#4 NOVEMBRO 2O13
ARTE E CULTURA
POPULAR
NA AMÉRICA
COLONIZADA
A MEDIAÇÃO COMO INSTRUMENTO
NA CONQUISTA DE NOVOS LEITORES
CONVERSA COM
NINA HORTA
UM PANORAMA DO
CINEMA ALEMÃO CONTEMPORÂNEO
EBOOK REVOLUCIONA
RELAÇÃO ENTRE LEITOR E LEITURA
Na página anterior, obra de Cecilia Vargas Muñoz,
Expresso Laboyano, 2007, Pitalito, Colômbia.
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O Editor
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A Revista Ponto acaba de completar um ano de vida como importante instrumento de divulgação de nossas publicações associada ao desenvolvimento de um
conteúdo editorial sério que visa informar, formar e ajudar na construção de uma
sociedade mais capacitada e competitiva.
Gostaria, neste primeiro “aniversário”, de parabenizar a pequena equipe que compõe a nossa Editora com grande esforço e dedicação e agradecer ao prof.
Walter Vicioni Gonçalves, nosso Superintendente, pelo apoio incondicional às atividades desenvolvidas no SESI-SP no âmbito da cultura e do livro.
Nesta Revista Ponto no 4, trazemos uma deliciosa entrevista com a
empresária especialista em alimentação, escritora e colunista de gastronomia do
jornal Folha de S.Paulo, Nina Horta, e ainda neste segmento, levando em conta os
livros cuidadosamente desenvolvidos pela área de Nutrição do SESI-SP, um dos
carros-chefe da Editora, apresentamos um pouco do mercado com a reportagem
“A gastronomia muito além da alimentação”.
Como matéria de capa, buscamos amplificar a discussão proposta pela
área de cultura do SESI-SP por meio da exposição “Grandes Mestres da Arte Popular Ibero-americana”, com um belíssimo ensaio que levanta questões importantes,
como a valorização cultural das manifestações tradicionais na composição e preservação de uma nacionalidade e como base estruturante de sua produção artística.
Ainda na esteira das ações promovidas pela área de cultura, convidamos o crítico de cinema Sérgio Rizzo para escrever sobre a produção alemã nesta
área, tema da Mostra Cine SESI-SP no Mundo: Alemanha Contemporânea, que
apresenta sete filmes até o final de 2013 e mais sete até abril de 2014.
A mediação de leitura, como estímulo à formação de novos leitores,
é tema recorrente nas atividades desenvolvidas na entidade, tanto por meio do
Programa Literatura Viva, como em sua vertente teórica, na coleção infantojuvenil Quem lê sabe por quê, e rendeu uma bela e bem informada reportagem sobre
o assunto.
E coroando esta edição, convidamos o consagrado escritor mineiro
Luiz Vilela para compor a galeria do Ponto do Conto, com um texto inspirado e
severo, intitulado “O que cada um disse”.
Desejo a todos uma boa leitura e muitos anos vindouros e profícuos
à Revista Ponto.
#4 NOVEMBRO 2O13
A REVISTAPONTO®
É UMA PUBLICAÇÃO LITERÁRIA E CULTURAL DA SESI-SP
EDITORA, COM EDIÇÕES TRIMESTRAIS
CONSELHO EDITORIAL
PAULO SKAF (PRESIDENTE)
WALTER VICIONI GONÇALVES
DÉBORA CYPRIANO BOTELHO
NEUSA MARIANI
COMISSÃO EDITORIAL
FERNANDO ANTONIO CARVALHO DE SOUZA
DÉBORA PINTO ALVES VIANA
ALEXANDRA SALOMÃO MIAMOTO
ÁLVARO ALVES FILHO
RODRIGO DE FARIA E SILVA
GABRIELLA PLANTULLI
EDITOR CHEFE
RODRIGO DE FARIA E SILVA
EDITORAS ASSISTENTES
JULIANA FARIAS
ANA LUCIA SANT’ANA DOS SANTOS
BEATRIZ BIELLA MARTINS (ESTAGIÁRIA)
EDITORAÇÃO E PRODUÇÃO GRÁFICA
PAULA LORETO
VALQUÍRIA PALMA
CAMILA CATTO
MAYSA PAIVA (ESTAGIÁRIA)
COMUNICAÇÃO EDITORIAL
GABRIELLA PLANTULLI
DIVULGAÇÃO E PROMOÇÃO
VALÉRIA VANESSA EDUARDO
ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO
RAIMUNDO ERNANDO DE MELO JUNIOR
FELIPE AUGUSTO FERREIRA DE OLIVEIRA
FLÁVIA REGINA SOUZA DE OLIVEIRA
MÁRCIO DA COSTA VENTURA
COMERCIAL
VANESSA BUZELI BONOMO VICENTE
RAPHAEL CALDEIRA
COLABORADORES
ARNALDO NISKIER
CAROLINA CARDOSO
LUIZ VILELA
RICARDO VIVEIROS OFICINA DE COMUNICAÇÃO
ROBERTO MUYLAERT
SÉRGIO RIZZO
Capa
Foto Hugo Curti
Dona Marina, A Catrina, obra de Felipe Linares Mendoza,
1992, Cidade do México, México.
REVISÃO
ANA TEREZA CLEMENTE
JORNALISTA RESPONSÁVEL
GABRIELLA PLANTULLI (MTB 0030796SP)
PROJETO GRÁFICO ORIGINAL
VICENTE GIL DESIGN
TIRAGEM DESTA EDIÇÃO
5 MIL EXEMPLARES
IMPRESSÃO
NYWGRAF
REVISTAPONTO® - PUBLICAÇÃO LITERÁRIA E CULTURAL
NÚMERO 4 – NOVEMBRO DE 2013
SESI-SP EDITORA
AV PAULISTA 1313, 4º ANDAR
TELEFONE: 3146-7134
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www.sesispeditora.com.br
www.facebook.com/sesi-sp-editora
06 ESTANTE DE LIVROS
LANÇAMENTOS
10 PONTO ENTREVISTA
A SOFISTICAÇÃO DA SIMPLICIDADE
16 TEM, MAS ACABOU
ONDE VIVEM AS FADAS
20 PONTO ESPECIAL
A OBRA DE ARTE NA ERA DE SUA VALORIZAÇÃO CULTURAL
30 PONTOCOM
O BRASIL TAMBÉM SE RENDE AO LIVRO DIGITAL
38 PONTO SELO AUDIOVISUAL
CINEMA ALEMÃO CONTEMPORÂNEO
48 PONTO LEITURA
MEDIAÇÃO DE LEITURA: O CONVITE AO MUNDO DOS LIVROS E SUAS
DIVERSAS FORMAS
58 PONTO DO CONTO
O QUE CADA UM DISSE, POR LUIZ VILELA
64 PONTO MERCADO
A GASTRONOMIA MUITO ALÉM DA ALIMENTAÇÃO
74 AO PÉ DA LETRA
O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO, POR ARNALDO NISKIER
78 EVENTOS DA EDITORA
FEIRA DE LIVROS E LANÇAMENTOS
82 AGENDA CULTURAL
PROGRAMAÇÃO
GALERIA DE FOTOS
UNIDADES DO SESI
ESTANTE DE LIVROS
DA REDAÇÃO
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Selecionar os lançamentos do trimestre que ilustram
as páginas da Revista Ponto é sempre uma tarefa difícil; e como para esta edição ficou ainda mais, optamos
por ampliar o espaço. Mas, mesmo assim, tivemos
que elencar apenas alguns deles. O catálogo completo com as publicações da SESI-SP Editora e SENAI-SP
Editora podem ser conferidos em nossos sites!
MÃOS MÁGICAS
MATINTAPEREIRA
TEREZA YAMASHITA
JOSÉ SANTOS
A milenar arte japonesa de dobrar papel, que
encanta crianças e adultos, serviu de inspiração
para a autora fazer de um quadrado de papel o
protagonista desta divertida história. As mãos
da ilustradora Suppa deram vida a uma menina
de cores fortes, a aventureira Quadradinha de
papel, que sai em uma viagem de autoconhecimento em busca de seu irmão desaparecido.
Personagem do folclore da região Norte do Brasil, Matintapereira vem direto dos relatos orais
para as páginas deste livro com estrutura de
cordel. Entre um verso e outro, José Santos nos
conta um pouco mais dessa senhora feiticeira,
que pode se transformar em ave, muito bem
ilustrado por Jô Olivieira.
LANÇAMENTOS
Wilson Marques
Ilustrações:
Luiz Bras
Taisa Borges
Ilustrações: Bruna Ximenes
A MENINA INHAME
VIAJANTES DO INFINITO
VÍTOR E O INVISÍVEL
WILSON MARQUES
FLÁVIA MUNIZ
LUIZ BRAS
Este livro nos aproxima do imaginário de um
povo irmão, suas características se encaixam
em nossa ancestralidade da mesma forma que
a África se encaixa em nosso continente. Recontada em formato de cordel, esta lenda nos
mostra o poder das palavras e por que devemos
pensar antes de tomar algumas atitudes ou
manifestar certos pensamentos em relação aos
outros, pois, ao agirmos de modo injusto, as
consequências podem ser definitivas.
O protagonista Fábio escreve uma história e, a
partir daí, a realidade à sua volta começa a se
transformar. A jornada leva-o ao maior desafio:
enfrentar seus medos e vencer o terrível inimigo que sobrevive em sua mente. Poderá contar
com a ajuda de seu melhor amigo? Existem outros mundos, em outras dimensões, paralelos
ao nosso? A imaginação poderia ser o ponto de
contato entre esses mundos?
Vítor, de apenas 7 anos, é o herói desta história
de descobertas. Um dia, o jovem herói abriu os
olhos e começou a ver o invisível. O invisível
minúsculo, feito de moléculas e átomos; e o
maiúsculo, de estrelas e galáxias. E ao entrar
em contato com o mistério que é o universo,
Vítor passou a viver a maior revolução em sua
vida. Repleto de ilustrações elaboradas e coloridas, esta obra encanta e convida o leitor a
viajar junto com o protagonista pelo invisível
e explorar o infinito.
MISSÃO POSSÍVEL 2 – PRATOS
PRINCIPAIS, GUARNIÇÕES E SALADAS
DENTE DE LEITE
MISSÃO POSSÍVEL 1 – CAFÉ DA MANHÃ
JULIANA FREZARIN, LUCAS RODRIGUES, TAMIRES MACENA E
THAINÁ RIBEIRO
SESI-SP
Um livro de receitas para crianças deve combinar facilidade, segurança e diversão. Dente
de leite convida os pequenos para uma deliciosa e saudável brincadeira, com as receitas
do programa de orientação nutricional Alimente-se bem, sucesso do SESI-SP há 14 anos.
Este livro foi desenvolvido e aprimorado por
quatro alunos do Ensino Articulado SESI/SENAI com as técnicas assimiladas no decorrer
do curso no SENAI.
Dirigido ao público jovem com o intuito de
contribuir para o seu desenvolvimento saudável e um futuro melhor, este livro propõe
alternativas a alguns costumes alimentares
incorretos e apresenta receitas saudáveis selecionadas. Informa ainda que, além de satisfazer
as elevadas necessidades de nutrientes, uma
alimentação balanceada na adolescência pode
significar, muitas vezes, uma mudança nas
práticas alimentares.
SESI-SP
Com receitas nutritivas, criativas e fáceis de
fazer, esta publicação pretende contribuir
para que os jovens tenham a opção de adotar
uma alimentação saudável, uma das maneiras
que contribuem para o desenvolvimento intelectual e físico da população infantojuvenil,
mostrando que comer bem pode ser muito
divertido e saboroso. É um livro que apresenta
as regras de ouro da boa alimentação, e traz informações preciosas para promover a mudança
de atitude necessária.
7
ALIMENTE-SE
BEM
50 receitas nutritivas
com cereais e leguminosas
ALIMENTE-SE
BEM
50 receitas nutritivas
com frutas e hortaliças
SABOR NA MEDIDA CERTA
Nutrição e culinária para colesterol alto
Aproveitamento integral dos alimentos
Aproveitamento integral dos alimentos
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NUTRIÇÃO E CULINÁRIA PARA
COLESTEROL ALTO, DIABETES,
HIPERTENSÃO ARTERIAL E OBESIDADE
ALIMENTE-SE BEM 50 RECEITAS
NUTRITIVAS COM CEREAIS E
LEGUMINOSAS
SESI-SP
SESI-SP
Os cuidados com a alimentação podem prevenir
ou retardar o aparecimento de doenças, quando
associados à prática de atividades físicas e hábitos saudáveis em geral. A série Sabor na medida
certa apresenta em quatro volumes informações
essenciais e receitas adequadas para ajudar você
a controlar ou prevenir doenças tão comuns
atualmente, como diabetes, colesterol alto, hipertensão arterial e obesidade.
O que é uma nutrição equilibrada e como fazer
uso integral dos alimentos sem desperdício são
apenas alguns exemplos do que encontramos
neste livro. A obra mostra também quais os
tipos e grupos de alimento e a maneira correta de selecioná-los e armazená-los, bem como
a necessidade de variar ao máximo os grupos
de alimentos que compõem o cardápio. Todas
as receitas são acompanhadas de fotos que só
fazem aguçar a vontade de prepará-las.
ALIMENTE-SE BEM 50 RECEITAS
NUTRITIVAS COM FRUTAS E HORTALIÇAS
SESI-SP
A importância de tornar as frutas e hortaliças
um hábito alimentar é apenas uma das abordagens deste livro, que se aprofunda também
sobre o grande teor de vitaminas e minerais
presentes nesses alimentos e o quanto eles são
imprescindíveis no equilíbrio do organismo.
Apresenta, ainda, as características e propriedades das frutas e hortaliças, dicas de como
comprá-las, armazená-las e consumi-las. Uma
tabela de sazonalidade permite que você conheça os melhores meses para cada tipo.
RESTAURAÇÃO
DO PATRIMÔNIO
HISTÓRICO
Uma proposta para a formação
de agentes difusores
Área Construção Civil
TRATAMENTO TÉRMICO DOS METAIS – DA
TEORIA À PRÁTICA
SENAI-SP
Rico em exemplos, aborda a tecnologia que embasa as transformações de microestruturas dos
metais e as técnicas aplicadas na prática para
a operacionalização dessa importante etapa
produtiva, que permite promover as alterações
das características dos diversos tipos de metais
para que possam atender a diferentes solicitações mecânicas requeridas em projetos de
peças que fazem parte de equipamentos compostos de materiais metálicos.
ELETRÔNICA DE POTÊNCIA APLICADA
AO ACIONAMENTO DE MÁQUINAS
ELÉTRICAS
RESTAURAÇÃO DO PATRIMÔNIO
HISTÓRICO – UMA PROPOSTA PARA
FORMAÇÃO DE AGENTES DIFUSORES
SÉRGIO LUIZ VOLPIANO
JÚLIO BARROS, ALZIRA COSTA RODRIGUES BARROS E SANZIO
MARDEN
A eletrônica de potência é a área do conhecimento que controla e condiciona a energia
elétrica por meio do controle dos equipamentos elétricos, viabilizando diversas soluções
para a automação dos processos produtivos
industriais. Este livro tem como objetivo explicar as técnicas utilizadas pela eletrônica de
potência e o funcionamento dos módulos de
potência aplicados no controle de velocidade
e torque das máquinas elétricas de corrente
contínua alternada.
Voltado para a formação de agentes difusores
e para quem quer ingressar no caminho da
conservação e do restauro, esta publicação traz
o cuidadoso trabalho de restauro e preservação
do patrimônio histórico, um tema rico, mas
desconhecido do público em geral. O livro
mostra que preservar o patrimônio histórico
significa valorizar a nossa sociedade e nossa
cultura, possibilitando aos mais jovens conhecer e conviver com o nosso passado.
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LANÇAMENTOS
DANIELE FINZI PASCA – TEATRO
DA CARÍCIA
FACUNDO PONCE DE LEÓN
PROGRAMA SESI-SP NA TRILHA DOS
SABERES – UMA POSSIBILIDADE DE
EDUCAÇÃO ALÉM DO REFORÇO ESCOLAR
GAROTO – O GÊNIO DAS CORDAS
SESI-SP
WALTER VICIONI GONÇALVES
Um contador de histórias, como ele mesmo se
define, Daniele, ao longo das últimas décadas
transformou algumas de suas histórias nos espetáculos mais vistos no mundo, como Corteo,
do Cirque du Soleil, Ícaro e La Veritá, da Companhia Finzi Pasca. Neste livro, ele apresenta
sua concepção artística iniciada a partir de
uma viagem à Índia aos 18 anos, e revela como
transforma simples cenas que observa no cotidiano em algo extraordinário, tornando a vida
comum em heroica.
Um projeto de educação não formal que inclui
atividades de esportes, artes e reforço escolar, e
identifica as deficiências, reconhece a capacidade dos alunos de escolas públicas e oferece a
possibilidade de eles aprenderem e desenvolverem conhecimentos aplicados a situações reais e,
principalmente, ligadas à vida da comunidade.
Esse trabalho que o SESI-SP realiza, desde 2007,
nas salas de aulas que mantém nos Centros da
Criança e do Adolescente (CCA) em Heliópolis, é
detalhado neste livro.
Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, deixou um
vasto legado de peças musicais, mas, passados
50 anos de sua morte, a grandiosidade de seu
talento não é proporcional ao público que o
conhece. Esta obra mostra a trajetória desse
instrumentista, que, autodidata, gravou seu
primeiro disco aos 15 anos. Percorremos o
mundo de Garoto por meio de amigos músicos,
que nos contam histórias, muitas delas inusitadas, além de fotos memoráveis e partituras
com suas melodias de destaque.
STRINDBERG E O PODER
CONVERSA DE ALGUMAS HORAS E
MUITOS ANOS COM O DRAMATURGO E
DIRETOR TEATRAL VLADIMIR CAPELLA
CINEMA PORTUGUÊS: UM
GUIA ESSENCIAL
MARIA LÚCIA LEVY CANDEIAS
PAULO CUNHA E MICHELLE SALES (ORGS.)
VLADIMIR CAPELLA
Esta publicação apresenta a questão do poder,
tema recorrente no teatro de Strindberg, seja o
poder como abuso de autoridade, seja o poder
nas relações cotidianas, e nos permite identificar os procedimentos utilizados pelo dramaturgo que caracterizam o personagem na percepção do espectador. A autora misturou vida e
obra de Strindberg, assim como o próprio fazia
em seus escritos.
Para um autor de peça teatral, criar personagem é tarefa corriqueira. Por isso, o mais inusitado nesta obra foi incorporar um entrevistador
provocativo para questionar a si mesmo sobre
questões pessoais, carreira e opinião a respeito
do mundo das artes. O criador não foi poupado
por sua criatura, que não se intimidou em fazer perguntas indiscretas nem em colocá-lo em
situações embaraçosas. E ele se despiu de todos
os seus personagens para revisitar, com transparência, sua trajetória.
A constante busca por novas linguagens estéticas e narrativas, aliada a uma ampla liberdade
criativa, sempre foi característica fundamental
do cinema português e perdura até hoje, 110
anos depois de seu surgimento. Cinema português: um guia essencial dedica 11 capítulos para
avaliar cada década de história da cinematografia lusitana, abordando desde o início dos
curtas-metragens até os dias atuais na visão de
profundos conhecedores do assunto.
