Centro Interdisciplinar de Assistência e
Pesquisa em Envelhecimento – CIAPE
“Avaliação e Intervenção do Serviço Social na
Clínica do Idoso ”
Patrícia Guimaraens Ferreira
Formação Acadêmica:Assistente Social, especialista em
Políticas Sociais pela PUC-MG e em Gerontologia pela FUMEC,
mestranda em Estudos Contemporâneos na FUNEDI/UEMG
Atuação Profissional:Secretária Executiva do Conselho
Municipal do Idoso de BH, Conselheira no Conselho Estadual
do Idoso, Professora e Coordenadora do Curso de Serviço
Social do INESP, integrante do Projeto REDI-Saúde do INESP/
FUNEDI/UEMG.
1. O profissional
Na clínica da pessoa idosa, o assistente social é aquele profissional que atua
na elaboração, junto ao paciente e seu entorno social, de estratégias de
inclusão destes no usufruto de seus direitos e de mobilização para seu
protagonismo e empoderamento.
2. Intervenção do Serviço Social
A intervenção do assistente social se dá a partir do conhecimento
aprofundado do contexto sócio-econômico, cultural e familiar do
cliente/família com a finalidade de possibilitar a elaboração do diagnóstico
social, tendo em vista um plano de ação.
3. Procedimentos Metodológicos
•Entrevistas de avaliação e
familiares/representantes legais
orientação
com
a
pessoa
•Acompanhamento e estudo interdisciplinar de caso
•Encaminhamentos – inserção na rede de suporte social
•Visita técnicas domiciliares e institucionais
•Trabalho com grupos: pessoas idosas, familiares, cuidadores.
idosa
e
Avaliação sócio-familiar
O Protocolo de Avaliação Sócio-familiar é um instrumental que
possibilita ao profissional, dimensionar a demanda, a realidade e os
recursos e estratégias já existentes. Na avaliação para intervenção
sócio-familiar são considerados os seguintes aspectos sobre a
realidade do paciente:
•Dados de identificação pessoal da pessoa idosa;
•Quadro clínico e história de vida;
•Identificação da demanda e solicitante;
•Ambiente físico/Situação habitacional;
•Composição e dinâmica familiar;
•Situação financeira, previdenciária e assistencial do paciente e da
família (residente e não residente);
•Nível de autonomia e independência da pessoa idosa;
•Necessidades e recursos para assistência à pessoa idosa;
•Dados sobre o cuidador;
•Riscos sociais;
•Identificação do técnico, local e data da entrevista, observações
gerais sobre o processo da entrevista;
•Parecer técnico.
3. Encaminhamento a recursos e à rede de serviços
Para o alcance aos serviços e recursos já existentes, o
profissional deve facilitar o acesso e garantir a acolhida da
demanda pelos serviços- “encaminhamento responsável”.
Para tanto deve conhecer a rede e recursos disponíveis, aliando
o nível de complexidade da necessidade à modalidade do
serviço ou recurso dentro de uma perspectiva de rede e
sistema intersetorial e descentralizado:
•deve-se buscar uma
intervenção que compreenda os
indivíduos inseridos em seus contextos sócio-familiares,
fazendo parte de espaços coletivos heterogêneos que se
entrelaçam;
•buscando efetividade nos resultados e eficiência na gestão de
recursos humanos e materiais,
•contribuindo para a divisão de responsabilidades entre o
idoso, a família, o Poder Público e demais recursos privados e
da rede solidária;
•associando o nível de complexidade da demanda à capacidade
de atendimento da rede assistencial e quanto à abrangência
territorial.
4. Usufruto e Controle Social sobre a implementação da política do
idoso
Visando contribuir para o usufruto dos direitos dos sujeitos envolvidos
na intervenção aos recursos e serviços disponíveis, trabalha com a
orientação sobre garantias legais e órgãos de defesa de
direitos:Promotorias, Delegacia, Conselho, Defensoria ou Serviços
Jurídicos.
Em termos de marcos legais, a legislação mais atual e
fundamental utilizada é a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do
Idoso.
