UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
CURSO DE DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO E TURISMO
ANA LÚCIA DE ARAÚJO LIMA COELHO
CONSTRUÇÃO DO DISCURSO DA SUSTENTABILIDADE: UMA PRÁTICA DE
ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO DISCURSO NO CAMPO ORGANIZACIONAL
TESE DE DOUTORADO
BIGUAÇU - SC
2012
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
CURSO DE DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO E TURISMO
ANA LÚCIA DE ARAÚJO LIMA COELHO
CONSTRUÇÃO DO DISCURSO DA SUSTENTABILIDADE: UMA PRÁTICA DE
ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO DISCURSO NO CAMPO ORGANIZACIONAL
BIGUAÇU - SC
2012
ANA LÚCIA DE ARAÚJO LIMA COELHO
CONSTRUÇÃO DO DISCURSO DA SUSTENTABILIDADE: UMA PRÁTICA DE
ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO DISCURSO NO CAMPO ORGANIZACIONAL
Tese apresentada à Universidade do Vale do Itajaí
(UNIVALI), como pré-requisito para obtenção do
título de Doutora em Administração, sob a orientação
da Profª. Drª. Christiane Kleinübing Godoi.
Co-orientação: Profª. Drª. Araceli Serrano Pascual Universidad Complutense de Madrid (UCM); Prof.
Fernando
Conde
Gutiérrez del
Álamo
–
Comunicación, Imagen y Opinión Pública (CIMOP)
Linha de pesquisa: Estratégia e Gestão das
Organizações
BIGUAÇU - SC
2012
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
CURSO DE DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO E TURISMO
ANA LÚCIA DE ARAÚJO LIMA COELHO
CONSTRUÇÃO DO DISCURSO DA SUSTENTABILIDADE: UMA PRÁTICA DE
ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO DISCURSO NO CAMPO ORGANIZACIONAL
Esta tese foi julgada e aprovada pelo Programa de Pós-Graduação em
Administração – Curso de Doutorado em Administração e Turismo (CDAT) da
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) - Biguaçu/SC.
Área de Concentração: Organização e Sociedade
Linha de Pesquisa: Estratégia e Gestão das Organizações
Biguaçu/SC, Julho de 2012.
__________________________________________
Prof. Dr. Carlos Ricardo Rossetto
(Coordenador)
PPGA/UNIVALI - SC
Banca examinadora:
________________________________
Profª. Drª. Christiane Kleinübing Godoi
(Orientadora)
PPGA/UNIVALI – SC
__________________________
Profª. Drª. Anete Alberton
(Avaliadora Interna)
PPGA/UNIVALI - SC
_________________________________
Profª. Drª. Maria José Barbosa de Souza
(Avaliadora Interna)
PPGA/UNIVALI - SC
_________________________________
Prof. Dr. Rafael Alcadipani da Silveira
(Avaliador Externo)
EAESP/FGV - SP
___________________________
Prof. Dr. Luiz Alex Silva Saraiva
(Avaliador Externo)
CEPEAD/UFMG - MG
AGRADECIMENTOS
O esforço para se chegar ao resultado final expressado nestas próximas
páginas somente foi possível graças àqueles que, a sua maneira, participaram e
contribuíram para a concretização desta tese de doutorado.
Agradeço o apoio institucional concedido pela Universidade Federal do Acre
(UFAC), que me possibilitou o afastamento integral para realização desta pesquisa.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
pelo suporte financeiro propiciado nos anos de estudo. Juntamente a CAPES,
agradeço a Fundación Carolina (Espanha), por vivenciar uma oportunidade única –
estágio doutoral - através de experiências de pesquisas e do desenvolvimento de
uma etapa importante de minha tese no principal centro de excelência sobre a
abordagem adotada neste estudo.
Na
pessoa
do
Prof.
Carlos
Ricardo
Rossetto,
Coordenador
do
PPGA/Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), agradeço também aos demais
professores por compartilharem entusiasmo e conhecimento diante das inúmeras
dúvidas surgidas, e a todo o pessoal administrativo pela atenção dispensada e
assistência recebida.
Aos amigos e companheiros de turma da UNIVALI, que alegraram os
momentos de convivência e puderam compartilhar as diversas inquietações que
fizeram parte do processo investigativo. Em especial, ressalto minha amiga Yeda
Maria Pereira Pavão.
À minha orientadora e amiga, Profª. Christiane Kleinübing Godoi, por sua
generosidade e dedicação proferidas no decorrer de horas de orientação, devendolhe a oportunidade de crescimento intelectual e profissional e, por esse motivo, as
ideias aqui discutidas não podem ser consideradas isentas de sua contribuição.
Sou
grata
também
aos
professores
extrangeiros
da
Universidad
Complutense de Madrid (UCM) – Profª. Araceli Serrano Pascual (orientadora
extrangeira), Prof. Miguel S. Valles Martínez e Prof. Ángel J. Gordo Lopez – e da
Universidad Autónoma de Madrid (UAM) - Prof. Luis Enrique Alonso – pela
orientação, dedicação e atenção dispensadas durante meu estágio doutoral,
oportunizando a realização de disciplinas e aprofundamento na pesquisa qualitativa.
Em especial, agradeço ao Prof. Fernando Conde Gutiérrez del Álamo, do
instituto Comunicación, Imagen y Opinión Pública (CIMOP), em Madri/ES, que
mesmo diante de tantas atribuições pessoais e profissionais, compartilhou seu
entusiasmo e conhecimento diante das inúmeras dúvidas surgidas, além de poder
dividir momentos agradáveis com sua esposa Brigitte Jambers e sua sócia Cristina
Santamarina Vaccari.
À empresa Tractebel Energia S. A. e seus empregados pela disponibididade
e abertura no formecimento de informações, principalmente durante as entrevistas
realizadas, tão essenciais para a continuidade do processo investigativo.
Finalmente, agradeço àquelas pessoas que considero serem da maior
importância e sem as quais nada disso teria sido possível: aos meus pais – Léa e
Oscir Lima, pelo exemplo de dignidade, união e perseverança; ao meu esposo,
Christiano Coelho, que viveu comigo todos os momentos desta tese, tornando essa
trajetória mais amena pelas palavras, carinho e apoio demonstrados, além do amor
incondicional; aos meus filhos, Mariana e Gustavo Coelho, que procuraram
compreender meus momentos de ausência e isolamento necessários nesta fase,
mas que sempre buscaram intensificar o nosso amor nos momentos presentes (e
ausentes); e aos demais familiares e amigos, por todo tipo de apoio para a condução
da pesquisa.
À estas pessoas e instituições, o meu muito obrigada!
A todos, dedico esta pesquisa, e que esta seja uma inspiração para outros
pesquisadores.
COELHO, A. L. de A. L. Construção do discurso da sustentabilidade: uma prática de
Análise Sociológica do Discurso no campo organizacional. 2012, 308p. Tese.
(Doutorado em Administração e Turismo). Universidade do Vale do Itajaí,
Biguaçu/SC, 2012.
O objetivo geral da pesquisa consiste em analisar a construção do discurso da
sustentabilidade em uma empresa brasileira do setor de energia elétrica. A Análise
Sociológica do Discurso (ASD), abordagem metodológica utilizada e sistematizada
neste estudo, é vinculada à Tradição Espanhola de Pesquisa Social Qualitativa. O
intercâmbio com as discussões do campo da sociologia, neste trabalho, permitiu
desmistificar a análise do discurso ao encontrar uma metodologia preocupada não
com estilo internalista textual, ou com sua estrutura subjacente, mas com a atuação
deste complexo fenômeno cognitivo e social chamado discurso. Enquanto método, o
potencial desmitificador da ASD permitiu revelar o discurso da sustentabilidade tanto
nas organizações – através de textos e imagens - quanto na mídia, considerando a
questão social e os espaços comunicativos concretos que formaram e elaboraram os
discursos dos atores como práticas significantes. Nesta pesquisa, realizamos a
análise nos textos e imagens de Relatórios de Sustentabilidade, de entrevistas, bem
como dos jornais, de press releases e de boletins informativos relacionados à
empresa estudada, constituindo assim a integridade do corpus. Simultaneamente, de
maneira parcial ou não, aos procedimentos anteriores, analisamos as posições
discursivas, as configurações narrativas e os espaços semânticos, procurando, pois,
responder durante todo o processo investigativo questões do tipo: Quem fala? De
que posição se fala? Do que se fala? O que está em jogo? Como se organiza a fala?
A partir desta análise, constatamos que o discurso da sustentabilidade é
manifestado pela empresa. O discurso revelou a preocupação com a imagem e
reputação da empresa, alinhado a objetivos econômicos, tais como criar valor
financeiro e vantagem competitiva no mercado, além de atrair capital para financiar
seus projetos de expansão. Além da econômica, considerando as outras dimensões
da sustentabilidade - ambiental e social - a empresa manifestou incorporar e,
principalmente, divulgar suas ações em prol da sociedade para os stakeholders.
Revelar responsabilidade ambiental e social está imbricado no discurso da
sustentabilidade da empresa como uma ação endógena proativa. Entretanto,
depreendemos estar implícito que diversas ações são exógenas passivas, ou seja,
são realizadas por exigência legal e necessárias para a sobrevivência do negócio.
Ao propor, ao final deste estudo, uma sistematização do método de ASD, sem a
pretensão de prescrevermos uma fórmula padronizada de praticar a ASD, buscamos
delimitar o espaço desta metodologia no âmbito dos estudos organizacionais
brasileiros.
Palavras-chave: Análise Sociológica do
Metodologia; Discurso da sustentabilidade.
Discurso;
Pesquisa
qualitativa;
COELHO, A. L. DE A. L. Construction of sustainability discourse: an exercise in
Sociological Discourse Analysis in the organizational field. 2012, 308p. Dissertation.
(Ph. D. in Administration and Tourism). Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu/SC,
2012.
The main objective of this research was to analyze the construction of sustainability
discourse by a Brazilian company in the electrical energy sector. Sociological
Discourse Analysis (SDA), the methodological approach used and systematized in
this study, is linked to the Spanish Tradition of Qualitative Social Research. The
dialog with discussions in the field of sociology made it possible to demystify
discourse analysis, in the sense that a methodology was found that was not
concerned with the internal textual style or its underlying structure, but rather, with
the performance of this complex cognitive and social phenomenon called discourse.
As a method, the demystifying potential of SDA enabled the discourse of
sustainability to be revealed both in the organizations – through texts and images –
and in the media, considering the social aspect and the concrete communicative
spaces that formed and elaborated the discourse of those actors as significant
practices. In this research, we analyze a corpus composed of texts and images taken
from Sustainability Reports, interviews, newspapers, press releases, and informative
bulletins related to the selected company. Alongside this analysis, we also investigate
– sometimes partially and sometimes fully– the discursive positions, narrative
configurations and semantic spaces, seeking answers to the following questions:
Who speaks? From what position do they speak? What is spoken, what is at stake?
and How is the discourse organized? Based on the answers we verified that the
discourse of sustainability is used by the company studied. Its discourse revealed
concerns with the company’s public image and reputation, associated with economic
goals, such as the creation of financial value and competitive advantage in the
market, as well as the attraction of capital to finance its expansion projects. Besides
the economic dimension, operating alongside the environmental and social
dimensions, the study found that the company promotes actions that are beneficial to
society, and that these actions are divulged to the stakeholders. Showing
environmental and social responsibility was closely intertwined with the company
sustainability discourse, as an endogenous proactive action. However, several
actions were implicitly exogenous and passive, i.e. they were carried out due to legal
requirements, and were necessary for the survival of the company. At the end of this
study, a systematization of the SDA method is proposed, though without intending to
prescribe a standardized formula for practicing SDA. This study therefore seeks to
delimit the space of this methodology in the sphere of Brazilian organizational
studies.
Key words: Sociological Discourse Analysis; Qualitative research; Methodology;
Sustainability discourse.
COELHO, A. L. de A. L. Construcción del discurso de la sostenibilidad: una práctica
de análisis sociológico del discurso en el ámbito organizacional. 2012, 308p. Tesis.
(Doctorado en Administración de Empresas y Turismo). Universidade do Vale do
Itajaí, Biguaçu/SC, 2012.
El objetivo general de la pesquisa consiste en analizar la construcción Del discurso
de la sostenibilidad en una empresa brasileña Del sector de energía eléctrica. El
Análisis Sociológica del Discurso (ASD), abordaje metodológico utilizado y
sistematizado en este estudio, es vinculado a la Tradición española de Pesquisa
Social Cualitativa. El intercambio con las discusiones del campo de la sociología, en
este trabajo, ha permitido desmitificar el análisis del discurso al encontrar una
metodología preocupada no con estilo internalista textual, o con su estructura
subyacente, sino con la actuación de este complejo fenómeno cognitivo y social
llamado discurso. En cuanto método, el potencial desmitificador de la ASD ha
permitido desvelar el discurso de la sostenibilidad tanto en las organizaciones – a
través de textos e imágenes – cuanto en el medio televisivo, considerando la
cuestión social y los espacios comunicativos concretos que formaron y elaboraron
los discursos de los actores como prácticas significantes. En esta pesquisa, hemos
realizado el análisis en los textos e imágenes de Relatos de Sostenibilidad, de
entrevistas, así como de los periódicos, de press releases y de boletines informativos
relacionados a la empresa estudiada, constituyendo así la integridad del corpus.
Simultáneamente, de manera parcial o no, a los procedimientos anteriores,
analizamos las posiciones discursivas, las configuraciones narrativas y los espacios
semánticos, buscando, pues, responder durante todo el proceso investigativo
cuestiones del tipo: ¿Quién habla? ¿De qué posición se habla? ¿De qué se habla?
¿Lo que está en juego? ¿Cómo se organiza el habla? A partir de este análisis,
constatamos que el discurso de la sostenibilidad es manifestado por la empresa. El
discurso ha desvelado la preocupación con la imagen y reputación de la empresa,
alineado a objetivos económicos, tales como criar valor financiero y ventajas
competitivas en el mercado, además de atraer capital para financiar sus proyectos
de expansión. Además de la económica, considerando las otras dimensiones de la
sostenibilidad – ambiental y social – la empresa ha manifestado incorporar y,
principalmente, divulgar sus acciones en favor de la sociedad para los stakeholders.
Desvelar responsabilidad ambiental y social está imbricado en el discurso de la
sostenibilidad de la empresa como una acción endógena proactiva. Sin embargo,
deprendemos estar implícito que diversas acciones son exógenas pasivas, es decir,
son realizadas por exigencia legal y necesarias para la sobrevivencia del negocio. Al
proponer, al cabo de este estudio, una sistematización del método de ASD, sin la
pretensión de prescribirnos una fórmula adonizada de practicar la ASD, buscamos
delimitar el espacio de esta metodología en el ámbito de los estudios
organizacionales brasileños.
Palabras clave: Análisis Sociológico del Discurso, Investigación cualitativa,
Metodología, Discurso de la sostenibilidad.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1 – Estrutura da Tese
21
Figura 2 – Áreas de Estudos Organizacionais Críticos
28
Figura 3 - O Novo Cenário dos Negócios
36
Figura 4 – O tripé da sustentabilidade (The Triple Bottom Line)
57
Figura 5 – Modelo de Sustentabilidade Empresarial
59
Figura 6 - Concepção tridimensional do discurso
84
Figura 7 - Processo de Análise Sociológica do Discurso – Ruiz Ruiz (2009)
94
Figura 8 – Aproximações críticas discursivas
97
Figura 9 – Delimitação da pesquisa
122
Figura 10 – Parque gerador Tractebel Energia S.A.
127
Figura 11 – Esquema de Modalidades de Análise do Discurso
132
Figura 12 – Perspectivas de análise dos materiais visuais
135
Figura 13 - Perfil dos entrevistados – cargo ocupado versus tempo de
empresa
141
Figura 14 - Circulação dos Principais Jornais Brasileiros (média diária)
145
Figura 15 – Análise da Imprensa
149
Figura 16 – Conjectura: Impacto da empresa na natureza (entorno)
153
Figura 17 - Mapa de posicionamento da tendência do discurso da
sustentabilidade – relação natureza e instalações
154
Figura 18 - Mapa de posicionamento do discurso textual e visual Relatórios
de Sustentabilidade – anos 2007 a 2011
155
Figura 19 - Parque gerador da companhia – comparativo de 1998 e 2008
160
Figura 20 - Discurso institucional - Relatório de Sustentabilidade, 2007 a
2011
186
Figura 21 - Tendência do discurso da sustentabilidade - RS
187
Figura 22 - Tendência de evolução da empresa
187
Figura 23 - Posições discursivas – entrevistados
188
Figura 24 – Tipo de mídia versus Dimensões da sustentabilidade
(Triple Bottom Line)
189
Figura 25 - Configuração narrativa – Relatórios de Sustentabilidade
191
Figura 26 - Configurações narrativas – entrevistas
192
Figura 27 - Configuração narrativa – entrevistados
193
Figura 28 - Espaços semânticos das fontes discursivas face às dimensões
da sustentabilidade de Sachs
194
Figura 29 - Procedimentos de Análise Sociológica do Discurso (ASD)
198
QUADROS
Quadro 1: Estudos sobre o discurso nas organizações
11
Quadro 2: Crenças básicas dos paradigmas investigativos alternativos
25
Quadro 3: Categorias analíticas gerais da teoria crítica
27
Quadro 4: Etapas do pensamento da sustentabilidade
42
Quadro 5: Ecodesenvolvimento – critérios de sustentabilidade
49
Quadro 6: Pilares do Ecodesenvolvimento
50
Quadro 7: 7D World Model de Elkington
57
Quadro 8: Análise do Discurso - linha anglosaxã e européia
79
Quadro 9: Quadro-resumo das tendências da Análise do Discurso (AD)
81
Quadro 10: Abordagens principais no campo de estudo do discurso
82
Quadro 11: Análise do texto
85
Quadro 12: Análise da prática discursiva
86
Quadro 13: Análise da prática social
87
Quadro 14: Exemplos de pesquisas que envolvem a Análise do
Discurso direcionada aos estudos organizacionais
88
Quadro 15: Principais características dos níveis de aproximação à
Análise do Discurso de acordo com Alonso (1998)
94
Quadro 16: Análise comparativa entre os níveis da Análise do Discurso
95
Quadro 17: Vertentes de análise discursiva
97
Quadro 18: Etapas da investigação social qualitativa na Espanha
106
Quadro 19: Exemplos de investigações no campo da administração que
utilizam da Análise Sociológica do Discurso
115
Quadro 20: Exemplos de investigações em outros campos sociais que
utilizam da Análise Sociológica do Discurso
117
Quadro 21: Panorama de Ministros do Meio Ambiente a partir do
Governo de Fernando Henrique Cardoso
128
Quadro 22: Análise das entrevistas
142
Quadro 23: Principais jornais em circulação na região Sul brasileira
144
Quadro 24: Representatividade estrutural midiática do estudo
145
Quadro 25: Matérias jornalísticas publicadas sobre Tractebel Energia
S.A.
147
Quadro 26: Imagens extraídas do Relatório de Sustentabilidade 2007
158
Quadro 27: Imagens extraídas do Relatório de Sustentabilidade 2008
161
Quadro 28: Imagens extraídas do Relatório de Sustentabilidade 2009
163
Quadro 29: Imagens extraídas dos Relatórios de Sustentabilidade 2008
e 2009
163
Quadro 30: Imagens extraídas do Relatório de Sustentabilidade 2010
165
Quadro 31: Imagens extraídas do Relatório de Sustentabilidade 2011
166
Quadro 32: Capa dos Relatórios de Sustentabilidade dos anos de 2007
a 2011 – Tractebel Energia S.A.
167
Quadro 33: Enquadramento das frações discursivas versus dimensões
da sustentabilidade - Jornal Diário Catarinense, 2008 a 2011
178
Quadro 34: Boletim informativo (Revista Boas Novas) – Capa dos anos
de 2008 a 2011
182
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E PROBLEMA DA PESQUISA ....................................... 1
1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA ..................................................................................... 9
1.2.1 Objetivo Geral............................................................................................ 9
1.2.2 Objetivos Específicos ................................................................................ 9
1.3 ORIGINALIDADE E CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA .................................................... 9
1.4 ESTRUTURA DA TESE ......................................................................................... 21
2
POSICIONAMENTO EPISTEMOLÓGICO......................................................... 22
3
POSICIONAMENTO TEÓRICO ......................................................................... 33
3.1 ORGANIZAÇÕES VISTAS COMO DISCURSO ............................................................ 33
3.2 SUSTENTABILIDADE: ORIGEM, DEFINIÇÕES, PRÁTICAS E DISCURSOS....................... 41
3.2.1 Origem e definições da sustentabilidade ................................................. 41
3.2.2 Práticas de sustentabilidade .................................................................... 55
3.2.3 Relatórios de Sustentabilidade como discurso institucional .................... 62
3.2.4 Sustentabilidade e discurso midiático...................................................... 67
4
POSICIONAMENTO METODOLÓGICO ........................................................... 73
4.1 ANÁLISE DO DISCURSO – DISSEMINAÇÃO E NÍVEIS DE APROXIMAÇÃO ..................... 73
4.2 NÍVEIS DE APROXIMAÇÃO ENTRE ANÁLISE DO DISCURSO E ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO
DISCURSO ............................................................................................................... 92
4.3 NÍVEL SOCIOHERMENÊUTICO E PRAGMÁTICO - SURGIMENTO DA ANÁLISE
SOCIOLÓGICA DO DISCURSO (ASD)........................................................................... 99
4.3.1 Origem da Análise Sociológica do Discurso (ASD) na Tradição Espanhola
da Pesquisa Social Qualitativa ......................................................................... 104
4.3.2 Principais temas e práticas de pesquisa com a utilização da Análise
Sociológica do Discurso (ASD) ........................................................................ 115
4.3.3 O debate da Análise Sociológica do Discurso com a Análise Crítica do
Discurso (ACD) ................................................................................................ 119
5
DEFINIÇÕES METODOLÓGICAS DA PESQUISA ......................................... 122
5.1 CONTEXTO DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA: ESCOLHA DO CASO.............................. 122
5.2 FONTES DISCURSIVAS DA PESQUISA .................................................................. 130
5.2.1 Relatórios de Sustentabilidade: texto e imagem ................................... 130
5.2.2 Entrevistas ............................................................................................. 138
5.2.3 Jornais, press releases, boletim informativo .......................................... 142
6
CONSTRUÇÃO DO DISCURSO DA SUSTENTABILIDADE EM UMA
EMPRESA DO SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA ................................................. 151
6.1 CONJECTURA ANALÍTICA .................................................................................. 152
6.2 ANÁLISE DOS ESTILOS DISCURSIVOS……………………………………………... 151
6.2.1 ANÁLISE DOS RELATÓRIOS.............................................................................. 156
6.2.2 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS ............................................................................ 170
6.2.3 ANÁLISE MIDIÁTICA – JORNAIS, PRESS RELEASES E BOLETIM INFORMATIVO ......... 175
6.3 POSIÇÕES DISCURSIVAS .................................................................................. 185
6.4 CONFIGURAÇÕES NARRATIVAS E ESPAÇOS SEMÂNTICOS .................................... 190
7
SISTEMATIZAÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO
DISCURSO (ASD) A PARTIR DA EMPRESA ESTUDADA ................................... 197
8
CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES .................................. 205
8.1 CONCLUSÕES ................................................................................................. 205
8.2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO .................................................................................. 212
8.3 RECOMENDAÇÕES PARA FUTUROS TRABALHOS .................................................. 212
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 214
1
INTRODUÇÃO
Apresentamos neste capítulo a contextualização do tema e problema da
pesquisa, os objetivos, a originalidade e contribuições, finalizando com a estrutura
da tese.
1.1
Contextualização do tema e problema da pesquisa
A diversidade e a riqueza de perspectivas oriundas no final do século XX e
início do século XXI, principalmente após o chamado giro linguístico 1, ocasionaram
um marco nas ciências sociais e humanas, tanto no que diz respeito à linguagem,
quanto na nova concepção que se tem dela. “A linguagem é sem dúvida, o mais
poderoso e eficaz sistema de comunicação – o atributo mais tipicamente humano e
universalmente reconhecido como único do homem” (BITTI; ZANI, 1993, p. 93). A
consciência de que a linguagem “não é apenas um recurso instrumental de troca de
informação e de comunicação” (CORNELSEN, 2009, p. 23), mas um componente
constitutivo da realidade social, levou teóricos da área a perceberem a necessidade
de análises mais profundas do discurso organizacional e interesse pela maneira
como a linguagem está fortemente relacionada à organização.
Assim como a narrativa e a linguagem, o discurso tornou-se abordagem
central para o desenvolvimento recente de estudos organizacionais (ALVESSON;
KARREMAN, 2000). O discurso da sustentabilidade, objeto de investigação desse
trabalho, imiscuiu-se no jargão dos negócios e tornou-se uma palavra de ordem. De
acordo com Kavinski (2009), tal discurso vem sendo empregado por organizações
no mundo todo, quase sempre relacionado a apresentar uma via de acesso para a
1
Para Ibáñez (2003), neste contexto também conhecido como giro interpretativo, a linguagem
aparece como uma das principais vias para recuperar conhecimentos próximos a qualquer cotidiano.
Essa virada linguística rompe com uma tradição secular que modifica a concepção de linguagem
(GRACIA, 2004), sendo considerada uma ferramenta para exercitar pensamentos e constituir novas
ideias. Tal movimentação se estende ao contexto organizacional entendido como realidade social, em
que se questiona o paradigma positivista, segundo Chia (1997), ao passo que, complementam Burrel
e Morgan (1979), os métodos qualitativos adquiriram legitimidade nos estudos organizacionais.
2
crise do atual modelo civilizatório – o da lógica capitalista assumida por parte da
sociedade como único modelo possível e que apresenta fortes sintomas
insustentáveis.
Para compreender discurso como um objeto do qual se ocupa uma disciplina
específica, neste caso a Análise do Discurso (AD), é preciso romper com as
acepções advindas do senso comum (ALONSO, 2002) e procurar compreender a
expressão com respaldos em acepções teóricas relacionadas a métodos de análise,
explica Fernandes (2008).
Nos dizeres de Phillips e Hardy (2005), enquanto algumas metodologias
qualitativas procuram entender ou interpretar a realidade social como ela existe,
outras, como é o caso da Análise do Discurso, buscam desvendar a maneira em que
ela é produzida.
Há, pois, uma pluralidade e diversidade de métodos e de teóricos das
diversas formas de conceber a AD2 encontradas numa extensa e crescente
bibliografia destinada a apresentar este tipo de análise (CONDE, 2009). Isto pode
ser explicado, conforme Karam (2005, p. 02), mediante a convergência de alguns
fatores, a saber: (a) o desenvolvimento da história do discurso; (b) os diversos
significados que o mesmo termo apresenta; (c) o aumento da variedade de
disciplinas que buscam as teorias do discurso para explicar os fenômenos; (d) as
diferentes abordagens que se desenvolvem a respeito dessa temática; e (e) o fato
de que o discurso é uma realidade que aparece em todas as práticas sociais, bem
como seu estudo e investigação não podem ser restritos a uma área.
Com origens e aplicação em diversas disciplinas do conhecimento, a AD
tornou-se um campo extenso de investigação, um instrumento teórico e
metodológico interdisciplinar, que permite a compreensão dos discursos de
diferentes atores. As razões para essa explosão de interesse são complexas. No
entanto, a atenção deve estar focada em uma série de fatores atrelados que incluem
uma crescente insatisfação com abordagens positivistas ao mainstream das ciências
sociais, e, ainda, o enfraquecimento de sua hegemonia em disciplinas como a
Ciência Política e Sociologia (HOWARTH, 2000). Apesar de sua origem, a AD não
se caracteriza como “patrimônio exclusivo da linguística e já contou com as
contribuições de outras disciplinas” (IÑIGUEZ, 2004b, p.107).
2
Os níveis de aproximação da Análise do Discurso serão apresentados no Capítulo 4.
3
A AD permite uma relação mais próxima com a linguagem (ROSA; TURETA;
BRITO, 2006), uma vez que o discurso é a prática da linguagem e concebe-a como
a intermediação entre o homem e a realidade social. A AD “pode demonstrar que
aquilo que é lido não é a realidade, mas apenas um relato da realidade
propositadamente construído de um determinado modo, por um determinado sujeito”
(CABRAL, 2005, p. 61). Isto permite revelar, no contexto social, o confronto de
forças, as relações de poder, os domínios do saber, por meio dos textos e da
observação de sua articulação com as formações ideológicas.
No processo de análise discursiva procuram-se as relações de produção do
sentido, o estudo dos discursos e suas determinações e motivações. O texto
consiste apenas no alicerce dos diferentes discursos, entendidos por Alonso (1998)
como linhas de coerência simbólica com as quais os sujeitos representam e se
representam, nas diferentes posições sociais.
Segundo Godoi (2006, p. 383) o texto e o discurso, como categorias
linguísticas distintas, “necessitam ser compreendidos em suas características
diferenciais para permitir o entendimento do objeto e do modo de funcionamento da
análise social do discurso”. Ferreira (2005) salienta que, em uma AD, o texto é
considerado, em sua materialidade, como uma peça com suas articulações, todas
relevantes para a construção do sentido3. Os sentidos tornam-se evidentes por um
efeito ideológico que provoca no gesto de interpretação a ilusão de que um
enunciado quer dizer o que realmente diz.
Neste estudo trabalhamos com a perspectiva de Análise Sociológica dos
Discursos (ASD), vinculada à Tradição Espanhola de Pesquisa Social Qualitativista,
principalmente no que tange às concepções de discurso, contexto e coerência
(IBÁÑEZ, 1979, 1985; ORTÍ, 1993; MARTÍN CRIADO, 1991; DE LUCAS; ORTÍ,
1995; VALLES, 1997; ALONSO, 1998, 2002, 2012; ALONSO; CALLEJO, 1999;
CONDE, 2009; RUIZ RUIZ, 2009, GODOI, 2005a, 2006, 2009; GORDO, SERRANO,
2008).
Sobre essa abordagem sociológica de investigação, Godoi (2006, 2009)
analisa que, pelo fato de não focalizar funções imanentes ao texto e atuar num
3
A esse respeito Narvaz, Nardi e Morales (2006, p. 5) comentam que “os sentidos mudam conforme
a formação ideológica de quem o (re)produz, bem como de quem o interpreta. O sentido nunca é
dado, ele não existe como produto acabado, resultado de uma possível transparência da língua, mas
está sempre em curso, é movente e se produz dentro de uma determinação histórico-social, daí a
necessidade de se falar em efeitos de sentido”.
4
deslocamento do objeto focalizado pela AD, se procuram regras de coerência que
estruturam o universo dos discursos junto às organizações. Essa análise
sociohermenêutica, assim também chamada (ALONSO, 1998), visa encontrar um
modelo de representação e compreensão do texto concreto no seu contexto social e
da historicidade da sua abordagem, desde a reconstrução dos interesses dos atores
envolvidos no discurso.
Os atores sociais - setores empresariais, instituições governamentais, ONGs
e movimentos sociais, dentre outros -, buscaram assimilar o discurso da
sustentabilidade, objeto desta pesquisa. e o perfizeram politicamente. Para Scotto,
Carvalho e Guimarães (2007), isso se ratifica na medida em que os atores tentam
impor sua interpretação sobre o tema, por meio da disputa em torno do significado
de desenvolvimento sustentável, visando à legitimação de suas ações como
sustentáveis e, portanto, boas e corretas. Neste estudo, optamos pelo uso do termo
sustentabilidade4 por sua amplitude, englobando nesse conceito debates acerca do
desenvolvimento sustentável.
A incerteza acerca da definição de sustentabilidade não tornou o conceito
menos popular. A sustentabilidade pode ser definida como o desenvolvimento
econômico baseado no equilíbrio entre as dimensões ecológica, social e econômica.
No dizer de Savitz e Weber (2006), a sustentabilidade exige que as empresas
reconheçam um número amplo de partes interessadas a quem devem ser
accountable, com quem devem comprometer-se de forma transparente e, em
conjunto, unir esforços para gerarem benefícios mútuos. Na visão dos autores, no
futuro, esta forma de gestão gerará mais valor e riqueza para a empresa, bem como
prosperidade do ponto de vista econômico, social e ambiental para a sociedade.
Os discursos institucionais são utilizados como instrumento de comunicação e
servem como propagadores da cultura, filosofia, razão de ser, entre tantos outros
propósitos, elucida Almeida (2006), no contexto organizacional. A organização 5,
entendida como sujeito discursivo, representa-se por intermédio dos conteúdos e
processos discursivos utilizados, sendo estes, ao mesmo tempo, sujeito produtor do
discurso e efeito da sua própria interpretação. Nogueira e Fidalgo (1995) comentam
que os discursos representam não apenas as relações e entidades sociais, mas
constroem e são constituídos em diferentes discursos.
4
5
A origem, conceitos e práticas da sustentabilidade são apresentados no Capítulo 3.
A discussão das organizações vistas como discurso é aprofundada no Capítulo 3.
5
Especificamente, o discurso verde, ambientalista ou ecológico - propagado
nas falas, documentos, folders, jornais, avisos e comunicações - constituem uma das
principais estratégias discursivas institucionais. Há uma tentativa de repercussão
para um suposto processo de construção de cidadãos dispostos a criar um mundo
melhor, um estilo de vida mais saudável e melhores condições humanas. Esse
processo é denominado por Lester Brown, fundador e pesquisador da organização
não-governamental Worldwatch Institute (WWI), de Revolução Ambiental (BROWN,
1993). Segundo Brown (2001) as Revoluções Agrícola e Industrial foram
impulsionadas por novas descobertas, avanços tecnológicos; já a Revolução
Ambiental está sendo estimulada pelo instinto de sobrevivência, revolução essa que
suscita todo o planeta, promovendo transformações no comportamento social,
político e econômico.
No âmbito organizacional, segundo Tinoco e Kraemer (2004), os relatórios
ambientais, também denominados de socioambientais ou suplementos ambientais,
são entendidos como ferramentas com as quais as empresas contam para descrever
e divulgar seu desempenho ambiental. Para Spence (2007b) esses relatórios são
entendidos como um veículo por meio do qual as organizações podem se
comunicar. Eles compreendem, de forma genérica, o abastecimento de dados
auditados ou não, relativos aos eventos e impactos de atividades da organização no
meio ambiente6. De modo específico, os relatórios abrangem riscos, impactos,
políticas, estratégias, custos, despesas, receitas, passivos ou qualquer outra
informação pertinente ao seu desempenho ambiental, para seus stakeholders,
possibilitando-os conhecer seu relacionamento com a própria organização.
Os chamados Relatórios de Sustentabilidade7 tendem a ser de caráter público
e atender as preocupações das partes interessadas, de exigências legais e pressões
internas da cadeia de suprimentos, de pares e da sociedade como um todo. No
6
Segundo a legislação brasileira, meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas
formas” (Lei Federal n. 6.938, de 31/08/1981, art.3°, I). De acordo com Sánchez (2008, p. 21), trata-se
o ambiente, de um lado, do local onde “a sociedade extrai os recursos essenciais à sobrevivência e
os recursos demandados pelo processo de desenvolvimento sócio-econômico”. Tais recursos são
chamados geralmente de naturais. O ambiente, por outro lado, “é também o meio de vida, de cuja
integridade depende a manutenção de funções ecológicas essenciais à vida”, emergindo dessa
maneira o conceito de recurso ambiental, no qual “se refere não mais somente à capacidade da
natureza de fornecer recursos físicos, mas também de prover serviços e desempenhar funções de
suporte à vida” (SÁNCHEZ, 2008, p. 21).
7
Apresentamos os Relatórios de Sustentabilidade como discurso no Capítulo 3.
6
Brasil, a obrigatoriedade desses relatórios ambientais limita-se às empresas que
possuem elevado potencial de degradação em relação ao meio ambiente.
Contudo, após a seleção de relatórios de sustentabilidade publicados por
empresas brasileiras, uma pesquisa realizada em 2008 pela consultoria anglo
americana SustainAbility Ltd. e a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento
Sustentável (FBDS), com apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), o Conselho Consultivo mostrou-se, de maneira geral,
desapontado com os resultados. O manifesto deles foi de que as empresas precisam
melhorar os quesitos de transparência, comprometimento e integridade em relação
aos relatórios elaborados. Devemos, contudo, alertar para o fato de que as
empresas, muitas vezes, trabalham muito mais seu discurso institucional do que,
verdadeiramente, praticam a sustentabilidade, provocando uma lacuna entre o
discurso e a prática organizacional (SUSTAINABILITY LTD.; FBDS; PNUMA,
2008a). Temos, pois, a reflexão de que se as empresas querem ou se podem
melhorar aqueles quesitos frente ao risco de inviabilizar economicamente seus
negócios.
Por sua vez, os profissionais de comunicação agem como mediadores das
mensagens ao interpretar, selecionar e combinar as informações coletadas, gerando
novos processos e produtos de comunicação. Os veículos e indivíduos que fazem a
notícia constroem o fato ao interpretar e transmitir o fato por meio de sua percepção,
e, quiçá, por interesses econômicos, uma vez que o mesmo episódio pode ser
narrado de diversas maneiras. A mídia procura desempenhar o papel de mediadora
entre seus leitores e a realidade. “O que os textos da mídia oferecem não é a
realidade, mas uma construção que permite ao leitor produzir formas simbólicas de
representação da sua relação com a realidade concreta” (GREGOLIN, 2007, p. 16).
A mídia também ampliou a atenção sobre o discurso da sustentabilidade 8,
criando jornais, informativos, boletins, revistas e programas televisionados, cujos
protestos e novas causas ambientais vêm sendo midiatizados9 como notícias de
primeira página, de grande destaque e circulação. Loose e Peruzzolo (2008)
assinalam a relevância atribuída pela mídia quando se trata de questionar as
práticas referentes ao meio ambiente. A mídia está repleta de conceitos tais como
8
Destinamos uma seção para a discussão da sustentabilidade e discurso midiático no Capítulo 3.
O ato de midiatizar ocorre a integração da construção do discurso, das opções sobre o modo de
veiculá-lo, da seleção do tempo e ambiente para a sua recepção. O estabelecimento da comunicação
está na capacidade de realização destes.
9
7
índices
de
sustentabilidade,
negócios
sustentáveis,
consumo
sustentável,
crescimento sustentável e capitalismo sustentável, para citar alguns. É necessário
compreender como os discursos midiáticos podem contribuir para revelar os não
ditos dos discursos institucionais sobre as práticas de sustentabilidade das
organizações.
O termo midiático é uma expressão recente e seu conceito ainda não foi
amplamente assimilado. Midiático significa aquilo que se refere ou difunde pela
mídia (AULETE; VALENTE, 2012), sendo ainda compreendido como o conjunto dos
meios de comunicação (jornal, televisão, cinema, propaganda, página impressa,
meios eletrônicos de comunicação, dentre outros). A mídia, no entendimento de
Gregolin (2007), vem se tornando objeto de prestígio nas investigações dos analistas
de discurso e desempenha uma função de mediação entre seus leitores e a
realidade.
Os discursos jornalísticos, veiculados nos meios de comunicação, sublinha
Resende (2007), tendem a constituir expressões máximas do que é verdadeiro; e é
com eles que os indivíduos constroem seus modos de compreender e ver o mundo e
o outro. Abreu (2006, p. 72) assinala que “na notícia, o jornalista apenas informa; na
reportagem,
ele
interpreta
o
fato”,
atribuindo-lhe
causas,
consequências,
personagens, contexto, sabor de narrativa.
A busca de uma coerência entre o que dizem e o que fazem as empresas e a
mídia remetem ao accountability institucional e midiático, respectivamente. Surge a
necessidade de transparência das ações e decisões tomadas, de prestar conta
perante a sociedade. “Fazer o mundo visível é fazer minha ação compreensível ao
descrevê-la, porque dou a entender seu sentido ao revelar os procedimentos que
emprego para expressá-la”, ressalta Coulon (1987 apud IÑIGUEZ, 2004a, p. 99), ao
definir accountability. E, propor uma abordagem para melhor compreender tais
discursos, torna-se um desafio desta pesquisa. Esta tese trata-se, portanto, de um
trabalho metodológico, no qual procuramos sistematizar um método de análise do
discurso no contexto dos estudos organizacionais.
Essa pesquisa está associada à reflexão e interpretação, de maneira crítica,
da relação entre sociedade e natureza, bem como à crescente demanda da
sociedade por maior evidenciação no que diz respeito à relação das empresas com
o meio ambiente. Sobre evidenciação ambiental, Tinoco e Kraemer (2004) afirmam
que evidenciar é divulgar informações econômicas, financeiras, sociais e ambientais
8
das entidades por meio de relatórios aos stakeholders, considerando que
informações evidenciadas devem ser fidedignas. O relatório é um instrumento de
gestão capaz de oferecer clareza em relação às externalidades (por exemplo,
fatores de impacto ambiental e social) das organizações. Desta maneira, a confiança
nos negócios e nos mercados tem sua intensidade reforçada na medida em que as
empresas buscam maior accountability em suas ações.
Em termos intrínsecos, esta pesquisa colabora com um método face à
necessidade de
incorporar maior diversidade ao estudo do discurso da
sustentabilidade no que tange ao discurso institucional e midiático, para que se
possa suscitar conhecimento relevante sob o aspecto mais próximo da realidade
organizacional. E buscamos ainda promover maior sensibilidade desta temática às
estruturas organizacionais em economias emergentes, conforme assinalado por
Rodrigues e Carrieri (2001), Chanlat (1994), Whitley (1995), Clegg e Hardy (1996),
Calás (1994), seja no contexto de empreendimentos público ou privado.
Em se tratando de empreendimentos do setor de energia elétrica, verificamos
que as empresas geradoras (fontes hídricas, térmicas, geotérmicas, nucleares,
eólicas, de marés, de rios ou fotovoltaicas, por exemplo) inevitavelmente afetam o
meio ambiente para desempenhar sua atividade. Um dos embates associado a esse
tipo de negócio é a defesa de posicionamento que legitima ou não a atividade
operacional. De um lado, parte da sociedade encontra-se passiva, pois, apesar de
tal agressão ambiental e social, a atividade em si proporciona diversos benefícios.
De outro, questionamos para quem tais benefícios são gerados efetivamente.
Nesse contexto, o mercado tende a posicionar-se como executor da atividade
operacional
de
maneira
responsável
e
capaz
de
atingir
seus
objetivos
organizacionais. O Estado, por sua vez, como terceiro ator nesta arena, age (ou
deveria agir) como um interlocutor nesse processo, ou seja, ao identificar a
necessidade da sociedade, seu papel é oferecer condições para o bem estar da
mesma, além e exercer a regulação da atividade, nesse caso a geração de energia
elétrica. Para Redclift (2002), alguns discursos da sustentabilidade tornam-se
crescentemente vagos quando da conexão entre o ambiente, a justiça social e o
governo, e gradualmente obscurecidas as relações entre o poder, a consciência e o
meio ambiente.
Na busca da reconstrução dos interesses dos atores implicados no discurso,
formulamos a pergunta de investigação: Como se manifesta o discurso da
9
sustentabilidade no discurso institucional e midiático em uma empresa do setor de
energia elétrica?
1.2
Objetivos da pesquisa
1.2.1 Objetivo Geral
O objetivo deste trabalho consiste em analisar a construção do discurso da
sustentabilidade, tanto institucional quanto midiático, em uma empresa brasileira do
setor de energia elétrica.
1.2.2 Objetivos Específicos
Para atingir o objetivo geral nesta pesquisa, destacamos os seguintes
objetivos específicos:

Selecionar os discursos institucionais sobre a sustentabilidade em uma
empresa do setor de energia elétrica;

Selecionar os discursos midiáticos sobre a empresa investigada no que se
refere às dimensões da sustentabilidade;

Incorporar os procedimentos de interpretação e análise à Análise
Sociológica do Discurso nas diferentes fontes discursivas institucionais e
midiáticas; e

Propor uma sistematização do método de Análise Sociológica do Discurso,
na medida de suas possibilidades de adaptação ao campo organizacional.
1.3
Originalidade e contribuições da pesquisa
10
O discurso tornou-se uma palavra que atravessa fronteiras disciplinares. Ele
não é redutível a um campo específico, e sua alusão pode explicar tanto fenômenos
amplos da materialidade discursiva em si, quanto o comportamento de seus
usuários. No âmbito dos estudos organizacionais, as empresas buscam implantar
estratégias que visam sustentar um diálogo constante e transparente com os
stakeholders, para garantir a legitimidade, crescimento e sustentabilidade da
organização numa conduta socialmente correta, ambientalmente sustentável e
economicamente viável.
Nos estudos organizacionais a Análise do Discurso (AD) representa uma
ferramenta útil e permite contribuir para a compreensão da realidade das
organizações (CARRIERI et al., 2006). Ballalai (1989) comenta que a AD, no campo
dos estudos organizacionais:
Não só vai interessar a essa análise conhecer o sujeito falante, quer dizer o
emissor do discurso, o locutor, como também o receptor, direto e imediato,
ou indireto, onde o emissor assentou a destinaridade de seu discurso.
Importará saber, inclusive, o mundo subjacente a esse discurso, a
complicada história dos saberes e os reconhecimentos desses saberes (e
crenças) por parte tanto do emissor quanto do receptor, até chegar a
detectar as intenções do discurso (BALALLAI, 1989, p. 67).
Quatro principais contribuições da AD para os estudos organizacionais são
traçadas por Hardy (2001), quais sejam: (a) auxilia a compreender a questão das
identidades não como características essenciais do indivíduo, mas, como os
resultados das contradições sociais e da fragmentação que as tornam fluida e
ambígua no contexto contemporâneo; (b) proporciona ir além do nível individual,
apresentando como organizações, interorganizações e campos organizacionais são
construídos e reconstituídos por meio de práticas discursivas; (c) torna possível o
uso político do discurso, tanto para obter algum resultado estratégico, quanto para
resistir a tais estratégias, tratando-se, pois, de um instrumento de poder; e (d)
oferece um instrumento que fortalece os estudos críticos na medida em que revela
aspectos como assimetria de poder e transmissão da ideologia10 organizacional.
10
A ideologia, para Prestes Motta (1992, p.39) “é um conjunto de valores e crenças que visa à
manutenção de uma determinada ordem social, ocultando os elementos que a ameaçam e lhe são
inerentes”. No entendimento de Fernandes (2008, p.20), trata-se de “uma concepção de mundo do
sujeito inscrito em determinado grupo social em uma circunstância histórica”.
11
A AD “vem ocupando um lugar cada vez mais significativo nos estudos
organizacionais” (CABRAL, 1999, p. 02). Complementa o autor que, “por sua
pluralidade complexidade e dinamicidade, o território caracteriza-se como um
verdadeiro laboratório para a AD, que com suas ferramentas pode fornecer os meios
de auscultá-lo, interpretá-lo e compreendê-lo” (1999, p. 09).
A aplicação da AD traz um arcabouço de ferramentas que auxiliam no
desenvolvimento de pesquisas e contribuem de forma representativa no campo dos
estudos organizacionais. O Quadro 1 apresenta alguns trabalhos sobre estudos do
discurso, identificados por Alves, Gomes e Souza (2006):
Quadro 1: Estudos sobre o discurso nas organizações
Autor(es) / Ano
Aspectos / Temas abordados
Dick; Cassel, 2002.
Aspectos ideológicos dentro de organizações, com ênfase na
diversidade e a resistência dos indivíduos à iniciativa de
promoção da diversidade
Benschop; Doorewaard, 1998.
Aspectos ideológicos dentro de organizações, com ênfase na
desigualdade de gêneros
Oswick; Kennoy, 1997;
Thomas, 2003;
Coupland, 2001;
Langley, 2000.
Hopkinson, 2003;
Sillince, 1999;
Doolin, 2002.
Influência do discurso dentro da práxis administrativa, com ênfase
nas diversas produções que abordam a criação dos discursos
gerenciais
Influência do discurso dentro da práxis administrativa, com ênfase
no papel que os discursos desempenham na formação da
organização
Palmer; Dunford, 2002.
Uso mais prático do discurso para a empresa, como aquele que
promove uma vantagem competitiva
Fonte: Adaptado de Alves, Gomes e Souza (2006).
Há um crescente interesse sobre o estudo do discurso nas organizações. A
leitura no Quadro 1 mostra, segundo Alves, Gomes e Souza (2006), que a maioria
dos trabalhos internacionais de estudos sobre o discurso foi realizada com base em
um referencial teórico metodológico de Michel Foucault, tornando-se a base de
trabalhos de análises críticas do discurso da gestão nas organizações. Tal
constatação é reforçada na pesquisa de Alcadipani (2008), na qual apresentou a
noção de governamentalidade nas obras de Foucault e discutiu as possíveis
contribuições dessa noção para a compreensão das dinâmicas de poder em
contexto organizacional.
No Brasil, inferem Alves, Gomes e Souza (2006), são poucos os trabalhos
voltados para analisar o discurso como forma de poder, analisando-o como parte
12
das relações de poder, bem como intertextualidades inseridas no contexto
(dominação), vem tornando-se, nos últimos anos, o desafio do campo organizacional
brasileiro.