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10
A SOFISTICAÇÃO
DA SIMPLICIDADE
POR ROBERTO MUYLAERT
(COM COLABORAÇÃO E CUMPLICIDADE TOTAL DA ENTREVISTADA)
“Corte, por favor, as maiores bobagens que encontrar”, foi o recado que Nina Horta mandou a este repórter, ao terminar a entrevista. Para quem não a conhece
pode parecer demagogia, diante da lição de vida que ela traz. Na verdade, trata-se
de uma excessiva dose de autocrítica. Uma mensagem importante é a revelação de
seu amor incondicional pela leitura, o que agrada a quem gosta de ler, e também
à SESI-SP Editora, que publica esta revista Ponto.
Uma entrevista para ser lida com atenção: contém preciosidades
aparentemente simples, mas conceitualmente valiosas.
Nela, há conceitos aplicáveis a uma parte da sociedade afluente de
São Paulo, onde “o que custa muito deve valer muito”, levando a uma ostentação permanente. A entrevistada mostra que a maior virtude está na simplicidade, onde mora a verdadeira sofisticação.
DE TUDO QUE VOCÊ FAZ, O QUE LHE TRAZ MAIS SATISFAÇÃO?
Só ultimamente tenho notado que escrever me dá mais satisfação. Não,
não diria isso, escrever me dá mais prazer porque é o descanso do trabalho burocrático de
uma firma. Imagino que se ganhasse a vida escrevendo, o gostoso seria esfolar galinhas
e fazer bolinhos de tia Nastácia.
ALÉM DE CHEF REQUINTADA, VOCÊ DIRIGE O BUFÊ GINGER, CONHECIDO
PELA QUALIDADE DOS PRATOS, DO ATENDIMENTO, ASSIM COMO PELA
TRADIÇÃO. DEPOIS DE TANTOS ANOS DE TRABALHO, COMO VOCÊ ANALISA ESSE MERCADO HOJE?
Obrigada pelos elogios ao bufê. Quando você fala em tradição, acho graça. Esses anos passaram voando, parece uma pequeníssima parte de minha vida. Posso
ler como vai o bufê no jornal, um microespelho das situações em geral. No plano Collor,
alguns clientes nos pagavam com um boi (fazendeiros), uma senhora com um anel, e
Nina Horta
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agora ainda não coloquei o dedo direito no que está acontecendo. Como nossos clientes
geralmente são ricos e não perderam o dinheiro, a retração do mercado de bufês parece
uma mudança de comportamento, muito boa para o Brasil e péssima para os bufês. Menos festas, menos gastos, menos luxo. Sob o ponto da cultura brasileira, imagino que seja
positivo. Você vai a um jantar em Londres e ajuda a dona da casa a cozinhar, e a comida
é pouca e boa. Os convidados se servem, não há uma multidão de copeiros e copeiras
correndo ao seu menor aceno. Até os copos são de plástico (benfeitos e bonitos). Nós ainda
estamos engatinhando para deixar para trás os modos da Corte.
QUAIS AS MUDANÇAS NAS ENCOMENDAS DE SEUS CLIENTES? EXISTEM
MODISMOS NESSA ÁREA? SAZONALIDADE?
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É como se fosse o Fashion Week. Não me incomoda muito porque gosto
de novidade. Mas a maioria dos bufês são iguais. Copiamos imediatamente tudo uns
dos outros. Sem problema, até o mundo científico funciona assim para ir para frente.
Na cozinha, diz-se “que achar uma receita nova é como achar uma nova estrela no firmamento”, e é verdade. Os modismos são muitos, mas mudanças profundas são raras. E
nós brasileiros somos muito jovens nessa arte de comer, de apreciar a comida. Pulamos
do arroz com feijão para o salmão e o sushi num piscar de olhos. Existe a sazonalidade,
também, mas não pedida pelo cliente e sim oferecida pelo bufê. É a hora em que as comidas são mais baratas e mais gostosas. Era dessa sazonalidade que você estava falando ou
das épocas em que um bufê trabalha mais? Essa não existe, não, é a coisa mais imprevisível, nunca mais se pode apostar num mês de maio para noivas (agora elas trabalham e
querem se casar em julho, nas férias da gente!!!!). Há meses fracos num ano e cheíssimos
no outro. É imponderável, infelizmente.
O que me parece uma tendência de comportamento é a coragem para a
descontração, uma vontade de comer um pernil (encomendado do bufê, com uma boa
cerveja gelada). E com certa imodéstia posso dizer que foi uma das únicas bandeiras que
levantei nos meus artigos de jornal, de que a festa deve caber direitinho no seu bolso para
ter graça. Com isso podemos ainda ter as grandes festas, obrigatórias para quem gosta e
pode fazê-las, e a simples reunião amiga, sem frescuras.
COMO CONVIVEM A COLUNISTA, A ESCRITORA E A PROFISSIONAL DE
GASTRONOMIA?
A escritora, para o bem ou para o mal, se perdeu. De vez em quando fico
triste pensando que poderia ter desenvolvido a escrita que ficou manca por causa das
outras atividades. Não sei. Talvez seja uma ilusão, mas pela qual eu pagaria para ver.
SEU LIVRO NÃO É SOPA LANÇADO EM 1995, E QUE CONTINUA SENDO
EDITADO, REVELA MUITO DE SUA PERSONALIDADE, COMO DESTACOU A
FOLHA EM RESENHA (POR QUE NÃO DIZER?), SABOROSA: “EM PÁGINAS
ENGRAÇADÍSSIMAS, FALA DAS DELÍCIAS DA COMIDA PERVERSA, COMO
PASTEL DE FEIRA E TORRESMO DE PADARIA...”. VOCÊ PODERIA FALAR DE
UMA OBRA MAIS RECENTE, DE 2002, VAMOS COMER, SOBRE CONVÍVIOS
E CONVERSAS NA VIAGEM EM BUSCA DAS MERENDEIRAS, FEITA PARA O
GOVERNO FHC, QUE CORRESPONDE A UM TRABALHO PESADO DE CAMPO
PELO BRASIL, DE GRANDE ALCANCE SOCIAL E EDUCATIVO.
Tive que fazer esse livro num tempo recorde, mas ele me trouxe muitas alegrias. Por ser um livro completamente fora do padrão surpreendeu muita funcionária escolar,
da diretora à orientadora. Descobriram muitas saídas e novidades. Fomos levados pelo Brasil
afora e nos mostravam o que queriam, é certo. Mas, as merendeiras só nos surpreenderam com
seu senso comum, criatividade, mão boa para cozinhar, respeito aos ingredientes. Quando
começamos, elas estavam meio gagas, presas de um discurso de nutricionistas, aquela coisa
de comer casca de banana e suco de couve. Aos poucos foram mostrando a cara, de brasileiras
conhecedoras de suas mandingas, de seus matinhos, de seus ingredientes. Faziam tudo que a
nutricionista mandava e mais o universo enorme de sua sabedoria e bom senso ao lidar com
crianças. Aprendemos muito no ano das merendeiras com as próprias merendeiras. Fomos
juntos, o Carlos Siffert e o Olivier Anquier, do sul ao norte e entendemos muito bem o que
elas queriam. O Olivier dava aula de pão, que era farinha, fermento e trabalho, o retrato do
que se podia fazer nas escolas em todos os sentidos. Com muita graça, com muita garra e com
ingredientes mínimos, achados em qualquer canto fundo do Brasil.
O Carlos e eu resolvemos por um programa de autoconhecimento das merendeiras, a valorização e a dignidade do conhecimento prático, da mão na massa, do fértil relacionamento com a criança. Queríamos prestigiar as merendeiras e acho que conseguimos. É preciso
uma revista inteira para falar sobre esse ano dedicado às merendeiras. Vou parar por aqui.
VOCÊ ÀS VEZES SE QUEIXA DE NÃO ENTENDER MUITO BEM O MUNDO EM
QUE ESTÁ VIVENDO. SAUDOSISMO?
De vez em quando me dá um desânimo, acho que não caibo mais no mundo
que é hora de descer do bonde. Perdemos muitos valores, ficou brega falar em valores, ou melhor, tudo vale, e me sinto meio jurássica. Depois reajo qual fênix e toco a vida. Um problema
desagradável que me faz passar por alienada é escrever sobre comida. Muitos gostariam que
eu falasse sobre a FOME, mas isso não quer dizer que eu não tenha consciência do problema.
Infelizmente, eu precisaria escrever em outro caderno para poder agradar a todos.
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COMO VOCÊ SE POSICIONA NA POLÊMICA DO FOIE GRAS ?
Só há pouco tempo me dei conta do sofrimento animal. Fui criada com a
ideia de que os animais tinham sido postos no mundo para nos alimentar. Achei cômoda
a proposta de só comer animais mortos com compaixão, mas percebo que não resolve
tudo. No outro dia li um autor que, por saber demais, acha que não sabemos ainda se o
animal sofre para morrer, é uma polêmica ainda mais profunda do que a que posso entender. E, enquanto isso, sem vergonha, vou comendo minha galinha ensopada.
O que odeio é a paranoia em torno do alimento que tomou conta do mundo. Comer, hoje, tornou-se uma complicação que estraga toda a refeição. Cada macinho
de brócolis vem acompanhado de uma bula de letrinha pequena. Sou totalmente contra
essa visão da comida como remédio, qualquer dia vamos comprar o conteúdo da lancheira de nossos filhos na Bayer, quando pão com ovo frito é tão mais interessante!
JÁ PENSOU EM FAZER UM GUIA DE COMO COMPRAR ALIMENTOS?
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Já. Minha filha pensou. Chegou a ter em mãos o boneco. Seria um estouro,
muito e muito interessante, dava gosto, completamente diferente de um simples folder ou
revistinha. Não deu certo.
VOCÊ FALA SOBRE POLÍTICA?
Política, não. Nunca me sinto capaz de avaliar os candidatos, sempre me
faltam informações. E é tanta mentira que o que há de se mudar é o modo de votar, talvez
um voto distrital como nos Estados Unidos. Dos candidatos posso falar pouco, só impressões e intuições, mas quem sabe até as eleições já consegui distingui-los com certezas?
VOCÊ CONCORDA QUE UM BOM LIVRO AINDA É A MELHOR COMPANHIA?
Ah, ando lendo demais! Depois do iPad se tornou muito fácil comprar livros. Leio compulsivamente a todo momento. Olhando minha conta da Amazon parece
que meus preferidos são livros de comida. Não de receitas, de comida, mesmo. Ensaios,
principalmente sobre a situação do Oriente Médio, ensaios de crítica literária que leio
como se fossem romances, adoro. E ultimamente fiz uns cursos na internet com carga de
leitura muito pesada. Romances americanos ou romances em geral que são dados por
faculdades americanas. O link é < https://www.cousera.org >. As aulas são esplêndidas,
fazem com que a gente ponha em xeque a ideia de que o computador sempre precisaria
de um professor ao lado para envolver o aluno. E a verdade é que nos envolvemos com o
professor virtual. Não tem gente que casa pela internet?
Leio livros difíceis de serem entendidos, leio mesmo. Leio com ódio, mas
sou viciada. Joyce, Eliot, Faulkner. Por prazer descobri Flannery O´Connor e Foster
Wallace, mas são difíceis, também, e bem escritos demais. Mas tudo que cai na rede é
peixe. Biografias, por exemplo. Das melhores às piores. Acabei de ler a biografia de Lily
Safra. Não sei se elas me descansam como entretenimento ou se sou fofoqueira de nascença. Li a biografia não autorizada do Naipaul, escrita por um amigo que brigou com ele,
e achei muito mais doce e compreensiva do que a autorizada, na qual Naipaul se expõe
completamente e se mostra, ao meu ver, pior do que realmente é.
Meu pecado na leitura é o pouco conhecimento dos latino-americanos. Os
modernos, então, nem ponho a mão. Alguns deles estão aparecendo na Amazon, daí vai
ser fácil. Minha leitura segue o Kindle. Tem no Kindle, leio. Não tem, não leio.
Livros que leio todos anos, a obra toda, as memórias de Pedro Nava e Madame Bovary, de Flaubert. E de tempos em tempos Uma casa para o sr, Biswas, de
Naipaul.E quisera ter tempo de ler mais, essa sim é minha profissão preferida, a de leitora. Sinto muita falta de um clube do livro onde possa conversar sobre o assunto. Pertenci
a um por 30 anos, mas tive que parar pois o trabalho não me permitiu mais ir às reuniões.
O que acho, e o que prego, é que as leituras informam o trabalho. Quanto
mais você lê, mais esperta fica no que faz. Daí aparecem as dificuldades com a mão de obra
que está lendo cada vez menos, mas os adiantados são eles, pois a leitura que fazem imediata
é a do YouTube, querem imagens, e suponho que no futuro viveremos quase só de imagens.
Posso ficar horas e horas conversando sobre o assunto, o que me leva a
crer, quase que anulando a entrevista, que não sou cozinheira nem cronista, tenho como
profissão a santa leitura.
E nas respectivas línguas. Meu pai me dizia: “Leia sempre que puder no original”. Quando eu era bem pequena, ele pegou um livrinho de detetive, de mistério, em inglês, e
começou a ler comigo todas as noites. Um dia, no auge da trama, deixou o livro de lado e disse
que não queria mais saber daquela história. Achei de extremo mau gosto, mas tive que acabar
sozinha, quase detonando cada palavra para que ela explodisse em entendimento. Cada língua nova facilita a próxima. Quem lê bem em inglês só precisa aprender o básico do alemão
para aprender a ler. Sabendo alemão e inglês, o holandês está no papo. Sabendo português e
espanhol, o italiano se aprende em dois meses, e a essa altura o francês já entrou no rol. Adoro
línguas e, por adorar e ler em muitas delas, não falo e nem escrevo bem em nenhuma. São outras habilidades, eu sei ler, não escrever. A não ser francês e inglês, essas são passáveis.
Não posso deixar de agradecer aos céus esse meu amor aos livros, há sempre uma coisa nova para aprender, para divertir. Um parque de diversões.
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ONDE VIVEM
AS FADAS
Nos contam em antigas lendas sobre
prodígios tantos, grandes heróis e prebendas,
dificultosos fatos, de alegrias, festejos,
de chorares e lamentar; de
batalhas de bravos guerreiros,
prodígios agora ireis escutar.
(manuscrito “C”, de “A Canção dos Nibelungos”,
saga germânica do século XIII)
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Foto Vivian Fernandez
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Cena do espetáculo Crônicas de Cavaleiros e
Dragões – O Tesouro dos Nibelungos, exibido
no Teatro do SESI-SP.
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De história em história se chega à versão da célebre obra germânica para o público
jovem. A autora do feito só poderia ser a escritora Tatiana Belinky: de origem russa,
naturalizada brasileira, ela praticamente foi alfabetizada em alemão, quando tinha não mais que cinco anos de idade. Lançado em 1994, o livro “A Saga de Siegfried
– O Tesouro dos Nibelungos” apresenta às crianças e adolescentes brasileiros os
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CAVALEIROS BRASILEIROS
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Você sabe onde vivem as fadas, as bruxas, os dragões e os elfos? No mesmíssimo
endereço onde podem ser encontrados as princesas, os príncipes e os cavaleiros
de armadura. Este lugar se chama reino da fantasia e para lá existe apenas um
tipo de transporte: nossa imaginação. No entanto, os seres fantásticos, em algum
tempo, de algum modo, existiram de verdade, dando base para que fossem criadas
as histórias de belas e encantadas fadas, das doces e casadouras princesas, dos destemidos e valentes cavaleiros e, claro, das malvadas e monstruosas bruxas. Não é
possível dizer com certeza, mas as primeiras manifestações sobre esse conjunto
de personagens do imaginário mundial parecem ter origem nos povos celtas, tendo sua influência se espalhado por toda a Europa.
Desta encantada fonte beberam muitos escritores, poetas e contadores de histórias. Basta ver as sagas pós-modernas que se baseiam nessa rica mitologia, como as séries “O Senhor dos Anéis”, de R.R. Tolkien, e “Harry Potter”, de
J.K. Rowling. Nela também saciou sua sede o compositor alemão Richard Wagner, com sua mais célebre obra, um conjunto de óperas “O Anel dos Nibelungos”.
A intrincada peça musical foi baseada em um poema épico alemão do século XIII
(por volta do ano 1220), intitulado “A Canção dos Nibelungos”, uma série de 35
manuscritos que relata a saga de heróis germânicos, misturando antigas tradições orais com eventos e personagens históricos dos séculos V e VI.
Os personagens principais do poema são inspirados em fatos e
pessoas reais e, por isso mesmo, seguem regras de comportamento condicionadas pela ética da cavalaria medieval e do amor cortês. Assim, temos o rei dos hunos, Átila, que se casou com a princesa germânica Idico, em 453 (ou, no poema,
Kriemhild, que, na verdade, ama o herói Siegfried). Também são descritas as
conflituosas relações entre a rainha Brünhild, o rei Gunther e a amante deste,
Fredegunde. Os nibelungos, igualmente, têm vínculos como em uma antiga
lenda – seriam originalmente uma raça mitológica de anões guardiões do tesouro tomado pelo cavaleiro Siegfried.
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seres imaginários e mágicos tão queridos por uma Tatiana que sempre conservou
a menina que um dia foi. Eles passeiam, guerreiam, amam e sonham nas páginas
do livro que mereceu o Prêmio Jabuti de Melhor Ilustração no ano seguinte ao de
seu lançamento.
Embora fiel aos versos do original alemão, a história está dividida
em apenas duas partes. Na primeira, o cavaleiro Siegfried mata o dragão guardião
do tesouro dos nibelungos e chega à corte dos burgúndios, onde torna-se herói,
casa-se com a princesa Kriemhild, mas é morto por traição. Na segunda parte, sua
viúva traça uma terrível vingança contra os assassinos de Siegfried, mas acaba
exterminando seu próprio povo. Apesar do drama, assim como na história tradicional, não há julgamento ou crítica sobre o comportamento dos personagens.
Trata-se de uma saga que retrata os grandes gestos de heroísmo, coragem e lealdade. Em sua versão, Tatiana se apropria lindamente desse espírito, com toda a
habilidade que sempre teve como escritora. Por entender e respeitar seu público,
ela foi capaz de abordar tais temas de maneira lúdica e cativante.
Esta foi a magia que nos legou Tatiana, quando morreu em junho
deste ano. Os primeiros ingredientes foram colocados no caldeirão dessa menina
que queria ser bruxa em 1948. E os primeiros encantamentos vieram na forma
de criações e traduções de peças infantis, seguindo assim durante toda sua vida e
resultando em mais de 250 títulos, entre textos próprios, adaptações e traduções
de clássicos, folclore brasileiro, textos para dramaturgia e limeriques (poemas originados na Irlanda).
HOMENAGEM
Exibido no Teatro do SESI-SP, de 20 de março a 30 de junho, o espetáculo “Crônicas
de Cavaleiros e Dragões – o Tesouro dos Nibelungos” foi encenado em comemoração ao aniversário de Tatiana, que completou 94 anos em março de 2013. A concepção e pesquisa ficou a cargo de Deborah Corrêa e Elder Fraga, com roteiro de Paulo
Rogério Lopes. O espetáculo infantojuvenil foi apresentado em sessões gratuitas e
abertas ao público, com direção geral de Kleber Montanheiro, direção de bonecos
(criados por Márcio Pontes) de Henrique Sitchin e elenco de nove atores: Rogério
Brito, Niveo Diegues, Joaz Campos, Ricardo Gelli, Daniela Flor, Bruna Longo, Natalia Quadros, Luiza Torres e Adriano Merlini.
“A ideia central da encenação é a adaptação do mito nórdico com
uma aproximação ao universo brasileiro. Buscamos uma identificação imediata do
público sem localizar no tempo e no espaço onde se passa a história. Cada persona-
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Capa do livro/DVD baseado na obra de Tatiana Belinky.
