Marcelo Bicudo
O início da escrita
Aprender como se deu a transformação do mundo em
linguagem e em códigos é de extrema importância, pois com
isso podemos aprender como operar o mundo.
(Marcelo Bicudo)
O início da escrita
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Nessa aula encerraremos um ciclo que está diretamente ligado à história da escrita e da
linguagem e não diretamente ligado à história da tipografia. Aprender como se deu a
transformação do mundo em linguagem e em códigos é de extrema importância, pois com
isso podemos aprender como operar o mundo. Podemos perceber que as coisas estão
absolutamente conectadas, apesar de cada uma em seu tempo e espaço, e que no fundo,
compreender como se dá o processo de formação da linguagem é o mais importante, pois
conseguimos, assim, construir e dar sentido à toda nossa produção, seja ela intelectual ou
prática. Aliás, é sobre a praticidade do design que devemos ter mais atenção, pois o fato de
um trabalho ou uma tipografia ser desenvolvida com objetivos mercadológicos ou
absolutamente pragmáticos, não significa que tenha que ser desprovido de conceito. Com
isso, voltemos, então, a reta final sobre a história da escrita.
De maneira geral, as pessoas tendem a imaginar que os desenhos rupestres são o início
da escrita. De certa forma o são, mas não da maneira como a conhecemos hoje no mundo
ocidental. Sempre colocamos a distinção entre a escrita ocidental e a oriental, por motivos
óbvios. São radicalmente opostas, no sentido de que a escrita ocidental é fonética e a
escrita oriental é ideogramática, muito mais ligada ao imagético. É bem verdade, entretanto,
que com a revolução dos tipos e com o design da experimentação, como veremos mais
adiante, a escrita ocidental aproxima-se da oriental, buscando a interação com o leitor.
Posto isso, os desenhos em cavernas devem ser avaliados como evocações mágicas ou
necessidade de satisfazer seu instinto natural, mas ainda assim, mesmo que imagéticas,
ressaltam a necessidade de por em linguagem o mundo ao redor.
Essa necessidade vem da vontade de exprimir experiências
passadas e projetos futuros, compreendendo o que nos cerca.
É a manifestação das esperanças e dos temores, ao mesmo
tempo em que procura guardar novos conhecimentos
adquiridos. Não é evidente, se existe a intenção de deixar um
legado para gerações futuras em um processo comunicativo,
mas é claro se estiver ligado ao desejo de exprimir algo através
do desenho, em substituição à fala. Ou seja, a comunicação
desenhada substitui nesse momento a comunicação falada
ainda insipiente ou praticamente inexistente.
Em um dado momento da história, parece-nos que essa linguagem visual ou gestual vem
sempre acompanhada de sons pronunciados, como é próprio de qualquer animal. O homem,
capaz de organizar seu pensamento e expressar em linguagem o mundo, consegue associar
os mesmos desenhos às mesmas imagens, em um sentido absolutamente iconográfico.
Nesse momento, as figuras se transformam em uma escrita que conserva seu pensamento
e sua fala, para que mesmo hoje consigamos lê-los.
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Surgimento da escrita
A seguir, faremos uma breve passagem por diversas escritas, surgidas em diversas partes
do mundo. A intenção é ver como diversos povos apropriaram-se do universo ao redor,
traduzindo-o em linguagem, começando, assim, também a fazer inter-relações entre essas
escritas, tornando-as importantes partes da escrita como a conhecemos.
Estima-se que a escrita, no sentido da verdadeira preservação do pensamento e da fala
(sim, a escrita verdadeira tem que ser pensada no relacionamento entre fala e pensamento,
por isso que as pinturas rupestres nem sempre são consideradas o início da escrita),
começou a existir no momento em que desenhos e sinais surgiram relacionados com às
sílabas, palavras ou frases (5.000 a.C.).
Entretanto, a escrita como a conhecemos, nasce apenas no momento em que se começa
a organizar e alinhar os sinais lado a lado. No momento em que temos um encadeamento
lógico e topológico desses sinais, configurando uma intenção clara de transmissão de
uma mensagem completa. Estabelece um vínculo comunicativo, inter-relacionando sujeito
e objeto em uma clara função fática.
Nos antigos pictogramas acima, percebemos que há uma clara intenção de organização
dos sinais, dando sentido ao todo da composição. Se a composição não é ainda de todo
linear e horizontal, como é a escrita ocidental, percebemos que há uma intenção compositiva
na diagramação dos sinais.