Em se tratando de teses e dissertações, outras pesquisas que versam sobre
AD nos estudos organizacionais no Brasil (por exemplo, SIQUEIRA, 2004;
ALMEIDA, 2006; AMARAL FILHO, 2006; KAVINSKI, 2009; SULAIMAN, 2010)
também se apresentam em número crescente. Alcadipani (2002) procurou realizar
um inventário sobre a utilização das obras de Michel Foucault em Análise das
Organizações, problematizar tal utilização e indicar possíveis caminhos de
desenvolvimento para o estudo do poder nessa área. Em seus levantamentos, uma
delas se dedicava a apresentar a temática e foco de cada artigo, no período de 1997
a 2002. Assim, o autor identificou 8 artigos internacionais que apresentaram a
Análise de Discurso como metodologia declarada, a saber: Xu (1990, 2000);
Bloomfield (1992); Collinson (1999); McLean e Hoskin (1998); Thompson e Tambiah
(1999); e Boje (1995).
Oliveira (2011) analisou o gerenciamento de resíduos sólidos gerados na
atenção à saúde em estabelecimentos de diferentes complexidades, a partir da
análise do discurso e da prática do manejo dos resíduos gerados numa fundação
hospitalar e noutra unidade de pronto atendimento, em Rio Branco, Acre. Em seus
achados, o autor constatou que existe um acentuado distanciamento entre o
discurso e a prática no gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde nos
estabelecimentos investigados.
Na concepção de Boje, Oswick e Ford (2004), a constituição do discurso traz
uma relação ativa com a realidade. A AD procura desmistificar os elementos
subjacentes aos discursos para identificar a voz do autor, seja indivíduo, empresa,
governo, mídia etc., e seu posicionamento (BOJE, 1995). Exemplificam-se também
trabalhos que utilizaram entrevistas de executivos a jornais e revistas como
principais fontes discursivas para análise (BOJE; ROSILE, 2003; FAIRCLOUGH,
1988; SALSKOV-IVERSEN, 1997).
No que tange a estudos que relacionam o discurso a questões ambientais,
destacamos trabalhos que discutem, por exemplo, o valor e o potencial das
abordagens discursivas (TREGIDGA; MILNE; KEARINS, 2010b), e o valor dos
discursos e abordagens interpretativas para o estudo da comunicação social e
13
ambiental das empresas, com foco na consideração e análise da legitimidade
organizacional (TREGIDGA; MILNE; KEARINS, 2010a).
Outros estudos procuraram discutir a teoria do discurso de Laclau e Mouffe no
intuito de enquadrar o relatório ambiental e social como uma prática hegemônica
(SPENCE, 2007a). E ainda, alicerçado na teoria da comunicação, questionou-se até
que ponto o relatório ambiental e social serve como um meio de dialogar com as
partes interessadas (SPENCE, 2007b).
Considerando a busca de uma compreensão e organização das abordagens
da AD, Alonso (1998) propôs três níveis básicos, quais sejam: (1) informacionalquantitativo; (2) estrutural-textual; e (3) social-hermenêutico11. No primeiro nível, os
textos tendem a prevalecer, assinala Alonso (1998), a dimensão mais denotativa e
manifesta dos mesmos – a Análise de Conteúdo é uma das linhas de análise mais
conhecida. Para Alonso (1998), o texto se resume num espaço de frequências,
repetições e associações entre as palavras, sendo foco de ferramentas estatísticas.
No segundo nível proposto por Alonso (1998), os textos são concebidos como
o resultado de estruturas formais invariantes e universais, também denominada de
análise estrutural. Nesse nível encontramos as perspectivas semiótica textual,
semiótica discursiva, semiótica estrutural, sócio-semiótica e análise semiótica dos
discursos.
O último nível proposto por Alonso (1998) trata da Análise Sociológica do
Discurso (ASD) que, diferentemente de outros tipos de estudo, envolve a análise de
conteúdo (informacional-quantitativo), na sequência percorre o nível linguístico
(estrutural-textual), até chegar ao nível de contextualização (social-hermenêutico).
Ao analisarmos trabalhos sobre AD extraídos da literatura nacional e
internacional, em diferentes veículos de publicação, à luz dos níveis de Análise do
Discurso propostos por Alonso (1998), observamos que, na maioria dos trabalhos,
não é apontado o tipo de análise do discurso pretendido durante todo o percurso do
texto.
A respeito do nível informacional-quantitativo12 Valles (1997) comenta que se
busca uma análise de relações e de correlações geradoras de cadeias semânticas,
isto é, correlato linguístico de cadeias estatísticas. Para Godoi (2005a, p. 94), este
primeiro nível de análise “converte-se em um conjunto de referências lexicométricas
11
12
Os níveis de aproximação da Análise do Discurso são discutidos no capitulo 4 desta tese.
Alves; Gomes; Souza, 2006; Pena et al., 2005, para exemplificar alguns estudos.
14
e demonstra uma vontade simplificadora do fenômeno da linguagem”. Por encontrarse numa dimensão semântica, exclui-se, portanto, a dimensão pragmática.
Constatamos, pois, uma diversidade de pesquisas dentro da abordagem
estrutural13, segundo nível proposto por Alonso, que se baseiam em escolas e
autores reconhecidos da semiótica. Desde Saussure e Propp aos trabalhos de
Barthes, Todorov, Kristeva, Greimas, dentre outros, afirma Alonso (1998), há uma
intenção comum de se deparar com isomorfismos ou equivalentes estruturais em
línguas, fenômenos, textos e, inclusive, em sociedades. Godoi (2005a, p. 94) elucida
que, apesar da análise semiótica dificultar “a adoção de uma postura integradora
torna-se inevitável o recebimento, no interior dos estudos organizacionais, da
influência dos autores da Lingüística Estrutural e da Semiótica contemporânea”, em
função do espaço que preenchem no desenvolvimento das ciências da linguagem. O
último nível proposto por Alonso (1998) visa uma análise contextual dos argumentos.
Neste nível o parâmetro de análise é o discurso social, os quais são analisados em
contextos sociais. Nessa concepção, quanto mais se conhece o contexto, maior a
riqueza de compreensão podemos obter do fenômeno analisado. Apesar da vigorosa
e crescente utilização da Análise do Discurso no campo organizacional brasileiro,
verificamos lacunas da prática de ASD voltada às organizações.
Nesse terceiro nível proposto por Alonso (1998), separamos em duas
aproximações discursivas críticas14: Análise Crítica do Discurso15 e Análise
Sociológica do Discurso16. As pesquisas no campo organizacional surgiram como
13
Como segundo nível, exemplificamos os trabalhos de Assis; Contijo; Corrêa (2004); Carrieri;
Pimentel; Cabral (2005); Carrieri (1998, 2000, 2002); Carrieri; Leite-da-Silva; Souza-Ricardo (2005);
Carrieri; Sarsur (2004); Carrieri; Silva; Pimentel (2009); Carrieri et al. (2006); Carrieri et al. (2009);
Cariola; Machado-da-Silva (2008); Costa; Carvalho (2005a, 2005b); Costa; Pereira; Solino (2001);
Egídio e Silva; Teodósio; Barbosa (1997); Gregolin (2003a, 2003b, 2007); Harris (1952); Ichikawa;
Ichikawa (2006); Jaci; Goulart( 2005); Lima( 2009); Mainguenau (1976); Martins; Silva (2008); Orlandi
(1986, 1996, 2001, 2003, 2009); Pabst; Siqueira (2008); Pichelli; Pedro; Carvalho (2006); Pimentel et
al. (2005); Souza; Bianco; Machado (2005, 2006).
14
Estas aproximações discursivas críticas são discutidas no capítulo 4.
15
São exemplos de estudo neste segundo nível: Alvesson; Karreman (2000); Azevedo; Caldas
(2005); Bittencourt; Carrieri (2005); Carvalho (2000); Carvalho; Davel (2005); Faria (2001); Faria;
Carvalho (2006); Faria; Linhares (1993); Faria; Meneghetti (2001); Lacombe; Tonelli (2000, 2001);
Pereira; Misoczky (2006); Saraiva; Baptista (2009); Saraiva; Pimenta; Corrêa (2004), Souza; Faria
(2005); Wood Jr.; Caldas (1997); Misoczky (2005).
16
Como exemplos de estudos que utilizam a ASD, elencamos: Alonso (1998, 2002, 2005, 2010);
Alonso; Callejo (1999); Alonso; Fernandez; Ibáñez (2010); Antaki et al, (2003); Calderón et al.
(2009b); Colectivo IOÉ (1987, 2010); Conde (1985, 1994, 1999a, 1997a, 1997b, 1999a, 1999b, 2000,
2002, 2007a, 2007b, 2008, 2009); Conde; Gabriel (2000, 2002, 2005); Conde; Marinas (1997);
Fernandéz Rodriguez (2010); Fortes et al. (2010); Godoi (2005a, 2005b, 2006, 2008, 2009); Gordo;
Serrano (2008); Joya (2010); Martin Criado (1991, 2007); Palop (2008); Peinado; Pereña; Portero
15
um elo entre os níveis sociais e organizacionais no estudo das mudanças sociais
(DIMAGGIO, 1986). Scott (1994) ressalta que o campo organizacional se constitui da
totalidade dos atores relevantes de uma comunidade de organizações que partilham
de um sistema comum e interagem mais frequentemente ou fatalmente uns com os
outros do que com atores externos a este campo.
Os estudos organizacionais demonstram sua relevância não apenas nos
aspectos teóricos, mas também práticos, quando remontam uma ordem social no
processo
de
determinístas
estruturação,
nas
apresentando
organizações
influências
causais,
(MACHADO-DASILVA;
porém
GUARIDO
não
FILHO;
ROSSONI, 2006). Silva e Roman Neto (2006) ressaltam a necessidade de uma
conscientização por parte dos pesquisadores de que o avanço nos estudos
organizacionais dependerá da inserção de debates junto à comunidade acadêmica –
universidades, centros de pesquisa, grupos de pesquisa e fóruns de discussão
científica nacional e internacional.
A partir da leitura dos artigos e capítulos de livros identificados na pesquisa e
do entendimento de que, no campo organizacional, num trabalho investigativo o que
se analisa são discursos e não apenas texto, esta pesquisa tem o interesse não por
aquilo formalizado nos textos, e sim pelo que os discursos fazem, sua constituição e
como são manifestados. O campo organizacional inclui todos os atores relevantes, e
não somente as organizações concorrentes que formam populações (HANNAN;
FREEMAN, 1977) ou ainda estejam conectadas em redes interorganizacionais
(LAUMANN; GALASKIEWICZ; MARSDEN, 1978), ressalta Agüero (2007). Portanto,
percebemos a necessidade de compreender a manifestação do discurso da
sustentabilidade nos discursos institucional e na mídia no contexto dos estudos
organizacionais brasileiros, norteados pelos fundamentos da Análise Sociológica do
Discurso (ASD).
De forma particular, Foucault (1997) retrata o discurso como objeto principal
de análise:
[...] gostaria de mostrar que o discurso não é uma estreita superfície de
contato, ou de confronto, entre uma realidade e uma língua, o intrincamento
entre um léxico e uma experiência; gostaria de mostrar, por meio de
exemplos precisos que, analisando os próprios discursos, vemos se
desfazerem os laços aparentemente tão fortes entre as palavras e as
(1993); Portero, Pereña; Peinado (1993); Ruiz Ruiz (2009); Sell (2004); Serrano; Zurdo (2012, no
Prelo); Valles (1997).
16
coisas, e destacar-se um conjunto de regras, próprias da prática discursiva.
[...] não mais tratar os discursos como conjunto de signos (elementos
significantes que remetem a conteúdos ou a representações), mas como
práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam. Certamente
os discursos são feitos de signos, mas o que fazem é mais que utilizar
esses signos para designar coisas. É nesse mais que os torna irredutíveis à
língua e ao ato da fala. É nesse ‘mais’ que é preciso fazer aparecer e que é
preciso descrever (FOUCAULT, 1997, p. 56).
É nesse “mais” proposto por Michael Foucault que procuramos neste estudo
percorrer a respeito do discurso da sustentabilidade, indo além do que se diz,
ultrapassando a superfície das evidências, analisando como se dá a construção
desse discurso. Segundo Foucault (1971), é possível suspeitar que nas sociedades
exista regularmente um desnível entre os discursos: os discursos que se dizem no
cotidiano e nas relações, sejam elas organizacionais ou não; discursos que são
esquecidos no próprio ato que o originou; discursos que são ditos, e que ainda estão
por dizer. Intentamos, portanto, analisar um discurso para justificar uma ação
organizacional, como ressalta Clegg (1996).
Por mais que o discurso da sustentabilidade tenha se tornado uma expressão
de importância mundial, estudiosos puderam observar que falta, para a maioria do
público, uma profunda compreensão do que significa sustentabilidade (LEAL FILHO,
2000; OEPEN; HAMACHER, 2000; SMITH, 2000; JUCKER, 2002; BARRY, 2003).
Kolandai-Matchett (2009) complementa que, além disso, as discussões permanecem
confinadas a recintos acadêmicos e governamentais.
Para Santos (1997), é necessário interpretar a questão ecológica sob uma
nova leitura, levando em conta itens relacionados à ciência, tecnologia e mercado
global, aos quais ela se subordina. Abreu (2006, p.65), parafraseando o autor,
ressalta que “os objetos novos, criados todos os dias para transportar o sistema das
novas técnicas, são exigentes de um discurso”.
Este
estudo
pretende
compreender
a
construção
do
discurso
da
sustentabilidade, a partir de uma abordagem metodológica – a Análise Sociológica
do Discurso – no contexto organizacional e midiático. Para tal, consideramos o
discurso presente nas falas (entrevistas), nas comunicações da assessoria de
comunicação e boletins informativos, bem como nos Relatórios de Sustentabilidade
emitidos por uma empresa do setor de energia elétrica e no discurso midiático –
aquele veiculado nos meios de comunicação da imprensa jornalística sobre a
empresa estudada no Brasil.
17
Para Gregolin (2007), a articulação entre a análise de discurso e estudos da
mídia contribui sobremaneira a esses dois campos complementares, uma vez que
ambos possuem as produções sociais de sentido como objeto de estudo.
Pretendemos, por meio da Análise Sociológica do Discurso, pôr o dito com
sua exterioridade e suas condições de produção17 (sujeito, situação e memória), em
busca da compreensão dos sentidos. Orlandi (2009) afirma que estes sentidos têm a
ver com o que é dito num determinado momento, mas também em outros lugares,
bem como o que não é dito, e com o que poderia ser dito e não foi em outro
momento.
No campo social esperamos, com o processo de investigação da pesquisa,
trazer uma contribuição para os stakeholders acerca do processo do accountability
institucional e midiático de tal maneira que possam promover uma discussão, de
maneira reflexiva, sobre os valores, os conflitos e os efeitos imediatos provocados
na sociedade a respeito da sustentabilidade.
A pesquisa tem seu aporte para a sociedade ao fornecer uma maneira de
compreender os Relatórios de Sustentabilidade como um tipo de discurso
institucional, bem como desmistificar o discurso da sustentabilidade e seus jargões
contemporâneos. O prefácio das Diretrizes para Relatório de Sustentabilidade da
GRI – Global Reporting Initiative (2006) atenta para a transparência em relação à
sustentabilidade das atividades organizacionais. Nesta pesquisa esperamos reforçar
os quesitos de transparência, comprometimento e integridade, haja visto as
preocupações ambientais que demandam mudanças drásticas de comportamento,
no intuito de avançar em direções, de forma a assegurar que o relato seja mais
fidedigno à realidade retratada das organizações.
É ainda salutar refletir sobre como a mídia – essa forma de conhecimento da
realidade – textualiza ou espetaculariza (DEBORD, 2003) o discurso da
sustentabilidade,
permitindo que haja transparência no relacionamento da
organização com todos que são impactados, de alguma forma, por sua atuação.
Ademais, esta pesquisa visa contribuir no setor de energia elétrica para um
melhor entendimento do discurso da sustentabilidade, frente ao engajamento das
partes interessadas da organização, a reflexão dos principais impactos gerados e a
comunicação com os públicos de interesse.
17
Por condições de produção, Fernandes (2008, p. 20) considera aqueles “aspectos históricos,
sociais e ideológicos que envolvem o discurso, ou que possibilitam a produção do discurso”.
18
O trabalho está vinculado ao aprimoramento teórico e das práticas efetivas de
Análise Sociológica do Discurso (ASD) e sua possibilidade de identificação do vácuo
existente entre o discurso e a prática institucional, o que se configura como uma
oportunidade para o desenvolvimento de estudos nesta área. Intentamos também
estimular o uso da ASD como prática sistemática de se observar e registrar os
fenômenos históricos, culturais e sócio-comunicativos dentro das organizações e do
processo midiático.
Ao analisar o discurso produzido por meio do contato real, simbólico ou
imaginário dos sujeitos, principalmente junto aos discursos, seja em textos ou
imagens, bem como nas entrevistas realizadas e analisadas sob a perspectiva da
ASD, procuramos identificar aspectos subjacentes à organização em estudo. A partir
da reconstrução dos interesses dos atores que estão implicados no discurso, essa
análise sociohermenêutica pressupõe encontrar uma maneira de representação e de
compreensão do texto concreto em seu contexto social e na historicidade de suas
exposições. Destarte, pretendemos interpretar as possíveis mensagens explícitas e
implícitas contidas nos discursos institucional e midiático em busca de desvendar
prováveis sentidos ocultos, silêncios ou omissões, isto é ultrapassar a mensagem
manifesta e atingir os significados latentes.
A diversidade de abordagens e a pouca formalização da ASD tem gerado
conflitos e desentendimentos entre aqueles não familiarizados com a prática da
investigação social. Este equívoco se refere a, pelo menos, três questões, segundo
Ruiz Ruiz (2009): (1) a identificação de análise sociológica do discurso, fundamental
ou exclusivamente, como algum dos procedimentos de análise que se tem à
disposição; (2) por ser considerado como uma prática de investigação pouco
rigorosa e que depende de critério mais ou menos arbitrário de analista; (3) uma
terceira confusão põe em dúvida a própria existência da análise sociológica como
um método de análise do discurso com constituição própria. É preciso, portanto,
constantemente buscar uma explicação do que consiste essa perspectiva de
interpretação social do discurso. Explicação esta que responde a duas questões
fundamentais que, em última análise, vem a ser a mesma: (a) que diferença a
análise sociológica possui de outras disciplinas científicas; (b) o que compartilham os
diferentes procedimentos de ASD, além de adotar a aparente diversidade na forma.
Na busca da coerência entre o que se pretendeu e o que se fez,
apresentamos uma sistematização do método de Análise Sociológica do Discurso
19
neste estudo. Esta sistematização implicou compreender, registrar e ordenar, de
maneira
compartilhada,
a
abordagem
direcionada
ao
campo
de
estudos
organizacionais. Tal proposição visou favorecer o intercâmbio de experiências, a
partir de pesquisadores que fazem uso desta abordagem, principalmente os
espanhois, além de adquirir conhecimentos teóricos a partir da prática, bem como
melhorar a prática e o rigor metodológico nos estudos qualitativos. Buscamos, nessa
dinâmica, as dimensões que podem explicar o caminho assumido no trabalho
realizado e, para os atores envolvidos, elucidar o sentido ou o significado que o
processo teve para os mesmos.
1.4
Estrutura da tese
A pesquisa segue estruturada, a partir desta introdução, em mais oito
capítulos (Figura 1). Nos três capítulos seguintes ao primeiro capítulo, buscamos nos
posicionar num continuum epistemológico-teórico-metodológico e articulados entre
si. A configuração desta postura tríade foi estabelecida no intuito de nos possibilitar
avançar no uso e na sistematização de um método de análise do discurso – Análise
Sociológica do Discurso, na medida de suas possibilidades de adaptação ao campo
organizacional brasileiro.
Apresentamos, pois, no capítulo 2, o posicionamento epistemológico em que
procuramos esclarecer a percepção da relação entre o investigador (quem) e o
investigado (o que). Assumimos uma postura epistemológica assentada na Teoria
Crítica, especificamente na aproximação crítica discursiva da Escola Qualitativista
Crítica de Madri – origem da Análise Sociológica do Discurso (ASD).
O posicionamento teórico, abordado no capítulo 3, foi dividido em duas
seções. Na primeira refletimos sobre o espectro das organizações como fonte
discursiva, e, noutra seção, fazemos um aporte da pesquisa que trata da
sustentabilidade desde sua origem, conceitos, avançando suas práticas e
instrumentos de comunicação.
A maneira com foi conhecida a realidade ora investigada neste estudo foi
destinada ao capítulo 4, posicionamento metodológico. Estruturamos o capítulo em
20
três seções: (a) disseminação e níveis de aproximação da Análise do Discurso (AD),
(b) níveis de aproximação da AD e ASD e (c) nível sociohermenêutico e pragmático.
Nesta última seção destacamos o surgimento da Análise Sociológica do Discurso
(ASD), noção de discurso e de contexto em ASD, além de apresentarmos os
principais temas e práticas de pesquisa com a utilização da ASD. Por fim,
promovermos um debate entre a Análise Sociológica do Discurso e Análise Crítica
do Discurso.
No capítulo 5 abordamos as definições metodológicas da pesquisa
alicerçadas nas posturas epistemológica, teórica e metodológica, de modo
interdependentes e congruentes entre si. Assim, estabelecemos a escolha do caso e
sua contextualização e, na sequência, definimos as fontes discursivas da pesquisa.
O capítulo 6 resultou na construção do discurso da sustentabilidade em uma
empresa do setor de energia elétrica. Primeiramente, apresentamos a conjectura
analítica que nos direcionou e serviu de orientação focalizando nossa percepção,
como norteador ao longo da interpretação e análise das fontes discursivas: a)
relatórios de sustentabilidade; b) entrevistas realizadas; e c) jornais – nacional e
regional -, press releases e boletim informativo da empresa estudada. De forma
parcialmente
simultânea
as
etapas
interpretação
das
fontes
discursivas,
estabelecemos a análise das posições discursivas, das configurações narrativas e
dos espaços semânticos.
Propomos, no capítulo 7, a sistematização do método de Análise Sociológica
do Discurso (ASD), sem a pretensão de prescrevermos uma fórmula padronizada de
praticar a ASD.
As conclusões, as limitações do estudo e as recomendações finais foram
descritas no capítulo 8. Por fim, elencamos as referências utilizadas neste trabalho,
seguidas dos apêndices que serviram de complemento no desenvolvimento da
pesquisa.
21
Figura 1 – Estrutura da Tese
INTRODUÇÃO
(capítulo 1)
POSICIONAMENTO EPISTEMOLÓGICO
(capítulo 2)
TEORIA CRÍTICA
ORGANIZAÇÕES VISTA COMO DISCURSO
POSICIONAMENTO TEÓRICO
(capítulo 3)
POSICIONAMENTO METODOLÓGICO
(capítulo 4)
DEFINIÇÕES METODOLÓGICAS DA PESQUISA
(capítulo 5)
SUSTENTABILIDADE: origem, conceitos,
práticas e discursos
ANÁLISE DO DISCURSO - disseminação e níveis de
aproximação
NÍVEL SOCIOHERMENÊUTICO E PRAGMÁTICO SURGIMENTO DA ASD
CONTEXTO DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA: escolha
do caso
FONTES DISCURSIVAS DA PESQUISA
CONJECTURA ANALÍTICA
CONSTRUÇÃO DO DISCURSO DA
SUSTENTABILIDADE
(capítulo 6)
ANÁLISE DOS RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE
ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
ANÁLISE MIDIÁTICA
POSIÇÕES DISCURSIVAS
CONFIGURAÇÕES NARRATIVAS E ESPAÇOS
SEMÂNTICOS
SISTEMATIZAÇÃO DO MÉTODO DE ASD
(capítulo 7)
CONCLUSÕES,
LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS
(capítulo 8)
22
2
POSICIONAMENTO EPISTEMOLÓGICO
A epistemologia, em termos gerais, é definida como a análise do
conhecimento (CRISHOLM, 1969; BLANCHÉ, 1988; BRIONES, 2002). Mais
especificamente, a epistemologia procura analisar: (a) os pressupostos filosóficos da
ciência; (b) seu objeto de estudo; (c) os valores envolvidos na criação do
conhecimento (d) a estrutura lógica das teorias, métodos empregados na
investigação e explicação ou interpretação de seus resultados; e (e) a confirmação e
refutação de suas teorias.
O
posicionamento
epistemológico
está
relacionado
entre
“quem”
(investigador) e o “que” (investigado), e do resultado desta relação. Blaxter, Hughes
e Tight (2008) comentam que todas as manifestações ou graus de conhecer,
observar, perceber, determinar, interpretar, negar ou afirmar, pressupõem a relação
do homem com o mundo e são possíveis somente sobre o alicerce desta relação.
Desta maneira, ao estar atentos de onde se olha, desde o lugar de onde se
está demandando a investigação, de onde se está pensando, traçamos o percurso
da vigilância epistemológica (BACHELARD, 1996; BOURDIEU; CHAMBOREDON;
PASSERON, 1990). Dito de outra forma, ao iniciar o desenvolvimento da tese com o
posicionamento epistemológico, o que pretendemos é assegurar a auto-vigilância e
a manutenção da coerência epistemológica entre os diferentes capítulos
subsequentes.
Na última década, ocorreram mudanças substanciais no panorama da
investigação científica social. Lincoln e Guba (2006) constatam os seguintes fatos:
(1) leitores familiarizados com a literatura sobre métodos e paradigmas em busca de
ontologias e epistemologias diferentes daquelas amparadas pela ciência social
convencional, apesar da experiência quantitativa, profissionais desejam aprender
mais a respeito das abordagens qualitativas; (2) há uma explosão de textos
qualitativos,
artigos
de
pesquisa,
workshops
e
materiais de
treinamento.
Observamos diariamente o crescimento de adeptos da investigação de novos
paradigmas, bem como a mescla entre os paradigmas, vem alterando a hegemonia
dos paradigmas tradicionais.
Delinear uma pesquisa requer conhecimento a respeito da forma que mais se
apropria na descoberta da resposta para um questionamento estabelecido por meio
23
de meios científicos. Isso pode emergir pelo interesse e habilidade do pesquisador
para conduzi-la, tempo e recursos disponíveis, enquadramento do método ao objeto
de pesquisa e pelos pressupostos ontológicos e epistemológicos adotados pelo
pesquisador.
No campo organizacional os estudos são marcados por discussões teóricas,
nos quais o conhecimento se constrói na disputa sobre a verdade inerente a
conceitos e estruturas referenciais (CLEGG; HARDY, 1996). “Em qualquer momento
histórico, os Estudos Organizacionais sempre foram constituídos por linhas comuns
de debate e diálogo, que estabeleceram os limites intelectuais e oportunidades para
julgamento de novas contribuições” (REED, 1998, p. 64).
Para Clegg e Hardy (1996, p. 03) os estudos organizacionais correspondem a
“uma série de conversações, em particular aquelas dos pesquisadores dessa área,
que ajudam a constituir as organizações por meio de termos derivados de
paradigmas, métodos e suposições”. As tradições do discurso e as práticas pelas
quais os membros das organizações se engajam podem ser refletidas, reproduzidas
e refutadas pelas conversações (vozes envolvidas).
As formas de construção cognitiva da realidade, inseridas em uma tradição de
pesquisa, que incluem estruturas de raciocínio, pressupostos e base epistêmica para
o desenvolvimento da teoria e da observação empírica dos fenômenos sociais,
constituem o que se pode chamar de paradigma. Os paradigmas devem ser
entendidos como sistemas de crenças básicas, princípios e pressupostos,
apresentados por Morgan (1980), que dizem respeito às seguintes dimensões: (a)
natureza da realidade investigada (ontológico); (b) modelo de relação entre o
investigador e o investigado (epistemológico); e (c) modo em que se pode obter
conhecimento da dita realidade (metodológico).
A discussão acerca dos paradigmas teóricos teve origem na obra de Thomas
Kuhn em 1962, onde muitos pesquisadores passaram a ver suas disciplinas de
forma paradigmática. Khun (1986) considera os paradigmas como relações
científicas universalmente reconhecidas que, durante certo tempo, proporcionam
modelos de problemas e soluções a uma comunidade acadêmica, que inclui o
compartilhamento de uma constelação de crenças, valores e técnicas.
O paradigma serve, pois, para definir o que se deve estudar, as perguntas e
regras que se necessita seguir para interpretar as respostas obtidas. Torna-se,
portanto, o paradigma, um modelo ou padrão aceito por determinados cientistas,
24
estabelecido como uma unidade geral de consenso dentro de uma ciência e serve
para diferenciar uma comunidade científica de outra, corrobora Gurdián-Fernádez
(2007).
Nessa perspectiva, Burrel (1998) comenta que teóricos organizacionais
buscaram estabilizar o campo delimitando-o em quatro paradigmas divididos em
compartimentos estanques: humanista radical, estruturalista radical, interpretativo e
funcionalista. O clássico estudo de Burrell e Morgan (1979) confirma a pluralidade de
enfoques paradigmáticos, podendo ser usados no estudo das ciências sociais e nas
organizações, além de ser um instrumento de análise do conhecimento.
As teorias de regulação no estudo de Burrel e Morgan (1979) partem do
pressuposto de que a sociedade moderna é caracterizada mais pela ordem do que
por conflitos – debate surgido entre a sociologia interpretativa e funcionalismo.
Enquanto que as teorias de mudanças radicais vislumbram que a relação social é
condicionada por pressões contraditórias muito mais do que forças de continuidade
e transformação, resultando na polarização em dois campos: subjetivo e objetivo
(BURREL; MORGAN, 1979).
Na medida em que se investigou como distinguir entre diferentes abordagens
direcionadas ao estudo organizacional, elas passaram a sustentar os grandes
debates filosóficos entre cientistas sociais de tradições intelectuais rivais. Ao realizar
ligações cruzadas entre as tradições intelectuais antagônicas, se tornou evidente
que os dois conjuntos de pressupostos poderiam ser colocados um contra o outro
para produzir um esquema analítico para o estudo da teoria social em geral: os dois
conjuntos definiam quatro paradigmas básicos refletindo visões da realidade social
absolutamente diferente. Assim, o esquema proposto ofereceu uma forma de mapa
intelectual mediante o qual as teorias sociais poderiam ser localizadas de acordo
com suas fontes e tradições (BURREL; MORGAN, 1979).
Entretanto, mais do que um molde classificatório ou a intenção de catalogar
um número limitado de alternativas disponíveis para os estudos organizacionais
(CLEGG; HARDY, 2007), o caráter excludente dos paradigmas no estudo de Burrel
e Morgan tornou-se o maior alvo de críticas (CLEGG; HARDY, 1996). Isto é, o
isolamento de cada paradigma impediu as chamadas conversações e ao mesmo
tempo salvaguardou os paradigmas alternativos de serem dominados pelo
mainstream representado pelo funcionalismo. Desta maneira, tal estudo pretendia
ser uma estratégia defensiva que legitimasse um espaço no qual os enfoques
25
alternativos de pesquisa pudessem se aprimorar resguardados do alvo dos
funcionalistas. Apesar de o funcionalismo ter constituído por décadas a visão
tradicional na pesquisa científica em estudos organizacionais, verificamos o
surgimento de outras vertentes: interpretacionismo e referenciais críticos e pósmodernismo nas últimas décadas.
Na pesquisa social contemporânea, Gephart (1999) classifica os métodos de
investigação
nas disciplinas sociais,
agrupando-os conforme
os seguintes
paradigmas epistemológicos: positivismo, interpretativismo e pós-modernismo
crítico. Para o autor, essas três tradições são paradigmas ou visões de mundo que
perfazem a formação social, organizacional e de gestão da investigação. Eles são
distintos, mas não muito distantes um do outro. Gephart (1999) afirma ainda que, se
estas formas divergem entre si, convergem, por outro lado, para tornar um sistema
integrado na análise de múltiplos paradigmas, talvez seja a próxima questão
metodológica relevante diante do campo organizacional.
Outra classificação alternativa é a apresentada por Lincoln e Guba (2006):
positivismo, pós-positivismo, teoria crítica e afins, construtivismo e participativo. Tais
paradigmas são considerados como pós-modernistas e não são mutuamente
excludentes, podendo estabelecer alguma intersecção entre si. Os paradigmas e
suas especificações são apresentados no Quadro 2.
Quadro 2: Crenças básicas dos paradigmas investigativos alternativos
Paradigmas
ONTOLOGIA
EPISTEMOLOGIA
Positivismo
realismo ingênuo - realidade
"real" mas inteligível
dualista / objetivista
descobertas verdadeiras
realismo crítico - realidade
"real", mas apenas
imperfeitamente e
probabilisticamente inteligível
(apreensível)
realismo histórico - realidade
virtual influenciada por
valores sociais, políticos,
econômicos, étnicos, de
gênero cristalizados ao longo
do tempo
relativismo - local e
realidades especificamente
construídas
objetivista / dualista
modificada; tradição
crítica/comunidade;
descobertas provavelmente
verdadeiras
Póspositivismo
Teoria Crítica
e afins
Construtivismo
Participativo*
realidade participativa realidade subjetiva objetiva,
co-criada pela mente e por
um dado cosmos
METODOLOGIA
experimental /
manipuladora; verificação
de hipóteses, métodos
sobretudo quantitativos
experimental modificada /
manipuladora, multiplismo
crítico, falseamento de
hipóteses, pode incluir
métodos qualitativos
transacional /subjetivista;
descobertas mediadas por
valores
dialógica / dialética
transacional /subjetivista;
descobertas criadas
hermenêutica / dialética
subjetividade crítica na
transação participativa com
o cosmos, epistemologia
ampliada do saber
experimental, proposicional
e prático; descobertas cocriadas
participação política na
investigação de ação
colaborativa; primazia do
prático; uso da linguagem
baseado no contexto
experimental compartilhado
26
* Os itens desta linha baseiam-se em Heron e Reason (1997).
Fonte: Adaptado de Lincoln e Guba (2006, p. 173).
Presenciamos o surgimento de uma consciência da descontinuidade, da não
linearidade, da diferença e da necessidade do diálogo (PRIGOGINE, 1994), aonde
as bases epistemológicas dos métodos e das ciências foram, desde a década de
1950, replanejadas. Chia (2000) comenta que, a questão do discurso e a maneira
como ele orienta a epistemologia do homem e o entendimento da organização, torna
possível a expansão do domínio na análise organizacional.
A teoria crítica é considerada transdisciplinar de tal modo que, num nível
epistemológico, utiliza-se de métodos e categorias teóricas que descrevem a
realidade como campo dialético contraditório sujeito a riscos e vantagens. No nível
ontológico, a realidade se capta em termos que afrontam questões de posse,
propriedade privada, distribuição de recursos, lutas sociais, poder, controle de
recursos, exploração e dominação, de maneira no nível axiológico as estruturas
dominantes se julgam como sendo indesejáveis e se identificam modos potenciais
de aliviar o sofrimento e estabelecer uma sociedade cooperativa e participativa
(FUCHS, 2009).
As organizações, por serem construções sociais dinâmicas e contraditórias,
nas quais convivem estruturas formais e subjetivas, manifestas e ocultas, concretas
e imaginárias, necessitam ser investigadas. Buscar a verdade, questionar a
realidade e ir além do visível, são imperativos utilizados que qualificam o
pensamento crítico.
Logo após a revolução kuhniana dos anos 1960, o debate epistemológico
acerca da incomensurabilidade dos paradigmas chegou ao corpus da administração,
apresentando suas limitações e potencialidades (AGÜERO, 2007). Emergida nos
estudos organizacionais no final da década de 1970 e começo dos anos 1980
(BURREL; MORGAN, 1979; ALVESSON; DEETZ, 2007), a Teoria Crítica busca
esclarecer as instâncias obscuras e manifestas que “dão conteúdo às configurações
do poder” (FARIA, 2009, p. 513) nas organizações com suas contradições e
paradoxos. Desse modo, afirma Faria (2007, p. 10), a Teoria Crítica em estudos
organizacionais segue os pressupostos frankfurtianos, baseia-se no materialismo
histórico e dialético, na práxis dos sujeitos, no processo coletivamente construído, na
interação do sujeito com o real, bem como na dinâmica dos acontecimentos em
detrimento dos cortes estáticos.
27
O que determina a forma dialética de se apropriar do real é o movimento e
as relações contraditórias do objeto de estudo. Sendo assim, “tanto o pesquisador
quanto o objeto estão em movimento e, portanto, em uma condição em que ambos
se constroem durante a trajetória da investigação” (FARIA, 2007, p. 32). A realidade
existe conscientemente para o sujeito, sendo o processo de interação capaz de lhe
fazer perceber o real segundo seu esquema de assimilação (ação do sujeito sobre o
objeto) e acomodação (ação do objeto sobre o sujeito) “construído ao longo do seu
desenvolvimento cognitivo e de suas relações sociais” (FARIA, 2007, p. 32).
Simultaneamente, por meio desta interação dialética, desencadeia-se uma
reelaboração da leitura do real.
Na área de Administração existe “muita confusão em torno da teoria crítica”
(VIEIRA, CALDAS, 2007). Parte desse conflito deve-se ao desconhecimento por
parte dos usuários a respeito de sua origem e fundamentos teóricos; outra parte ao
oportunismo comumente encontrado nas áreas aplicadas. Na intenção de
caracterizar a Teoria Crítica, Faria (2007) apresenta seis categorias analíticas gerais,
extraídas da discussão sobre o pensamento crítico e a teoria das organizações
(FARIA; MENEGUETTI, 2004), sintetizadas no Quadro 3.
Quadro 3: Categorias analíticas gerais da teoria crítica
Categorias
Contradições
Caracterização
Os fatos se transformam e a realidade nega-se com o passar do tempo. As
aparências nem sempre denunciam as mudanças das essências. São
consequências naturais de uma sociedade que constrói (ou destrói), de acordo
com as condições materiais de existência.
Ideologia
Fragmenta a compreensão e parcializa a consciência. Consequências naturais de
Dominante
uma “prisão social” que impossibilita o indivíduo compreender sua própria
existência histórica.
Racionalidades
Criadas para legitimar as ideias e os valores morais de grupos sociais que tentam
Dominantes
mascarar a realidade para manter seus privilégios.
Contexto Social Não é possível entender o desenvolvimento de um determinado fato social sem
Histórico
entender sua trajetória histórica.
Emancipação
Busca incessante de autonomia do indivíduo e da sociedade, alimentada na
capacidade de criar sua própria história, desempenhando papel ativo sobre os
problemas relevantes de interesse coletivo.
Conscientização Estar ciente de si mesmo, das próprias percepções, sentimentos e emoções,
Individual
e compreendendo a realidade por meio do esforço coletivo. Envolve a capacidade
Coletiva
coletiva de pensar.
Fonte: Adaptado Faria (2007, p. 7-8).
No intuito de esquematizar uma organização no campo de estudos
organizacionais críticos, Faria (2009) propõe uma matriz dividida em quatro grandes
áreas (Figura 2), a saber:
28
Figura 2 – Áreas de Estudos Organizacionais Críticos
Teoria Crítica
Frankfurtiana
Teoria Crítica em
Estudos
Organizacionais TCEO
Estudos
Organizacionais
Críticos
Critical
Management
Studies - CMS
Análise Crítica em
Estudos
Organizacionais ACEO
Fonte: Faria (2009, p.512).
Segundo Faria (2009, p.511), as áreas de estudos organizacionais críticos
abordam: (a) teoria crítica frankfurtiana – independentemente de qual seja a geração
a que se filia, se baseia em estudos sociais e segue as orientações teóricas e
filosóficas da Escola de Frankfurt; (b) teoria crítica em estudos organizacionais baseada no marxismo em seus estudos e pesquisas no campo das organizações,
com ênfase na centralidade do trabalho (processo e relações de trabalho, divisão do
trabalho e gestão do processo de trabalho), que contempla, além dos estudos
frankfurtianos, outras dimensões, tais como a psicologia sócio-histórica, a
psicossociologia crítica, as formas democráticas de gestão (autogestão social e
organizações coletivistas de trabalho), as análises sobre Estado, poder e classes
sociais etc., área essa à qual o autor denomina de ‘economia política do poder em
estudos organizacionais’; (c) critical management studies - alicerçado em estudos
críticos em gestão na perspectiva da gestão, cuja referência depara-se nos estudos
conduzidos principalmente por Alvesson e Deetz (2007) e Alvesson e Willmott
(1992); análise crítica em estudos organizacionais – com base em estudos segundo
novas dimensões, como o pós-estruturalismo de Foucault, o pós-modernismo de
29
Lyotard, as análises institucionais de Lourau e Lapassade, o simbolismo de
Bourdieu, o imaginário de Castoriadis e a teoria da complexidade de Morin, entre
outros afirma o autor. São análises críticas não marxistas e não frankfurtianas que
estudam as organizações, do ponto de vista das relações de poder.
Agüero (2007) comenta que a teoria crítica tem realizado importantes
contribuições aos estudos organizacionais, dentre elas, destacamos: (a) análise de
trajetória, favorecendo a passividade dos membros da organização, para poder
manipula-los; (b) análise da ambiguidade, das contradições e dos códigos na ação
comunicativa organizacional; (c) pensamento estreito que gera a dominação da
razão instrumental e do código de dinheiro; (d) condições de trabalho oprimidas,
onde a criatividade, a mudança, o desenvolvimento e os significados são ignorados
ou submissos a valores instrumentais; (e) relações sociais assimétricas entre
expertos (incluindo as elites administrativas) e não expertos; (f) extensão do controle
sobre os empregados e ocultação de sua realidade social; (g) controle sobre os
consumidores e agenda sócio-ética-política priorizando o código do dinheiro; (h)
destruição do meio ambiente; (i) falsa aparência de objetividade e imparcialidade das
técnicas de administração utilizadas nas organizações; (j) dominação de grupos,
ideias e instituições; (k) conflitos entre a razão prática (ação comunicativa) e razão
instrumental (maximização de resultados).
Ao analisar as publicações de 1985 a 1989, com base nos paradigmas de
Burrell e Morgan (1979), a análise organizacional no Brasil, em revistas,
dissertações e teses,
segundo Davel e Alcadipani (2002), encontrava-se
amplamente situada no paradigma funcionalista e com uso minoritário de
paradigmas radicais, quiçá uma ausência total de perspectivas críticas ou radicais.
O engajamento dos pesquisadores e teóricos brasileiros na análise crítica
em Administração e, por conseguinte, a produção crítica no Brasil ainda é muito
reduzida, cerca de 2,16% conforme os achados de Davel e Alcadipani (2002), ainda
que seja possível identificar reconhecidos estudiosos críticos nacionais, dentre eles,
Guerreiro Ramos, Maurício Tragtenberg e Fernando Prestes Motta. Antes mesmo do
período de articulação e surgimento do movimento crítico anglo-saxão na década de
1990, tais estudiosos se propuseram a submeter a administração e os estudos
organizacionais ao crivo crítico. E, a realidade brasileira, corroboram Alcadipani e
Tureta (2009, p.506), “não cessa de dar motivos para o desenvolvimento de uma
30
abordagem crítica não dogmática e que esteja calcada na prática das organizações
brasileiras”.
Alvesson e Deetz (2007, p. 237) esclarecem que estudos críticos tem
destaque merecido no
campo organizacional ao enriquecer a
“base
do
conhecimento, a melhoria do processo de decisão e os aumentos na ‘aprendizagem’
e na adaptação”. Davel e Alcadipani (2003) reforçam que a abordagem crítica é
capaz de promover nas pessoas uma postura vigilante, de reflexão e de
questionamento a respeito do que se difunde no plano da teoria administrativa e da
prática organizacional.
A partir da perspectiva da Teoria Crítica, em específico na área de estudos
críticos em gestão, procuramos responder nesta pesquisa questões relacionadas ao
discurso da sustentabilidade às quais organizações estão sujeitas, em busca da
compreensão da vida e dinâmica organizacional.
Neste estudo, a maneira como o discurso da sustentabilidade é manifestado
tanto no âmbito institucional quanto no midiático, seguem as alternativas a serem
abordadas, sugeridas por Wood Jr. (2007), ao se referir a pesquisas que envolvem o
paradigma da Teoria Crítica. Para o autor se faz necessário:
[...] explorar a manipulação de imagem e da retórica como instrumentos de
controle social nas organizações; explorar as múltiplas narrativas no âmbito
de processos de mudança, indo além do discurso oficial e dando voz aos
críticos e descontentes; [...] analisar em profundidade os processos de
fragmentação de identidade (individual e organizacional), especialmente nos
processos de privatização; desenvolver uma crítica sistemática a discursos
pseudomodernizantes (qualidade total, competências organizacionais etc.) e
novos tipos ideais (learning organization, empresa flexível etc.) (WOOD JR,
2007, p. 268).
Segundo Tenório (2002), a Teoria Crítica por ser reflexiva, procura investigar
as interconexões recíprocas dos fenômenos sociais e observar tais fenômenos numa
relação direta com as leis históricas do momento na sociedade, ou da organização
estudada. Desta maneira, na perspectiva teórico-crítica, o homem não pode ser visto
isoladamente de seu contexto social (TENÓRIO, 2002). Para Simões et al. (2006, p.
105) “a ação, o pensar, o construir e o viver de acordo com uma abordagem crítica
requer esforço e autoquestionamento contínuo, uma vez que vivemos em uma
sociedade com organizações que contrapõe na prática qualquer argumento de
formato mais crítico”.
31
De acordo com Faria (2007, p. 05), a Teoria Crítica fundamenta-se em
critérios específicos para análise social e que “seu atributo é o de questionar e
transformar a realidade social, amparada em fundamentações teóricas que procuram
entender tanto as relações sociais quanto os sujeitos e sua inserção nestas
relações, bem como nos grupos e organizações”.
A Teoria Crítica (TC), por sua vez, tem seu sustento, segundo Vieira e Caldas
(2007, p. 294), no postulado de que “é possível mostrar as coisas como realmente
são, senão a partir da perspectiva de como elas deveriam ser”. Esta temática avança
suas discussões na comunidade acadêmica, marcando forte presença no campo
organizacional. Para Paes de Paula et al. (2010), o crescente interesse por
pesquisas nesta temática está propagado internacionalmente em fóruns e debates,
além de periódicos nacionais como a Revista de Administração de Empresas (RAE)
e a Revista de Administração Contemporânea (RAC) e eventos nacionais como o
EnANPAD (Encontro Nacional da Associação de Pós-Graduação em Administração)
e EnEO (Encontro de Estudos Organizacionais).
Diante do exposto, esta pesquisa está inserida no paradigma da Teoria
Crítica e tal escolha paradigmática é justificada pelos motivos que seguem: (1)
admite um olhar investigativo crítico de uma interpretação e de um questionamento
da realidade, indo além do dito e não dito, no intuito de compreender o discurso da
sustentabilidade divulgado nas organizações e o que se relata na mídia sobre as
práticas de sustentabilidade destas empresas; (2) procura desenvolver uma crítica
sistemática
a
discursos
pseudomodernizantes
relacionados
à
questão
da
sustentabilidade, retratados, por exemplo, no Relatório de Sustentabilidade e novos
tipos ideais rotulados pelas organizações (empresa ecologicamente correta;
empresa verde; empresa sustentável etc.); (3) o conflito entre dois interesses
antagônicos vivenciados por parte das organizações – de um lado a necessidade de
preservar e sustentar o planeta, de outro a incessante busca desenfreada por lucro
imediato – faz refletir posturas contraditórias no discurso versus prática, perfazendo
uma das categorias analíticas gerais que caracterizam a Teoria Crítica; (4) enquanto
método, o potencial desmitificador da Análise Sociológica do Discurso (ASD) permite
revelar o discurso da sustentabilidade tanto nas organizações, por intermédio de
textos e imagens, quanto na mídia, considerando a questão social e os espaços
comunicativos concretos que se formam e elaboram os discursos dos atores como
práticas significantes.
32
A escolha deste posicionamento paradigmático ratifica a contribuição da
Análise do Discurso nos estudos organizacionais (HARDY, 2001), pois oferece um
instrumento fortalecedor de estudos críticos revelando aspectos como assimetria de
poder e transmissão da ideologia organizacional. Alonso e Callejo (1999) defendem
a ASD como uma reconstrução crítica, ligada principalmente à situação e a
contextualização histórica de enunciação18.
18
Foucault (1969, p.170) utiliza o termo enunciação para referir-se a “um acontecimento que não se
repete; possui uma singularidade situada e fechada que não se pode reduzir.” Enquanto que o
enunciado tem a propriedade de poder ser repetido sob certas condições, a enunciação somente
pode ser reiniciada ou revocada.
33
3
POSICIONAMENTO TEÓRICO
Este capítulo está dividido em duas seções que buscam contribuir para o
arcabouço teórico da pesquisa. Primeiramente, discutimos a questão das
organizações vistas como discurso. Na segunda parte, abordamos a origem e
conceitos de sustentabilidade, procurando distinguir este termo à expressão
desenvolvimento sustentável.
Nesta última seção do capítulo, também destacamos as práticas relacionadas
à sustentabilidade, os principais relatórios de sustentabilidade entendidos como um
instrumento de comunicação, e finalizamos com o debate acerca da sustentabilidade
e o discurso midiático.