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“Foi muito importante para mim, como diretor, passar por isso, porque
eu tenho um trabalho específico em teatro para criança e faltava Tatiana
Belinky na minha carreira.” – Kleber Montanheiro, diretor
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“Foi uma responsabilidade imensa trabalhar com a linguagem de uma das
mestras da linguagem.” - Paulo Rogério Lopes, responsável pela adaptação
da peça.
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“Fico feliz porque fizemos em tempo para que ela recebesse a homenagem,
um espetáculo grandioso, bonito, importante. E quando há um contato
direto com os jovens, público-alvo da peça, é fantástico.” - Ricardo Gelli, ator,
intérprete de Siegfried
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gem defende conflitos que se assemelham ao nosso dia a dia. Valores éticos e morais são discutidos no espetáculo, que traz à tona as relações pessoais e as escolhas
de cada um”, contam Deborah e Elder, que começaram a carreira em montagens de
textos dramatúrgicos de Tatiana Belinky. “Somos conhecedores profundos da obra
desta autora e tivemos o privilégio de conviver com ela desde 1998. Com a montagem, pretendemos render um tributo à grande artista que é Tatiana, difundindo
sua obra e partilhando-a com tantos outros apreciadores de suas histórias e também com aqueles que ainda não tiveram contato com o universo deslumbrante de
seus livros”, declaram.
Para perpetuar ainda mais o legado de uma das mais importantes
escritoras infantojuvenis brasileiras aliado a uma das mais marcantes fábulas medievais do mundo, a SESI-SP Editora acaba de lançar o livro, que acompanha um
DVD, desta primeira adaptação da obra de Tatiana para o teatro.
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A OBRA DE ARTE
NA ERA DE SUA
VALORIZAÇÃO
CULTURAL
Foto Hugo Curti
Mais do que apenas objetos icônicos, as
produções artísticas artesanais são capazes de preservar tradições e de permear
em si a identidade de seus criadores. Expressão da criatividade de povos e comunidades, a arte popular ultrapassa fronteiras e destrói o concreto das convenções.
Dona Marina, A Catrina, obra de Felipe Linares
Mendoza, 1992, Cidade do México, México.
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A arte é uma atividade manifestada pelos homens desde os tempos ancestrais, a
partir do momento em que passaram a viver em grupos organizados socialmente. Foi na contemporaneidade, porém, que surgiu a tendência de classificar tal
manifestação natural por tipos, escolas e vertentes, o que nos conduz automaticamente à dicotomia entre “arte erudita” e “arte popular”. Para o pesquisador
português Nuno Saldanha, estes são conceitos complexos, que devem ser usados
com precaução, posto que nem sequer existe uma definição precisa sobre as realidades a que um ou outro se referem. O termo “popular” em si próprio é um dos
mais ambíguos, quase tão indefinível quanto a própria arte. O conceito de erudição também não oferece maiores certezas.
Talvez a saída, para fins de entendimento, seja observar os dois
“tipos” de arte pela ótica da “exclusividade” x “reprodutibilidade”, mas nem
esta perspectiva oferece um campo pleno de acertos. Que o diga o principal autor a tocar neste assunto, o sociólogo Walter Benjamin, com seu clássico ensaio
“A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica”, escrito originalmente em 1936. O estudioso questiona o valor da obra de arte, a partir do momento
em que surgiram técnicas que facilitam a sua reprodução em série – um desenho infinitamente copiado por meio da impressão gráfica, por exemplo. Diz ele
que, “mesmo na reprodução mais perfeita, um elemento está ausente: o aqui e
agora da obra de arte, sua existência única, no lugar em que ela se encontra”.
A crítica à obra de arte reproduzida, feita pelo sociólogo associado à famosa Escola de Frankfurt, poderia ser aplicada à arte popular, que,
por natureza, não é algo exclusivo, e sim muitas vezes reproduzido com fins
comerciais. Porém, não se pode acusar a produção artesanal de falta de tradição ou ausência de referenciais. São esses, aliás, seus principais atributos, as
palavras-chave a decifrar seu intricado conceito. Não apenas isso, a arte popular pode ter uma adição de valor justamente porque uma de suas funções é
preservar a cultura, manter vivos os costumes e destacar a expressão artística
do homem “comum”, que, por tal instrumento, se vê reconhecido. É, ainda,
uma atividade que deve ser observada não apenas sob a perspectiva estética,
mas também por sua dimensão econômica e social, como um meio de desenvolvimento para melhorar a qualidade de vida dos criadores e das comunidades em seu entorno.
Na verdade, as fronteiras entre a “arte popular” e a “arte erudita”
sempre foram e continuarão a ser incertas, difusas. Em sua origem, a produção
artesanal tem relação com o termo folclore (o saber do povo), que no século
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XVIII foi traduzido como “cultura do povo” ou “cultura popular”, referindo-se
apenas ao cabedal literário integrado por contos, fábulas, sagas, poemas e cantigas conservadas pela tradição oral camponesa.
No entanto, naquele momento histórico, sob o impacto da Revolução Industrial e das influências do conhecimento científico, esse saber oral,
transmitido de geração para geração e derivado da prática, era rechaçado por
representar um mundo que o progresso preferia esquecer.
Isso pode explicar o sentido pejorativo muitas vezes atribuído à palavra folclore e, consequentemente, à cultura popular, por ser originada nos extratos
da população trabalhadora mais pobre. Tratava-se, então, das culturas dos migrantes rurais expulsos do campo e incorporados como mão de obra pela expansão
industrial. No mundo contemporâneo, essas pessoas podem ser encontrados em
favelas e bairros pobres da periferia das grandes cidades. Ou seja, as manifestações
culturais incluídas no âmbito do folclore e da cultura popular sempre estiveram
vinculadas a grupos sociais colocados em posição subalterna.
No dias de hoje, a arte popular é simplesmente entendida como
uma expressão da criatividade dos povos e das comunidades. As criações refletem a vida cotidiana, os costumes e as tradições de quem as produziu, os bens
herdados de gerações anteriores, que representam o eixo de valores simbólicos
em torno do qual se constrói a identidade e o sentido de domínio desses grupos.
Por isso mesmo, a arte popular também ajuda a entender como vivem certas
sociedades em diferentes países e quais são os seus costumes.
As diversas manifestações são sempre complementares e vinculadas entre si: dança, música, gastronomia e festa, com destaque para a produção
artesanal, especialmente por esta última fazer parte das redes sociais, econômicas e culturais do meio rural, das zonas populares das cidades e, certamente,
das composições étnicas de cada país. Em geral, essa produção abrange peças
utilitárias, decorativas e cerimoniais, objetos para o uso diário no lar e no trabalho, que têm algum propósito estético associado ao seu uso cotidiano ou a
uma finalidade ritual.
São concebidas a partir de técnicas muitos simples, manuais ou
com ferramentas não industriais, ainda que muitas delas tenham alta complexidade técnica. Esta atividade pode representar a chave para uma vida melhor para
muitos homens e mulheres, sendo realizada no interior de economias principalmente domésticas, basicamente como meio de subsistência. Os criadores podem
se dedicar a isso em tempo integral, parcial ou durante temporadas.
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Em 2012, o Ministério da Cultura do Brasil lançou o Plano Setorial para as Culturas Populares, cujo objetivo é integrar diretrizes no sentido de implementar políticas públicas. A iniciativa do MinC se configura, desde 2003, como um esforço
de alta complexidade. Primeiro porque vivemos em um país de dimensões continentais. Segundo pela multiplicidade étnica resultante da colonização ibérica,
das invasões francesa e holandesa, dos povos africanos trazidos para cá por meio
do comércio de escravos, dos nativos indígenas e de todos os outros elementos
que compõem a sociedade brasileira, como os imigrantes que chegaram com a
industrialização. Todos esses povos misturaram símbolos, ícones, santos, ritos
e tradições e geraram um universo formado pela influência de várias culturas,
costumes, cores, ritmos, poesias, odores e sabores. É nesse contexto que surge a
arte popular.
O problema é que o Brasil, até muito recentemente, escreveu sua
história sob a lógica da dominação cultural exógena. Foi pelas mãos de pessoas
como o crítico e historiador da literatura brasileira Sílvio Romero (1851-1914)
e, principalmente, do escritor Mário de Andrade (1893-1945), que os valores da
cultura popular começaram a ser resgatados. Porém, o cenário só mudou para
valer depois da promulgação da Constituição de 1988, que pede o reconhecimento de uma sociedade composta por uma “pluralidade de categorias sociais,
de classes, grupos sociais, econômicos, culturais e ideológicos”. No mundo, o
marco de passagem está sedimentado em 2005, quando a Unesco (Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) produziu a Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais.
A definição dessa diretriz global também é importante para consolidar, no Brasil, as relações com a nações coirmãs da região ibero-americana,
integrada por países que já fizeram parte dos impérios espanhol e português,
e que, talvez por isso mesmo, têm muitos pontos de convergência cultural no
que tange à produção artística. Na Europa, há ainda a participação de Andorra
no grupo de países-membros. Nas Américas, além do Brasil, outros 19 países
são integrantes. E o que esperar de um caldo que reúne diferentes idiomas, dialetos, origens, tradições e etnias? Nada menos que uma rica mistura cultural,
que, transformada em arte, encanta por sua diversidade, riqueza e bagagem
pesada e tão extensa quanto a geografia da região.
Árvore dos artesanatos ibero-americanos, 2012, feita
em barro moldado, modelado, com decoração em
relevo e policromado a frio, Metepec, México.
Foto Hugo Curti
ARTE POPULAR NA AMÉRICA
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Foto Hugo Curti
UM VISLUMBRE DE ARTE POPULAR
Um pouco dessa arte tão rica pode ser capturado pelos visitantes da mostra
“Grandes Mestres da Arte Popular Ibero-americana”, da Coleção Fomento Cultural Banamex (Banco Nacional do México), que fica em cartaz até 19 de janeiro de
2014, na Galeria de Arte do SESI-SP, no Centro Cultural FIESP – Ruth Cardoso, na
capital paulista.
A exposição tem curadoria de Cándida Fernández de Calderón e
já passou por México, Espanha e Colômbia. Chega ao Brasil com mais de 1.300
obras, o melhor do trabalho artesanal de cerca de 50 etnias e mais de 260 poCanast, obra de Edilsa Hitucama
Negria, 2011, Panamá.
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Embora hoje estejam preservadas e salvaguardadas pela Unesco, a cultura e a arte
populares já sofreram sérios danos, correndo mesmo o risco de ver extintas determinadas práticas e técnicas artesanais. Nesse contexto, sobressaem os grandes
mestres, indivíduos centrais no processo de manter viva a tradição. O movimento
de reconhecimento desses expoentes começou em meados do século XX, mesmo
assim só uma pequena parte da sociedade está consciente da sabedoria e da experiência desses artesãos.
Um grande mestre se diferencia do grupo de artesãos porque, com
suas obras, consegue transmitir um vínculo especial entre os materiais e seu
trabalho. Ele é capaz de permear suas peças de lampejos de genialidade, criatividade e maestria no manejo das técnicas. É aquele que se torna um exemplo
reconhecido pela comunidade, graças à beleza e força de suas peças, à excelência
de sua manufatura, à trajetória na criação artesanal e ao domínio de sua arte.
São, invariavelmente, pessoas brilhantes, generosas, diretas e guiadas pela paixão, qualidades que estimulam seu trabalho diário.
Na perspectiva ibero-americana, os mestres artesãos são homens e
mulheres indígenas, mestiços ou europeus, com uma importante trajetória dedicada ao trabalho artístico. São muitos os nomes e as obras, como a tecelagem
da mexicana Nicolasa Pascual Martínez, as vasilhas utilitárias da colombiana
Rosa María Jerez, as árvores da vida em barro dos mexicanos José Alfonso Soteno Fernández e Óscar Soteno Elías, as joias em prata e cobre do chileno Lorenzo
Antonio Cona Nahuelhual, as peças decorativas em âmbar do dominicano Jorge Caridad, os brinquedos de madeira do venezuelano Mario Calderón, ou as
figuras populares em barro do brasileiro Antonio Rodrigues da Silva.
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GRANDES MESTRES, PRESERVANDO TRADIÇÕES
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENJAMIN, Walter. A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica
SALDANHA, Nuno. Arte Popular, Arte Erudita e Multiculturalidade. Influências, confluências e
transculturalidade na arte portuguesa
MINISTÉRIO DA CULTURA. Plano Setorial para as Culturas Populares 2012
Foto Hugo Curti
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pulações, que abarcam uma grande parte do território da região. Entre eles estão 79 brasileiros, como Welivander César de Carvalho e Glória Maria Andrade
(Minas Gerais), Anapuata Mehinako (Mato Grosso), Marcos Borges da Silva e
Marcos de Nuca (Pernambuco).
A Coleção Banamex reúne mais de 2.300 peças, selecionadas e reunidas entre os anos 2007 a 2012, em aproximadamente 390 localidades, como
amostra representativa do trabalho de 650 grandes mestres. É um resultado
da ampliação do Programa de Apoio à Arte Popular Mexicana, ação de incentivo cultural criada em 1996, cuja proposta é oferecer a um grupo de artesãos a
possibilidade de um futuro mais digno em suas comunidades, proporcionando
uma remuneração justa por seu trabalho. O programa inclui a publicação de
um livro com os 500 grandes mestres selecionados e a exibição da mostra em
diversos países da América e da Europa até 2016.
De tudo, o que se depreende é que a arte popular deixou de ser um
fenômeno secundário ou uma simples faceta pitoresca da cultura para converter-se em um meio de expressão forte que revela a presença tanto no imaginário de comunidades inteiras como no dos indivíduos. O que chamamos de arte
ou cultura popular ganhou, paulatinamente, uma posição-chave no itinerário
da história, da estética e da antropologia, permeando com peso específico os
campos acadêmicos e institucionais, gerando influências e pontos de contato
com numerosas manifestações formais do mundo contemporâneo.
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EXPOSIÇÃO GRANDES MESTRES DA ARTE POPULAR IBERO-AMERICANA
Local: Galeria de Arte do SESI-SP, no Centro Cultural FIESP – Ruth Cardoso (av. Paulista, 1.313, em frente à estação Trianon-Masp do metrô)
Quando: até 19 de janeiro de 2014 – diariamente, das 10 às 20h
Classificação indicativa: livre
Informações: (11) 3146-7405 e 3146-7406
Agendamentos de grupos e escolas: (11) 3146-7396, de segunda a sexta, das 10h às 13h e
das 14h às 17h
Entrada gratuita. Os espaços têm acessibilidade
Obras confeccionadas em barro, que fazem
parte da exposição Grandes Mestres da Arte
Popular Ibero-Americana.
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O BRASIL TAMBÉM
SE RENDE AO
LIVRO DIGITAL
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Depois de um período de indagações,
o mercado de eBooks finalmente ganha forma no país. E representa uma
revolução no relacionamento entre
leitores e leitura.
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Há pouco mais de dez anos, quando se começava a falar em livros digitais no
Brasil, o principal questionamento era se eles representariam o fim dos títulos
impressos e – mais do que isso - se cumpririam a difícil missão de conquistar
espaço no coração dos amantes da literatura em sua forma mais tradicional. Ter
de substituir o livro impresso e a experiência de folhear cada uma de suas páginas
por frias telas de computadores ou outros equipamentos de leitura digital parecia
um pesadelo distante não só para os leitores, mas para todo o mercado editorial.
Se nos anos que se passaram pouca coisa mudou em relação àquela
realidade e as previsões sobre os eBooks, como são chamados, restringiam-se apenas
ao campo do achismo, o último ano foi decisivo para a consolidação dessa revolução que, para muitos, é considerada o principal passo rumo à democratização da
leitura no país.
Os números demonstram que, se comparado aos grandes mercados
mundiais de livros digitais, o Brasil ainda está em uma fase embrionária. Segundo
pesquisa realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), a representatividade dos
eBooks no faturamento das editoras do país é de cerca de 1%, enquanto em alguns
países da Europa, como a Espanha, é de 20%, e nos Estados Unidos, líder mundial
no segmento, chega a 30%. Mas o estudo mostra também que o país já está no caminho para uma mudança drástica dessa realidade: de 2011 para 2012, o mercado
de e-books cresceu 350%.
“Esses resultados devem se transformar significativamente até o
final de 2013 e ainda mais durante o próximo ano”, afirma Susanna Florissi,
diretora da CBL. “A chegada dos principais players desse mercado ao Brasil e a
popularização crescente dos tablets podem ser considerados o pontapé inicial do
segmento no país”, comenta a diretora da CBL, em referência à chegada, em
dezembro de 2012, da Amazon, maior varejista eletrônica do mundo e fabricante do leitor de livros digitais – os e-readers - Kindle, além do Google e da canadense Kobo, por meio de suas plataformas on-line.
EM 2012, CHEGARAM AO BRASIL QUATRO GRANDES PLATAFORMAS
INTERNACIONAIS DE VENDA DE LIVROS DIGITAIS NO VAREJO: GOOGLE
EBOOKS, AMAZON, KOBO E COPIA.
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Mas, segundo ela, seria muito arriscado fazer estimativas certeiras sobre o real impacto de todas essas novidades para o mercado editorial nacional nos próximos anos. “Essa é uma fase de estruturação, é tudo muito novo
e é muito cedo para fazer previsões”, justifica.
O NÚMERO DE BRASILEIROS CONSIDERADOS LEITORES – QUE HAVIAM
LIDO AO MENOS UMA OBRA NOS TRÊS MESES ANTERIORES À PESQUISA
– CAIU DE 95,6 MILHÕES (55% DA POPULAÇÃO) EM 2007 PARA 88,2 MILHÕES (50%) EM 2011. DESSE TOTAL, APENAS 9% RECORREM À INTERNET
EM BUSCA DE LEITURA E 1% RECORRE AOS LIVROS DIGITAIS. ALÉM DISSO,
85% DOS DOWNLOADS DE LIVROS DIGITAIS NO PAÍS SÃO EM FORMATOS
COMPATÍVEIS COM LEITURA SOMENTE NO COMPUTADOR DE MESA.
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Sempre de olho nos acontecimentos desse mercado em todo
o mundo, Susanna prevê, no entanto, algo que pode servir de alento para os
amantes do livro impresso. “Por muitos anos ainda os livros físicos e virtuais
devem conviver e, em muitos casos, se complementar. Não acredito em uma total substituição de um pelo outro em tão pouco tempo.” Para ela, o eBook seria,
então, mais um formato para distribuição de conteúdo.
O governo brasileiro já deu os primeiros passos nesse sentido. Recentemente, estabeleceu que, por meio do Programa Nacional do Livro Didático, as editoras do país poderão inscrever também livros digitais, cujo acesso
possa ser feito por computadores ou tablets. A versão digital deve trazer o mesmo conteúdo do material impresso, além de ferramentas educacionais digitais,
como vídeos, animações, simuladores, imagens, jogos e textos. Assim, a partir
de 2015, cerca de sete milhões de alunos de ensino médio de escolas públicas
passarão a ter contato com eBooks.
Resta agora saber quando sairá do papel o projeto de lei que estende para os e-readers a isenção fiscal que hoje têm os livros impressos no país.
NOVOS HÁBITOS
O início da atuação de grandes empresas do mercado global no Brasil e as iniciativas do governo para aumentar a penetração dos livros digitais por aqui são
muito importantes para que as pessoas se acostumem cada vez mais a essa nova
forma de explorar a literatura. Mas nada disso seria possível se não fossem as
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profundas mudanças de hábito e de comportamento causadas pelo advento da
internet em nossas vidas.
