XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" METODOLOGIA DAS ESCALAS GEOGRÁFICAS DE PODER E GESTÃO APLICADA AOS ESTUDOS DE DESENVOLVIMENTO EM QUATRO TERRITÓRIOS RURAIS ALDOMAR ARNALDO RÜCKERT (1) ; ANELISE GRACIELE RAMBO (2) . 1.PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA E EM DESENVOLVIMENTO RURAL - UFRGS, PORTO ALEGRE, RS, BRASIL; 2.PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL PGDR/UFRGS, PORTO ALEGRE, RS, BRASIL. [email protected] APRESENTAÇÃO ORAL DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL E RURALIDADE METODOLOGIA DAS ESCALAS GEOGRÁFICAS DE PODER E GESTÃO APLICADA AOS ESTUDOS DE DESENVOLVIMENTO EM QUATRO TERRITÓRIOS RURAIS1 Grupo de Pesquisa: Desenvolvimento Territorial e Ruralidade Resumo O presente artigo resulta de um projeto de pesquisa realizado por um grupo multidisciplinar, composto por pesquisadores das áreas de Geografia, Agronomia, Economia, e Sociologia para atender a uma demanda da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Dentre outros objetivos, a pesquisa visou representar as diferentes escalas de atuação dos atores nos territórios como ferramentas para o planejamento das dinâmicas territoriais. Nesse sentido, apresenta-se aqui as escalas de atuação dos atores em quatro projetos desenvolvidos nos territórios rurais e analisados ao longo da referida pesquisa. Tratar-se-á portanto, da Cooperativa Regional de Agricultura Camponesa (CORAC), Seberi, Médio Alto Uruguai/RS; do Sistema de Cooperativas de Leite da Agricultura Familiar (SISCLAF), Francisco Beltrão, Sudoeste do Paraná/PR; do Centro de Formação da Agricultura Familiar São José Operário (CENTAF), Silvânia, Estrada de Ferro/GO e Associação Frutivale, 1 Este artigo é resultado do projeto de pesquisa “Avaliação do Desenvolvimento Territorial em Quatro Territórios Rurais – Brasil”, realizado sob demanda da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), financiado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Registra-se ainda agradecimentos aos professores doutores Sérgio Schneider, Eduardo Filippi, PauloWaquil, aos pós-graduandos Suzimari Specht, Marcelo Conterato, Guilherme Radomsky e a economista Eliane Sanguiné da Silva que também fizeram parte da equipe. 1 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Datas, Vale do Jequitinhonha/MG. Entende-se que a metodologia das escalas geográficas de poder e gestão, aplicada aos estudos de desenvolvimento territorial, permite uma compreensão mais clara de como os territórios são geridos e quem são estes atores que interagem no processo de desenvolvimento. A partir disso, é possível observar-se as potencialidades e debilidades do território. Estas podem ser incrementadas ou reduzidas respectivamente, de modo a favorecer os processos de desenvolvimento territorial. A metodologia pode, portanto, servir como uma ferramenta para o planejamento das ações e dinâmicas territoriais. Palavras-chaves: desenvolvimento territorial local/regional – escalas geográficas de poder e gestão - densidade institucional Abstract The present article results of a research project developed by a multidiscipline group, composed of Geography, Agronomy, Economy, and Sociology researchers aimed to do deal with a demand of the Secretaria do Desenvolvimento Territorial (SDT) of Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Amongst other objectives, the research aimed to represent the different scales of action of actors in the territories as tools for planning of territorial dynamic. In this direction, we present here the scales of action of actors in four projects developed in the rural territories and analyzed in this research. We will be treat, of the Cooperativa Regional de Agricultura Camponesa (CORAC), Seberi, Médio Alto Uruguai/RS; Sistema de Cooperativas de Leite da Agricultura Familiar (SISCLAF), Francisco Beltrão, Sudoeste do Paraná/PR; Centro de Formação da Agricultura Familiar São José Operário (CENTAF), Silvânia, Estrada de Ferro/GO e Associação Frutivale, Datas, Vale do Jequitinhonha/MG. We understand that the methodology of power and management geographic scales, applied to studies of territorial development, allows a clearer understanding of how the territories are managed and who are these actors who interact in the development process. This allows to observe the potentialities and weakness of the territory. These can be developed or be reduced respectively, in order to favor the territorial development processes. It may therefore serve as a tool for planning of territorial actions and dynamic. Key Words: local/regional territorial development power and management geographic scales - collective territorial innovation - institutional thickness 1 A CONTRIBUIÇÃO DA METODOLOGIA DAS ESCALAS PARA OS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL A metodologia das escalas geográficas de poder e gestão caracteriza um recurso metodológico o qual permite observar como os atores locais/regionais – sociedade civil, Estado e mercado – articulam-se entre si e com as demais escalas de poder e gestão, com vistas à promoção do desenvolvimento de seu território. Considerar-se a existência de diferentes escalas atuantes em determinado território, possibilita a compreensão da densidade e da complexidade oriunda da multiplicidade de poderes neles existentes e atuantes. Racine; Raffestin; Ruffy (1983) tratam à escala como um filtro que preserva o que é pertinente em relação ao objeto de estudo, permitindo sua compreensão. Castro (1995), por sua vez, afirma que a escala geográfica pode ser considerada como um artifício analítico que dá visibilidade ao real. Porém, vale ressaltar que uma escala não pode ser vista 2 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" isoladamente de seu entorno, pois perde seu poder explicativo. Ou seja, o recorte espacial a ser analisado estará sempre relacionado com seu entorno, com as demais escalas. O processo de desenvolvimento territorial local ou local/regional2, não pode ser entendido simplesmente como uma resposta endógena aos problemas exógenos. Segundo Acselrad (2002), a dinâmica do desenvolvimento territorial de escala local se dá pela combinação de fatores em escalas variadas. Não há um poder econômico estruturalmente local, privado ou público, mas dimensões locais de um poder que se constrói na hierarquia dos tomadores de decisão. Com base no acima mencionado, a densidade institucional assume grande importância, pois reunindo diversos atores – públicos e privados, individuais e coletivos – torna-se possível elencar as demandas bem como as potencialidades do território, e assim, de forma coletiva, realizar ações com características de inovação territorial, promovendo processos de desenvolvimento. É importante mencionar que a metodologia das escalas ganha relevância em razão da multidimensionalidade do poder resultante da descentralização político-administrativa do Estado ocorrida no Brasil a partir dos anos oitenta. Nesse sentido, diferentes atores Estado, sociedade civil e mercado – de diferentes escalas, agem sobre o território, ora estabelecendo relações conflituosas, ora de sinergia. Entende-se que considerar estas relações e estes atores torna-se um requisito essencial para a compreensão dos processos de desenvolvimento territorial, pois, quando se retorna à análise das relações de poder, o território volta a ser importante, não apenas como espaço próprio do Estado-Nação, mas sim dos diferentes atores sociais. O território é um produto produzido pela prática social, e também um produto consumido, vivido e utilizado (BECKER, 1983). Ou ainda, o território é produto dos atores sociais, do Estado ao