CONCEPÇÃO DOS ESTUDANTES EM DIVERSOS NÍVEIS DE ENSINO SOBRE AS TECNOLOGIAS
Flávio Augusto Camilo - [email protected], Adriana Domingues Freitas - [email protected], Alcides
Teixeira Barboza Junior - [email protected], Maria de Lourdes Fernandes - [email protected],
Paulo Sergio Rocato - [email protected], Sonia Noriko Shiino Maeda [email protected], Carlos Fernando de Araújo Junior - [email protected], Ismar Frango
Silveira - [email protected], Juliano Schimiguel - [email protected]
Programa de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática – UNICSUL
Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo - SP
Resumo
Atualmente muito se fala sobre a influência das tecnologias em todos os setores
e meios da sociedade. Presente no dia-a-dia, a tecnologia hoje está acessível a vários
níveis da sociedade. A necessidade e exigência de atualização e profissionalização
ditam um ritmo acelerado em nossa sociedade, onde é exigido do cidadão uma visão
crítica sobre os aspectos relacionados com a ciência, a tecnologia e a sociedade para
que esse participe ativamente como um cidadão pleno. Neste trabalho, procuramos
identificar as concepções espontâneas de estudantes, de diferentes níveis de ensino,
sobre a tecnologia e seus relacionamentos e apresentamos uma análise dessas
concepções.
Palavras-Chave: Tecnologia - Ciência, Sociedade e Tecnologia - Mapa
Conceitual
Introdução
Vivemos na sociedade da informação e do conhecimento onde o vertiginoso
progresso científico e tecnológico exige, cada vez mais, a atualização e a
profissionalização da sociedade e ditam um ritmo acelerado em nossa sociedade, onde
são necessários maiores níveis de escolarização e competências técnicas e
interpessoais.
Segundo Amaral e Costa (2006) o profissional do mundo contemporâneo deve
ser reflexivo a respeito da inovação tecnológica e também sobre aspectos sócioeconômicos, flexível e capaz de interagir no mundo globalizado e de tecnologias.
Acompanhando o fenômeno cultural e social relacionados ao desenvolvimento
científico e tecnológico, no âmbito da área de ensino de ciências e matemática, nos
últimos anos, tem se destacado a vertente que defende uma maior integração e
articulação do trinômio ciência, tecnologia e sociedade (CTS).(AULER, BAZZO, 2001;
ANGOTTI E AUTH, 2001; SKOVSMOSE, 2001; ROSA, 2005; AULER e DELIZOICOV,
2006). Essa maior integração e articulação da Ciência, Tecnologia e Sociedade é
desafio interdisciplinar que os profissionais que atuam no ensino fundamental, médio e
superior têm que considerar buscando uma atuação harmônica.
As concepções de estudantes e professores sobre temas, áreas e conceitos
tem sido uma intensa área de estudos em tempos modernos. Acredita-se que as
concepções apresentadas revelem, direta ou indiretamente, crenças e possíveis
atitudes frente ao objeto de estudo. (THOMPSON , 1997; CURY, 1999; REZENDE,
2002). No âmbito da área de Ciências vários trabalhos têm sido realizados utilizando os
mapas conceituais como um instrumento de análise de concepções dos estudantes a
cerca de conceitos científicos (MOREIRA, 1999).
Neste trabalho fazemos uma análise qualitativa da concepção espontânea de
tecnologia apresentada por estudantes de diversos níveis de ensino (fundamental,
médio e superior). Foram analisados cerca de 191 mapas conceituais. Esses mapas
foram categorizados objetivando uma análise das relações entre tecnologia e aspectos
importantes relacionados com a Ciência, a Tecnologia e Sociedade. Neste trabalho
apresentamos os resultados preliminares desta análise.
Neste trabalho apresentamos algumas concepções sobre tecnologia
manifestadas por alunos do ensino fundamental, médio e superior com o objetivo de
identificar os relacionamentos que estes alunos realizam com o conceito de tecnologia.