“Eu sempre digo que não é o livro digital que está transformando
- e ainda vai transformar muito mais - o mercado de livros. É a internet, e a
enorme oferta de leitura que proporciona, a grande responsável por essas mudanças”, defende o editor especialista em livros digitais, Ednei Procópio, que
acaba da lançar a obra A revolução dos eBooks. A indústria dos livros na era digital.
APROXIMADAMENTE 10% DE TODOS OS LIVROS HOJE IMPRESSOS SERÃO
DIGITALIZADOS ATÉ 2014.
Para ele, diferentemente do que muitos imaginam, não é a indústria do mercado editorial que vem definindo os caminhos desse segmento, mas
os próprios consumidores. “O leitor mudou e agora tem acesso à literatura em
‘apenas um clique’. Quem não acompanhar essas mudanças vai ficar para trás.”
Ednei faz um paralelo com o que aconteceu com a indústria fonográfica. “Houve um momento em que a música se desmaterializou, tornou-se
livre. Por incrível que pareça, só então muitas gravadoras se deram conta de que
o consumidor não consumia o material em vinil, do LP, ou em acrílico, do CD,
mas a música”, diz. “O mesmo serve para o mercado editorial. Os leitores estão
primordialmente interessados no conteúdo, não no papel ou em uma impressão de qualidade”, complementa.
Em qualquer lugar do mundo, o nascimento de um novo mercado
pressupõe a superação de empecilhos inerentes a tudo o que é novidade e que
exige mudança de hábitos. Com o segmento de eBooks não é diferente. Agora,
quando falamos em um país como o Brasil, onde se lê muito pouco e – pior –
onde se lê cada vez menos, sem citar outros problemas sérios, como a exclusão
digital, esses desafios são muito maiores.
De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada
pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Ibope Inteligência, o número de
brasileiros considerados leitores – que haviam lido ao menos uma obra nos três
meses que antecederam a pesquisa – caiu de 95,6 milhões (55% da população)
em 2007 para 88,2 milhões (50%) em 2011. Desse total, apenas 9% recorrem à internet em busca de leitura e 1% recorre aos livros digitais. Além disso, 85% dos
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downloads de livros digitais no país são em formatos compatíveis com leitura
somente no computador de mesa.
ATUALMENTE, 67% DOS BRASILEIROS NÃO CONHECEM LEITORES DIGITAIS,
APARELHOS DESTINADOS A LEITURA DE PUBLICAÇÕES DIGITAIS.
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Estamos falando de números que poderiam ser desanimadores.
Mas não é o que pensa a Kobo, uma das maiores fabricantes de e-readers do
mundo, que chegou ao país por meio de uma parceria com a Livraria Cultura.
“O Brasil será o principal foco estratégico da empresa em 2014”, conta a gerente
sênior de relações com editores da Kobo no Brasil, Camila Cabete. “Não apenas
pelo grande potencial de crescimento do mercado de eBooks, mas também pelo
desafio de ter um universo enorme de pessoas que ainda pode adquirir o hábito
da leitura”, explica.
Ela salienta que, no momento, entre as barreiras para a expansão
do mercado no país está o tamanho do acervo de títulos disponíveis em português. “Dos 4 milhões de títulos digitalizados pela Kobo, apenas 16 mil estão em
língua portuguesa.” A empresa estima que esse número deva aumentar para
100 mil já no próximo ano.
Do lado das editoras, Camila acredita que já não exista mais tanto
receio em relação a problemas como pirataria. “A grande preocupação agora diz
respeito à gestão do conteúdo digital em um modelo de negócios que é novo
para as editoras”, afirma. “Elas passaram a entender que não basta disponibilizar os títulos em versão digital, é preciso ‘pensar digital’”.
O MERCADO DE LIVROS DIGITAIS NÃO MOVIMENTA NO BRASIL UMA CIFRA
QUE SEJA CONSIDERADA ACIMA DE 3% NAS GRANDES EDITORAS, E MENOS DE 1% PARA O RESTANTE DAS EDITORAS.
A primeira pesquisa da CBL sobre o mercado do livro digital no
país, divulgada durante o 4o Congresso Brasileiro do Livro Digital em junho deste ano, aponta que 68% das editoras do Brasil já comercializam livros em formato
digital, e 70% delas têm equipe dedicada exclusivamente a esse mercado.
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Os próprios autores estão dando novo direcionamento ao lançamento de suas obras para atender a esse novo segmento. O aclamado escritor
afegão Khaled Hosseini, de O Caçador de Pipas e A Cidade do Sol, fechou parceria
com a Kobo para publicação exclusiva de sua nova obra, O Silêncio das Montanhas, no Brasil e em outros países de língua portuguesa.
Já para os autores menos conhecidos e independentes, o livro digital abriu um leque de oportunidades de acesso a seus leitores inimagináveis na
época em que existia apenas o livro impresso. Por meio da plataforma autopublicadora, já apresentada pela Amazon, Kobo, Apple e, mais recentemente, pela
Livraria Saraiva no Brasil, o autor se cadastra pela internet, recebe a minuta do
contrato, faz o upload e ainda define o preço de sua obra.
SEGUNDO A PESQUISA RETRATOS DA LEITURA NO BRASIL, EXISTIRIAM
4,6 MILHÕES DE LEITORES DE LIVROS DIGITAIS NO BRASIL. ESSES USUÁRIOS DEDICAM, EM MÉDIA, 97 MINUTOS POR SEMANA À LEITURA DE
LIVROS DIGITAIS.
Como se pode constatar, o mercado do livro digital ainda está
engatinhando no Brasil, existem muitas dúvidas sobre seu futuro e o período
necessário para sua maturação e consolidação, mas há uma certeza: ele é uma
realidade irreversível. De uma maneira ou de outra, o eBook já faz parte do mercado editorial do país e está, cada vez mais, demonstrando que veio para ficar e
conquistar definitivamente seu espaço. É apenas uma questão de tempo, e bem
pouco tempo.
LIVRO ABORDA INÍCIO DA HISTÓRIA E TENDÊNCIAS DO MERCADO DE
EBOOKS NO PAÍS
Fazer um retrato amplo e profundo do mercado de livros digitais em seus primeiros passos no cenário editorial brasileiro. Com esse objetivo, o editor especialista
em livros digitais Ednei Procópio produziu A revolução dos eBooks. A indústria dos livros na era digital, lançado pela SESI-SP Editora e que estará disponível nas versões
impressa e digital.
“Produzi o livro pensando nas pessoas que, no futuro, se interessarão em saber como era o mercado de livros digitais quando tudo começou”,
comenta o autor, para quem a consolidação dos eBooks representa um momen-
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to histórico do mercado editorial mundial, que perdeu sua hegemonia sobre o
processo de publicação e exploração comercial dos livros. “Esse é um marco na
história da literatura, e o objetivo do livro é fazer um resgate do ponto de vista
de todos os componentes desse mercado.”
No livro, Procópio ressalta que “pode até haver um pequeno retrocesso nos negócios do mercado de livros digitais, que sempre vão precisar
de reajustes para avançar até o próximo patamar, mas a revolução tecnológica
atinge os livros em seu principal item: o conteúdo”.
A obra aborda, ainda, os entraves à evolução do mercado de eBooks
no Brasil, como a pirataria – “É um problema prático, que enfraquece o segmento e deve ser combatido pelas editoras” - e a alarmante falta de leitura no país.
Antes da conclusão da obra, alguns dos capítulos do livro foram
colocados no blog do autor, e muitas vezes alterados de acordo com interações
realizadas com os leitores. “Esse contato prévio com os leitores me ajudou a
tornar o conteúdo o mais essencial possível”, comenta.
A revolução dos eBooks. A indústria dos livros na era digital é a terceira
obra do autor sobre o tema, que já publicou também os livros Construindo uma
Biblioteca Digital, em 2005, e O Livro na Era Digital, em 2010. “Dentro de dois
anos, quando teremos um novo cenário do segmento no país, e essa etapa inicial já deverá estar consolidada, pretendo voltar a abordar o tema em livro pela
última vez”, adianta.
Recém-lançada publicação de Ednei Procópio sobre o
mercado editorial digital.
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Para alguns amantes da literatura já não faz mais
sentido confrontar vantagens e desvantagens dos formatos de livro impresso e digital. Os adeptos da nova versão já se habituaram, inclusive, a
alternar os dois, de acordo com o momento e a ocasião. Para aqueles que
ainda estão se acostumando a essa realidade, fizemos o comparativo abaixo. A escolha está em suas mãos.
DIGITAL X IMPRESSO -
Apesar de os preços dos leitores de livros digitais, os e-readers, ainda serem considerados caros para grande parte da população (os valores
mínimos partem de R$ 280,00), uma vez adquirido o aparelho, o leitor pode
encontrar, em sites especializados, alguns títulos cuja versão digital é até
80% mais barata do que a impressa.
PREÇO -
A portabilidade é considerada umas das principais vantagens do eBook em relação ao livro impresso. Para o leitores que costumam viajar, por exemplo, o livro digital possibilita levar dezenas, centenas
e milhares de títulos sem fazer peso na mala.
PORTABILIDADE -
Em tempos de busca pela sustentabilidade, a economia
de papel proporcionada pelo eBook é muito bem-vinda.
MEIO AMBIENTE -
Apesar de alguns e-readers já possuírem tecnologia que permite o ajuste da luminosidade de acordo com o ambiente, se
o leitor optar por ler seus livros em um computador ou tablet, pode sentir
desconforto nos olhos devido à luz emitida depois de algumas horas de
uso. Ponto para o livro impresso.
CONFORTO DOS OLHOS -
Fazer anotações, “rabiscos” e marcações sem
estragar o livro, além de buscar palavras, são algumas das possibilidades
exclusivas dos eBooks, que podem ficar mais interativos quando também
disponibilizam áudios.
TECNOLOGIA A SEU FAVOR -
Este é o principal motivo de resistência de
muitos leitores à chegada dos livros digitais. Ainda não foi desenvolvida
tecnologia que se compare à experiência de observar os livros nas prateleiras de uma livraria ou de um sebo, nem ao prazer de sentir o cheiro ou
folhear um exemplar impresso. Isso sem falar na possibilidade de pedir
autógrafo ao autor ou trocar exemplares com amigos.
EXPERIÊNCIA SENTIMENTAL -
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CINEMA ALEMÃO
CONTEMPORÂNEO
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POR SÉRGIO RIZZO
Dois estigmas pairam sobre o cinema alemão contemporâneo. O primeiro lembra o que ocorre também com a Itália e a França: a produção atual desses países
costuma ser confrontada à de seus períodos gloriosos, e a comparação, apesar do
evidente (e injusto) anacronismo, tende a ser cruel com os profissionais em atividade, sobretudo os mais jovens, como se eles estivessem muito aquém de um patamar de excelência já alcançado por suas cinematografias no passado. De acordo
com esse raciocínio, os protagonistas de hoje seriam meros “aspirantes” — alguns
mais talentosos do que outros, mas sempre “aspirantes” — perto dos “mestres”
insuperáveis de outros tempos.
No cenário alemão, duas imensas sombras históricas oferecem paradigmas incômodos às novas gerações de cineastas: a do expressionismo, na
virada dos anos 1910 para os 1920, quando uma série de obras-primas — esmiuçadas por estudos clássicos de Siegfried Kracauer (De Caligari a Hitler) e Lotte
H. Eisner (A tela demoníaca) — ajudou a definir o cinema como arte e também
como ferramenta valiosa para a compreensão da sociedade; e a do “novo cinema
alemão”, que eclodiu graças a um manifesto com apelo de “convocação para a
batalha”, no Festival de Curtas-Metragens de Oberhausen de 1962, e que ganhou tradução, na década seguinte, com a consagração internacional de diretores como Alexander Kluge, Rainer Werner Fassbinder, Wim Wenders, Volker
Schlöndorff e Werner Herzog.
O outro estigma, que também está longe de ser uma exclusividade
alemã, tem a ver com o funcionamento do mercado cinematográfico global,
sob o controle das grandes companhias norte-americanas de distribuição. Na
maior parte do mundo, as salas de cinema são dominadas pela produção dos
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Imagem do filme Do Outro Lado.
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Estados Unidos; um modesto nicho é disputado pela produção dos demais países, inclusive em seus próprios territórios. Em virtude desse fenômeno de ordem econômica, poucos filmes alemães (bem como franceses e italianos, entre
muitas outras nacionalidades) conseguem furar o bloqueio e fazer carreira internacional. Nesse momento, eles se tornam, no exterior, a parte que será confundida com o todo — um único filme alemão visto no período de um ano pode
sugerir a um espectador desavisado, em Nova York ou São Paulo, que todos os
filmes alemães se parecem com aquele, quando nem mesmo o uso do idioma
alemão pode hoje ser apontado como um denominador comum.
É preciso incluir nesse pacote a mídia, que multiplica o “efeito-miragem”. Um bom exemplo é o dos filmes alemães de maior público e prestígio internacionais nos anos 2000: A Queda - As Últimas Horas de Hitler (2004), de
Oliver Hirschbiegel, com Bruno Ganz (um ícone do novo cinema alemão dos
anos 1970) no papel de Adolf Hitler, e A Vida dos Outros (2006), de Florian Henckel von Donnersmarck, sobre as atividades da temível Stasi, a polícia secreta da
antiga Alemanha Oriental. Se essa parte (notável, diga-se) representar o todo,
pode-se equivocadamente concluir que o cinema alemão (e com ele, diriam os
mais apressados, a própria sociedade alemã) ainda está preso ao fantasma do
nazismo e às consequências geopolíticas da II Guerra Mundial. Até mesmo um
terceiro filme de trânsito internacional nesse período poderia ser invocado para
confirmar a tese: A Onda (2008), de Dennis Gansel, que imagina a reedição do
pesadelo totalitarista entre a juventude alemã de hoje.
Essa percepção reducionista encontra um forte contraponto na
seleção de filmes da Mostra Cine SESI-SP no Mundo: Alemanha Contemporânea, que reúne 14 longas-metragens lançados entre 2003 e 2010. Pode até não
parecer muito, para um país que colocou 220 longas-metragens no circuito cinematográfico em 2012 (além de 298 filmes produzidos no mesmo ano para a
TV), mas já configura um recorte de amplitude suficiente para perceber diferentes tendências — estéticas e temáticas — na representação da sociedade e na
tentativa de conquistar o público doméstico (que é sempre o alvo prioritário de
toda cinematografia, incluindo a norte-americana). As comédias, por exemplo,
cumprem um papel importante na ocupação do mercado interno, mas, devido
às suas especificidades culturais, raramente circulam além das fronteiras do
próprio país (o que só não vale para os Estados Unidos, exportadores de todos
os gêneros). Pois bem: como quase nunca vemos comédias alemãs, temos a impressão de que elas não existem, certo? Errado.
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Polska Love Serenade (2008), Minhas Mentiras, Meu Amor (2009) e Uísque
com Vodca (2009) representam o gênero na seleção da Mostra Cine SESI-SP. O primeiro é dirigido por Monika Anna Wojtyllo, polonesa radicada na Alemanha. Ela
oferece um divertido filme de estrada sobre dois jovens alemães (Claudia Eisinger
e o então estreante Sebastian Schwarz) que se conhecem por acaso na Polônia,
onde foram em busca de objetivos muito diferentes: ela quer induzir o roubo do
próprio carro para receber a indenização da companhia seguradora, enquanto ele
busca os direitos sobre uma propriedade rural que pertenceu à família.
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O humor se alimenta dos contrastes culturais — os poloneses, tratados como caipiras, parecem ser o alvo preferencial
no início, mas, com o tempo, as piadas também se voltam
contra a presunção alemã de superioridade — e a aventura
tem um andamento pop que se dirige sobretudo ao
público jovem.
Em Minhas Mentiras, Meu Amor (2009), o espírito de sátira — também endereçada, em especial, ao espectador jovem — atinge a indústria editorial.
Baseado em romance de Martin Suter, o diretor Alain Gsponer encena uma trama farsesca sobre um garçom (o teuto-espanhol Daniel Brühl, de Adeus, Lênin e
Bastardos Inglórios, entre outras produções internacionais) que, para se aproximar de uma estudante de literatura (Hannah Herzsprung, da ficção científica
de horror Um Inferno), finge ser o autor de um romance cujos originais encontrou em um criado-mudo. O golpe, ingênuo, adquire proporções inesperadas
quando ela envia o texto a uma editora, que decide publicá-lo. Com o sucesso de
vendas e de crítica, um homem misterioso (Henry Hübchen, o astro da popular
comédia Todos Contra Zucker!) aparece para dizer que o livro é seu. Será mesmo?
A exemplo do que ocorre em Polska Love Serenade, o humor se combina aqui com
uma trama romântica — formato que sempre exerce grande apelo, sobretudo
para o público feminino.
Hübchen protagoniza também Uísque com Vodca, dirigido por Andreas Dresen, que parece homenagear Memórias (1980), de Woody Allen, ao ambientar a história em um set de filmagem em uma cidade litorânea e usar na
trilha sonora algumas canções populares já ouvidas em filmes do cineasta norte-americano. O diretor do filme dentro do filme (Sylvester Groth, que interpreta
Joseph Goebbels na comédia Minha Quase Verdadeira História, sobre Hitler) co-
meça a ter problemas ao rodar um longa de época, sobre um triângulo amoroso
nos anos 1920, quando seu ator principal (Hübchen, brincando com sua própria
persona cinematográfica) exagera na bebida e nos caprichos pessoais. Para mexer
com a sua vaidade e pressioná-lo a trabalhar, o produtor impõe a presença de um
substituto (Markus Hering) que gravará simultaneamente todas as cenas. Os
bastidores da filmagem envolvem diversas outras situações delicadas, entre as
quais o fato de a atriz principal (Corinna Harfouch, a mulher de Goebbels em A
Queda) ter sido casada com o ator encrenqueiro antes de se casar com o... diretor.
A leveza desses três longas é balanceada, no recorte da Mostra Cine
SESI-SP, por dramas que tratam de situações psicologicamente densas, menos
compromissados com o mercado — e, portanto, mais sintonizados com o entendimento de “filme europeu” (ou seja, “de arte”) entre os espectadores que
frequentam as poucas salas de cinema onde eles são exibidos no Brasil. É o caso
de Yella (2007), Férias (2007) e No Inverno Há um Ano (2008), que propõem experiências às vezes incômodas ao lidar com perdas e frustrações. No primeiro, que
reúne atriz (Nina Hoss) e diretor (Christian Petzold) do igualmente bem-sucedido Barbara, a personagem-título acabou de se separar do marido (Hinnerk
Schönemann) — que, no entanto, continua a atormentá-la. Na maior parte do
filme, a realidade parece se misturar às fantasias e aos temores mais profundos
de Yella, em uma dimensão que só o final da trama se encarregará de revelar.
A sensibilidade feminina é trabalhada esteticamente por Petzold, em uma ambientação opressiva do mundo controlado por homens.
A preocupação com a perspectiva feminina está presente também
em Férias, dirigido por Tomas Arslan, sobre uma família que se reúne em uma
casa de campo. A anfitriã (Angela Winkler), sua mãe doente (Gudrun Ritter) e
suas duas filhas que moram longe (Karoline Eichhorn e Anja Schneider) concentram as atenções, com os homens da trama exercendo papéis secundários
no sutil jogo de emoções que transcorre durante alguns dias do verão. Filme
de silêncios, de imagens que se fixam na tela como pinturas e de lacunas a serem preenchidas pelo espectador. O ritmo lento e contemplativo é semelhante
ao de No Inverno Há um Ano, dirigido por Caroline Link, que recebeu o Oscar
de melhor filme estrangeiro por Lugar Nenhum na África (2001). Um pintor (Josep Bierbichler, de Código Desconhecido) é contratado por uma mulher (Corinna
Harfouch, de Uísque com Vodca, aqui em registro mais dramático) para fazer o
retrato de seu filho morto (Cyril Sjöström), contra a vontade do seu marido
(Hanns Zischler) e de sua filha (Karoline Herfurth, de As Donas da Noite).