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Dois tipos de desenvolvimento da escrita
Sem dúvida, os pictogramas são a origem de todas as escritas, resultantes de um
desenvolvimento natural. A partir dos pictogramas, surgem duas categorias principais de
escritas:
Categorias que permanecem figurativas. Continuam no estágio pictórico, como o ideograma
oriental.
saiba mais
As escritas alfabéticas. Traçado com simplificação extrema. No exemplo abaixo, temos
um antigo pictograma para o touro (aleph), com detalhes que vão se perdendo e sendo
sintetizados ao longo do tempo.
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O pictograma possui um forte caráter icônico. Isso quer dizer que possui uma
relação direta com aquilo que representa, ou seja, o funcionamento do pictograma
é melhor quando há uma clara referência de forma e até mesmo de sentido entre
a figura desenhada e o mundo exterior a essa figura. Temos como exemplo bastante
prático, o pictograma de masculino e feminino utilizado nos banheiros.
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Origem em comum entre os sinais de diversas civilizações
Se tentarmos analisar as escritas ao longo do tempo e buscarmos uma única origem em
comum, como se existisse uma primeira escrita primitiva, isso não seria possível. Embora
os sinais mais básicos, como a lua, o sol, a água, a flecha sejam bastante semelhantes
em diversas escritas primitivas. Isso se dá muito mais pela observação e facilidade de
simplificação desses objetos ou elementos, do que por uma origem em comum.
O pictograma e o ideograma
Ao analisarmos as figuras ou pictogramas abaixo e como eles se compõem, podemos
perceber que através da junção de dois pictogramas surge um terceiro, ou por meio da
abstração do desenho, surge um ideograma. Esse exercício mostra o desenvolvimento da
escrita de um modelo básico que se complexifica à medida que o próprio mundo e as
civilizações, bem como a relação entre elas, tornam-se mais complexas.
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O ideograma e o fonograma
Um pictograma é utilizado para reproduzir um som silábico e não
mais para registrar um conceito, sendo considerado uma das
etapas mais importantes para a verdadeira transcrição de
linguagem, sobretudo no mundo ocidental. Por exemplo: a palavra
alemã URSPRUNG (origem), poderia ser representada pelas
figuras do relógio UHR e do salto SPRUNG. Outro exemplo da
língua inglesa é a palavra BELIEF (crença), a partir de BEE (abelha)
e LEAF (folha)
Os sumérios
O povo sumério já vivia entre os rios Tigre e Eufrates cerca de 4.000 a.C. Eram tribos
nômades que se estabeleceram nas planícies férteis desses rios, onde enfrentaram difíceis
condições climáticas para permanecerem. Essas dificuldades estimularam sua evolução
no sentido intelectual e sócio-econômico. Passaram a ter um modo mais lógico-científico
de pensar, influenciando a origem da sua cultura escrita. Essas dificuldades intensificam a
necessidade de interação entre os homens e o meio-ambiente. Isso os estimula a serem
criativos, criando novas relações e analogias ao olhar o universo. Aliás, a palavra analogia
parece interessante, pois é o pensamento associativo que cria figuras de linguagem. O
pensamento que nos leva do ideograma ao fonograma não deixa de ser um pensamento
analógico. O ser humano, de maneira geral, opera o mundo através de analogias que cria
a partir de sua visão de mundo.
Os sumérios são universalmente considerados o primeiro povo que possuiu uma escrita
propriamente dita. São pictogramas grafados em argila. A simplificação da forma é
surpreendente, atendo-se ao essencial do que se quer dizer.
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A escrita pictórica suméria e a escrita cuneiforme
No terceiro milênio a.C, a expressão escrita mudou completamente. Como o povo
mesopotâmico era um povo de mercadores acostumados ao movimento e ao escambo,
sua escrita inteira era concebida para isso. O material mais utilizado eram placas de barro
como suporte, facilmente transportadas. Assim, nasce a escrita cuneiforme, que tem esse
nome devido à técnica com que era gravada - traços retos, que devido à inclinação do
estilete, adquiriam uma forma alongada e triangular. Essa técnica, uma dos primeiras a
influenciarem a escrita, substitui a da escoriação, que deixava a escrita irregular. Mais do
que isso, começamos a perceber que a necessidade de interação entre os povos, que até
então não era comum devido às grandes distâncias e dificuldades geográficas, cria a
necessidade da interação através da linguagem, sendo o comércio um dos principais
propulsionadores do desenvolvimento da escrita.