indivíduo, passando por todas as organizações, pequenas ou grandes (RAFESTTIN, 1993). Com base no que foi mencionado, entende-se que, ao falar em desenvolvimento territorial, está se tratando de ações, mecanismos, estratégias e políticas endógenas e exógenas, desencadeadas por atores locais/regionais em interação com as demais escalas de poder e gestão, reforçando e constituindo territórios por meio de novos usos políticos e econômicos. Inclui o desenvolvimento das potencialidades locais/regional (ambientais, humanas, econômicas), o que torna os atores mais ativos na intervenção e ação sobre seu território, refletindo-se no desencadeamento de processos de desenvolvimento territorial. Uma contribuição importante é a que traz Boisier (1995), quando define o desenvolvimento territorial como uma expressão ampla que inclui o desenvolvimento de comunidades, províncias ou regiões. O conceito refere-se a processos de mudança sócioeconômica, de caráter estrutural, delimitados geograficamente e inseridos num marco configurado por sistemas econômicos de mercado, ampla abertura externa e descentralização dos sistemas de decisão. Ou seja, a organização coletiva dos atores locais/regionais, buscando ações, mecanismos, práticas e políticas que visam o desenvolvimento de seu território. Nesse sentido o desenvolvimento territorial não se restringe ao crescimento econômico, mas consiste na articulação dos atores em atender também suas demandas e necessidades sociais, culturais e ambientais. 2 Para observar a interação entre atores, é possível acrescentar ao territorial a escala local/regional. A priori, entende-se como desnecessário tal adjetivo, em função do territorial opor-se ao global, e estar subentendida uma dimensão mais local. Porém à medida que se utiliza o recurso metodológico das escalas geográficas de poder e gestão, adota-se “desenvolvimento territorial local/regional” para tornar perceptível a interação dos atores ou dos poderes locais/regionais com as demais escalas de poder e gestão. 3 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Por sua vez, para que o desencadeamento de um processo de desenvolvimento territorial seja possível, entende-se ser importante estimular a inovação territorial coletiva, entendida aqui como a capacidade de gerar e incorporar conhecimentos para dar respostas criativas aos problemas do presente, não só em termos de crescimento econômico, mas numa perspectiva integrada (MÉNDEZ, 2002). Ao lado da inovação territorial coletiva, assume importância a densidade institucional. Segundo Fernandéz (2004), esta caracteriza uma sólida presença institucional (firmas, associações empresariais, instituições financeiras, ONGs, agências de desenvolvimento, escolas, centros de serviço, institutos tecnológicos e universidades, etc); bem como o desenvolvimento de formas de cooperação que gerem uma consciência de pertença a uma dinâmica territorial e ao padrão de coalizão representativo dos interesses locais. Dessa forma, entende-se que os processos de desenvolvimento territoriais têm maiores probabilidades de êxito na medida em que os atores locais/regionais, representados tanto pela sociedade civil, quanto pelo Estado e pelo mercado, buscam estabelecer ações/projetos/programas, voltados à inovação territorial coletiva e à densidade institucional. Ou seja, inovações construídas de forma coletiva, com base nas potencialidades do território, em interação com as demais escalas de poder e gestão. Pelo que foi mencionado, pode-se considerar que os processos de desenvolvimento territorial local/regional, embora possam apresentar um protagonismo dos atores locais/regionais quanto ao exercício de poder e gestão sobre seus territórios, não se mantém isolados dos atores das demais escalas. As ações territoriais provavelmente não teriam o mesmo êxito ou resultado se praticadas de forma isolada e individual. Por sua vez, a definição das escalas geográficas de poder e gestão se dá com base em dois critérios: divisões político-administrativas e escalas não institucionalizadas, resultantes da ação ou da gestão dos atores locais/regionais sobre o território. O primeiro, refere-se às divisões político-administrativas existentes, referentes ao âmbito municipal, microrregional, estadual, nacional. O segundo, a escalas de gestão em âmbitos locais e/ou regionais, as quais são definidas pela própria atuação dos atores locais/regionais sobre o território, levando a novos usos políticos e econômicos que tenham reflexos/implicações no desenvolvimento dos territórios rurais. A identificação da presença das diversas escalas de poder e gestão nos territórios rurais se deu mediante a aplicação de entrevistas com um roteiro semi-estruturado a lideranças de projetos de desenvolvimento. Estes projetos representam à idéia-guia que perpassa as ações no território, estando em geral, relacionada às potencialidades locais/regionais de desenvolvimento. Para tanto foram levantadas informações sobre as diversas fontes de recursos presentes no território e como estes atores e recursos se fazem presentes em ações de desenvolvimento territorial. Com base nessas informações, encontrou-se as seguintes escalas presentes nos territórios rurais, sendo as duas primeiras institucionalizadas e outras definidas pela ação dos atores locais/regionais: 1. Escala Nacional: correspondente aos atores que possuem atuação no âmbito nacional; 2. Escala Estadual: referente aos atores do estado da federação de cada território pesquisado; 4 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" 3. Escala Regional: referente aos atores de cada território rural pesquisado3; 4. Escala Local/Regional: referente aos atores com atuação na área de abrangência dos arranjos institucionais que coordenaram os projetos pesquisados. Além das escalas, os atores foram classificados ainda enquanto Estado, sociedade civil e mercado. Ao tomar-se por base as concepções de Bobbio (1986), por sociedade civil entende-se a esfera das relações sociais não reguladas pelo Estado e este, como o conjunto dos aparatos que um sistema social organizado exerce o poder coativo. A sociedade civil seria o lugar onde se desenvolvem os conflitos econômicos, ideológicos, religiosos, que as instituições estatais têm o dever de resolver. Observa-se que Bobbio não trata do mercado enquanto ator distinto da sociedade civil. Segundo sua concepção, o que não se enquadra no âmbito do Estado, refere-se a sociedade civil. Porém, nesta análise, opta-se por entender o mercado como um ator distinto. Enquanto que a este cabem os atores cujos objetivos centram-se na obtenção do lucro para seus proprietários/acionistas, à sociedade civil seria formada por aqueles movimentos de cunho e objetivos coletivos e sociais. Afinal, os objetivos que movem cada um dois atores, se não são opostos, no mínimo, seguem rumos distintos. Sendo assim, os atores representantes do Estado referem-se a secretarias, ministérios e órgãos do governo, universidades públicas, empresas estatais, autarquias, financiamentos internacionais públicos (Banco Mundial, BID, FAO, UNICEF, etc). Os atores representantes da sociedade civil são sindicatos, associações, cooperativas, representações de classe, fóruns e consórcios de desenvolvimento, ONGs, escolas, universidades comunitárias, confessionais, filantrópicas. Por sua vez, os atores representantes do mercado referem-se a empresas locais, nacionais e multinacionais, capital financeiro como bolsas de valores etc. Por conseguinte, para mensurar a densidade institucional, da qual se tratou acima, se tomou por base à interação de atores e escalas em torno dos arranjos institucionais e projetos desenvolvidos