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Henry Hübchen (à direita) protagoniza Uísque com Vodca.
Outro recorte importante da produção alemã contemporânea trata das relações com os fluxos migratórios das últimas décadas. Seu maior representante talvez seja o diretor Fatih Akin, filho de imigrantes turcos que se
instalaram na Alemanha há meio século. Em 2008, o jornal francês Libération o
incluiu em uma relação de 36 personalidades que representavam a “Europa de
amanhã”. A lista VIP só incluía mais três cineastas: o francês de origem tunisiana Abdellatif Kechiche (O Segredo do Grão), o romeno Cristi Puiu (A Morte do Sr.
Lazarescu) e o português Hugo Vieira da Silva (da produção alemã Swans, inédita
no Brasil). A sólida filmografia de Akin inclui Do Outro Lado (2007), cuja trama circula por Hamburgo, Bremen (ambas no norte da Alemanha) e Istambul
(Turquia) para estabelecer conexões entre personagens turcos e alemães, sugerindo que não se pode contar a história da própria Europa sem fazer referência
a essa teia multiétnica que a todos envolve, direta ou indiretamente.
A presença turca na Alemanha pauta ainda outro drama de forte
perspectiva feminina, A Estrangeira (2010), escrito e dirigido pela também atriz
Feo Aladag. Maltratada pelo marido, uma mulher turca (a alemã Sibel Kekilli,
filha de turcos, que já havia estrelado Contra a Parede, de Fatih Akin) decide fugir de Istambul com o filho e se abrigar temporariamente na casa dos pais, em
Berlim — onde os dogmas muçulmanos continuam, no entanto, a persegui-la.
Vencedor da competição oficial da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2010, é um dos mais premiados filmes alemães dos últimos 10 anos — e
não deixa de ser especialmente significativo que obtenha esse reconhecimento
ao tratar de um tema que muitos espectadores associariam mais ao cinema da
Turquia do que ao da Alemanha. Voltado para a presença libanesa no país, o
documentário Neukölln Unlimited (2010) — dirigido por Agostino Imondi e Dietmar Ratsch — faz uma curiosa ponte entre o tratamento preconceituoso dado a
imigrantes e sua inserção na sociedade, graças ao universo hip-hop e por meio
de concursos de breakdance.
Que ninguém pense, contudo, que o cinema alemão também não flerta — exibindo a mesma competência técnica
e dramática — com as fórmulas bem-sucedidas do cinema
hollywoodiano, como demonstra o drama de época O Milagre de Berna (2003).
Dirigido por Sönke Wortmann (que, não por acaso, já havia trabalhado nos Estados Unidos em Uma Grande Jogada), o filme recria a vitória
surpreendente da então Alemanha Ocidental na Copa do Mundo de futebol de
1954, batendo na final a lendária equipe da Hungria (que havia desclassificado a
seleção brasileira nas quartas de final por 4 x 2). Os húngaros eram os “Mágicos
Magiares”, liderados pelos craques Puskás e Kocsis. Os alemães interpretavam
os patinhos feios da história. Como ensina a tradição narrativa norte-americana, esse triunfo — que celebra a perseverança e o espírito coletivo frente às piores
adversidades — adquire uma carga sentimental ainda mais expressiva porque
é visto pelos olhos de uma criança (Louis Klamroth). Quando quer, o cinema
alemão faz o espectador soltar lágrimas tipicamente hollywoodianas.
A Mostra Cine SESI-SP no Mundo: Alemanha Contemporânea é composta de 14 filmes, sendo que as exibições estão
divididas em duas partes: sete filmes até dezembro de 2013 e os outros sete em 2014. Consulte a programação completa
no site: www.sesisp.org.br/cultura.
Jornalista, mestre em Artes/Cinema, com uma dissertação sobre a obra de Woody Allen, e doutor em Meios e Processos
Audiovisuais, com uma tese sobre a formação de professores para a educação audiovisual, pela Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. É diretor de projetos do Laboratório de Mídia e Educação (MEL Media Education Lab), editor dos cadernos “Cine-Educação” (Cinemateca Brasileira/Via Gutenberg), crítico do jornal
Valor Econômico, blogueiro da Folha de S.Paulo, apresentador do canal Arte 1 e colunista das revistas Educação, Escola
Pública, Língua Portuguesa, Ideia Sustentável e Viração.
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PÚBLICO EM CONTATO COM
NOVAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS
Neste ano, o SESI-SP criou um projeto
inédito de ocupação artística em que espaços diversos, tais como muros, arquibancadas, jardins, janelas, entre outros,
se transformam em plataformas expositivas, recebendo interferências artísticas
produzidas em diversas técnicas e materiais. O projeto proporciona o contato do
público com novas linguagens artísticas
em locais de grande visualização e circulação nos centros de atividades culturais
da instituição no estado de São Paulo.
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Foto Mateus Avila
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No destaque, Multicidadão, um mural tridimensional, que foi criado na arquibancada do campo de futebol da unidade de Rio Claro, quando o público pôde
acompanhar a pintura do espaço. A obra Multicidadão, do duo de artistas Subtu e
RMI, retrata um local que estará sempre lotado, seja pelos torcedores, seja pelos
rostos representados nos degraus. A ideia é oferecer diferentes formas de ver a
pintura, já que o público, ao observá-la a partir de vários ângulos, tem distintas percepções. De perto, é possível identificar os indivíduos. Ao se distanciar, no
entanto, o espectador não consegue ver as pessoas ali representadas. As diversas
maneiras de olhar o mural resultam em novas formas, novas cores, novas obras.
Para esta obra, a programação contou com palestra e uma oficina em que foi
abordada a criação do grafite em superfícies tridimensionais.
Quem quiser conferir o resultado de perto, a pintura estará aberta à visitação gratuita até
outubro de 2015, de terça a domingo, das 9h às 18h, na unidade do SESI-SP de Rio Claro.
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MEDIAÇÃO DE LEITURA:
O CONVITE AO
MUNDO DOS LIVROS
E SUAS DIVERSAS
FORMAS
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Foto divulgação
Contação de histórias, leituras públicas,
saraus, recitais ou um simples papo
motivacional. Não há formato padrão
a ser seguido quando se quer formar
novos leitores.
No imaginário popular, o ato de ler para uma criança está, muitas vezes, ligado à tentativa de fazer com que ela finalmente acalme-se ou adormeça. Mas, diferentemente
do que se pensa, se bem planejada e, principalmente, feita com dedicação e paixão,
essa é uma atividade que pode despertar nos pequenos um desejo que tem o poder de
transformar suas vidas: o de explorar o mundo por meio dos livros. Esse é o papel do
mediador, pessoa que tem a missão de incentivar crianças, jovens e até mesmo adultos a se aproximarem das palavras escritas e, assim, adquirirem o hábito da leitura.
Crianças observam a contação de história
durante o lançamento do livro Dois gatos
fazendo hora, da SESI-SP Editora.
Se o ambiente de casa ainda é o local mais apropriado para que
isso aconteça, com a ajuda dos pais, tios ou pessoas próximas – que, segundo
especialistas, deveriam ser os primeiros e mais importantes mediadores de
um potencial leitor -, fora dele também surgem novos atores para abraçar essa
causa. E eles não se restringem a educadores, professores, bibliotecários, pedagogos ou diretores de escola. Os contadores de história profissionais, leitores
públicos, atores de saraus, recitais e peças teatrais também exercem a função
de apresentar histórias de livros com o objetivo de convidar as pessoas a lerem
sempre mais.
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“Independentemente do ‘rótulo’, o mediador tem como
principal incumbência mostrar que ler é muito legal, e
que a leitura pode fazer parte do cotidiano das pessoas,
em qualquer lugar onde estejam”, explica a atriz e cantora
Élida Marques, que é mediadora há dez anos e se intitula
leitora pública.
Segundo ela, a leitura pública diferencia-se da contação de histórias
porque geralmente é realizada para um público maior, entre 60 a 80 pessoas, e traz
elementos teatrais que exigem, entre outras habilidades, boa impostação de voz
e postura corporal.
No Brasil, é possível participar de cursos, oficinas e até mesmo
doutorado em mediação de leitura para desenvolver as técnicas e aptidões necessárias a um mediador. “Os cursos são muito importantes para o aprimoramento dessas competências, mas um bom mediador de leitura precisa ir além
desse aprendizado, desenvolvendo suas próprias técnicas de acordo com o público e com o acervo de títulos que tem em mãos”, comenta Élida. “Um bibliotecário que conhece bem os frequentadores de sua biblioteca, por exemplo, já
sabe o tipo de leitura que pode interessar a cada um deles. A partir daí, pode
desenvolver sua própria abordagem e a melhor maneira de convencê-los a se
aventurar por novas obras”, explica.
Élida começou como moderadora de leitura participando de saraus e, desde então, não parou mais. Criou, em 2003, o “Ler é uma viagem”,
projeto de incentivo à leitura baseado no formato de “leitura pública”, que já
realizou mais de 500 apresentações pelo Brasil para mais de 25 mil pessoas em
cinco estados. Além de sessões de leituras em escolas e bibliotecas, o programa
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Foto Marçal Mateus
Criaturas teve lançamento com show musical da Palhaça Rubra.
Elenco do projeto “Ler é uma viagem” apresenta “Reinações”,
na qual são relatados capítulos do livro Reinações de Narizinho, de
Monteiro Lobato. Público é convidado a participar da leitura.
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realiza oficinas para educadores, eventos lítero-musicais, performances poéticas e shows de música brasileira.
A apresentação da oficina “Leitura e Mediação: reflexões e práticas
na formação de leitores”, promovida este ano pelo “Ler é uma viagem” sintetiza
o conceito-base do projeto: “Ninguém nasce leitor. Assim como aprendemos a
caminhar, a andar de bicicleta, a nadar e a escrever, também nos tornamos leitores. O sujeito não leitor, não importa a idade, só precisa ser acordado, assim como
a bela adormecida, por meio do encanto e do prazer que a leitura proporciona”.
O projeto, sediado na cidade de Itu, no interior paulista, busca
abranger todas as possibilidades de estímulo à leitura, incluindo dicas para
pais e parentes próximos de potenciais leitores: “Naquele almoço de família,
eles podem pedir que alguém relembre uma história muito interessante que
ouvia quando criança, relacionando-a a alguma outra história, editada, que
possa ser lida ou buscada na internet”, orienta.
Élida cita ainda uma frase de um de seus escritores favoritos, Rubem Braga, para reforçar a importância do envolvimento emocional no ato da
leitura. “Só deveria ler aquele que está possuído pelo texto que lê.”
ADOLESCENTES E JOVENS
A contação de histórias, em seus diversos formatos, pode ser um ótimo ponto de
partida para fazer desabrochar nas crianças a curiosidade pela leitura. Já para adolescentes e jovens, um público que – pressupõe-se – já teve algum tipo de contato
com livros, existem ferramentas de convencimento mais sofisticadas. E o projeto
educacional “Academia de Alta Tecnologia para Anti-heróis” faz uso delas para
atrair o interesse deles.
O programa tem por objetivo trabalhar informações inerentes ao
dia a dia dos jovens de forma não convencional, e convida seu público-alvo a
escrever seus próprios livros. “Por meio de exercícios dinâmicos, fazemos com
que experimentem a sensação de se tornarem autores de livros”, explica uma
das idealizadoras do projeto e escritora de livros infantojuvenis Lu Lopes.
Ela acredita que a proximidade com os autores pode ser um fator determinante para inserir o público-alvo no mundo dos livros. Pensando nisso, desenvolveu um programa por meio do qual vai até escolas para contar as histórias de suas
publicações. “É um trabalho de campo, e acredito muito em sua efetividade, pois
fortalece ainda mais o elo do potencial leitor com o conteúdo do livro”, comenta.
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“Por meio de exercícios dinâmicos, fazemos com que experimentem a sensação de se tornarem autores de livros”,
explica a escritora de livros infantojuvenis Lu Lopes.
Para Silvia, a contação de histórias é uma das principais portas de
entrada para o mundo dos livros. “Por essa razão, fazemos questão de mostrar,
ao final de nossas contações, o livro que traz a história original na qual nos inspiramos. Principalmente porque nosso trabalho não é literal.”
E não há limites para o trabalho de mediação de leituras quando
se quer conquistar um número cada vez maior de leitores. “Fazemos nosso trabalho onde nos chamam: em eventos corporativos, bibliotecas, escolas, centros
culturais e festas infantis”, conta a pedagoga.
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A autora defende o professor como um dos principais mediadores
de leituras dos estudantes, “desde que haja a capacitação desses profissionais
no sentido de torná-los aptos a fazer a conexão afetuosa e a comunicação integrativa entre os alunos e os livros”.
No lançamento de seu último título, Criaturas, publicado recentemente pela SESI-SP Editora, Lu Lopes colocou em prática mais um de seus
talentos para atrair a atenção da garotada para a literatura: personificou a Palhaça Rubra, personagem que criou há anos e por meio da qual faz shows em
teatros e eventos. No livro, ela apresenta para os pequenos leitores a riqueza da
diversidade no mundo.
Filha de uma educadora e “de um ótimo contador de causos”, Lu
Lopes tem hoje companhia familiar na missão de disseminar a paixão pela
leitura: sua irmã, Silvia Lopes, é contadora de histórias. “O ambiente doméstico propício contribuiu completamente para os rumos que tomamos”, comenta Silvia.
Formada em pedagogia, ela começou a contar histórias há 13 anos
– já fez diversos cursos na área – e criou a Carrapeta Produções, que além de produzir apresentações circenses, teatrais e de dança, tem projetos de contação de
histórias. “Acredito muito que para estimular as pessoas a fazer qualquer coisa,
não apenas a ler, é preciso realizar um trabalho atrativo, interativo e alegre”,
comenta. “No caso da literatura, a escolha de um bom texto, conhecido a fundo
pelo mediador, também é essencial.”
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O grupo Malas Portam viaja pelo Brasil
contando suas histórias inventadas
pelos integrantes.
Foto divulgação
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O grupo Malas Portam, criado em 2007, viaja pelo Brasil contando suas
histórias, baseadas no conteúdo de cinco “malas” inventadas pelos integrantes. Cada
uma traz objetos a partir dos quais surgem inúmeras narrativas musicadas. A assistente social Rita de Cássia Araújo, participante dessa turma, conta o que mais a atrai
nessa missão: “O que torna mais fascinante o trabalho de um contador de história é
a possibilidade de improvisar a partir das interferências realizadas pelas crianças durante a contação. É, também, a parte mais desafiadora”. O Malas Portam lançará em
breve, pelo selo audiovisual, da SESI-SP Editora, seu primeiro DVD. “É um projeto
que vai reunir algumas de nossas melhores apresentações”, comenta.
Para Élida Marques, é muito difícil avaliar com precisão a efetividade da mediação de leitura na vida dos potenciais leitores. “Isso acontece porque o hábito da leitura depende de muitos fatores e, na minha opinião, nenhum
tem tanta eficácia como o incentivo que a pessoa recebe em casa”, explica.
Ela comenta que no Brasil existe ainda o desafio de vencer o preconceito de que a leitura está associada à elitização. “Nos projetos de contação
de história que realizamos na EJA (Educação de Jovens e Adultos), isso é claramente percebido. Essas pessoas, que pouco contato tiveram com livros, se sentem muito valorizadas quando são finalmente apresentadas à leitura”, comenta. A EJA é uma modalidade da educação básica destinada a jovens e adultos que
não concluíram os ensinos médio e fundamental.
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“É preciso deixar de lado qualquer tipo de tabu em relação à leitura, pois ela pode acontecer em qualquer momento de vida de toda pessoa que
sabe ler”, afirma. Cabe aos mediadores – responsáveis por “acordar” as pessoas
para os benefícios proporcionados pela leitura - mostrar quais são os melhores
caminhos para que ela aconteça e, como pudemos notar, não faltam alternativas.
CURSOS DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
São inúmeras as opções de cursos de contação de histórias – forma mais popular
de mediação de leitura – encontradas atualmente. Grande parte deles é voltada
para profissionais da educação, mas também há alternativas para pessoas que não
trabalham na área e têm o desejo de desenvolver ou aprimorar técnicas necessárias para atuar como contadores e conquistar o interesse de seus espectadores.
Por essa razão, os formatos vão desde oficinas e workshops com duração de algumas horas até curso de pós-graduação lato sensu, como “A Arte de
Contar Histórias”, realizado por meio de uma parceria entre o Sead (Serviços
Educacionais a Distância), a Associação Viva e Deixe Viver e o INSEP (Instituto
Superior de Ensino do Paraná), que faz a gestão pedagógica e legitima o curso
junto ao Ministério da Educação (MEC).
Mas, afinal de contas, quais são as disciplinas encontradas nesses
cursos? São muitas e bem variadas, de acordo com a proposta de cada um.
“O que torna mais fascinante o trabalho de um contador
de história é a possibilidade de improvisar a partir das
interferências realizadas pelas crianças durante a contação.
É, também, a parte mais desafiadora”, conta Rita de Cássia
Araújo, do grupo Malas Portam.
“Nós, contadores de histórias, nos preocupamos muito com a interpretação do texto, o desenvolvimento do personagem, a voz e o corpo. Porém, há
um detalhe importantíssimo que muitas vezes é esquecido: as transições no decorrer da narrativa enquanto vai sendo contada”, explica Letícia Liesenfeld, coordenadora da oficina Leitura de Corpo Inteiro, durante a apresentação do conteúdo.
Este curso, especificamente, é oferecido pelo grupo As Meninas do
Conto, de São Paulo, que nasceu da ideia de trabalhar com as linguagens do teatro e da narração de histórias, por meio de contação de histórias e apresentações
em teatros, centros culturais, bibliotecas e escolas. Outros grupos de São Pau-
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LITERATURA VIVA: AUTOR E SUA OBRA CATIVANDO OS LEITORES
Para o SESI-SP, o acesso aos livros é uma forma de inclusão social e a leitura é ferramenta poderosa na formação do indivíduo. Pensando nisso, nasceu o Literatura
Viva, em 2011, projeto que propõe interação entre leitor, autor e sua obra.
Neste ano, foram diversas as iniciativas com o objetivo de promover o contato com o livro, priorizar a leitura gratificante e conquistar leitores
para toda a vida adulta. Dividido em quatro módulos, distribuídos ao longo de
2013 — literatura infantil e juvenil, elementos da cultura popular na literatura,
artes gráficas e narração de história —, este último ocorreu durante todo o mês
de outubro e proporcionou o encontro entre os protagonistas da leitura: autor
e leitor, por meio de ações diferenciadas, lúdicas e interativas.
Destinado a alunos e docentes da Rede SESI de ensino, escolas públicas, comunidade em geral que frequenta os CATs e profissionais que atuam
com mediação de leitura, o SESI-SP estima que, neste ano, o público atingido
com o Literatura Viva foi de cerca de 80 mil pessoas.
O módulo de narração de histórias, do
projeto Literatura Viva, realizado no CAT de
Araraquara, do SESI-SP.
Foto divulgação
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lo, como Casa Redonda e Teatro Escola Brincante, também desenvolvem cursos
que usam técnicas diferenciadas para explorar e aprimorar diferentes aspectos
da contação de histórias.
Já o curso de pós-graduação, realizado na capital paulista, traz entre suas disciplinas “Jogos Teatrais: o Jogo Cênico como Fundamento Perfomático”, “Contos Populares” e “Fundamentos da Arte de Contar Histórias”, esta
última ministrada pelo coordenador do curso, Giuliano Tierno de Siqueira.
