O acesso aos instrumentos culturais e sociais pelo contato com o livro
por meio da biblioteca móvel-Itinerante.
William Rodrigues Paiva- USC Pedagogia- [email protected]
Gislaine Rossler Rodrigues Gobbo- USC- Universidade do Sagrado Coração de
Jesus, Unesp -Marília, Unesp- Bauru, prefeitura Municipal de Bauru.
[email protected].
Alexandre A. Castro de Souza Freitas- Universidade Estadual Paulista.
[email protected]
Modalidade comunicação oral
Categoria: pesquisa em andamento
Eixo 3- Linguagem e literaturas nos processos educativos
Palavras-chave: Biblioteca itinerante; Livro; Bakhtin; Cultura
Introdução
A compreensão e conhecimento da realidade exige do homem uma atitude
concreta de um sujeito histórico que age, atua e se relaciona com os outros, movido
por necessidades e interesses dentro de um conjunto de relações sociais. Esse ser
humano elabora ideias sobre sua realidade, sobre seu mundo, pelo qual
compreende segundo suas representações concretas e objetivadas em contato com
os instrumentos simbólicos e materiais. Neste estudo apresentamos o livro, como
uma das formas objetivadas de acesso à cultura, às relações sociais e à realidade.
O livro pode contribuir com a percepção da realidade, carregando em sua
materialidade o possível contato com o mundo elaborado historicamente pela
humanidade, pois a realidade não se apresenta de forma intuitiva a um sujeito
abstrato que existe fora do mundo, mas pelas ações práticas no qual o homem cria
e elabora suas representações das coisas no contato com elas.(KOSIK, 2010).
Fundamentação do estudo
Para Vigotski (2001), o homem é um ser histórico e social e se forma em suas
relações com o mundo objetivado e concreto. O homem não nasce humano, se
humaniza nos processos históricos e sociais.
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Kosik (2010) em seus estudos postula que esse contato com o mundo em
uma situação imediata, não se trata de uma situação real, mas sim, uma percepção
chamada de pseudoconcreticidade.
O conceito de atividade permeia toda produção de Leontiev (1978), o sujeito
que está em atividade, está orientado e motivado. Desse modo, o livro gera a
atividade humana quando o sujeito o manuseia orientado por motivos, impulsionado
por um sentido concreto que busca um fim.
Davidov (1988) contribui com nossa análise, ao divulgar os processos da
formação de conceitos e desenvolvimento do pensamento. O autor nos ensina que
por meio do conhecimento científico atingimos ápices de desenvolvimento intelectual
ao resolvermos problemas, enfrentarmos dilemas, tomarmos decisões, formularmos
estratégias de ação.
Na base do pensamento de Davidov (1988) está a formação dos conceitos
científicos. Nosso dia-a-dia nos proporciona atividades práticas cujas bases
formulam nossos conceitos cotidianos. A evolução dos cotidianos para os científicos
ou teóricos dependem das relações estabelecidas com formas mais complexas de
atividades que geraram os conceitos mais avançados.
Bakhtin, (2003), defende o ensino da língua não restrito às formas
gramaticais, mas segundo a estratificação dada pela axiologia, isto é, compreende a
língua em sua produção social nas diferentes experiências sócio-históricas. As
vozes sociais, para a filosofia da linguagem bakhtiniana, designam a Heteroglossia.
Entretanto inclui-se nela a dinamicidade do diálogo.
Quando lemos um livro, devemos considerar que todas as personagens da
narração ocupam um plano plástico-pictural, inclusive "o eu" é o outro, ou seja,
reveste-se de imagem externa. Essa é a tarefa do livro, apresentar o mundo e o
embate entre forças centrípetas e centrifugas no cotidiano.
Metodologia
Instrumentos de geração de dados
A metodologia que nos orientou foi a qualitativa do tipo pesquisa participante.
A denominação participante envolve a presença de um pesquisador atuando em um
campo de investigação.
Selecionamos a observação como técnica permeia todo processo desde a
coleta, hipóteses, análise e interpretação de dados. (GIL, 1999).
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Entrevista não estruturada foi escolhida, pois o entrevistador não necessita
apresentar todas as questões para o entrevistado. (MANZINI, 1991).
Optamos por Registrar as falas, com correção gramatical
maior compreensão
e linguística, para
e clareza. Usaremos as iniciais dos nomes dos sujeitos
envolvidos. Foram selecionados três participantes, um de cada faixa etária.
Sujeito (1) J. B. menciona que:
Quando vi os livros e percebi que eram de graça, eu vim logo buscar um.
(J.B.) selecionou um livro de poesia e acrescentou.
As pessoas precisam saber que o amor existe e é uma história que precisa
ser contada.