nos territórios, como apresenta a tabela abaixo: Níveis 4 3 2 1 Tabela 01. Níveis de Densidade Institucional PODERES ATUANTES JUNTO AOS ARRANJOS/PROJETOS Poder apenas das instituições/organizações civis/profissionais e/ou empresariais Poder municipal e instituições/organizações civis/profissionais e/ou empresariais. Poder estadual e instituições/organizações civis/profissionais e/ou empresariais. Poder federal, estadual e local, instituições/organizações civis/profissionais e/ou empresariais e/ou estrangeiras. Fonte: Rückert (2001); Rambo (2006). Sendo assim, quanto mais próximo ao nível 01, maior a densidade de atores presentes nos arranjos ou projetos e maior tendem ser as transformações territoriais por eles gerados. Para que se possa melhor visualizar essa densidade institucional, será apresentado um mapa institucional4 (BOISIER, 1997) referente a cada arranjo ou projeto estudado. Este mapa ilustra quais são os atores presentes, além de ser possível apresentar quais os 3 Neste sentido, a Estrada de Ferro (GO) representa uma exceção. O território corresponde à escala local/regional e não regional, sendo que esta última não pôde ser definida. Isso se deu em virtude da generalização das informações sobre os atores (ex. sindicatos, associações, secretarias da região). 4 O mapa institucional, vem neste trabalho, representado através de uma figura/organograma, devido a impossibilidade de o fazer na forma cartográfica. Os atores que o compõem a densidade estão localizados em escalas distintas, partindo da local até a nacional. 5 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" procedimentos utilizados pelas diferentes atores e quais os recursos - materiais, naturais, financeiros, humanos, de conhecimento, etc. - com que conta cada caso analisado. Com base nas considerações feitas acima, a seguir, serão apresentados os arranjos e projetos analisados com base na metodologia das escalas geográficas de poder e gestão. 1.1 CORAC – Cooperativa Regional de Agricultura Camponesa, Seberi – Médio Alto Uruguai/RS No território rural Médio Alto Uruguai há uma certa unicidade de que as ações e projetos de desenvolvimento devem apoiar os processos de organização e capacitação dos agricultores para qualificação e (re) estruturação das agroindústrias familiares, associada à abertura de canais de comercialização para os produtos da agricultura familiar. Nesse sentido, o projeto que melhor territorializa a idéia-guia em torno do desenvolvimento daquele território, compõe o PAA - Programa de Aquisição de Alimentos, através dos projetos desenvolvidos naquele território: Compra Direta com Doação Simultânea e Compra e Distribuição de Cestas de Alimentos. O PAA é proposto pelo Governo Federal através do MDA/SAF. Por sua vez, na escala local/regional, a CORAC, localizada no município de Seberi, tem coordenado estes projetos. A execução das ações no território, de modo geral, está centralizada na CORAC. Este arranjo está ligado a outro importante arranjo, qual seja, a Rede de Comercialização Solidária, do qual, a CORAC é entidade responsável pela administração. A Rede de Comercialização Solidária congrega 14 cooperativas integrantes do Colegiado de Desenvolvimento Territorial (CODETER). Uma das principais funções da Rede é a de agilizar a troca e a comercialização dos produtos da agricultura familiar, uma demanda apontada pela idéia-guia. A CORAC, em razão de administrar o PAA na escala local/regional, recorre à Rede de Comercialização quando lhe falta algum produto que compõe a cesta de alimentos. Desta maneira, está se constituindo uma rede de comercialização de produtos da agricultura familiar. O PAA, como já é possível constatar, foi uma das formas encontradas pelos atores locais/regionais, em parceria com o Estado, de atender a uma demanda da agricultura familiar daquele território – a abertura de novos canais de comercialização além do conseqüente fortalecimento de agroindústrias. Vale ressaltar que apenas cinco municípios da CORAC não são atendidos pelos projetos. Outros cinco estão em fase de incorporação. Um deles, Frederico Westphalen, embora não pertença à CORAC nem ao Território do Médio Alto Uruguai, também é beneficiado. O PAA foi criado, em 2003, pelo Governo Federal, com o objetivo de incentivar a agricultura familiar, compreendendo ações vinculadas à distribuição de produtos agropecuários para pessoas em situação de insegurança alimentar e à formação de estoques estratégicos. Na escala local/regional, os projetos do PAA foram implementados tendo em vista os níveis de pobreza do território, além da dependência dos agricultores familiares em relação às grandes empresas. O Programa, que teve vigência durante o ano de 2006, garantiu aos agricultores uma renda mínima mensal, possibilitando a agregação de valor à produção, além de significar, conforme os próprios agricultores, um novo horizonte em relação à autonomia e auto-estima das famílias. A realização dos projetos do PAA acabou gerando uma considerável rede de interação entre atores na escala local/regional. Por outro lado, pode-se observar que há dois grupos de beneficiados diretos pelos projetos. Os agricultores familiares, que produzem os 6 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" produtos que irão compor a cesta, o que acaba lhes proporcionando, como mencionado acima, uma renda mínima mensal, a diversificação da produção e das fontes de renda além da agregação de valor a produção. O segundo grupo corresponde às famílias carentes, às escolas e hospitais que recebem as cestas. No caso dos projetos desenvolvidos dentro do âmbito do PAA pela CORAC, a densidade institucional é de nível 01, porém com um diferencial, possui apenas atores da sociedade civil e do Estado, da escala local/regional e nacional. Esta característica acaba sendo uma particularidade do projeto, se comparado aos demais analisados neste artigo. A priori, a menor diversidade de atores e escalas, parece não interferir nos resultados esperados. Porém, a longo prazo pode representar um obstáculo à permanência e continuidade deste canal de comercialização da agricultura familiar, uma demanda essencial a ser atendida no território do Médio Alto Uruguai, como aponta a idéia-guia. Pelo mapa a seguir apresentado, observa-se o predomínio da sociedade civil, representando 85% dos atores envolvidos, permanecendo o Estado com 15%. Por sua vez, a escala local/regional representa 80% dos atores. Isso demonstra que esta escala possui uma relativa capacidade de organização e mobilização em torno de suas demandas, o que acaba contribuindo para que as políticas públicas de escalas exógenas gerem transformações territoriais mais significativas no território. Porém essa capacidade de mobilização local/regional poderia ser potencializada na medida em que integrar atores do Estado e do mercado, de todas as escalas. Figura 01. Mapa Institucional da CORAC - Seberi – Médio Alto Uruguai/RS Fonte: Elaborado com base nas entrevistas, dez/2006. Os atores apontados no mapa institucional desempenham diferentes funções nos projetos do PAA. A CORAC é o ator central, pois coordena o projeto na escala local/regional. Esta cooperativa realiza as articulações da escala local/regional com a nacional (governo federal/CONAB). Sendo assim a CORAC é responsável pela organização da produção e recebimento dos produtos que irão compor as cestas. Em seguida, efetua a distribuição 7 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" destas para as entidades parceiras, as quais as repassam para o público alvo final: as famílias de baixa renda, escolas e hospitais. Estas entidades parceiras, da sociedade civil, ao distribuírem