Prefeituras de capitais de todo o país também desenvolvem seus
próprios programas com foco no incentivo à leitura e na formação de contadores de histórias. A da cidade de São Paulo, por exemplo, promove, todo ano, o
festival “A Arte de Contar Histórias”, que está em sua nona edição e é realizado
em outubro, mês em que se comemora o dia das crianças.
O projeto é realizado em bibliotecas públicas, pontos de leitura e
roteiros dos chamados ônibus-biblioteca. Além da contação de histórias para
a população, traz workshops, debates e palestras voltadas para a contação de
histórias, como a oficina realizada este ano e liderada pela cantora e musicista
Anita Deixler, “Cante para Contar Melhor suas Histórias”, entre outras.
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O QUE CADA
UM DISSE
POR LUIZ VILELA
“Sei, sei, claro. Bom sujeito. Ele vem sempre aqui, à banca. Amanhã mesmo ele…
Como?… Verdade?… Santo Deus!…”
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“Caridoso, muito caridoso. Tanto ele quanto a mulher. Um casal
de comunhão frequente. Eles vinham aqui, à capela da irmandade; eles preferiam vir aqui a ir à catedral. Ele era um sujeito humilde, apesar de rico. Os dois
sempre mandavam roupas usadas para distribuirmos entre os mais necessitados; roupas deles, do casal, e também das crianças, do menino e da menina.
A gente nunca poderia imaginar uma coisa dessas. Estamos muito chocadas.”
“A gente não conhece ninguém: essa é a conclusão que eu tiro. A
gente não conhece ninguém. Às vezes nem a própria pessoa se conhece. Somos
um bando de desconhecidos — uns para os outros e cada um para si mesmo.”
“Veja só: ele era a pessoa mais equilibrada aqui, na empresa; a
mais equilibrada. A gente não dava um passo sem ouvir a opinião dele. Agora…
Não dá pra acreditar, né?…”
“Eles sempre me trataram bem. Eles me tratavam como se eu fosse
uma pessoa da família, e não uma empregada. Era um casal que vivia em harmonia. Nunca vi um casal combinar tão bem. Parecia que eles tinham nascido
um para o outro. Não vou dizer que eles não tinham de vez em quando uma
rusguinha. Tinham. Mas qual o casal que não tem? Você — eu estou vendo que
você também é casado —, você vai me dizer: não é assim?”
“Quem? Como é? Você está brincando…”
“Eu li, eu li a notícia no jornal. Não, eu não sei dizer muita coisa.
Ele não vinha tanto aqui, ao restaurante; uma vez ou outra só. Educado, isso eu
posso dizer que ele era; uma pessoa educada. Mas não era de muita prosa; não,
isso ele não era. Era um cara meio fechado, entendeu? Um cara…”
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“Sabe, meu querido? Você é jovem ainda, mas aprenda uma coisa: o ser humano é como uma floresta: você olha de fora, e a floresta é aquela
maravilha; mas você entra, e lá dentro você dá com onças, cobras, escorpiões…
É assim, meu filho, o ser humano é assim. Por fora, uma coisa amável; por dentro, uma coisa temível. Ou, como dizia a cartilha na escola, nos meus tempos
de menina: por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento. De forma que esse
acontecimento não me surpreende tanto. Pois eu sei que do ser humano tudo
se pode esperar: das melhores às piores coisas. Grave isso. Você ainda vai se lembrar disso muitas vezes em sua atividade…”
“É, sim, nós fomos colegas de faculdade. Confesso que eu estou pasmo. Um sujeito como ele, um sujeito que tinha tudo na vida, tudo o que uma
pessoa pode desejar: dinheiro, mansão, carro importado, uma linda mulher, dois
filhinhos adoráveis. Isso, além das amizades, do prestígio, das honrarias…”
“Eu fiquei sabendo, me contaram. Limpei, eu limpei o jardim algumas vezes. É de admirar, né? Por que um cara desses faz uma coisa dessas?… Bom:
não vou dizer que eu sei; quem sou eu pra dizer isso… Nem quero falar mal de ninguém. Mas… Deus que me perdoe, mas uma mulher como aquela, uma mulher…
Eu vou te contar uma coisa, mas você não vai pôr isso no jornal, não, hein?… Um
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“Meu amigo, vou só te contar uma história: a história do Tidião,
meu querido tio Esperidião, lá no interior, na roça. O tio morava numa fazenda, ele e a mulher. Depois que a minha tia morreu, ele continuou morando lá,
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“Por quê? Sei lá, meu chapa. Isso acontece todo dia lá no meu bairro e ninguém diz nada nem quer saber por quê. Nem nenhum repórter vai lá
para fazer perguntas. Se vai, é repórter de polícia. Agora vem um bacana e faz o
que fez e fica todo mundo aí: por quê? por quê? Ora, por quê… Foda-se, porra.
Foda-se o cara e a família dele e tudo o mais. A gente tem mais é que comemorar. Esses caras só sabem explorar a gente. Eles lá no bem-bom e a gente aqui
pastando, comendo capim.”
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“Eros e Tânatos: as pulsões da vida e da morte, que estão no âmago
de nosso ser, em toda e qualquer pessoa. O assunto é muito complexo para eu
desenvolver aqui agora, nesta entrevista, mas eu o abordo em profundidade no
meu novo livro, que eu devo lançar no segundo semestre, provavelmente em
agosto. Aliás, eu ficaria muito grato se o jornal pudesse dar, desde já, uma nota.”
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dia eu estava lá, arrumando o jardim, e aí eu cheguei perto da janela. Ela estava lá
dentro, sozinha, de camisola, uma camisola transparente e sem sutiã: e aí deu pra
ver tudo, os peitos. E vou te contar… Rapaz… Eu nunca vi nada tão bonito assim…
Mas aí, nessa hora, ela me viu; e você acha que ela procurou sair ou virar para outro
lado? Acha? É o que ela devia ter feito, né? Mas não foi isso o que ela fez: ela deu um
sorriso, ela deu um sorriso para mim. Eu fiquei sem saber onde esconder a cara.
Fiquei morrendo de vergonha. Aí eu fui cuidar do meu serviço. Mas à noite, em
casa, eu fiquei pensando naquilo, na mulher, naquele sorriso… Fiquei pensando
e… Cara, te juro: aquela mulher estava a fim de uma… Juro que estava… Com um
jardineiro?, você pode dizer. Por que não? E essas madames aí que pagam os tubos
para esses caras de programa, esses que vão em casa, esses dos classificados? Mas aí,
droga, aí eu não voltei mais lá e aí eu não vi mais a mulher; nem ela, nem o marido,
nem ninguém. E ontem eu fiquei sabendo do que aconteceu. É isso. Mas não vai
pôr isso no jornal, não, hein? Só estou te contando. Pra mim… Não sei, não, mas
pra mim o que há por trás disso, do que aconteceu, é isso aqui, olha: chifre, cara. Tá
entendendo? Chifre. Daqueles bem grandes e tortos.”
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morando sozinho. Isto é, ele e um empregado. A fazenda não era grande, poucos
alqueires. Foi o empregado que testemunhou a cena e contou depois para os
filhos do tio, dois rapazes, que moravam na cidade. Homem pacato, sujeito de
boa paz, estava lá o tio uma tarde, na fazenda. Aí, de repente, o empregado, que
se achava no quintal, ouviu uns estampidos, se assustou e foi correndo ver o
que era. Escondido atrás de uma mangueira, ele pôde testemunhar, apavorado,
a sequência da cena. Pra resumir: meu tio pegou a espingarda, a carregou e saiu
dando tiro em tudo o que viu pela frente: vaca, porco, cavalo, cachorro. Nem o
gato escapou. Nem o galo. Ele deu tiro até em passarinho na árvore. ‘Parecia que
ele queria acabar com o mundo’, como disse o empregado. Foi um morticínio,
uma coisa que ninguém na região nunca vira e que até hoje eles comentam. Por
quê? Por que meu tio fez isso? Ninguém soube, nem ninguém até hoje sabe.
Meu tio nunca deu nenhuma explicação. Aquele dia, no final da tarde, quando
meus primos, avisados pelo empregado do que acontecera, chegaram à fazenda,
encontraram o pai sentado no alpendre da casa, pitando tranquilamente seu cigarrinho de palha, como se nada, absolutamente nada tivesse acontecido. Está
certo, você pode dizer que esse sujeito agora não matou bichos: ele matou a
mulher e os dois filhos, e, ainda por cima, suicidou-se. Mas, pensando bem, eu
não vejo muita diferença. Você vê?”
Luiz Vilela nasceu em 1942, em Ituiutaba, Minas Gerais, cidade onde atualmente reside. Publicou vários livros, todos
de ficção, entre os quais Tremor de Terra, de contos, Prêmio Nacional de Ficção, O Fim de Tudo, também de contos,
Prêmio Jabuti, e Perdição, romance, seu livro mais recente, que ganhou o Prêmio Literário Nacional PEN Clube do
Brasil 2012. Vilela foi adaptado para o cinema, o teatro e a televisão, e traduzido para várias línguas. “O que cada um
disse” faz parte de seu novo livro, de contos, Você Verá, a sair este ano pela Editora Record.
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fazer é pensar
ENTAIS,
ÁTICO &
VELA,
REMO & CANOAGEM
O TEATRO DE REVISTA BRASILEIRO
A MEMÓRIA DO ESPLENDOR
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#2 ABRIL 2O13
LHAR
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A TODA
PROVA
Em apenas dois anos de história,
a SESI-SP Editora e a SENAI-SP Editora
já produziram grandes feitos.
Em números, foram mais de 100 títulos
distribuídos em diversas coleções
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A GASTRONOMIA
MUITO ALÉM DA
ALIMENTAÇÃO
Em livros, eventos, debates ou frases proferidas por
grandes pensadores, as reflexões sobre comida sempre estiveram presentes na história da humanidade.
Com a crescente valorização da gastronomia, essas reflexões se intensificam, alimentando diversos setores,
inclusive o editorial.
A busca no dicionário Aurélio aponta a definição: “Filosofia é o estudo que visa
a ampliar incessantemente a compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la na sua inteireza”. Basta uma consulta para podermos conectar esse significado ao de outra palavra: “Paladar é o sentido pelo qual se percebe o sabor
das coisas”. Duas maneiras de se absorver e aumentar a percepção daquilo que
está ao redor. Porque o ato de degustar alimentos é, desde sempre, mais um
modo de descobrir não apenas sabores, mas muito dos hábitos e da cultura de
um país, de uma determinada região ou, até mesmo, de uma família ou uma
pessoa, individualmente.
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Muito além da ingestão do alimento para saciar a fome e para sobreviver, o ritual de comer movimenta, direciona e modifica o dia a dia, a vida
das pessoas, suas decisões e o modo como se comportam. Não à toa o “pensar
sobre a comida” e sua valorização têm seus primeiros registros datados em um
passado bem remoto. “Todos os homens se nutrem, mas poucos sabem distinguir os sabores”: a frase, do filósofo chinês Confúcio, que viveu entre 551 a.C.
e 479 a.C., demonstra que as reflexões sobre a comida e suas analogias com a
realidade permeiam o cotidiano da humanidade há muito tempo.
Na literatura mundial, o alimento e os rituais que o cercam
também já há muito ultrapassaram o âmbito dos livros de receitas e suas
novas maneiras de serem apresentados. Não que estes não permaneçam demonstrando seu potencial de atrair leitores, ano a ano. Muito pelo contrário,
é um mercado que não para de crescer. Na SESI-SP Editora, a coleção Alimente-se bem — que apresenta livros de receitas adaptadas para o cotidiano e voltadas para uma alimentação saudável, prática e funcional — está entre os mais
vendidos de 2013. Não por acaso essa coleção ganhou mais 10 títulos este ano.
Não com o mesmo fôlego, mas em curva ascendente pelo interesse que desperta, a alimentação e o paladar vem sendo estudados há tempos, e
o assunto já havia sido aprofundado pelo autor francês Jean Anthelme Brillat-Savarin em seu livro A Fisiologia do gosto, publicado originalmente em 1825.
A obra, para muitos especialistas, é a certidão de nascimento da gastronomia.
Mais de 170 anos depois, em 1995, a publicação foi lançada no Brasil pela Companhia das Letras. “A gastronomia acompanha-nos e sustenta-nos
desde o nascimento até a morte. É ela que nos aumenta as delícias do amor, a
confiança da amizade, que desarma a ira e facilita os tratos, e nos oferece, no
curto trajeto das nossas vidas, o único prazer que, não sendo seguido de fadiga,
nos revigora de todos os outros”, dispara Brillat-Savarin. Ele atuou como advogado, magistrado e político, mas tornou-se conhecido mundialmente por sua
veneração à gastronomia.
No ano 2000, as reflexões sobre comida voltaram a ser foco no
livro Por uma nova fisiologia do gosto. Nele, os autores, o chef de cozinha Jean-Marie Amat e o neurobioquímico Jean-Didier Vicent, ambos franceses, conciliam ciência e arte e discutem, entre outros temas a arte da gastronomia. Discorrem sobre os tipos de sabores que, pessoas de culturas distintas são capazes
de perceber e os modismos dessa área que, segundo eles, nos levam a consumir
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pratos que não estaríamos aptos a saborear. No Brasil, a obra foi lançada pela
Editora Senac.
O autor italiano Nicola Perullo, em seu livro O gosto como experiência – Ensaio sobre filosofia e estética do alimento, lançado pela SESI-SP Editora, em outubro, traz uma análise enriquecedora da representatividade do
ato de alimentar-se no dia a dia. A forma como o alimento é absorvido e
assimilado sob o aspecto estético é o foco da narrativa. E foi por meio da observação de cenas corriqueiras que surgiu a decisão de Perullo aprofundar-se
no tema.
“Todos os homens se nutrem, mas poucos sabem distinguir
os sabores”, frase do filósofo chinês Confúcio.
“No paladar estão envolvidos vários atores, e a sua natureza de
processo dinâmico concentra-se, a cada experiência, em peculiares cenários
de sentido. A cena primária, que me conduziu a elaborar essa ideia, foi um
comportamento que, desde sempre, chamou minha atenção: a expressão no
rosto das pessoas que pedem ‘brioches’ ou outras guloseimas nos bares pela
manhã. Raramente vê-se um comportamento neutro. Em vez disso, vê-se com
muita frequência a mímica facial que revela, com um sorriso gutural insinuado, uma leve complacência ao avistar o objeto que será comido...”, explica na
introdução da obra.
O autor vai ainda mais além: “A experiência alimentar como prazer reconduz ao estágio primário, biológico, infantil e ‘desnudo’ da nossa relação com o alimento. Um estágio que não pode ser superado total e definitivamente: nunca devemos negligenciar o prazer. O alimento não é apenas – e
esta afirmação vale como: não se reduz simplesmente a um conceito social; em
outros termos; comer é uma atividade em que, sob muitos aspectos e a cada
experiência, a natureza comparece. Após o prazer, o saber”.
Perullo é professor da Università degli Studi di Scienze Gastronomiche, de Roma, e, nos últimos dez anos, focou suas pesquisas na relação
entre o pensamento filosófico e a comida, para introduzir à estética do gosto e
da gastronomia. Muitos de seus trabalhos têm contribuído para a consolidação
dessa disciplina na Itália.
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COZINHANDO COM PALAVRAS
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No Brasil, o crescimento da gastronomia no mercado editorial incentivou a criação de uma área exclusiva para os livros ligados ao tema na Bienal Internacional
do Livro de São Paulo: o Espaço Gourmet Sensações. Apresentado ao público pela
primeira vez na Bienal de 2010, teve workshops e aulas práticas com autores de
obras sobre gastronomia e outras personalidades do segmento.
Da programação consta a realização do Festival Cozinhando com
as Palavras, sarau literário promovido em alguns dos principais restaurantes
da capital paulista. No cardápio, pratos criados ou exaltados por escritores
renomados da literatura brasileira e internacional. “A literatura e o sabor caminham juntos há muito tempo. Desde os antigos textos da Bíblia e clássicos
gregos, a comida, a bebida e a imaginação do homem andam unidas”, reforça
André Boccato, curador do evento.
Boccato é chef de cozinha e proprietário da editora Boccato, especializada em gastronomia. Ele inaugurou recentemente, em São Paulo, a Livraria Mundo Gourmet, a única do país focada exclusivamente na área. “O mercado de livros
de gastronomia cresce na medida em que as pessoas buscam não apenas receitas,
mas um estilo de vida em que esses livros são uma fonte de inspiração”, afirma.
Para ele, esse incremento acontece também porque, com a evolução
da área de gastronomia, as pessoas buscam nos livros um aprimoramento dos
sentidos por meio da leitura.
Em setembro deste ano, Boccato esteve à frente do Cozinhando com
as Palavras na Feira Internacional do Livro de Frankfurt, na Alemanha, considerada o maior encontro mundial do mercado editorial. O sarau, realizado
com o apoio da Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais, foi uma das
principais atrações do pavilhão brasileiro da feira que, segundo a organização,
recebeu 60 mil visitantes.
Atualmente com 131 títulos na área de Nutrição e Gastronomia,
a Editora Senac São Paulo registrou um aumento de aproximadamente 50% na
publicação de livros desse segmento apenas no último ano. Para os próximos
meses, há previsão de lançamento de 11 novas obras.
“A movimentação da economia brasileira em torno dos negócios
de alimentação está aumentando. Além desse fator, a crescente profissionalização do setor tem gerado uma demanda do público em geral por conhecimentos sobre nutrição e gastronomia”, explica a coordenadora editorial da Editora Senac São Paulo, Márcia Cavalheiro. Ela lembra, ainda, que a temática do
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bem-estar está muito presente na sociedade atualmente. “Há um forte crescimento na busca por livros ligados a dietas com restrições alimentares”, acrescenta. A editora já recebeu 52 prêmios Gourmand Cookbook, considerada a
maior premiação internacional de gastronomia e vinho.
“O mercado de livros de gastronomia cresce na medida em
que as pessoas buscam não apenas receitas, mas um estilo
de vida em que esses livros são uma fonte de inspiração”,
afirma André Boccato, da editora Boccato, especializada
em gastronomia.
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O proprietário da Editora Tapioca – que tem foco exclusivo em obras
de gastronomia – , José Carlos Junior, estima que essa é a área que mais vem crescendo no mercado editorial brasileiro nos últimos anos: por volta de 20 a 25% a
cada ano. Ele acredita que essa ampliação se justifica em três vertentes. “A primeira
é a do surgimento de um número muito grande de cursos nesse setor, que vem
atraindo cada vez mais interessados”, conta. “As outras são o boom dos chefs celebridades, que têm grande exposição na mídia – como os ingleses Jamie Oliver e
Nigella Lawson –, e os assuntos polêmicos que geram grandes discussões, como o
veganismo”, explica, referindo-se à filosofia de vida que elimina o uso de produtos
de origem animal.
MUNDO ACADÊMICO
É visível que o mercado nacional de gastronomia vem se desenvolvendo a cada
ano, inclusive com a “importação” de renomados chefs estrangeiros, especialmente após a crise na zona do euro. E é uma realidade que também se reflete no
mundo acadêmico brasileiro nessa área, que, se comparado às escolas europeias,
foi criado muito recentemente, mas já propicia um ambiente adequado para a
realização de pesquisas e estudos no segmento.
O ensino formal em gastronomia no país iniciou-se com a criação
do SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem) e seus cursos técnicos. O primeiro a ser oferecido foi o de garçom, em 1951. Hoje, a instituição oferece cerca
de cem opções de cursos livres, que não necessitam de autorização do Ministério da Educação (MEC), na área de gastronomia.
