Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Unidade Universitária de Cassilândia
Curso: Agronomia
Disciplina: Extensão Rural
Extensão Rural, segundo a visão de Paulo Freire
Prof. Etiénne Groot
[email protected]
Cassilândia, 2014
Quem foi Paulo Freire?
Paulo Reglus Neves Freire (1921, em Recife – 1997, em SP)
• É o patrono da educação brasileira
• Influenciou a pedagogia crítica, a pedagogia da libertação
• Não há uma educação neutra
• O educando é capaz de criar a sua própria educação
(fazendo o próprio caminho e não seguindo um já trilhado)
• Defendeu o diálogo com as pessoas simples, não só como método, mas como
um modo de ser democrático
PAULO FREIRE Extensão ou Comunicação? 8ª edição. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1985.
Trabalho educador do agrônomo extensionista
Inicio da obra: análise semântica do termo extensão
Extender algo (conhecimento/técnica) a alguém (ação com a presença humana),
para transformar o seu mundo (a um parecido ao do extensionista).
Dimensões associativas da palavra extensão:
Extensão ..........................Transmissão
Extensão............................Sujeito ativo (o que estende)
Extensão.............................Conteúdo (o que é escolhido por quem estende)
Extensão............................Recipiente (do conteúdo)
Extensão.............................Entrega (de algo que é levado por um sujeito que se
encontra “atrás do muro” àqueles que se encontram “além do muro”)
Extensão.............................Messianismo (por parte de quem estende)
Extensão...........................Superioridade (do conteúdo de quem entrega)
Extensão.............................Inferioridade (dos que recebem)
Extensão..........................Mecanismo (na ação de quem estende)
Extensão...........................Invasão cultural (através do conteúdo levado, que reflete a
visão do mundo daqueles que levam, que se superpõe à daqueles que passivamente
recebem)
“transformam o homem em coisa, o negam como um ser de transformação do
mundo”
O papel do engenheiro agrônomo é de ser educador (educa e se educa)
“persuadir as populações rurais a aceitar nossa propaganda e aplicar estas
possibilidades – refere-se às técnicas e econômicas – é uma tarefa das mais difíceis
e esta tarefa é justamente a do extensionista que deve manter contato permanente
com as populações rurais” (Willy Timmer).
Persuasão é papel da comunicação e não do agrônomo como educador
Educação verdadeira encarna a busca permanente dos homens, uns com os outros,
no mundo em que estão, de seu SER MAIS (Freire).
Equivoco Gnosiológico*
Educar e educar-se, na prática da liberdade...
... não é estender algo desde a sede do saber, até a sede da ignorância para
salvar, com este saber, o que habitam nesta.
... é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem – por isto sabem algo e podem
assim chegar a saber mais – em diálogo com aqueles que , quase sempre,
pensam que nada sabem, para que estes, transformando o seu pensar que
nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais.
* Filosofia que estuda o conhecimento humano
Perguntas que se faz na extensão:
• O sujeito recebe o conteúdo pacientemente de outro sujeito?
• O conhecimento deve ser tratado como algo estático?
• O conhecimento está ou não submetido a condicionantes históricos-sociológicos?
 Erosão tem relação com os valores culturais e não apenas com o ambiente
 Somos capazes de identificar os fenômenos, mas os entendimentos sofrem vários
vieses, como a própria realidade, emocional e a cultura
 Capacitação dos camponeses como o entendimento da técnica
 O conhecimento deve ser construído junto e não passado aos que não tem
 No processo de extensão é preciso apresentar as opções e não desvelar os
conteúdos
 Estágios das comunidades: Cultura mágica é a percepção da realidade. O
pensamento mágico é o que não é. Perplexo e inseguro o homem se torna mágico.
Há castigos divinos, simpatias,...
 Pensamento mágico não é ilógico e é resultante da proximidade do mundo natural
 Tentativa de modificação de técnicas ligadas às crenças. Qualquer tentativa de
alteração gerará uma defesa
 Manter o nível de percepção de mundo, as técnicas e procedimentos também
poderão ser percebidas como mágica. Cabe ao agrônomo fazer-se superar estas
percepções e isso envolve os aspectos culturais, níveis de percepção na estrutura
social e problemas de linguagem
Extensão e invasão cultural
Extensão anti-dialógica onde há o sujeito que invade e superpõe, com a sua forma de
ver o mundo (valor), outro espaço sócio-cultural. Trata-se de uma relação autoritária.
• Invasão cultural:
- Conquista (descaracterizar a cultura invadida – presa dócil),
- Manipulação (explora o emocional e dão a ilusão que estão decidindo algo),
Ser dialógico é não invadir nem manipular e empenhar-se na transformação constante
da realidade. É ser para outro e não para si.
As pessoas com quem o agrônomo trabalha são agentes tão transformadores como
ele. O poder de decisão deve ser deles também, caso contrario haveria uma invasão
cultural e de visão de mundo.