Com a dominação dos povos vizinhos, a escrita foi sendo gradativamente simplificada,
seja nos seus desenhos ou na quantidade de sinais. Até por conta disso, essa escrita foi
sendo substituída pela escrita aramaica, que possuía 22 sinais em oposição aos 1000
sinais da escrita cuneiforme. A simplificação da quantidade de sinais e de sua forma foi
fator essencial para a disseminação entre diversos povos da escrita aramaica.
Os hieróglifos egípcios
Civilização localizada no Delta do rio Nilo, em uma área extremamente fértil. Sociedade
extremamente criativa, fascinada pelos poderes da natureza. Sendo assim, é justamente
na natureza que os egípcios encontram fonte de inspiração para o desenvolvimento de sua
escrita. Essa sociedade tenta evocar os poderes da natureza através de sinais mágicos.
A expressão hieróglifo aplica-se somente à escrita pictórica, criada pelos sacerdotes.
Conservaram-se praticamente intactas por mais ou menos 3000 anos.
Na primeira fileira abaixo, temos representações de objetos. Na terceira temos atividades,
nas quais aparece a noção da ação e última, observamos sinais determinativos.
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Paralelamente, no decorrer do terceiro milênio a.C.
desenvolveu-se a escrita hierática, mais corrente,
com formas mais simplificadas, como vemos abaixo.
A partir do primeiro milênio, o estilo de escrever sofreu
uma maior sintetização, gerando a escrita demótica,
na qual dificilmente reconhece-se os objetos que
originaram os desenhos.
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Escritas em Creta
Paralelamente às escritas cuneiformes e aos hieróglifos, surgem diversas outras
manifestações da escrita, muitas das quais influenciadas pelas primeiras. descritas nesse
parágrafo.
A escrita cretense, apesar da nítida influência dos povos da Mesopotâmia, mostram também
o caráter de isolamento da ilha. Possuem um caráter gráfico incrível e um desenvolvimento
do raciocínio aliado ao poder de síntese. Podiam ser combinados sinais abstratos, ligados
a sílabas, com sinais que representam objetos.
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A escrita pictórica hitita da Síria
Em 2000 a.C., o povo Hitita viveu na costa da Síria e seus sinais são originalmente esculpidos
em pedra e posteriormente grafados em diversos materiais. Tanto a escrita cuneiforme
quanto os hieróglifos influenciaram essa escrita. Acredita-se ainda que exista uma relação
com a escrita cretense. A maioria dos sinais tendem ao abstracionismo, como os colocados
abaixo:
Como todas as escritas mencionadas, a hitita também tende a ser alterada gradualmente
para fixar sílabas e letras. Seu uso foi abandonado em 700 a.C.
A escrita pictórica do vale do Indo
Escrita da região noroeste da Índia, atual Paquistão, surge em forma de selos ou cunhos
de pedra e cobre. Os pictogramas são realizados em materiais diversos E, até por isso, seu
desenvolvimento é bastante estilizado.
Essa escrita praticamente não foi decifrada, pois parece que seus 50 pictogramas eram
combinados de maneira silábica. Não há comprovação de ligação entre essa escrita e
atual escrita indiana.
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O fato dessa escrita ter sido encontrada em outras partes do Oriente
Médio faz com que os pesquisadores acreditem que as primeiras
migrações nessa região se deram nesse período, ou até
imigrações para outras regiões mais distantes. É assim que surge
a espantosa relação entre a escrita do vale do Indo e da Ilha da
Páscoa, provavelmente ligada às imigrações polinésias.
A escrita rúnica
Desenvolvida no primeiro milênio antes de Cristo, em regiões frias e arborizadas do Norte
da Europa, essa escrita foi formada a partir de um material básico, a madeira. Os únicos
sinais que resistiram a decomposição foram aqueles esculpidos em pedra. Entretanto, a
forma dos caracteres não deixa dúvidas de que foram concebidos para a inscrição em
madeira, porque as incisões são verticais e diagonais, traçadas transversalmente em
relação às fibras. Além disso, percebe-se a resistência da madeira conforme a direção do
corte. A técnica mais uma vez influencia a escrita, pois caso esses povos fizessem a inscrição
horizontalmente, no sentido das fibras, a expansão da madeira úmida impediria a legibilidade
dos sinais.
