Reunião com pais
Reunião com pais
“Ser todo em cada coisa”
A
o observarmos como pais e mães educam seus filhos, concluímos que cada família tem sua
prática. A educação dos filhos é legítima tarefa dos pais e acontece por meio, principalmente,
de uma conduta educativa consciente e intencional, presente no relacionamento cotidiano.
De acordo com vários estudos na área da psicologia, o conjunto de atitudes dos pais é um
elemento condutor do modo de ser dos filhos; assim sendo, há demonstrações científicas de que
o comportamento social de crianças e adolescentes é profundamente influenciado pela forma
paterna de ser.
Considerando o momento em que vivemos, podemos observar que o trabalho e os demais
compromissos assumidos fora da alçada familiar levam os pais a negligenciar seu papel educativo, e, cada vez mais com menos tempo, eles se tornam desatentos aos acontecimentos da vida
dos filhos. Entretanto, o aumento das tarefas fora do lar e as poucas horas do dia não podem servir
como desculpa para o descumprimento da função essencial de pais.
A ausência dos pais pode ser muito prejudicial, já que os filhos, em formação, não possuem
todo o discernimento contextual nem todos os recursos emocionais que lhes permitam refletir,
decidir e agir da melhor forma.
O que fazer diante da situação atual? Não se advoga a desistência do profissionalismo, pois
nosso tempo histórico não nos permite tal hipótese; o que se pretende é evidenciar aos pais a
necessidade de uma pedagogia da presença, que significa estar junto para orientar, corrigir,
impor limites, acarinhar, enfim, para construir um relacionamento capaz de oferecer bases de
sustentação por onde os filhos possam se guiar.
Levar para o contexto familiar atividades profissionais pode desqualificar a presença no lar,
o que se configuraria como uma presença maculada, visto que, fisicamente presentes, os pais
focam sua atenção em outras coisas e, por isso, na realidade, são ausentes.
Ressalta-se, ainda, outra constatação: para não sacrificar a atividade profissional, muitos pais
contam com a ajuda de babás, avós e tias que acabam responsabilizando-se inteiramente pelas
crianças e jovens. Tais pessoas devem comportar-se como auxiliadoras e não como substitutas,
pois a transferência de uma tarefa que é genuinamente de cada pai ou mãe pode ser maléfica.
Outras vezes, abandonados pela atuação paterna, os filhos passam a ser conduzidos pelos
programas de TV, que têm qualidade questionável, ou por um interlocutor desconhecido nos
sites de relacionamento da internet.
Para finalizar, levantamos uma última questão: não é só o tempo que falta, há também falta de
compromisso e coragem em assumir a postura de pais educadores. A ação educativa dá trabalho,
cansa, requer posicionamento e, conseqüentemente, provoca desgaste na relação. Assim, confusos,
cheios de receio, inquietações e imaturidade, muitos pais evadem-se da tarefa que lhes é imposta,
deixando os filhos em planos secundários, selecionando, equivocadamente, outras prioridades e
valorizando aspectos que poderiam ocupar menos espaços em suas vidas.
Ocupar-se das oportunidades de relacionamento com os filhos, não estar com a cabeça em
outras preocupações e buscar a valorização do tempo que se dedica a eles podem ser alternativas
interessantes, mesmo porque, como nos lembra o grande poeta Fernando Pessoa, devemos “ser
todo em cada coisa”, para podermos estar inteiros e brilhar.
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Pais ausentes