Um dos primeiros cursos superiores reconhecidos pelo MEC foi o
de tecnologia em gastronomia, criado em 2001 pelo próprio Senac e hoje ofere-
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O Brasil sedia, hoje, eventos importantes na área, com a participação dos principais profissionais internacionais de gastronomia, o que ajuda a disseminar não
apenas os conhecimentos práticos, mas também teóricos sobre o setor. Um deles, o
Semana Mesa SP, realizado pelo Senac-SP e a revista Prazeres da Mesa, está em sua décima edição e reuniu este ano, em novembro, especialistas, estudantes e interessados em gastronomia para discutir o tema Raízes – de Onde Viemos e para Onde Vamos.
Além de juntar famosos chefs de cozinha e outros profissionais renomados para apresentações, degustações e exposições de produtos, essa edição do evento, considerado o mais importante da América Latina, promove o
congresso Mesa Tendências para abordar e debater sobre as transformações do
segmento ao longo do tempo.
Outro evento, realizado no país recentemente pela revista Go Where Gastronomia, trouxe ninguém menos que o chef eleito número um do mundo
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ENCONTROS
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cido nos campi de Águas de São Pedro e Campos do Jordão, no interior paulista,
cidades conhecidas pelo potencial turístico e gastronômico. O curso forma, em
dois anos, profissionais aptos a trabalhar no ramo de alimentação, seja em restaurantes, empresas de catering ou hospitais.
Hoje, existem cerca de 80 cursos superiores de gastronomia no
país. Apesar de serem muito focados em matérias técnicas, os cursos estimulam
os alunos a pensar sobre alimentação. Entre as disciplinas teóricas há a história
da gastronomia, matéria que os estudantes têm então acesso às obras dos pensadores e estudiosos da área.
A efervescência do setor de serviços de alimentação, incluindo restaurantes, bares, serviços de catering e bufê – que fatura o equivalente a 2,4% do
Produto Interno Bruto (PIB) do país – tem reflexos importantes: o segmento é
responsável por 8% dos empregos diretos do país, o equivalente a 6 milhões de
pessoas. Os dados são da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes.
Esse cenário favorável culminou na criação da Associação dos Profissionais de Cozinha do Brasil (APC), que tem entre seus objetivos difundir,
coordenar e incentivar a gastronomia brasileira, para que o país ocupe um lugar de destaque no contexto mundial. À frente da associação, que reúne profissionais de todo o território nacional, está o prestigiado Alex Atala, chef e
proprietário do restaurante D.O.M., que vem exercendo um papel de grande
relevância na divulgação da culinária brasileira pelo mundo.
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para cozinhar para os participantes: o espanhol Joan Roca, dono do também
premiado restaurante El Celler de Can Roca. Em uma entrevista, concedida à
Rádio CBN, o chef colocou os ouvintes para refletirem sobre a profunda relação entre o ato de comer e os desejos mais profundos de qualquer ser humano.
Quando questionado sobre qual seria a melhor comida do mundo, foi enfático:
“É aquela preparada pela sua mãe”.
PENSAMENTOS GASTRONÔMICOS
O autor Nicola Perullo, do livro O Gosto como experiência – Ensaio sobre filosofia e
estética do alimento, lançado no Brasil pela SESI-SP Editora, traz para seus leitores a
oportunidade de saborear as ideias de grandes pensadores e personalidades internacionais sobre o ato de comer e o paladar.
Confira algumas delas abaixo:
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Não há nada, nem mesmo nas preferências alimentares, que
não tenha um sentido. Jean-Paul Sartre, filósofo e escritor francês
No ato de comer, o prazer mescla-se à necessidade; não nos
é permitido saber o que quer a necessidade e o que quer
o prazer. Gregório Magno, 64o papa da Igreja Católica Apostólica
Romana
Se você basear seu prazer em beber um vinho agradável,
obriga-se à dor de beber, por vezes, um desagradável. É
necessário ter um paladar mais fácil e mais livre. Michel de
Montaigne, político, filósofo e escritor francês
Realmente pensas que um filósofo verdadeiro pode cuidar
de prazeres como os de comer e beber? Sócrates, filósofo grego
Para mim, não há uma distinção radical entre a dignidade
do “grande discurso” e as razões que nos fazem desejar
comer na companhia de alguém. Embora não sejam situações homogêneas, também não há uma clara oposição
entre elas. Jacques Derrida, filósofo franco-argelino
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AO PÉ DA LETRA
POR ARNALDO NISKIER
DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
O uso dos verbos e os seus complementos são muito importantes no nosso dia a dia. A precisão verbal
ajuda a quem fala e a quem escreve. Procure usar os verbos e os seus complementos corretamente. A
língua portuguesa agradece!
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INDIGNAÇÃO
A moça disse ao namorado: “Se você manter este
relacionamento comigo, terá que ser sério.”
Não vai dar certo! O verbo manter está conjugado no tempo errado.
O tempo verbal adequado é o futuro do subjuntivo: mantiver / mantiveres / mantiver /
mantivermos / mantiverdes / mantiverem.
Período correto: A moça disse ao namorado: se você mantiver este relacionamento
comigo, terá que ser sério.
NO FUTEBOL...
“A falta marcada pelo jogador de um time favorece ao adversário.”
Nenhum juiz deve marcar essa falta.
O verbo favorecer é transitivo direto, isto é,
não admite preposição no seu complemento
( “ao” adversário ), o correto é: o adversário.
Frase correta: A falta marcada pelo jogador
de um time favorece o adversário.
CURIOSIDADE
O verbo lapear é usado na região nordeste
do nosso país e significa andar a pé.
Cuidado! É perigoso lapear pelas ruas das grandes cidades a qualquer hora do dia.
ALUNOS FALTOSOS
“Numa das turmas da faculdade, compareceu
apenas 25% dos alunos.”
Escrevendo assim o número de faltosos parece maior.
Só se usa o verbo no singular quando a porcentagem for 1%. Nas demais deve-se pluralizar o verbo: compareceram.
Frase correta: Numa das turmas da faculdade, compareceram apenas 25% dos alunos.
VERDADE?
“Uma feminista radical disse que homens é dispensável.”
Ela errou três vezes:
1a - ninguém é dispensável;
2a - a concordância verbal está errada e
3a - a concordância nominal também está
errada.
Observe: o substantivo homens, que está
no plural, obriga o verbo (ser /é) e o adjetivo
(dispensável) serem pluralizados - são dispensáveis.
Período correto: Uma feminista radical
disse que homens são dispensáveis.
L ETRA
AO PÉ DA
ERRO CRASSO I
“Fazem muitos anos que o marido da senhora saiu
de casa.”
Jamais voltará! É imperdoável esta construção.
O verbo fazer, no sentido de tempo decorrido, deve ser usado sempre na 3a pessoa
do singular: faz - sempre impessoal, isto é,
uma oração sem sujeito.
Período correto: Faz muitos anos que o
marido da senhora saiu de casa.
ERRO CRASSO II
“Houveram inúmeras razões para que aquele homem abandonasse a esposa.”
“Houveram”? Não há razões que possam
justificar o uso inadequado do verbo haver
(este verbo, no sentido de existir, também é
impessoal - uma oração sem sujeito). Só é
usado na 3a pessoa do singular - houve.
Período correto: Houve inúmeras razões
para que aquele homem abandonasse a esposa.
VOCÊ PRECISA SABER
Há verbos que têm duplo particípio e são
chamados: abundantes.
Observe:
acender - acendido / aceso
eleger - elegido / eleito
exaurir - exaurido / exausto
imprimir - imprimido / impresso
isentar - isentado / isento
romper - rompido / roto
RÁPIDA SAÍDA
“O rapaz e a moça retirou-se apressadamente da
casa do casal de amigos.”
Podiam até ter motivos, mas ficou muito
feio.
O sujeito composto (o rapaz e a moça), estando antes ou depois do verbo (retirar-se),
este vai para o plural - retiraram-se.
Frase correta: O rapaz e a moça retiraram-se apressadamente da casa do casal de
amigos.
AJUDA INDEVIDA
“ A mãe da menina foi ajudar-lhe a fazer os trabalhos da escola.”
Não deveria.
O verbo ajudar, no sentido de prestar ajuda, é transitivo direto e seu complemento,
objeto direto, não precisa de preposição, e,
no caso de pronome oblíquo, não se usa o
“lhe” e sim o/a - ajudá-la.
Período correto: A mãe da menina foi ajudá-la a fazer os trabalhos da escola.
75
INSTIGAÇÃO
Informativo do SESI-SP e SENAI-SP
SUP/DR - número 01 - novembro de 2013
Este é primeiro número de um informativo destinado aos que trabalham no SESI-SP e no
SENAI-SP. Sempre que houver assuntos interessantes, novos números serão publicados
quinzenalmente. O objetivo principal do informativo é instigar todos nós a pensar sobre a
realidade na qual atuamos. Neste primeiro número vamos falar da geração nem-nem.
GERAÇÃO NEM-NEM E POSSÍVEIS RESPOSTAS
QUAIS SÃO AS ATIVIDADES DOS JOVENS URBANOS DE
15-24 ANOS QUE VIVEM NO BRASIL?
O QUE É A GERAÇÃO NEM-NEM?
2 &HQVR 'HPRJUiÀFR UHYHOD
XP
76 GRV DVSHFWRV GH QRVVD MXYHQWXGH
TXHGiRTXHIDODUHRTXHID]HU7UDWD
VHGDLQVHUomRGRMRYHPGHDQRV
QRWUDEDOKRHQDHVFROD8PDSDUWHGHV
VDJHUDomRQHPHVWXGDHQHPWUDEDOKD
FIGURA 1: BRASIL –
CONDIÇÃO DE ATIVIDADE
DE JOVENS URBANOS DE
15 A 24 ANOS – 2010
2&HQVRGHFRQWRX PLOK}HVGHMRYHQVGHD
DQRVGHLGDGH 'HVWHVPLOK}HVQHPHVWXGDPHQHPWUDED
OKDP&DVROLPLWHPRVDLGDGHSDUDDDQRVRQ~PHURp
PLOK}HV ÀJXUD
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FRQÀUPDP D WHQGrQFLD DSUHVHQWDGD QR &HQVR FRP Q~
PHURVVHPHOKDQWHVDRVDSRQWDGRVQR&HQVRHPERUDDDPRV
WUDJHPGD3QDGVHMDIHLWDQDVUHJL}HVPHWURSROLWDQDV
100%
6,4%
12,4%
25,5%
25,0%
20,8%
81,2%
62,5%
28,4%
11,5%
31,7%
7,0%
28,7%
48,6%
31,9%
18,1%
17,4%
14,9%
15,60%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
1,95%
10%
10,6%
0%
15
16 ou 17
18 ou 19
20 a 24
Total 15-24
186.479
689.928
1.415.667
3.684.308
5.976.382
2.359.455
3.485.773
1.575.122
1.693.144
9.113.496
Trabalham e não estudam
53.967
392.538
1.593.782
7.144.606
9.184.893
Trabalham e estudam
306.932
1.011.577
964.432
2.192.016
4.474.957
Faixa etária
Nem estudam e nem trabalham
Só estudam
QUAIS SÃO AS ATIVIDADES DOS JOVENS URBANOS DE 15-24 ANOS QUE VIVEM NO ESTADO DE SÃO PAULO?
1RHVWDGRGH6mR3DXORHPR&HQVRUHJLVWURXPLOK}HVGHMRYHQVHQWUHDQRV'HVWHV
PLOK}HVWUDEDOKDPPLOKmRHVWXGDHWUDEDOKDHSRGHVHUFDWHJRUL]DGRFRPRHVWXGDQWHWUDEDOKDGRU
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PLOKmRGHMRYHQVTXHQHPHVWXGDPHQHPWUDEDOKDPÀJXUD6mR3DXORUHYHODVHFRPRXPHVSH
OKRGDSRSXODomRMRYHPEUDVLOHLUD
FIGURA 2: ESTADO DE
100%
SÃO PAULO – CONDIÇÃO
90%
DE ATIVIDADE DE
80%
JOVENS URBANOS DE 15
70%
A 24 ANOS – 2010
60%
6,2%
11,1%
25,1%
22,1%
19,1%
82,5%
61,6%
22,2%
9,3%
28,8%
6,6%
34,2%
52,2%
35,3%
20,6%
18,2%
16,3%
16,8%
50%
40%
30%
Fonte: SUP-DR
Sesi-Senai-SP, com
base nos dados do
Censo Demográfico
de 2010 – IBGE.
20%
1,7%
10%
9,6%
0%
Faixa etária
Nem estudam e nem trabalham
Só estudam
15
16 ou 17
18 ou 19
20 a 24
Total 15-24
40.591
138.978
315.317
773.150
1.268.036
536.906
769.509
284.724
325.380
1.916.521
Trabalham e não estudam
10.807
82.833
429.898
1.827.456
2.350.994
Trabalham e estudam
62.551
257.878
228.657
571.634
1.120.720
COMO ENFRENTAR AS DIFICULDADES
PARA A ENTRADA NO MERCADO DE
TRABALHO OU DE PERMANÊNCIA NA
ESCOLA?
$ 3QDG UHYHORX TXH D WD[D GH
RFXSDomRPDLVEDL[DpDUHIHUHQWHjIDL[D
HWiULDGHDQRV(PERUDQmRVDLED
PRVDJDPDGHPRWLYRVTXHGLÀFXOWDD
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8PDGHODVMiUHODWDGDHPDOJXPDVSHV
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XP FXUVR GH HVSHFLDOL]DomR GH QtYHO
PpGLR GHQRPLQDGR 9LYrQFLD 3URÀVVLR
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77
RSHUtRGRHVFRODUHPWpFQLFRSURÀVVLRQDOL]DQWHGHTXDOTXHU
HVFRODGR(VWDGRHTXHTXHLUDPH[SHULPHQWDUYLYrQFLDVHP
HPSUHVDV2XWUDVDo}HVSRGHUmRVXUJLUGHLGHLDVTXHRVIXQ
FLRQiULRVGR6HVLHGR6HQDLSRGHUmRSURSRU
O QUE O SESI E O SENAI PODEM FAZER COM O BÔNUS
DEMOGRÁFICO?
&KDPDVH E{QXV GHPRJUiÀFR EUDVLOHLUR R FRQWLQJHQWH
FRQVWDQWH GD SRSXODomR GH MRYHQV GH D DQRV ² PL
OK}HV²SDUDRVSUy[LPRVDQRV$SDUWLUGDtDSLUkPLGHGH
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FR GD GHPRJUDÀD EUDVLOHLUD H SDXOLVWD H R LPSDFWR TXH HOD
SRGHWHUQDVDo}HVGHQRVVDVLQVWLWXLo}HV
Imagem de acervo
Imagem de acervo
Imagem de acervo
Imagem de acervo
78
Imagem de acervo
Imagem de acervo
Imagem de acervo
EVENTOS DAS EDITORAS
SESI-SP E SENAI-SP
Imagem de acervo
EV
EN
ES
TO DI
TO
Imagens de acervo
Imagem de acervo
Imagens de acervo
RA
14º ECONTRO REGIONAL DE TECNOLOGIA DE SOLDAGEM
ESCOLA SENAI DE OSASCO
DOIS GATOS FAZENDO HORA E LONGAS SOMBRAS
LIVRARIA NOVE.SETE
VIII CONGRESSO DA MICRO E PEQUENA INDÚSTRIA 2013 - FIESP
HOTEL RENAISSANCE, SÃO PAULO 46º CONGRESSO E EXPOSIÇÃO
XVII CONGRESSO E FEIRA DE EDUCAÇÃO SABER 2013
CENTRO DE EXPOSIÇÕES 2013
HISTÓRIAS MAL CONTADAS
LIVRARIA DA VILA
DIAGNÓSTICOS E REGULAGENS DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA
SENAI IPIRANGA
CRIATURAS
LIVRARIA DA VILA, SÃO PAULO
CAMINHOS DA INCLUSÃO
CENTRO PAULA SOUZA
DENTE DE LEITE
Imagem de acervo
LIVRARIA DA VILA, SÃO PAULO
79
Imagem de acervo
Imagem de acervo
80
Imagem de acervo
Imagem de acervo
Imagem de acervo
EVENTOS DAS EDITORAS
SESI-SP E SENAI-SP
Imagem de acervo
Imagem de acervo
EV
EN
ES
TO DI
TO
RA
Imagens de acervo
81
INTERNACIONAL DE CELULOSE E PAPEL
TRANSAMÉRICA EXPO CENTER, SÃO PAULO
O COLECIONADOR DE HISTÓRIAS
LIVRARIA DA VILA, SÃO PAULO
MONOCAMADA
JK IGUATEMI
II ENCONTRO DE TECNOLOGIA DO SENAI JANDIRA
Imagem de acervo
OCORREU DE 17 A 19 DE OUTUBRO/13
SÃO PAULO SKILLS
CENTRO DE EXPOSIÇÕES DO ANHEMBI, SÃO PAULO
A LETRA IMPRESSA
LIVRARIA CULTURA
4º SALÃO DO LIVRO DE PRESIDENTE PRUDENTE
CENTRO DE EVENTOS IBC
CARDÁPIO
CENTRO CULTURAL FIESP*
UNIDADES DO SESI-SP
AVENIDA PAULISTA, 1313 SÃO PAULO SP
MÚSICA POPULAR*
EXPOSIÇÃO
GRANDES MESTRES DA ARTE POPULAR
IBERO-AMERICANA
ATÉ 19/01/2014
82
A mostra coloca o visitante diante de uma
surpreendente diversidade social, étnica, geográfica
e artística, em contato com os múltiplos fatores
de encontro entre os povos ibero-americanos,
constituindo-se na mais importante coleção de
arte popular dessa parte do mundo. Esse universo
revela a riqueza da região e dos seus habitantes,
com peças de destacados artesãos provenientes de
22 nações ibero-americanas, uma coleção que fala
da cultura de cada país, seus costumes, suas festas,
seus mitos, suas tradições e da vida diária e suas
raízes. Na pluralidade de temas, materiais e estilos
que revestem as peças apresentadas, existe um
denominador comum: a dedicação empenhada e
o conhecimento empregado, que imprimem uma
qualidade excepcional a cada objeto.
TEATRO
QUADRO FOGO AZUL DE UM MINUTO
ATÉ 08/12
Um grupo de quatro pessoas, que fazem parte de
uma organização denominada REDE, chega a CINE
interferindo no cotidiano do local com atos que
buscam causar impacto, mas não violência. Porém,
algumas coisas saem do controle. Ao mesmo tempo
vemos a apresentação de um mito feminino – YVES
– uma mulher misteriosa. Trata-se de um jogo de
muitas vozes em que tempos e espaços distintos se
sobrepõem e se intercruzam.
TEATRO MUSICAL
A MADRINHA EMBRIAGADA
ATÉ 29/06/2014
Com texto original de quatro canadenses, tradução
e direção de Miguel Falabella, elenco de 25 atores,
orquestra com 15 músicos, Stella Miranda como atriz
convidada, a produção deste musical teve orçamento
de R$ 12 milhões. Durante 11 meses, serão realizadas
325 sessões do musical com ingressos gratuitos, para
ampliar e democratizar o acesso do público.
MÚSICA EM CENA
QUATERNAGLIA
15/12 12H
DUO SIQUEIRA-LIMA
O Quaternaglia vem estabelecendo um cânone de
obras originais e arranjos audaciosos. A proposta
ousada e madura do trabalho violonísticocamerístico do grupo foi imediatamente reconhecida
por publicações especializadas internacionais. O
quarteto utiliza três violões de seis cordas e um de
sete cordas especialmente construídos pelo luthier
brasileiro Sérgio Abreu.