Nessa legislação, para a intervenção do Serviço Social, podem
ser destacados como principais bases para o trabalho, os seguintes
pontos:
Preservação dos vínculos familiares;
Responsabilização das famílias;
Direitos garantidos: fundamentais e de proteção;
Qualidade e disponibilidade de recursos;
Existência e articulação da rede assistencial: pública, privada, ONGs,
famílias, rede solidária.
APRESENTAÇÃO DE CASOS ATENDIDOS NO PROJETO
REDI-SAÚDE – PELOS ESTUDANTES E PROFESSORES
DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA FUNDAÇÃO
EDUCACIONAL DE DIVINÓPOLIS/MG
Caso Pcte. N.C.O.
94 anos, viúva, restrita no domicílio por dificuldades de
locomoção.
Queixa clínica principal: vertigens, audição e acuidade
visual diminuída;
História da doença atual: labirintite e incontinência urinária;
Outras doenças associadas: cardiopatia e hipertensão arterial
Demanda para o Serviço Social: suspeita de negligência na
assistência à idosa, más condições de higiene da casa e da
própria idosa, alimentação insuficiente e inadequada porque
“jantava restos do almoço” .
1. Situação habitacional
•Reside em casa de um pavimento, acesso no mesmo nível, piso em cimento grosso,
com barras de apoio laterais, mas descontínuas.
•Casa pequena, iluminação e ventilação insuficientes, barra de apoio entre a cozinha e
copa (onde a idosa já caiu uma vez), higiene da casa comprometida, prejudicada por
cheiro forte de urina do quarto da idosa, piso sem antiderrapante.
•Banheiro externo, sem nenhuma adaptação, sem piso antiderrapante;
•Idosa fica na maior parte do tempo deitada na cama, sendo que o quarto tem
iluminação e ventilação ruins, não possui nenhuma adaptação. Cama baixa, colchão
inadequado.
2. Condições de propriedade e co-habitação: reside em casa própria,com moradia
construída nos fundos do lote, havendo barracão de aluguel construído no mesmo lote
3. Situação Sócio-familiar
•Residem na casa a idosa e o filho(mais de 50 anos), que trabalha fora o dia todo.
•A idosa possui uma filha que reside em outra cidade, uma filha que reside na mesma
cidade mas que tem a saúde muito comprometida e um filho desaparecido há mais de 30
anos;
•Recebe poucas visitas de parentes, segundo o filho, pela rejeição ao cheiro forte da
casa e temperamento da idosa.
Situação financeira
•A idosa é pensionista e possui renda de 1 SM. O filho é aposentado e ainda trabalha na
profissão como autônomo, contribuindo no orçamento doméstico, apesar da idosa
formalmente negar ajuda;
•Renda familiar acima de 5 SM;
•Outra fonte de renda da idosa é o aluguel do barracão, que atualmente é a forma de
pagamento dos cuidadores, que são os locatários.
Necessidades de cuidado: Segundo ela, necessita de ajuda apenas para o banho e para
limpeza da casa. Se alimenta sozinha, anda amparada nas barras e móveis da casa e toma a
maioria dos medicamentos também sozinha, sem regularidade.
•A idosa queixa-se do uso de fralda geriátrica, faz higiene íntima sozinha com ducha de
banho,segundo ela, três vezes ao dia.
•Tem o entendimento que qualquer ajuda ou serviço deve ser remunerado e ela é quem
deve arcar com este custo. Como tem renda baixa, fica com a assistência prejudicada por
não possuir meios para maiores despesas de cuidado. Tem dificuldades de aceitar ajuda
financeira do filho, argumentando que “já lhe ajuda demais”.
Situação do Cuidador
•Os cuidadores principais são os vizinhos, que são seus locatários. Entre o casal de
locatários, a esposa é responsável pelo banho e limpeza da casa. O marido faz companhia
à idosa, suprindo necessidades eventuais.
