RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS ÍNDIOS XAVANTE,
AWVÊ-UPTABI, ATRAVÉS DA CORREÇÃO DO ESTILO DE
VIDA.
JOÃO PAULO BOTELHO VIEIRA FILHO
Consultor médico da Associação Indígena Porekrô
Professor Adjunto da Escola Paulista de Medicina
Preceptor do Centro de Diabetes - UNIFESP
OUTUBRO 2015
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A RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS ÍNDIOS XAVANTE, AWVÊ-UPTABI, ATRAVÉS
DA CORREÇÃO DO ESTILO DE VIDA
As doenças crônico-degenerativas em nível epidêmico entre os Xavante, constatadas por
João Paulo Botelho Vieira Filho do Centro de Diabetes da UNIFESP, Laércio Joel Franco
da USP – Ribeirão Preto, Regina Santiago Moisés do Centro de Diabetes da UNIFESP,
Amauri Dall Fabro da USP – Ribeirão Preto, poderão ser contidas. Para tanto, os índios
deverão seguir nossas orientações.
Os Xavante deverão corrigir a dieta atual, abandonando a dieta industrial ou ocidental,
voltando à dieta tradicional, aumentando a atividade física, expondo-se ao sol. Com essas
recomendações afastarão o aumento do peso (sobrepeso), a obesidade, a gordura
abdominal, o diabetes mellitus tipo 2 em nível epidêmico com suas complicações
cardiovasculares, neuropáticas, amputações, insuficiências renais e diálises, hipertensão
e aumento dos triglicérides, deficiência da vitamina D.
Deverão voltar aos alimentos tradicionais da sua civilização pré-colombiana, a batata
doce, a macaxeira, a farinha de mandioca, o feijão de rama ou qualquer outro, a fava, o
milho, a abóbora, o cará, o amendoim, o coco de macaúba, o coco de buriti, o palmito, o
caju, o pequi, o pão Xavante, o baurú, mamão, diariamente nas principais refeições. As
frutas e raízes do cerrado deverão ser consumidas, como as carnes magras de aves,
peixes, herbívoros.
Poderão consumir o arroz integral como presenciei no passado, proveniente do pilão, pois
já acostumaram com o arroz branco, sempre misturado com os alimentos que citei.
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O pão Xavante de mandioca com feijão deverá ser incentivado quanto ao consumo diário.
Poderão tomar chá mate quente ou frio, rico em flavanóides.
Os alimentos da tradição Xavante e indígena são ricos em vitamina C, A, carotenoides, E,
selênio e zinco, flavanóides, antioxidantes benefícios que evitam radicais livres, previnem
doenças degenerativas, envelhecimento, alterações do DNA hereditário, cânceres.
Exponho na tabela os componentes dos alimentos tradicionais, de acordo com as
informações obtidas com a nutricionista do Centro de Diabetes da UNIFESP, Paula
Cristina Augusto da Costa.
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COMPONENTES DOS ALIMENTOS DA DIETA TRADICIONAL
Batata doce
Vitamina A, C, complexo B, niacina, fósforo, ferro, potássio,
Flavanóides, carboidratos, fibras.
Mandioca
Vitamina A,C, cálcio, fósforo, magnésio, potássio, ferro,
(Macaxeira)
carboidratos, licopeno anticancerígeno, fibras.
Farinha de mandioca
Carboidratos, cálcio, fósforo, potássio, fibras.
Feijão e Fava
Vitaminas B6, B1, riboflavina, niacina, proteína, zinco, manganês,
magnésio, fósforo, potássio, cobre.
Milho
Zinco, fósforo, magnésio, carboidrato, fibras.
Abóbora
Vitaminas C, E, betacaroteno (vitamina A), alfacaroteno, complexo
B, riboflavina, luteína, zinco, ferro, cálcio, fósforo, potássio,
magnésio, fibras.
Cará (palavra do idioma Vitamina C, vitamina B1, cálcio, fósforo, potássio, magnésio, fibras.
tupi)
Amendoim
Vitamina E, niacina, cálcio, manganês, magnésio, fósforo, ferro,
potássio, fibras.
Coco de Macaúba
Vitaminas C e E, complexo B, zinco, cálcio, magnésio, potássio,
ferro, fósforo, ácidos graxos, ômega 3,6 e 9, fibras.