3.1
Organizações vistas como discurso
Nas últimas décadas, no campo de estudos organizacionais, comenta
Cornelsen (2009, p. 22), o conceito de discurso tem sido muito vistoso, “não só pelo
crescente número de contribuições que enfocam a sua aplicabilidade na área, como
também buscam por uma definição teórica que possa delimitá-lo com maior
propriedade a partir da perspectiva organizacional”.
Para Teixeira (2010, p.65), as empresas podem ser entendidas como
instituições-organização. Como instituição, elas “decorrem do engenho humano, são
reconhecidas no seio social e são voltadas a determinado fim, para o qual utilizam
os meios objetivos disponíveis”. Enquanto organizações, as empresas “observam
relações de hierarquia e cooperação previamente estruturadas com as pessoas com
que interagem”. As organizações têm uma duração relativamente estável e estão em
constante interação com o meio ambiente que os rodeiam (PEIRÓ, 1983). Numa
definição linear, isto é, numa perspectiva mais restrita, Peiró (1983) define as
organizações como sistemas sociais particulares, constituídas por indivíduos ou
grupos, reunidas de maneira voluntária ou não a fim de obter uma série de
finalidades ou determinados objetivos, para o qual estabelecem um sistema de
34
diferenciação de funções, regras e tarefas além de um sistema de articulação e
coordenação dos mesmos.
No novo contexto interativo em que as organizações vivenciam já não é mais
suficiente comunicar-se por meio de um modelo linear de significados particulares e
decisões unilaterais. Em condições turbulentas, o desafio das organizações
encontra-se na participação e comunicação aberta e interativa, o que exige um
diálogo com confiança e credibilidade entre o que elas dizem e o que fazem
(STROH; JAATINEN, 2001; TIXIER, 2003).
O discurso, as ações e os significados são configurações mediante as quais a
ideologia se apresenta de modo natural e legítimo as organizações, bem como a
maneira em que os grupos subordinados participam em sua própria dominação
(DEETZ; KERSTEN, 1983; MUMBY, 1988).
Assim, a maneira como uma organização é percebida pela opinião pública
depende de suas estratégias discursivas, que determinam os efeitos de sentido,
sentido este definido não como algo em si, mas ter ‘relação com’ (CANGUILHEM,
2006). O homem tem a capacidade de brincar com o sentido, desviá-lo, simulá-lo,
mentir, ou mesmo criar armadilhas, complementa Canguilhem (2006).
No uso de estratégias discursivas, as empresas estão sujeitas às influências
de contextos e repertórios (LOOSE; PERUZZOLO, 2008), além das possibilidades
de fuga e desvio oportunizadas no percurso que existe entre enunciador e
enunciatário. Para Duarte (2004, p. 42), a estratégia discursiva envolve um projeto
concreto que corresponde a determinados critérios de seleção e relevância, que diz
respeito a decisões tomadas no processo produtivo, responsáveis ainda em optar
por mecanismos de expressão apropriados à manifestação de conteúdos desejados.
Eco (1986, p. 39) atribui ao texto como “um produto cujo destino interpretativo
deve fazer parte do próprio mecanismo gerativo. Gerar um texto significa executar
uma estratégia de que fazem parte as previsões dos movimentos dos outros”.
Complementarmente, segundo Charaudeau (2007), comunicar e informar são
escolhas. Neste caso, trata-se de escolher, com efeitos de sentido, estratégias
discursivas que busquem influenciar o outro.
Para Hardy, Palmer e Philips (2000), a estratégia é constituída em forma de
discurso que legitima e produz atividade, na qual a realidade social é criada por
entre a produção de discursos por meio da mobilização de conceitos, objetos e
35
posições, e estes estão dispostos em circuitos estratégicos relativos à enunciação,
ao desempenho e à conectividade.
As relações institucionais, conforme Girard (2003):
[...] se expressam no contrato que se estabelece entre quem fala / escreve e
aquele que ouve / lê. Tais relações se inscrevem num contexto de regras
estratégicas conhecidas e respeitadas pelos parceiros do jogo verbal que se
atribuem papéis e decidem como organizar seus discursos em função dos
enunciados produzidos / a produzir no tempo e local definido por eles
(GIRARD, 2003, p. 10).
É possível observar a diversidade numa organização a qual pode ser
estudada, evidenciada e compreendida através dos discursos que a permeiam
(GRANT; KEENOY; OSWICK, 1998), em busca de uma integração entre estudos
organizacionais e abordagens (MUMBY; CLAIR, 1997). Nesta mesma direção, Clegg
(1996, p. 65) afirma que “a organização enquanto esfera política de linguagens é um
campo permanente de estudos”.
Carrieri e Sarsur (2004, p. 134) destacam que “os discursos desempenham
papel ativo na passagem do subjetivo (significações dadas pelos atores
organizacionais aos processos e práticas gerenciais e à identidade da organização)
para o objetivo (linguagem escrita e falada)”, tornando-os uma fonte preciosa de
conhecimentos sobre o contexto organizacional. Barry e Elmes (1997) ao estudar as
organizações como narrativas, identificaram a presença de diversos personagens
(atores), além das variadas e interligadas visões de mundo.
Neste sentido, o novo cenário organizacional (ALLEDI FILHO, 2002) permite
vislumbrar a complexidade de interação existente entre atores, principalmente no
que tange ao processo comunicacional, como mostra a Figura 3. O cenário dos
negócios se apresenta como uma grande teia, na qual a organização se interrelaciona com outros atores. Neste sentido, há o imperativo da transparência na
ações organizacionais, indo além da obrigatoriedade de revelar informações
contábil-financeira básica.
36
Figura 3 - O Novo Cenário dos Negócios
Fonte: Alledi Filho (2002).
Pimentel, Carrieri e Cabral (2005) ressaltam que os atores organizacionais,
por meio de discurso(s), procuram construir suas visões de mundo, suas
significações e representações a respeito da gestão organizacional. Tais atores
dispõem ainda seus valores e comportamentos, bem como firmam seus papeis e
vínculos com a própria organização, o que faz remeter a uma ideologia
organizacional. Para Orlandi (2009, p. 17), “não existe discurso sem sujeito e não há
sujeito sem ideologia: o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia e é assim
que a língua faz sentido”.
Constituída em várias dimensões das práticas discursivas19, a ideologia
contribui para a produção ou a transformação das relações de dominação,
comentam Costa e Carvalho (2005). Para estes autores, ao assumir a premissa de
que nenhuma linguagem é neutra, é possível afirmar que alguns usos da linguagem
e de outras formas simbólicas são ideológicos, os quais estabelecem e mantêm, em
circunstâncias específicas, relações de poder e dominação. A ideologia, sob uma
perspectiva micro, a de visão de mundo, trata de “um conjunto relativamente bem
sistematizado de categorias que fornecem um ‘arcabouço’ para a crença, a
percepção e a conduta de um grupo de indivíduos”, argumenta Eagleton (1997, p.
49).
19
A esse respeito, Fernandes (2008, p. 40) comenta que “a interação envolve a natureza dos
processos de produção do discurso, também chamado de prática discursiva”. Considerando a prática
social, ao ser produzido e interpretado, “o discurso constitui uma ação social em um contexto
situacional, ideologicamente marcado”.
37
Sob a perspectiva organizacional, a visão social de mundo carregada pela
ideologia direciona-se para a ação do indivíduo, de modo a ser objeto de atenção,
compreendendo-se uma melhoria em seu desempenho mediante a adesão aos
preceitos da organização. É por meio da da ideologia “que se interioriza e se aceita a
regra da organização, possibilitando a conquista do indivíduo e obtendo como
resultado final a manutenção da ordem interna e, consequentemente, um ganho de
produtividade” (MORAIS; PAES DE PAULA, 2010, p. 04).
O discurso organizacional torna-se, portanto, um dos mecanismos pelo qual a
organização cria uma realidade social (FARIA; MENEGHETTI, 2001) fundamentado
na percepção ou na projeção de sua identidade, permitindo assimilar com clareza a
organização como um fenômeno de linguagem (BOJE; OSWICK; FORD, 2004).
Chanlat e Bédard (1996) destacam que este fenômeno de linguagem é uma forma
de ação que não se apresenta neutra, atravessada por pressupostos ideológicos e
relações de poder que necessitam da legitimidade na sociedade. Morais e Paes de
Paula (2010, p. 637) alertam que:
O discurso organizacional, muito além da manutenção da coesão interna,
forma indivíduos silentes, irrestritamente adeptos da empresa. Como
resultado, cala-se a possibilidade de questionamentos e divergências. O
trabalhador está adequado ao que preconiza a organização.
Consensualmente, afirma Vilaça (2008), o discurso organizacional tem sido
considerado uma maneira de moldar, por meio de informações difundidas, a
percepção das pessoas a respeito da organização. Para Grant, Keenoy e Oswick
(2001), discurso organizacional refere-se às linguagens e aos meios simbólicos por
meio dos quais as dinâmicas consideradas como vida organizacional são descritas,
representadas e interpretadas.
As formas discursivas nas organizações são variadas e podem ser permitidas
ou apenas suportadas no ambiente organizacional. No estudo de Faria e Meneghetti
(2001) são sugeridas quatro formas, com base nas lógicas dos discursos e das
ideologias envolvidas: (1) discurso social comum: apresenta-se como o repertório
cotidiano. O universo simbólico é compartilhado pela coletividade e a utilização
destes obedece aos lugares-comuns. Nas organizações, é a utilização das
expressões simbólicas aplicáveis a todos, nos quais há o compartilhamento no
processo de construção do discurso praticado pela maioria. As expressões utilizadas
e os padrões coloquiais das palavras obedecem a um padrão que identificam seus
38
usuários a uma organização em comum; (2) discurso ideológico: é a convocação e o
impulso dos agentes coletivos no agir em defesa de seus interesses objetivos. O
discurso ideológico está presente nas organizações em diversas camadas
hierárquicas e nos diversos grupos que compõe uma organização. Neste nível de
discurso não há o uso livre da palavra, na qual as organizações procuram por
intermédio das regras formais e informais, do controle dos grupos, da persuasão ou
de outros mecanismos controlar o discurso dos indivíduos ou dos grupos que
apresentem formas ideológicas divergentes com a desejada pelo grupo dominante;
(3) discurso democrático reflexivo: corresponde ao saber racional. Apesar do
discurso democrático ser defendido como práxis organizacional, se os indivíduos
questionarem todas as práticas políticas, econômicas e sociais estabelecidas na
organização, encontrarão muitas questões que deveriam ser modificadas de
imediato, pondo em risco o atual sistema que move a organização. O discurso
democrático reflexivo, por possibilitar a produção sistematizada da crítica, é
percebido como uma ameaça nas organizações porque quebra a lógica dominante e
embute o gérmen do enfrentamento nas relações de poder; (4) discurso teológico: é
a prática do saber mítico, metafísico, crente ou mágico. É o uso da causalidade
fugindo da racionalidade instrumental, organizando os “credos religiosos” e os
dogmas na organização. Este discurso é inevitável, já que não havendo somente
uma racionalidade instrumental, o indivíduo sente necessidade de estabelecer
relações com um mundo de mitos e idolatria, por meio de discursos que atribuem a
certos membros da organização capacidades mágicas e poderes acima de uma
pessoa comum.
Depende da dinâmica das relações de poder a formulação e a aceitação
destes discursos (social comum, ideológico, reflexivo ou teológico), sejam eles total
ou parcialmente suportados. Segundo Alcadipani (2008, p.112), “ir além das noções
estabelecidas é sempre oportuno para tentar compreender um pouco mais as
organizações, o poder em ação em contexto organizacional e como os espaços de
resistência existem e podem existir”.
Para Faria e Meneghetti (2001), a leitura dos discursos torna-se um
instrumento valioso na análise organizacional, seja este falado ou escrito (dito), seja
subtendido, imaginário, ou simbólico (não-dito). Como bem assinalam Álvarez e
Caballero (1997), o discurso institucional expressa valores, ideologia e a missão da
empresa, e a comunicação desta se dirige para um coletivo e aponta para uma
39
relação cultural mobilizadora. A inquietação, revela Faerman (1979), não é o que
está relatado, porém o que vem por restante, o escamoteado e o indizível, o não-dito
(conteúdos e enunciadores silenciados) que pode funcionar não para silenciar, mas
expor o olhar do leitor à realidade.
Toda essa comunicação institucional, chamada por algumas Escolas de
Administração de comunicação organizacional, é interpretada como figura doutrinal e
profissional confiada à descoberta, explicação e divulgação da identidade
organizacional. Lucas Marín (1997, p. 103) a define como sendo o processo pelo
qual “os membros juntam a informação pertinente acerca de sua organização e das
mudanças que ocorrem nela”. A comunicação institucional é designada como um
“sistema coordenador entre a instituição e seus públicos que atua para facilitar a
consecução dos objetivos específicos de ambos e, por meio dele, contribuir ao
desenvolvimento nacional” (MURIEL; ROTA, 1980, p. 31).
Neste contexto, Ballalai (1989) comenta que estudos organizacionais se
produzem por meio de discursos sucessivos assinalados por várias ideologias e,
consequentemente, por posições claramente comprometidas. Para o autor, o
discurso da administração:
se faz, como qualquer outro discurso científico da área humana, com
significados explícitos ou latentes. A análise desses significados poderá
trazer uma importante contribuição para melhor precisar os conceitos de
administração, sobretudo porque esse discurso não é um discurso acabado,
fechado, concluído. Ele estará permanentemente se construindo, fazendose nas suas coerências e nas suas contradições (BALLALAI, 1989, p. 61).
Haidar (1998) destaca que as dimensões tanto explícitas – aquilo dito no
discurso, o que se encontra verbalizado na superfície discursiva – quanto implícitas
– o sentido que se infere e que tem no dito explicitamente um suporte – são
constituídas de qualquer discurso.
Viabilizar estratégias organizacionais em prol do desenvolvimento sustentável
e, consequentemente, da sustentabilidade, advertem Guevara et al. (2009), trata-se
de num esforço de ruptura com antigos paradigmas que advém a partir de uma visão
ecossistêmica. A preocupação com o meio ambiente não mais representa uma
postura exclusiva de proteção, tornando-se uma variável a ser considerada na
gestão organizacional. Nesta mesma direção, Almeida (2002, p. 25) comenta que:
40
As empresas mais pressionadas pela opinião pública buscavam tomar
‘banhos de verde’, recorrendo às pressas à ajuda de especialistas em
marketing, na tentativa de mudar a imagem comprometida por décadas, às
vezes séculos, de descaso ambiental. Faltava às empresas formular seu
papel no mundo da sustentabilidade.
O atual momento da gestão e comunicação institucional caracteriza-se, pois,
entremeado por algumas inquietações:
Preocupações com o aprofundamento da consciência das pessoas nas
questões macro-ambientais constituem, evidentemente, um comportamento
político por parte das Relações Públicas, fazendo disso uma meta prioritária
na postura profissional atenta aos diversos cenários de atuação da
empresa. [...] As instituições respeitam a multiplicidade de interesses que as
cercam, e avançam para um posicionamento de Transmarketing quando
reconhecem que os indivíduos e os grupos sofrem incessantemente as
influências do ambiente externo (FORTES, 1999, p. 101).
Alguns fatores contribuíram para a mudança comportamental perante a
questão ambiental, reforça Maimon (1994): (a) a opinião pública tem estado muito
sensível às questões ambientais; (b) a expansão do movimento ambientalista vem
contribuindo para uma considerável experiência técnica e organização política, seja
no endosso de produtos ecológicos, seja na elaboração e avaliação dos Estudos de
Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto do Meio Ambiente (RIMA), ou na
difusão de tecnologias alternativas entre outras ações.
O movimento ambientalista no Brasil tornou-se um movimento multissetorial
constituído nessa última década do século XX, de acordo com Viola (1996, p. 27),
principalmente, por: (i) ONGs e grupos comunitários que lutam pela proteção
ambiental tanto nacional como internacionalmente; (ii) agências estatais; (iii) grupos
e instituições científicas de pesquisas; (iv) um setor de administradores e gerentes
que implementam um paradigma de gestão dos processos produtivos baseados na
eficiência no uso dos materiais, na conservação da energia, na redução da poluição,
no ecodesign e na qualidade total; (v) um mercado consumidor verde que demanda
entre outras coisas alimentos de uma agricultura orgânica, automóveis e
eletrodomésticos de alta eficiência energética, papel reciclado, recipientes
reutilizáveis, produtos que tenham sido produzidos usando tecnologias limpas e a
partir de matérias-primas produzidas de modo sustentável; (vi) redes multissetoriais
que estabelecem e certificam o caráter sustentável dos processos de produção, de
transporte e o ciclo de vida dos produtos; e (vii) agências e tratados internacionais.
41
Contudo, para se tornar sustentável, uma empresa precisa ir além do discurso
de produzir e vender. É necessário que procure agir como um agente que promove o
desenvolvimento sustentável da sociedade e, principalmente, das comunidades
vizinhas de suas unidades, afirmam Melo Neto e Brennand (2004).
Para a qualidade do desempenho organizacional, o alinhamento da
perspectiva econômica e social com uma visão de sustentabilidade, em sentido
amplo, torna-se salutar. E, para o setor empresarial, o conceito de sustentabilidade,
representa uma abordagem inovadora de se gerir negócios, com a finalidade de
sustentar a viabilidade econômico-financeira dos empreendimentos, e ainda
preservar a integridade ambiental, hoje e para as gerações futuras, na construção de
relações harmoniosas, que resultem na reputação positiva e sólida, ressaltam
Brandão e Santos (2007).
Segundo Villafañe (2005, p.21), a reputação constitui “uma nova mentalidade
caracterizada pela incorporação da ética e da sustentabilidade como fosse dois
princípios básicos da gestão organizacional”. “A idéia de uma sustentabilidade
deveria, então, forçar as atitudes concretas da sociedade diante de um caos
ecológico e produtivo, e não apenas servir como figura de retórica nos discursos
institucionais e organizacionais dominantes”, enfatiza Carrieri (2002, p. 23).
A conservação do meio ambiente e o desenvolvimento empresarial bem
sucedido são duas faces de uma mesma moeda, tornando-se a medida do
progresso da civilização humana. “O grau com que essas duas metades podem ser
reunidas no mundo da atividade humana e a velocidade desse processo
determinarão o índice pelo qual o desenvolvimento sustentável deixará de ser uma
visão para se tornar uma realidade”, aduz Schmidheiny (1992, p. 04). Para
aprofundar esse debate, na sequência abordamos a origem, definições, práticas e
discurso no que se refere a sustentabilidade.
3.2
Sustentabilidade: origem, definições, práticas e discursos
3.2.1 Origem e definições da sustentabilidade
42
Sem se enveredar por um único caminho, em função da multiplicidade de
trilhas conceituais (procedências), as práticas discursivas sobre a sustentabilidade
se ramificam. Apesar de a origem do discurso da sustentabilidade poder ser
identificada em falas e contextos históricos distantes, suas expressões mais
contemporâneas podemos observar a partir dos meados da década de 1970. Assim,
para fomentar o diálogo e a discussão acerca desta temática, bem como promover a
disseminação de novos conceitos precisamos considerar os marcos históricos até os
dias atuais. A esse respeito, Castro (2006, p.98) destaca que “a sustentabilidade é
um tema recente, não se estendendo além de algumas décadas de debate - e rico
em similitudes, o que demonstra, por extensão, a sua intertextualidade20”.
Para demonstrar as etapas do pensamento da sustentabilidade (Quadro 4),
considerando
os
discursos
matrizes
que
conceberam
sua
conceituação,
apresentamos um levantamento composto de “discursos que, por sua penetração na
mídia, na academia e nos círculos políticos e econômicos decisórios mais se
destacaram” (CASTRO, 2006, p. 98).
Quadro 4: Etapas do pensamento da sustentabilidade
Documento
Relatório do Clube de
Roma (1972): a tese
dos limites do
crescimento
20
Síntese do conteúdo
O Clube de Roma surgiu em 1968 por iniciativa do industrial italiano Aurelio
Peccei, e reunia cientistas, pedagogos, economistas, humanistas, industriais
e funcionários públicos, tendo como cerne de discussão a crise atual e futura
da humanidade.
Em Julho de 1972, em Estocolmo/Suécia, ocorreu a reunião de 113 países
para participarem da Conferência das Nações Unidas sobre o
Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, conhecida como Conferência
de Estocolmo.
Naquele ano, Dennis L. Meadows e um grupo de pesquisadores publicaram
um estudo sobre o meio ambiente intitulado Os Limites do Crescimento (The
limits to Growth). Tal estudo defendeu três teses e conclusões básicas:
1. Se as atuais tendências de crescimento da população mundial - da
industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de
recursos naturais - continuarem imutáveis, os limites de crescimento
serão alcançados em menos de cem anos [...];
2. É possível modificar essas tendências e formar uma condição de
estabilidade ecológica e econômica. Esse “estado de equilíbrio” parte
da idéia de que o crescimento econômico pode ser planejado de
acordo com as necessidades de cada indivíduo do planeta;
3. Quanto mais cedo a humanidade se empenhar em alcançar este
segundo objetivo, mais chances de êxito terá.
Cada texto combina um conjunto de ecos que provém de outros textos, não podendo considerá-lo
de maneira isolada. Para Jensen (1997, p.192) trata-se de “um processo pelo qual os diferentes
sinais de um discurso comunicam significados específicos para o público porque fazem referência a
outros discursos, temas, gêneros ou meios que nos são familiares e podem estar presentes ou
implícitos no contexto da recepção”.
43
Relatório Strong
(1972): a proposta
alternativa do
Ecodesenvolvimento
Declaração de
Cocoyok (1974):
expressa radicalismo
maior do que os
documentos já
divulgados
Relatório DagHammarskjöld:
(1974): expressa
radicalismo maior do
que os documentos já
divulgados
Relatório Brundtland
(1987): nova postura
Para alcançar a estabilidade econômica e ecológica Meadows e outros
estudiosos propõem o congelamento do crescimento da população global e
do capitalismo industrial, elaborando a chamada tese do crescimento zero.
O Relatório do Clube de Roma foi criticado por Solow, prêmio Nobel de
economia, que julgou improcedentes os seus prognósticos catastróficos.
Além de Solow, Mahbub ul Haq emitiu suas críticas alegando que as
sociedades ocidentais, depois de um século de crescimento industrial
acelerado, negam o acesso a esse crescimento aos países pobres
justificando-se através do discurso ecológico.
Na mesma Conferência de Estocolmo, como alternativa à polarização entre
as idéias de "crescimento zero" e de "crescimento a qualquer custo" propôsse, a abordagem ecodesenvolvimentista.
Desenvolvido pelo canadense Maurice Strong na tentativa de elaborar uma
concepção alternativa de política do desenvolvimento, que batizou de
ecodesenvolvimento. O economista Ignacy Sachs (1976) traçou alguns
princípios básicos a respeito dessa nova forma de ver o desenvolvimento,
integrando seis aspectos:
 A satisfação das necessidades básicas;
 A participação da comunidade envolvida;
 A solidariedade com as gerações futuras;
 A preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral;
 A elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança
social e respeito a outras culturas;
 Programas de educação.
Esse documento é o resultado de uma conferência mundial sobre comércio
e desenvolvimento que foi organizada pela UNEP (Environment Program, da
ONU). Destaca-se por levantar quatro hipóteses complementares:
1. A pobreza gera o desequilíbrio demográfico;
2. A destruição ambiental no terceiro mundo é também resultado da
pobreza;
3. A pobreza leva a população carente a superutilizar os recursos
ambientais;
4. Os países industrializados contribuem para os problemas do
subdesenvolvimento através do seu nível exagerado de consumo.
Além disso, a Declaração Cocoyok destaca-se, também, pelo otimismo
resultante da crença na capacidade de “mobilização de forças” (self-reliance)
capazes de reverter o processo de destruição ambiental em curso.
Aprofunda a perspectiva anterior. É o resultado de um projeto dessa
Fundação que reuniu cientistas e políticos de 48 países, com a colaboração
da UNEP e de outras 13 entidades da ONU. Tem algumas conclusões
importantes:
 Mostra que o sistema colonial concentrou os solos mais aptos para
a agricultura nas mãos de uma minoria social e dos colonizadores
europeus;
 Exige mudanças nas estruturas de propriedade no campo;
 Ataca os cientistas e políticos conservadores, acusando-os de
omissão em relação à questão ambiental.
É o resultado do trabalho de uma comissão da ONU denominada World
Comission on Environment and Development. Trata-se de um relatório
complexo, que procurou interligar economia, tecnologia, sociedade e
política, sugerindo uma nova postura ética para a humanidade. Essa postura
deveria estar baseada no preceito de responsabilidade entre as gerações.
Elabora uma visão complexa e sistêmica das questões ambientais,
procurando identificar, no processo histórico, as causas dos problemas
sócio-econômicos e ecológicos da sociedade global. Ao mesmo tempo,
apresenta uma lista de medidas que devem ser tomadas pelos estados
nacionais como parte desse novo pacto ético:
 Limitação do crescimento populacional;
 Garantia da alimentação a longo prazo;
 Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;
44

Rio 92 (1992):
interligação entre
desenvolvimento
sócio-econômico e as
transformações
ocorridas no meio
ambiente
Relatório CEPAL:
fazer seguir em
direção ao diálogo a
respeito da
sustentabilidade
Relatório de Haya
(2000): ações de
implementação da
sustentabilidade
Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de
tecnologias que admitem o uso de fontes energéticas renováveis;
 Aumento da produção industrial nos países não-industrializados na
base de tecnologias ecologicamente adaptadas;
 Controle da urbanização e promoção da integração entre o campo e
as cidades menores;
 Compromisso em satisfazer as necessidades básicas da
humanidade.
Além dessas sugestões, o Relatório Brundtland indica ações que devam ser
empreendidas a nível internacional, tendo como agentes as diversas
instituições de caráter global ou supranacional:
 As organizações de desenvolvimento devem adotar, por princípio, a
estratégia do desenvolvimento sustentável;
 A comunidade internacional deve proteger os ecossistemas
supranacionais como a Antártida, os oceanos e o espaço;
 Guerras devem ser banidas;
 A ONU deve implantar um programa de desenvolvimento
sustentável.
A conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, organizada pela
ONU, reuniu cerca de 35 mil pessoas e 106 chefes de governo. A grande
expectativa em relação ao evento não correspondeu aos resultados
alcançados, talvez em conseqüência da grande pressão exercida pelos EUA
em favor da eliminação das metas e dos cronogramas para a limitação da
emissão de CO2 e da não assinatura, por esse país, convenção pela
proteção da biodiversidade. Os resultados institucionais da conferência
foram documentados e criticados, em 1993, através do chamado Relatório
Worlwatch.
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) foi criada
em 25 de Fevereiro de 1948, pelo Conselho Econômico e Social das Nações
Unidas (ECOSOC), com sede em Santiago, Chile. Sugere que o
Desenvolvimento Sustentável deve ser estudado num campo
macroeconômico, que leve em conta a relação de dependência dos países
pobres em relação ao mundo desenvolvido. Recomenda um prontuário de
elementos que devem nortear o diálogo entre países pobres e ricos a
respeito de seu “problema comum”, a sustentabilidade. Os aspectos mais
importantes dessa negociação seriam, de acordo com a CEPAL, os
seguintes:
 Relações entre os investimentos externos e as diferentes atividades
econômicas;
 O papel a desempenhar pelas conhecidas ‘formas de capital nãotradicional’, não necessariamente quantificáveis, tais como o entorno
institucional, os recursos naturais ou capital natural e o acervo
cultural;
 A função da variável tempo, e a forma como afeta as decisões de
médio e longo prazo;
 A quantificação sistemática dos efeitos externos e indiretos;
 Outros aspectos que são difíceis de quantificar em termos
monetários.
A exemplo da CEPAL, pensa o Desenvolvimento Sustentável como um
processo macro-econômico: “O desenvolvimento sustentável é um processo
no qual a política econômica, fiscal, comercial, energética, agrícola,
industrial e de todas as ordens devem ser formuladas de tal forma que
sejam sustentáveis desde o ponto de vista econômico, social e ecológico”. O
documento afirma, ainda, que a sociedade de consumo é insustentável e
que deve-se fazer grandes investimentos em saúde e educação com o
objetivo de corrigir as injustiças sociais e evitar o aumento de uma dívida
social que consumirá as gerações futuras. O Relatório de Haya detalha
ações de implementação da sustentabilidade, sugerindo que sejam
utilizadas pelos Estados em termos de um “programa possível”, no qual
sistematiza-se nos seguintes pontos fundamentais:
45
1. Estabelecer para os recursos naturais, para o patrimônio natural, um
preço correto, de tal maneira que indique o valor de sua escassez;
2. Estabelecer cotas e auditorias obrigatórias para algumas questões
ambientais;
3. Estabelecer marcos para estimular o uso de tecnologias ambientalmente
seguras;
4. Reforçar a capacidade dos países em desenvolvimento para por em
prática.
Com a participação de 193 países que fazem parte da ONU, a Conferência
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, na cidade do Rio
de Janeiro, prevista para Junho de 2012, tem por objetivo renovar e
reafirmar a participação dos líderes dos países com relação ao
desenvolvimento sustentável no planeta Terra. É considerada uma segunda
Rio + 20 (2012):
etapa da Cúpula da Terra (ECO-92) que ocorreu há 20 anos na cidade do
renovação e
Rio de Janeiro.
afirmação de
Principais temas para o debate:
compromissos com o
 Balanço do que foi feito nos últimos 20 anos em relação ao
desenvolvimento
meio ambiente;
sustentável e a
 A importância e os processos da Economia Verde;
sustentabilidade
 Ações para garantir o desenvolvimento sustentável do
planeta;
 Maneiras de eliminar a pobreza;
 A governança internacional no campo do desenvolvimento
sustentável.
Fonte: Adaptado a partir de Vargas (2002, p. 222-227) e Castro (2006, p. 98-99).
De acordo com Vargas (2002, p. 227), em tais discursos que compõem o
pensamento da sustentabilidade transparece “a idéia de que a crise ambiental nada
mais é do que resultado de um determinado padrão de produção e consumo dos
países desenvolvidos, sobretudo”. Bastaria levantar uma nova bandeira, e fazer
surgir uma nova racionalidade, isto é, de uma sustentabilidade sob a forma de
reencantamento da modernidade.
Ao estabelecer as etapas do pensamento da sustentabilidade ao longo do
tempo, observamos a necessidade de adaptação do comportamento das
organizações frente ao contexto social, ambiental e econômico. Da mesma maneira
que Maimon (1994), concordamos que a opinião pública sensibiliza-se cada vez
mais promovendo mudanças face à questões, principalmente, ambientais.
Em Estocolmo, uma conferência ocorreu com o intuito de debater a crise da
época. Ao refletirmos tal debate, provocamos algumas indagações: De que crise
eles estavam preocupados? O que estava realmente em jogo na arena do debate? É
possível afirmar que os dominantes na acumulação da riqueza, que eram e ainda
são poucos, perceberam que a lógica do consumo precisava de controle.
Considerando, o contexto, depreendemos que o capitalismo dava sinais de
fragilidade. Um dos 23 princípios tirados desta conferência foi o compromisso de
homem, para garantir a sustentabilidade, em proteger o meio ambiente.
46
Na tentativa de legitimar sua lógica de consumo, os detentores de riquezas
buscaram, em outras ciências do conhecimento, fundamentos que assegurassem o
acesso aos recursos. Entretanto, surgiram pessoas que não queriam aceitar os
limites sugeridos, surgindo então, um divisor na concepção dos capitalistas. Na
vertente principal, mantiveram a posição dos economistas neoclássicos. Em outra,
uma economia que pretendia fazer uso dos recursos naturais de maneira racional.
Verificamos, pois, que as posições eram capitalistas. O que estava em jogo
era a ocupação de mercado e a manutenção do poder dos grandes jogadores
(players). Os capitalistas insastisfeitos com suaa participação no mercado e
ganância vencem a batalha. Desta batalha expressamos o sentido do discurso dos
vencendores: o crescimento econômico é a única maneira de melhorar as condições
dos povos. É justo, portanto, limitar o crescimento dos países ditos em
desenvolvimento. Todavia, sabemos que o capitalismo era necessário para financiar
tal crescimento. Entendemos que o capitalista não aceitava os fundamentos do
ecodesenvolvimento como uma estratégia expancionista de fronteiras para
exploração do trabalho e da terra.
Estimulados, pois, por interesses ideológicos (GOMÉZ, 1998), grupos sociais
pressionaram a Organização das Nações Unidas (ONU) para a realização de uma
reunião, cuja pauta trataria de temas sobre desastres ambientais e desenvolvimento
de políticas em prol de amenizar a ocorrência de tais calamidades. Na década de
1970, a ONU inicia os trabalhos para discutir a questão ambiental em Estocolmo, por
meio da Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente Humano – a
Estocolmo 72. Entra em circulação a expressão Ecodesenvolvimento, atribuída ao
canadense Maurice Strong – Secretário Geral da conferência realizada em
Estocolmo (MONTIBELLER-FILHO, 1993; RIECHMANN, 1995).
Esta discussão é ampliada por estudiosos, especialmente pelo holandês
Ignacy Sachs que se apropria da expressão ecodesenvolvimento (LAYRARGUES,
1997), cujo conceito foi largamente difundido por ele (GODARD, 1991). No
entendimento de Sachs (1984), o ecodesenvolvimento é como um jogo de
harmonização entre os objetivos sociais, ecológicos e econômicos, e considera-o
como algo inspirado na prudência ecológica e na preocupação de não danificar o
futuro. Em outras palavras, ecodesenvolvimento se remete a uma filosofia de
administração de recursos oposta ao produtivismo limitado e predatório da natureza.
Para este autor, trata-se do desenvolvimento socioeconômico equitativo, ou
47
ecodesenvolvimento – para usar um termo sintético, bastante utilizado nos países
europeus -, e posteriormente denominado de desenvolvimento sustentável por
pesquisadores anglo-saxões (SACHS, 1992; 1993).
Segundo Layrargues (1997, p. 07), o conceito de ecodesenvolvimento:
consistia na definição de um estilo de desenvolvimento adaptado às áreas
rurais do Terceiro Mundo, baseado na utilização criteriosa dos recursos
locais, sem comprometer o esgotamento da natureza, pois nestes locais
ainda havia a possibilidade de tais sociedades não se engajarem na ilusão
do crescimento mimético.
Em 1987, uma comissão da ONU se reune para invetigar e responder a
questão, que a nosso ver já possuia uma resposta: Quais as causas dos problemas
sócio-econômicos e ecológicos da sociedade global? Uma nova postura deveria ser
adotada e estar alicerçada no preceito da responsabilidade entre as gerações
(presente e futura), firmando um pacto ético.
De um lado estão os ecologistas radicais, defendendo o crescimento zero, no
intuito de por fim ao esgotamento dos recursos; e de outro, encontramos aqueles
que entendem que o progresso tecnológico resolverá a totalidade de problemas
ambientais. Nesse contexto, entendemos que novamente o capitalista busca ampliar
sua propriedade, sua riqueza. O problema é global; o planeta é de todos e requer um
programa de desenvolvimento sustentável em prol da sustentabilidade. Em tese, a
dimensão econômica continua sendo como a norteadora das ações, embora
maculada pelas outras dimensões, ambiental e social.
Faz-se necessário evidenciar questões que envolvem o discurso da
sustentabilidade, conciliando o socialmente equitativo, o ambientalmente equilibrado
e o economicamente eficiente e produtivo. Adjacente a isto, envolve a noção de se
buscar novas prioridades ao ensino e à pesquisa, as questões técnicas, ambientais,
políticas e sociais. Pelo exposto nas etapas do pensamento da sustentabilidade,
observamos que estes enunciados estabelecem proposições pragmáticas que,
segundo Castro (2006), caminham na direção do desenvolvimento sustentável.
Desta maneira, os avanços científicos, as novas tecnologias que desenvolvem
processos, inventam ferramentas e redefinem ou criam metodologias, bem como as
realidades social e econômica emergidas da dinâmica socioeconômica que traz à
tona fenômenos sociais ou econômicos até então desconhecidos ou ignorados,
estão sujeitos a formular novas denominações, alguma palavra ou expressão que
48
designe e permite reconhecê-las, isto é, linguagens que tornem possível sua
comunicação (GOMÉZ, 1998).
Os
trabalhos de
Sachs
(1992;
1993) partem
da
preocupação
da
sustentabilidade no ato de planejar o desenvolvimento. Ele considerou cinco
dimensões da sustentabilidade, ou como ele próprio denominou na época, de
dimensões do ecodesenvolvimento: (1) sustentabilidade social – considera o
desenvolvimento em sua multidimensionalidade, abrangendo todo o espectro de
necessidades materiais e não-materiais; (2) sustentabilidade econômica – permite a
alocação e gestão mais eficientes dos recursos e por um fluxo regular do
investimento público e privado; avalia a eficiência econômica, sobretudo de maneira
macrossocial; (3) sustentabilidade ecológica – intensifica o uso de recursos
potenciais dos vários ecossistemas, compatível com sua mínima danificação, e de
recursos ou produtos renováveis e/ou abundantes e ambientalmente inofensivos, da
pesquisa de tecnologias limpas; (4) sustentabilidade espacial – configura a relação
de equilíbrio entre campo e cidade, perfazendo uma melhor distribuição territorial de
assentamentos humanos e atividades econômicas; (5) sustentabilidade cultural –
traduz o conceito normativo do ecodesenvolvimento em uma pluralidade de soluções
particulares, que respeitem as especificidades de cada ecossistema, de cada cultura
e de cada local.
Na visão de Sachs (1992; 1993; 2002), a sustentabilidade como um conceito
dinâmico que envolve um processo de mudança, contempla tais dimensões que
podem ser refletidas individualmente ou coletivamente. Essas dimensões têm
contribuído para construção de definições dinâmicas de sustentabilidade, capazes
de abranger processos de mudança.
Entretanto, Sachs (2002, p. 71) acredita que “muitas vezes o termo
[sustentabilidade] é utilizado para expressar a sustentabilidade ambiental”. Sachs
(2002) reforça que o conceito de sustentabilidade, apesar da falta de consenso
sobre suas dimensões (PAULISTA; VARVAKIS, MONTIBELLER-FILHO, 2008) e de
ter uma noção ainda vaga (VEIGA, 2006), possui outras dimensões (Quadro 5),
ampliando-as. Sachs (2002) estabeleceu, pois, a articulação de critérios distintos de
sustentabilidade em busca do ecodesenvolvimento, fundamentada na harmonização
de objetivos sociais, ambientais e econômicos.
49
Quadro 5: Ecodesenvolvimento – critérios de sustentabilidade
Dimensões da
Sustentabilidade
Critérios de Sustentabilidade
 Alcance de um patamar razoável de homogeneidade social;
 Distribuição de renda justa;
SOCIAL
 Emprego pleno e/ou autônomo com qualidade de vida decente;
 Igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais;
 Mudanças no interior da continuidade (equilíbrio entre respeito à tradição e
inovação);
CULTURAL
 Capacidade de autonomia para elaboração de um projeto nacional integrado
e endógeno (em oposição às cópias servis dos modelos alienígenas);
 Autoconfiança combinada com abertura para o mundo;
 Preservação do potencial do capital natureza na sua produção de recursos
ECOLÓGICA
não-renováveis;
 Limitar o uso dos recursos não-renováveis;
 Respeitar e realçar a capacidade de autodepuração dos ecossistemas
AMBIENTAL
naturais;
 Configurações urbanas e rurais balanceadas (eliminação das inclinações
urbanas nas alocações do investimento público);
 Melhoria do ambiente urbano;
TERRITORIAL
 Superação das disparidades inter-regionais;
 Estratégias de desenvolvimento ambientalmente seguras para áreas
ecologicamente
frágeis
(conservação
da
biodiversidade
pelo
ecodesenvolvimento);
 Desenvolvimento econômico intersetorial equilibrado;
 Segurança alimentar;
ECONÔMICO
 Capacidade de modernização contínua dos instrumentos de produção;
razoável nível de autonomia na pesquisa científica e tecnológica;
 Inserção soberana na economia internacional;
 Democracia definida em termos de apropriação universal dos direitos
humanos;
POLÍTICA
 Desenvolvimento da capacidade do Estado para implantar o projeto
NACIONAL
nacional, em parceria com todos os empreendedores;
 Um nível razoável de coesão social;
 Eficácia do sistema de preservação de guerras da ONU, na garantia da paz
e na promoção da cooperação internacional;
 Um pacote Norte-Sul de co-desenvolvimento, baseado no princípio de
igualdade (regras do jogo e compartilhamento da responsabilidade de
favorecimento do parceiro mais fraco);
 Controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro e de
POLÍTICA
negócios;
INTERNACIONAL
 Controle institucional efetivo da aplicação do Princípio da Precaução na
gestão do meio ambiente e dos recursos naturais; prevenção das mudanças
globais negativas; proteção da diversidade biológica (e cultural); e gestão do
patrimônio global, como herança comum da humanidade;
 Sistema efetivo de cooperação científica e tecnológica internacional e
eliminação parcial de caráter de commodity da ciência e tecnologia, também
como propriedade da herança comum da humanidade.
Fonte: Sachs (2002, p.85-88)
A partir das dimensões da sustentabilidade apresentadas por Ignacy Sachs,
Montibeller-Filho (1993, 2008) elaborou uma síntese dos componentes e objetivos
dos pilares do ecodesenvolvimento (Quadro 6) que, segundo o autor, “distingue-se
50
do desenvolvimento sustentável principalmente pelo seu caráter de autosustentável”.
Quadro 6: Pilares do Ecodesenvolvimento
Dimensão
SUSTENTABILIDADE
SOCIAL
SUSTENTABILIDADE
ECONÔMICA
SUSTENTABILIDADE
ECOLÓGICA
SUSTENTABILIDADE
ESPACIAL/
GEOGRÁFICA
SUSTENTABILIDADE
CULTURAL
Componentes
- Criação de postos de trabalho que permitam a
obtenção de renda individual adequada (à melhor
condição de vida; à maior qualificação profissional).
- Produção de bens dirigida prioritariamente às
necessidades básicas sociais.
- Fluxo permanente de investimentos públicos e
privados (estes últimos com especial destaque para
o cooperativismo).
- Manejo eficiente dos recursos.
- Endogeneização: contar com suas próprias forças.
- Produzir respeitando os ciclos ecológicos dos
ecossistemas.
- Prudência no uso de recursos naturais não
renováveis.
- Prioridade à produção de biomassa e à
industrialização de insumos naturais renováveis.
- Redução da intensidade energética e aumento da
conservação de energia.
Tecnologias e processos produtivos de baixo índice
de resíduos.
- Cuidados ambientais.
- Desconcentração espacial (de atividades; de
população).
- Desconcentração/democratização do poder local e
regional.
- Relação cidade/campo equilibrada (benefícios
centrípetos).
- Soluções adaptadas a cada ecossistema.
- Respeito à formação cultural comunitária.
Objetivos
 redução
das
desigualdades
sociais
 aumento
da
produção
e
da
riqueza social, sem
dependência
externa
 melhoria
da
qualidade do meio
ambiente
e
preservação
das
fontes de recursos
energéticos
e
naturais para as
próximas gerações
 evitar excesso de
aglomerações
 evitar
conflitos
culturais
com
potencial regressivo
Fonte: Montibeller-Filho (2008, p. 55)
O termo sustentabilidade, mesmo que tardiamente (GOMÉZ, 1998) possa ser
identificado em diversas falas e contextos históricos remotos, sua conceituação é
fruto de discussão nos últimos anos e que continua em voga nos dias atuais
(JIMÉNEZ-DOMÍNGUEZ, 2001; CALIXTO, 2011). Contudo, alerta Pezzey (1989),
utilizar um conceito de sustentabilidade, sem fornecer uma definição detalhada pode
levar a um mal entendido e confusões. Em seu estudo, Pezzey inventariou mais de
60 abordagens diferentes e considerou que essa indefinição ajudou a promover o
debate a respeito da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável.
Recentemente, Bermejo (2001) constatou a existência de mais de 200 definições.
Dovers (1995) define sustentabilidade como sendo é um termo de longo prazo
e de difícil alcance, enquanto que desenvolvimento sustentável é entendido por um
51
processo variável de mudança que busca como objetivo a sustentabilidade. De
acordo com Holling (2000) a sustentabilidade:
[...] é a capacidade de criar, testar e manter a capacidade adaptativa.
Desenvolvimento é o processo de criar, testar e manter a oportunidade. A
frase que combina ambos, desenvolvimento sustentável, refere-se, portanto,
à meta de forjar capacidades adaptativas e criar oportunidades.
Para
Montibeler-Filho
(2008),
ecodesenvolvimento
significa
o
desenvolvimento de um país ou região, alicerçado em suas próprias potencialidades,
de caráter endógeno, sem designar uma dependência externa. A existência de
semelhanças e conflitos entre terminologias permite para uns tomá-los como
sinônimos, enquanto que, para outros, o fator que diferencia entre os conceitos de
ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentável:
[...] reside a favor deste último quanto à sua dimensão, globalizante, tanto
desde o lado do questionamento dos problemas ambientais como a ótica
das reações e soluções que formuladas pela sociedade. Ele não se refere
especificamente ao problema limitado de adequações ecológicas de um
processo social, mas a uma estratégia para sociedade que deve levar em
conta tanto à viabilidade econômica quanto a ecológica. Num sentido
abrangente, a noção de que a sustentabilidade leva à necessária
redefinição das relações sociedades humanas/natureza, portanto uma
mudança substancial do próprio processo civilizatório, introduzindo o desafio
de pensar a passagem do conceito para ação (OLIVEIRA FILHO, 2004,
p.08).
O conceito de sustentabilidade, segundo Hardi e Zdan (1997), reflete à
insistência de características próprias úteis e indispensáveis e do ensejo de
pessoas, comunidades e organizações, bem como os ecossistemas os quais estão
envolvidos, em um momento de tempo que se perpetua. Tal conceito expressa,
portanto, a ideia da necessidade de superar questões individualista, imediatista e
consumista, bem como privilegia a prática democrática e dialógica.
Para Lima (2003, p. 102) o discurso da sustentabilidade:
[...] surgiu como um substituto ao discurso do desenvolvimento econômico,
produzido e difundido pelos países centrais do capitalismo – sobretudo os
Estados Unidos – para o resto do mundo no contexto da Guerra Fria. A
partir dos anos 70 do século passado, o discurso desenvolvimentista
revelou seus limites através de uma crise, que embora tivesse maior
visibilidade econômica, era também social, ambiental e ético-cultural.
52
O discurso da sustentabilidade se constitui como uma intervenção políticonarrativa (ARAÚJO; BIZZO, 2005) ou fenômeno político-narrativo e diplomático
(CARNEIRO, 2011), cujo escopo visa minimizar ou buscar soluções aos problemas
inerentes às contradições e limitações do modelo de desenvolvimento atualmente
posto na sociedade. Uma das funções principais deste discurso “é apontar
alternativas para a reprodução do sistema capitalista no que concernem as relações
deste com os efeitos da degradação ambiental” (CARNEIRO, 2011, p. 08).
O conceito de sustentabilidade está introduzido no contexto da transição
paradigmática (SILVA, 2005, p. 17), podendo potencializar a crítica ao conhecimento
moderno e aos valores prevalecentes nas sociedades “que vivem na égide da
modernidade ocidental”, bem como colaborar para que tal conhecimento e
sociedade “sobrevivam sem que ocorram substantivas transformações”. De acordo
com Bocayuva (2009, p.126), colocada na relação direta com as orientações críticas
necessárias para superação dos modelos economicistas, concentradores e
produtivistas, está a questão da democracia e da política, “que marcam a
insustentabilidade dos esquemas de reprodução cíclica do poder geopolítico e da
acumulação de capital na escala global”. A discussão da transição paradigmática
impõe questões relacionadas aos dispositivos de administração e à gestão
mercantil-flexível, reforçam os autores.
Em termos históricos, Melo Neto e Brennand (2004) asseguram que, no início,
a sustentabilidade manifestou-se como um conceito diretamente relacionado à
preservação ambiental. Segundo os autores, os projetos sustentáveis eram tratados
como um conjunto de ações que procuravam minimizar os riscos ambientais,
prevalecendo a idéia de preservação dos recursos naturais.
Maimon (1994, p. 120) comenta que, até a década de 70, as empresas dos
países desenvolvidos “limitavam-se a evitar acidentes locais e a cumprir normas de
poluição determinadas pelos órgãos governamentais de regulação e controle –
poluía-se para depois despoluir”. Essa década também foi marcada pela
Conferência de Estocolmo, em 1972, sobre meio ambiente, que evidenciou a
preocupação do sistema político e da Igreja Católica com a questão, ressalta
Montibeller-Filho (2008).
No Brasil, o tema ambiental situa-se em meados dos anos 1970, com
relações ao mesmo tempo complementares e contraditórias entre o Estado e a
sociedade civil. Neste período, instituições, fundações e organizações foram criadas
53
no Brasil proporcionando um espaço para que os empresários discutissem e
implementassem projetos relacionados com suas práticas sociais, ambientais e de
direitos humanos (ASHLEY, 2002; GRAYSON; HODGES, 2002).