•Outra vizinha recebe para administrar-lhe colírio à noite;
•O filho é responsável por levar o almoço, manutenção da casa, dormindo diariamente na
casa;
Plano de Cuidados
•Averiguação da possibilidade de negligência;
•Orientação sobre rotina de cuidados quanto a higiene íntima e limpeza da casa, com
acionamento de demais familiares pela responsabilização para com a pcte;
•Orientação sobre necessidades de adaptações ambientais;
•Contribuição para sociabilização da idosa.
Evolução
•Realização de visitas de averiguação da possibilidade de negligência-contato inicial
dificultado por desconfiança da idosa na intencionalidade da intervenção.
•Aplicação de Protocolo de Avaliação Sócio-Familiar.
•Realizado contato com familiar e cuidador contratado.
•Iniciada intervenção para alterações na rotina de cuidados; junto à idosa, ao filho e
aos cuidadores “contratados”.
•Melhoria visível no ambiente e idosa quanto a higiene e contato social. Ótimo
contato social.
Caso Pcte. M.L.A.B.
83 anos, viúva, restrita no domicílio por problemas de
saúde.
Queixa clínica principal: vertigens, audição e acuidade
visual diminuída;
História da doença atual: Incapacidade motora, “Mal de
Alzheimer” (diagnóstico familiar, não confirmado pelo
médico);
Outras doenças associadas:
hipertensão arterial
diabete,
cardiopatia
e
Demanda para o Serviço Social:nenhuma demanda inicial
específica
1. Situação habitacional
reside em apartamento, no 2º andar, acesso somente por escada com piso
em ardósia sem antiderrapante.
Apartamento amplo, quartos arejados e bem iluminados, sem nenhuma
adaptação (nem no banheiro), boa higiene, piso sem antiderrapante.
Idosa fica restrita no quarto, com fácil acesso ao banheiro, bom espaço de
circulação, cama com grade de encaixe, nenhuma outra adaptação de
segurança.
2. Condições de propriedade e co-habitação: reside na casa do filho,
cujo imóvel é alugado. Filho está construindo outra residência.
3. Situação Sócio-familiar:
Residem na casa o filho (44a), a nora(43) e uma neta(19), filha do casal;
O casal possui outra filha(22a), casada, que não reside com eles;
Recebe visitas de parentes e amigos com freqüência, porém não sai de
casa, inclusive recebe visita médica no domicílio.
Situação financeira
•Trabalham o filho e a neta, sendo que apenas o filho contribui no orçamento doméstico;
• A idosa é pensionista e possui renda de 7 SM, sendo a maior responsável pelo
orçamento doméstico;
•Renda familiar de 10 SM;
•Não têm outras fontes de renda;
•Renda per capita individual 2,5SM.
Necessidades de cuidado: Não se alimenta sozinha, anda amparada e só tomo banho
com ajuda, utilizando cadeira de banho.
Situação do Cuidador
•A única cuidadora é a nora, que permanece “em vigília’ durante todo o tempo junto da
idosa;
•É responsável pelo banho, alimentação, administração de medicamentos, higiene, etc.
•Não tem outras atividades, e justifica isso por falta de tempo por causa da dedicação
necessária à idosa;
•Auto-cuidado praticamente ausente, tendo realizado avaliação médica recente, após
nossa visita.
Plano de Cuidados
Necessário encaminhamento para avaliação geriátrica,principalmente
quanto ao diagnóstico diferencial de Mal de Alzheimer;
Sugestão de mudança de endereço para facilitar a acessibilidade e contato
social da idosa;
Apoio à cuidadora para auto-cuidado
Evolução
Aplicação de Protocolo de Avaliação Sócio-Familiar
Não houve encaminhamento para avaliação geriátrica – médico não
indicou necessidade, diagnosticando a idosa apenas como cardiopata
Cuidadora em tratamento médico
“O cuidado somente surge quando a existência de alguém tem
importância para mim. Passo então a dedicar-me a ele;
disponho-me a participar de seu destino, de suas buscas, de
seu sofrimento e de seus sucessos, enfim, de sua vida.”
Leonardo Boff – Saber Cuidar
Download

2. Intervenção do Serviço Social