Coco de Buriti
Vitaminas C,B,A (betacaroteno, cálcio, ferro, fósforo.
Palmito de Macaúba
Vitaminas C, B1 (tiamina), B2, niacina, cálcio, manganês, magnésio,
ferro, fósforo, potássio, fibras.
Palmito de Babaçu
Niacina, zinco, cálcio, manganês, magnésio, ferro, fósforo, potássio,
fibras.
Cajú
Vitamina C (rico), fósforo, potássio, manganês.
Cajú semente
Selênio (rico)
Pequi
Vitaminas C, B1, B2, B6, zinco, cálcio, manganês, magnésio, ferro,
potássio, fósforo, fibras.
Abacaxi
Abacate
Vitamina C, zinco, cálcio, manganês, magnésio, ferro, fósforo,
potássio, fibras.
Açaí
Vitamina B6, zinco, cálcio, potássio, fósforo, ferro, magnésio, fibras.
Mate
Vitamina B1, flavanóides, manganês, magnésio.
Pimenta
Pão Xavante
Farinha de mandioca e feijão.
Castanha do Barú
Zinco, cálcio, ferro, potássio, fósforo, magnésio, cobre, fibras.
Mamão
Vitaminas C, A (carotenoides) complexo B, cálcio, magnésio,
fósforo, ferro, fibras.
Castanha do Pará ou Rica em selênio
Brasil
Carnes de herbívoros
Proteínas e selênio, calcio
Aves, peixes e répteis
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Há uma quantidade de alimentos da dieta tradicional indígena, riquíssima em
antioxidantes, vitaminas e minerais, fibras, selecionados pelos índios durante milênios,
com muitas variedades de milho, muitíssimas variedades de manioca 4.2345 variedades
de batatas na América do Sul das quais 3.500 no Peru.
Os índios comiam ou comem muito bem até o contato com nossa civilização ocidental,
que pode ser observado na complicação física nas fotografias da aproximação. Constatei
estrutura física de bem nutridos entre vários grupos indígenas durante aproximação.
Os Paracanã Apiterewa do Xingu tornaram-se população fome na pacificação e remoção
das áreas onde se encontravam.
A melhor carne quanto a apreciação da qualidade é o perú dos índios da América do
Norte. As frutinhas cranberry das antigas padarias dos Estados Unidos, apreciadas pelos
índios, são potentes antioxidantes, vendidas atualmente nos nossos supermercados.
Os índios especializavam-se em antioxidantes como a batata doce e o canberry.
Os índios da cordilheira dos Andes mantiveram suas dietas tradicionais das batatas com
centenas de variedades, do milho, do feijão da rama, quinoa e outros alimentos
tradicionais, pelo que não entraram na epidemia de diabetes com suas complicações.
Os índios da América do Norte foram retirados das pradarias onde havia a caça de
búfalos, seus alimentos tradicionais, removidos para áreas semi-deserticas do sul,
recebendo alimentos da dieta industrial ou ocidental, perdendo a dieta do passado,
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sedentarizando-se. O resultado está nas maiores incidências e prevalências de diabetes
mellitus tipo 2 do mundo.
Retirar terras ou restringir áreas indígenas necessárias à sobrevivência dos índios, como
maus políticos preconizam, representa condenar as populações indígenas à morbidade e
mortalidade expressivas ou mesmo leva-las ao aniquilamento, tentativas que devem ser
evitadas na história contemporânea brasileira. Infelizmente a retirada de terras e o
abandono nas estradas de índios Guarani já ocorre no Mato-Grosso do Sul, denegrindo
Brasil e direitos humanos.
Na cesta básica oferecida pelo governo brasileiro há um grande erro de enviarem açúcar
cristalizado, sacarose, extremamente prejudicial à saúde e sobrevivência de populações
indígenas. São populações com maior incidência, prevalência de diabetes mellitus tipo 2
no mundo, quando abandonam a dieta tradicional que deu de comer ao mundo com o
milho e a batata, passam à dieta industrial ou ocidental, ricas em açúcar de absorção
rápida e alimentos com gordura saturada de origem animal.
Especificidades genéticas para aumento do peso e diabetes devem ser consideradas,
quando se quer dar de comer a populações selecionadas ou diferentes.