A partir da década de 1980, a expressão desenvolvimento sustentável foi
difundida amplamente. Caracterizada pelo despertar de uma nova realidade
socioambiental, nesta década implicou na mudança de postura das empresas e o
descarte de velhas práticas relativas ao meio ambiente. Uma pequena parcela de
empresas passou a institucionalizar o discurso em relação às questões sociais e
ambientais, realizando, ao mesmo tempo algumas ações concretas, como os
documentos internos (circular, memorandos, cartaz, folder) e, posteriormente,
através de meios de comunicação e divulgação da publicidade corporativa.
Gradativamente, a responsabilidade social passou a ser vista como uma
necessidade de sobrevivência, constituindo um mercado promissor - um novo
produto/serviço a ser vendido - revelando-se dentro das políticas de marketing e da
competitividade (MAIMON, 1994). É nessa mesma década que se reúne a Comissão
Brundtland, dando início aos trabalhos em 1983, publicando, quatro anos mais tarde,
em seu famoso relatório, a síntese do conceito de desenvolvimento sustentável.
Colocado como um novo “paradigma” (sic), o conceito de desenvolvimento
sustentável e equitativo, tem como princípios (MONTIBELLER-FILHO, 2008, p. 54):
(i) integrar a conservação da natureza e desenvolvimento; (ii) satisfazer as
necessidades humanas fundamentais; (iii) perseguir equidade e justiça social; (iv)
buscar a autodeterminação social e respeitar a diversidade cultural; e (v) manter a
integridade ecológica.
O desenvolvimento sustentável compreende preocupações expressas pelo
ecodesenvolvimento. Existem divergências entre os dois conceitos, situando-se
principalmente no campo político e em relação às técnicas de produção
(MONTIBELLER-FILHO, 2008). Para Maimon (1992) a diferença básica entre ambos
consiste,
primeiramente
que
o
ecodesenvolvimento
procura
atender
as
necessidades básicas da população por meio do uso de tecnologias apropriadas a
cada ambiente, partindo do mais simples ao mais complexo. O desenvolvimento
sustentável, por sua vez, está focado no papel de uma política ambiental, na
responsabilidade com os problemas globais e com as futuras gerações.
Contudo, a convergência de conteúdos permite a aceitação de ambos
conceitos. Dentre os pontos de convergência, Montibeller-Filho (2008) destaca
54
principalmente: (a) chulismo - considera os aspectos econômicos, políticos, culturais,
sociais, ecológicos etc.; (b) abordagem sistêmica - permite analisar como as
dimensões se interpenetram e interdependem; (c) ambientalismo – a dimensão
ambiental é a ideia-força; (d) plano e planejamento local – planejamento mantendo a
referência global. Para Montibeller-Filho (2008, p. 59), “o novo paradigma,
pressupõe, um conjunto de sustentabilidades”. Estas são sintetizadas na eficiência
econômica, eficácia social e ambiental, e seu cumprimento simultâneo deste trinômio
significa atingir o desenvolvimento sustentável.
O fato de existir concepções ambientalistas variadas a respeito da ideologia
de desenvolvimento sustentável talvez possa esclarecer, afirma van Bellen (2006), a
existência das múltiplas concepções desse conceito. Guimarães (1997) assenta os
problemas em torno da panacéia que se transformou o discurso do desenvolvimento
sustentável e da sustentabilidade e chama atenção de que:
[...] se a proposta de desenvolvimento sustentável parece plenamente
justificável e legítima, a sua aceitação generalizada tem se caracterizado
por uma postura acrítica e alienada em relação a dinâmicas sóciopolíticas
concretas. Para que tal proposta não represente apenas um
“enverdecimento” do estilo atual, cujo conteúdo se esgotaria no nível da
retórica, impõe-se examinar as contradições ideológicas, sociais e
institucionais do próprio discurso da sustentabilidade, bem como analisar
dimensões de sustentabilidade – ecológica, ambiental, social, cultural e
outras – para transformá-la em critérios objetivos de política pública
(GUIMARÃES, 1997, p. 17).
Na década de 1990, nos países desenvolvidos, em função do volume
desenfreado da competitividade causada pela globalização (ANDRADE, 1997),
surgem restrições ambientais destinadas a regular o comércio internacional por meio
de barreiras. Marcado pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, a Rio-92, no Brasil definiu-se uma nova postura em relação ao
meio ambiente.
Depreendemos que o modelo atualmente vivenciado é da sustentabilidade
como prática de gestão socioambiental focada em aspectos formais, legais e
institucionais de certificação social e ambiental, apresentam Melo Neto e Brennand
(2004).
Em Setembro de 2002, em Johannesburgo, na África do Sul, realizou-se a
Rio+10, em um encontro para avaliar os resultados obtidos e as mudanças ocorridas
nos dez últimos anos, desde a ECO-92. A Rio+10 ou Cúpula Mundial do
55
Desenvolvimento
Sustentável
encontrou
uma
abertura
ao
dizer
que
o
Desenvolvimento Sustentável tem uma base formada por três pilares - o econômico,
o social e o ambiental - e um objetivo fundamental que é a erradicação da pobreza
(OLIVEIRA FILHO, 2004). No ano de 2012, o Rio de Janeiro serviu de sede para
mais um encontro denominado Rio+20, e marco para definição de uma agenda de
desenvolvimento sustentável para as próximas décadas.
A sustentabilidade, pois, imbricou-se no discurso das empresas no intento de
demonstrar a inserção do conceito nas suas práticas cotidianas. A seguir
apresentamos uma reflexão a respeito das práticas de sustentabilidade.
3.2.2 Práticas de sustentabilidade
Para operacionalizar a abordagem do desenvolvimento, Sachs (1986)
menciona três prioridades das ciências sociais: (1) institucionalização do processo
de planejamento concebido como mecanismo de decisão e baseado na participação,
ou seja, trata-se da democracia; (2) a maneira de inserir o político no modelo
explicativo; e (3) a inserção propriamente dita do político no modelo explicativo.
Dowbor (2009) corrobora essas questões ao tratar da crise financeira sem
mistérios em busca de uma convergência em relação as tumultuosas questões
econômicas, sociais e ambientais. O autor propõe o resgate do papel do Estado,
principalmente como articulador de um desenvolvimento justo e sustentável, com
participação de uma sociedade civil organizada.
Em uma sociedade capitalista – no qual o capital reflete o entendimento de
que os indivíduos dependem dele para competir ou sobreviver em um mundo
competitivo -, as decisões organizacionais, geralmente direcionadas à dimensão
econômica, desencadearam ou agravaram os desafios socioambientais. De acordo
com Maia e Pires (2011), a busca pelo equilíbrio entre a dimensão econômica, social
e ambiental imbica ao discurso da sustentabilidade.
Mesmo parecendo paradoxal, o desenvolvimento mais significativo do
pensamento estratégico nas últimas décadas foi a adoção do conceito de
56
‘sustentabilidade’ e de ‘desenvolvimento sustentável’ nos discursos organizacionais,
os quais vem sendo incorporados com expressões relacionadas a:
degradação, ciclo de vida do produto, índices aceitáveis de
poluição/resíduos; sem contudo incorporar as concepções que esses termos
trazem do discursos ecológico, de questionamento do modo de produção.
Ou seja, os signos/símbolos são reproduzidos nos discursos
organizacionais, mas lhes são dados novos significados (CARRIERI, 2002,
p. 23).
Silva (2009, p.28) comenta que, atualmente, assistimos “a uma avalanche de
mudanças e crescentes expectativas dos gestores das organizações no sentido de
um agir e de um posicionamento mais rígido nos aspectos éticos, institucionais e
ambientais”. Longe de ser um modismo ou preocupação passageira, a questão da
sustentabilidade tornou-se parte integrante dos discursos nas organizações.
A partir do entendimento da importância da sustentabilidade para a
sobrevivência dos negócios, observamos que tal expressão está imiscuída na
agenda das organizações. Inicialmente caracterizada como um composto de
dimensões econômica, ambiental e social, a sustentabilidade ganhou complexidade
e seu caráter não linear modificou a dinâmica de alguns negócios, especialmente
aqueles de significativo impacto ambiental e econômico. Entretanto, na medida em
que a sustentabilidade possa se tornar essencial ao negócio, as empresas
enfrentam passam a enfrentar o desafio de incluir o conceito em sua prática
organizacional, tal como se representasse uma constante trajetória dos negócios.
Por meio de uma abordagem mais aceita no âmbito empresarial, angariando
simpatia e aderência do empresariado, e por ter uma relação maior com as práticas
organizacionais, John Elkington (1999; 2004) cunhou em 1994 a expressão Triple
Bottom Line (TBL) - pilares que devem nortear a gestão das empresas -, também
conhecido como tripé da sustentabilidade (Figura 4).
O Triple Bottom Line surge como um instrumento para medir resultados e o
Relatório de Sustentabilidade como uma ferramenta útil, no sentido em que vai além
da avaliação do desempenho financeira e prestação de contas apresentada no
Balanço Patrimonial (DUNPHY, GRIFFITHS, BENN, 2003). O conceito não é o mais
original (JUNQUEIRA; SOUTO MAIOR; PINHEIRO, 2011, p. 40), mas “inova na
forma de conceber essas tres dimensões no âmbito das empresas e por utilizar uma
linguagem familiar ao ambiente empresarial”.
57
Figura 4 – O tripé da sustentabilidade (The Triple Bottom Line)
SUSTENTABILIDAD
E ECONÔMICA
Profit (lucro)
TRIPÉ DA
SUSTENTABILIDAD
E
SUSTENTABILIDAD
E AMBIENTAL
SUSTENTABILIDAD
E SOCIAL
Planet (planeta)
People (pessoas)
Fonte: Elaborado a partir de Elkington (1999; 2004).
O TBL é também conhecido como os 3 Ps (People, Planet and Profit) ou,
traduzido para o português de Pessoas, Planeta e Lucro. Em síntese, os termos
dizem respeito ao capital humano, ao capital natural e ao lucro, respectivamente, de
uma empresa ou sociedade.
No tripé estão contidos os aspectos econômico (crescimento econômico),
ambiental (proteção ambiental) e social (comunidade e equidade), que estão
estreitamente ligados. No setor privado, o compromisso em atender tais aspectos
recebe o nome de Responsabilidade Social Corporativa, na qual uma empresa deve
preocupar-se não somente com o lucro, mas também com o capital humano, social e
meio ambiente.
Elkington (1999) esboçou um modelo batizado por 7D World Model (Quadro
7), que compreende os enfoques: mercado, valores, transparência, tecnologia de
ciclo de vida, parcerias, tempo, governança corporativa. E, segundo o autor, à
medida que se caminha para o terceiro milênio, embarcamos numa revolução
cultural global. “Nos negócios, muito mais que dos governos ou organizações nãogovernamentais, estará o banco do condutor” (ELKINGTON, 1999, p. 03).
Paradoxalmente, isso não tornará a transição mais fácil para quem conduz negócios,
pois, para muitos, torna-se o processo cansativo, quiçá impossível.
58
Quadro 7: 7D World Model de Elkington
Paradigma
Velho
Novo
1
Mercados
Complacentes Competitivos
2
Valores
Severos
Leves
3
Transparência
Fechada
Aberta
4
Tecnologia do Ciclo de Vida
Produto
Função
5
Parcerias
Subversivas
Simbióticas
6
Tempo
Mais amplo
Mais longo
7
Governança Corporativa
Exclusiva
Inclusiva
Fonte: Elaborado a partir de Elkington (1999).
Revolução
Enfoque
A análise desta transição do velho para o novo paradigma é marcada no
intuito das organizações atuarem cada vez mais com o objetivo de equilibrar suas
atividades em temos econômicos, sociais e ambientais Com a livre competição os
mercados, cada vez mais competitivos, tendem à abertura nacional e internacional,
entretanto as questões relacionadas ao TBL são levadas cada vez mais em
consideração. A cada geração os valores se modificam, emanam muitas vezes por
parte da população, e apresentam desafios e oportunidades. A transparência exigida
faz com que as organizações sejam observadas mais de perto, envolvendo novos
sistemas de valores e tecnologias de informação. Além de produtos, as
organizações passam a verificar também todo o processo produtivo, causado pelas
mudanças advindas da sociedade e dos governos. Novos formatos de parceria
surgem no novo paradigma com o objetivo de almejar o sucesso. O tempo
analisado, face ao desafio da sustentabilidade, é que seja analisado no longo prazo,
com utilização de cenários, visões alternativas como maneiras organizacionais de
ampliar seu horizonte de tempo. A governança corporativa, por sua vez, é a
confluência dos demais enfoques, já que as empresas passam a adotar uma postura
mais crítica em relação à sua própria existência e propósitos.
Tal delineamento apresenta uma visão da evolução do velho para um novo
paradigma, isto é, mudança de postura, que envolvem sete revoluções na mudança
de paradigma, consideradas como revoluções as quais conduzem a gestão
empresarial para uma estratégia vinculada aos três pilares da sustentabilidade:
econômico, ambiental e social. Esses movimentos ou revoluções levam a uma
reorganização corporativa, incentivando as empresas a adotarem uma postura mais
crítica com relação à sua própria existência e propósitos. Desta maneira
independentemente dos ciclos e crises econômicas que vivenciamos de tempos em
tempos, a implantação do conceito de sustentabilidade é irreversível.
59
Figura 5 – Modelo de Sustentabilidade Empresarial
SUSTENTABILIDADE
EMPRESARIAL
Sustentabilidade
ambiental
• Vantagem competitiva
• Qualidade e custo
• Foco
• Mercado
• Resultado
• Estratégias de
negócios
• Tecnologias limpas
• Reciclagem
• Utilização sustentável
de recursos naturais
• Atendimento a
legislação
• Tratamento de
efluentes e resíduos
sólidos
• Produtos
ecologicamente
corretos
• Impactos ambientais
Sustentabilidade
econômica
+
=
+
• Assumir
responsabilidade
social
• Suporte no
crescimento da
comunidade
• Compromisso com o
desenvolvimento dos
Recursos Humanos
• Promoção e
participação em
projetos de cunho
social
Sustentabilidade
social
Fonte: Adaptado de Coral (2002, p. 129).
Em se tratando da sustentabilidade nos negócios, Coral (2002) apresentou
um modelo de sustentabilidade empresarial, alicerçado no tripé da sustentabilidade
(Triple Bottom Line), e que serve de ferramenta conceitual útil para interpretar as
interações com os stakeholders e elucidar a importância de uma visão da
sustentabilidade mais ampla (Figura 5).
Passamos, pois, a reivindicar das empresas não apenas uma postura de
respeito ao meio ambiente e uso de práticas ambientais (MELO NETO; BRENNAND,
2004), mas também a exigir a minimização de riscos sociais e a busca de soluções
em relação aos problemas sociais da comunidade, dentre outros.
Alguns fatos podem provocar e elevar as preocupações relativas à
responsabilidade
e
novas
posturas
das
organizações
no
que
tange
a
sustentabilidade, tais como: crises sociais geradas por encerramentos ou fusões,
crises financeiras originadas por práticas indevidas de gestão, ou ainda as crises
ecológicas provocadas por catástrofes que poderiam ser evitadas. Entretanto,
60
Gomes (2009) afirma que o grande fato impulsionador do aparecimento da
sustentabilidade como estratégia e maneira de retirar das práticas ambientais e
sustentáveis o aumento de valor e oportunidades de inovação - seja em nível de
processos, seja do desenvolvimento de produtos e serviços -, se deu pela
necessidade de cumprimento da legislação.
Entretanto, Fonseca (2009, p. 23) alerta que “ter o discurso ambientalista
como norma social, passível de gerar lucro ou prejuízo simbólico, possibilita que o
fato de dizer ‘ambientalmente correto’ possa ser uma estratégia de determinados
atores sociais”, que visam extrair posições socialmente e economicamente
vantajosas.
Diante de todo processo decisório e de implementação de políticas,
principalmente ambientais, se tende a adotar práticas que obedeçam a critérios
consagrados internacionalmente, sejam estas práticas mais internas ou operacionais
- que envolvem tecnologias e processos mais limpos, produtos ecologicamente
corretos, ética e marketing ambiental etc. -, sejam práticas políticas ou mais externas
- atendimento aos compromissos assumidos junto a sociedade ou ações que
envolvam comitês internacionais e os diversos stakeholders. Neste sentido, Fonseca
V. (2009, p. 07) afirma que:
“A preocupação em cumprir formalmente com critérios gerais pode
obscurecer a expressão substantiva dos mesmos. Com isso, há espaço
para os free-riders discursivos, que são atores que reproduzem formalmente
o discurso da sustentabilidade, mas sua prática cotidiana é guiada por
interesses particulares que, muitas vezes, entram em choque com o
discurso utilizado como instrumento de retórica”.
As empresas, em busca de um desenvolvimento social planejado, procuram
apoiar a existência e a interação de ambientes harmoniosos ao longo dos anos,
gerando, deste modo, o conceito de sustentabilidade (DEEGAN, RANKIN; TOBIN,
2002; DEEGAN; BLOMQUIST, 2006). Kavinski (2009, p. 83) comenta que:
Enquanto o verdadeiro sentido da existência continua aprisionado pelo
mercado, proliferam as campanhas por consumo consciente, uso
responsável dos recursos e descarte correto dos resíduos. Correntemente é
possível observar que em prol da sensibilização para a Sustentabilidade
diversas organizações investem milhões em campanhas publicitárias,
emitem relatórios e produzem materiais de divulgação que demonstram a
incoerência entre seus discursos e a suas práticas.
61
Contudo, a discussão ambiental necessita superar desafios, não somente
conceituais, mas questões que envolvam itens como: (1) criação de legislação e de
instituições de controle e gestão ambiental, (2) universalização e desenvolvimento
de tecnologias ambientais reparadoras e alternativas, e (3) o “desafio relativo à
formação de métodos de análise, conceitos e procedimentos teóricos capazes de
abordar em sua totalidade e complexidade a questão ambiental” (PAES DE PAULA;
MONTE-MÓR, 2000, p. 76).
Kavinski (2009, p. 105) em sua pesquisa constatou que as organizações em
seu discurso “defendem a preocupação primeira com os lucros e o gerar valor aos
acionistas são uma constante no mundo dos negócios”, apesar de afirmarem que a
responsabilidade socioambiental está inserida na estratégia e incorporada nas
práticas organizacionais.
Jappur et al. (2008) comentam que, as organizações devem fazer uso de
alguns princípios e métodos, para que caminhem em direção à sustentabilidade, que
os auxiliem na concretização deste objetivo. Os autores propõem e recomendam os
seguintes procedimentos, por exemplo: Responsabilidade Social Corporativa (RSC);
Governança Corporativa (GC); Ecoeficiência; Análise do Ciclo de Vida (ACV);
Emissão Zero (ZERI); Sistemas de Gestão Certificáveis (SGC); Produção Mais
Limpa; e os Relatórios de Sustentabilidade Corporativa – como por exemplo o Global
Reporting Initiative (GRI).
Em se tratando de relatórios, numa outra pesquisa, ao serem questionadas
sobre os motivos pelos quais as empresas preparam relatórios sobre temas
relacionados a sustentabilidade, as respostas são bastante variadas, como destaca
King (2007, p. 06): “‘fazemos isso porque nossos concorrentes estão fazendo’;
‘descobrimos que, estrategicamente, somos capazes de gerir reputação e marca de
uma forma mais qualificada’, ‘nossas partes interessadas (stakeholders) querem’,
‘melhora nosso gerenciamento de riscos’”. Segundo King (2007), esta última
resposta seja talvez a mais significativa, pois assuntos a respeito da sustentabilidade
podem se tornar fatores de riscos muito intensos para uma organização.
A relevância dos stakeholders às pressões sobre as empresas forçaram a
criação de condições para uma comunicação mais eficiente de resultados no que
tange a sustentabilidade, materializada nos Relatórios de Sustentabilidade (GOMES,
2009) e discutida na próxima seção deste capítulo.
62
3.2.3 Relatórios de Sustentabilidade como discurso institucional
A comunicação eficiente é um pré-requisito que necessita ser observado para
as questões econômicas, sociais e, principalmente ambientais, na busca de
contribuir para manter ou aumentar a participação de mercado. A oportunidade para
as empresas obterem vantagem competitiva, a partir de sistemas de gestão
ambiental e outras atividades de prevenção da poluição, depende cada vez mais da
capacidade de comunicar suas atitudes, posturas e desempenho para aos seus
interessados.
A responsabilidade pela comunicação ambiental é muitas vezes atribuída à
pessoa responsável por questões ambientais, chamados de analistas ambientais.
Eles têm tanto conhecimento técnico e do conhecimento ambiental, mas muitas
vezes precisam de habilidades de comunicação e, principalmente, as ferramentas
para realizar a tarefa de comunicação. Os requisitos para as habilidades de
comunicação sobre as questões ambientais têm crescido, especialmente porque o
mercado e o interesse do público nas questões ambientais relativas à produção e
impactos do produto aumenta a cada dia (NIELSEN, 2001).
O Relatório de Sustentabilidade (RS), entendido nessa pesquisa como um
instrumento de discurso institucional, torna-se uma prática que está cada vez mais
comum nos setores onde as pressões por medidas de proteção ambiental são
capazes de estimular mudanças também nos sistemas de gestão. O relatório
ambiental demonstra a responsabilidade, o grau em que a empresa tratou os
impactos ambientais causados por seus produtos e processos de produção,
proporciona uma maior abertura para as partes interessadas e revela a importância
da gestão ambiental estratégica (AZZONE et al., 1997).
De acordo com Daub (2007), existem historicamente três tipos diferentes de
relatórios de sustentabilidade, a saber: (a) Relatórios Sociais - originados na década
de 1970 a partir das demandas por balanços sociais referentes aos aspectos sociais
das atividades das organizações; (b) Relatórios Ambientais - originários no fim dos
anos de 1980 e voltados às questões ambientais, que podem incluir ainda aspectos
relativos à saúde e segurança; e (3) Relatórios Anuais - tendem, desde a metade da
63
década de 1990, a inclusão de informações quanto aos aspectos éticos, sociais e
ambientais das atividades da organização.
Cada empresa pode optar por modelos próprios de relatórios ou adotar
aqueles já padronizados. Caso prefira, a empresa pode ainda combinar os dois
modelos - por exemplo, os relatórios do Instituto Ethos, Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas (IBASE) e da Global Reporting Initiative (GRI), dentre
outros. Ressaltamos que estes relatórios não são excludentes, mas vem sendo uma
maneira de tentar compreender as práticas de sustentabilidade.
Alguns desses modelos são apresentados pela Global Reporting Initiative
(GRI) – uma organização sem fins lucrativos, criada em 1997, em Amsterdã, como
uma iniciativa conjunta da Coalition for Environmentally Responsible Economies
(CERES) e o United Nations Environment Programme (UNEP). Segundo o Instituto
Ethos (2010), o modelo da GRI é o único aceito mundialmente.
A GRI é uma rede internacional composta por empresas, associações civis e
outras organizações do mundo todo, que elaborou o modelo mais usado atualmente
no mundo para Relatório de Sustentabilidade (RS). Essa rede tem por missão
conceber um padrão internacional de relato que atenda às expectativas dos
consumidores e investidores, passando a ter uma percepção mais positiva de uma
empresa após a leitura de seu RS.
O conjunto de princípios, protocolos e indicadores desenvolvido pela GRI
torna possível gerir, comparar e comunicar o desempenho das organizações nas
dimensões social, ambiental e econômica. De acordo com a GRI (2009), a
organização busca um ponto de convergência e aceleração da transparência,
prestação de contas, elaboração de relatórios e desenvolvimento sustentável.
Tornou-se a GRI um núcleo oficial de colaboração do Programa das Nações Unidas
para o meio ambiente. A percepção dela é de que os relatórios de desempenho
econômico, ambiental e social concebidos pelas organizações precisam ser tão
rotineiros e passíveis de comparação como os relatórios financeiros (GRI, 2009).
O formato e conteúdo dos RS evoluíram em conformidade com as tendências
de mercado e foram adaptados, por muitas empresas, ao padrão estabelecido pela
GRI, dispostos em seus Sustainability Reporting Guidelines (GRI, 2006). Esse tipo
relatório é o resultado de um processo que objetiva identificar, mensurar, divulgar e
prestar contas sobre as ações de uma empresa, no que tange, principalmente, à
sustentabilidade. Bastante comuns na Europa, na América do Norte e no Japão,
64
esses relatórios passam a ser cada vez mais relevantes em mercados emergentes.
A estrutura dos RS é desenvolvida e continuamente melhorada pela GRI através do
engajamento intensivo de multistakeholders – que envolvem organizações, relatores
e especialistas, visando a um elevado grau de qualidade técnica, credibilidade e
relevância.
De acordo com as diretrizes (versão G3) da GRI, os relatórios devem ser
elaborados segundo uma estrutura que serve de modelo amplamente aceito por
ONGs, agentes financeiros, acionistas, empregados e a própria comunidade
acadêmica. Para a GRI (2006) os relatórios devem contemplar o desempenho
econômico, ambiental e social de uma organização. Segundo Elkington (2004) tais
diretrizes buscam fornecer às organizações uma ferramenta que proporcione a
geração de relatórios de sustentabilidade mais completos, consistentes, confiáveis e
padronizados internacionalmente, e que estão alicerçadas no equilíbrio entre os
desempenhos econômico, social e ambiental, o chamado Triple Bottom Line.
As diretrizes da GRI (2006) consistem em princípios para a definição do
conteúdo do relatório, orientações para garantir a qualidade das informações
relatadas e indicadores de desempenho com o mesmo peso e importância. Elas
sugerem que as informações divulgadas nos relatórios abordem três categorias de
conteúdo: (a) Perfil – informações que estabelecem o contexto geral para a
compreensão do desempenho organizacional, tais como sua estratégia, perfil e
governança; (b) Forma de Gestão – conteúdo que descreve o modo como a
organização trata determinado conjunto de temas para fornecer o contexto à
compreensão do desempenho em uma área específica; e (c) Indicadores de
Desempenho – informações passíveis de comparação sobre o desempenho
econômico, ambiental e social da organização (GRI, 2006). O relatório pode assumir
vários formatos – impresso ou publicado na internet -, podendo estar separado ou
acompanhado do relatório anual ou financeiro.
Para Brown, Jong e Levy (2009) o objetivo explícito das diretrizes GRI é de
harmonizar numerosos sistemas de informação utilizados. O modelo da GRI,
comentam os autores, foi estabelecido e pautado no sistema de informação
financeira dos Estados Unidos, expandindo em âmbito global, social, econômico,
bem como em indicadores de desempenho ambiental, flexibilidade (descritivos e
indicadores quantitativos) e, ainda, proporcionando subsídios aos diversos
interessados (indústria, setor financeiro, profissionais de contabilidade, sociedade
65
civil, ambiental e ONGs de direitos humanos, sindicatos, dentre outros) no processo
de tomada de decisão. A partir disso, as diretrizes da GRI tornaram-se um
instrumento de benchmarking (padrão de referência), uma ferramenta de
governança corporativa e uma plataforma de comunicação estratégica e participativa
com as empresas relatoras.
Corroborando o exposto, Bebbington, Larrinaga e Moneva (2004) comentam
que as diretrizes elaboradas pela GRI são usadas como uma nova ferramenta que
visa legitimar as decisões de gestão e suas ações. Assim, as empresas ao adotar
esse padrão de relatório procuram comunicar aos seus stakeholders a transparência
em relação à sustentabilidade das suas atividades organizacionais, ressaltam os
autores.
Em recente estudo, Campos et al. (2012) realizaram um trabalho com o
propósito de analisar a evolução da publicação de Relatórios de Sustentabilidade de
organizações seguindo os indicadores da GRI, no período de 1999 a 2010,
estratificando por setor, região, nível de aderência às diretrizes GRI, adesão ou não
à OECD, país e versão de relatório publicado. Além disso, buscaram identificar o
comportamento da aderência aos indicadores GRI no que diz respeito ao setor,
região e país. Em seus achados, identificaram que, no período de 1999 a 2010, os
setores que tiveram maior adesão de organizações aos indicadores para elaboração
de relatórios de sustentabilidade GRI foram Serviços Financeiros (14,27%), Energia
(7,51%) e Serviços de Energia (6,87%), que juntos somam quase 30% de
participação relativa no período analisado. Segundo os autores, até o ano de 2010
foram 63 países que utilizaram o parâmetro GRI, totalizando 2.736 organizações. Ao
longo da série histórica os países Espanha (11,54%); Estados Unidos (10,31%);
Japão (6,23%), e Brasil (5,46%) obtiveram o maior percentual de adesão ao modelo
de relatório GRI.
Contudo, a publicação de um relatório nos padrões internacionais, como é o
caso da GRI, não pode ser entendido como efetivo compromisso das organizações
para com a minimização de seus impactos ambientais gerados (GRAY, 2006), nem
mesmo ganhar ou manter a sua reputação (BEBBINGTON; LARRINAGA; MONEVA,
2008).
66
Conforme a legislação, os impactos ambientais21 causados por uma usina
hidrelétrica provocam, segundo Coelho (2010, p.98):
a necessidade de medidas de mitigação ou compensação. Dos
responsáveis pelos empreendimentos são exigidas ações organizadas e
planejadas que indiquem de que forma pretendem realizar a gestão
ambiental do empreendimento. Nos estudos ambientais, em regra, são
apresentados os programas ambientais que buscam organizar e agrupar as
ações para estabelecer seu planejamento frente aos impactos causados.
Assim, encontra-se o passivo ambiental do empreendimento, ou seja, o
compromisso que o empreendedor tem de mitigar quando possível, ou
compensar, quando o dano for inevitável.
A elaboração de um relatório traz benefícios da comunicação da
sustentabilidade empresarial (WBSCD, 2002), como por exemplo: demonstra
transparência; melhora a reputação, cria de valor financeiro; atrai capital a longo
prazo e condições de financiamento favoráveis; conscientiza, motiva, solidariza
colaboradores e atrai talentos; mantém a licença para operar; melhora os sistemas
de gestão; incrementa o diálogo interno; conscientiza o risco; encoraja a inovação; e
busca a melhoria contínua.
Azapagic (2003; 2004) complementa que estas posturas adotadas por parte
das empresas, no que tange aos aspectos ambientais e sociais, refletem benefícios,
como por exemplo: menor retrabalho; baixos custos de saúde, aliados a segurança e
ambiente de trabalho saudável; redução de custos em relação aos métodos de
produção mais limpa e inovação; acessibilidade aos credores, seguradoras,
empréstimos e as taxas de seguro; influência das melhores práticas na legislação;
criação de vantagens de mercado por uma abordagem socialmente responsável.
Um dos fatores essenciais para aumentar a motivação das empresas e
ampliar os esforços ambientais é o de melhorar a sua capacidade para conduzir um
diálogo positivo sobre as questões ambientais com os clientes e outras partes
interessadas (stakeholders). Sobre este assunto, Carrieri (2002) diz que no contexto
organizacional:
[...] a preocupação com o meio ambiente figura, hoje, sob o nome de
sustentabilidade. Existem diversos discursos sobre a sustentabilidade, no
sentido de sobrevivência da organização e seu negócio. Sob pressões
sociais as organizações têm tentado abarcar o discurso “ambientalista”,
principalmente no que concerne a possibilidade de manter-se mercados e
21
Impacto ambiental diz respeito à “alteração da qualidade ambiental que resulta da modificalçao de
processos naturais ou sociais provocados por ação humana” (SÁNCHEZ, 2008, p. 462).
67
conquistar vantagens competitivas em relação as outras organizações
(CARRIERI, 2002, p. 16).
As pessoas que lêem os Relatórios de Sustentabilidade das empresas ainda
são uma minoria. Isso é constatado por Brown, Jong e Levy (2009) ao alertarem
sobre críticas aos relatórios propostos pela GRI, principalmente por não detalharem
o suficiente as informações, não promoverem uma imagem adequada dos impactos
das organizações sobre as comunidades locais e as condições sociais. Tais
relatórios podem estar orientados demasiadamente para processos ao invés do
desempenho e, por vezes, apresentarem uma realidade utópica, complementam os
autores.
Na seção seguinte, discutimos a questão da sustentabilidade e o discurso
midiático.
3.2.4 Sustentabilidade e discurso midiático
A noção de sustentabilidade, no interior do discurso ambientalista, vem sendo
utilizada como foco de projetos para a sociedade, que procura garantir a
sobrevivência de grupos sociais e da natureza. Gradativamente, relata Becker
(2002), a sustentabilidade transforma-se em elemento-chave, divulgada de forma
ampla, originando uma via alternativa onde percorrem diferentes grupos sociais e de
interesse, como políticos, profissionais do setor público e privado, ecologistas,
economistas, agências financeiras, grandes empresas, dentre outros.
Partindo de um imperativo verbal direcionado unicamente para a venda de
produtos e serviços em direção à abordagem de caráter mais humanista,
depreendemos que as ações de comunicação empresarial, por influência da visão
de sustentabilidade, fazem uso de um novo discurso quando do desafio de atrair,
conquistar e manter seus clientes (ARRUDA; MAIMON, 2006).
Contudo, na trajetória de mudança de comportamento em direção a
sustentabilidade:
[...] algumas “espertezas” mercadológicas que são praticadas a fim de se
encurtar caminhos. O marketing social - paliativo entre o abandono estatal e
68
o oportunismo empresarial - tenta fazer de algumas práticas responsáveis a
melhor tradução do que deveria ser uma atuação socialmente responsável.
São campanhas em defesas de inúmeras causas sociais, projetos das mais
diversas naturezas para ressarcimento de antigas dívidas sociais,
reinvenções capazes de conquistar prêmios e pessoas. Enfim, em nome do
compromisso com a responsabilidade social, tem sido cada vez mais
comum o investimento de profissionais de comunicação e de marketing e
das próprias empresas em atrelar as marcas organizacionais às práticas
que utilizam o social como um diferencial competitivo. Mais do que uma
oportunidade mercadológica, a questão da sustentabilidade deve ser vista e
trabalhada como um valor, do qual ninguém pode e deve abrir mão.
(ARRUDA; MAIMON, 2006, p. 10)
Os componentes linguísticos articulados às discussões sobre a emergência
de discursos ambientais coincidem com a proliferação de novas mídias e sua
globalização (MÜHLHÄUSLER; PEACE, 2006). Em outro estudo, Mühlhäusler
(2003) revela que o discurso da sustentabilidade, na sua dimensão ambiental, é
totalmente incorporado na estrutura multimídia global. Mühlhäusler e Peace (2006)
definem de maneira ainda restrita, o discurso ambiental como aquele que,
compreendendo os dispositivos linguísticos, busca articular argumentos sobre a
relação entre homem e o meio ambiente. A linguagem sempre foi utilizada para
explorar essa relação, complementam Mühlhäusler e Peace (2006).
Jagtenberg (1994, p. 14) afirma que “estamos enfrentando tanto a
degradação ecológica e uma explosão de discursos sobre a natureza”. Todavia, esta
explosão não evidencia alguma influência direta dos fatores ambientais sobre a
linguagem, mas sim para o surgimento de uma sociedade de risco (BECK, 1992) e
de tecnologias como a energia nuclear. Para Spaargaren, Mol e Buttel (2000), tal
discurso é visto como uma tentativa dos membros da sociedade de risco a fazer
sentido das mudanças globais que afetam.
Hoff e Lucas (2006) ressaltam que, numa mudança qualitativa relacionada ao
discurso de comunicação de massa (publicidade), é preciso antes ter uma discussão
do que sejam as práticas discursivas no contexto organizacional. Desta maneira, as
alterações no discurso organizacional serão viáveis mediante a reflexão efetiva de
tais mudanças nas suas condições de produção e consumo.
Incitamos, nesse contexto, algumas inquietações: Como explorar o discurso
da sustentabilidade e que possa contribuir na compreensão do ambiente? Existe
alguma propriedade que se sobressaia deste discurso? Que abordagens são mais
adequadas para analisá-los? Que contribuição pode dar tais indagações para a
questão da sustentabilidade no âmbito organizacional?
69
Um estudo sobre Análise do Discurso da cobertura da imprensa sobre
questões ambientais na Itália, realizado por Triandafyllidou (1996), revelou que o
trabalho jornalístico não tinha substância essencial, na medida em que as
consequências dos problemas ou suas possíveis soluções eram pouco discutidas.
Em outro estudo nos EUA, Sachsman, Simon e Valenti (2006) observaram que os
jornalistas ambientais concentram-se geralmente muito mais sobre os problemas
relacionados à poluição, ao invés de escrever histórias para ajudar os leitores a
entender de investigação ou de questões complexas.
Para Voltolini (2008), o que define quanto de risco e de oportunidade existem
no uso da sustentabilidade para se estabelecer e comunicar uma marca de uma
organização “é a intensidade do compromisso e o nível de verdade nas práticas.
Quanto mais claras e perceptíveis as incoerências, maiores os riscos. Quanto mais
autêntica é a incorporação do tema na cultura da companhia, maiores as
oportunidades”.
Ao analisar a evidenciação da difusão das representações de gênero
socialmente construídas nos jornais de circulação interna de duas empresas
localizadas em Minas Gerais, a pesquisa de Assis et al. (2004, p. 13) mostrou que:
A mídia, neste caso os jornais internos das duas empresas, constituiu-se em
uma fonte de perpetuação do poder da alta administração e de manipulação
e controle de comportamentos, cujos conteúdos são explicitados
intencionalmente, visando a normatização e legitimação de certos
procedimentos dentro da organização.
Segundo Abreu (2006), na área do jornalismo as pesquisas procuram exprimir
a respeito de particularidades do jornalismo ambiental, entendido como jornalismo
especializado (ERBOLATO, 1981; LAGE, 2005, TAVARES, 2009), enquanto que
outras pesquisas vinculadas à linguística e a análise do discurso utilizam a mídia em
geral para revelar sobre a questão ambiental (ORLANDI, 1996; SILVA, 1996a,
1996b, 1997, 2001) e a divulgação pública da ciência (ORLANDI, 2001;
GUIMARÃES, 2001; NUNES, 2001, 2003), intitulada de jornalismo científico que
envolve o viés ambiental.
Unem-se a estes, outros estudos que versam sobre os discursos da mídia e
da sustentabilidade, quais sejam: Maimon (1994), Lima (2003), Hoff e Lucas (2006),
Pelicioni (2006), Santos (2006), Nassar e Figueiredo (2008), Loose e Peruzzolo
(2008), Kavinski (2009) e Kavinski et al. (2010).
70
Em se tratando da mídia, Resende (2006) comenta que:
A pulverização da fala, somada à polarização, por explicitarem e tornarem
evidente a vontade de verdade como marca do discurso da mídia, nos
impele à indagação acerca da própria verdade, fazendo-nos duvidar das
legitimidades dos lugares e dos sujeitos falantes que se impõem nos dizeres
da mídia (RESENDE, 2006, p. 05).
Vivemos, pois, numa sociedade midiatizada, onde as pessoas são
atormentadas pela ação dos meios de comunicação (rádios, TVs, impressos,
outdoors, internet etc.), que compreendem mensagens jornalísticas e publicitárias,
colaborando de forma maciça para a formação do imaginário dos indivíduos
(ZANETTI, 2007). Esses meios, portanto, mais do que informar, estão presentes nos
processos de construção da realidade social.
Santos (2006), ao analisar o enquadramento midiático do consumo
sustentável, fazendo uma primeira análise dos parâmetros que cercam este discurso
e dos fatores que influenciam a abordagem do tema nos jornais, alegou que, apesar
de ser inegável o surgimento de iniciativas relevantes, o que difere entre projetos de
visibilidade e políticas consistentes direcionadas para a sustentabilidade ainda
escapa ao discurso midiático:
[...] o que é preocupante, já que estamos falando de um filtro através do
qual a sociedade interpreta e confere sentido aos acontecimentos. Ou seja,
o modo como a mídia seleciona, edita e relata faz toda a diferença na
assimilação de conceitos e fatos, levando-se em conta que ‘há sempre a
escolha do repertório léxico e simbólico usado na representação de um
fato’. Por outro lado, a evidência de que ainda prevalece certa confusão na
mídia e de que não são apurados todos os aspectos relevantes dos
investimentos corporativos que viram notícia - em particular os pontos
críticos - não indica que o tema da sustentabilidade em si seja
desconsiderado pela imprensa ou que não haja material disponível sobre o
assunto (SANTOS, 2006, p. 03).
Numa sociedade de capitalismo avançado que nos encontramos é preciso
esclarecer dois conceitos: consumo e consumismo. O primeiro está atrelado ao
conceito de necessidades pessoais e coletivas, básicas e culturais da população. O
segundo conceito diz respeito “a imposição e determinação de um sistema de
produção material e espiritual” (DE LUCA, 2000, p.117). O consumismo, portanto, é
publicizado através dos meios de comunicação que originam um estilo de vida onde
o ser humano tem que se inserir e se adaptar, ou quiçá marginar-se nesse sistema.
71
Para Verón (2004, p. 242), o discurso da informação possui uma dupla
associação: de um lado, está ligado “a estruturas institucionais complexas, que são
seus ‘suportes organizacionais’ e, do outro, a relações sociais cristalizadas de
ofertas/expectativas, que são os correlatos dessas estruturas institucionais”. Para
Santos (2006), o enquadramento midiático de um tema e as representações que
dele resultam tem uma relação direta com as questões inerentes aos seus leitores.
A mídia, de um lado, programa o relato de acontecimentos ou fatos que
pautam os discursos sociais a partir de critérios de noticiabilidade e das ofertas de
sentidos das fontes. Por outro lado, a sociedade legitima os discursos midiáticos
quando os emprega para produzir sentido sobre os acontecimentos socioambientais
(KAUFMANN, 2009).
Transmitir e difundir informações a que não possui definiria o papel da mídia,
isto é, difundir as informações relativas aos acontecimentos que se passam no
mundo - espaço público - utilizando, para tal, suportes tecnológicos como rádio,
imprensa ou televisão, lembra Charaudeau (1997).
Entretanto, no que se refere à questão da sustentabilidade, é preciso estar
preparado, haja visto que “hoje é o medo que cria uma Natureza midiática e falsa,
uma parte da Natureza sendo apresentada como se fosse o todo”, como desabafa
Santos (1992):
A mediação interessada, tantas vezes interesseira, da mídia, conduz, não
raro, à doutorização da linguagem, necessária para ampliar o seu crédito, e
à falsidade do discurso, destinado a ensombrecer o entendimento. O
discurso do meio ambiente é carregado dessas tintas, exagerando certos
aspectos em detrimento de outros, mas, sobretudo, mutilando o conjunto. O
terrorismo da linguagem (H. Lefèbvre, 1971, p. 56) leva a contraverdades
mediáticas, conforme nos ensina B. Kayser (1992). Este autor nos dá alguns
exemplos, convidando-nos a duvidar do próprio fundamento de certos
discursos das mídias. Por exemplo, ‘Sobre o aquecimento da terra e o
efeito-estufa’. (SANTOS, 1992, p. 07).
Não se deve limitar a compreensão do discurso, afirmam Faria e Meneghetti
(2001, p.02) “apenas ao ato isolado da análise do discurso pontual em determinada
situação presenciada, deve haver uma análise longitudinal no tempo e no conteúdo
conceitual do vocabulário utilizado”.
Devido
à
notável
falta
de
compreensão
pública
do
discurso
da
sustentabilidade, muitos salientaram a necessidade de sua comunicação, afirma
Kolandai-Matchett (2009). Leal Filho (2000) comenta que um problema com a
72
questão da sustentabilidade é que sua complexidade foi muitas vezes subestimada.
Ele argumenta que uma maior consciência de sustentabilidade entre o público “só
pode ter uma expectativa realista, se melhor comunicar” (LEAL FILHO, 2000, p. 12).
No entendimento de Oepen e Hamacher (2000) exige-se uma grande e
complexa reestruturação da sociedade moderna num contexto global. Para os
autores, falta a sociedade considerar a compreensão da lógica subjacente da
necessidade de mudança direcionada a discussões face à sustentabilidade, e
apontam a existência de um problema fundamental na comunicação. Portanto, eles
enfatizaram a necessidade de comunicação a ser um componente indispensável de
qualquer iniciativa de sustentabilidade.
Barry (2003) corrobora o foco da comunicação sobre a sustentabilidade ser
essencial para fazer a alteração necessária voltadas a exigências legais, sendo
necessário que se passe de um discurso de elites para um discurso que seja mais
aberto e acessível para a comunidade. Isso pode ser alcançado, dentre outras
maneiras, por meio da educação ambiental. No estudo de Robottom e Hart (1993),
os autores consideram que o conhecimento sobre o ambiente relaciona-se com o
positivismo, as atividades no ambiente estão relacionadas com o construtivismo e as
ações para o ambiente estão vinculadas com a teoria crítica da educação. Para
estes autores, a educação ambiental responsabiliza-se, além da colaboração na
construção de conhecimentos, em proporcionar mecanismos de participação das
comunidades, com vistas ao diálogo reconstrutivista no processo educativo em prol
do ambiente.
Verificamos, pois, que pesquisadores que compreendem a sustentabilidade
de forma crítica concentram-se em temas relacionados à educação ambiental
(BRASIL, 1999, 2004; MEDINA, 2002; ZAKRZEVSKI, 2002, 2003; JACOBI, 2003;
LAYRARGUES,
2004;
LOUREIRO,
ALBUQUERQUE,
BARRETO,
2004;
ZAKRZEVSKI, BARCELOS, 2004; FONSECA, 2009, 2010, por exemplo), à
economia solidária (BARRETO; PAES DE PAULA, 2009), à responsabilidade social
(COSTA; CARVALHO, 2005b; CARRIERI; SILVA; PIMENTEL, 2009), e à própria
temática sustentabilidade (FARIA; FLORIANO, 2011; JUNQUEIRA; SOUTO MAIOR;
PINHEIRO, 2011), para exemplificar alguns.
73
4
POSICIONAMENTO METODOLÓGICO
Apresentamos, nas seções seguintes, o posicionamento metodológico,
distribuídos em: a) disseminação e níveis de aproximação da Análise do Discurso
(AD), que intenta compreender e organizar a multiplicidade de tendências e níveis de
aproximação; b) níveis de aproximação do discurso; e (c) aprofundamento do
terceiro nível de aproximação de AD – nível sociohermenêutico e pragmático, com
destaque para: (c.1) origem da Análise Sociológica do Discurso (ASD) na tradição
espanhola de pesquisa social qualitativa, revelando a noção de discurso e de
contexto na ASD; (c.2) principais temas e práticas de pesquisa com utilização da
ASD; e (c.3) debate da ASD e da Análise Crítica do Discurso (ACD).
4.1
Análise do Discurso – disseminação e níveis de aproximação
A linguagem enquanto discurso “é interação, e um modo de produção social;
ela não é neutra, inocente [...] e nem natural, por isso o lugar privilegiado de
manifestação de ideologia” (BRANDÃO, 1990, p. 12). O termo discurso remete a
“uma atividade, um processo que expressa em um plano significante, mediante um
sistema de signos e de regras de composição destes signos, a articulação de um
sentido [...] a uma referência a realidade extralinguística designada” (ALONSO,
1998, p. 208). Trata-se de organizar a reconstrução dos sentidos dos discursos em
sua situação de enunciação, de forma micro e macrossocial (ALONSO, 1998). Do
ponto de vista sociológico, podemos definir discurso como qualquer prática pelo qual
os sujeitos dão sentido à realidade (Ruiz Ruiz, 2009). Dentro dessa concepção
sociológica, o discurso apresenta uma diversidade de formas muito ampla, nas quais
quaisquer práticas sociais podem ser analisadas discursivamente.
O discurso tornou-se objeto de análise, estudo e de debate nas ciências
sociais por motivos variados. Iñiguez (2004b) apresenta pelo menos três razões
diferentes dessa conversão: (1) razões do tipo teórico e epistemológico, como os
debates em torno do giro linguístico exerceram influência sobre o conjunto das
74
ciências sociais e humanas; (2) transformação da linguística para análise do uso da
linguagem nos vários contextos relacionais e de comunicação; (3) relevância que os
meios de comunicação adquiriram e, em particular, as novas tecnologias de
comunicação, colocando em destaque a centralidade de tais processos na
constituição, manutenção e desenvolvimento das sociedades.
As ciências sociais tem tradicionalmente considerado que a linguagem é
apenas um instrumento de comunicação, enquanto que a tendência linguística da
Análise do Discurso (AD) é utilizada para indicar e apontar determinados elementos
e fenômenos da realidade no ambiente social (IÑIGUEZ, 2011).
Ao que tudo indica a expressão Discourse Analysis, traduzida como Análise
do(e) Discurso, foi utilizada pela primeira vez pelo linguista americano Zellig S.
Harris (1952), constatado por Verón (1987), Faraco (2003), Karam (2005), Helsloot e
Hak (2007) e Orlandi (2009).
Para Iñiguez (2004), a virada linguística foi um fenômeno que possibilitou o
surgimento da ação científica como uma prática social equivalente a qualquer outro
tipo de ação social, que proporciona à ciência social um embasamento
epistemológico
não-representacionalista.