 Argumento da invasão cultural é a demora em obter resultados do processo de
dialogicidade (“perder tempo dialogando com os camponeses”)
• Descrença no homem simples, subestimação na sua forma de refletir
• Há uma alienação da ignorância
• Não há quem sabe tudo e não há quem sabe nada
 Ato de conhecer e aprender exige do homem uma postura impaciente, inquieta e
indócil
• O individuo não é um depositário do saber
• É um processo dinâmico (procura)
• O saber começa com a consciência que sabe pouco, logo procura saber
mais
Origem da passividade dos camponeses:
• origem histórica, desde os latifúndios escravocratas imersos numa hierarquia onde
os camponeses são condenados como inferiores
• Mesmo havendo aproximação afetiva, o status social mantém a distância social
(carência de diálogo)
• Neste contexto, é natural que os camponeses apresentem uma postura
desconfiada daqueles que tentem dialogar com eles. A desconfiança do camponês
também recai sobre si
• O problema de dialogar do camponês está na estrutura social (fechada e
opressora)
• O mutismo (recusa a falar) tem mudando em locais de reforma agrária. Portanto, o
problema passa inclusive pela estrutura agrária
O que é dialogo?
Problematização do próprio conhecimento e sua relação com a realidade, para
melhor compreende-la, explica-la e transforma-la.
Ex. 4 x 4 (tabuada ou 4 montes de 4 tijolos)
• Pensar criticamente é buscar o porque dos fatos
• Conteúdo passivamente recebido, memorizado e depois repetido
• O melhor aluno é o que percebe a razão das ideias que teve contato e que corre
o risco de ter as suas próprias ideias sobre o assunto.
• O desafio (problematização) é fundamental para a construção do saber.
“Cair na prática de um falso saber anestesia o espirito crítico, serve de
domesticação dos homens e instrumentaliza a invasão cultural”
Reforma agrária, transformação cultural e o papel do agrônomo educador
“O agrônomo não pode ser neutro nesta questão (é sujeito de mudança). Mais
que um técnico frio e distante, um educador que se compromete e se insere com
os camponeses na transformação, como sujeito, com outros sujeitos”
No processo andam juntos diversos aspectos
Técnica (messianismo - salvador)
Humanista (Tradicionalismo – manter o status quo - e reacionário sem técnica)
A reforma agrária deve culminar no desenvolvimento, com a modernização do
campo. Há que incidir sobre o quadro cultural (latifundiario).
Visão multidisciplinar em projetos desta natureza. Evitaria os fracassos pela
“natural incapacidade dos camponeses”.
Extensão ou comunicação?
Relação dialógica: Não há pensamento isolado, como não há homem isolado
O mundo social e humano o conhecimento apenas se dá pela comunicação
Sujeito
pensante
Objeto do
pensamento
Comunicação
Sujeito
pensante
Comunicação: diálogo
Sujeito
pensante
Incidência depositária
do conteúdo do objeto
Paciente do
comunicador
Objeto do
pensamento
Signos linguísticos
Expressão verbal
Percebida em comum
Compreensão
Significação do significado: mesmas palavras com significados diferentes
 Atos comunicativos:
• Objeto da comunicação pertence à comunicação de conhecimento e estado mental
Caráter crítico
• Objeto da comunicação pertence ao domínio emocional (medo, alegria, ódio,...)
Líder carismático (vê-lo, admira-lo) caráter acrítico
Condicionantes sócio-culturais da comunicação
“Benzer o rastro do animal”
• Compreensão dos signos
• Compreensão do contexto
Insuficientes para compartilhar a convicção
(contradição científica)
(choque com os significados técnicos do agrônomo)
Necessidade do diálogo
“estar sendo e ser mais”
A educação como uma situação gnosiológica
Só eu existo → sua consciência alcança tudo
(negação da realidade)
Teoria materialista → homens são produto das
circunstâncias e de sua educação
• Formas erradas de
considerar o homem
• Nesta situação, a
educação conduz a coisa
alguma
As circunstâncias são modificadas pelos homens (transformações históricas)
A educação não aceita:
- Homem isolado do mundo (as ideias não são apenas de um homem)
- Mundo sem homem
O ponto de partida das reflexões sobre aquele e que fazer é a relação homem-mundo
Homem
Transformações inacabadas
Mundo
Homem adaptando à realidade: Supões realidade acabada
Tira a possibilidade de transformar
2 momentos
• Em que conhece
• Falar sobre o conhecimento
Leitura:
Solidão aparente, mas há um diálogo invisível e misterioso com pessoas que
antes dela exerceram o ato cognoscente e trava um diálogo (perguntas,
indagações,...) consigo mesmo. Este diálogo deve ser ampliado.
• Educação como prática de liberdade não é a transferência do saber nem da cultura,
não é a perpetuação de uma cultura, não é o esforço de adaptação do educando ao
seu meio. O educador-educando e o educando-educador são ambos sujeitos
cognoscentes diante do objeto cognocível.
Aspecto fundamental da Extensão:
Crer no povo, nos homens simples, nos camponeses.
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Tema 2. Extensao Rural segundo Paulo Freire