Estudo de caso sobre violações de direitos e violência
intrafamiliar em três gerações
Maria Cleonice Pereira
UNESP Faculdade de Ciências e Letras GEPIFE Programa de Pós graduação
em Educação Sexual Araraquara/SP
[email protected]
Márcia Cristina Argenti Peres
UNESP Faculdade de Ciências e Letras GEPIFE Programa de Pós graduação
em Educação Sexual Araraquara/SP
[email protected]
Comunicação Oral
Pesquisa em andamento
Trata-se de Pesquisa que investigar a violência intrafamiliar tomando em
consideração três gerações que sofreram e ainda sofrem violações de direitos e/ou
abuso sexual. Especificamente, a proposta visa verificar as diferentes formas de
violência intrafamiliar nas duas primeiras gerações que trazem consequências para
a terceira geração; assim como, ampliar a compreensão do fenômeno do abuso
sexual no contexto desta família e pesquisar se as Políticas Públicas Setoriais (PPS)
contribuíram
para
a
manutenção
desses
padrões familiares
de
violência.
Selecionamos como “sujeitos” da pesquisa uma família atendida no Centro de
Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), em uma cidade do interior
do Estado de São Paulo, A terceira geração da família é acompanha pelo CREAS
desde 2009 no PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), incluída no
programa devido a venda de produtos de limpeza e prática de mendicância, e pelo
PAEFI – Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Família e Indivíduos.
Porém, a primeira e a segunda gerações foram/ estão em acompanhamento familiar
há mais de vinte anos na Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento
Social, sendo que vários membros dessa família vieram a óbito por causas não
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naturais (homicídios, abuso de substâncias psicoativas, doenças infectocontagiosas,
etc.).
Nos atendimentos prestados à terceira geração observamos que se trata de uma
família em situação de vulnerabilidade socioeconômica e com violações de direitos,
sendo que ao levantarmos os dados e informações sobre a história, as crenças,
valores, vínculos, relacionamentos afetivos entre os membros e a dinâmica familiar,
identificamos que a adolescente V., as crianças P. e C. são vítimas de negligência,
maus-tratos, violência sexual, física e psicológica, conflitos familiares intensos, com
violência intrafamiliar e envolvimento com substâncias psicoativas. Para auxiliar na
compreensão do fenômeno da reprodução de violência intrafamiliar, buscamos
amparo no estudo bibliográfico, com destaque as ideias de Ferrari (2002) que diz:
“Quando as relações se desorganizam, o potencial destrutivo é enorme, ocorrendo
nas pessoas uma falta de contenção que ocasiona enorme prejuízo na circulação
dos conteúdos pertinentes a esse grupo familiar. Conteúdos rejeitados como, por
exemplo, a violência, é depositada em um membro dessa família, identificando-se
este como o possuidor ou o causador do problema. Essa forma de funcionar não
propicia a circulação desses conteúdos nem sua modificação, ficando um padrão
repetitivo consolidado”. Para refletirmos sobre as causas que levam à perpetuação
do abuso intergeracional, no entendimento de Winnicott (1997), acerca do perfil da
Família Abusiva consideramos que: “No processo de constituição da rede das
relações familiares podem desenvolver-se experiências de realização ou fracasso,
levando as pessoas envolvidas a um crescimento e maior integração ou, ao
contrário, em direção a uma desintegração que inclui violência na dinâmica”.
Winnicott (1997, p.72). Em relação às Políticas Públicas Setoriais (PPS), buscamos
entender se durante a formulação elas são relacionada às categorias gênero e
geração; E, se de fato, são implementadas de forma a garantir o acesso da família
aos Direitos Sociais e se possibilita a família romper com a transmissão
intergeracional da violência.
Segundo Ferrari (2002) os membros dessa família, sobretudo os agentes das
agressões, podem ser grandes “atuadores” – utilizam as ações – até pela falta de
limites e condição interna para parar antes do ato agressivo ou ainda por terem
dificuldade de encontrar outras formas – principalmente verbais – de expressar e
comunicar seus sentimentos. O silêncio conduz à perpetuação do abuso por várias
gerações, podendo o mesmo tipo de abuso ser praticado inicialmente com uma filha
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e/ou filho, em seguida com a neta, e ainda esses filhos abusados sexualmente
abusar de seus próprios filhos e/ou sobrinhos. Esse silêncio é mantido tanto pelos
agentes das agressões quanto pelas pessoas vitimizadas e demais membros
envolvidos na dinâmica. Ferrari ( 2002).
A presente proposta utilizará como metodologia a pesquisa qualitativa. As pesquisas
que se utilizam da abordagem qualitativa possuem a facilidade de poder descrever a
complexidade de uma determinada hipótese ou problema, analisar a interação de
certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por
grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou
formação de opiniões de determinado grupo e permiti, em maior grau de
profundidade, a interpretação das particularidades dos comportamentos ou atitudes
dos indivíduos (OLIVEIRA, 1999). Afirma-se a pertinência da pesquisa qualitativa em
virtude do objetivo de analisar a repetição das diferentes formas de violência
intrafamiliar nas duas primeiras gerações que acarretam consequências para a
terceira geração. Além disso, a pesquisa qualitativa proporciona a compreensão do
objeto a que intenta pesquisar através do contexto em que está inserido, neste caso,
o contexto familiar. A pesquisa qualitativa, segundo Bogdan e Biklen (1982), envolve
a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a
situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em
retratar a perspectiva dos participantes. Dentre as várias formas de pesquisa
qualitativa, utilizar-se-á o Estudo de Casos, devido ao seu potencial para análise de
questões sociais.
Para descrever a história familiar das três últimas gerações estamos utilizando duas
formas de Coleta de Dados: a Documental (extratos de vários tipos de documentos
pessoais e oficiais, fotografias e desenhos) e Depoimentos (pesquisa empírica:
convívio com o sujeito e entrevistas semiestruturadas, gravadas e transcritas) sobre
a infância, adolescência e fase adulta nas gerações da família investigada.
Almejamos que este estudo de caso possibilite aos agentes sociais a reflexão sobre
os aspectos das relações familiares que expõe os seus membros a situações de
risco e vulnerabilidades sociais. Entendermos como e se a família deixou de exercer
a sua função protetiva, tornando-se abusadora e violando direitos sociais.
Entendemos que talvez esses indicadores coletados, possam embasar futuras
propostas de intervenções das Políticas Públicas Setoriais locais e quiça, no Macro
Território.
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Palavras-chave:
Violência Intrafamiliar;
Transgeracionalidade;
Abuso
Sexual;
Políticas Públicas Setoriais.
Referências Bibliográficas
FERRARI. D. C. A. O fim do silêncio na violência familiar.Rio de Janeiro. Summus
Editorial. 2002.
WINNICOTT, D. W. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo, Martins
Fontes, 1997.
OLIVEIRA , Silvio Luiz. Tratado de Metodologia Científica. Ed. Pioneira, 2ª edição
1999.
BOGDAN, R. e BIKLEN, S.K. Qualitative Research for Education. Boston, Allyn and
Bacon, Inc., 1982.
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