A
AD
é
considerada
tanto
uma
consequência como uma manifestação da guinada linguística ocorrida nas artes,
humanidades e ciências sociais (GRACIA, 2004; GILL, 2002). Ela teve seu despertar
de maneira mais representativa pouco mais de algumas décadas, como uma nova
tendência linguística, conforme pontua Bunge (1993):
[...] novas orientações vem surgindo na sociologia da ciência. Apesar de
vários estilos respectivos representarem múltiplas diferenças, no entanto,
estão a aderir a uma série de dogmas compartilhados. Trata-se do
externalismo, a tese segundo a qual o conteúdo conceitual é determinado
pela estrutura social, o construtivismo ou subjetivismo, no qual o
investigador, não só constrói a sua própria versão dos acontecimentos, mas
também os fatos em si e, eventualmente, no mundo inteiro; o relativismo,
para o qual não existem verdades objetivas e universais; o pragmatismo,
que enfatiza a ação e a interação em detrimento das idéias e identifica a
ciência com a tecnologia; ordinarismo, que reduz investigação científica a
pura transpiração sem inspiração, recusando-se a reconhecer o estatuto
especial de ciência e distingui-la da ideologia, da pseudociência e até
mesmo anti-ciência; a adoção de doutrinas psicológicas obsoletas, como o
behaviorismo e a psicanálise, e a substituição do positivismo, e racionalismo
e outras filosofias clássicas por muitas filosofias científicas e até mesmo
não-científicas, como filosofia linguística, a fenomenologia, o
existencialismo, a hermenêutica, a teoria crítica, o pós-estruturalismo, o
descontrutivismo, ou na escola francesa semiótica, conforme o caso
(BUNGE, 1993, p. 17).
75
Embora originalmente vinculada à filosofia da linguagem, a AD é um método
que surgiu na estrutura do ‘giro linguístico’, uma expressão utilizada para designar
certa mudança na filosofia e em várias ciências humanas e sociais, afirma Gracia
(2004). Essa ruptura linguística foi precedida por críticas ao positivismo, pela
dissipação das ideias estruturalistas e pós-estruturalistas, bem como dos ataques
pós-modernistas, que representou o rompimento com a tradição.
Traçando um esboço histórico, ainda que a AD tenha tomado o discurso como
objeto próprio, verificamos somente após os anos de 1960, desde a Antiguidade e
nos estudos retóricos no século XIX, que se encontravam os estudos do texto em
sua materialidade linguística, como os trabalhos de M. Breál sobre semântica
histórica (ORLANDI, 2009).
No século seguinte, por volta dos anos 1920 e 1930, encontramos as
pesquisas dos formalistas russos, que já notaram no texto uma estrutura. Apesar do
interesse deles ser, sobretudo, literário, os russos pressentiam uma análise
tradicional de abordagem, buscando uma lógica interna do texto, não configurando
uma análise de conteúdo. Diferentemente desta, a AD “considera que a linguagem
não é transparente. Desse modo, ela não procura atravessar o texto para encontrar
um sentido do outro lado” (ORLANDI, 2009, p. 17).
Há uma transferência prenunciada pelos formalistas russos, que buscavam
responder não o ‘o quê’, mas o ‘como’. Segundo o autor “ela [AD] produz um
conhecimento a partir do próprio texto, porque o vê como tendo uma materialidade
simbólica própria e significativa, como tendo uma espessura semântica: ela o
concebe em sua discursividade” (ORLANDI, 2009, p. 18).
Os anos 1950 foram decisivos para a constituição da AD enquanto disciplina.
Salientamos, nessa época, de um lado, os trabalhos do estruturalista americano
Zellig Harris (1952), que apresenta a possibilidade de ir além das análises
confinadas meramente à frase, estendendo procedimentos de seu método
distribucional americano aos enunciados. E, de outro, destacamos as pesquisas de
Jakobson e Benveniste sobre enunciação nos anos 1970. Tais estudos “apontam
para a diferença de perspectiva que vai marcar uma postura teórica de uma análise
do discurso de linha mais americana, de outra mais européia” (BRANDÃO, 1990, p.
15).
A diversidade de enfoques da AD, após a virada linguística, foi gerada
principalmente em virtude das filiações disciplinares heterogêneas e práticas muito
76
variadas. O único denominador comum entre essas práticas consiste, na visão de
Iñiguez (2004b, p. 107), em considerar a “análise do idioma em seu uso, seja falado
ou escrito”. O surgimento e o desenvolvimento histórico da AD possuem raízes em
diversas disciplinas, como por exemplo: a retórica clássica; formalismo russo e
estruturalismo semiótico francês; a sociolinguística e a etnografia da fala; a análise
de conversação; a linguística do texto; e a psicologia cognitiva e a inteligência
artificial (VAN DIJK, 1980).
Similarmente, Blancafort e Valls (1999) reconhecem algumas disciplinas que
se interessaram pelo discurso, com finalidades diferentes, afirma Rodríguez (20012002): antropologia linguística; etnografia da comunicação; etnometodologia;
sociologia; psicologia; filosofia da linguagem; pragmática; e retórica clássica. A AD
se firma como um “novo espaço de reflexão sobre a linguagem” e mostra-se “como
uma
continuidade
e alimenta-se
de
contribuições de diversas áreas do
conhecimento” (CABRAL, 2005, p. 62).
Consequência das tradições da AD, o discurso manifestou-se como um
conceito polissêmico (IÑIGUEZ, 2004b), que, segundo Maingueneau (1987),
compreende: (a) a tradição linguística, em geral a da filosofia linguística associada à
Escola de Oxford; (b) a tradição originária na obra de Foucault; e (c) a tradição
pragmática francesa e da análise de discurso francesa.
Orlandi (1986, p. 119), referenciada por Fernandes (2008, p. 52), apresenta
as seguintes teorias constitutivas da AD, que possibilitam sua a compreensão, sendo
elas: (a) materialismo histórico: compreendido como teoria das formações e
transformações sociais; (b) Linguística: tomada como teoria dos mecanismos
sintáticos e dos processos de enunciação; (c) teoria do discurso: trata da
determinação histórica dos processos semânticos.
A episteme da AD origina-se, pois, do entrecruzamento destas áreas do
conhecimento científico (FERNANDES, 2008); campos disciplinares articulados para
a constituição teórica e atravessados por meio de uma teoria subjetiva de ordem
psicanalista, proporcionando o inconsciente para o interior das suas reflexões
(GREGOLIN, 2003b). Se a AD herda traços de três regiões de conhecimento,
Psicanálise, Linguística e Marxismo-, “não o é de modo servil e trabalha uma noção
– a de discurso – que não se reduz ao objeto da Linguística, nem se deixa absorver
pela Teoria Marxista e tampouco corresponde ao que teoriza a Psicanálise”,
manifesta-se Orlandi (2009, p. 20).
77
Para uns a AD pode ser considerada interdisciplinar (VAN DIJK, 1980;
VALLES, 1997; CABRAL, 1999; HOWARTH, 2000; GODOI, 2006; CALDASCOULTHARD, 2008), comum a duas ou mais disciplinas ou que se realiza no âmbito
dessa relação, enquanto que para outros, possui um caráter transdisciplinar
(FERNANDES, 2008; CONDE, 2009), isto é, aquilo que trata de várias disciplinas.
Essa caracterização gera a busca de bases epistemológicas e conceituais
(CORIOLANO, 2005) que indicam um direcionamento para a compreensão dos
fenômenos estudados. Pela origem a partir de críticas à ciência tradicional, a AD
possui
uma
base
epistemológica
bastante
diversificada,
decorrente
do
entrecruzamento de teorias de vários campos do saber, complementa Fernandes
(2008).
Como o próprio nome indica, a AD não trata da língua, nem da gramática,
ainda que estejam vinculadas; versa-se, pois, sobre discurso. “O discurso é assim
palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se
o homem falando”, sintetiza Orlandi (2009, p. 15).
“É o nome dado a uma variedade de diferentes enfoques no estudo de textos,
desenvolvida a partir de diferentes tradições teóricas e diversos tratamentos em
diferentes disciplinas”, abordam Bauer e Gaskell (2002, p. 09) ao se referirem à AD.
Como método de pesquisa, a AD é utilizada por uma variedade de afiliações
acadêmicas, e não acadêmicas, provenientes de uma diversidade de disciplinas que
visam atender diversos questionamentos (JOHNSTONE, 2002).
A AD tem como base as teorias linguísticas que possibilitam compreender os
múltiplos sentidos criados por meio da complexa trama dos atores que o realizam.
Desvendando sua linguagem, suas palavras e frases para revelar os segredos
subentendidos são algumas das contribuições da AD, além de penetrar nos
implícitos ditos, que compõem o instrumental metodológico que perfaz o discurso
(BALLALAI, 1989). Para Iñiguez (2004a, p. 53), além de uma alternativa
metodológica, a AD tornou-se “uma perspectiva a partir da qual podemos analisar os
processos sociais”. Segundo o autor, a AD iniciou como um método, isto é, “uma
aplicação dos conhecimentos sobre a linguagem à investigação de processos
sociais” (IÑIGUEZ, 2004a, p. 97), e converteu-se “em um conjunto de perspectivas
genuínas, que ajudaram a transformar nossa concepção dos próprios processos
sociais e da maneira de abordá-los”.
78
Entremeada por várias abordagens teóricas, estabelecendo uma interlocução
teórico-metodológica em seu interior – a AD intermedeia, perpassa e apoia diversos
campos de saber, passando a apropriar-se de e redefinir conceitos de natureza
eminentemente linguísticos como linguagem, língua, discurso, texto, sujeito
(AMARAL, 2007). Ou ainda, complementa Amaral (2007), instituiu noções
conceituais essenciais ao processo de análise, a destacar: condições de produção,
historicidade, formação discursiva22, formação ideológica.
Consequentemente, a AD apresenta definições muito variadas, desde a mais
generalista como “a análise do uso da língua”, de Brown e Yule (1993, p. 01), até os
conceitos mais atuais de van Dijk (2004), sugerindo que o termo mais apropriado
fosse estudos do discurso, já que inclui não apenas a análise propriamente dita, mas
ainda teorias, aplicações, críticas e outros enfoques de investigação acadêmica.
Na AD, discorre Orlandi (2009, p. 15), buscamos “compreender a língua
fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico, parte do trabalho social geral,
constitutivo do homem e da sua história”. Este tipo de análise vai além da
interpretação, procura trabalhar seus limites, seus mecanismos, como item dos
processos de significação. De maneira sintetizada, a AD compreende como um
objeto simbólico que produz sentido23, isto é, de que maneira ele está acometido de
significância para e por sujeitos24. Tal compreensão implica apontar como o texto
organiza os gestos de interpretação que relacionam sujeito e sentido, produzindo
novas práticas de leituras (ORLANDI, 2009). Pode a AD demonstrar, complementa
Martins (2006, p.58), “que o que é lido não é a realidade, mas apenas um relato da
realidade propositalmente construído de determinado modo, por determinado
sujeito”.
Em termos de precursores, destacamos ainda os trabalhos de Halliday
(estruturalista europeu), que julga o texto como unidade indispensável na análise da
22
Em toda e qualquer formação discursiva, as contradições mostram “uma coerência visto que
desvelam elementos exteriores à materialidade lingüística, mas inerentes à constitutividade dos
discursos e dos sujeitos”. Para o autor “a contradição revela o lugar do sujeito enunciador e as vozes
constitutivas de sua voz, e uma formação discursiva na qual se inscreve”. (FERNANDES, 2008, p. 568).
23
A este respeito, Fernandes (2008, p. 20) comenta: “Trata-se do efeito de sentido entre sujeitos em
enunciação; nega-se a idéia de mensagem encerrada em si; contesta a imanência do significado”. Ao
passo que enunciação, corresponde ao “histórico-ideológico de onde os sujeitos dizem e que marcam
o momento e o ato de dizer”.
24
Para Fernandes (2008, p. 20), o sujeito “é polifônico e é constituído por uma heterogeneidade de
discursos”. Essa heterogeneidade, o autor define como sendo “formas de presença no discurso das
diferentes vozes constitutivas do sujeito” (p. 35).
79
linguagem. Apesar de suas valiosas contribuições, ele considera o texto como “uma
passagem de qualquer cumprimento que forma um todo unificado, pensando a
linguagem em uso”, desconsiderando a forma material e a ideologia como
constitutiva, estacionando na descrição (ORLANDI, 2009, p. 18).
Apesar de apresentarem diferenças metodológicas e teóricas, tornando-se
grandes linhas divisórias em AD (ORLANDI, 2003), as linhas anglosaxã e europeia
surgem a partir da necessidade atribuída pela Linguística em definir uma nova
unidade de análise que ultrapassasse os limites da frase – o próprio texto. O Quadro
8 apresenta tais distanciamentos:
Quadro 8: Análise do Discurso - linha anglosaxã e européia
AD Anglosaxã
Tipos de
discurso
Objetivos
determinados
Método
Oral – conversação cotidiana comum
AD Francesa
Escrito – quadro institucional doutrinário
Propósitos comunicacionais
Propósitos textuais
Descrição – uso (imanência do objeto) Explicação – forma (construção do objeto)
Interacionismo
(psicologia
e Estruturalismo (lingüística e história)
sociologia)
Origem
Antropologia
Linguística
Fonte: Adaptado de Gadet (1997, p. 16) e Cabral (2005, p. 31).
Estas linhas marcam, diferentemente, duas formas de pensar a teoria do
discurso, afirma Orlandi (1986). A tradição americana compreende a teoria do
discurso como uma extensão da Linguística e possui um enfoque intralinguístico; a
AD “não é afetada pela dicotomia saussuriana língua e fala e constitui, assim, uma
mera extrapolação da gramática” (CABRAL, 2005, p. 60). Pereira (1991, p. 08)
ressalta que “as investigações tendem a focalizar de maneira descritiva a questão da
coesão e coerência textual”. Nesta tendência americana encontramos a declinação
linguístico-pragmática (empiricista) da análise de discurso com um sujeito
intencional, complementa Orlandi (2003).
A tradição europeia, por sua vez, segue a tradição francesa e trata de
encaminhar para a vertente do discurso o sintoma de um colapso interno da
Linguística, principalmente no que diz respeito a semântica; atrela uma perspectiva
histórica ao estudo reflexivo dos textos. Para Cabral (2005, p. 60), a AD, nessa
tendência, não se evidencia em sua origem como uma disciplina de saber, mas sim
“como fruto de uma prática escolar, voltada para a ‘explicação de textos’, exercida
na conjuntura intelectual dos anos sessenta, a articulação, sob o paradigma
estruturalista, da lingüística, do marxismo, e da psicanálise em torno da ‘escritura’.”
80
De acordo com Orlandi (2003, p. 06), trata-se de uma “tendência (materialista)
que desterritorializa a noção de língua e de sujeito (afetado pelo inconsciente e
constituído pela ideologia) na sua relação com discurso em cuja análise não se
procede pelo isomorfismo”.
A partir do estudo de Maingueneau (1976), Karam (2005) identificou três
grandes tradições na conceituação do discurso: (1) uma aproximação formalista
(intra-discursiva), (2) outra perspectiva enunciativa, (3) e a perspectiva materialista.
A tradição formalista, com base em Harris e Greimas, entende o discurso como fonte
de si mesmo, sejam frases ou enunciados, relatos ou macro-estruturas. Esta
tendência inclui uma visão do discurso como uma unidade linguística superior a
oração (transoracional), perfazendo uma mensagem global, um enunciado. Na
segunda tradição, de Benveniste e Jakobson, o discurso é considerado como parte
de um modelo de comunicação (KARAM, 2005).
A partir desse entendimento, Benveniste e Jakobson defendem o discurso
como uma circunstância de lugar e de tempo em que um determinado sujeito de
enunciação organiza sua linguagem em função de determinado destinatário; e
procuram desvendar como se insere o sujeito falante nos enunciados que emite, ou
seja, como o enunciador aparece no enunciado, como o usuário da língua se
apropria dela, se vincula a ela de uma maneira específica (KARAM, 2005).
Por fim, a tradição materialista do discurso de Robin e Pêcheux, que
entendem o discurso como uma prática social relacionada às suas condições sociais
de produção, e seu marco de produção institucional, ideológico-cultural, históricocontextual (KARAM, 2005).
Haidar (1998), por meio de uma síntese metodológica, apresentou as
principais tendências diferentes em relação aos modelos de Análise de Discurso,
Nessa tese, as tendências são entendidas como tradições, ao passo que os modelos
ressaltam as abordagens da AD, conforme apresenta o Quadro 9:
81
Quadro 9: Quadro-resumo das tendências da Análise do Discurso (AD)
Tendência
Americana
Modelo(s) e Principais Precursores
Modelo distribucional (Zellig Harris)
Modelo transformacional (Chomsky)
Modelo tagmémico (Pike)
Modelo pragmático da etnografia e da comunicação (Dell Hymes; Gumperz)
Modelo (Deborah Tannen; Deborah Schiffrin)
Britânica
Modelo da filosofia analítica - teoria dos atos da fala (Austin; Searle)
Modelo de análise textual (M. K. Halliday)
Modelo argumentativo (Stephen Toulmin)
Modelo de análise discursivo, cultural e ideológico (Thompson – neohermenêutico;
e Giddens - neomaterialista)
 Modelo de análises pragmático-discursivo (Deborah Camerun)
 Modelo de análise crítica do discurso (Wodak e Meyer; Fairclough)
Alemã
 Modelo argumentativo (Kelin, Zimmerman; Kopperscmidt; e outros)
 Modelo psicoanalítico (Wilheim Reich; Theodoro Adorno)
 Modelo linguística textual (Petofi; Schmidt; e outros)
 Modelo pragmático (J. Habermas)
 Modelo hermenêutico (Gadamer)
Francesa
 Modelo argumentativo e de implícito (Ducrot; Anscombre)
 Escola Francesa de Análise do Discurso (Pêcheux; Robin; Marcellesi; Gardin;
Maldidier; Guespin; Maingueneau; Courtine; Charaudeau; e outros)
 Outros modelos de análise do discurso (articulados a anterior): a) da enunciação
(Dubois; Recanati; Todorov; Kerbrat-Orecchioni; Benveniste; Mainguenau, etc.); b)
da gramatologia (Derrida)
 Modelo hermenêutico (Paul Ricoeur)
 Modelo de semiótica narrativa (Greimas; Barthes; Bremmnond; Genette; Kristeva;
Rastier; Landowski; Claude Duchet; etc.)
Belga
 Modelo argumentativo (Perlman – a nova retórica)
 Modelo de semiótica narrativa aplicado ao discurso religioso (Grupo de
Entrevernes)
Suíça
 Modelo de análise argumentativa (Escola de Neuchatel - Grize e Vignaux)
Holandesa  Modelo da linguística textual e de análise crítica do discurso (T. A. van Dijk)
Austríaca
 Modelo de análise textual (Wolfgang Dressler – ligado a aquisição da linguagem)
 Modelo de análise do discurso/poder (Ruth Wodak e outros)
Australiana  Modelo de análise do discurso da mídia de massa (Hodge; Kress; entre outros)
Europa
 Modelo desenvolvido na Polônia, sobre vários aspectos de análises do discurso,
Ocidental
relacionados com a teoria de recepção
 Modelo de análise textual (formalistas russos)
 Modelo de análise poética (Círculo de Praga)
 Modelo de análise discursivo-textual (derivados de Mikhail Bakhtin)
 Modelo de análise literário da Escola de Tartu, com muitos aportes para a análise
do texto literário
Fonte: Adaptado de Haidar (1998, p. 141-143).

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
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


Sem pretender esgotar os modelos, Haidar (1998) buscou, no campo de AD,
um panorama representativo de abordagens, isto é, de modelos clássicos e outros
contemporâneos. Segundo Godoi (2006), Haidar elencou 34 modelos dentro de dez
tendências ou tradições.
Além dessa diversidade constitutiva, a AD passou a ter linhas analíticas em
grande número, tendências e modelos distintos, estabelecidos no contexto histórico
e epistemológico das ciências da linguagem, produzindo uma ausência de clareza
em relação à compreensão do que seja esse tipo de análise qualitativa, revela Godoi
82
(2006). Dentre as tendências de AD, destacamos os autores, os quais foram
referenciados nos estudos de Karam (2005): nos Estados Unidos – Harris, Chomsky,
Dell Hymes e Gumperz; no Reino Unido – Toulmin, Searle, Austin, Halliday,
Thompson, Fairclough, Wodak e Meyer; na França – Pêcheux, Foucault, Derrida,
Robin, Dubois, Benveniste, Todorov, Barthes, Kerbrat-Orecchioni, Greimas, Barthes,
Ducrot e Anscombre.
Uma síntese das principais abordagens que constituem o estudo da análise
do discurso é traçada por van Dijk (1998), como se pode observar no Quadro 10:
Quadro 10: Abordagens principais no campo de estudo do discurso
Abordagem
Discurso como
estrutura
Discurso como
ação e interação
na sociedade
Cognição
Descrição
Sons e marcas visuais – dá destaque em como a linguagem é utilizada quando
se fala ou escreve, ouve ou lê discursos; examinam-se as estruturas desses
sons no discurso falado, e examina-se como a pronúncia, ênfase, entonação,
volume e outras propriedades contribuem para a produção de significados.
Ordenamento e forma – decompõe o discurso nos seus vários níveis e
dimensões. Seguindo a tradição da gramática linguística se presta atenção na
forma das frases, no ordenamento das palavras, frases ou expressões, ou em
outras propriedades sintáticas. De modo diferente da tradicional linguística, os
analistas do discurso vão além dos limites das frases, abordando os modos
como as sentenças são influenciadas pelas sentenças circundantes em textos e
falas.
Significado ou representações semânticas – estuda a produção de sentidos
realizada pelos usuários da linguagem, sendo um campo marcado pela
psicologia e pela linguística cognitiva.
Estilo – aborda como a escolha de palavras específicas constitui um tipo de
discurso, ou um grupo de pertencimento, posição ou opinião de quem produz o
discurso.
Retórica – procura estudar dispositivos de persuasão, estruturas presentes em
todos os níveis do discurso que atraem atenção, como repetições inesperadas,
ordens inversas, estruturas incompletas ou mudanças de significados.
Superestruturas ou esquemas estruturados – dá destaque nos componentes
convencionais ou categorias e regras que caracterizam uma determinada ordem
de discurso.
Atos de discurso – dá ênfase na dimensão social do que fazemos quando
produzimos uma afirmação significativa em algum contexto, isto é, na realização
de um ato ilocucionário, tal como uma afirmativa, uma pergunta, uma promessa,
uma ameaça ou uma congratulação. Tais atos de discurso precisam satisfazer
certo conjunto de condições que pertencem não somente à forma de expressão
(palavras, sintaxe, dentre outros) ou ao significado, mas também ao seu
contexto situacional – como as intenções, conhecimentos ou opiniões de quem
está proferindo o discurso. Esta forma de estudo está usualmente localizada em
um campo comumente chamado de pragmática do discurso, que focaliza no
estudo do uso da linguagem em um contexto sociocultural.
Conversações – o estudo do discurso como interação trata com vários tipos de
atos sociais no momento em que ocorrem, em seu contexto social e cultural.
Linguagem em uso – de modo diferente dos estudos de inspiração linguística
que tratavam da estrutura e das regras formais, aqui se avança para a
consideração de como os participantes e os analistas do discurso produzem
sentido a partir da linguagem.
Considera que os participantes em interações discursivas compartilham mais do
que as regras e a gramática. Para que o mútuo entendimento seja possível, os
atores sociais também compartilham normas, valores e regras de comunicação,
83
assim como representações sociais. Adicionalmente à cognição individual, o
discurso envolve a cognição sociocultural. A ênfase dos estudos é dada nos
processos que são consciente ou inconscientemente aplicados pelos usuários
da linguagem na produção ou entendimento de frases, tópicos ou histórias. Em
uma abordagem interativa, a análise cognitiva do discurso enfatiza como os
processos mentais são construtivos. A representação mental derivada da leitura
de um texto, por exemplo, não é simplesmente a cópia do texto ou de seu
significado. O resultado de processos de construção ou de produção de sentido
que podem usar elementos do texto, do que os usuários da linguagem sabem
sobre o contexto, bem como elementos de crenças que já existiam antes que a
comunicação começasse.
Muitos dos estudos do discurso ocorrem em uma ou mais das áreas
supracitadas: forma, significado, interação e cognição. Contudo, o contexto
desempenha um papel fundamental. Apesar de não existir uma única concepção
para definir ou incluir, na análise, o contexto, na atualidade não existem dúvidas
Discurso e
quanto ao fato de que o contexto não apenas influencia o discurso, mas o
sociedade
discurso pode também definir ou mudar as características do contexto. Entre os
estudos que enfatizam com maior determinação o contexto, encontram-se os
estudos sobre gênero, etnicidade, cultura, análise do discurso social e análise
crítica do discurso.
Fonte: Adaptado de van Dijk (1998).
Fairclough (2001, p. 90), ao utilizar o termo discurso, propõe “considerar o uso
de linguagem como forma de prática social e não como atividade puramente
individual ou reflexo de variações situacionais”. Isso implica (1) ser o discurso um
modo de ação, isto é, uma maneira pela qual se pode agir sobre o mundo e
especialmente sobre os outros, bem como um modo de representação; (2) uma
relação dialética entre o discurso e a estrutura social. Para o autor, “o discurso é
uma prática, não apenas de representação do mundo, mas de significação do
mundo, constituindo e construindo o mundo em significado” (FAIRCLOUGH, 2001, p.
92).
Na tentativa de reunir tradições analíticas indispensáveis na AD, mesclando
análise linguística e teoria social, Fairclough (2001, p. 101) apresenta uma
concepção tridimensional do discurso: (1) a análise do discurso como texto, de
tradição da análise textual e linguística; (2) do discurso como prática discursiva, de
tradição macrossociológica de análise da prática social em relação às estruturas
sociais; e, por último, (3) do discurso como prática social, de tradição interpretativa
ou microssociológica que considera a prática social como produto das pessoas.
Essas dimensões relacionam-se dialeticamente, perfazendo a dinâmica analítica do
material discursivo como um todo, conforme mostra a Figura 6:
84
Figura 6 - Concepção tridimensional do discurso
PRÁTICA SOCIAL
PRÁTICA DISCURSIVA
(produção, distribuição, consumo)
TEXTO
Fonte: Adaptado de Fairclough (2001, p. 101).
Segundo Fairclough (2001), na análise do discurso textual estudamos os
mecanismos internos de produção, organizada em quatro itens: vocabulário,
gramática, coesão e estrutura textual. Pinho, Kantorski e Hernández (2009, p. 133),
comentam que, no estudo da gramática e do vocabulário, fazemos o estudo das
palavras individuais ou expressões articuladas, bem como propriedades da
linguagem que transparecem no discurso, tais como neologismos, lexicalizações,
metáforas, nominalizações. Já na coesão textual trabalhamos os elementos de
ligação entre as frases, compreendendo-se as sentenças individuais e a coesão
intersequencial. Enquanto que na análise semântica, são estudados os elementos
de inferência, as implicações, os significados extraídos do interno (e do externo) ao
discurso.
Pedrosa (2010) elaborou, a partir dos estudos de Fairclough, um quadro de
análise textual (Quadro 11), destacando elementos de análise, tópicos envolvidos e
objetivos:
85
Quadro 11: Análise do texto
Elementos de
Análise
Tópicos
Geral
Controle
interacional
Estrutura textual
Descrever as características organizacionais
funcionamento e o controle das interações.
gerais,
o
Polidez
Determinar quais as estratégias de polidez são mais utilizadas na
amostra e o que isso sugere sobre as relações sociais entre os
participantes.
Ethos
Reunir as características que contribuem para a construção do eu
ou de identidades sociais.
Geral
Mostrar de que forma as orações e os períodos estão interligados
no texto.
Geral
Trabalhar com a transitividade (função ideacional da linguagem),
tema (função textual da linguagem) e modalidade (função
interpessoal da linguagem).
Transitividade
“Verificar se tipos de processo [ação, evento...] e participantes
estão favorecidos no texto, que escolhas de voz são feitas (ativa
ou passiva) e quão significante é a nominalização dos processos”
(FAIRCLOUGH, 2001, p. 287).
Tema
Observar se existe um padrão discernível na estrutura do tema
do texto para as escolhas temáticas das orações.
Modalidade
Determinar padrões por meio da modalidade, quanto ao grau de
afinidade expressa com proposições.
Significado de
palavras
Enfatizar as palavras-chave que apresentam significado cultural,
as palavras com significado variável e mutável, o significado
potencial de uma palavra, enfim, como elas funcionam como um
modo de hegemonia e um foco de luta.
Criação de
palavras
Contrastar as formas de lexicalização dos sentidos com as
formas de lexicalização desses mesmos sentidos em outros tipos
de textos e verificar a perspectiva interpretativa por trás dessa
lexicalização.
Metáfora
Caracterizar as metáforas utilizadas em contraste com metáforas
usadas para sentidos semelhantes em outro lugar, verificar que
fatores (cultural, ideológico, histórico etc.) determinam a escolha
dessa metáfora. Verificar também o efeito das metáforas sobre o
pensamento e a prática.
Coesão
Gramática
Vocabulário
Objetivos
Fonte: Pedrosa (2010).
Na análise das práticas discursivas, que entremeia a análise tanto textual
quanto da prática social, são estudados os mecanismos que requerem a articulação
de diferentes discursos (FAIRCLOUGH, 2001). Nessa dimensão são refletidas a
intertextualidade e a interdiscursividade, que conectam um texto a outro e nos
permitem vislumbrar o potencial dialógico do discurso como materialidade sóciohistórica.
No discurso concreto analisado, esta análise intertextual visa rastrear a
presença de elementos adotados de outros discursos. Esta concepção de
86
intertextualidade parte da consideração de que os sujeitos recorrem aos discursos
que circulam socialmente para produzir seu próprio discurso. O discurso é
interpretado, na intertextualidade, “como sintomas de uma denominação ideológica:
os sujeitos são reduzidos a meros produtores dos discursos dominantes” (RUIZ
RUIZ, 2009, p.15).
Fiorin (2003, p. 35) considera a intertextualidade “um processo de
incorporação de um texto em outro, seja para reproduzir o sentido incorporado, seja
pra transformá-lo”, e enxerga a interdiscursividade como “o processo em que se
incorporam percursos temáticos ou figurativos, temas e/ou figuras de um discurso
em outros.” O autor infere ainda que a interdiscursividade não implica a
intertextualidade, “embora o contrário seja verdadeiro, pois, ao se referir a um texto,
o enunciador se refere, também, ao discurso que ele manifesta (FIORIN, p. 35).”
A análise da prática discursiva é apresentada por Pedrosa (2010), conforme
Quadro 12:
Quadro 12: Análise da prática discursiva
Práticas
Discursivas
Tópicos
Objetivos
Especificar os tipos de discurso que estão na amostra
discursiva sob análise, e de que forma isso é feito.
Interdiscursividade “É a amostra discursiva relativamente convencional nas
suas propriedades interdiscursivas ou relativamente
inovadora?” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 283).
Intertextualidade
manifesta
Especificar o que outros textos estão delineando na
constituição do texto da amostra, e como isso acontece.
Como ocorre a representação discursiva: direta ou
indireta? O discurso representado está demarcado
claramente? O que está representado: contexto, estilo ou
significado ideacional? Como as pressuposições estão
sugeridas no texto?
Cadeias
intertextuais
Especificar a distribuição de uma amostra discursiva por
meio da descrição das séries de textos nas quais ou das
quais é transformada.
(Quais os tipos de transformações, quais as audiências
antecipadas pelo produtor?).
Coerência
Considerar
as
implicações
interpretativas
das
particularidades intertextuais e interdiscursivas da
amostra. Como os textos são interpretados e quanto de
trabalho inferencial é requerido.
Geral
Especificar as práticas sociais de produção e consumo do
texto, ligadas ao tipo de discurso que a amostra
representa.
A produção é coletiva ou individual?
Há diferentes estágios de produção?
“As pessoas do animador, autor e principal são as
mesmas ou diferentes?” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 285).
Produção do texto
Distribuição do texto
Consumo do texto
Condições da prática
discursiva
Fonte: Pedrosa (2010).
87
Na análise como prática social estudamos as repercussões do discurso na
materialidade
sócio-histórica
dos
sujeitos,
quais
características
produzem
continuidades ou descontinuidades, bem como determinados eventos discursivos se
mesclam na vida humana, adentrando na atividade social e nas interações sociais.
Para tal, é realizada uma análise sociológica de eventos discursivos, centrando nos
movimentos ideológicos e hegemônicos do discurso, provenientes dos processos
sociais repercutidos tanto nas práticas sociais como nas materialidades discursivas
(PINHO; KANTORSKI; HERNÁNDEZ, 2009).
O Quadro 13 elaborado por Pedrosa (2010) trata da análise da prática social,
considerando-se o que expõe Fairclough (2001):
Quadro 13: Análise da prática social
Elementos de
Análise
Objetivos
Matriz social do
discurso
“Especificar as relações e as estruturas sociais e hegemônicas que constituem a
matriz dessa instância particular da prática social e discursiva; como essa instância
aparece em relação a essas estruturas e relações [...]; e que efeitos ela traz, em
termos de sua representação ou transformação?” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 289-290).
Ordens do
discurso
Explicitar o relacionamento da instância da prática social e discursiva com as ordens
de discurso que ela descreve e os efeitos de reprodução e transformação das ordens
de discurso para as quais colaborou.
Efeitos
ideológicos e
políticos do
discurso
Focalizar os seguintes efeitos ideológicos e hegemônicos particulares: sistemas de
conhecimento e crença, relações sociais, identidades sociais (eu).
Fonte: Pedrosa (2010).
Por meio da Análise do Discurso (AD), o estudo das formações sociais,
ideológicas e discursivas de grupos organizacionais variados possibilita a
contribuição para o entendimento da realidade das organizações (CARRIERI et al.,
2006).
No Brasil a análise de discurso francesa surge no final da década de 1970,
numa conjuntura diferentemente do que ocorrera na França. Desde o início, no caso
brasileiro, houve uma nítida institucionalização, o que fez com que as alianças e
parcerias se constituíssem no próprio espaço acadêmico, proporcionando um foro
privilegiado na resistência de outras disciplinas como a linguística. A AD centrou-se
nos discursos políticos, recebendo críticas desqualificadoras por parte de linguistas
tradicionais. Contudo, pouco a pouco as oportunidades de análise e estudo do
88
discurso foram se ampliando, diversificando desde os discursos institucionais aos
cotidianos. Fato este marcante e decisivo para atestar a consistência e coerência
conceitual da potência metodológica da teoria (FERREIRA, 2008).
Nos estudos organizacionais brasileiros, para Carrieri et al. (2006), a AD é
entendida como uma metodologia capaz de revelar aspectos discursivos em relação
ao contexto social, considerado como um apanhado de regras que delimitam um
determinado conjunto sócio-cultural de enunciados. A partir da existência de tal
contexto e ao relacioná-lo à linguagem, neste tipo de análise procuramos ainda
incorporar “todo o universo simbólico que justifica e legitima as ações dos atores
sociais” (CARRIERI et al., 2006, p. 20), ao que ultrapassa o nível de compreensão
da ideologia que entremeia os discursos.
Segundo Gregolin (2003a, p. 07), a AD é “um campo de pesquisa que tem
demonstrado sua fertilidade em inúmeros trabalhos”. O Quadro 14 mostra alguns
exemplos de trabalhos brasileiros sobre a Análise do Discurso direcionada aos
estudos organizacionais, nos últimos 20 anos. Neste levantamento, a classificação
referente ao tipo de pesquisa segue o proposto no estudo de Machado-da-Silva;
Cunha; Amboni (1990): (a) empírica: concentra-se na observação e análise de
dados, sem apresentar fundamentação teórica prévia; (b) teórico-empírica:
apresenta dados coletados, que são analisados e confrontados com correntes
teóricas revisadas; e (c) teórica: por não apresentarem dados empíricos, se limitam à
articulação, formulação e contraposição de conceitos teóricos.
Quadro 14: Exemplos de pesquisas que envolvem a Análise do Discurso
direcionada aos estudos organizacionais
Autor(es)/ano
Enfoque da pesquisa
Faria; Linhares
(1993)
Maimon (1994)
Cabral (1999)
Lacombe;
Tonelli (2001)
Analisar as possibilidades da AD para discutir questões ligadas ao
conhecimento em transporte.
Estudar o caso das funções ambientais nas empresas brasileiras.
Refletir sobre a análise do discurso nos estudos organizacionais.
Comparar alguns resultados obtidos a partir de pesquisa realizada e
de idéias geradas sobre o que define e quais são as funções da área
de recursos humanos e verificar se há uma grande distância entre o
discurso e as práticas.
Evidenciar como o meio ambiente figura nos discursos da gestão
contemporânea, e também por inferência, na Teoria Organizacional
(TO).
Discorrer sobre o que são e como se caracterizam os discursos
empresariais e analisar sua relação com as práticas de gestão no
contexto empresarial da década de noventa.
Analisar o percurso discursivo do tema empregabilidade.
Carrieri (2002)
Saraiva;
Pimenta;
Corrêa (2004)
Carrieri; Sarsur
(2004)
Tipo de
pesquisa
Teóricoempírica
Teórica
Teórica
Empírica
Teóricoempírica
Teóricoempírica
Teóricoempírica
89
Siqueira (2004)
Cabral (2005)
Azevedo;
Caldas (2005)
Bittencourt;
Carrieri (2005)
Carvalho;
Davel (2005)
Costa;
Carvalho
(2005b)
Cariolano
(2005)
Godoi (2005b)
Rocha;
Deusdará
(2005)
Pena et
(2005)
al.
Almeida (2006)
Amaral
(2006)
Filho
Faria; Carvalho
(2006)
Carrieri et al.
(2006)
Pichelli; Pedro;
Carvalho
(2006)
Ichikawa;
Ichikawa
(2006)
Pereira;
Misoczky
(2006)
Rosa; Tureta;
Benedicto
(2006)
Gregolin
(2007)
Analisar o discurso organizacional em recursos humanos e a relação
da organização com o indivíduo, tendo em vista o imaginário
organizacional moderno e as relações de poder nas organizações.
Refletir sobre a Análise do Discurso (AD), que vem ocupando um
lugar cada vez mais significativo nos estudos organizacionais em geral
e na administração, em particular.
Entender as mudanças do desenho do trabalho ocasionadas pela
tecnologia em call centers.
Identificar como uma empresa multinacional de papel e celulose
desenvolve programas sociais em uma região compreendida por 47
municípios no estado de Minas Gerais.
Sob a forma de diálogo dramatúrgico [...] visa apresentar de maneira
bem-humorada, e não inaugurar uma nova linhagem de escrita
acadêmica.
Investigar, nos discursos organizacionais, vínculos capazes de
evidenciar relações de poder entre as ações sociais desenvolvidas e
implantadas por organizações privadas pela via da Responsabilidade
Social Empresarial (RSE) e processos de atribuição de legitimidade ao
papel social do empresário.
Refletir sobre a metodologia "análise do discurso", aplicado ao
turismo.
Buscar a delimitação da análise do discurso no espaço metodológicoepistemológico dos estudos organizacionais.
Ao tentar (re)construir esse diálogo ou contraposição, sistematizar
minimamente uma reflexão acerca das seguintes questões: i) a que
insuficiências da Análise de Conteúdo se procurou responder com
uma nova perspectiva discursiva? ii) em que sentido a abordagem da
Análise de Conteúdo teria contribuído para as práticas hoje
desenvolvidas pela Análise do Discurso?
Apresentar um modelo referencial de ética de negócios que nos
permita orientar a reflexão e a crítica sobre a responsabilidade social
das empresas, em particular, sobre o seu público interno.
Estudar a questão da análise discursiva dentro do ambiente
organizacional.
Compreender como se articulam discursos e práticas num campo
onde as regras de legitimação seguem uma lógica anti-econômica e
onde os resultados econômicos nem sempre são o objetivo único das
organizações.
Mostrar como e porque a administração científica tornou-se
hegemônica, e como e porque a dramaturgia pode contribuir para
desafiá-la,
ao
invés
de
criar
contradições
para
gerentes/administradores.
Explicitar as contribuições da análise do discurso (AD) para os
estudos organizacionais
Apresentar resultados de uma análise de discurso da cobertura
política sobre os indícios de corrupção no governo Lula, conhecido
como “Mensalão”.
Apresentar a análise de discurso produzida no contexto francês, com
o objetivo de contribuir para o processo de construção metodológica
em trabalhos que buscam realizar pesquisas empíricas.
Analisar o discurso de Peter Drucker e sua relação com a
disseminação da ideologia neoliberal e, portanto, com a legitimação
das práticas do capitalismo tardio.
Objetivou explorar, no âmbito da Psicologia Social, uma proposta
teórico-metodológica para o estudo da produção de sentidos no
cotidiano.
Analisar textos da grande mídia brasileira, procurando mostrar a
importância da aproximação entre análise do discurso e estudos da
mídia, a fim de compreender os movimentos discursivos de produção
Teóricoempírica
Teórica
Teóricoempírica
Teóricoempírica
Teórica
Teóricoempírica
Teórica
Teórica
Teórica
Empírica
Teóricoempírica
Teóricoempírica
Teórica
Teóricoempírica
Empírica
Teórica
Teórica
Teórica
Teórica
90
de identidades.
Verificar o fenômeno do isomorfismo nas mudanças de projeto gráfico
de jornais brasileiros, mediante a análise da influência exercida pelos
discursos de três grupos de profissionais: gestores, jornalistas e
designers. Com base na perspectiva institucional de análise e nas
contribuições da teoria da estruturação e das abordagens de Análise
do Discurso, os autores realizaram uma pesquisa qualitativa
longitudinal, abrangendo o período compreendido entre 2000 e 2006.
Ferreira (2008) Traçar um quadro comparativo entre a atual situação da teoria de
Análise do Discurso em seu país de origem – a França – e o seu
desenvolvimento em solo brasileiro.
Fernandes
A obra objetiva expor – de maneira didática – as bases conceituais da
(2008)
Análise do Discurso.
Martins (2008)
Analisar o ensino e a aplicação da comunicação mercadológica sob a
ótica de uma nova forma de discurso comunicacional e estudou as
abordagens éticas específicas chamadas persuasivas e de
relacionamento.
Pabst; Siqueira Descrever a relação do discurso organizacional da empresa moderna
(2008)
a partir do seu discurso formal.
Voese (2008)
Observar como os bacharéis em Ciências Contábeis buscam
constituir-se à medida que vai construindo sua formação discursiva,
entendida como uma representação enunciativa. Com base teórica em
Bakhtin e nos teóricos da Análise do Discurso, o trabalho procurou
explicitar o que se entendia por determinações sociais do discurso,
entre as quais as de ordem ideológica.
Carrieri; Silva; Evidenciar e discutir a configuração dos discursos sobre a
Pimentel
responsabilidade social nas organizações, assim como a sua
(2009)
incorporação da temática ambiental.
Kavinski (2009) Identificar as origens do fenômeno de apropriação do discurso da
Sustentabilidade pelas organizações, e iniciar um processo de
compreensão do conceito que respalda as práticas sustentáveis de
empresas brasileiras.
Lima (2009)
Analisar os fatores que contribuem para que os trabalhadores não
sejam o público mais enfatizado no discurso de responsabilidade
social empresarial; Analisar se a gestão de recursos humanos está
envolvida nas estratégias de RSE da empresa; Analisar o discurso
dos gestores e outros profissionais de recursos humanos e
responsabilidade social de uma organização que se diz socialmente
responsável, no tocante à sua compreensão das várias dimensões da
RSE e da relevância dos trabalhadores.
Saraiva;
Identificar e analisar as estratégias discursivas de persuasão
Baptista (2009) ideológica de uma empresa do setor de siderurgia de Minas Gerais.
Cornelsen
Relacionar aspectos da análise do discurso aos estudos
(2009)
organizacionais.
Carneiro
Explicitar as contribuições da análise do discurso (AD) para os
(2011)
estudos em sustentabilidade.
Godoi; Coelho Aproximar os elementos epistemológicos, metodológicos e técnicos da
(2011)
Análise Sociológica do Discurso ao campo organizacional.
Walter;
Identificar explícitos, implícitos e silenciados em discursos a respeito
Augusto (2011) de práticas estratégicas de uma organização do setor lácteo.
Fonte: Elaboração própria.
Cariola;
Machado-daSilva (2008)
Teóricoempírica
Teórica
Teórica
Teóricoempírica
Empírica
Teóricoempírica
Teóricoempírica
Teóricoempírica
Teóricoempírica
Teóricoempírica
Teórica
Teórica
Teórica
Teóricoempírica
Uma leitura que se faz em tais pesquisas revela diferentes aspectos que
dizem respeito ao emprego da AD nos estudos organizacionais. Observamos que a
AD apresenta-se como um percurso que apoia pesquisas relacionadas a processos
de mudança (AZEVEDO; CALDAS, 2005), de estratégia discursiva de persuasão
91
(SARAIVA;
BAPTISTA,
2009),
de
práticas
discursivas
(ROSA;
TURETA;
BENEDICTO, 2006), de práticas estratégicas (WALTER; AUGUSTO, 2011) e da
própria dinâmica da estrutura organizacional (FARIA; LINHARES, 1993; SARAIVA;
PIMENTA; CORRÊA, 2004; CABRAL, 1999, 2005; ALMEIDA, 2006, CARRIERI et
al., 2006, PABST; SIQUEIRA, 2008).
A AD mostra-se, portanto, eminentemente eclética, afirma Cabral (2005) e
aberta a diversas aplicações, como é o caso do campo organizacional. Pesquisas
estão direcionadas a este campo seja por meio da evidenciação do meio ambiente
nos discursos da gestão organizacional (MAIMON, 1994; CARRIERI, 2002), seja
como ferramental metodológico (ROCHA; DEUSDARÁ, 2005; GODOI, 2005b;
ICHIKAWA; ICHIKAWA, 2006; FERREIRA, 2008; GODOI; COELHO, 2011).
Além disso, algumas pesquisas se destacam pelo uso da AD como alternativa
em prol da responsabilidade social empresarial (PENA et al., 2005; CARRIERI;
SILVA; PIMENTEL, 2009; KAVINSKI, 2009; LIMA, 2009). Verificamos ainda, com
base nos referidos estudos, trabalhos que tem o discurso como objeto e concentramse na investigação de aspectos relacionados à área da sustentabilidade
(CARNEIRO, 2011), do turismo (CARIOLANO, 2005), à gestão de recursos
humanos (LANCOMBE; TONELLI, 2001; SIQUEIRA, 2004; LIMA 2009), à
empregabilidade
(CARRIERI;
SARSUR,
2004),
a
programas
sociais
(BITTENCOURT; CARRIERI, 2005), à legitimação e ideologia (AMARAL FILHO,
2006; PEREIRA; MISOCZKY, 2006), à política (PICHELLI; PEDRO; CARVALHO,
2006), à educação (VOESE, 2008), à mídia, comunicação (GREGOLIN, 2007;
CARIOLA; MACHADO-DA-SILVA, 2008; MARTINS, 2008).
Diante do levantamento em que se apontam tradições e tendências
diversificadas da AD, longe de ser um problema, ela mostra sua riqueza e potencial
para a sociologia, atesta Ruiz Ruiz (2009, p. 02). Estes enfoques são endossados
pelos trabalhos sobre: a análise de conteúdo – Spannagel, Gläs-Zikuda e Schroeder
(2005), Mayring (2000) e Faux (2000); a análise de discurso automático – Helsloot e
Hak (2007), a teoria fundamentada – Merlino e Martinez (2006) e Kelle (2005); a
análise do discurso de Foucault – Román Brugnoli (2007) e Amigot Leache (2007); a
análise crítica do discurso – Kendall (2007) e Dirks (2006); a análise de conversação
– Ashmore e Reed (2000), Have (2005) e Berkenbusch (2009), a análise visual
interpretativa – Schnettler e Raab (2008), e ainda uma síntese conciliadora de
92
diferentes abordagens, como a análise das situações em análise crítica do discurso
e da análise da conversação – Korobov (2001).
4.2
Níveis de aproximação do discurso
No ensejo de compreender e organizar a multiplicidade de abordagens de
Análise do Discurso (AD), corroborando o posicionamento metodológico, surgem
propostas de níveis de aproximação à análise discursiva (ORTÍ, 1986; ALONSO,
1998; RUIZ RUIZ, 2009). As principais características dos níveis de aproximação da
AD perfazem três níveis, segundo Alonso (1998): (a) informacional-quantitativo; (b)
estrutural-textual; e (c) social-hermenêutico.
O primeiro nível, conhecido também por Análise de Conteúdo Clássica, tem
como parâmetro de análise a palavra. Trata-se de um nível mais imediato e
descritivo, que tende a explorar a dimensão mais denotativa e manifesta do texto, e
não se estabelece numa dimensão comunicacional do texto – fixa-se na dimensão
informacional. Esta análise consiste em verificar quantas delas existem dentro do
corpus (seleção de materiais significativos), sendo um primeiro nível de estatística
textual como análise do discurso.