as cestas, acabam comprometendo estas famílias cadastradas no programa, a alguma contra-partida, sendo esta referente a atividades de “animação social”, tais como: atividades culturais e educacionais, incentivando a permanência de jovens e adolescentes nas escolas; atendimento das crianças com necessidades especiais; trabalhos voluntários em hospitais; organização de festas beneficentes; estudos de alternativas de alimentação e moradia para as famílias em situação de fragilidade social; atividades de acompanhamento de jovens; trabalhos em grupo voltados ao artesanato. O MDA teve sua participação através da disponibilização dos recursos financeiros para a compra dos produtos dos agricultores familiares. No ano de 2006, estavam alocados pelo MDA/SAF, R$ 130 milhões (SAF, 2006) ao PAA. Deste valor, 1,95% destinaram-se ao território do Médio Alto Uruguai, o que corresponde a R$ 2.539.410,71. Estes recursos destinaram-se principalmente ao pagamento dos agricultores fornecedores de produtos, recolhimento e distribuição dos produtos, pagamento dos funcionários da CORAC envolvidos nestes serviços. A respeito dos projetos descritos acima pode-se ressaltar algumas particularidades. O mesmo tempo em que beneficia o espaço rural, através da compra de produtos da agricultura familiar, este acaba beneficiando também o espaço urbano. Este último sob duas formas: a primeira através do fornecimento das cestas às famílias carentes e a escolas e hospitais e a segunda forma, através das atividades de animação social, desenvolvidas pelos atores parceiros. Estes resultados são possíveis apenas na medida em que há uma densidade institucional em torno deste programa federal. Porém, entende-se ser pertinente ressaltar novamente a necessidade da construção de novos canais de comercialização para os produtos da agricultura familiar. Isso se torna necessário, principalmente em razão deste processo depender da renovação dos projetos com o MDA/SAF. Uma vez não renovados, os agricultores acabam correndo o risco de perder esta fonte de renda, o que significaria um retrocesso dentro do que estabelece a idéia-guia. Para tal, torna-se importante, aumentar a diversidade de atores envolvidos. Buscar novos postos de comercialização que envolvam atores do mercado, reduzindo a dependência de programas governamentais; buscar programas de aquisição de alimentos semelhantes, ampliar a participação de agricultores, a variedade de produtos e os canais de comercialização, além do público que recebe as cestas ou adquire os produtos da agricultura familiar. 1.2 SISCLAF - Cooperativa Central de Leite da Agricultura Familiar com Interação Solidária – Francisco Beltrão, Sudoeste do Paraná O SISCLAF é o projeto do território que melhor territorializa a idéia-guia no Sudoeste do Paraná. De acordo com o Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS), as idéias de sustentabilidade e protagonismo das populações do campo perpassam as discussões e ações no território. O SISCLAF é composto por vinte e três cooperativas singulares, as CLAFs (Cooperativas de Leite da Agricultura Familiar), e abrange vinte e três municípios do Sudoeste. É formado por mais de 3.750 famílias, produzindo cerca de quatro milhões de litros de leite ao mês. O Sistema foi criado no ano de 2003, porém sua história inicia antes, 8 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" com a criação das CLAFs, já no ano de 1998, quando foram constituídas cooperativas nos municípios de Renascença, Marmeleiro, Dois Vizinhos e Nova Prata do Iguaçu. A atividade leiteira caracteriza uma potencialidade da agricultura familiar, pois permite viabilizar economicamente unidades produtivas baseadas em pequenas extensões de terra. Por outro lado, embora seja uma atividade conhecida e comum aos agricultores familiares, esta necessita estruturar a sua cadeia produtiva, em razão de encontrar-se vulnerável a políticas de preço e de comercialização estabelecidas pelas indústrias de processamento. Diante da constatação desta realidade, entidades locais/regionais criaram as quatro primeiras CLAFs no início dos anos 90. Por sua vez, no ano de 2003, com base na estrutura do Sistema CRESOL, as CLAFs criam o SISCLAF. Este é constituído com o fim de estabelecer um elo entre as CLAFs, atuando no seu fortalecimento e expansão. Dessa forma, estabelecendo estratégias de ação em quatro eixos: organização, produção, comercialização e transformação, o SISCLAF tem desenvolvido um trabalho de fortalecimento da agricultura familiar através da cadeia leite. É importante ressaltar que o SISCLAF não atua de forma isolada, mas procura interagir com demais atores para atender as demandas da agricultura familiar. O mapa institucional, apresentado a seguir, traz os principais parceiros do SISCLAF, os quais interagem constantemente. Essa interação tem levado a formação de uma territorialidade em torno da atividade leiteira ou do Sistema, o que pode estar originando uma nova escala de poder e gestão. O mapa aponta uma densidade institucional de nível 01. Ou seja, em torno deste arranjo, há a presença de atores da sociedade civil, do Estado e do mercado; da escala local/regional até a nacional, tendo todos estes atores, acentuada importância na implementação e no desenvolvimento das ações do SISCLAF. Nesse caso pode-se observar que a sociedade civil organizar-se em torno de suas demandas, fortalecendo-se e assim, leva-as ao Estado. Porém para isso, conta com o apoio dos demais atores, os quais estabelecem relações recíprocas e sinérgicas, como pode ser visualizado abaixo: Figura 02. Mapa Institucional do SISCLAF – Francisco Beltrão - Sudoeste do Paraná Fonte: Elaborado com base nas entrevistas, dez/2006. 9 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" A ASSESOAR teve importante papel na formação das primeiras cooperativas singulares, sendo esta a entidade autora do projeto das CLAFs. Nesse sentido pode-se citar os STRs, que tratam do fornecimento da Carta de Aptidão necessário ao agricultor para a liberação do PRONAF. A CRESOL, enquanto banco cooperativo, fornece e repassa os recursos do PRONAF ao agricultor. As prefeituras e secretarias municipais de agricultura participam dos projetos, intermediando o repasse de recursos. Atores como EMBRAPA, UNIOESTE, UTFPR e ARCAFAR têm sua participação dada pela realização de pesquisas, elaboração de projetos, de acordo com as demandas do SISCLAF, além da avaliação do trabalho dos técnicos do Sistema. Já a UNICAFES, FETRAF, Fórum do SISCLAF atuam através da divulgação e disseminação de tais experiências, incentivando práticas cooperativas. Recentemente está iniciando-se parcerias com o SEBRAE e SENAI, objetivando-se a realização de cursos de formação e capacitação. Por fim, o Governo Federal, por meio do MDA/SDT, através do PRONAF, é responsável pelo fornecimento de grande parte dos recursos financeiros utilizados nos projetos do SISCLAF, sendo que a contrapartida local/regional ou mesmo estadual é menos significativa. Assim, ressalta-se que a participação dos atores tanto da sociedade civil, quanto do Estado e do Mercado é essencial para o desencadeamento de processos de desenvolvimento territorial rural sustentável. A participação destes atores em suas respectivas escalas pode ser visualizado no gráfico 01. Pela figura, é possível observar Gráfico 01. Densidade Institucional do SISCLAF: uma massiva participação da sociedade civil participação dos atores nas escalas de poder e gestão em torno do SISCLAF. Isso pode representar a organização da mesma em prol de minimizar suas debilidades e atender as suas demandas. O Estado, também apresenta considerável participação, responsável