Trata-se de concepções espontâneas que foram registradas em mapas conceituais e
depois categorizadas e analisadas. A estrutura do presente trabalho é a que segue: na
seção 1 apresentamos a fundamentação teórica deste trabalho. Na seção 2
apresentamos a metodologia desta pesquisa. Na seção 3 apresentamos os resultados
e sua análise e concluímos o trabalho com a seção 4, onde apresentamos nossas
conclusões gerais.
1. Fundamentação Teórica
1.1 O Movimento Ciência Tecnologia e Sociedade - CTS
Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS) foi um movimento de âmbito
internacional que emergiu no meio do século XX nos países capitalistas centrais e que
buscava a discussão crítica do uso da ciência e tecnologia e seus efeitos à sociedade,
dessa forma o CTS passou a ser objeto de debate político, onde um dos objetivos era
alterar o ponto de vista e decisões em relação à Ciência e Tecnologia e estas
mudanças seriam discutidas de forma mais democrática e com maior participação da
sociedade.
De acordo com Auler e Bazzo (2001) esse movimento se deu em virtude do
sentimento de que o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico não estava
conduzindo ao desenvolvimento do bem estar social; nesse sentido Angotti e Auth
(2001) citam que o uso abusivo de aparatos tecnológicos torna-se mais evidente assim
como os problemas ambientais e que fica clara que a exploração desenfreada da
natureza e os avanços científicos tecnológicos obtidos não beneficiaram a todos, pois
muitos continuavam marginalizados, na miséria material e cognitiva. Tais fatos levam a
uma discussão mais crítica sobre o uso da Ciência e Tecnologia e suas conseqüências,
perante a Sociedade.
E nos países capitalistas centrais, a politização da C&T produziu
desdobramentos nos ensinos superior e secundário.
As primeiras discussões a respeito de preocupações com a natureza, por
exemplo, segundo Angotti e Auth (2001) iniciaram em 1923 e Rosa (2005) salienta que
o movimento CTS que despontou da década de 70, tornou um dilema educacional para
a década de 80 e chegou ao Brasil em 1990 e mesmo sem um discurso consensual ,
mostra um enfoque com relação à educação em desenfatizar a vertente Ciência para
igualmente tratar as vertentes Tecnologia e Sociedade.
Sobre a associação do CTS à educação brasileira, Auler e Bazzo (2001)
salientam que os objetivos apresentados à educação sob essa perspectiva do CTS são:
promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciência com tecnologia,
fenômenos da vida cotidiana, abordar implicações sociais e éticas com relação ao uso
da ciência e tecnologia, propiciando a formação do cidadão científica e
tecnologicamente alfabetizado e ainda alcançar pensamento crítico.
1.2 O papel da escola no movimento CTS
Angotti e Auth (2001) afirmam que o entendimento da dinâmica
homem/ambiente pode ser explorado no ambiente didático/pedagógico, uma vez que a
escola tem papel significativo na formação dos indivíduos, na sua cultura, nas suas
relações sociais, mas para isso a escola precisar repensar o seu papel.
Ainda, segundo esses autores, é preciso contrastar as visões presentes no
sistema de ensino e constituir uma fonte de visões alternativas, neste sentido, apontam
a formação continuada de professores ou minimamente envolver os professores em
atividades que enfocam essas questões para comprometê-los colaborativamente e
desafiá-los em algumas de suas concepções: de ciência, de ser professor e em suas
limitações nos conteúdos e metodologias, para com isso indicar alternativas onde seja
minimizada a fragmentação dos conhecimentos escolares e assim poder redirecionar o
eixo prevalente da veiculação/transmissão da informação com algum conhecimento em
favor de uma alfabetização mais crítica em C&T , comprometida e de relevância social.
Auler e Bazzo (2001) citam ainda Angotti em sua tese de doutorado em 1991
onde este afirma que falta educação em Ciência e Tecnologia para que o cidadão
possa participar, alterar e transformar a modernidade.
Os autores ainda salientam que os meios de comunicação têm papel
significativo enquanto formadores de opinião e que as pessoas não tem conhecimento
crítico que possa nortear as conclusões acerca das informações reportadas pelos
meios de comunicação.
Rosa (2005) acredita que e Educação Tecnológica pode contemplar áreas de
conhecimento e ação como Educação/Ensino de Ciências e Matemática, Ensino de
Engenharia, Educação e/em Informática, Alfabetização Científico-Tecnológica do
cidadão, Filosofia e Epistemologia da Tecnologia entre outros.