Com a análise do conteúdo neste primeiro nível, evidenciamos os indícios
mais diretos para posterior interpretação. Pela acumulação de palavras, buscamos
um determinado sentido, que caracteriza uma análise de conteúdo, e chegamos a
um primeiro nível qualitativo, por exemplo, o diferencial semântico, “excluindo de
maneira total qualquer de suas possíveis dimensões pragmáticas” (ALONSO, 1998,
p. 189).
Num segundo nível, denominado de Análise Semiótica, na qual se inclui
grande parte da tradição francesa de AD, o parâmetro de análise é o texto. De
acordo com Alonso (1998), trata-se de qualquer materialização do discurso, ou ainda
um conjunto estruturado de signos. É a dimensão estrutural da análise discursiva,
aproximando-nos muito mais de uma análise linguística do que social do texto. O
texto é decomposto ao máximo, reduzido a uma série de eixos e vetores que
imprimem inteligibilidade, chegando-se à estrutura geradora – análise internalista.
93
A estrutura é postulada como forma invariante que coordena as unidades
básicas do próprio texto, proporcionando coerência e consistência lógica. Para
Alonso (1998, p.195), seria, pois, uma análise que visa “encontrar e postular esse
modelo lógico interno que outorga sentido a toda essa estrutura textual”. Neste nível,
a análise é mais interna e enfatiza a estrutura da língua não falada, na qual um
conjunto de imagens pode ser um texto, a maneira de se vestir, outro, por exemplo.
O último nível proposto por Alonso (1998), o social-hermenêutico, visa uma
análise contextual dos argumentos. Neste nível o parâmetro de análise é o discurso
social, os quais são analisados em contextos sociais. Nessa concepção, quanto
mais se conhece o contexto, maior a riqueza de compreensão podemos obter do
fenômeno analisado.
Uma das abordagens da AD, fortemente desenvolvida dentro da pesquisa
social qualitativa espanhola e representante do nível social-hermenêutico, é a
Análise Sociológica do Discurso (ASD). O que diferencia a ASD da análise do
conteúdo e da análise estrutural, comenta Godoi (2006, p. 387), é a recuperação do
sujeito no texto, uma vez que, na primeira situação, “o sujeito é dissolvido no
objetivismo dos sinais” e, na segunda, “o sujeito fica suspendido na interpretação
objetivada”.
Alonso (1998) pretende, no terceiro nível de análise do discurso, reintegrar o
sujeito ao mundo da linguagem, por meio de uma construção interdisciplinar,
afastando-se dos dois primeiros níveis, onde se encontra a ASD, a qual abordamos
na seção seguinte. Segundo Alonso (1998, p. 201), a ASD:
[…] não é uma análise estrutural de textos – isto é, não é uma análise
formal de sistemas de funções e de posições inerentes ao texto – senão
uma busca de fatores que tem gerado a visão de mundo e as regras de
coerência que estruturam o universo de discurso.
Em síntese, esta análise observa como a realidade social constroi discursos e
como estes constroem a realidade social. A classificação de Alonso foi
detalhadamente analisada (GODOI, 2005; 2006; GODOI; COELHO, 2011) e
encontra-se sintetizada no Quadro 15.
94
Quadro 15: Principais características dos níveis de aproximação à Análise do
Discurso de acordo com Alonso (1998)
Informacional-quantitativo
Estrutural-textual
Social-hermenêutico
a) parâmetro de análise:
palavra
a) parâmetro de análise: texto
a) parâmetro de análise:
discurso social
b) estatística textual e primeiro
nível qualitativo (diferencial
semântico)
b) análise internalista do texto
b) análise internalista e
externalista
c) evidenciam-se indícios mais
diretos para posterior
interpretação
c) conjunto estruturado de
signos
c) recuperação do sujeito no
texto
d) exclui-se de maneira total
qualquer de suas possíveis
dimensões pragmáticas
d) materialização do discurso
d) análise contextual dos
argumentos
e) exemplo: análise do
conteúdo clássica
e) exemplo: análise semiótica
e inclui grande parte da
tradição francesa de AD
e) exemplo: interpretação
sociológica
Fonte: Elaboração própria.
De forma similar a proposta de Alonso (1998), Ruiz Ruiz (2009) sugere um
planejamento de análise do discurso em três níveis: textual, contextual e de
interpretação sociológica, tal como demonstrada na Figura 7.
Figura 7 - Processo de Análise Sociológica do Discurso – Ruiz Ruiz (2009)
• discurso como
acontecimento singular
_____________________
• plano de enunciação
_____________________
• compreensão do discurso
Análise
Contextual
Análise
Sociológica
Análise
Textual
• discurso como objeto
_________________________
• plano de enunciado
_________________________
• caracterização do discurso
Fonte: Elaborado a partir de Ruiz Ruiz (2009, p. 06).
• discurso como informação,
como ideologia ou como
produção social
________________________
• plano da interpretação
________________________
• explicação (sociológica do
discurso
95
Diferentemente do primeiro nível de Alonso (1998), o nível denominado textual
por Ruiz Ruiz (2009) compreende tanto a análise do conteúdo quanto a análise
semiótica. O nível contextual de análise do Ruiz Ruiz (2009) permite compreender o
significado do discurso para os envolvidos em sua produção, focalizando, portanto, a
interpretação dos discursos dos sujeitos envolvidos em situações sociais. Esse nível
já constituiria, na classificação de Alonso, a ASD, no entanto, Ruiz Ruiz (2009)
insere a necessidade do nível da interpretação sociológica, no qual só então seria
finalizada a ASD.
Na concepção de Alonso (1998), os três níveis ou dimensões englobam as
diferentes perspectivas de análise do discurso, situando-se a ASD exclusivamente
no último; em Ruiz Ruiz (2009), o planejamento da ASD passa necessariamente
pelos três níveis, considerados como etapas essenciais. Para Ortí (1986), a distinção
em três níveis, regiões ou estruturas sociais, vai se constituindo como objetivações
teórico-práticas mediadoras da própria análise, que o autor chama de processo de
construção sociológica da realidade social.
Neste processo de análise da realidade social tanto o suposto pesquisador
reflexivo, como qualquer sujeito em sua vida cotidiana, não somente se deparam
com fatos - ações humanas ou acontecimentos, senão também com discursos de
indivíduos ou grupos. O Quadro 16 não pretende uma correspondência linear, o que
não seria possível, mas tem o intuito de uma aproximação comparativa entre os
níveis construídos a partir da prática dos diferentes autores.
Quadro 16: Análise comparativa entre os níveis da Análise do Discurso
Ortí (1986)
Alonso (1998) e Conde (2009)
(a) campo dos fatos (o que
acontece e se faz);
(a) informacional-quantitativo
(análise de conteúdo);
(b) universo dos discursos (o
que se diz, se expressa ou
significa);
(b) estrutural-textual (análise
semiótica);
(c) reino das motivações (o
porquê da interação social: seu
sentido, intencionalidade ou
finalidade – consciente ou não
consciente).
(c) social-hermenêutico (análise
social).
Ruiz Ruiz (2009)
(a) textual (análise de conteúdo
e análise semiótica);
(b) contextual (contexto
situacional e intertextual);
(c) interpretação sociológica
(inferência).
Fonte: Elaborado com base em Ortí (1986); Alonso (1998); Ruiz Ruiz (2009).
96
As semelhanças superam as diferenças entre as duas abordagens de Alonso
(1998), partilhada por Conde (2009), e de Ruiz Ruiz (2009), particularmente no que
diz respeito às seguintes questões fundamentais: (a) a consideração dos níveis
informacional e estrutural de análise como inadequado ou apenas complementar no
âmbito da análise sociológica; (b) a consideração da interpretação sociológica como
elemento distintivo ou específico para esta análise sociológica. A proposta de
classificação em níveis (ORTÍ, 1986; 2001) ou dimensões (ALONSO, 1998) permite,
no entender de Conde (2009), a integração de análise de muitos dos
desenvolvimentos e das propostas metodológicas e técnicas procedentes do
conjunto de linhas teóricas de investigação social direcionadas ao discurso.
Os níveis propostos pelos autores da ASD são fundamentais e quase sempre
se faz uso de todos eles durante o procedimento de análise, o que revela a
transversalidade da abordagem. Não se pretende fazer linguística propriamente dita
em ASD, mas superar o nível textual avançando para o nível pragmático
(COLECTIVO IOÉ, 1987), utilizando-se de recursos de outras áreas do
conhecimento para melhor interpretar os discursos.
De acordo com Colectivo IOÉ (1987), no nível de análise textual – semântica
do discurso – analisamos o texto em função do sistema da língua, através de uma
cadeia sintagmática e paradigmática. Enquanto que, na análise contextual –
pragmática do discurso –, o texto é analisado em função da sua gênese e efeitos no
contexto social, por meio do contexto analítico e social. Estas classificações podem
resultar complicações e correm o perigo de deixar de fora outras abordagens, alerta
Gordo (2008). Ao refletir a adequação destas à realidade prática de análise do
discurso nos estudos organizacionais brasileiros, constatamos, no contexto
espanhol, uma classificação que vem se configurando de maneira semelhante nos
fóruns de discussão – em universidades, encontros científicos ou divulgação em
periódicos científicos que ocorrem no Brasil. Gordo (2008) apresenta duas linhas de
trabalho – análise conversacional25 e as aproximações pós-estruturalistas críticas.
25
A análise da conversação é uma linha discursiva que tem interesse nos intercâmbios verbais e nas
conversações correntes, concedendo uma relevância à capacidade de refletir com maior precisão a
interação social a partir de complexas técnicas de gravação e transcrição. Também atende a
identificação de regularidades e padrões na conversação a partir da ocorrência de silêncios,
substituição palavras, sobreposição da fala. Seguindo a linha ortodoxa, esta análise, de acordo com
Gordo (2008, p.215), “reproduz um empirismo textual no sentido de que se limita a estudar o
fenômeno social tal como está caracterizado pelo texto e seus sofisticados sistemas e convenções de
transcrição”.
97
Estas últimas abordam manifestações bem distintas agrupadas em duas grandes
perspectivas – a escola francesa e genealógica e a linha anglo-saxônica de análise
crítica do discurso, conforme Quadro 17:
Quadro 17: Vertentes de análise discursiva
Linhas de análise discursiva - vertentes
Ortodoxa
Crítica
Escola Francesa de Análise do Discurso
Análise da Conversação
Análise Crítica do Discurso
Escola Qualitativista Crítica de Madri
Fonte: Elaborado a partir de Gordo (2008).
A partir destas linhas discursivas, Gordo (2008) discute três aproximações
críticas discursivas em Análise do Discurso, a saber: a) Escola Francesa de Análise
do Discurso; b) Escola Crítica do Discurso; c) Escola Qualitativista Crítica de Madri
(Figura 8).
Figura 8 – Aproximações críticas discursivas
Fonte: Elaboração própria.
As duas primeiras perspectivas, ressalta Gordo (2008), diferem tanto em
termos metodológicos como terminológicos, apesar de compartilharem um
pressuposto básico – a impossibilidade de analisar um texto fora de seu contexto de
98
produção (seja ele institucional, material ou ideológico). Enquanto que a Escola
Qualitativista Crítica de Madri é uma “síntese particular e específica das anteriores”
(GORDO, 2008, p. 218). Ressaltamos que a análise internalista relaciona-se à
dimensão cognitiva e conceitual, e preocupa-se com o modo como é construído no
interior do texto. Enquanto a análise externalista leva em consideração as influências
de fatores sociopolíticos, econômicos e culturais.
Profusamente associado à obra de Michael Foucault, o conceito de discurso
se espalhou nas ciências sociais. A fase arqueológica de Foucault foi determinante
para a constituição da análise do discurso, apesar de ser a genealógica a etapa de
maior influência nos estudos discursivos, na medida em que se investigou a relação
entre produção de conhecimento e as relações de poder (GORDO, 2008).
Não se esgotando nas obras de Foucault, a Escola Francesa de Análise do
Discurso encontra referências nos trabalhos clássicos, como Lévi-Strauss, Saussure,
Lacan, Todorov, Kristeva e Barthes, para citar alguns. De acordo com Gordo (2008),
a escola francesa dedica atenção aos textos produzidos no âmbito das instituições –
que limitam fortemente o que se disse ou se pode dizer (enunciação) – e os quais
atravessam aspectos históricos, sociais, políticos, entre outros.
Outra aproximação discursiva, formada a partir da década de 1970, foi
conhecida inicialmente como linguística crítica e, posteriormente, denominada de
Análise Crítica do Discurso (ACD), que, por preocupar-se pelas atividades e funções
do discurso, prolongaram a tradição linguística. Porém, a exemplo da escola
francesa, mostra-se certo propósito ideológico e de compromisso político ao analisar
a maneira como os discursos estão implicados nas estruturas de poder, atesta
Gordo (2008).
A Escola Qualitativista Crítica de Madri, origem da Análise Sociológica do
Discurso (ASD)26, em termos gerais, está alinhada ao estudo da manifestação das
ideologias desde a contemplação dos efeitos do poder e da dominação, e dos
discursos nos complexos sistemas de dominação e subordinação. Conduz, assim, a
análise para a compreensão da possibilidade de emergência de discursos contra o
poder, como observamos nas pesquisas recentes com uso da abordagem de ASD.
Um aspecto integrador das diferentes linhas e versões de ASD consiste na
unidade de análise centrada no corpo do texto (CONDE, 2009) da investigação
26
Aprofundamos o surgimento da Análise Sociológica do Discurso na seção subsequente.
99
como um todo, ou seja, o texto é analisado e compreendido em sua totalidade, à
revelia de qualquer tipo de segmentação do texto inicial. Essa visão de Conde
(2009) conecta-se com as propostas pioneiras de Bakhtin (1988) sobre dialogismo
nos discursos sociais e com o entendimento de Maingueneau (1976), de que a
unidade de análise pertinente não é o discurso, mas um espaço de intercâmbios
entre vários discursos.
Não se trata na ASD apenas de análise formalista – conduzida pela
fenomenologia e etnometodologia, antropologia e teoria crítica da sociedade, mas de
uma análise em busca de um modelo de representação e compreensão do texto
concreto em seu contexto social e em sua historicidade de proposições. Esse
processo, chamado por Alonso (1998) de contextualização, baseia-se na questão
social e nos espaços comunicativos concretos que se formam e elaboram os
discursos dos atores como práticas significantes.
A classificação proposta por Gordo (2008) será adotada nesta tese por incluir
a Análise Sociológica do Discurso. Esta abordagem encontra-se no nível
sociohermenêutico e pragmático, que na sequência apresentamos sua origem.
4.3
Nível sociohermenêutico e pragmático
Sociológica do Discurso (ASD)
-
surgimento
da
Análise
No nível social-hermenêutico, como seu próprio nome indica, Conde (2009)
assevera que o texto é concebido de forma abrangente e vincula-se diretamente
com a dimensão mais pragmática da linguagem e a análise de seus usos sociais. A
aproximação pragmática da análise do texto e a consideração de que o sentido
excede o texto (CONDE, 2009), denota aproximar-se ao discurso como uma
atividade, prática social e discursiva. Em outras palavras, trata-se de um processo
de argumentação, de comunicação, de tensão, de um diálogo mais ou menos
conflitante que vai constituindo, em seu desenvolvimento, um possível sentido
concreto que atesta o objetivo de investigação e do tema ora planejados.
No entendimento de Godoi (2006), em virtude de não focalizar funções
imanentes ao texto e procurar regras de coerência que estruturam o universo dos
100
discursos sociais, a ASD desloca o objeto tradicionalmente focalizado pela análise
do discurso.
Em ciências sociais se utiliza mais a análise de discurso contextualizador do
que uma análise interna. Segundo Alonso (2010), toda interpretação torna-se
razoável quando se situa o texto no contexto, processo esse chamado de
contextualizar. Deste modo, todo discurso social é feito em relação a outro discurso
social, entendido por interdiscursividade, comenta o autor ao referenciar Bakhtin
(ALONSO, 2010).
Alonso e Callejo (1999) defendem uma Análise Sociológica do Discurso (ASD)
como
uma
reconstrução
crítica,
ligada
principalmente
à
situação
e
à
contextualização histórica de enunciação. Esse tipo de interpretação, segundo os
autores, baseia-se na questão social e nos espaços comunicativos concretos que se
formam e elaboram os discursos dos atores como práticas significantes. Há certa
transversalidade em toda a análise do discurso, motivo este que se torna difícil situar
a ASD somente em um nível, complementa Alonso (2010).
A ASD se constitui, a partir da adoção e adaptação pelos sociólogos de
métodos de análises desenvolvidos por outras ciências sociais, com abordagens e
conceitos metodológicos essenciais como o da polifonia (ALONSO, 1998), o mundo
da vida cotidiana (ALONSO; CALLEJO, 1999) ou ainda como debates e interações
cotidianas (FAILLE, 2009). Isto faz com que haja algumas semelhanças, pelo menos
parcialmente (RUIZ RUIZ, 2009), com a análise realizada pela linguística, etnografia,
antropologia e psicologia, para citar algumas dessas ciências.
Mais do que um método para analisar discursos sociológicos, o que se
encontra é uma série de práticas e procedimentos que os sociólogos têm usado de
forma muito diferente no trabalho profissional, afirma Ruiz Ruiz (2009). Basta
consultar os vários livros de texto que são publicados sobre o assunto para verificar
que não há unanimidade sobre o que constitui a Análise Sociológica do Discurso, ou
como deve ser abordada.
Por várias ocasiões, este tipo de análise visa fornecer uma explicação dos
processos de comunicação que ocorrem nas interações cotidianas, o que nos dá
uma compreensão científica de um dos processos mais relevantes, do ponto de vista
microssociológicos que regulam a vida social. No entanto, do ponto de vista da
análise sociológica, o interesse é apenas uma análise contextual instrumental.
101
O nível contextual de análise permite compreender o significado do discurso
para os envolvidos em sua produção: focaliza, portanto, a interpretação dos
discursos dos sujeitos envolvidos em situações sociais que emergiram no campo
discursivo em que são projetadas. A ASD precisa levar em conta essas
interpretações dos sujeitos envolvidos, ou seja, é necessário entender o significado
do discurso para eles, mas apenas para formular a sua própria interpretação, que
devem ser compatíveis com aqueles, mas que não é diretamente derivável deles
(RUIZ RUIZ, 2009).
A ASD, segundo Ruiz Ruiz (2009), estabelece conexões entre os discursos
analisados e o espaço social em que surgiram. Estas ligações podem ser muito
diferentes dependendo da orientação teórica adotada pelo analista. No entanto, na
prática, as interpretações sociológicas do discurso podem ser reduzidas a três tipos
de interpretações: (1) aquelas que consideram o discurso em sua dimensão social
da informação (plano de enunciado), (2) outras que vêem como um reflexo das
ideologias que sustentam os indivíduos (plano de enunciação) e, por último, (3)
entendem o discurso como um produto social (plano de interpretação).
O desenvolvimento característico de uma ASD tem identificado uma
diversidade de formas ou estilo de análise, como é o caso também da Análise
Sociológica do Sistema de Discursos (ASSD)27 sugerida por Conde (2009). A
proposta de Conde (2009) busca sistematizar, de certa maneira, as formas de
trabalhar continuamente, podendo ir desde a apresentação dos formatos mais
básicos de trabalho associado com a análise de conteúdo e mais tradicional, que
dificilmente poderia ser visto como a análise do discurso. Para Conde (2009, p. 23),
entre os dois extremos de análise, podemos situar uma série de tradições, métodos
de trabalho e técnicas comumente associados com a chamada análise do discurso
que, sob a linha de ASD, pode ser caracterizada e diferenciada por duas questões
básicas: (1) pela ênfase relativa em uma ou outra ‘unidade de análise’ como ponto
de partida para a análise de textos; e tipo de abordagem do texto e suas unidades
básicas de análise, que estão intimamente relacionados com o trabalho de
anotações do corpus de textos da investigação; (2) pela ênfase em uma espécie de
27
Sistema de Discursos é um conceito muito utilizado por Fernando Conde (2009). Para o autor, os
discursos sociais não se produzem de forma isolada, nem existem de maneira individualizada ou
estática. Eles formam um sistema, no qual todo discurso se produz e se desenvolve em relação a
outro discurso.
102
aproximação internalista ou contextual, no momento de realizar o trabalho de análise
e interpretação de textos.
Para Conde (2009, p. 29), a diferença da corrente de ASD em relação aos
demais tipos de análise textual, de conteúdo, temática, por categorias, estrutural e
crítico do discurso concentra-se em duas dimensões principais. Primeiramente, a
diferença da prática na totalidade das linhas de análise mencionadas até o
momento, que o autor sugere chamar de “unidade de análise” neste tipo de
abordagem sociológica seria o “corpus de textos” da investigação como um todo.
Este deve ser analisado e compreendido em sua totalidade, mais além de qualquer
tipo de segmentação do texto inicial, seja ele de qualquer tipo. Deste ponto de vista,
esta abordagem de Conde (2009) se conectaria com as propostas pioneiras de
Bakhtin e desenvolvimentos acerca do “dialogismo” nos discursos sociais na medida
em que, como desenvolveu Maingueneau, a partir destes desenvolvimentos
bakhtiniano “as unidades de análise pertinente não é o discurso, mas um espaço de
intercâmbios entre vários discursos” (SARFATI, 1987, p. 106 apud CONDE, 2009, p.
30), que se materializa precisamente no corpus textual da investigação.
Em segundo lugar, a ASD, conforme a concepção de Conde (2009), se
diferencia dos demais tipos de análise em relação às ênfases relativas entre as
aproximações mais internalistas e contextuais aos textos. A ASD defende a
vinculação e a articulação entre ambos os tipos de aproximações e, portanto, não
reduzindo a análise à mera dimensão contextual dos textos, salientando a
importância do contexto sobre o texto na medida em que, como assinala Alonso
(1998, p. 211), a “análise do discurso como análise sociohermenêutica é uma
análise pragmática do texto e da situação social – micro e macro – que a gerou”.
Esta aproximação se situa em certa linha de conexão com a Análise Crítica do
Discurso (ACD), que se reforça pela ênfase em ambos os tipos de análise em
importância de dimensão pragmática da linguagem, debatida neste estudo na seção
4.3.3.
Para Álvarez-Uría (2008, p. 12) a ASD acarreta não somente na análise de
conteúdo, “porém também algo mais, pois se trata de reenviar os enunciados dos
discursos a suas condições sociais de produção e de sentido”. Para o autor, a busca
não se limita em saber o que se disse, mas quem, por que, onde e como disse, e o
grau de verossimilitude apresentado no que se disse. Enfim, por meio desta
abordagem, é possível verificar os vínculos de enunciados com dispositivos
103
institucionais materiais e simbólicos, bem como as funções sociais e políticas
derivadas dos diferentes registros discursivos encontrados na pesquisa.
A ASD revela estratégias discursivas que dão formas aos textos que, mesmo
que possam parecer desordenados e confusos, envolvem a construção de uma
realidade social por parte da comunidade científica (FAILLE, 2009). Isso significa,
segundo Faille (2009), que a produção de textos por parte da sociologia é construída
por um esforço da comunidade, de acordo com estratégias mais ou menos evidentes
que procuram transmitir um conjunto relativamente coerente de posições
metodológicas, teóricas, ideológicas e de questões éticas relativas às relações
sociais. Surgem textos a partir do contexto de uma comunicação que leva em conta
a divulgação e o recebimento de debate e conclusões da investigação.
Ao analisar o discurso, desta forma, buscamos medir a tensão na difusão e do
controle sobre si mesmo. Voltando à abordagem desenvolvida por Michel Foucault
em 1974, verificamos o discurso como uma realidade em si, no qual as tensões são
expressas por meio de objetivos organizados em conformidade com as regras
estabelecidas pela comunidade sociológica. O discurso constitui, portanto, numa
aposta em si mesmo, e está composto por estratégias, lutas e oposições que são
estruturados por regras internas e os desafios da produção do campo. Desta
maneira, o discurso não é simplesmente um reflexo da realidade externa (FAILLE,
2009).
No que tange à investigação nas organizações, o que se analisa são
discursos e não textos (GODOI, 2006). A este respeito, Alonso (1998, p. 332) reforça
que o que se busca, nos estudos, não é o estilo textual, nem tão pouco sua estrutura
subjacente, mas a atuação deste “complexo fenômeno cognitivo e social que
chamamos de discurso”. Para Godoi (2006, p. 385), com a ajuda da incorporação
dessa visão pragmática, a ASD “declara o seu interesse não pelo que os textos
formalizam, mas por aquilo que os discursos fazem e de que são constituídos os
discursos”.
Para Graña (2007, p. 28) a análise de conteúdo e a análise estrutural diferem
da perspectiva sociohermenêutica, também chamada de socioanálise ou ASD, em
razão de que, neste nível:
[...] ‘dá a palavra aos sujeitos’ porque considera seus discursos como
práticas comunicativas com as quais eles estão envolvidos em conflitos, em
negociações, em movimentos coletivos. O significado de um termo se
104
explica em e por seu uso em certa situação social concreta; é neste
contexto onde reside a possibilidade de compressão do termo. Nesta
perspectiva, os sujeitos ou atores sociais podem ser vistos como produtos
históricos e, simultaneamente, como produtores da história.
Alonso (1998), seguindo os ensinamentos de Bourdieu, explica que a
finalidade da análise sociohermenêutica é compreender as condições de produção
discursiva dos atores sociais, o que se assemelha, de certa maneira, à análise crítica
do discurso. O texto por si só não contém sentido, nem o sentido em si mesmo; o
sujeito torna-se o mediador e a via para se chegar ao sentido. Neste nível de
análise, situamos os textos em contextos, sobretudo o contexto social. A análise
percorre do texto à ação, do enunciado ao sentido vivenciado pelos atores sociais,
constituindo uma leitura ativa dos textos.
4.3.1 Origem da Análise Sociológica do Discurso (ASD) na Tradição
Espanhola da Pesquisa Social Qualitativa
Denzin e Lincoln (2000), na segunda edição do Handbook of Qualitative
Research, ampliaram de quatro para sete as perspectivas históricas sobre a gênese
e desenvolvimento da pesquisa qualitativa. Os chamados sete momentos
determinantes das pautas principais dos últimos anos do século XX seriam: (i)
tradicional (1900-1950): momento da etnografia clássica; (ii) modernista (19501970): conhecido como idade de ouro, caracterizado pelos esforços de formalização
dos métodos qualitativos; (iii) gêneros redesenhados ou imprecisos (1970-1986):
onde as fronteiras entre as ciências sociais e as humanas tornaram-se desfocadas;
nesta fase, interpretativismo, os pesquisadores sociais buscam, na semiótica ou na
hermenêutica, novas teorias ou métodos de análise; (iv) crise de representação
(1986-1990): amadurecimento do período anterior, onde se registra o apelo por
modos mais reflexivos e críticos de realização e apresentação da pesquisa
etnográfica, que inclui aspectos anteriormente negligenciados relacionados com
gênero, raça ou classe social dos pesquisadores; (v) pós-moderno (anos 1990 em
diante): revela uma era de descobrimento de configurações e modos qualitativos de
investigação; vi) escrita pós-experimental (anos 1990); e (vii) o futuro – período
105
atual: a investigação qualitativa torna-se um campo interdisciplinar, transdisciplinar e,
em outras ocasiões, contradisciplinar.
A pesquisa qualitativa configura, na atualidade, para Denzin e Lincoln (2000),
diversos eventos simultâneos. É caracterizada como multiparadigmática em seu
enfoque, e os que a praticam estão submetidos à perspectiva naturalista e a
compreensão interpretativa da experiência humana.
Os pesquisadores estão submetidos, simultaneamente, a uma dupla tensão e
são atraídos, de um lado, por uma sensibilidade ampla, interpretativa, pós-moderna,
feminista e crítica; e, por outro, incitados para concepções mais positivistas, póspositivistas, humanistas e naturalistas da experiência humana e sua análise.
Na época da primeira edição do manual de Denzin e Lincoln, em 1997,
Delgado e Gutiérrez (1994) publicaram, na Espanha, um manual com periodização
distinta: (a) primeiros estudos - final do século XIX; (b) fase de importação - início da
década de 1970; (c) início dos debates originais - final da década de 1970; (d)
desenvolvimento dos debates originais - décadas de 1970 e 1980; (e) consolidação
e questões de procedimento - final da década de 1980 e década de 1990; e (f)
prática de pesquisa – atualidade. Com algumas especificidades e diferenças
cronológicas, a experiência vivenciada na Espanha parece mais próxima da
realidade da pesquisa qualitativa brasileira do que aquela descrita pelos autores
americanos.
A segunda periodização norte-americana é criticada por Valles e Baer (2005) e
Flick (2004), em virtude do destacado papel atribuído à representação, à crise de
representação e à relatividade do que se representa, relegando a um segundo plano
as intenções de formalizar e canonizar os métodos. Flick (2004) alerta que qualquer
categorização da prática da pesquisa qualitativa em uma sequência progressiva de
etapas corre o risco de inutilidade em virtude de seu caráter ideológico.
Haidar (1998) não contemplou em seu amplo levantamento (Quadro 9)
tendências minoritárias, como é o caso da espanhola. Para entender a prática da
pesquisa qualitativa na Espanha é preciso considerar a Guerra Civil (1936-1939) e a
Ditadura de Franco (1939-1975) como marcos condicionantes da grande
transformação da sociedade espanhola contemporânea (VALLES; BAER, 2005). Os
fatos econômicos e culturais são utilizados por Valles e Baer (2005) e Conde (2009)
na estruturação das etapas da pesquisa qualitativa no país, conforme sintetiza o
Quadro 18.
106
A escola espanhola sofreu diversas influências, findo o século XIX e início do
século XX, com destaque ao nascimento da sociologia na Espanha, a partir das
pesquisas iniciadas por grupos de pesquisadores do Instituto de Reformas Sociais.
O segundo período parte da crise socioeconômica e parlamentarista, tendo como
característica relevante neste período a importante influência das correntes de
pensamento alemãs.
Quadro 18: Etapas da investigação social qualitativa na Espanha
Etapa/Período
I. final do século XIX –
ano de 1924
II. de 1913/17 a 1939
III. de 1940 a 1959
Denominação da etapa de
Investigação Social
Qualitativa (ISQ)
Raízes na reforma social e na
literatura
Raízes filosóficas alemãs
IV. de 1953/59 a 1975
Parênteses no pós-guerra civil
e exílio
Raízes sociológicas atuais
V. de 1974 a 1993
Auge da ISQ: usos e abusos?
VI. de 1994 a 2004 - Especialização
e
atualmente
sistematização da ISQ
Fonte: Adaptado de Valles e Baer (2005) e Conde (2009).
Descrição
- Investigações do Instituto de Reformas
Sociais
- Neokantismo, fenomenologia, sociologia
filosófica
- Mínima investigação frente a máxima
experiência social
- Final do regime de Franco
- Psicanálise, marxismo
- Recepção da sociologia norte-americana
- Transição democrática
- Institucionalização da ISQ
- O antigo e o novo: gerações, teorias,
práticas
A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) assinala o início do terceiro período da
pesquisa qualitativa e provoca o deslocamento das investigações para o campo
social. A última década do regime de Franco, quarta etapa da periodização histórica,
por sua vez marca o desenvolvimento das raízes sociológicas atuais na Espanha.
Nessa fase, Valles e Baer (2005) relatam que a sociologia espanhola assiste o fim
da primazia das universidades norte-americanas e a ascensão da influência das
universidades francesas, com a psicanálise, a semiótica e o marxismo. A principal
figura deste período é Jesús Ibáñez, fundador do ECO (e depois intitulado ALEPH),
um instituto de pesquisa de mercado, em 1958, e professor de um grupo de
investigação em torno da metodologia de grupo de discussão28.
Para Ibáñez (1992), a sociedade estava além do Estado, e complementa que
antes do Estado franquista legitimar a investigação sociológica empírica, os
empresários passaram a requerer os serviços do instituto de pesquisa de mercado.
28
Para aprofundamento a respeito da prática de grupo de discussão na investigação social, consultar
os estudos de Ortí (1986), Ibañez (1990), Krueger (1991), Calejjo (2001), Brito (2008), Colectivo IOÉ
(2010).
107
Nasce, neste período, a prática de grupo de discussão, uma ferramenta de pesquisa
proposta por Ibáñez em sua obra Más allá de la sociología, em 1979, e atualmente
considerada a mais popular na Espanha. Segundo Alonso (1996), trata-se de uma
prática em que os grupos constroem e dão sentido aos acontecimentos e
circunstâncias em que vivem, aflorando as categorias e interpretações que se
transformam em marcos intersubjetivos da interação social através dos processos
comunicativos e linguísticos.
Os governos democráticos – quinta etapa – constituem o contexto do processo
de institucionalização da sociologia na Espanha e o reconhecimento oficial da
pesquisa qualitativa. Vinculada à Tradição Espanhola de Investigação Social
Qualitativa (IBÁÑEZ, 1979; GARCÍA; IBÁÑEZ; ALVIRA, 1986; ALONSO, 1998;
ORTÍ, 1986, 2001; VALLES; BAER, 2005; CONDE, 2009; RUIZ RUIZ, 2009; dentre
outros), comandada principalmente pela Escola Qualitativista Crítica de Madri,
emergiu, no início dos anos 1970, a chamada Análise Sociológica do Discurso (ASD)
–
abordagem
metodológica
desta
tese,
e
associada
aos
trabalhos
de,
principalmente, Ibáñez (1979; 1985), Ortí (1986), De Lucas (1992), De Lucas e Ortí
(1995), formando a primeira geração desta escola. Também chamada de Escuela de
Ibáñez, essa terceira aproximação discursiva, segundo Gordo (2008), se conecta
diretamente com o pós-estruturalismo e sua incorporação com a psicanálise, bem
como na integração da reconsideração da Escola de Frankfurt num sentido diferente
da análise crítica, apesar de muitas sobreposições29. Mesmo assim, esta escola
incorpora a perspectiva histórica, num sentido muito mais generalista e não tão
apegado as aproximações foulcaultiana sobre a genealogia ou as formações
discursivas da escola francesa (GORDO, 2008).
A partir de 1973, ainda durante a ditadura de Franco, nasceu o edifício teórico
e metodológico da ASD, que passaria a se constituir como o núcleo fundamental da
pesquisa qualitativa na Espanha. Paradoxalmente, no centro da falta de liberdade
política e de pensamento (PEINADO, 2002), contra o saber oficial, e permeado pela
ortodoxia da contestação, surge uma intensa reflexão sobre os problemas sociais
capaz de produzir um redirecionamento da investigação da linguagem entendida a
partir desse momento como discurso social.
29
Realizamos um debate a respeito das proximidades e diferenças entre a Análise Sociológica do
Discurso e outras abordagens discursivas na seção 4.3.3.
108
Neste contexto de processo geral de institucionalização e consolidação da
metodologia qualitativa na sociologia espanhola, durante os primeiros governos
democráticos, registramos o início de uma reforma curricular do curso de Sociologia,
principalmente na Universidad Complutense de Madrid (UCM), além da edição de
manuais de métodos qualitativos e análise do discurso publicados por espanhóis
(por exemplo, DELGADO; GUTIÉRREZ, 1994; VALLES, 1997; ALONSO, 1998;
CALLEJO, 2001). Destacamos também a configuração de um grupo de
pesquisadores, a partir das práticas de investigação de mercados, como Jesús
Ibáñez, um dos principais mentores da ASD. Ibáñez (1979, 1990, 1992, 1997) foi o
grande mestre dos qualitativistas espanhóis e de diversos ibero-americanos no
último século (VALLES; BAER, 2005). Sua influência como importador e exportador
de tecnologia – conforme ele próprio narra em nota autobiográfica (IBÁÑEZ, 1990) –
projetou-se em especial ao Chile, Argentina, Uruguai, Porto Rico, Marrocos, Senegal
e, por meio de seus discípulos (CONDE, 2009; ALONSO, 1998; RECIO, 1994;
CALLEJO, 2001; SERRANO, 1994; 1998; 2008 entre os principais), à França e aos
Estados Unidos. O estilo de investigação do consumo de Ibáñez caracteriza-se pelos
seguintes aspectos apontados por Valles e Baer (2005): interpretação crítica dos
discursos sociais; técnica de grupo de discussão; análise estrutural; realização da
reflexão teórica (teorização tecno-metodológica) somente após a etapa do
pesquisador de mercados, principalmente e não unicamente, também faziam
investigação para o mercado político, em seu início. Os estudos qualitativos ou
mistos de Ibáñez e seus alunos, de diversas gerações, transitam não somente pelo
campo do consumo, mas incluem, por exemplo, a imigração, a saúde, a habitação e
o trabalho.
Uma das figuras do círculo de Ibáñez que adquiriu destaque contemporâneo é
Fernando Conde, co-fundador do Curso de Pós-Graduação da Faculdade de
Ciências Políticas e Sociologia da UCM. Considerado um dos autores fundamentais
da ASD na atualidade, Conde dirige o instituto de pesquisa Comunicación, Imagen y
Opinión Pública (CIMOP) reconhecido como principal centro de desenvolvimento da
ASD em Madri. No Brasil, a perspectiva de ASD vem sendo desenvolvida e
aproximada ao campo organizacional por Godoi (2005; 2006; 2009) e Coelho e
Godoi (2010; 2011).
Em suas pesquisas, Conde (2008) também trabalha com o chamado grupo
triangular. Segundo o autor, trata-se de uma técnica grupal inovadora semelhante ao
109
grupo de discussão, porém com capacidade de trabalhar com códigos de
comunicação a fim de obter maior profundidade nos discursos dos participantes. Ela
visa permear em campos de estudos que estão em processo de mudança e que tem
a potencialidade de abrir-se a novas formas de refletir ou pensar ou ainda nominar
estas realidades em transformação. Apesar de ser uma prática pouco conhecida, os
grupos triangulares ou personalizados (ORTÍ, 1993, p.198) “constituem um espaço
social e simbólico de mediação entre as entrevistas abertas pessoais [...] e a
tradicional prática de grupos de discussão”. É uma prática mais orientada para a
expressão e a captação da estrutura profunda e singular de cada arquétipo de
personalidade.
Para concluir a cartografia da pesquisa qualitativa, Valles e Baer (2005)
destacam, a partir de 1994 – sexto e último período, os seguintes acontecimentos:
reformulação curricular (iniciada no período anterior) do curso de Sociologia,
principalmente na Universidad Complutense de Madrid, onde são criadas duas
temáticas de pesquisa social: Métodos e Técnicas Quantitativas e Métodos e
Técnicas Qualitativa; interação conjunta de métodos quantitativos e qualitativos
durante o VIII Congresso Nacional de Sociologia, em 2004. Tais fatos são
interpretados por Valles e Baer (2005) como o encerramento de um círculo em que o
papel e o lugar da metodologia qualitativa na sociologia espanhola consolidaram-se
definitivamente.
4.3.1.1 Noção de discurso na ASD
Em
virtude
da
diversidade
de
antecedentes
teóricos
e estratégias
metodológicas de investigação, não há na análise do discurso uma definição unívoca
do que seja discurso. O conceito de discurso não é dado (POSSENTI, 2001), muitos
pesquisadores referem-se a coisas distintas quando aludem ao conceito (GARAY;
IÑIGUEZ; MARTINEZ, 2001), disputando a primazia de sua concepção. Essa
variabilidade não caracteriza um inconveniente, e sim a riqueza permanente de um
debate que permitiu a ascensão de várias perspectivas discursivas.
110
A noção de discurso da Análise Sociológica do Discurso é influenciada
principalmente por três tradições principais: a filosofia da linguagem associada à
escola de Oxford; a obra de Foucault; e a pragmática francesa (IÑIGUEZ, 1993;
CONDE, 2009). Trata-se, portanto, de uma aproximação pragmática da análise dos
textos, porém considerando que o discurso excede ao texto (RICOEUR, 2001). Na
pragmática, do tipo não cognitivista30, “há sempre um sentido que vai mais além do
significado que acompanha as palavras” (IÑIGUEZ, 2004). Esse entendimento
pragmático implica a aproximação do discurso como uma atividade, uma prática
social e discursiva, um processo de argumentação, de comunicação e de tensões
(CONDE, 2009) ou, na expressão de Gadamer (2006), um diálogo.
Ao exceder ao texto, o discurso configura-se como um conjunto de práticas
sociais, ou práticas discursivas (FOUCAULT, 1971) – regras constituídas em um
processo histórico que vão definindo em uma determinada época, em grupos
específicos e concretos, as condições que tornam possível uma enunciação. Sob a
influência de Foucault, Iñiguez e Antaki (1994) caracterizam o discurso como um
conjunto de práticas linguísticas que mantêm e promovem certas relações sociais.
ASD entende discurso como uma construção teórica, designada por Conde (2009),
de sistema de discursos, realizada pelos pesquisadores a partir da análise de textos
e imagens, ou seja, do material empírico.
As práticas de análise do discurso desenvolvidas por Conde (2002; 2007;
2009) são orientadas pela perspectiva de que não há sentido em analisar discursos
isolados, mas discursos que se encontram articulados em sistemas. Para explicar
esse sistema de discursos, Conde (2009) desenvolve as seguintes características
encadeadas, a serem abordadas pelo analista, de forma flexível: (a) é uma
perspectiva de aproximação à realidade social que mantém certa coerência interna e
conduz ao desenvolvimento de uma visão específica; (b) a coerência e a
consistência do discurso são determinadas pela forma particular de narrativa
adotada; (c) expressam-se em uma série de argumentos articulados; (d) seus
materiais constitutivos emergem da interação social dos sujeitos; e (e) seus
elementos
constitutivos
são
pronunciados
pelos
sujeitos
com
alguma
intencionalidade.
30
Nesse tipo de pragmática o que menos interessa é discernir a natureza dos processos cognitivos
de codificação e decodificação; seu interesse está na práxis comunicativa (IÑIGUEZ, 2004).
111
A perspectiva de discurso da ASD, por certo influenciada por Foucault (1971),
é especificada em Conde (2009) e está a seguir sintetizada e adaptada uma vez que
o autor trabalhou apenas com grupos triangulares31 nos seguintes aspectos: (a) os
discursos são produções e práticas sociais, não individuais, portanto, considera-se a
produção do grupo, evitando considerar as variações pessoais fora de sua
concepção como situação social. Inclusive no caso da análise individualizada, não
se considera o interesse da pessoa concreta, mas sim do tipo social que representa
no momento da pesquisa; (b) os discursos são produzidos a partir do conjunto de
ligações, dos nós das relações sociais entre os sujeitos que falam; (c) os discursos
sociais formam um sistema estruturado, ordenado e hierarquizado; (d) a circulação
dos discursos sociais responde a uma complexa rede de relações e conflitos sociais,
ideológicos, simbólicos, longe de qualquer outro tipo de uniteralismo; e (e) existe
uma diversidade de graus de cristalização e de circulação social dos distintos
discursos sociais.
A concepção de discurso social, explica Peinado (2002), não constitui uma
maneira de se referir, por meio de palavras, a uma realidade social extralinguística,
mas um modo de regular o funcionamento social mediante fluxos simbólicos. O
modo de pensar social não está presente não apenas no ato da comunicação, e sim
em toda institucionalização simbólica que organiza a relação com o outro, que institui
representações que garantem os laços com o outro. O caráter que tem o discurso
social de sempre produzido em relação a outro discurso social é designado como
interdiscursividade (ALONSO, 1998).
A prática discursiva funciona em um contexto de posições sociais préconfiguradas e adquire sentido na busca de efeitos sociais (ALONSO, 2002). Mais
do que uma análise interna, a ASD trabalha com um discurso contextualizador, ou
seja, toda interpretação somente se torna razoável quando situa o texto no contexto
– processo chamado por Alonso (1998; 2002) de contextualizar. A relação entre
discurso e a noção de contexto com a qual trabalha a ASD é objeto da subseção a
seguir.
31
Compreende um grupo formado por três participantes e um moderador. Para aprofundamento
nesta técnica sugere-se a leitura de Conde (2008).
112
4.3.1.2 Noção de contexto na ASD
A importância do contexto na AD é assinalada por Godoi (2008) ao destacar a
necessidade de apelar às informações de fundo, às informações mutuamente
compartilhadas pelos interlocutores sobre os fatos, ou seja, de considerar os
elementos do contexto. O contexto é revelador da coerência que se manifesta nas
várias camadas da estruturação do texto. A palavra texto em linguística é utilizada
“para designar toda passagem, escrita ou falada, de qualquer amplitude, que forma
um todo coerente”, comentam Lozano, Peña-Marin e Abril (2002, p. 08).
A coerência “caracteriza-se como o nível de conexão conceitual e
estruturação do sentido, manifestado, em grande parte, macrotextualmente”
(FÁVERO, 1991, p. 59). A coerência está atrelada diretamente “à possibilidade de se
estabelecer um sentido para o texto”, e entendida como um “princípio de
interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e
à capacidade que o receptor tem para calcular o sentido deste texto” (KOCH;
TRAVAGLIA, 1990, p. 21). O conceito de coerência refere-se, pois, a maneira como
os elementos subjacentes à superfície textual vem a estabelecer uma configuração
veiculadora de sentidos (KOCH, 1997). Para Fernandes (2008, p. 60), quando se
recorre a um dicionário, verificamos o significado de dada palavra – “o significado já
esta posto, é imanente”, mas quando se refere a AD, rejeitamos tal imanência do
significado, vez que o que interessa é o sentido produzido em “decorrência da
inscrição socioideológica e histórica dos sujeitos envolvidos”.
A interpretação contextualizadora (ALONSO, 2002) é a chave da análise
discursiva, de tal forma que uma interpretação somente pode ser razoável quando
se situa em um contexto situacional, histórico, linguístico, sócio-cultural, dentre
outros. É a seleção do melhor contexto possível que detém a capacidade de gerar a
relevância ótima (CIMINARI, 2002) da interpretação.
A noção de contexto sofreu diversas modificações (LEONETTI, 1996). Sua
historicidade pode ser dividida em dois momentos principais (CIMINARI, 2002;
MOSTAOUI SRHIR, 2007): contexto concebido como um fator estático, preexistente
na enunciação, cuja função explicativa intervinha apenas em alguns casos em que o
papel da análise linguística tornava-se insuficiente; e a concepção dinâmica do
contexto corroborada pelos autores da ASD e outros como Ciminari, (2002);
113
Mostaoui Srhir (2007) e van Dijk (2004) caracterizada por uma orientação cognitiva,
na qual a amplitude do conceito de contexto engloba a totalidade dos elementos
não-textuais, indo além da enunciação. De acordo com Godoi e Coelho (2011), esse
novo enfoque cognitivo do contexto está baseado em dois pressupostos analisados
por Ciminari (2002): o contexto desempenha um papel decisivo na interpretação
pragmática de todos – não só de alguns – enunciados; e não está pré-determinado
ou dado de antemão na mente do destinatário que processa um enunciado, mas se
constroi ao interpretar.
No interior dos dois momentos descritos, existe ainda, na definição de
contexto, uma multiplicidade de níveis (ALONSO, 1998). Não há acordo entre os
autores sobre a classificação desses níveis. Alonso (2002) elenca diversos: contexto
histórico, linguístico (idiomático), textual, inter-textual, existencial e micro-situacional.
Os níveis descritos por Alonso (2002) poderiam ser sintetizados na classificação de
Givón (1984) em apenas dois níveis: contexto cultural e contexto específico. Ainda
que a ASD leve em consideração todos os níveis de Alonso, a ênfase principal recai
sobre o contexto cultural de Givón – amplo sistema de conhecimento generalizado
entre vários membros de uma cultura particular, que permite a construção de
suposições para compreensão do enunciado. Tais suposições estão na memória do
analista ou são criadas no momento da comunicação, enfatizam Godoi e Coelho
(2011). De forma também mais simplificada do que Alonso (2002), Leckie-Tarry
(1995) propõe uma classificação em três níveis: contexto cultural, contexto
situacional e contexto do texto.
A perspectiva cognitiva do contexto (VAN DIJK, 2004) trabalha justamente
com o contexto cultural – hábitos, costumes, crenças, normas sociais, sistema
político-econômico, dentre outros aspectos, que ajudam na compreensão do texto.
Além da compreensão do processamento da informação externa, essa perspectiva
compreende a ativação e o uso da informação interna, cognitiva.
Ciminari (2002) elucida que contexto entendido como realidade cognitiva
implica a representação mental que envolve a memória e na organização dos
conhecimentos armazenados nela. O enunciado é processado em um conjunto
inicial mínimo de suposições previamente ativadas na memória; este contexto inicial
pode ampliar-se de várias formas no processo interpretativo, introduzindo novas
suposições e avaliando o efeito cognitivo (CIMINARI, 2002) delas sobre os dados
iniciais. Na configuração cognitiva, o contexto consiste no conjunto de premissas –
114
representações mentais (CIMINARI, 2002) utilizadas na interpretação de um
enunciado. Em síntese, é o enunciado que determina a formação do contexto, não o
inverso.
Para Godoi e Coelho (2011), a noção de contexto com a qual trabalha a ASD
é influenciada tanto pela perspectiva cognitiva do contexto desenvolvida por van Dijk
(2004), como também pela da noção de campo social de Bourdieu (2000) – sistema
de relações, de forças e de interesses concretos que marca as posições e dá sentido
às estratégias que realizam as práticas discursivas.