Antes de ir embora, ele falou que estava à procura de um livro sobre amor.
Sujeito (2) (O.)
Sr. (O.) 77 anos de idade, mineiro, atualmente reside na cidade. Sr. (O.)
aprendeu a ler com a ajuda dos filhos. Escolheu um livro com letras grandes , pois
possuía um problema visual. Após selecionar um título, desejou socializar a
importância da educação como elemento transformador.
Antes de vir para o interior de São Paulo, Sr. (O.) morava em uma pequena
cidade de Minas Gerais. Nessa época, era um pequeno agricultor, que não teve
oportunidade de frequentar uma escola, pois além de ter que trabalhar pela
manutenção familiar não havia uma naquela região. Preocupado com a vida escolar
de seus filhos, doa espaço para que o prefeito faça uma sala de aula.
Sujeito (3) (K) era uma criança com quatro anos em fase inicial de
alfabetização (K.) se aproximou dos livros três vezes e questionou:
Sujeito (3) Quanto é? Quanto custa? Quanto está?
Conforme esclarecemos sobre o projeto para a mãe de (K) ocorreu o
desvelamento de que há objetos que não são vendidos, e sem fins lucrativos.
Discussão dos dados.
Sujeito (1) denota que base de seu
pensamento
está orientada pelos
conceitos cotidianos. O dia-a-dia de (J. B.) proporciona atividades práticas cujas
bases estruturam sua consciência e pensamento .
A evolução dos conceitos cotidianos para os científicos ou teóricos
(DAVIDOV, 1988) dependem das relações estabelecidas com formas mais
complexas, desse modo, o contato com o livro poderá contribuir com as formas
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mais evoluídas dos conceitos, pois percebe-se que
(J. B.) deseja vivenciar
situações empáticas pelos temas presentes no livro, como também a proposta
defendida por Bakhtin (2003), sobre a dialogia com outro, pelo qual se refere quando
diz "é uma história que precisa ser contada".
Sujeito (2), o Sr (O.) não foi possível o acesso à escola. A aquisição leitora e
escritora foi dada ao Sr. (O.) tardiamente pelas mãos dos filhos. Nesse sentido, nos
ancoramos nos estudos de Kosik (2010) pela defesa da percepção da realidade,
pois ao Sr. (O.) foi negado um direito, essa ação desencadeou outras pelas quais
Davidov (1988) nomeia de desenvolvimento dos conceitos. Ao privar o Sr, (O.) dos
conhecimento científicos ocasionou a ausência da capacidade leitora e escritora, por
isso o Sr. (O.) procura o prefeito para que seus filhos possam usufruir do que lhe foi
negado. Assim, quando o sujeito (2) procura a biblioteca móvel-itinerante, deseja
recuperar seu tempo perdido, adotando o livro como elemento mediador do ensino.
Sujeito (3) K. é uma criança com quatro anos e estava aprendendo a ler,
trazia consigo a ideologia de que o livro possui valor, ou melhor, preço. Bakhtin
(2003) refere-se à ideologia como elemento construído a partir das relações
culturais. Como Kosik (2010) que faz menção a ideia de que as representações de
mundo são elaboradas no contato com os instrumentos materiais. (K.) demonstrou
prazer em poder adquirir um instrumento que remete a muitas representações. A
ação de guardar o livro após o questionamento do valor ou preço, mostra-nos que
(K) poderia adquirir um bem cuja propriedade pertence muitas vezes somente aos
adultos.
Considerações finais
A Biblioteca Móvel-itinerante defende o processo da formação de uma
pessoa leitora, sem utopia, possível se conquistada pela atividade humana, aquela
cuja natureza é o trabalho humanizado.
O livro, enquanto mediador no processo colaborativo de ensino, ocupa o
papel do “Outro” - pessoa mais experiente ou um instrumento cultural.
Com tal intuito, nossa pretensão foi demonstrar que o livro pode exercer a
função mediadora no desenvolvimento intelectual humano, pois ao ser portador de
aprendizagem promove funções psíquicas complexas.
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Referências
BAKHTIN, Mikhail . Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
DAVÍDOV, Vasiliv. V. La enseñanza escolar e el desarrollo psíquico: investigación
psicológica teórica y experimental. Moscou: Editorial Progresso, 1988.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas da Pesquisa Social .São Paulo: Editora Atlas
1999.
LEONTIEV, Alex. N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizontes,
1978.
KOSIK,Karel. Dialética do Concreto. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2009.
MANZINI, Eduardo. A entrevista na pesquisa social. Didática. São Paulo,v.26/27,
1990/1991, p.149-158.
VIGOTSKI, Lev. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Ed.
Martins Fontes, 2001.
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