1.2 Concepções e Mapas Conceituais
O termo Concepção é aqui neste texto adotado, pois concordamos com a
pesquisadora Helena Cury (1999) que opta pela utilização deste termo para descrever a
filosofia particular de uma pessoa quando esta concebe idéias e a partir destas
interpreta um determinado assunto.
De acordo com Moreira (1999) o conceito de Mapas Conceituais foi concebido
como instrumento ao principio ausubeliano da diferenciação conceitual progressista.
São formados diagramas que apresentam relações entre conceitos e que procuram
refletir a organização conceitual de um corpo de conhecimentos. Cada diagrama é
constituído por figuras geométricas que simbolizam conceitos que são interligados ou
não à outros conceitos por setas em uma organização hierárquica de conceitos. Um
mapa conceitual não pode ser caracterizado como certo ou errado, pois qualquer mapa
conceitual deve ser visto apenas como uma possível representação de certa estrutura
conceitual e essa representação pode variar de acordo com a visão ou concepção de
quem está elaborando o Mapa Conceitual.
Os Mapas Conceituais podem ser usados como apoio à representações de
conhecimento. Com eles pode-se representar e organizar conceitos ou concepções
acerca de determinado assunto e também podem ser usados por estudantes para
descrever o seu entendimento sobre um determinado recorte da atualidade
O mapa conceitual foi então utilizado por esses estudantes para descrever o
seu entendimento a respeito das tecnologias e através da comparação destes mapas
conceituais buscamos identificar diferenças e semelhanças classificando os diversos
pensamentos dos estudantes em relação às tecnologias
2. Metodologia
A metodologia desta pesquisa consiste em pesquisa-ação, conforme descrito
por Michel Thiollent (2005). Os principais pesquisadores foram os estudantes do
programa de mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, linha de pesquisa de
tecnologia e ambientes virtuais de aprendizagem aplicados ao ensino de ciências e
matemática, que são também professores da rede pública e privada distribuídos nos
diversos níveis ensino: fundamental, médio e superior.
Os pesquisadores inicialmente expuseram aos seus estudantes o que era um Mapa
Conceitual, apresentado um exemplo de um outro tema. Os pesquisadores também
expuseram a seus estudantes que o que deveria ser expresso através do Mapa
representava a visão deles a respeito da Tecnologia e de que não havia Mapa certo ou
errado, mas sim a visão de cada um através de seu Mapa Conceitual (MOREIRA,
1999).
Ao todo a pesquisa abrangeu a análise de 191 mapas conceituais. Esses mapas foram
categorizados em quatro segmentos: relacionamento da tecnologia com o
desenvolvimento científico tecnológico, sociedade; relacionamento da tecnologia
apenas como recurso, ferramenta e comunicação; relacionamento da tecnologia com
pesquisa e educação; relacionamento da tecnologia com outras tecnologias diferentes
de computador. Os resultados desta categorização, nas diferentes escolas e
instituições, foram comparados na busca de uma visão global sobre a concepção de
tecnologia destes estudantes.
3. Resultados e Análise
Os resultados obtidos na categorização dos mapas conceituais onde os estudantes
apresentaram suas concepções espontâneas sobre tecnologia diverge bastante no
âmbito das escolas e instituições pesquisadas. A análise mostrou que todas as
categorias eram encontradas na maioria dos mapas conceituais elaborados pelos
estudantes. As categorias de relacionamento mais observadas foram: tecnologia como
um recurso e ferramenta; relacionamento da tecnologia com o desenvolvimento
científico tecnológico; relacionamento da tecnologia com outras tecnologias diferentes
que o computador e o relacionamento da tecnologia associada a pesquisa e educação.
Os dados obtidos em uma escola sofreram uma ligeira distorção pois a turma que
participou da elaboração dos mapas conceituais foi fortemente influenciada por um
estudante que imediatamente associou tecnologia a informática e “incitou” os colegas
com essa concepção. Essa concepção pode ter sido escolhida pelos alunos também
pelo da pesquisadora, professora destes estudantes, que propôs o trabalho coletiva aos
alunos ser professora de informática. Esse fato pode ser observado na Figura 3.