Não se pode afirmar com certeza que as escritas rúnicas silábicas, que aparecem depois
das escritas pictóricas, influenciaram a escrita nórdica como a conhecemos hoje.
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As pedras rúnicas ligadas ao esoterismo, são anteriores à escrita. Entretanto, esses sinais
mágicos não serviam para registrar uma linguagem. Eram sinais simbólicos para profecias
e rituais, possuindo um forte caráter abstrato.
A escrita circular chinesa
O I-Ching, escrita do terceiro milênio A.C. é bastante econômica em sua forma. Acredita-se
que tenha sido o imperador Fou-Hsi o responsável por registrar a sabedoria transmitida
oralmente por meio de um sistema de sinais. Essa sabedoria implicava na filosofia do
“yang” (feminino) e do “yin” (masculino).
É possível que essa escrita tenha se baseado no jogo do milefólio, feito de gravetos inteiros
e partidos, possivelmente utilizado por magos e sacerdotes. Essa escrita foi sempre
baseada na dualidade do yin e yang.
Essa escrita é bastante complexa, no sentido em que um mesmo sinal pode ser entendido
de diferentes maneiras, conforme o contexto em que se vê imerso. No primeiro sinal, temos
três vezes yang, significando céu, pai, cabeça e dureza. No segundo sinal três vezes yin,
significa terra, mãe, vestido e ternura. No terceiro, por exemplo, uma linha yang, entre duas
yin é o símbolo para água.
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A escrita pictórica chinesa
A relação entre a escrita pictórica da China e o I-Ching, ainda é mera suposição, mas notase, no exemplo abaixo, a grande semelhança entre o sinal pré-histórico para água e o seu
correspondente no I-Ching.
De qualquer maneira, a escrita chinesa também deriva-se de expressões e sinais antigos.
Como a técnica utilizada era a da pintura com pincel, muitos sinais pictóricos sofreram
modificações ao longo do tempo. Principalmente símbolos que eram originalmente
redondos, passaram a ser quadrados ou desenhados com pequenos segmentos.
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A escrita chinesa atual conta com mais de dez mil sinais, e o
desenvolvimento de novas combinações ainda não foi concluído.
As responsáveis por essa riqueza são as características do
monossilabismo. A sílaba “fu”, por exemplo, tem vários
significados, como enviar, rico, pai, mulher, pele e outros. Cada
um desses conceitos deve ser expresso em combinação com
outros sinais para serem diferenciados e compreendidos. Por
conta disso, essa língua nunca poderá ser traduzida fielmente
em uma escrita silábica ou alfabética.
Pode-se fazer uma última observação que mostra a tipografia
chinesa intimamente ligada à técnica, ao contexto e à arquitetura.
Por exemplo: as vigas das casas construídas em bambu,
sempre sofreram um abalamento por causa de seu peso. Se
repararmos nas linhas diagonais da escrita chinesa, podemos
perceber uma referência a esse fato.
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As escritas americanas anteriores a Colombo
Por conta das imigrações, a escrita no continente americano é muito mais recente do que
as da Ásia e Europa. Dos Incas se conhece os “quipus”, enquanto que os Astecas e os
Maias deixaram escritas na região do México.
Durante o período de invasão espanhola, a escrita encontrava-se em transição entre a
pictografia e a fonética. Devido à distância entre os povos americanos e o resto das
civilizações, além da falta de dados suficientes, essas escritas ainda estão pouco traduzidas.
Ao compararmos as escritas Maias e Astecas, que são contemporâneas e conterrâneas,
percebemos enormes diferenças. Na dos Astecas encontramos representações figurativas
de objetos e criaturas fantásticas para designar os meses, enquanto que os dezoito sinais
dos meses Maias contêm uma abstração muito forte, na qual conceitos simbólicos
movimentam-se dentro de um círculo fechado.