Para a chamada análise do discurso concreto – metodologia utilizada por
Alonso (1992; 2002), um dos autores mais proeminentes da ASD – uma análise
adequada do contexto garante um começo promissor de uma análise de discurso. O
contexto social analisado pela Análise Sociológica do Discurso não consiste em uma
situação particular, tampouco na limitação ou supressão das terminações gerais,
mas no espaço social e concreto delimitado por permitir a entrada em cena de todas
as sobre-determinações sociais possíveis (ALONSO, 1998).
O plano de análise de Alonso (1998) não se reduz às de análise focalizadas
por outras traduções de análise do discurso: a) processo de desintegração de um
texto ou corpo textual em palavras-sinais; b) imposição sobre esse texto de um
modelo de representação que cristaliza a estrutura enunciativa. O que Alonso
designa por contextualizar – situar textos em discursos concretos – é considerar a
representação como uma regra de ação (DELADALLE apud ALONSO, 2002).
A análise sociológica busca recuperar os sujeitos sociais dos discursos
(ALONSO, 1998) como emissores, receptores e meios inter-subjetivos – por meio
dos universos de referência de seus discursos. Alonso (1998) coloca em cena uma
concepção dialética entre discurso e contexto, que dinamiza e inter-relaciona o
interior e o exterior, ou seja, os mundos objetivo, subjetivo e social para desenvolver
em universos semânticos os conteúdos do acervo de conhecimentos da cultura.
Nessa relação dialética, ressaltam Godoi e Coelho (2011), a interpretação tem
que compreender o texto no interior do mundo da vida esfera onde o indivíduo
encontra convenções e motivações comunicativas. No dizer de Cuesta Abad (apud
ALONSO, 1998, p. 204), o sentido escapa ao concreto de algumas circunstâncias e,
ao mesmo tempo, exige a observação de sua extensão e envergadura históricocultural.
115
Na seção a seguir, ressaltamos os diversos trabalhos que fazem uso da
Análise Sociológica do Discurso, realizados por pesquisadores provenientes da
Escola Qualitativista Crítica de Madri, de segunda geração – por exemplo, Luis
Alonso, Fernando Conde, Cristina Santamarina – e, de terceira geração Araceli
Serrano, Ángel Gordo, Ángel Zurdo, Concha Gabriel, dentre outros.
4.3.2 Principais temas e práticas de pesquisa com a utilização da Análise
Sociológica do Discurso (ASD)
Na prática, as tentativas de abordagens de Análise Sociológica do Discurso
(ASD) encontradas são crescentes em diversas áreas do conhecimento, a exemplo:
ASD místico (SELL, 2004); ASD jurídico (CORREAS, 2005); ASD literário (LIMA,
1983; 2002); ASD ordinário (SOARES, 2006); ASD religioso (TAGLIAVINI, 2006),
entre outros.
Os principais temas de estudo e pesquisa atualmente desenvolvidos na
Espanha, égide do método da ASD, servem de orientação para abertura de
possibilidades
a
serem
estudadasno
campo
organizacional
brasileiro.
Um
levantamento (Quadros 19 e 20) com exemplos de investigações no campo da
administração e em outros campos sociais com uso da ASD, na tentativa de
segmentar os estudos e refletindo para abrir possibilidades de novas pesquisas no
Brasil.
Quadro 19: Exemplos de investigações no campo da administração que
utilizam da Análise Sociológica do Discurso
Autor (ano)
Colectivo IOÉ
(1987)
Peinado; Pereña;
Portero (1993)
DGPS (1994)
Conde (1999a)
Conde (2000)
Alonso (2005)
Título
Hacia una exploración abierta de los discursos juveniles
La cultura del alcohol entre los jóvenes de la Comunidad de
Madrid.
La cultura del alcohol en los adultos de la Comunidad de
Madrid.
Los hijos de la desregulación. Jóvenes, usos y abusos en los
consumos de drogas.
La cuestión de la vivienda y los modelos de consumo.
Mitologías alimentarias cotidianas: una relectura de Roland
Barthes
Temática
condições de
trabalho - jovens
cultura do álcool
cultura do álcool
consumo de
drogas
padrões de
consumo social
consumo
alimentar
116
Palop (2008)
Un diario con lupa: discurso ecológico en la prensa.
discursos políticas públicas
Conde (2008)
Los estilos educativos de las familias españolas y el conjunto
de drogas en la adolescencia.
consumo de
drogas
Serrano (2008)
El análisis de materiales visuales en la investigación social: el
caso de la publicidad
Médicos y pacientes ante la promoción de estilos de vida
saludables en atención primaria.
Los otros excluidos: los discursos de los trabajadores
prejubilados en España.
materiais visuais
Opinión pública y marcos cognitivos.
discursos políticas públicas
prática docente
Calderón et al.
(2009b)
Alonso;
Fernández;
Ibáñez (2010)
Joya (2010)
Forttes et al.
(2010)
Hacia una práctica docente de calidad en el trabajo con familia:
articulando expectativas de instituciones formadoras, política
educativa y las familias de la educación inicial.
Investigación social con materiales visuales
Serrano e Zurdo
(2012 – no prelo)
Fonte: Elaboração própria.
estilo de vida
aposentadoria
precoce
materiais visuais
Na análise de publicações com o uso da ASD a partir de contextos espanhois,
percebemos a existência de um alinhamento, entre os autores, no que diz respeito
às temáticas citadas nos estudos analisados. Nessa perspectiva, a ASD é abordada
em pesquisas que versam sobre a aposentadoria precoce (ALONSO; FERNÁNDEZ;
IBÁÑEZ, 2010), a cultura do álcool (PEINADO; PEREÑA; PORTERO, 1993; DGPS,
1994), a cultura urbana (CONDE, 2007b), a cultura de saúde em diferentes grupos
sociais (CONDE, 1997b; CONDE; MARINAS, 1997), as concepções de saúde
feminina (CONDE 1994; CONDE; GABRIEL, 2000; CONDE; GABRIEL, 2002;
MARTÍN CRIADO, 2007; MARTÍN CRIADO, 2010), as concepções de saúde
estudantil (CONDE; CAMAS, 2001), as concepções de saúde pública (CONDE,
1997a; CONDE, 2007a; CALDERÓN et al., 2009a); as concepções de saúde juvenil
(CONDE; GABRIEL, 2005), os padrões de consumo social (CONDE, 2000), o
consumo de drogas (CONDE, 1999a; CONDE, 2008), o consumo de tabaco
(PORTERO; PEREÑA; PEINADO; 1993) e o consumo alimentar (ALONSO, 2005).
Os estudos tratam ainda de discursos que envolvem políticas públicas
(PALOP, 2008; JOYA, 2010), discurso do conhecimento sociológico (FAILLE, 2009),
estilo de vida mais saudável (CALDERÓN et al., 2009b), estilo de vida dos
imigrantes no contexto espanhol (COLECTIVO IOÉ, 2010), prática docente
(FORTTES et al., 2010; FERNANDÉZ RODRÍGUEZ, 2010), relações pessoais e
familiares (CONDE, 1985), relações pessoais entre jovens (CONDE, 1999b) e
condições de trabalho juvenil (COLECTIVO IOÉ, 1987). Outros estudos surgem com
117
uso da abordagem de ASD associadas aos materiais visuais (GORDO; SERRANO,
2008; SERRANO; ZURDO, 2012). Para Godoi e Coelho (2011) estas pesquisas, em
intersecção com a sociologia, permitem evidenciar e abstrair a maneira singular no
emprego do método por diferentes autores.
Quadro 20: Exemplos de investigações em outros campos sociais que utilizam
da Análise Sociológica do Discurso
Autor (ano)
Conde (1985)
Título
Las relaciones personales y familiares de los jóvenes.
Portero; Pereña;
Peinado (1993)
Conde (1994)
El discurso de las personas exfumadoras en torno al consumo
de tabaco.
Informe sobre la salud y la mujer en la Comunidad de Madrid.
Conde (1997a)
Escenarios de futuro del VIH-sida: de la enfermedad
«acontecimiento» a la cronicidad difusa. Del estigma moral a
las zonas más centrales de la vulnerabilidad social.
Conde (1997b)
Las representaciones sociales sobre la salud de la población
activa masculina de la Comunidad de Madrid.
Las representaciones sociales sobre la salud de los mayores
madrileños.
El mundo de las relaciones personales de los jóvenes
madrileños.
La concepción de la salud de las mujeres. Informe 2000.
Conde; Marinas
(1997)
Conde (1999)
Conde; Gabriel
(2000)
Conde; Camas
(2001)
Conde; Gabriel
(2002)
Conde; Gabriel
(2005)
Conde (2007a)
Conde (2007b)
Faille (2009)
Martín Criado
(2007)
Calderón et al.
(2009a)
Fernandéz
Rodríguez (2010)
Martín Criado
(2010)
Temática
relações pessoais
e familiares
consumo de
tabaco
concepções de
saúde feminina
concepções de
saúde pública
cultura de saúde
(homens)
cultura de saúde
(idosos)
relações pessoais
(jovens)
concepções de
saúde feminina
Paseando por los dibujos sobre la salud: una experiencia de
concepções de
trabajo de los escolares madrileños.
saúde estudantil
La evolución de las representaciones sociales sobre la salud de concepções de
las mujeres madrileñas, 1993-2000.
saúde feminina
Las concepciones de salud de los jóvenes. Informe 2004.
concepções de
saúde juvenil
La percepción social de los riesgos en salud pública en la
concepções de
Comunidad de Madrid. De la percepción social a la
saúde pública
construcción social de los riesgos.
Metropolización, territorio y vivienda en Andalucía: culturas e
cultura urbana
identidades urbanas.
Folclore y exotismo. Análisis de un discurso sociológico acerca discurso de América Latina.
conhecimento
sociológico
La dieta desesperada. Algunas condiciones sociales que
concepções de
obstaculizan el control de peso entre madres de clases
saúde feminina
populares.
La investigación cualitativa en la evaluación del impacto en la
concepções de
salud: la experiencia de un plan de reforma en un barrio de
saúde pública
Bilbao.
Estrategias de alfabetización académica a través del
aprendizaje mediado.
Las tallas grandes perjudican seriamente la salud. La frágil
legitimidad de las prácticas de adelgazamiento entre las
madres de clases populares.
Colectivo IOÉ
Discursos de la población migrante en torno a su instalación en
(2010)
España: exploración cualitativa
Fonte: Elaboração própria.
prática docente
concepções de
saúde feminina
estilo de vida
imigrante
118
No Brasil, os estudos sob a perspectiva da ASD foram iniciados no campo
organizacional por Godoi (2005; 2006; 2009), Coelho e Godoi (2010), Godoi e
Coelho (2011), ainda centrados no desenvolvimento teórico do método e estudos
práticos iniciais. Em virtude da inexistência de unanimidade sobre como praticar a
abordagem, Antaki et al. (2003) alertam sobre diversas formas de pseudo-análises,
originárias da reduzida formalização da ASD, e que têm gerado conflitos e
desentendimentos com a prática da investigação social propriamente dita.
As principais pseudo-análises são: (a) pseudo-análise por meio de síntese –
caracterizada pelo resumo de trechos da transcrição de entrevistas, ignorando os
detalhes e sutilizas discursivas dos dados originais, que altera e distorce o objeto de
análise, antes do processo de interpretação; (b) pseudo-análise baseada na tomada
de posição – implica assumir uma postura de aprovação ou rejeição sobre a postura
de quem fornece o discurso; (c) pseudo-análise por excesso ou isolamento de
citações – revelada pela ausência de comentários do analista acerca dos dados ou,
inversamente, pela tendência da redação referir-se às citações ao invés de analisálas; (d) pseudo-análise circular dos discursos e dos construtos mentais – acredita
que as citações e discursos “falam por si” e são suficientes para comprovar a
expressões de pensamento, ideias, opiniões, atitudes, e até mesmo, a existência de
um repertório ou ideologia subjacentes; (e) pseudo-análise por falsa generalização extrapola os dados propriamente ditos, por exemplo, transformar uma determinada
característica de alguns participantes em um atributo pertencente a todos os
membros da categoria da amostra; (f) pseudo-análise por localização dos elementos
– atenta exclusivamente a alguns detalhes das afirmações encontradas no estudo,
restringindo-se à localização e esquecendo-se de objetivar o exame de como os
dispositivos discursivos são estabelecidos, o que permitiria realizar a dinâmica
interacional.
As pseudo-análises não apenas não caracterizam ASD, como nenhuma forma
de análise do discurso ou pesquisa qualitativa – âmbitos em que também costumam
ser frequentes. Basta consultar os artigos científicos e livros que são publicados
sobre o assunto para verificar que não há unanimidade sobre o que constitui a ASD,
ou como deve ser abordada. Em razão desta inquietação encontrada na literatura,
Antaki et al. (2003) advertem que sintetizar, assumir uma determinada postura,
encontrar características concretas entre os dados com técnicas bem conhecidas, ou
ainda organizar citações, não é análise do discurso. E quando um analista descobre
119
algum discurso ou constructo mental de forma circular, ou quando gerencia a
informação como si estivesse frente a uma pesquisa, tampouco está produzindo
uma análise.
4.3.3 O debate da Análise Sociológica do Discurso (ASD) com outras
abordagens discursivas
Recebedora de influências comuns, principalmente de Foucault (1971),
Bourdieu (2000) e van Dijk (1998), a Análise Sociológica do Discurso (ASD) e a
Análise Crítica do Discurso (ACD) apresentam diversos aspectos coincidentes,
semelhantes e, naturalmente, outros divergentes. Cabe ressalvar que a perspectiva
da Análise Crítica do Discurso é herdeira mais de Foucault (1971) do que de
Bourdieu (2000) – fato que, no entender de Alonso (2002), a torna muito mais
teoricamente abstrata, socialmente desencarnada e, portanto, mais próxima do
pensamento filosófico do que sociológico.
Outros fatores responsáveis pelo desinteresse sociológico da ACD, e
consequente distanciamento do campo sociológico, são apontados por Ruiz Ruiz
(2009): o desenvolvimento histórico da abordagem a partir de posicionamento mais
próximo da psicologia social; a consideração dos efeitos pragmáticos do discurso em
relação com o contexto social imediato, desconectado do contexto social mais
amplo.
Ao abrir a possibilidade de praticar formas de análise do discurso mais
próximas dos interesses concretos da pesquisa sociológica, a ASD rompe com
dicotomia ressaltada, principalmente no âmbito anglo-saxão, entre análise do
discurso e análise pós-moderna do discurso, onde se inclui a ACD. A crítica da ASD
ao pós-moderno em análise do discurso atinge tanto as tendências intertextualistas
quanto as construtivistas e desconstrutivistas, uma vez que as três correntes
transformam o discurso em um jogo de significantes (ALONSO; CALLEJO, 1999),
capaz de gerar a perda da relação com o significado (referência).
Para os construtivistas, entre os quais se encontra parte dos praticantes da
ACD, os significantes são apenas armas na luta situacional e ideológica entre os
interlocutores (ALONSO; CALLEJO, 1999). Nos mais foulcaultianos, os significantes-
120
documento
(FOUCAULT,
1971)
não
são
sequer
analisados
a
partir
da
representação, como verdade de algo exterior ao documento, mas em sua relação
com a própria massa de significantes-documento. Os autores da ASD Alonso e
Callejo (1999) denunciam que na noção de pós-moderno, alguns textualizam tudo,
outros conversacionalizam tudo, restando ao sociólogo empírico à necessidade de
buscar o significado por diferentes caminhos metodológicos.
A análise pós-moderna do discurso, quer baseada em Foucault (1971), ou em
Derrida (1971), pouco contribui para as ferramentas das quais parte para destruir fenomenologia, hermenêutica, análise estrutural, teoria crítica, sociolinguística,
dentre outras-, no que se refere ao conhecimento do social (ALONSO; CALLEJO,
1999). Na avaliação dos autores, a pesquisa no campo social não precisa de uma
razão textual que proclame a dissolução dos sujeitos, mas sim de uma razão prática
fundamentada no reconhecimento dos sujeitos concretos, na reconstrução crítica da
situação e na contextualização histórica da enunciação.
A identificação da ASD como análise sociohermenêutica e pragmática do
texto e da situação a situa em certa linha de conexão a ACD, entretanto, com uma
diferença básica na concepção de poder: a ACD entende o poder do discurso em
função do nível de poder social de suas possíveis produções – no dizer de Foucault
(1971), os sujeitos não têm o poder, o poder é que tem os sujeitos; a ASD, por sua
vez, defende a existência de uma força e de um poder próprio dos discursos,
determinado pela sua força simbólica intrínseca e por sua capacidade de
canalização das tensões e disputas sociais (CONDE, 2009).
A ACD considera que a capacidade crítica é dada pelas relações de poder
articulada pelos produtores do discurso, por isso identifica-se com uma concepção
mais contextual, externalista (CONDE, 2009) do texto. Já na concepção da ASD,
principalmente nas metodologias de Conde (2009) e Alonso (1998), em virtude da
linguagem não possuir poder próprio, estabelece-se a vinculação e a articulação
entre ambas as análises: internalistas e contextuais dos textos. Essa articulação
entre texto e contexto gera, dentro da ASD, práticas muito diversificadas de
interpretação do discurso, em razão da orientação teórica do analista.
As práticas podem ser agrupadas em três tipos não excludentes, e,
frequentemente, encontrados de maneira combinada, distinguidos por Ruiz Ruiz
(2009). A primeira vertente prioriza no discurso a dimensão de informação social.
Apesar de a qualidade dessa análise ser limitada, já que a informação que os
121
sujeitos têm sobre a realidade é parcial e determinada pela posição social que
ocupam, é considerada bastante útil para a ASD (RUIZ RUIZ, 2009) e não é
priorizada pela ACD. A segunda orientação da interpretação considera o discurso
como reflexo das ideologias dos sujeitos. O que interessa a esse tipo de
interpretação é o ponto de vista do sujeito, não como um viés subjetivo do discurso,
mas como indício de construções e dominação ideológica. Percebemos aqui a
aproximação entre a interpretação ideológica e a prática da ACD, em especial van
Dijk (1998) e Bourdieu (2000). A terceira corrente de interpretação sociológica
considera o discurso como produto social. No julgamento de Ruiz Ruiz (2009), este
tipo de interpretação é o que permite estabelecer uma conexão com o social no
sentido mais amplo.
Apesar de não ser a corrente dominante, a interpretação do discurso como
produto social está necessariamente presente em todas as práticas de ASD; é
característica das metodologias clássicas de Ibáñez (1986; 1979; 1990) e Conde
(2002; 2007; 2009). A interpretação sociológica é também um dos momentos
teóricos de aproximação com a ACD por conta de ser esta a característica da prática
de Foucault (1971), como explica Ruiz Ruiz (2009).
Como principal marca diferencial da ASD, a interpretação é justamente a
parte que suscita maior receio, uma vez que requer um salto ou descontinuidade
(RUIZ RUIZ, 2009) na análise, exigindo do analista avançar além dos discursos
concretos que estão sendo objeto da pesquisa. Seguramente, não se trata de um
salto no vazio, mas um salto fundamentado nas etapas da análise textual e
contextual (RUIZ RUIZ, 2009). É arriscada por ser a etapa que permite maior
liberdade do analista, no entanto, dentro de uma estrita lógica científica e
procedimental.
122
5
DEFINIÇÕES METODOLÓGICAS DA PESQUISA
Demarcadas as posturas epistemológica, teórica e metodológica do
pesquisador, passamos à justificativa da escolha do setor e da organização
estudada, bem como sua contextualização e a definição das fontes discursivas. A
Figura 9 sintetiza o alicerce teórico-metodológico até aqui construído e anuncia a
delimitação das etapas subsequentes.
Figura 9 – Delimitação da pesquisa
Fonte: Elaboração própria.
5.1
Contexto da organização estudada: escolha do caso
123
A justificativa do setor de energia elétrica teve seu aporte no instante em que
se verifica a questão energética como pauta diária, compelindo organizações a se
pronunciarem e agirem no sentido da proteção ambiental, estabelecendo centros de
estudos e de sistematização de dados na busca de possíveis soluções. Fortemente
regulamentado, este é um setor estratégico no que tange ao desenvolvimento
econômico brasileiro, todavia, provoca alterações no meio ambiente de maneira
significativa, considerado de médio impacto, segundo a Lei n. 10.165/2000.
Schaeffer (2008) comenta que o histórico de tais empreendimentos no Brasil
registra alguns danos, como é o caso de custos ambientais32 e do reassentamento
de populações atingidas; danos estes que foram subestimados e até mesmo
desconsiderados em décadas anteriores. Não geram dúvidas que o discurso
apontava a existência de uma discussão prévia sobre alternativas e ou soluções
tecnológicas, que a priori englobavam questões sociais e viabilidades ambientais.
Todavia, não temos conhecimento gerado acerca de uma prática de análise
sociohermenêutica do discurso da sustentabilidade no campo organizacional.
A história da eletricidade no Brasil está intimamente ligada a uma evolução
econômica, social e política vivida desde os primórdios de sua implantação no final
do século XIX (1879-1899), até as recentes transformações do cenário ocorridas no
século XX e, mais atualmente, século XXI. Possuidor do maior potencial hidrelétrico
em termos mundiais, do qual metade ainda para ser aproveitado (ABBUD;
TANCREDI, 2010), o Brasil avançou em empreendimentos hidrelétricos desde o
começo dos anos 1960, a maioria deles construída durante um período em que a
preocupação com os impactos ambientais e sociais de grandes obras de engenharia
eram mínimas. Atualmente o setor elétrico brasileiro, dado o grande número de rios
e bacias, é constituído por um número representativo de usinas hidrelétricas, que
geram a maior parte (cerca de 80%) da energia do país, afirmam Morch et al. (2009).
A reforma do setor elétrico brasileiro, a partir dos anos 1990, teve uma característica
em destaque que foi a separação dos três segmentos de atuação: geração,
transmissão e distribuição, além do aumento de consumo pelas diversas classes
sociais.
São constantes os debates acerca dos choques de preços do petróleo,
acidentes nucleares, crises de suprimento de eletricidade, poluição atmosférica pela
32
Os custos ambientais sejam eles de qualquer natureza, provocados pela intervenção humana,
devem ser suportados por quem tenha lhes causado (COELHO et al., 2011).
124
queima de combustíveis fósseis, desigualdade no nível de consumo de energia entre
países industrializados e os demais países mundiais. O mérito de renovação do
ambiente acostumado a situações monopolistas teve sua abertura iniciada no Brasil
a partir de 1992 pela participação da iniciativa privada nos setores de petróleo e de
eletricidade (LEITE, 2007).
Importantes grupos estrangeiros vêm se consolidando no país, segundo Leite
(2007), que figuram o quadro geral das maiores empresas do setor privado de
energia: a Endesa, com a Companhia de Eletricidade do Estado do Rio de Janeiro
(CERJ) e a Companhia Energética do Ceará (Coelce); EDP, com a Espírito Santo
Centrais Elétricas S. A. (Escelsa), a Empresa Energética do Mato Grosso do Sul
(Enersul) e a Bandeirante Energia S. A.; e o grupo SUEZ, com a Tractebel Energia
S. A. Entre os grupos nacionais estão a Neoenergia, com a Companhia de
Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), a Companhia Energética do Rio Grande
do Norte (Cosern) e a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe); e o Grupo
Rede, com a Centrais Elétricas do Pará (Celpa) e as Centrais Elétricas Matogrossenses S. A. (Cemat).
Em empreendimentos do setor de energia elétrica, embora a geração
hidrelétrica possa ser sustentável, algumas regiões afetadas para que ela fosse
gerada tiveram, ao invés de desenvolvimento, um retrocesso insustentável
(MÜLLER, 1995). O impacto ambiental de uma atividade de energia hidrelétrica pode
causar algum tipo de dano na natureza. A esse respeito, Paquete (2010) assevera
que no local em que recebe o grande lago - reservatório do empreendimento –
existem
consequências,
quiçá
irreversíveis
em
sua
maioria,
tais
como:
transformação da natureza, alteração do clima, desaparecimento de espécies de
peixes, inundação de árvores, migração de animais para refúgios secos, dentre
outras. Sevá (2008, p. 44) corrobora que “foram sendo barrados rios cada vez
maiores e mais caudalosos, as dimensões das construções se exacerbaram a ponto
de algumas represas e canais serem visíveis pelos satélites e astronautas e, só por
isso, são cirurgias de grande porte na paisagem terrestre”.
Rezende (2007) apresenta que os impactos mais expressivos ocorrem nas
etapas de edificação e de operação da usina, os quais poderão danificar o
andamento das próprias obras. Paralelo a isso, temos o chamado impacto social,
onde muitas pessoas deixam suas casas para recomeçar uma nova vida em outro
lugar. Trata-se da impossibilidade de medir o dano ambiental causado. Do ponto de
125
vista da valoração surgem diversos aspectos incomensuráveis. Complementa o
autor, “Quantas memórias e histórias da população que ficam debaixo d’água para
sempre. Quantos imóveis de imensurável valor [...], quantos laços de amizade são
destruídos, quantas culturas sociais são obrigatoriamente desfeitas [...].” (REZENDE,
2012, p.02).
Uma série de impactos – esperados ou não - são desencadeados devido à
ausência de uma legislação ambiental, o desrespeito à legislação vigente e a
ausência de dados sobre a região. Entre os impactos esperados, identifica-se a
perda da rica biodiversidade local. Destacamos, dentre os impactos inesperados, os
seguintes:
isolamento da população ribeirinha após o enchimento do reservatório;
ocupação irregular e desordenada; conflito de uso da água; ausência de
infra-estrutura; proliferação intensa de mosquitos; intensificação da atividade
madeireira predatória; perdas de zonas de pesca a jusante do barramento;
aparecimento de grandes cardumes a montante; enorme mortandade de
animais com o enchimento do reservatório; emissão de gases de efeito
estufa a partir da superfície do lago; reassentamento em áreas impróprias
para a agricultura; alto índice de abandono de lotes e de comercialização
dos mesmos; pressão na estrutura fundiária local; destruição das relações
sociais das comunidades indígenas na região; suprimento de energia
seletivo, sem atendimento à população atingida; mudanças da estrutura
produtiva agro-extrativista para industrial; oferta de empregos aquém da
mão-de-obra atraída para a região; conflito entre pesca artesanal e
comercial; compensação financeira para os municípios que tiveram áreas
inundadas. ANEEL (2002, p.46)
Há uma convergência de opiniões face aos problemas ambientais
relacionados às atividades produtivas potencialmente poluidoras cuja solução
apresenta empecilhos, tais como a insuficiência de informação relativa ao meio
ambiente, o despreparo profissional para tratamento adequado de tais questões,
tanto dos responsáveis pelos projetos quanto dos órgãos públicos de licenciamento
e de fiscalização. Entre as divergências relacionadas ao setor produtivo de energia,
citamos as que se referem ao mérito de grandes aproveitamentos de energia
hidráulica, que envolvem inundações e deslocamento da população do entorno.
Além ainda da controvertida energia nuclear, as monoculturas de cana-de-açúcar e
de eucalipto, e as culturas extensivas direcionadas à produção de biodiesel (LEITE,
2007).
Entretanto, para que um aproveitamento numa hidrelétrica seja considerado
sustentável, alguns empreendimentos seguem critérios de sustentabilidade,
deixando transparecer uma análise sob os aspectos sociais, culturais, ecológicos,
126
ambientais, territoriais, econômicos e políticos. Assim, no intuito de ampliar a
compreensão da realidade em diferentes contextos no que tange ao discurso da
sustentabilidade, a empresa escolhida neste estudo foi uma do setor elétrico de
geração e distribuição de energia na região sul do Brasil - a Tractebel Energia S. A.
Em 15 de Setembro de 1998, através de um processo de privatização 33 – em
leilão realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro – a Gerasul (Centrais
Geradoras do Sul do Brasil S. A.) é adquirida pela Tractebel S.A. Por questões
contratuais, durante a cisão da empresa estatal, o nome Gerasul foi preservado até
meados do ano de 2002, quando passou a ser chamada de Tractebel Energia S.A.
Com sede em Florianópolis, Santa Catarina, é um produtor independente de energia
e líder do setor privado de geração de energia elétrica do Brasil. Além da sede em
Florianópolis, a empresa possui um escritório de vendas em São Paulo (SP).
A empresa estudada é controlada pelo Grupo GDF SUEZ, sediada em
Bruxelas, na Bélgica, responsável pelas atividades na área de energia fora da
Europa. Este grupo tem origem franco-belga que, além de fornecer serviços
essenciais em eletricidade, gás, energia, água e tratamento de resíduos, proporciona
soluções inovadoras e sustentáveis para o gerenciamento de serviços públicos com
diversas parcerias – empresas públicas, privadas e individuais. A Suez adota a
política de multimarcas, distribuídas em três pólos de água, resíduos e energia,
consolidando as marcas Ondeo, Sita e Tractebel, respectivamente.
A Tractebel Energia atende as principais concessionárias de distribuição de
energia do país e mantém significativa carteira de clientes industriais. É uma
empresa de capital aberto e está listada no Novo Mercado de Bolsa de Valores de
São Paulo. Com um parque gerador composto por hidrelétricas e usinas
termelétricas, a empresa está presente em doze estados, com abrangência nas
cinco regiões brasileiras (Figura 10).
De acordo com a empresa, são 22 usinas operadas por meio da Política
Tractebel Energia de Gestão Sustentável, “sendo que 15 são certificadas segundo
as normas NBR ISO 9001, NBR ISO 14001 e OHSAS 18001 – fatores decisivos para
que seu índice de disponibilidade total se mantenha em patamares próximos a
33
É entendido pelo ato de reduzir o papel do governo, transferindo ativos e de funções de serviços do
setor público para o setor privado (VALERIO, 2008). A partir dos anos de 1990, no Governo de
Fernando Collor de Mello, surge um programa de privatização implantado por meio do Plano Nacional
de Desestatização (Lei n.º 8.031 de 12 de abril de 1990).
127
100%” (TRACTEBEL, 2011, p. 22). No ano de 2011 esse índice manteve-se em
98,3%, descontadas as paradas programadas, igualando-se o patamar em 2010.
Figura 10 – Parque gerador Tractebel Energia S.A.
Fonte: Tractebel (2011, p. 25)
A Tractebel Energia na busca de uma consolidação como empresa referência
de sustentabilidade e manutenção de sua posição de maior geradora privada no
país, tem como pilares em sua ação estratégica: (a) motivação e alinhamento –
disseminar uma cultura de confiança, coesão e capacitação, para motivar suas
equipes à vivência de novos aprendizados e desafios, alinhados aos objetivos
empresariais; (b) crescimento sustentável, com disciplina financeira – ampliar
receitas por meio de adequada comercialização de energia e da expansão criteriosa,
ponderando retorno-risco e associadas as dimensões social e ambiental; (c) ética e
responsabilidade – disseminar princípios éticos; (d) eficiência operacional – manter
128
preparada para atender a demanda e novas oportunidades de mercado; (e) portfólio
eficiente de clientes – baseia-se em quatro pilares: diversificação do portfólio, análise
de crédito, flexibilidade de negociação e fidelização de clientes (TRACTEBEL, 2011).
É possível o discurso da sustentabilidade estar situado em seu contexto
institucional e midiático para que possamos assimilar com clareza a organização
nestes contextos. Na interpretação e análise das fontes discursivas nesta pesquisa,
consideramos o contexto econômico-político-ambiental (Quadro 21) das últimas
décadas no Brasil, principalmente no que se refere à privatização do setor elétrico no
País. Os anos de 1997 e 1998 foram os mais expressivos no que diz respeito a
privatização no Brasil, somando uma arrecadação de US$ 64 bilhões (SILVA, 2005).
Quadro 21: Panorama de Ministros do Meio Ambiente a partir do Governo de
Fernando Henrique Cardoso
Nome
Órgão
Gustavo Krause
Ministério do Meio
Ambiente, dos
Recursos Hídricos e
da Amazônia Legal
Período
Início
Fim
01/jan/1995
01/jan/1999
José Sarney
Filho
01/jan/1999
05/mar/2002
José Carlos
Carvalho
05/mar/2002
01/jan/2003
01/jan/2003
15/maio/2008
27/maio/2008
31/mar/2010
Marina Silva Vaz
de Lima
Carlos Minc
Baumfeld
Ministério do Meio
Ambiente
Presidente/Partido
Político/Mandato
Fernando Henrique
Cardoso
Partido da Social
Democracia
Brasileira/PSDB
Mandato:
01/jan/1995-01/jan//1999
01/jan/1999-01/jan/2003
Luiz Inácio Lula da
Silva
Partido dos
Trabalhadores/PT
Mandato:
01/jan/2003-01/jan/2007
01/jan/2007-01/jan/2011
Izabella Teixeira
01/abr/2010
Atualmente
Dilma Roussef
Partido dos
Trabalhadores/PT
Mandato:
a partir de 01/jan/2011
Fonte: Elaboração própria.
O Governo de Fernando Collor (1990-1992) apresentou uma nova etapa no
processo de privatizações no país, que incluíram 68 empresas, além da
desestatização de outras voltadas aos setores siderúrgico, de fertilizantes e
petroquímico. No governo seguinte – Itamar Franco (1992-1994) – deu-se
129
continuidade a esta etapa, com a conclusão da desestatização no setor siderúrgico e
de mais outras empresas em diversos setores.
O Governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) objetivou aprofundar
o programa brasileiro de privatizações e foi marcante para o setor de energia
elétrica, com participações minoritárias de terceiros na desestatização de empresas
federais como, Encelsa, Gerasul e Light, e outras estaduais, como, Cemig, CERJ,
Elektro, Eletropaulo, Enersul, para exemplificar algumas (VALERIO, 2005). É nessa
época que a Gerasul foi adquirida pelo grupo belga GDF SUEZ em 1998 e, a partir
de 2002, passou a ser nominada Tractebel Energia S.A.
Nos dois mandatos do Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010)
identifica-se a continuidade da outorga de concessões para exploração de serviços
de energia elétrica. A exemplo da postura adotada nos governos anteriores em
relação à privatização, Dilma Rousseff (2012 – atual) inicia em seu governo um
processo de concessão de aeroportos à iniciativa privada.
É preciso considerar, no período analisado, os fatos relevantes ocorridos no
contexto político. Por exemplo, quando da troca de ministros no Ministério do Meio
Ambiente, como as notícias veiculadas, antes da gestão da Sra. Marina Silva e após,
quando assume o ministério Sr. Carlos Minc, refletiram direta ou indiretamente em
face desses acontecimentos no âmbito organizacional.
Nesse contexto, evidenciamos que o Estado promoveu uma transição na
maneira de controlar e promover a expansão da produção de energia elétrica no
Brasil. O Estado, no intento de favorecer o desenvolvimento econômico, entendeu
como necessário aumentar a geração de energia elétrica e optou por utilizar,
preferencialmente, seu potencial hídrico como recurso para atingir seus objetivos. O
Estado reconheceu, pois, que a melhor forma de realizar aquele aumento era
“entregar” a atividade operacional de produção de energia elétrica ao mercado.
Destacamos que o Estado adotou uma postura que visa atender as
exigências do mercado no que se refere principalmente a fornecer as condições
mínimas para atrair o capital produtivo para o País. Nesse caso, nos referimos a
uma matriz energética capaz de atender as demandas para expansão do parque
industrial brasileiro desejado. Em outras palavras, o mercado exige e impõe a
intervenção do Estado para viabilizar a ampliação da capacidade de produção de
energia elétrica e, por conseguinte, atrair investimentos para o País. Quando se
analisa especificamente o mercado de produção de energia elétrica, notamos uma
130
disputa por ocupação de espaço nesse mercado. Não obstante, o discurso da
sustentabilidade manifestado pela empresa analisada é construído e está inserido
nesta realidade.
5.2
Fontes discursivas da pesquisa
Para a Análise Sociológica do Discurso (ASD) é preciso buscar uma
pluralidade de textos para realização desta abordagem, o que Conde (2009) entende
por sistemas de discursos, vez que estão relacionados dinamicamente entre si e em
constante transformação. É possível ler e interpretar os discursos por vieses ou
fontes de várias ordens. Assim, na busca de uma representatividade estrutural
(SERRANO, 2008), que intenta saturar os principais lugares de emissão e recepção
das fontes discursivas, e em consonância com os objetivos deste estudo e da
decisão quanto ao método, foram definidas as fontes discursivas da pesquisa.
Durante
o
processo
de
investigação
da
tese
buscamos
uma
representatividade estrutural por meio do uso de imagens e textos, da transcrição
das gravações de entrevistas, na tentativa de identificar as diferenças, conflitos e
alternativas possíveis. Levantamos as fontes de diferentes posições discursivas,
selecionadas a partir de diferentes espaços, no ensejo de estabelecer o corpus, isto
é, o material analisado que permitiu avistar, a partir de uma posição, a manifestação
do discurso da sustentabilidade. Recorremos nesta tese, portanto, as seguintes
fontes: (a) primária: realização de entrevistas junto a pessoas diretamente ligadas à
elaboração do Relatório de Sustetnabilidade da empresa estudada; e (b)
secundárias: utilização de fontes documentais institucionais e midiáticas, a saber:
Relatórios de Sustentabilidade, press releases e boletim informativo institucional,
jornais de circulação nacional e regional, compreendendo o corpus de análise da
pesquisa.
5.2.1 Relatórios de Sustentabilidade: texto e imagem
131
Para análise documental foram considerados nesta pesquisa os Relatórios de
Sustentabilidade divulgados e disponibilizados no site institucional, referentes aos
anos de 2007 a 2011. Levamos em conta na análise, além das imagens contidas
nestes relatórios, os seguintes capítulos dos Relatórios de Sustentabilidade
(elaborados conforme as diretrizes do GRI): (a) informações que estabelecem o
contexto geral para a compreensão do desempenho organizacional, tais como sua
estratégia, perfil e governança; e (b) conteúdo que descreve o modo como a
organização trata determinado conjunto de temas para fornecer o contexto para a
compreensão do discurso da sustentabilidade.
Além destes, utilizamos documentos disponibilizados pela empresa em
estudo, outros tipos de registro organizado em banco de dados – por exemplo,
Estudos de Impacto Ambiental (EIA) de determinado empreendimento, Relatório da
Administração, quando necessários. Tais documentos puderam produzir aspectos da
vida social e ambiental, bem como os elementos iconográficos (representações por
meio de imagens – fotos, desenhos, pinturas etc.).
Para a análise e interpretação dos Relatórios de Sustentabilidade (texto e
imagem) e de outras fontes discursivas, seguimos o roteiro proposto por Serrano
(2012a), conforme Figura 11.
Num nível mais básico, procuramos fazer uso com o que está manifesto no
texto (expresso explicitamente), ignorando, muitas vezes, o que está implícito. A
ênfase está na palavra, fazendo uso de ferramentas de análise, por exemplo, a
análise de frequência, de correlações; ou ainda focada em temas, utilizando
codificações, ordenamento e comparações – por meio de uma análise de conteúdo,
seja ela do tipo clássico quantitativo ou análise temática. Para alcançar o nível
latente (o que não está explícito pelos sujeitos), tratamos de verificar a lógica
estrutural existente num texto que proporciona chaves para a interpretação.
Neste segundo nível, procuramos localizar quais são as lógicas que
atravessam o discurso, quais são os indícios que se conota com o que se está
falando. Estabelecemos, neste momento, os estilos discursivos, rupturas, ausências,
metáforas, símbolos; e identificadas as cadeias paradigmáticas – como se fala
concretamente e que tipos de palavras falam. Além destes, avançamos na
identificação das posições discursivas, que implica a percepção ideológica. Foi
132
possível ainda identificar as maneiras de falar, as relações de poder, como se
relacionam com o objeto de estudo, chamados de atratores semânticos.
Figura 11 – Esquema de Modalidades de Análise do Discurso
Fonte: Serrano (2012a)
No último nível – sociohermenêutico - foi preciso fazer a inserção do texto no
contexto. Tornou-se necessário fazer e dar sentido a esses elementos, indícios em
um contexto que se fala; um contexto em que se desenvolve tal discurso. Caso se
perdesse as chaves contextuais para interpretar, se escaparia (quase) tudo para
interpretar o sentido. Neste nível verificamos os discursos como constructos a partir
do ponto de vista relacional, desde um ponto ou de outro. Analisamos a partir de que
sentido esse discurso foi construído, em que lógica se formou e qual a relação de
poder existente. No nível sociohermenêutico, intentamos construir esse sistema de
discurso, descritos em mapas discursivos, verificando as relações entre si e relações
que modificam no tempo e na história. Trata-se de uma análise mais aprofundanda e
de uma reconstituição do conjunto de discursos que são constituídos em situação de
133
interação por meio de suas lógicas discursivas. A finalidade, portanto, foi dar sentido
texto a texto, e qual seu dinamismo, sua possível evolução a curto e longo prazo.
No que tange ao debate sobre a relação entre o texto e as imagens, bem
como outros tipos de linguagem – oral, escrito, auditivo, musical, surge a função de
reforçar, intrigar, contradizer, buscar diferentes linhas de interpretação. Uma imagem
(fotografia) pode gerar diferentes leituras, e ajudam a dar sentido ao texto. Outras
vezes, pode ela complementar o que o texto não consegue abranger por possuir a
capacidade emotiva e transmitir uma linguagem mais persuasiva. Pode trazer, em
outras ocasiões, uma contradição, pondo em questão o que se disse.
Para Serrano (2008), outros debates fundamentais de análise de imagens
referenciam-se a polêmica sobre a consideração da imagem como reflexo da
realidade ou como interpertação desta. De acordo com a autora, podemos encontrar
três maneiras constitutivas, na moderna cultura visual ocidental, de representar a
realidade. São elas: (1) a pintura (assim como o desenho, a charge ou grafite); (2) a
fotografia (seja ela estática ou dinâmica); e (3) a realidade virtual (estático ou
dinâmico, e, inclusive, o formato interativo com o receptor). A primeira e última
modalidade, afirma Serrano (2008, p. 253), são “claramente representacionais e,
geralmente, encontram-se fora do debate sobre sua proximidade à realidade
representada”; e, por sua vez, a segunda, especialmente quando da constituição da
fotografia e do cinema como representações analógicas da realidade, alimentando,
de modo fundamental, a controvérsia. A cerca deste debate, Mirzoeff (2003) explica
que muitas imagens fazem uso de determinadas maneiras de representação nos
convencendo de que são suficientemente verossímiles para encerrar com essa
desconfiança.
Persichetti (1997, p.11) enfatiza que a fotografia, em especial, “pede uma
abordagem crítica para que possa ser compreendida, levando à reflexão e a uma
possível transformação de percepção”. A imagem tem o poder de informar e
comunicar, enunciar e ocultar, bem como possui a capacidade de moldar e
transformar o discurso e instituir-se como um poder em si mesmo. Segundo Valle
Gastaminza (2001, p. 122), uma fotografia possui “um tema, um argumento, um
significado, representa algo e trata sobre algo. Uma coisa é o que aparece na
imagem, o que se vê, concreto e objetivo, e outra o que a imagem sugere, aquilo
sobre o que a imagem trata, abstrato e subjetivo”. A fotografia, de acordo com
Serrano (2008), nos permite enxergá-la com detalhes concretos que poderíamos ter
134
passado desapercebidos quando da observação direta de determinada realidade,
sendo ela capaz abrir a dimensão da recordação, da emoção, de nos provocar
nostalgia e combinar prazer e dor, ao mesmo tempo.
O uso de imagens na investigação social encontra-se multiplicado e
diversificado de maneira ampla em suas manifestações, uma vez que nos situamos
numa cultura visual34. As sociedades contemporâneas são iconocentradas
(SERRANO, 2008), em outras palavras, eminentemente centradas nas imagens e no
visual. Nesta pesquisa analisamos, principalmente, as imagens que acompanhavam
o texto nos Relatórios de Sustentabilidade da empresa estudada.
Assim, considerar no processo de análise os elementos iconográficos ilustrações que acompanham o texto, especificamente as imagens contidas nos
relatórios, implicaram dar sentido aos códigos de representação, de saber e de
percepção (GORDO, SERRANO, 2008) implícitos em uma cultura.
Numa investigação com uso de materiais visuais ou materiais áudio-verbovisuais (SERRANO; ZURDO, 2012) necessitamos considerar tais códigos que,
segundo Schnaith (1988), não são conscientes, no entanto, condicionam a
existência de uma cultura audiovisual, para aperceber-nos do sentido que elas
proporcionam. Para a autora, terá de considerar como se vê uma cultura (códigos de
percepção), como se representa (códigos de representação) e que tem de conhecer
um sujeito para poder ler uma imagem (códigos de conhecimento). As relações de
tais códigos variam entre si, necessitando colocá-los em um contexto sócio-histórico
concreto.
O estudo das imagens é assumido como uma tarefa que incita a repensar
suas formas no âmbito contemporâneo. “No entorno cultural contemporâneo tanto no
âmbito da arte como nas formas de comunicação social, a relação com as imagens
ocupa um lugar de centralidade” (CORREA, 2008, p. 291). A imagem não difere do
texto escrito somente em sua imediatez sensorial, mas existe um efeito que não
pode reproduzir um texto escrito e que conecta com o emocional, afirma Mirzoeff
(2003).
Na perspectiva de análise de material visual, adotamos o percurso (Figura 12)
assinalado por Serrano (2008), em virtude de sua vinculação à Análise Sociológica
do Discurso e reconhecimento, na Espanha, como principal autora de análise
34
Sobre cultura visual sugerimos a leitura de Mirzoeff (2003) e Schwartz e Przyblyski (2004).
135
qualitativa de material áudio-visual. Com base no trabalho de Gillian Rose35, Serrano
(2008) advoga as diferentes formas de analisar o material visual, a partir de três
lugares ou níveis que centram o foco analítico: o contexto de produção da imagem, o
lugar da imagem em si mesma, e, por último, o contexto da recepção.
No contexto da produção da imagem, consideramos que toda representação
visual é uma criação. Desta forma, a consideração das circunstâncias de sua
produção, da intencionalidade, do processo de ordem e criação, de sua difusão e do
contexto em qual foi produzido, contribuiu para compreender o efeito que possuía
cada imagem. De acordo com Serrano (2008), toda imagem se produz num contexto
social concreto que implica uma série de relações econômicas, sociais e políticas,
institucionais e práticas que rodeiam a imagem.
Figura 12 – Perspectivas de análise dos materiais visuais
ASPECTO
ESPECIALMENTE
ENFOCADO
CONTEXTO DA
PRODUÇÃO
A(S) IMAGEM(NS)
EM SI
CONTEXTO DA
RECEPÇÃO
Técnicas
INTERPRETAÇÃO COMPOSICIONAL
(História da Arte, Estética, ...)
Elementos
Composições
Temas
Signos
ANÁLISE DE CONTEÚDO
ATOS DA
FALA
(Searle,
Austin)
Mitos e ideologias
“Visualidades”
Formas de
poder/dominação
Sistema de
discursos
SEMIÓTICA
SEMIOSE SOCIAL
(Peirce)
BARTHES
PSICOANÁLISES
TEORIA DA ENUNCIAÇÃO
ANÁLISE FOUCAULTIANO
ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO
ANÁLISE PRAGMÁTICA /
SOCIOHERMENÊUTICA DO SISTEMAS DE DISCURSO
Fonte: Serrano (2008, p. 260).
35
ROSE, G. Visual methodologies: an introduction to the interpretation of visual materials. London:
Sage, p. 16-32, 2001.
136
No segundo nível de análise, entendido como o lugar da imagem em si,
consideramos a imagem como produto de um conjunto relevante de decisões,
necessitando para isto, atentarmos para: a organização espacial da perspectiva que
está sendo estimulada; os elementos, signos e símbolos utilizados; o lugar onde se
situa o foco; o tipo de enquadramento; o ritmo das sequências das imagens; objetos,
formas e cores mais vistosos; os recursos utilizados; os personagens, relações e
contextos exibidos; como se apresentam; e ainda os que não estão explícitos; o tipo
de relações que naturalizam; a visão de mundo envolvida; além dos recursos que os
tornam possível. Nesta análise, levamos em consideração o tipo gênero em que se
encontra a imagem, que a condiciona e que gera expectativas diversas (drama,
ficção científica, publicidade, documentários, materiais educativos etc.).
O nível do contexto da recepção, ou melhor, âmbito, momento, lugar,
identidade, posição, expectativas e interesses (SERRANO, 2008) desde em que é
percebida por diferentes públicos até mesmo nos contextos sócio-históricos
concretos de recepção. De maneira sintética, segundo Serrano (2012b), buscamos a
representatividade estrutural na análise sociohermenêutica, no intuito de saturar os
principais lugares de emissão e recepção das imagens36, ver as diferenças, conflitos
ou alternativas possíveis. A busca de uma representatividade estrutural deve
expressar uma maioria de modalidades de emissão e recepção de mensagens, para
saturação dos lugares de investigação, segundo Ibáñez (1994). Para este autor,
trata-se de saturar a estrutura (lugares da enunciação e recepção dos discursos), de
mostrar relações e não indivíduos.