Na Figura 1, por exemplo, apresentamos um mapa conceitual elaborado por um
estudante do ensino fundamental, 8ª. Serie. O mapa evidencia uma visão ampla da
tecnologia que transpassa todas as categorias de análise dos mapas conceituais. A
grande maioria dos mapas conceituais desta escola apresentam essa predominância.
Na Figura 2 apresentamos um destaque para um mapa conceitual elaborado por um
estudante do ensino médio. Observamos, também neste mapa, um visão abrangente
da influência da tecnologia. Esse mapa não apresenta, explicitamente, por exemplo, a
relação entre a tecnologia e o desenvolvimento científico e tecnológico mas associa
com o termo “estratégica” relacionado com “competência”, aparentemente indicando a
necessidade do conhecimento da tecnologia.
Na Figura 3, conforme relatado anteriormente, observamos uma tendência a uma
concepção da tecnologia como um recurso, uma ferramenta empregada nas mais
diversas atividades (informação, diversão, comunicação).
A Figura 4 apresenta o mapa conceitual elaborado por um aluno, de curso de
Tecnologia do ensino Superior de Instituição particular da cidade São Paulo, sobre sua
concepção de tecnologia. Este mapa foi elaborado utilizando a ferramenta Cmaptools.
Considerando que esse recurso era mais facilmente utilizado e disponível para esses
estudantes. Embora sejam alunos de um curso superior de tecnologia onde, talvez, se
esperasse uma visão mais “tecnicista” a concepção da tecnologia e seus
relacionamentos é bastante ampla percorrendo todas as categorias de análise. Os
mapas conceituais apresentados na Figura 1 e na Figura 4 são os mais abrangentes
que os outros dois mapas, Figura 2 e 3.
Figura 1: mapa conceitual elaborado por um aluno do ensino fundamental de uma
escola particular da grande São Paulo sobre sua concepção de tecnologia.
Figura 2: mapa conceitual elaborado por um aluno do ensino médio de uma
escola pública da cidade São Paulo sobre sua concepção de tecnologia.
Figura 3: mapa conceitual elaborado por um aluno do ensino fundamental de uma
escola pública da cidade São Paulo sobre sua concepção de tecnologia.
Figura 4: mapa conceitual elaborado por um aluno, de curso de Tecnologia do ensino
Superior de Instituição particular da cidade São Paulo, sobre sua concepção de tecnologia.
Em linhas gerais, nesta pesquisa preliminar, observamos que as concepções dos
estudantes sobre tecnologia nas categorias analisadas não são homogêneas. Há
evidências do relacionamento destas concepções com: nível de ensino, projeto da
escola e rede educacional analisada. A porcentagem dos mapas analisados que
apresentaram concepções relacionadas com Tecnologia e CTS teve uma amplitude de
40% a 86%. Observamos uma certa tendência na maioria das escolas analisadas em
uma concepção da tecnologia relacionada com outros recursos que não o computador
sendo vista como ferramenta (facilitador). Os dados que apontam a concepção dos
estudantes relacionando tecnologia e educação atingiram os menores índices.
4 Conclusão
Neste trabalho fizemos uma análise da concepção espontânea apresentada por alunos
de diversos níveis de ensino. Para realizar a análise utilizamos o recurso da
representação do conhecimento por meio de mapas conceituais. Esses mapas
conceituais foram categorizados segundo seu conteúdo dos conceitos neles
representados.
As categorias criadas relacionam Tecnologia, com aspectos
relacionados com o CTS.
Embora trata-se de uma pesquisa preliminar podemos observar que não há
homogeneidade entre níveis de ensino e entre escolas (pública ou particular). As
concepções apresentadas, em relação as escolas, foram de muito superficiais a
profundas. As concepções sobre tecnologia manifestadas espontaneamente pelos
estudantes revelam a necessidade de uma revisão curricular e intensificação dos
esforços interdisciplinares com o objetivo de criar uma competência crítica e reflexiva
profunda sobre o papel da tecnologia e seu relacionamento com o desenvolvimento
científico e tecnológico.
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