A invenção das letras e sua difusão
Na região do Oriente Próximo, no final do segundo milênio, existiu um povo de mercadores
que comercializava com diversas regiões do mundo antigo. Por conta disso, conheciam
diversas línguas e escritas. Pela primeira vez, provavelmente impulsionados pela
necessidade de se comunicar com esses diversos povos, deixaram de fundir as consoantes
em sílabas (ba, di, gu, etc.), para registrá-las com as menores unidades sonoras (b, d, g,
etc.). Assim, na virada do segundo milênio a.C., nasceram os sinais consonantais fenícios,
que hoje são considerados e reconhecidos como a base de partida de todas as escritas
alfabéticas.
Em um curto espaço de tempo, o alfabeto fenício atingiu sua perfeição da forma, reduzindose a 22 sinais fonéticos selecionados, o que acabou ajudando essa escrita a substituir as
outras escritas contemporâneas.
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Na escrita ocidental, os gregos tiveram papel de destaque, incorporando novos fonemas,
que resultaram nas letras A , E, I, O e U. As demais escritas, arábicas e hebraicas por
exemplo, assim como a Fenícia, são escritas apenas consonantais.
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Ainda como influência sobre a escrita, temos a técnica que os diversos
povos empregavam. Nos sinais mais primitivos, utilizava-se o estilete,
enquanto que nas escritas hebraicas e latinas a pena de ponta larga
passou a ser utilizada, produzindo traços mais nítidos. Enquanto que
os árabes, se utilizaram dos pincéis em sua escrita.
Mais do que a economia, o direito e as ciências, as religiões foram
as principais propagadoras das escritas ao redor do mundo.
Geralmente, como bem conhecemos no período medieval, essas
igrejas monopolizavam a arte de escrever. Por isso, podemos atrelar
a principal escrita de cada continente ou país, a uma religião
predominante.
No centro geográfico do planeta, onde nasceram os alfabetos, situase a escrita hebraica que não se alterou por mais de três mil anos.
As culturas gregas e latinas deram origem ao cristianismo e mais
tarde a ortodoxia oriental (escrita cirílica). No Oriente próximo, o
Islão difundiu a escrita arábica e no norte da Índia surge uma escrita
independente, o “devanagari” (escrita oficial da Índia).
A escrita ocidental possui formas individuais claramente distintas,
fundamentadas pela introdução dos sons vocálicos, cujo reconhecimento, em uma leitura
rápida, cada vez mais é fundamental. Essa separação dos caracteres também facilita sua
reprodução, pois possibilita o surgimento de novas técnicas de composição da escrita.
O grupo de escritas chinesas constitui um universo à parte, pois deriva de formas autônomas.
Ainda hoje, conservam seu sistema pictórico original. A escrita japonesa, que deriva da
chinesa, conseguiu chegar a um sistema simplificado para registrar sílabas e sons
individuais.
A partir do primeiro milênio a.C., iniciou-se na Europa a evolução mais significativa da
história escrita: o alfabeto greco-latino. O alfabeto fenício foi completamente absorvido
pelos gregos antigos. Foram acrescentados, como foi dito anteriormente, mais quatro
sinais básicos: as vogais.
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Em todas as partes do mundo e em todas as épocas, sempre houve duas formas básicas
de expressão da escrita: de um lado, a inscrição em paredes de rocha, palácios e placas
de sinalização e de outro, o desenho manuscrito das anotações e registros. Esses dois
estilos sempre foram executados com instrumentos e materiais diferentes, por isso suas
formas desenvolveram-se de maneira também diferente.
A escrita capitular monumental conservou sua forma devido à natureza de seu porte, enquanto
que a cursiva alterou-se ao longo do tempo com a mudança de materiais e técnicas.
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A rapidez também é um aspecto a ser considerado, pois levou à alteração das capitulares
nas minúsculas. Percebemos isso claramente nas letras A, E, M e T. Outras características
que surgem para diferenciar as maiúsculas das minúsculas são as hastes ascendentes e
descendentes. Hoje, percebemos, ao longo da história, que as minúsculas passaram por
uma grande metamorfose. Letras que eram raramente utilizadas em latim, como K k, W w,
Y y, X x, Z z, tiveram suas formas muito pouco alteradas em relação às capitulares.
Nota: Todas as imagens foram retiradas do livro FRUTIGER, Adrian (1999 [1978]). Sinais e
símbolos. São Paulo: Martins Fontes.
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Anotações:
bibliografia
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FRUTIGER, Adrian
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(1999 [1978]). Sinais e
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símbolos. São Paulo:
Martins Fontes.
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typography. Suiça.
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RotoVision, 2002.
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