ÁGUA. DÁDIVA FINITA. QUE SE ACABA.
Abél Costa de Oliveira1
Encontrava-me num auditório composto de alunos e professores, a proferir uma palestra
sobre água. Sim, água, esse recurso indispensável para a nossa sobrevivência. Falava eu
sobre o mau uso que fazemos desse bem imprescindível à vida. Quando alguém da
platéia me aparteou para questionar minha insistência de que a água não é um bem
infinito, como se pensava alhures. Mas, um bem finito, esgotável.
Mestre desculpe-me a intervenção, disse-me o interlocutor. Mas, no caso do Brasil, nós
temos abundância de água. É só dar uma pesquisada a respeito do Aqüífero de Guarani
e os mananciais da Amazônia. Como se pode afirmar que vai faltar água, pelo menos
em nosso país?
Ora, seu posicionamento não deixaria de ser correto, tendo em vista que o Brasil
concentra 12% da água doce do mundo disponível em rios e abriga o maior rio em
volume do Planeta – o Amazonas.
Também é exata a assertiva que o nosso território recebe chuvas em abundância durante
o ano todo, pelo menos em 90% do país. E que em face das condições climáticas e
geológicas, temos extensa e densa rede de rios, exceto no Semi-Árido, pois lá os rios
são pobres e temporários.
Mas, o que ocorre caro interventor disse-lhe, sem ignorar a platéia presente: é que essa
água toda, farta, em grande proporção, não está distribuída de forma regular. Pois, na
Amazônia, onde está a sua grande presença, encontra-se a mais baixa concentração
populacional, possuindo 78% da água superficial. Enquanto isso, no Sudeste, onde a
situação se inverte, eis que se encontra a maior concentração populacional, contra 6% seis por cento apenas – da disponibilidade do total da água.
E mercê do desperdício, que chega entre 50% a 70% nas cidades, e sem os cuidados
com a sua qualidade, grande parte da água vem perdendo a característica de recurso
natural renovável. Isso por conta dos processos de urbanização, industrialização e
produção agrícola, no qual se ignoram a preservação ambiental.
Ademais, ocorrem perdas na rede de distribuição por roubos ou vazamentos (40% e
60%), afora os 64% das empresas que deixam de coletar seus esgotos.
Enfim, a água disponível em nosso território seria o suficiente para as necessidades da
população brasileira, ainda que vítima de um processo de poluição, degradação e
desperdício. Isso, acaso se programe urgentemente um efetivo controle de sua
utilização, acompanhado de um rigoroso projeto de educação ambiental, em todos os
níveis escolares, capaz de se alargar também para a comunidade.
Então, estejamos atentos, pois embora 70% do planeta sejam constituídos de água,
somente 3% são de água doce e, desse total, 98% estão no subterrâneo, o que implica
dizer que, a parte da água disponível para consumo é muito pequena tendo em vista o
total de água existente.
Cientistas já estão fazendo um alerta, sério, preocupante: “o crescimento populacional
deve levar a uma crise da água” no Planeta. “Estudo do PNUMA e do IWMI,
apresentado na Semana Mundial da Água, aponta que aumento do número de
habitantes no planeta e atual agricultura podem ameaçar recursos hídricos e
ecossistemas da Terra2.
2
Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
No dia 22 de março, comemorou-se o Dia da Água. Precisamos agir com respeito a esse
precioso líquido para que no próximo ano possamos fazer uma comemoração vitoriosa.
Como a dizer, estamos aprendendo a usar esse bem tão importante para a nossa
existência e das demais formas de vida.
Sabendo usar, não vai faltar!
1
Oliveira, Abél Costa de. Especialista em Direito Ambiental pela UNICAN/RJ. Mestre em Gestão e
Auditoria Ambiental, pela Universidad de León, Espanha. Consultor Jurídico Ambiental.
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