As roças indígenas devem ser incentivadas, estarem presentes para oferecerem
alimentos valiosos para a saúde, orgânicos e livres de agrotóxicos. Os agrotóxicos são
oxidantes, produtores de radicais livres, cancerígenos e com atuação referida na epidemia
mundial de obesidade.
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A batata doce que faz sucesso em restaurantes renomados de São Paulo e em academia
de exercícios é usada também no tratamento do diabetes(9). A batata rocha é rica em
flavanóides que evitam a perda da memória, as doenças cerebrais degenerativas como o
Parkinson (tremores), o Alzeimer (demência dos com mais idade).
São oxidantes ocasionadoras de radicais livres e perda da saúde os refrigerantes, as
bebidas alcoólicas com excessão do vinho tinto em dose pequena, o fumo, as drogas
psicoativas, as gorduras saturadas de origem animal, as frituras.
Para voltarem a ter vitamina D em níveis normais, constatada pela equipe de médicos da
UNIFESP E USP Ribeirão Preto em níveis baixos entre os Xavante de Sangradouro e
São Marcos, devem se expor mais ao sol. As mulheres devem evitar as saias compridas
até o tornozelo e as calças compridas, saírem mais de suas casas em direção das roças e
não ficarem grande tempo do dia no interior de suas casas, pela falta de roças e de ter
que buscar lenha para fogões, uma vez que usam botijões de gás devido a projeto social
do governo. Os homens devem usar calções curtos e menos camisas.
Os índios da Amazônia em que dosamos a vitamina D e quase não dispunham de roupas
e ficavam o maior tempo expostos ao sol nas roças, calçadas e pescarias, tinham níveis
de vitamina D altos.
A vitamina D protege contra o diabetes, é estimulante imunológico contra doenças
degenerativas auto-imunes ou de agressão da tireóide e do cérebro (esclerose em
placas), protege contra doenças cardíacas e cânceres.
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Os Xavante devem voltar a se exporem ao sol para terem maior resistência física e
saúde.
Os Xavante devem voltar ao básico da dieta tradicional rica em antioxidantes e
flavanóides, vitaminas, minerais, aminoácidos essenciais, fibras, para diminuírem a
morbidade e mortalidade.
Os Xavante devem voltar a ter maior atividade física diariamente, andando ou praticando
esportes ou rituais, para terem maior sobrevivência.
PARTICULARIDADE DO CERRANO
Os Xavante comiam gafanhotos assados, fonte proteica, no passado quando eu os
conheci. Os regionais brasileiros menosprezavam esse hábito alimentar, seguido por
Jesus e São João Batista, embora comam os camarões que são gordurosos e se
alimentam de matéria morta.
Havia muitos gafanhotos no cerrado no passado.
Atualmente não vejo os gafanhotos devido ao uso intensivo de agrotóxicos nas fazendas
de soja que rodeiam as Terras Indígenas.
Órgão ligado à ONU disponibilizou verba para a Holanda encontrar uma maneira de tornar
os gafanhotos palatáveis, pois afirma que não haverá carne de bois para alimentar a
humanidade.
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Relativo à alimentação os índios sempre estiveram à frente da nossa civilização.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Magliano DJ, Loh VH, Harding JL et al. Persistent organic pollutants and diabetes:
a review of the epidemiological evidence. Diabetes Metab V.40, 1-14, 2014.
Institute of Medicine. Vererans and agent orange: herbicide/dioxim exposure and
type 2 diabetes. Washington D.C.: National Academies Press: 2000.
Dash C, Bostick RM, Goodman M, Flanders W, Patel R, Shah R; Campbell PT, Mc
Cullough ML. Oxidative balance scores and risk of incident colorectal cancerin a
US prospective cohort stugy. American Journal of Epidemiology. V.181, p.584-594,
2015.
Fontana L, HFB. Optimal body iveight for health and longevity: bridging basic,
clinical and population research. Aging Cell. V 13, p. 391-400, 2014.
JOÃO PAULO BOTELHO VIEIRA FILHO
Consultor médico da Associação Indígena Porekrô
Professor Adjunto da Escola Paulista de Medicina
Preceptor do Centro de Diabetes - UNIFESP
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A recuperação da saúde dos índios Xavante, Awvê-Uptabi