principalmente pela disponibilização de recursos financeiros e pesquisas. Isso demonstra que sua participação nos processos de desenvolvimento é imprescindível. Os atores pertencentes ao Fonte: Elaborado com base nas entrevistas mercado, neste caso, os laticínios, possuem (*) O cálculo da porcentagem é feito com base no número de atores e refere-se ao total em cada escala. participação mais discreta, restringindo-se a compra do leite. Gráfico 02. Participação das Escalas Por outro lado, pode-se evidenciar a Geográficas de Poder e Gestão no participação de cada uma das escalas no SISCLAF. SISCLAF (%) Destaca-se a participação da escala local/regional, com 46% dos atores, ao lado da escala nacional, com 38%, seguido da estadual (13%) e regional (4%) como é trazido pelo gráfico 02: A acentuada participação local/regional demonstra a capacidade de organização e mobilização de seus atores, que buscam parcerias nas demais escalas para atender estas demandas. Vale mencionar a discreta participação da escala estadual, sendo que esta se dá apenas pela sociedade civil. Esta constatação pode 10 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Fonte: Elaborado com base nas Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" apontar para a necessidade de uma integração maior entre políticas públicas federais e estaduais. Por sua vez, o fato da participação da escala regional, correspondente ao território, se mostrar discreta, pode ser decorrente da recente implantação da política, sendo que a territorialidade e institucionalidade em torno dessa escala estão em formação. A seguir, a partir da análise de um projeto específico do SISCLAF poderá se evidenciar o papel e a pertinência de cada ator e conseqüentemente a importância da densidade institucional no atendimento das demandas originadas na agricultura familiar. Sendo assim, o Projeto de Agroindustrialização de Leite da Agricultura Familiar no Sudoeste do Paraná, apresentado ao MDA/SDT em 2005, objetiva ampliar a área física e a capacidade de armazenagem e de transformação do leite da indústria em Itapejara do Oeste. No entanto, observou-se em campo que as obras estão paradas naquela unidade. As CLAFs são o público alvo deste projeto. Porém além de ampliar a produção e industrialização das CLAFs, os atores locais/regionais entendem ser necessário investir também na capacitação dos agricultores familiares. Para essa ação, o SISCLAF conta com atores parceiros como UTFPR, UNIOESTE, EMATER, SEBRAE. A COOPAFI bem como a COOPERIGUAÇU serão parceiras na comercialização dos produtos do SISCLAF. O Sistema também vem contando com o apoio de deputados federais, através de emendas parlamentares, o que contribui – em alguma medida – para descaracterizar a filosofia de gestão do território – a de que os projetos precisam passar pelo Conselho Gestor. Já os STRs dos municípios de abrangência do SISCLAF, bem como o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, são parceiros na mobilização e mesmo fiscalização do projeto. Por sua vez, à CRESOL BASER, à Prefeitura Municipal de Itapejara do Oeste e o MDA/SDT, fica a responsabilidade pela disponibilização dos recursos financeiros. A ampliação da estrutura da indústria requer um investimento direto de R$ 360.000,00. Deste valor, 97% será disponibilizado pelo MDA/SDT o que corresponde a R$ 349.200,00. A contrapartida, da Prefeitura Municipal de Itapejara do Oeste, será de 3%, ou seja, R$10.800,00. Estes valores evidenciam a importância da participação do Estado, afinal, é este o ator, tanto na escala local/regional quanto nacional, o responsável pela aplicação de recursos. Ou ainda, a sociedade civil dispõe de 29% dos recursos envolvidos, superior aos 21% da Prefeitura Municipal. Por sua vez, somando os 50% de participação do Governo Federal pelo MDA/SDT, aos 21% da Prefeitura, a participação do Estado chega a 71%. A intenção ao enfatizar estes valores, não é a de apresentar qual ator é mais importante, mas sim, demonstrar que o projeto apenas se torna viável a partir da participação de cada um destes atores, ou seja, a partir da formação de uma densidade institucional em torno do mesmo. Da mesma forma como o SISCLAF, o projeto ora analisado possui um nível de densidade 01, envolvendo atores da escala local/regional até a nacional. 1.3 Associação FRUTIVALE, Datas – Alto Jequitinhonha/MG No território rural do Alto Jequitinhonha, a idéia-guia passa pela geração de trabalho e renda. Conforme mencionado pelos atores, as políticas de geração de trabalho e renda estão relacionadas ao fomento da agricultura familiar. Assim a criação de canais de comercialização foi considerada um objetivo fundamental. 11 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Dessa maneira, o projeto da Associação Frutivale foi elencado como aquele que melhor está territorializando a idéia-guia. Este abrange treze municípios, mas sua estrutura central está localizada no município de Datas, onde funcionará um entreposto de insumos, a agroindústria de polpa e a produção das mudas. A Associação está incluída nas ações territoriais do eixo da fruticultura, que junto ao de apicultura e derivados de cana formam os principais eixos de ação para o desenvolvimento do território. A Frutivale caracteriza uma associação de produtores que contou com recursos de diferentes fontes (prefeituras, MDA, CONAB e os produtores de morango) para sua estruturação: a produção de mudas envolve 114 agricultores familiares e a produção de polpa, 224. Atualmente, a agroindústria e o entreposto de insumos estão em fase de construção. Já as mudas, em mais de vinte variedades, estão sendo distribuídas entre os associados. O que justificou a criação da Frutivale bem como a produção de mudas e a construção da agroindústria foi a reduzida expressão da agricultura familiar no Alto Jequitinhonha. Além disso, outro fato que acabou incentivando a realização deste projeto foi a possibilidade de aproveitamento das frutas já produzidas no território, inclusive “as de fundo de quintal” através do PAA programa do MDA/SAF e CONAB. Assim, os objetivos que o projeto pretende alcançar referem-se a desenvolvimento da fruticultura, considerada uma fonte alternativa e viável de geração de emprego e renda. Com base nisso, se propõe ainda a criação de redes de parcerias, organizando a produção e a agroindústria. Pode-se citar alguns pontos fortes deste projeto como clima, solo e água favoráveis; atividade que demanda mão-de-obra; mercado em expansão; facilidade transporte e insumos; parceria com instituições de pesquisa, que tendem a ser potencialidades do território. Com base nas potencialidades e contornando debilidades, até o momento já foi possível (1) implementar uma área com o plantio de mudas frutíferas, (2) construir uma estufa e parte do prédio da agroindústria de polpa, (3) iniciar a construção do entreposto de insumos, (4) entregar mudas aos agricultores familiares, bem como (5) comercializar morangos com a CONAB, através do PAA. O projeto de produção de mudas, de produção de polpa e a implementação da agroindústria conta com um nível de densidade institucional 01, como é possível observar no mapa institucional: Figura 03. Mapa Institucional da Associação Frutivale – Alto Jequitinhonha 12 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Fonte: Elaborada com base nas entrevistas, dez/2006. Estes atores desempenham diferentes funções dentro do projeto. A sociedade civil, da escala local/regional, como os STRs, bem com a associação dos agricultores da Frutivale, são responsáveis pela deliberação das ações desenvolvidas na Associação. Os agricultores familiares produtores de morango, além de