CAT SANTOS
23/11
CAT GUARULHOS
13/12
MÚSICA EM CENA
QUINTAL BRASILEIRO
22/12 12H
SÃO PAULO
CAT A.E.CARVALHO
23/11
Ao longo de dez anos, o quinteto de cordas
experimentou grandes momentos de sucesso,
somente reservados a grupos de inquestionável
talento, como dividir o palco do Auditório Ibirapuera
com o multi-instrumentista Egberto Gismonti e
participar de espetáculos no Museu da Casa Brasileira
e no SESI-SP. A natureza desse trabalho está implícita
no próprio nome: Quintal, que remete à ideia de um
espaço prazeroso para experiências criativas.
MOSTRA DE CINEMA
MOSTRA CINE SESI-SP NO MUNDO: ALEMANHA CONTEMPORÂNEA I
ATÉ 08/12
Seja no formato, seja no conteúdo, são diversos os
caminhos que a produção cinematográfica alemã
tem tomado nas últimas décadas. Mas hoje é certo
que os novos cineastas se distanciaram dos filmes
autorais dos anos de 1970 e passaram a revelar
em suas obras as diversas Alemanhas existentes
depois de mais de 20 anos de reunificação. Temas
emergentes desse país, como o mundo globalizado,
o multiculturalismo, a imigração e a crise de
identidade pós-reunificação, são abordados de forma
crescente pela chamada nova geração de cineastas
alemães.
CONCERTOS NATALINOS
09/12 A 20/12 DE SEGUNDA A SEXTAFEIRA, 18H
MÚSICA EM CENA
QUARTETO SAXOFONANDO
1º/12 12H
No encontro da música instrumental com a clássica,
o grupo mescla a Música Popular Brasileira com a
tradição clássica europeia de escrita e interpretação,
valorizando a música erudita e popular de câmara,
sobretudo a diversidade de estilos, que exige dos
músicos diferentes capacidades interpretativas.
MÚSICA EM CENA
DUO PORTINARI
08/12 12H
Instrumentos sinfônicos, a harpa e a viola são
apresentadas em formação camerística. Ao reuni-las
em uma inusitada combinação de timbres, o Duo
Portinari proporciona ao público a oportunidade de
conhecer e apreciar detalhadamente o som de cada
uma, diferentemente de quando participam de uma
formação orquestral.
* Datas e horários sujeitos a alterações. Mais informações no site www.sesisp.org.br/cultura/
MARQUINHO MENDONÇA
EMICIDA
OSASCO
CAT LUIS EULALIO DE BUENO VIDIGAL
FILHO
07/12
BLACK VOICES
CAT FRANCA
06/12
CAT ARARAQUARA
13/12
OTONIEL DOS SANTOS
SÃO PAULO
CAT VILA DAS MERCÊS
20/11
CAT SOROCABA
21/11
CAT SÃO BERNARDO DO CAMPO
22/11
CAT RIO CLARO
23/11
CARDÁPIO
GALERIA DE FOTOS
ZABELINHA
MIRABOLANTE
O MENINO QUE MORDEU PICASSO
WAON
FBarella
Divulgação
Divulgação
83
Xan
GALERIA DE FOTOS
Divulgação
Pedro Tolfo
Divulgação
BANDA SINFÔNICA DO ESTADO DE SP
5º CICLO DO NÚCLEO DE DRAMATURGIA
QUARTETO IPÊ AMARELO
PEDRO TOLFO 3 BANDA SINFÔNICA DETALHES
Divulgação
UNIDADES DO SESI-SP
AMERICANA
CAT DR. ESTEVAM FARAONE
AVENIDA BANDEIRANTES,1000 CHÁCARA MACHADINHO
CEP 13478-700 - AMERICANA - SP
Tel: (19) 3471-9000
www.sesisp.org.br/americana
ARAÇATUBA
CAT FRANCISCO DA SILVA VILLELA
RUA DR. ALVARO AFONSO DO NASCIMENTO, 300 - J. PRESIDENTE
CEP 16072-530 - ARAÇATUBA - SP
Tel: (18) 3519-4200
www.sesisp.org.br/aracatuba
ARARAQUARA
CAT WILTON LUPO
AVENIDA OCTAVIANO DE ARRUDA
CAMPOS, 686 - JD. FLORIDIANA
CEP 14810-901 - ARARAQUARA - SP
Tel: (16) 3337-3100
www.sesisp.org.br/araraquara
ARARAS
CAT LAERTE MICHIELIN
AVENIDA MELVIN JONES, 2.600 - B.
HEITOR VILLA-LOBOS
CEP 13607-055 - ARARAS - SP
Tel: (19) 3542-0393
www.sesisp.org.br/araras
BAURU
CAT RAPHAEL NOSCHESE
RUA RUBENS ARRUDA, 8-50 - ALTOS DA
CIDADE
CEP 17014-300 - BAURU - SP
Tel: (14) 3234-7171
www.sesisp.org.br/bauru
CAMPINAS I
CAT PROFESSORA MARIA BRAZ
AVENIDA DAS AMOREIRAS, 450
CEP 13036-225 - CAMPINAS I - SP
Tel: (19) 3772-4100
www.sesisp.org.br/amoreiras
CAMPINAS II
CAT JOAQUIM GABRIEL PENTEADO
AVENIDA ARY RODRIGUEZ, 200 - B.
BACURI
CEP 13052-550 - CAMPINAS II - SP
Tel: (19) 3225-7584
www.sesisp.org.br/campinas2
COTIA
OLAVO EGYDIO SETÚBAL
RUA MESOPOTÂMIA, 300 - MOINHO
VELHO
CEP 06712-100 - COTIA - SP
Tel: (11) 4612-3323
www.sesisp.org.br/cotia
CRUZEIRO
CAT OCTÁVIO MENDES FILHO
RUA DURVALINO DE CASTRO, 501 - VILA
ANA ROSA NOVAES
CEP 12705-210 - CRUZEIRO - SP
Tel: (12) 3141-1559
www.sesisp.org.br/cruzeiro
CUBATÃO
CAT DÉCIO DE PAULA LEITE NOVAES
AVENIDA COM. FRANCISCO BERNARDO, 261 - JD. CASQUEIRO
CEP 11533-090 - CUBATÃO - SP
Tel: (13) 3363-2662
www.sesisp.org.br/cubatao
GUARULHOS
CAT MORVAN DIAS DE FIGUEIREDO
RUA BENEDITO CAETANO DA CRUZ,
566 - JARDIM ADRIANA
CEP 07135-151 - GUARULHOS - SP
Tel: (11) 2404-3133
www.sesisp.org.br/guarulhos
INDAIATUBA
CAT ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
AVENIDA FRANCISCO DE PAULA LEITE,
2701 - JD. CALIFÓRNIA
CEP 13346-000 - INDAIATUBA - SP
Tel: (19) 3875-9000
www.sesisp.org.br/indaiatuba
ITAPETININGA
CAT - BENEDITO MARQUES DA SILVA
AVENIDA PADRE ANTONIO BRUNETTI,
1.360 - VL. RIO BRANCO
CEP 18208-080 - ITAPETININGA - SP
Tel: (15) 3275-7920
www.sesisp.org.br/itapetininga
ITÚ
CAT CARLOS EDUARDO MOREIRA
FERREIRA
RUA JOSÉ BRUNI, 201 - BAIRRO SÃO LUIZ
CEP 13304-080 - ITÚ - SP
Tel: (11) 4025-7300
www.sesisp.org.br/itu
JACAREÍ
CAT KARAM SIMÃO RACY
RUA ANTONIO FERREIRA RIZZINI, 600 JD. ELZA MARIA
CEP 12322-120 - JACAREÍ - SP
Tel: (12) 3954-1008
www.sesisp.org.br/jacarei
BIRIGUI
CAT MIN. DILSON FUNARO
AVENIDA JOSÉ AGOSTINHO ROSSI,
620 - JARDIM PINHEIROS
CEP 16203-059 - BIRIGUI - SP
Tel: (18) 3642-9786
www.sesisp.org.br/birigui
DIADEMA
CAT JOSÉ ROBERTO MAGALHÃES
TEIXEIRA
AVENIDA PARANAPANEMA, 1500 TABOÃO
CEP 09930-450 - DIADEMA - SP
Tel: (11) 4092-7900
www.sesisp.org.br/diadema
JAÚ
CAT RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA
AVENIDA JOÃO LOURENÇO PIRES DE
CAMPOS, 600 - JD. PEDRO OMETTO
CEP 17212-591 - JAÚ - SP
Tel: (14) 3621-1042
www.sesisp.org.br/jau
BOTUCATU
CAT SALVADOR FIRACE
RUA CELSO CARIOLA, 60 – ENG.
FRANCISCO
CEP 18605-265 - BOTUCATU - SP
Tel: (14) 3811-4450
www.sesisp.org.br/botucatu
FRANCA
CAT OSVALDO PASTORE
AVENIDA SANTA CRUZ, 2870 - JD.
CENTENÁRIO
CEP 14403-600 - FRANCA - SP
Tel: (16) 3712-1600
www.sesisp.org.br/franca
JUNDIAÍ
CAT ÉLCIO GUERRAZZI
AVENIDA ANTONIO SEGRE, 695 - JARDIM BRASIL
CEP 13201-843 - JUNDIAÍ - SP
Tel: (11) 4521-7122
www.sesisp.org.br/jundiai
85
86
LIMEIRA
CAT MARIO PUGLIESE
AVENIDA MJ. JOSÉ LEVY SOBRINHO,
2415 - ALTO DA BOA VISTA
CEP 13486-190 - LIMEIRA - SP
Tel: (19) 3451-5710
www.sesisp.org.br/limeira
OURINHOS
CAT MANOEL DA COSTA SANTOS
RUA PROFESSORA MARIA JOSÉ FERREIRA, 100 - BAIRRO DAS CRIANÇAS
CEP 19910-075 - OURINHOS - SP
Tel: (14) 3302-3500
www.sesisp.org.br/ourinhos
MARÍLIA
CAT LÁZARO RAMOS NOVAES
AVENIDA JOÃO RAMALHO, 1306 - JD.
CONQUISTA
CEP 17520-240 - MARÍLIA - SP
Tel: (14) 3417-4500
www.sesisp.org.br/marilia
PIRACICABA
CAT MARIO MANTONI
AVENIDA LUIZ RALPH BENATTI, 600 - VL
INDUSTRIAL
CEP 13412-248 - PIRACICABA - SP
Tel: (19) 3403-5900
www.sesisp.org.br/piracicaba
MATÃO
CAT PROFESSOR AZOR SILVEIRA LEITE
RUA MARLENE DAVID DOS SANTOS,
940 - JARDIM PARAÍSO III
CEP 15991-360 - MATÃO - SP
Tel: (16) 3382-6900
www.sesisp.org.br/matao
PRESIDENTE EPITÁCIO
CIL - CARLOS CARDOSO DE ALMEIDA
AMORIM
AVENIDA DOMINGOS FERREIRA DE
MEDEIROS, 2.113 - VILA RECREIO
CEP 19470-000 - PRES. EPITÁCIO - SP
Tel: (18) 3281-2803
www.sesisp.org.br/presidenteepitacio
MAUÁ
CAT MIN. RAPHAEL DE ALMEIDA
MAGALHÃES
AVENIDA PRESIDENTE CASTELO BRANCO, 237 - JARDIM ZAÍRA
CEP 09320-590 - MAUÁ - SP
Tel: (11) 4542-8950
www.sesisp.org.br/maua
MOGI DAS CRUZES
CAT NADIR DIAS DE FIGUEIREDO
RUA VALMET, 171 - BRAZ CUBAS
CEP 08740-640 - MOGI DAS CRUZES - SP
Tel: (11) 4727-1777
www.sesisp.org.br/mogidascruzes
PRESIDENTE PRUDENTE
CAT BELMIRO JESUS
AVENIDA IBRAIM NOBRE, 585 - PQ.
FURQUIM
CEP 19030-260 - PRES. PRUDENTE - SP
Tel: (18) 3222-7344
www.sesisp.org.br/presidenteprudente
RIBEIRÃO PRETO
CAT JOSÉ VILLELA DE ANDRADE JUNIOR
RUA DR. LUÍS DO AMARAL MOUSINHO,
3465 - CASTELO BRANCO
CEP 14090-280 - RIBEIRÃO PRETO - SP
Tel: (16) 3603-7300
www.sesisp.org.br/ribeiraopreto
MOGI GUAÇU
CAT MIN. ROBERTO DELLA MANNA
RUA EDUARDO FIGUEIREDO, 300 - PARQUE RESIDENCIAL ZANIBONI III
CEP 13848-090 - MOGI GUAÇU - SP
Tel: (19) 3861-3232
www.sesisp.org.br/mogiguacu
RIO CLARO
CAT JOSÉ FELÍCIO CASTELLANO
AVENIDA M-29, 441 - JD. FLORIDIANA
CEP 13505-190 - RIO CLARO - SP
Tel: (19) 3522-5650
www.sesisp.org.br/rioclaro
OSASCO
CAT LUIS EULALIO DE BUENO VIDIGAL
FILHO
AVENIDA GETÚLIO VARGAS, 401
CEP 06233-020 - OSASCO - SP
Tel: (11) 3602-6200
www.sesisp.org.br/osasco
SANTA BÁRBARA D' OESTE
CAT AMÉRICO EMÍLIO ROMI
AVENIDA MÁRIO DEDINI, 216 - V.
OZÉIAS
CEP 13453-050 - S. B. D`OESTE - SP
Tel: (19) 3455-2088
www.sesisp.org.br/santabarbara
SANTANA DE PARNAÍBA
CAT JOSÉ CARLOS ANDRADE NADALINI
AVENIDA CONSELHEIRO RAMALHO,
264 - CIDADE SÃO PEDRO
CEP 06535-175 - SANTANA DE
PARNAÍBA - SP
Tel: (11) 4156-9830
www.sesisp.org.br/parnaiba
SANTO ANDRÉ
CAT THEOBALDO DE NIGRIS
PÇA. DR. ARMANDO DE ARRUDA PEREIRA, 100 - STA. TEREZINHA
CEP 09210-550 - SANTO ANDRÉ - SP
Tel: (11) 4996-8600
www.sesisp.org.br/santoandre
SÃO BERNARDO DO CAMPO
CAT ALBANO FRANCO
RUA SUÉCIA, 900 - ASSUNÇÃO
CEP 09861-610 - S. B. DO CAMPO - SP
Tel: (11) 4109-6788
www.sesisp.org.br/sbcampo
SÃO CAETANO DO SUL
CAT PRES. EURICO GASPAR DUTRA
RUA SANTO ANDRÉ, 810 - BOA VISTA
CEP 09572-140 - S. C. DO SUL - SP
Tel: (11) 4233-8000
www.sesisp.org.br/saocaetano
SANTOS
CAT PAULO DE CASTRO CORREIA
AVENIDA NOSSA SENHORA DE FÁTIMA, 366 - JD. SANTA MARIA
CEP 11085-202 - SANTOS - SP
Tel: (13) 3209-8210
www.sesisp.org.br/santos
SÃO CARLOS
CAT ERNESTO PEREIRA LOPES FILHO
RUA CEL. JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA
SALLES, 1325 - V. IZABEL
CEP 13570-900 - SÃO CARLOS - SP
Tel: (16) 3368-7133
www.sesisp.org.br/saocarlos
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
CAT JORGE DUPRAT FIGUEIREDO
AVENIDA DUQUE DE CAXIAS, 4656 VL. ELVIRA
CEP 15061-010 - SÃO JOSÉ DO RIO
PRETO - SP
Tel: (17) 3224-6611
www.sesisp.org.br/sjriopreto
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
CAT OZIRES SILVA
AVENIDA CIDADE JARDIM, 4389
BOSQUE DOS EUCALIPTOS
CEP 12232-000 - SÃO JOSÉ DOS
CAMPOS - SP
Tel: (12) 3936-2611
www.sesisp.org.br/sjcampos
SÃO PAULO – AE CARVALHO
CAT MARIO AMATO
RUA DEODATO SARAIVA DA SILVA, 110 PQ. DAS PAINEIRAS
CEP 03694-090 - SÃO PAULO - SP
Tel: (11) 2026-6000
www.sesisp.org.br/carvalho
SÃO PAULO – CATUMBI
CAT ANTONIO DEVISATE
RUA CATUMBI, 318 - BELENZINHO
CEP 03021000 - SÃO PAULO - SP
Tel: (11) 2291-1444
www.sesisp.org.br/catumbi
SÃO PAULO – IPIRANGA
CAT ROBERTO SIMONSEN
RUA BOM PASTOR, 654 – IPIRANGA
CEP 04203-000 – SÃO PAULO – SP
Tel: (11) 2065-0150
www.sesisp.org.br/ipiranga
SOROCABA
CAT - SEN JOSÉ ERMÍRIO DE MORAES
RUA DUQUE DE CAXIAS, 494 - MANGAL
CEP 18040-425 - SOROCABA - SP
Tel: (15) 3388-0444
www.sesisp.org.br/sorocaba
SUMARÉ
CAT FUAD ASSEF MALUF
AVENIDA AMAZONAS, 99 - JARDIM
NOVA VENEZA
CEP 13177-060 - SUMARÉ - SP
Tel: (19) 3854-5855
www.sesisp.org.br
SUZANO
CAT MAX FEFFER
AVENIDA SENADOR ROBERTO SIMONSEN, 550 - JARDIM IMPERADOR
CEP 08673-270 - SUZANO - SP
Tel: (11) 4741-1661
www.sesisp.org.br/suzano
TATUÍ
CAT WILSON SAMPAIO
AVENIDA SÃO CARLOS, 900 B. DR. LAURINDO
CEP 18271-380 - TATUÍ - SP
Tel: (015) 3205-7910
www.sesisp.org.br/tatui
SÃO PAULO – VILA DAS MERCÊS
CAT PROFESSOR CARLOS PASQUALE
RUA JÚLIO FELIPE GUEDES, 138
CEP 04174-040 - SÃO PAULO - SP
Tel: (11) 2946-8172
www.sesisp.org.br/merces
TAUBATÉ
CAT LUIZ DUMONT VILLARES
RUA VOLUNTÁRIO BENEDITO SÉRGIO,
710 - B. ESTIVA
CEP 12050-470 - TAUBATÉ - SP
Tel: (12) 3633-4699
www.sesisp.org.br/taubate
SÃO PAULO – VILA LEOPOLDINA
CAT GASTÃO VIDIGAL
RUA CARLOS WEBER, 835 - VILA
LEOPOLDINA
CEP 05303-902 - SÃO PAULO - SP
Tel: (11) 3832-1066
www.sesisp.org.br/leopoldina
VOTORANTIM
CAT JOSÉ ERMÍRIO DE MORAES FILHO
RUA CLÁUDIO PINTO NASCIMENTO,
140 - JD. MORUMBI
CEP 18110-380 - VOTORANTIM - SP
Tel: (15) 3353-9200
www.sesisp.org.br/votorantim
SERTÃOZINHO
CAT NELSON ABBUD JOÃO
RUA JOSÉ RODRIGUES GODINHO, 100 CONJ. HAB. MAURÍLIO BIAGI
CEP 14177-320 - SERTÃOZINHO - SP
Tel: (16) 3945-4173
www.sesisp.org.br/sertaozinho
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Foto Hugo Curti – Dona Marina, A Catrina, obra de Felipe Linares Mendoza, 1992, Cidade do México, México.
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CULTURAL DO SESI-SP
#4 NOVEMBRO 2O13
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