o mesmo da farta publicidade dos órgãos federais, de que era administrador na partilha dos recursos o ministro encarregado da Secom. Uma verdadeira festa de gastos publicitários por intermédio das agências do amigo do peito Marcos Valério. Mesmo assim Lula de nada sabia? É de perguntar, por que essa obstinada blindagem que se faz com o presidente do Sebrae para evitar a quebra de seu sigilo bancário, tão necessário para precisar se o dinheiro pago aos cofres do PT para quitar despesas de Lula, de fato saiu de seu bolso? Por que nada concluíram acerca da suspeitíssima compra pela Telemar de parte dos negócios na sociedade do filho de Lula? A que título faria tão volumoso investimento, sobretudo em se tratando de concessionária de serviço público de telecomunicações? Se Duda Mendonça, o consagrado marqueteiro de Lula, está arrolado como tendo praticado crime de remessa ilícita de dinheiro para o exterior com evasão fiscal, por que o maior beneficiário de seus préstimos ficou de fora? Quem pagou Duda e por ordem de quem? Se tudo foi despendido em razão de serviços prestados à campanha de Lula em 2002, por que o presidente não tem nada a ver com isso? Ora, além de tudo o que se apurou relativamente ao mensalão, tido e havido no relatório como crime eleitoral, é de se perquirir quem foi dele o maior favorecido, se o projeto de sua inspiração visava realizar a eleição de Lula e, depois, de seu próprio desempenho no governo? pg.3 stf.empauta.com Brasília, 09 de abril de 2006 Correio Braziliense - Brasília/DF STF | Ministros Aposentados | Ministro Maurício Corrêa Continuação: Nada há de encoberto que não venha a ser revelado Para agravar mais o quadro, está aí o affaire Palocci. É notória a condescendência dispensada pelas CPIs ao desventurado ministro. Sempre lá compareceu quando quis. Era tratado com toda a cortesia. Nunca foi chamado a depor, mas, sim, convidado. Levou todo mundo na conversa. Foi preciso que aparecesse o caseiro Francenildo para que tudo fosse esclarecido. Palocci disse que nunca freqüentou a república ribeiropreta no Lago Sul. Freqüentou. Conspirou para que o dinheiro depositado na CEF fosse suspeito. Não era. Sua origem era mais do que lícita. Contornam o caso facetas curiosas. Dois assessores do ministro da Justiça vão à casa de Palocci e, nesse exato momento, dão de cara com o presidente da Cai- stf.empauta.com xa entregando os extratos de Francenildo. Qual a razão dessa coincidência e o que faziam lá esses senhores? Dois servidores subalternos do MJ jamais iriam lá, se não tivessem autorização do ministro. Tudo indica que tanto o próprio ministro quanto o presidente da República souberam desses fatos antes de virem a público. Desculpe-me a feia rima, mas o mensalão deu num acordão e a CPMI numa grande frustração. E ainda transcrevem no relatório o versículo de Mateus: "Nada há de encoberto que não venha a ser revelado". Até quando a farsa prevalecerá? pg.4