beneficiários, também fornecem os morangos para a CONAB via PAA. O CMDRS de Datas é responsável pela operacionalização das atividades no dia-a-dia da Associação. Já o CEDRS, tem prestado consultoria, participado da tomada e deliberação de decisões. Na escala regional, a AMAJE foi responsável pela elaboração do projeto na área da engenharia civil. Ainda da sociedade civil, a PUC é parceira prestando serviços de consultoria empresarial. Dos atores do Estado, as treze prefeituras, pertencentes à escala local/regional, prestam diferentes formas de apoio a Associação, dentre eles, o financeiro. A EMATER de Datas exerce a gerência geral do projeto e a EMATER Regional participa através de atividades de mobilização dos associados. A EMBRAPA e a EPAMIG tem prestado consultoria técnica e fornecido as mudas. A UFVJM disponibiliza apoio em agronomia e extensão rural. Por sua vez, a Comissão de Implantação das Ações Territoriais (CIAT) participa da tomada de decisões, sendo que a Frutivale é o projeto do eixo da fruticultura, proposto pelo plano de desenvolvimento do território. Nesse sentido, o IDENE presta apoio institucional ao CIAT. Já o MDA é responsável pela liberação de recursos financeiros para a construção das estruturas físicas e a CONAB entra com os recursos de comercialização através do PAA. Por fim, dente os atores do Estado, as escolas estaduais são as beneficiárias do projeto, pois recebem a polpa para o preparo de sucos na alimentação escolar, além de ajudarem na divulgação do mesmo. Dos atores pertencentes ao mercado, a MAP Frutas é um canal de comercialização em construção e um “potencial” parceiro para a ampliação dos negócios. 13 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" A atuação do Estado não se restringe a disponibilização de recursos financeiros. Vários atores são parceiros na prestação de consultoria técnica, administrativa, participam das tomadas de decisão, na mobilização, que se torna possível pela organização e mobilização da sociedade civil na escala local/regional. Já a interação e as relações com os atores do mercado, tornam-se essenciais para que seja possível a geração de emprego e renda, um dos objetivos do projeto e da Gráfico 03. Densidade Institucional da Frutivale: idéia-guia. participação dos atores nas escalas de poder e gestão (%) Para melhor visualizar a participação da sociedade civil, Estado e mercado em suas respectivas escalas é apresentado o gráfico 03. Este aponta para um predomínio dos atores do Estado nas escalas nacional e estadual, respondendo por mais da metade dos atores. (83% e 67%, respectivamente). Por outro lado, na escala local/regional e regional essa realidade se inverte, havendo um predomínio da sociedade Fonte: Elaborada com base nas entrevistas, dez/2006. civil sobre os demais atores (75% e 100%, respectivamente). O mercado apresenta-se mais discreto, com a participação apenas na escala estadual, representando nela, 17%. Gráfico 04. Participação das Escalas Geo. Vale destacar ainda que na escala local/regional de Poder e Gestão na Frutivale (%) constata-se a presença de um número total de atores superior às demais escalas (36%), como consta no gráfico 04. Isso parece demonstrar uma organização da sociedade civil em torno de suas demandas, que, ao interagir com as demais escalas, passam a implementar projetos e ações que atendem às demandas territoriais. Sendo assim, e pela diversidade de atores presentes no projeto da Associação Frutivale, considerase que o mesmo vem atendendo seus objetivos, colocando-se como uma ação viável que vai de encontro à idéia-guia, ou seja, a implementação de políticas de geração de trabalho e renda para a agricultura familiar, através da criação de canais de comercialização. 1.4 CENTAF - Centro de Formação da Agricultura Familiar São José Operário, Silvânia – Estrada de Ferro/GO Fonte: Elaborada com base nas entrevistas, dez/2006. No território rural Estrada de Ferro a idéia-guia que mobiliza os atores em relação às ações territoriais refere-se ao fortalecimento da agricultura familiar, através da capacitação e da qualificação profissional, gestão da propriedade, baseada em noções de diversificação produtiva, geração de renda, qualidade fitossanitária e cuidados com o meio ambiente. Os atores ressaltam a necessidade de captação de recursos direcionados à agricultura familiar, de modo a aumentar a inserção de tecnologia na produção, aliada à educação no campo, para que a mão-de-obra familiar consiga utilizar tal tecnologia. Isto 14 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" poderia servir como um estímulo à criação de mais agroindústrias, cooperativas de produção e crédito de agricultores familiares e canais de comercialização dos produtos agrícolas, pecuários e o artesanato. Com base nesta idéia-guia, foi destacado o processo de constituição do CENTAF no município de Silvânia. Este Centro é uma iniciativa da UBEC (União Brasiliense de Educação e Cultura), uma associação civil, confessional de direito privado e de caráter assistencial, educacional, filantrópico e sem fins econômicos, com sede no Ginásio Anchieta em Silvânia, e do CIAT Estrada de Ferro. A proposta inicial do projeto pedagógico do CENTAF foi apresentada pela UBEC ao CIAT em dezembro de 2005, sendo que a mesma foi discutida pelo grupo de atores que compõem o CIAT, e posteriormente aprovada. A partir de então, começaram a haver ajustes na proposta e captação de recursos. Atualmente o projeto está pronto, sendo que o seu funcionamento iniciará em julho de 2007, e abrangerá alunos de todos os municípios do território da Estrada de Ferro. A idéia do CENTAF, um centro de formação que objetiva a capacitação dos agricultores familiares, através de cursos técnicos, foi sendo construída a partir da necessidade sentida pelos atores locais/regionais em qualificar a mão-de-obra dos homens, mulheres e jovens do campo de modo a diminuir o êxodo rural e criar novas formas de capital social para que as políticas públicas tenham maior abrangência e efetividade. No CENTAF o curso técnico inicial será o de agropecuária familiar. A duração deste curso técnico será de 1 ano e 6 meses, tendo como base a pedagogia da alternância. Outros cursos técnicos estão sendo projetados, como o de Agroindústria Familiar, para ser direcionado principalmente para o APL Lácteo existente no território, seguidos de curso de artesanato, desenvolvimento sustentável, e outros, conforme demandas que irão surgir no território. Deverão ocorrer também cursos de curta duração para grupos de agricultores e agricultoras do território, especialmente ligados aos interesses territoriais da Estrada de Ferro como, por exemplo, correlatos à pecuária leiteira, à apicultura, ao orgânico, ao associativismo, ao cooperativismo, entre outros. É importante ressaltar ainda que, pretendendo reduzir sua dependência de recursos externos que o viabilize, serão empreendidas no CENTAF, práticas de ecoturismo associado à educação ambiental para grupos escolares, empresariais e familiares, além da prática de turismo educativo para grupos que se interessem por processos de produção alternativos (orgânicos, agroecológicos, homeopatia, artesanato, economia solidária, entre outros). Por outro lado, vale enfatizar que os atores envolvidos no CENTAF não estão restritos aos doze atores que compõem a UBEC. Para que o Centro entre em funcionamento e gere as transformações territoriais apontadas pela idéia-guia, constituiu-se em torno do CENTAF um nível de densidade institucional 01, como aponta o mapa institucional abaixo: Figura 04. Mapa Institucional do CENTAF - Silvania – Estrada de Ferro/GO 15 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Fonte: Elaborado com base nas entrevistas, dez/2006. Estes atores cumprem diferentes papéis na constituição do CENTAF. A sociedade civil da escala local/regional, como os STRs, associações, central de associações, ONGs e cooperativas de crédito enquanto integrantes do CIAT, são responsáveis pela fiscalização do projeto. Além disso, ainda os STRs e as associações, junto das cooperativas de produção, prestarão auxílios de diversas ordens, quando possível e/ou necessário, aos futuros alunos. Por sua vez, o Ginásio Anchieta irá disponibilizar a estrutura física e redimensionar parte dos recursos de filantropia da UBEC bem como recursos humanos, a qual irá ainda elaborar, executar e gerir o projeto pedagógico do CENTAF. Os atores do Estado, como as Secretarias Municipais da Agricultura atuarão no desenvolvimento de programas/projetos de apoio aos alunos egressos do CENTAF para utilizá-los nos municípios. As Secretarias Municipais de Educação atuarão na sensibilização e mobilização dos candidatos/estudantes. As Secretarias Municipais de Assistência Social ficarão responsáveis pelo endosso dos candidatos a freqüentar o CENTAF. Já as Prefeituras arcarão com os custos de transporte dos alunos, das propriedades para o Centro e vice-versa. Na escala estadual, os atores do Estado, como UEG e SECTEC atuarão em parcerias futuras no desenvolvimento de projetos. A Agência Rural deverá acompanhar o desenvolvimento dos alunos e de suas propriedade. As secretarias estaduais de Educação; Agricultura Pecuária e Abastecimento e a Superintendência de Agricultura Familiar disponibilizarão recursos humanos, além do estabelecimento de diversas parcerias/projetos. A Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento atuará também, no fornecimento de recursos tecnológicos. Já na escala nacional, a UCB será parceira futura principalmente em projetos ambientais, além de prestar assessoria pedagógica e técnica, mesmo papel do SENAR. O MEC repassará recursos para a montagem dos laboratórios. A EMBRAPA participará com várias sucursais, principalmente a EMBRAPA leite. O CTDRS/CIAT, através de cooperação técnica-institucional irá fiscalizar a participação e estabelecer convênios com 16 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" os municípios, para que a UBEC possa realizar convênios com o território. Por fim, os recursos financeiros para a implementação do CENTAF serão disponibilizados pela Secretaria Executiva do PRONAF, partindo do MDA/SDT a liberação de equipamentos para o território de modo que este possa conceder os equipamentos para o CENTAF. Vale destacar ainda que haverá a participação de atores do mercado, ou seja, empresas de insumos agrícolas, que disponibilizarão os insumos para aulas práticas dos cursos do CENTAF. Porém, o nome das empresas, não foi divulgado pelo Centro. Observa-se que a os recursos financeiros provêm de diferentes fontes, das diversas escalas, com destaque para o Estado, na escala nacional. Desta forma, fica evidenciado que a participação de todos os atores é imprescindível para a concretização dos objetivos e implementação do CENTAF. Ou seja, a densidade institucional de nível 01 está permitindo a elaboração e breve concretização das demandas que foram apontadas na idéia-guia. A participação da sociedade civil, Gráfico 05. Densidade Institucional do CENTAF: Estado e mercado em suas respectivas participação dos atores nas escalas de poder e gestão escalas está expressa no gráfico 05. Este demonstra um acentuado predomínio da presença do Estado, nas três escalas geográficas de poder e gestão, no que se refere ao processo de constituição do CENTAF. De um total de 29 atores, 66% são representantes da esfera estatal e 34% da esfera da sociedade civil. Vale ressaltar, que os atores pertencentes ao mercado (fornecimento de insumos), também estão se fazendo presentes como parceiros neste Fonte: Elaborado com base nas entrevistas, dez/2006. projeto. Por sua vez, como aponta o gráfico 06, quanto Gráfico 06. Participação das Escalas Geo. de Poder e Gestão no CENTAF (%) à participação de cada escala, há um predomínio da local/regional (43%), seguido da estadual (30%) e nacional (27%). Além da expressiva participação dos atores locais/regionais e nacionais, a estadual também chama bastante atenção, sendo que nos demais projetos analisados, a participação em número de atores é menos significativa. Isso, no caso do CENTAF, pode representar uma integração maior de políticas e ações do estado da esfera estadual e federal, considerando que os atores da escala estadual pertencem ao Estado. Tal integração é considerada positiva em relação ao desenvolvimento de territórios rurais. Observa-se assim, que a diversidade de atores Fonte: Elaborado com base nas presentes, atende as demandas do projeto, sendo que entrevistas, dez/2006. apenas o conjunto enquanto tal, “parece” ter a capacidade de levar o CENTAF à sua efetiva implementação. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DA METODOLOGIA DAS ESCALAS GEOGRÁFICAS DE PODER E GESTÃO E DOS QUATRO PROJETOS ANALISADOS 17 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" A partir da caracterização dos projetos dos quatros territórios rurais, CORAC (Seberi, RS) SISCLAF (Francisco Beltrão, PR) CENTAF (Silvania, GO) e Associação Frutivale (Datas, MG) pode-se fazer algumas considerações tomando-se por referência os dados resultantes da metodologia das escalas. A seguir, muito brevemente, tentar-se-á apresentar como esta metodologia pode servir enquanto ferramenta para o planejamento das ações e dinâmicas territoriais. Os quatro projetos analisados apresentaram níveis de densidade institucional 01, com atores da sociedade civil, Estado e mercado, das escalas local, local/regional, regional, estadual e nacional. Contudo, houve duas exceções. No caso da CORAC (RS), há a presença de apenas duas escalas - local/regional e nacional - com atores da sociedade civil e Estado. Considerou-se o projeto também de nível 01 em razão de haver a presença da escala nacional. No entanto, ressalta-se que a pequena diversidade de atores e escalas pode representar futuros obstáculos ao projeto, como por exemplo, a sua continuidade após o fim do PAA. A outra exceção refere-se ao CENTAF (GO) que apresentou apenas três escalas local/regional, estadual e nacional. Porém, isto decorreu do grande número de atores presentes neste projeto, além do tempo reduzido para a realização da pesquisa de campo, o que não permitiu um aprofundamento maior sobre os projetos. Isto reduz a riqueza de detalhes e informações, porém não interfere, de modo geral, nos resultados finais da análise. No mais, a partir do mapa institucional e do gráfico que aponta o percentual de participação dos atores, foi possível observar uma predominância da escala local/regional enquanto número de atores envolvidos. A tabela abaixo apresenta comparativamente os quatro projetos: Tabela 02. Participação de cada escalas nos 4 projetos Projetos Escalas Local/Regional Regional Estadual Nacional TOTAL CORAC (RS) 85% *** *** 15% 100% SISCLAF (PR) CENTAF (GO) Ass.Frutivale (MG) 45% 43% 35% 4% *** 9% 13% 30% 28% 38% 27% 28% 100% 100% 100% (***) Escala não existente Fonte: Elaborado com base nos mapas institucionais. A significativa participação da escala local/regional pode ser reflexo da capacidade de organização e mobilização dos atores locais/regionais em torno de suas demandas. Vale ressaltar ainda que esta escala, somada à regional (quando existente) eleva sua participação para próximo dos 50%. Observada a escala regional (correspondente aos territórios rurais) de forma individual, sua participação, quando existe, é discreta. Isso pode ser conseqüência do fato da implementação da política dos territórios rurais ser relativamente recente. Por outro lado, aponta para que as futuras ações nos territórios incentivem a construção de uma identidade/territorialidade em torno desta delimitação, de modo que não se constitua mais uma regionalização dentre as muitas já existentes. A participação das escalas estadual e nacional permanece num patamar semelhante no território Estrada de Ferro (30% e 27% respectivamente) e no Vale do 18 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Jequitinhonha (ambos 28%). Realidade oposta observada no território Médio Alto Uruguai, onde não há presença da escala estadual, conseqüência de contatos e representações políticas mais diretas com a escala nacional. No Sudoeste do Paraná, a escala estadual representa 13% dos atores enquanto que a nacional 38%. Quanto à escala estadual e nacional pode-se observar ainda que, exceto no caso do Sudoeste do Paraná, o ator que mais se destaca é o Estado (ver tabela abaixo). Considerando-se que, há uma mobilização local/regional significativa em torno das demandas desta escala nos quatro casos, a participação do Estado pode representar uma relação de sinergia entre escalas, ou ainda, entre sociedade civil local/regional e Estado na escala estadual e nacional. Considerando ainda que nos quatro projetos, na escala local/regional predominam atores da sociedade civil e na estadual e nacional, atores do Estado, podese afirmar que este é um indício do que traz Bobbio, quando menciona que o papel do Estado está relacionado ao atendimento das demandas levada a ele pela sociedade civil. Considerando real esta premissa, o Estado, também de âmbito municipal, poderia, por exemplo, voltar-se à construção de novos canais de comunicação com a sociedade civil, de modo a melhor atender suas demandas. Além disso, a discreta participação do Estado na escala estadual em dois territórios aponta para uma necessidade de construção de canais de comunicação entre estes dois níveis de poder – federal e estadual - de modo a somar forças e reduzir esforços empreendidos em ações que por vezes, tem os mesmos objetivos, mas correm paralelas, sem interagirem. ESCALAS Local/Regional Regional Estadual Nacional Total por escala TOTAL Tabela 03. Participação das escalas e atores nos 4 projetos PROJETOS/ATORES (%) CORAC SISCLAF CENTAF Ass.Frutivale (RS) (PR) (GO) (MG) SC E M SC E M SC E M SC E M 85 24 13 8 30 13 26 9 *** *** *** 4 *** *** *** 9 *** *** *** 13 30 5 18 5 15 21 17 4 23 5 23 85 15 0 62 30 8 34 66 0 45 50 5 100% 100% 100% 100% (***) Escala não existente Fonte: Elaborado com base nos mapas institucionais. Por sua vez, o mercado aparece de forma muito mais discreta. Está presente no Sudoeste do Paraná, na escala local/regional (8%) e no Vale do Jequitinhonha, na escala estadual (5%). Pode-se fazer duas considerações a este respeito. A discreta participação de atores pertencentes ao mercado, pode apontar para a realização de futuras ações de integração entre as experiências e o mercado já que a idéia guia do território do Médio Alto Uruguai e Vale do Jequitinhonha, passa explicitamente pela busca de novos canais de comercialização o que aparece implícito também nos outros dois territórios. Por outro lado, ressalta a importância de se distinguir o mercado dos demais atores da sociedade civil, como apontado anteriormente. A restrita participação do mercado, principalmente enquanto ator protagonista, sendo que sua presença nos projetos se dá por meio de parcerias, certamente está relacionada ao seu objetivo: centrado mais na obtenção de lucro e menos na perspectiva social, como no caso dos movimentos sociais. 19 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Porém entende-se ser importante uma maior integração com estes atores, pois esta acaba sendo uma forma de viabilizar a idéia-guia mencionada. Mais especificamente, quanto aos projetos, é possível afirmar que a densidade institucional em torno dos mesmos tem permitido que estes atinjam os objetivos a que vem se propondo. Os diferentes atores e escalas têm cumprido ou assumido diversos papéis, tornando possível atender a demandas dos territórios rurais. Foi observado ainda pelos pesquisadores, a predominância da presença de atores voltados à agricultura familiar, com exceção do CENTAF, que integra diversas áreas. Esta constatação parece, a priori, gerar ações setorializadas. Porém, as ações desenvolvidas nos projetos apontam para uma visão de agricultura, não mais restrita à produção de alimentos, mas sim, uma agricultura voltada à produção, processamento (leite/SISCLAF; frutas/Frutivale) e comercialização (PAA – CORAC, Frutivale; SISCLAF em conjunto negociando com as empresas processadoras). Por sua vez, o projeto do CENTAF, que engloba uma considerável diversidade de atores quanto à sua área de atuação (atores voltados à educação, assistência social, ciência e tecnologia, assistência rural) expressa bem a visão da dinâmica territorial do desenvolvimento rural. A partir de investimentos na educação, os atores locais/regionais pretendem fortalecer a agricultura familiar através da capacitação, qualificação profissional e gestão sustentável da pequena propriedade, procurando superar uma visão setorial. Os projetos ligados ao PAA (CORAC, Frutivale), também podem ser aqui citados, uma vez que, além de beneficiarem os agricultores familiares, beneficiam famílias carentes, escolas e hospitais. Enfim, as considerações feitas ao longo desta seção, não podem ser consideradas finais, mas sim considerações preliminares ou mesmo iniciais. O tempo reduzido para a realização do trabalho de campo não permitiu um aprofundamento maior de cada projeto. As considerações ora trazidas são feitas no sentido de demonstrar a aplicabilidade da metodologia de escalas aos processos de desenvolvimento territorial. O que se pode observar, é que existem diversas escalas de poder e gestão atuando na transformação do espaço, levando a novos usos políticos e econômicos, ou seja, gerando transformações territoriais. Ao observar as escalas e seus respectivos atores, ao lado do papel de cada um no território, é possível perceber sua relevância para os processos de desenvolvimento, além de poder-se elencar e buscar potenciais atores e ações necessários ao alcance dos objetivos a que os projetos se propõem. Como exemplo, pode-se citar novamente o mercado, cuja participação tende a gerar resultados positivos quando se pretende abrir novos canais de comercialização para a agricultura familiar. Enfim, a análise escalar constitui um método não dicotômico de apreensão da realidade. O método leva em consideração elementos ou atores distintos mas imbricados, que empregam novos usos políticos e econômicos do território. Cada ator possui sua territorialidade, e o recurso das escalas recupera a importância dos atores relegados a posições coadjuvantes nas análises centradas no marco estatal, atribuindo relevância a várias dimensões que interconectadas, influenciam na dinâmica territorial. REFERENCIAS 20 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" ACSELRAD, Henri. Território e Poder: as políticas das escalas. In: FISCHER, Tânia (org.). Gestão do Desenvolvimento e Poderes Locais: marcos teóricos e avaliação. Salvador: Casa da Qualidade, 2002. BECKER, Berta. O Uso Político do Território: questões a partir de uma visão do terceiro mundo. In: BECKER, Berta K.; COSTA, Rogério K.; SILVEIRA, Carmem B.; (orgs.) Abordagens Políticas da Espacialidade. Rio de Janeiro: UFRJ, 1983. BOBBIO, Norberto. Democracia e Ditadura. 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