Procuramos responder por meio destes níveis as seguintes indagações: O
que produz determinada imagem para um observador? Que elementos podem ser
destacados na imagem? Que aspectos apontam a imagem? Que sentimento nos é
transmitido? Que relação existe entre o texto e a imagem? O que vemos? Como se
mostram os sujeitos? O que não aparece ou o que deveria aparecer na imagem?
Para responder estes e outros questionamentos foi preciso considerar alguns
aspectos, conforme destacados por Serrano (2008), no momento de analisar o visual
e integrá-lo em contextos mais amplos, como é o caso dos(as): (a) técnicas - ao criar
e visualizar uma imagem o uso de determinada tecnologia condiciona intensamente
36
Conforme Serrano (2008), quando se trata de seleção de imagens, o que importa é selecionar
textos visuais, buscando discursos através da localização das posições diversas (inseridas nas
relações de conflito e contradição) de emissão e recepção dos ditos textos com imagens.
137
sua forma, significado e efeito (pictóricas, fotográficas, cinematográficas, de
animação etc.); (b) elementos – envolvem personagens, artefatos, lugares ou
relações que se mostram nas imagens; (c) composições – diz respeito a forma de
apresentar uma imagem (cores, enfoques, luminosidades, formas de combinação,
de saturação, de chamar atenção, enquadramento, ponto de vista, ritmo etc.); (d)
temas – são construções analíticas que fazem referência ao conteúdo explícito e
manifesto das imagens, que geralmente se apresentam agrupadas em categorias
temáticas, conjunto de elementos, bem como as relações explícitas entre elas; (e)
signos – entendemos por combinações de significantes e significados, que atendem
a sua diversa tipologia: signos icônicos (figurativos, imitativos), plásticos (cores,
formas, texturas, composições), linguísticos, símbolos, indícios etc.; (f) mitos e
ideologias – referimo-nos a articulação de signos em sistemas significativos que
revelam as estruturas fundamentais do social, buscando signos e códigos dentro do
texto que ocultam o social; (g) visualidades – incluem as maneiras de ver,
resultantes de processos sociais e individuais complexos, desde o enfoque
psicanalítico. A partir desta etapa, centramo-nos nos efeitos emocionais das
imagens visuais e seu impacto na geração de diferentes tipos de subjetividade,
independentemente de seu significado concreto; (h) formas de poder/dominação –
consideramos os contextos político e econômico do uso das imagens e o acesso
desigual aos recursos que se mobilizam, evidenciando como funciona o poder e
como as próprias imagens reproduzem e geram formas de desigualdade e exclusão
social; (i) sistemas de discursos – articulada à Análise Sociohermenêutica e
Pragmática (ALONSO, 1998), envolve na inserção de imagens em discursos que,
por sua vez, são somente compreensíveis em seu relacionamento em determinados
contextos (de produção e de recepção), discursos que estabelecem entre si relações
complexas de implicação, subordinação, hegemonia e/ou de conflito.
Serrano (2008) considera que as imagens são textos em si mesmos, ou
partes de textos aos quais atribuimos características que os tornam distante de
outros textos exclusivamente linguísticos. A diferença fundamental encontra-se
sintetizada em ditos populares, como exemplifica Serrano (2008, p. 251): “‘uma
imagem vale mais que mil palavras’ ou ‘o que os olhos não vêem, o coração não
sente’, ‘ver pra crer’, ou, em um sentido muito distinto, ‘mostrada a imagem, perdida
a magia’.”
138
5.2.2 Entrevistas
A entrevista é tida como uma maneira de levar uma pessoa a dizer o que
pensa (POUPART, 2008). Na investigação social, versa-se, portanto, de uma das
formas de apresentação dos atores sob o seu próprio ponto de vista (POUPART,
2008), ou a produção de informação empírica mais comum e importante (ROJAS,
2006).
Não se trata, pois, de um simples registro das falas dos sujeitos, mas de um
“construto comunicativo, uma forma de produção e interpretação da informação
através da análise dos discursos” (GODOI; MATTOS, 2006, p. 307). Como
mencionam Costa e Carvalho (2005a, p. 06) “não se pode realizar análise de
discursos organizacionais sem que se tenha à disposição a palavra dos gestores e
executivos responsáveis pela ação organizacional”.
Banister et al. (2004) elencam quatro razões principais para se realizar
entrevistas: (1) combinar os vários modelos de entrevista de um interesse nos
significados subjetivos (os significados que os participantes dão ao assunto da
entrevista), ao invés de obter respostas em um formato padronizado para
comparação com outros grupos ou indivíduos; (2) as entrevistas podem permitir a
exploração de assuntos que podem ser demasiado complexos para investigá-los
através dos meios quantitativos; (3) fazer entrevistas é uma lição saudável de
participação e de prática na pesquisa, isto é, exige uma consideração de atitude
reflexiva no processo de pesquisa, que vai desde a concepção da pergunta e a
identificação e montagem das entrevistas com os informantes, até a entrevista
propriamente dita, e inclui ainda o trabalho realizado para transformar um encontro
interativo numa obra de investigação escrita; e por fim, d) necessariamente
associada ao processo de fazer visível o próprio trabalho do pesquisador na
construção de seu papel, está o problema das relações de poder no processo de
investigação.
Apresentar os discursos dos sujeitos como um produto acabado, sem uma
interpretação adequada do pesquisador, corremos o risco de deixar lado o
conhecimento das condições de produção do mesmo discurso (BOURDIEU, 1997;
2003): os jogos de poder em que estão inseridos, os silêncios, seu personagem
139
imaginário, a violência simbólica (presença das categorias dominantes dos
oprimidos).
Vidal (2009) aduz que a intervenção do pesquisador é sempre necessária, e é
ainda mais na perspectiva qualitativa. O pesquisador qualitativo, para que seu
trabalho seja útil e significativo, deve tratar os discursos que captou, interpretar e
analisar de modo que eles emergem na sua dimensão social plena. A entrevista
qualitativa é entendida como um “evento de intercâmbio dialógico - que pode
promover reformulação metodológica capaz de enriquecer a prática de pesquisa e
construir novas situações de conhecimento” (GODOI; MATTOS, 2006, p. 302).
Neste estudo fizemos uso da entrevista realizada junto aos sujeitos
discursivos da organização em estudo – pessoas que diretamente estiveram ligadas
a elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade, dentre eles diretores, gerentes,
analista e membros do Comitê de Sustentabilidade. As entrevistas foram realizadas
no final do ano de 2010 e início de 2011, e se destinaram a obter informações de
caráter pragmático, na busca de como os sujeitos discursivos atuam e reconstroem
o sistema de representações sociais e práticas individuais (ALONSO, 1998; GODOI;
MATTOS, 2006) a respeito do discurso da sustentabilidade.
Estabelecemos, pois, um protocolo para condução e registro de informações
durante a entrevista junto aos participantes da organização em estudo, mantendo o
anonimato dos entrevistados. Segundo recomendações de Creswell (2007, p. 194),
o protocolo de entrevista incluiu: cabeçalho, instruções (declarações de abertura),
principais questões de pesquisa, instruções para aprofundar as principais perguntas,
mensagens de transição, espaço para registrar os comentários e espaço no qual o
pesquisador registra notas reflexivas (Apêndice A).
Primeiramente, realizamos um contato telefônico no dia 04 de Novembro de
2010 com uma assessora de investidores explicando o motivo do nosso contato. Na
sequência nos foi solicitado o envio de uma carta-convite por email junto a empresa
em estudo (Apêndice B), ratificando a solicitação de disponibilização para realização
de entrevistas com pessoas diretamente ligadas ao Relatório de Sustentabilidade.
Ressaltamos que desde o primeiro contato telefônico a empresa, por meio de sua
assessoria, demonstrou disposição em colaborar com a pesquisa.
As entrevistas ocorreram todas no período matutino na sede matriz da
empresa na cidade de Florianópolis/SC. A primeira entrevista foi agendada pela
assessora e ocorreu na sala de reuniões em 17 de Novembro de 2010, com a
140
participação de três entrevistados (consultor de sustentabilidade, assessora de
comunicação e assessora de relações com investidores). Em 02 de Março de 2011,
realizamos a segunda entrevista, junto ao gerente de planejamento e logística de
projetos em sua sala de trabalho. Este distanciamento entre a primeira e segunda
entrevista ocorreu porque a empresa entrou em recesso e férias coletivas nos meses
seguintes, bem como o início no ano de 2011 ser um período em que os
empregados estavam atarefados com suas atividades cotidianas.
Entretanto, permitiu-nos fazer uma pré-análise da primeira entrevista,
podendo dar mais enfoques a temas e conteúdos para os próximos encontros com
os entrevistados que ainda não tinham sido abordados. Desta maneira, as demais
entrevistas foram agendadas de acordo com a necessidade de aprofundar
determinada área da empresa ou algum conteúdo que se estava trabalhando face às
dimensões da sustentabilidade, conforme apresentadas no capítulo 3. A partir desta
postura, agendamos mais três entrevistas, sendo duas no dia 02 de Março de 2011
e a última entrevista no dia 28 de Março de 2011, totalizando três encontros com
pessoas da empresa estudada, perfazendo 7 horas e 38 minutos de gravação.
Para eliminar as imprecisões de anotações de campo, ampliando a
possibilidade de acesso público dos resultados e com elevado detalhamento, as
entrevistas foram gravadas procurando amenizar o viés da memória e do desejo da
pesquisadora e, posteriormente, transcritas. Seguimos as convenções sugeridas por
Brown e Yule (1993, p. 17) para a transcrição e representações de silêncios (pausas
breves foram assinaladas com “–”, pausas mais largas com “+”, e pausas
prolongadas com “++”), por meio das quais procuramos “registrar o mais fielmente
possível o que se dizia, evitando a inferência de polir a linguagem empregada”.
Na execução da entrevista, fizemos uso de um roteiro semi-estruturado, não
pressupondo sequer uma ordem pré-estabelecida, que contemplaram as dimensões
da sustentabilidade (Apêndice C) alicerçado em Sachs (1993). Esta situação
permitiu que a conversação se iniciasse por certos assuntos, e muitas vezes se
desviasse de algumas das questões colocadas, proporcionando uma cobertura mais
profunda
sobre
determinados
enfoques
relacionados
às
dimensões
da
sustentabilidade. Houve também a intervenção por parte da pesquisadora durante a
entrevista, de forma espontânea e não controlada. O tempo de serviço prestado à
empresa destes entrevistados apresentou uma variação de 4 a 10 anos (Figura 13).
141
Figura 13 - Perfil dos entrevistados – cargo ocupado versus tempo de empresa
CARGO OCUPADO
Diretor/Consultor(a)
Gerente
Analista
Assessor(a)
E1 - homem
E4 - homem
E6 - homem
E5 - homem
2 anos
E2 - mulher
E3 - mulher
E7 - mulher
4 anos
6 anos
8 anos
+10 anos
ANOS
Fonte: Elaboração própria.
O processo de entrevistas na empresa envolveu homens e mulheres, com
diversificado tipo de cargo ocupado na estrutura funcional entre os entrevistados:
diretor; consultor de sustentabilidade; gerente de planejamento e logística de
projetos; analista de meio ambiente; assessor de comunicação; assessor de
relações com investidores.
Diferentes maneiras de analisar entrevistas são encontradas conforme
distintas aproximações de análise do discurso (FINKEL; PARRA; BAER, 2008),
apesar do objetivo comum de todas elas seja identificar conjuntos de significados e
as relações que se estabelecem. Na análise das entrevistas deste estudo nossa
proposta implicou em trabalhar com o dito (ou explícito no texto da transcrição),
porém trazendo a um primeiro plano de análise o latente (ou implícito).
Desta maneira, a primeira fase de aproximação do texto transcrito de cada
uma das entrevistas nos permitiu identificar as principais temáticas que surgiram no
discurso sobre sustentabilidade e, então, pudemos referi-las a processos ou a
contextos mais amplos.
Conforme apresenta o Quadro 22, partimos do trecho selecionado da
entrevista (Coluna II), ressaltando o que nos resultou de mais significativo e
estabelecemos blocos temáticos com a finalidade de construir uma ordem ou índice
dos temas que vão surgindo (Coluna I). Ao mesmo tempo, tomamos nota de
significados que não foram sendo expressados literalmente, ou seja, aqueles
latentes no discurso do(s) entrevistado(s) e que, portanto, foram parte do mesmo
(Coluna III).
Demos início, pois, a um processo de análise e reinterpretação (FINKEL;
PARRA; BAER, 2008) a partir da experiência concreta de cada indivíduo, pelo que
estes significados se relacionam com os processos ou contextos sociais mais
142
amplos, e simultaneamente identificando aspectos do contexto da entrevista, como a
interação entrevistador-entrevistado (Coluna IV).
Quadro 22: Análise das entrevistas
(I)
Sintagmas
(II)
Lexias
(III)
Análise estrutural
(IV)
Análise sociológica e
informação contextual
Segmento linguístico
que expressa uma
relação de
dependência uns dos
outros – frase ou
expressão
Trechos
transcritos das
entrevistas
Identificação dos
significados, discurso
latente
(análise interna)
Análise interna e externa
Fonte: Adaptado de Finkel, Parra e Baer (2008).
A consideração conjunta destes componentes nos permitiram abordar a
análise das entrevistas em toda sua dimensão sociológica e estabelecer conexões
com os referenciais teóricos considerados nesta pesquisa. O processo de análise
das entrevistas, pois, requer fazer relações com cada uma dessas análisees
individuais e inscrever os discursos em determinado contexto sociológico.
Desta maneira, tratamos de transcender os textos para entender quais
questões estão operando de maneira subjacente. Assim, ao longo do processo de
interpretação dos textos transcritos, fomos identificando distintas temáticas ou eixos
discursivos. Esta formatação também foi utilizada nas análises dos relatórios e das
mídias, com suas devidas adaptações.
5.2.3 Jornais, press releases37, boletim informativo
Em se tratando das fontes discursivas que envolvem o universo midiático
nesta tese, optamos para a seleção do corpus os seguintes tipos de mídia: jornais de
circulação nacional e regional, as comunicações de assessoria de imprensa (press
37
Também chamado de comunicados de assessoria de imprensa, press releases, ou apenas
releases, trata-se de um texto jornalístico, com dados sobre pessoa ou instituição, para ser distribuído
à imprensa (AULETE; VALENTE, 2012). São documentos divulgados pela assessoria de imprensa
por meio de uma declaração pública oficial e documentada.
143
releases) e boletim informativo (Jornal Boas Novas) disponibilizadas no site
institucional da empresa estudada, compreendendo períodos distintos, conforme
estabelecemos mais adiante.
O corpus midiático completou a representatividade estrutural das fontes
discursivas, juntamente com os relatórios e as entrevistas. Surgiu, pois, a
necessidade de verificar, no universo midiático produzido por terceiros, paralelo ao
discurso institucional (próprio da empresa), no intuito de compreendermos como se
manifestava o discurso da sustentabilidade na mídia em relação a empresa em
estudo, nas dimensões da sustentabilidade – econômica, ambiental e social38.
No caso de jornais, estes possuem características intrínsecas em razão de
suas peculiaridades e atributos. Veronezzi (2009) elenca alguns pontos fortes e
fracos do jornal, a saber:
 pontos fortes – (i) os principais títulos possuem grandes
circulações; (ii) perfil do público concentrado em formadores de
opinião e nas classes AB; (iii) adequado a mensagens e produtos
que precisam transmitir muita informação, dados e gráficos; (iv)
produz documentação; (v) abrangência mais concentrada na
cidade-sede do jornal; (vi) portabilidade (pode ser lido em qualquer
lugar); e
 pontos fracos – (i) baixa cobertura no público; (ii) não tem
qualidade de reprodução gráfica; (iii) requer muita verba para cobrir
todas as cidades de determinada área ou mercado nacional.
A aferição dos dados de circulação de jornais e revistas é aceita
mundialmente pelo mercado de publicidade, afirma Veronezzi (2009), somente
quando fornecidas por institutos verificadores, que são mantidos pelo próprio
mercado. No Brasil essa aferição é feita pelo Instituto Verificador de Circulação
(IVC), fundado em 1961, dirigida por representantes de anunciantes, agências e
veículos de comunicação. Fizemos uso das informações fornecidas pelo IVC para
estabelecer os critérios de escolha da mídia.
38
Estas dimensões contemplam o Triple Bottom Line (TBL) consideradas como pilares que devem
nortear a gestão das empresas, no qual se tornou um instrumento para medir resultados e o Relatório
de Sustentabilidade, conforme abordado no Capítulo 3.
144
Para a seleção do jornal efetuamos um levantamento dos principais jornais de
circulação na região sul do Brasil – compreendendo os estados do Paraná, Rio
Grande do Sul e Santa Catarina (Quadro 23).
Quadro 23: Principais jornais em circulação na região Sul brasileira
Empresa
Zero Hora Editora Jornalística S/A
A Notícia S/A Empresa Jornalística
Editora Jornal Folha do Oeste
Catarinense Ltda.
Editora Notícias do Dia
Gráfica Diário Popular Ltda.
Grupo Editorial Sinos S/A
Jornal do Povo Ltda.
Empresa Jornalística Campeão S/A
Editora Gazeta do Povo S/A
Editora O Estado do Paraná S/A
Empresa Folha da Manhã S/A
Jornal
Diário Catarinense
Diário de Santa Maria
Diário Gaúcho
Hora de Santa Catarina
Jornal de Santa Catarina
Pioneiro
Zero Hora
A Notícia
Cidade/Estado
Florianópolis/SC
Santa Maria/RS
Porto Alegre/RS
Florianópolis/SC
Blumenau/SC
Caxias do Sul/RS
Porto Alegre/RS
Joinvile/SC
Folha do Oeste
São Miguel D’Oeste/SC
Notícias do Dia
Notícias do Dia
Jornal de Classificados
Negócios Já*
Diário Popular
Jornal VS
Jornal NH
Jornal do Povo
Correio do Povo
Gazeta do Povo
Tribuna do Paraná
Alô Negócios
Joinvile/SC
Florianópolis/SC
Florianópolis/SC
Pelotas/RS
São Leopoldo/RS
Novo Hamburgo/RS
Cachoeira do Sul/RS
Porto Alegre/RS
Curitiba/PR
Curitiba/PR
Curitiba/PR
Nota: * Circulação semanal
Fonte: Elaborado a partir de dados disponíveis no Instituto Verificador de Circulação (IVC)
De acordo com o IVC, os jornais de maior circulação em Santa Catarina são,
nesta ordem respectivamente: Diário Catarinense, A Notícia, Hora de Santa
Catarina, Jornal de Santa Catarina (IVC, 2010). Pelo fato da empresa estudada ter
sua sede em Florianópolis/SC, o jornal escolhido como fonte midiática local/regional
foi o Diário Catarinense.
Em 2010, o IVC também divulgou os dados oficiais das vendas de jornais no
Brasil. A média de circulação diária de jornais no país chegou a 4.314.425 de
exemplares, representando um aumento de 2% em relação ao ano anterior. A média
diária dos exemplares de circulação nacional é apresentada na Figura 14:
145
Figura 14 - Circulação dos Principais Jornais Brasileiros
(média diária)
Super Notícia MG
Folha de S. Paulo SP
5,97%
7,17%
14,06%
O Globo RJ
7,48%
14,00%
Extra RJ
7,50%
O Estado de S. Paulo SP
Zero Hora RS
8,78%
12,48%
Meia Hora RJ
11,24%
11,33%
Correio do Povo RS
Diário Gaúcho RS
Aqui MG
Fonte: Elaboração própria.
Considerando São Paulo ter uma sede da empresa em estudo, ser o principal
centro financeiro, corporativo e mercantil da América Latina, ser a cidade mais
populosa do Brasil e a mais influente no cenário global, o jornal Folha de São Paulo
foi escolhido como fonte de busca midiática a nível nacional.
As mídias analisadas, período e forma de acesso foram elencados no Quadro
24:
Quadro 24: Representatividade estrutural midiática do estudo
Tipo de
discurso
midiático
Divulgado
por
terceiros
Elaborado
e divulgado
pela própria
empresa
Tipo de mídia
Jornal circulação
nacional –
Folha de São Paulo
Jornal circulação
regional –
Diário Catarinense
Press release
Boletim informativo
(Revista Boas
Novas)
Período
analisado
Forma de acesso
(site oficial na internet)
2000 a 2011
http://acervo.folha.com.br/
2000 a 2011
http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/
2007 a 2011*
2008 a 2011*
*Nota: período disponibilizado pela empresa no site oficial.
Fonte: Elaboração própria.
http://www.tractebelenergia.com.br
146
Após o período para análise ter sido definido, além da questão de
acessibilidade e disponibilidade de tais fontes, consideramos os principais fatos
marcantes ocorridos nas últimas quatro décadas no cenário nacional e internacional
relacionado à sustentabilidade.
De acordo com Conde (2009), buscamos identificar um marco que pudesse
produzir as trocas de discursos, nas possíveis dimensões que necessitariam ser
explicadas, a partir do mesmo texto. E deste marco, encontramos o centro de
análise, estabelecendo as várias cadeias argumentativas e afetivas vinculadas, entre
outras dimensões com os possíveis dilemas – fatos discursivos mais manifestos. Ao
definir os critérios de busca, realizamos também um caminho inverso nesse
processo, identificando o fato marcante no ano e levantando notícias a respeito,
quando necessário.
Buscamos notícias relacionadas à empresa estudada face à questão da
sustentabilidade em suas dimensões - econômica, social e ambiental - publicadas
em jornais de grande circulação – nacional e local/regional – no Brasil. Foram
coletadas apenas notícias disponibilizadas em meio eletrônico, e também as
comunicações oficiai da assessoria de comunicação (press releases) e o boletim
informativo no site empresa estudada.
Após a identificação dos jornais, partimos para seleção de matérias
jornalísticas, com uso do ferramental de busca de palavras-chave (neste caso,
utilizamos o nome da empresa estudada). O resultado do levantamento referente às
notícias disponibilizadas nos sites oficiais dos jornais Folha de São Paulo e Diário
Catarinense envolveu 515 e 29 matérias publicadas, respectivamente, no período de
2000 a 2011, totalizando 544 (Quadro 25). E no que tange as notícias publicadas
pela empresa em seu site oficial, temos os press releases e os boletins informativos
(Revista Boas Novas39), além dos Relatórios de Sustentabilidade publicados
anualmente.
39
A Revista Boas Novas é de publicação trimestral e apresenta uma série de matérias e entrevistas a
respeito da empresa.
147
Quadro 25: Matérias jornalísticas publicadas sobre Tractebel Energia S.A.
Ano
Mídia – elaboração por terceiros
Mídia – elaboração própria
Folha de São Paulo Diário Catarinense Press Releases Boletins Informativos
2000
9
N.D.
N.D.
N.D.
2001
306
N.D.
N.D.
N.D.
2002
53
N.D.
N.D.
N.D.
2003
36
N.D.
N.D.
N.D.
2004
35
N.D.
N.D.
N.D.
2005
23
N.D.
N.D.
N.D.
2006
9
N.D.
N.D.
N.D.
2007
8
N.D.
8
N.D.
2008
21
14
10
4 B.I.
2009
4
4
16
4 B.I.
2010
7
3
11
4 B.I.
2011
4
8
9
4 B.I.
Total
515 matérias
29 matérias
54 matérias
Nota: N.D. - Não Disponibilizada (nos sites); B.I. – Boletins Informativos
Fonte: Elaboração própria.
16 boletins
Após levantamento ano a ano (por jornal), realizamos a leitura individual de
cada material, identificando as frações discursivas, associadas às categorias de
Triple Bottom Line (TBL) – ambiental, social e econômico. As frações discursivas,
segundo Conde (2009), são como pequenos posicionamentos com base no texto.
Após identificação, as frações são agrupadas dando surgimento às posições
discursivas entendidas como diversas matizes que vão se articulando no texto
(matizes de posicionamento).
Caso as notícias possuíssem imagens junto ao texto, estas também seriam
incluídas no processo de análise. Ressaltamos ainda que foram desconsideradas
em nossa análise, aquelas notícias que veiculavam o nome da empresa estudada
apenas como um ponto geográfico de referência ou localização.
Duas estratégias de análise foram constituídas durante as anotações do texto.
Primeiramente, uma mais analítica, priorizando a busca de elementos mais básicos
do texto, estabelecendo sejam quais fossem as possíveis unidades, antes mesmo de
alcançar a compreensão global do mesmo.
A partir da estruturação de tais unidades, estabelecemos uma verificação
mais analítica, ou seja, adotamos uma estratégia mais hermenêutica de tal forma
que, quando se decompôs o texto e imagens em segmentos mais elementares, o
trabalho foi realizado a luz da compreensão global e inicial do sentido geral do
148
corpus analisado. Tal compreensão permitiu assinalar sentidos mais concretos às
possíveis partes e componentes do mesmo.
As unidades foram classificadas em categorias (DUVERGER, 1972), cuja
determinação ajudou a responder a intensidade de efeito produzido pela
comunicação estabelecida, aos valores expressados ou defendidos, ao estado
pessoal ou traços de caráter dos sujeitos a quem se referiram os documentos
analisados.
Neste processo, houve a necessidade de fragmentar as categorias em
elementos que as caracterizavam. A afiliação teórica foi dada a partir dos estudos de
Sachs (1992, 2002), Montibeler-Filho (1993, 2008), Coral (2002) e Desotelle (2006),
para posterior identificação nos textos. Estabelecemos, portanto, na categoria
ambiental (CA) 14 elementos, na categoria econômica (CE) 13 elementos e na
categoria social (CS) 15 elementos (Apêndice E).
A partir desta configuração, surgiu uma “conjectura pré-analítica” (CONDE,
2009, p. 123) que conduziu este tipo de análise: cada mídia tem uma tendência de
notícia diferente em relação à sustentabilidade. Foi possível verificar como se vincula
o discurso da sustentabilidade no discurso em geral (jornais) e, em específico, no
discurso institucional (press releases e boletim informativo) face às dimensões da
sustentabilidade, por meio da conjectura estabelecida na seção 6.1 deste estudo.
Após seleção e definição da mídia, a análise prosseguiu com as sugestões
propostas de Serrano (2012), apresentada na Figura 15. De acordo com Serrano
(2012c), no contexto de produção são considerados, entre outros elementos, o grupo
editorial e seus acionistas, o tipo relacionamento entre eles, alianças e campo de
forças, configurando a análise genealógico-histórica.
149
Figura 15 – Análise da Imprensa
Fonte: Serrano (2012c).
Quando se tratou de analisar o veículo de comunicação em si – jornal, revista,
boletim informativo etc. – verificamos: (a) estruturação da informação – capa,
número de páginas, posição, seções, colunas e toda a estrutura da notícia; (c)
conteúdo – analisamos ‘o que se disse’, ‘como’ identificando os estilos narrativos,
bem como os excessos de informação; (c) se o texto apresentasse imagem,
estabelecemos a relação atentando para a mera presença ou não desta ilustração,
relacionamos cores e formas; ‘o que’, ‘como’, e ‘o que não’ se mostrou; funções da
imagem (se ela suavizava, ridicularizava, contradizia, atenuava, ironizava ou
despertava alguma atenção, realce, destaque etc.); estilos narrativos (ironia,
contraste, realidade objetiva, estilo insinuante, respeitoso, apoio científico, atribuição,
ilustração etc.); espaços semântico-icônicos (palavras e imagens que tendia a ser
utilizadas juntas); (d) papel da publicidade – se encontrava saturada, inexistente, ou
marginal.
150
Por fim, no contexto de recepção, observamos as posições sociais do
receptor, a quem se destinou e como foi percebido, bem como em que contexto
físico e temporal ocorreu, além da identificação do meio de transmissão e recepção
da mensagem.
151
6
CONSTRUÇÃO DO DISCURSO DA SUSTENTABILIDADE
EMPRESA DO SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA
EM
UMA
“Ao descontruir (sic) imagem e discurso, estamos exercitando nossa capacidade de
questionamento, de ver além daquilo que se encontra na superfície, na aparência
imediata da realidade social” (CARVALHO, DAVEL, 2005, p. 89).
No processo de Análise Sociológica do Discurso, o discurso transborda ao
texto (ALONSO, 1998; CONDE, 2009), o que implica observar a capacidade de
ação, de estar atento a práxis40 dos discursos: “observar como a realidade social
constrói os discursos e como os discursos constroem a realidade social” (ALONSO,
1998, p. 201). A partir do material empírico produzido pelos sujeitos discursivos –
empresa e mídia estudadas, passamos a compreender o discurso como parte da
construção teórica da realidade. Procuramos, pois, responder durante todo o
processo investigativo questões do tipo: Quem fala? De que posição se fala? O que
está em jogo? Do que se fala? Como se organiza a fala? A construção da realidade
social - fruto de ação e pensamento coletivo dos sujeitos – se dá por meio de
representações sociais (MOSCOVICI, 1978). No caso da sustentabilidade, esta
realidade fundamentada na percepção ou na projeção de sua identidade atravessa
momentos históricos, conceituais e políticos, além de circunstâncias sofridas por
pressões do Estado, do mercado e da própria sociedade.
Estruturamos este capítulo em quatro seções: (1) definição da conjectura
analítica que trata estabelecer um direcionador ao longo da análise e interpretação
das fontes discursivas; (2) análise dos estilos discusivos no interior de cada fonte
discursiva realizada com o intuito de estabelecer as formas mais expressivas,
idiossincráticas, singulares, enunciativas, dos giros expressivos e estilos narrativos
do discurso da sustentabilidade: relatórios de sustentabilidade – imagens e textos,
entrevistas; jornais (elaborado por terceiros); press releases e boletins informativos
(elaboração da própria empresa); e simultaneamente, de maneira parcial ou não, a
estes procedimentos anteriores, realizamos a análise (3) das posições discursivas,
(4) das configurações narrativas e dos espaços semânticos para estabelecer uma
articulação entre as etapas.
40
Sobre a importância da práxis sugerimos a leitura de Conde (2009, p.59).
152
6.1
Conjectura analítica
A leitura do corpus selecionado não somente serviu para caracterizar e
classificar os mesmos de maneira sistemática, mas, antes de tudo, teve sua utilidade
como um despertar na investigação. Conde (2009), referenciando Wright Mills,
chama este despertar de ‘imaginação sociológica’ – uma ação que admitiu pensar
hipóteses que assinalaram novas linhas de trabalho e que foram se articulando ou
modificando certas ideias preestabelecidas durante a investigação.
No processo de investigação desta tese trabalhamos inicialmente com
hipóteses – antecipação orientada sobre possibilidades de resposta(s) à(s)
pergunta(s) proposta(s) na pesquisa – que se derivaram a partir da teoria,
observações ou experiência do pesquisador, também chamadas, por Conde (2009),
de conjecturas pré-analíticas. Atrevemo-nos a encontrar maneiras de tecer e
configurar de forma unitária um conjunto de elementos (peças) que, a priori,
poderiam parecer muito distintas, tanto por seu conteúdo, como pelo fato de serem
produzidas por diferentes interlocutores na pesquisa. São peças iniciais de um
quebra-cabeça que, aparentemente, pareciam pertencer a jogos distintos, mas que
em sua formação nos permitiram traçar uma lógica de sentidos dos textos e
imagens.
Compõe esta etapa de análise, a utilização de representações gráficas, em
distintos formatos – nesta tese conduzimos em forma de mapas de posicionamento.
Não se buscou com estas representações uma análise cartesiana, mas elas nos
ajudaram a expressar e visualizar um dos conceitos centrais da ASD, que é analisar
os sistemas de discursos. Além disso, o uso dos mapas na ASD nos auxiliou a
sugerir a dimensão relacional e contextual que possuem as noções de conceitos
gerados na pesquisa qualitativa dos discursos sociais. As representações gráficas
converteram-se neste estudo como um instrumento útil, nos proporcionando firmeza
no trabalho de criação e validação das conjecturas, bem como nos assinalaram as
possíveis dimensões sobre as que necessitariam reflexão e investigação para
compreensão de como representar formalmente uma configuração narrativa. Por fim,
elas permitiram, de maneira mais explícita, que a estrita forma narrativa mais
habitual pudesse manifestar a possível evolução no tempo das posições discursivas,
153
das configurações narrativas e dos próprios espaços semânticos construídos
durante a pesquisa realizada.
Assim, a conjectura nesta tese, traçada na Figura 16, tornou-se um
direcionador e serviu de orientação que focalizou nossa percepção, como norteador
ao longo da análise e interpretação das fontes discursivas levantadas. A partir de
uma suposição de um diálogo com a realidade observada, estabelecemos a
interação entre a conjectura e as observações – contrastando com a realidade - que
se construiu constantemente com a teoria na medida em que avançamos na
investigação. Esta foi levada em consideração para a interpretação e análise do
discurso da sustentabilidade nas fontes discursivas: imagens e texto dos relatórios,
bem como na transcrição (texto) das entrevistas (Apêndice D) e nos discursos
midiáticos (textos) selecionados.
O vetor que emergiu como elemento centralizador nesta pesquisa esteve
relacionado à noção de sustentabilidade no contexto organizacional. Em um eixo de
análise relacionamos, de um lado, a intensidade de intervenção – mínima ou máxima
– a natureza em que a organização atua, e num outro, estabelecemos a linha do
tempo (Figura 16).
Figura 16 – Conjectura: Impacto da empresa na natureza (entorno)
MÍN. INTERVENÇÃO
(MÍNIMO IMPACTO)
Tendência do discurso da
sustentabilidade da empresa
MÁX. INTERVENÇÃO
(MÁXIMO IMPACTO)
Linha do tempo (ano)
Fonte: Elaboração própria.
Neste estudo, portanto, partimos do princípio de que a conjectura que nos
guiou durante a investigação foi de que houve uma evolução no discurso
institucional ao longo dos anos - a tendência do discurso da empresa seguiu um
processo de transformação com o passar dos anos no que tange ao discurso da
154
sustentabilidade. No eixo inferior, a natureza apresenta-se fortemente impactada,
com máxima intervenção por parte da empresa, transformando radicalmente o
entorno. No eixo superior, a empresa manifesta-se de maneira integrada à natureza
e suas ações provocam o mínimo de impacto ao entorno. Portanto, a conjectura
estabelecida é de que a empresa percorreu, ao longo dos anos, em se tratando do
discurso da sustentabilidade, de uma máxima intervenção e maior impacto em
relação ao meio em que opera suas atividades para uma atuação de mínima
intervenção e menor impacto em relação ao seu entorno.
Ao estabelecer uma linha do tempo, configuramos outro mapa de
posicionamento da tendência do discurso da sustentabilidade nos relatórios,
constituindo a Figura 17. Quando pensamos num eixo, por exemplo, natureza 41 e
instalações42, o que de imediato tratamos de verificar foi se existe algum tipo de
gradiente – variação de certa característica em relação a outra. São, portanto, dois
extremos distintos, onde, no eixo superior, surgem imagens nos relatórios de
sustentabilidade demonstrando mínimo impacto causado à natureza e com
instalações mais limpas, e no eixo inferior, os discursos e imagens revelam o mínimo
de transformação possível (ver Apêndice F).
Figura 17 - Mapa de posicionamento da tendência do discurso da
sustentabilidade – relação natureza e instalações
INSTALAÇÕES
(imagem com instalações mais limpa)
Conjectura: Tendência
do discurso da
sustentabilidade
LINHA DO TEMPO
NATUREZA
(imagem com o mínimo de intervenção possível)
Fonte: Elaboração própria.
41
Conjunto composto pelos seres vivos e seus cenários originais (mares, florestas, montanhas, rios,
lagos etc.).
42
Conjunto de peças, máquinas, aparelhos etc. instalados para determinado fim; prédio, sala,
conjunto de salas ou conjunto de lojas preparado para determinada atividade.
155
As linhas de análise realizadas correspondem, inicialmente, a duas situações
polares na busca do posicionamento do discurso da sustentabilidade. Contudo, para
a interpretação do mapa configurado em torno dos eixos estabelecidos em relação
ao discurso da sustentabilidade, foi necessário reordená-los considerando os
seguintes eixos: horizontal – ambientes interno e externo, e vertical - instalações e
natureza. A partir do corpus, buscamos, primeiramente, realizar a leitura da
construção do discurso da sustentabilidade nos materiais visual e textual extraídos
do Relatório de Sustentabilidade da empresa do setor de energia elétrica em estudo.
A leitura ordenada, a partir deste mapa de posicionamento, nos relatórios permitiu
criarmos, com uso de imagens, uma ordem lógica por meio de um mapeamento
(Apêndice F), os quais foram confrontados ano a ano, a saber: 2007 versus 2008;
2007 versus 2009; 2007 versus 2010; 2007 versus 2011; 2008 versus 2009; 2008
versus 2010; 2008 versus 2011; 2009 versus 2010; 2009 versus 2011; 2010 versus
2011. Esta tarefa foi fundamental para validação da conjectura analítica do estudo,
dando prosseguimento as etapas posteriores de análise e interpretação tanto visual
quanto textual.
Ao traçar um eixo vertical relacionando a mínima e a máxima adaptação da
empresa com a natureza, elaboramos outra representação gráfica (Figura 18).
Figura 18 - Mapa de posicionamento do discurso textual e visual
Relatórios de Sustentabilidade – anos 2007 a 2011
MÁXIMA ADAPTAÇÃO À NATUREZA
(mínima agressividade; mínimo impacto; máxima limpeza)
2010
2009
2008
2007
Discurso textual da sustentabilidade
Discurso visual da sustentabilidade
2011
MÍNIMA ADAPTAÇÃO A NATUREZA
(máxima agressividade; máximo impacto; mínima limpeza)
Fonte: Elaboração própria.
156
A partir desta representação, dois eixos (visual e textual) foram traçados em
paralelo, retratando o discurso da sustentabilidade, na qual, no extremo inferior dos
eixos, a empresa encontra-se numa situação de mínima adaptação a natureza, e no
extremo oposto, uma máxima adaptação.
Levantamos, pois, outra conjectura ou intuição: a empresa mantém alinhado o
seu discurso (textual e visual), ao longo do tempo. Dispomos, portanto, de uma
maneira de ir tecendo uma interpretação e análise, a partir de diferentes
perspectivas, das possíveis posições diferenciais subjacentes às fontes discursivas
que se trabalhou neste estudo. A partir da conjectura analítica, apresentamos nas
próximas seções deste capítulo a análise dos sujeitos discursivos – empresa e
mídia.
6.2
Análise dos estilos discursivos
6.2.1 Análise dos relatórios
A partir das definições metodológicas descritas e perseguindo os parâmetros
sugeridos por Serrano (2008; 2012a), apresentados anteriormente (Quadro 11 e 12)
nesta tese, analisamos os Relatórios de Sustentabilidade dos anos de 2007 a 2011
da empresa em estudo. No que tange às imagens contidas nos relatórios, fizemos
uma leitura ordenada a partir do Apêndice F - conjunto de imagens extraídas dos
relatórios no período analisado -, considerando as circunstâncias de sua produção,
intenção e contexto, no intuito de compreender o efeito que elas possuem nas
dimensões econômica, ambiental e social. Além do contexto de produção e das
imagens em si, consideramos o contexto de recepção para análise o discurso textual
que acompanhavam as ilustrações em cada relatório. Neste caso, identificamos o
principal destinatário dos relatórios.
O ano de 2007 é marcante para empresa por vários fatores, dentre eles,
destacamos que ela elaborou naquele ano o primeiro relatório anual a partir das
157
diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), padrão mundial em Relatórios de
Sustentabilidade. Esta iniciativa atendeu os anseios de seu grupo controlador e
decorreu do entendimento, em sua declaração, da sustentabilidade como sendo uma
obrigação. De acordo com o Relatório da Administração da empresa referente ao
ano 2006-2007:
Diante deste cenário e do crescimento de consumo de energia elétrica no
País, sentimo-nos prontos para crescer. E para crescer com
sustentabilidade. Com esse foco, em 2007, ampliamos as ações com o
objetivo de fortalecer nosso compromisso com os preceitos do
desenvolvimento sustentável, que demandam a mensuração de nossos
resultados não apenas na dimensão operacional-financeira, mas também
nos âmbitos social e ambiental.
Um importante passo foi termos oficializado nossa Visão – “Ser, de modo
sustentável, a melhor empresa de energia do Brasil” – e nossa Missão –
“Gerar energia para a vida”. Criamos também o Comitê de Sustentabilidade,
encarregado de estabelecer metas para nossa atuação sócio-ambiental, e
monitorar os resultados dos nossos projetos e ações de responsabilidade
corporativa. (TRACTEBEL, 2008b, p.02-03).
Além de outros comitês de formação diversificada e relacionadas a diversas
áreas específicas do negócio – de energia, de gerenciamento de riscos, financeiro,
de planejamento tributário, de ética, de inovação e estratégico -, a empresa instituiu
o comitê de sustentabilidade. De acordo com a companhia, este comitê tem o intuito
de contribuir na consolidação da imagem de uma empresa transparente e
sustentável, conciliando os interesses de diversos públicos que interagem com ela.
Esta interação, declarou a empresa, se dá por meio de ações que buscam a
melhoria ambiental, cultural e social em sua área de influência, além de promover o
desenvolvimento
sustentável
internamente
e
avaliar
solicitações
de
apoio
sociocultural (TRACTEBEL, 2008a).
No Relatório de Sustentabilidade de 2007, a companhia enfatizava ser uma
empresa industrial, em fase de crescimento, declarando que se sentem “prontos
para crescer”. Isto é, a representação de um empreendimento que se encontrava em
expansão ou aumento. Percebemos, visualmente, a preocupação em evidenciar,
com maior ênfase, aspectos relacionados à categoria (dimensão) econômica.
Notamos a evidenciação da potencialidade de crescimento quantitativo do parque
industrial da empresa, não obstante ter declarado estar atendendo aos padrões
estabelecidos em relação as dimensões ambiental e social.
158
No Quadro 26, as imagens do ano de 2007 se mostram, de maneira linear,
associadas ao progresso, ao crescimento econômico. As retóricas que acompanham
as imagens do relatório ratificam o que elas buscavam transmitir, por exemplo: (a)
ilustração 1: aquisição por parte da empresa de um projeto termoelétrico que reforça
a idéia de progresso e crescimento econômico; (b) ilustração 2: apresentação do
cenário brasileiro de geração de energia elétrica; (c) ilustrações 4 e 6: mais uma
aquisição de hidrelétrica e outra concessão para erigir uma usina, ampliando a
capacidade de instalação, isto é, a empresa passava por um momento de aquisição
e edificação (obras arquitetônicas).
Assim sendo, as imagens parecem estar coerentes com a maneira de evocar
determinantes associadas à necessidade de aceleração do crescimento energético
no Brasil face à crescente demanda imposta pelo sistema de mercado vigente. Em
outras palavras, o aumento do consumo de energia elétrica no país.
Quadro 26: Imagens extraídas do Relatório de Sustentabilidade 2007
RS 2007, p. 22 (ilustração 1)
RS 2007, p. 31 (ilustração 2)
RS 2007, p. 53 (ilustração 3)
RS 2007, p. 20 (ilustração 4)
RS 2007, p. 56 (ilustração 5)
RS 2007, p. 19 (ilustração 6)
Fonte: Tractebel (2008a).
Nas imagens do relatório de 2007 é perceptível a ênfase para as redes de
transmissão instaladas e obras em processo de edificação, dado que a empresa
encontrava-se em um novo ciclo de crescimento naquele período. As novas
aquisições e/ou construções estão mais presentes e destacadas no relatório exposto
do que a própria natureza e a sua interação social (ilustrações 3 e 6). Nas imagens
159
não percebemos a interação de fundo, prevalecendo o foco nas instalações
(ilustração 4). Foram marcantes no ano de 2007 imagens que representam, por um
lado, a capacidade produtiva e, por outro, a transformação do entorno e sem
controle da natureza (ilustrações 1 e 4).
Apresentou-se como uma empresa possuidora de tecnologia dita dura, forte,
mais industrial e imponente diante de suas instalações (ilustrações 2 e 5), capaz de
atender o seu potencial operacional com eficiência. Na ilustração 2, em específico, a
torre de transmissão de energia (instalações) encontra-se em primeiro plano,
enquanto que a árvore (natureza) permanece em terceiro plano. Não se observaram,
contudo, elementos que buscavam uma integração harmoniosa para com a
natureza. Tais imagens não evidenciaram, no aspecto visual, a visão organizacional
em “ser, de modo sustentável”, a melhor empresa de energia brasileira.
O contexto econômico brasileiro demonstrava-se favorável, pois passava por
um processo de privatização em diversos setores, dentre eles o setor energético.
Tinha, portanto, a construção de novos parques geradores como protagonista
principal na busca do aumento da produtividade – ampliação do quantitativo físico
por meio de construções de usinas hidrelétricas e termelétricas.
A capacidade instalada era de 66%, composto por hidrelétricas, termelétricas
e usinas chamadas fontes complementares de energia (TRACTEBEL, 2008a), o que
reforça a ênfase por parte da empresa em destacar elementos relacionados à
categoria econômica.
O crescimento econômico é, pois, o elemento destacado pela empresa. No
cenário econômico mundial, até o final do ano de 2007, a década de 200043 foi
considerada a mais estável e próspera. A partir do ano de 2008, instalou-se a crise
econômica de 2008-2009, colocando em risco a economia mundial.
O Brasil, embora apresentando um crescimento considerado médio-baixo em
relação aos países emergentes, manteve sua economia relativamente estável. Em
tempos de crise, os pronunciamentos dos governantes dirigidos à população
incentivavam cada vez mais o consumo. Segundo Kavinski (2009, p.35), “não parar
de comprar é o que orientam os líderes da maioria das nações às portas de uma
nova crise civilizatória, no início do século XXI”.
43
Considerada a primeira década do Século XXI, a década de 2000, ou anos 2000 foi o período de
tempo compreendido entre 1 de Janeiro de 2000 e 31 de Dezembro de 2009.
160
No ano de 2008, a Tractebel enfatizou novamente informações relacionadas
prioritariamente para os investidores. Aquele ano foi marcado pela sua consolidação
no mercado como sendo a maior empresa privada de geração de energia elétrica do
Brasil. Sua capacidade própria de geração expandiu-se em 66,4% em relação ao
ano anterior. Continuava, pois, a visão dominante do capital frente ao crescimento
econômico, como consta em suas declarações: “Sentimo-nos preparados para
enfrentar a crise financeira mundial e dispostos a continuar crescendo”
(TRACTEBEL, 2009, p.4).
O relatório foi elaborado pela empresa nesse cenário vivenciado. Nos últimos
10 anos, ela se propôs a explorar novas oportunidades e expandir seu parque
gerador por todo o país (Figura 19).
Figura 19 - Parque gerador da companhia – comparativo de 1998 e 2008
Fonte: Tractebel (2009, p.13).
A empresa ressaltou ainda que, em 2008, foi avaliada como a melhor empresa
de Eletricidade do Brasil, ao receber o Prêmio Fundação Getúlio Vargas de
Excelência Empresarial, e conquistando o primeiro lugar entre as Melhores
Companhias para os acionistas naquele ano, pelo III Ranking Capital Aberto.
161
No que se refere à questão da sustentabilidade, a empresa declarou, em seu
relatório de 2008, estar comprometida. Os resultados econômicos foram obtidos com
responsabilidade social e ambiental.
O bom desempenho econômico da Companhia na última década está
intimamente ligado ao nosso comprometimento com o desenvolvimento
sustentável. Atuamos sempre respeitando o meio ambiente, que provê os
recursos necessários para gerarmos energia elétrica. (TRACTEBEL, 2009,
p.03)
Diferente do ano de 2007, as imagens no relatório de 2008 trazem mais
luminosidade e textura que convergem para elementos que redundam num tipo de
discurso mais comprometido com as categorias social e ambiental, prevalecendo a
econômica (Quadro 27).
Quadro 27: Imagens extraídas do Relatório de Sustentabilidade 2008
RS 2008, p. 30 (ilustração 7)
RS 2008, p. 66 (ilustração 8)
RS 2008, p. 45 (ilustração 9)
RS 2008, p. 17 (ilustração 10)
RS 2008, p. 56 (ilustração 11)
RS 2008, p. 51 (ilustração 12)
Fonte: Tractebel (2009).
Ao observar o relatório do ano de 2008, percebemos a representação de uma
empresa em transformação, mas com aspecto ainda superficial, isto é, a empresa
não se aprofundou no aspecto visual em relação a questão ambiental e social. Em
comparação ao ano anterior, surgiram imagens mais frequentes da natureza, indo ao
encontro com a questão central assumida pela companhia:
162
O foco de nossa atividade pauta-se, assim, no equilíbrio do tripé que nos
sustenta: apresentar excelente desempenho econômico, ser socialmente
justo e atuar com responsabilidade ambiental. Conduzindo nosso negócio
de maneira sustentável, criamos valor para todas as partes interessadas.
(TRACTEBEL, 2009, p.03)
As imagens em 2008 conduzem à percepção de que a empresa reconhece a
necessidade de utilizar recursos - natural (ilustração 10) e humano (ilustração 12) para desenvolver sua atividade operacional. A empresa fez uso do discurso da
sustentabilidade para divulgar suas ações operacionais, bem como demonstrar sua
capacidade de ocupação no mercado. Neste sentido, é compreensível por parte da
empresa em externalizar as boas práticas associadas à sustentabilidade em seus
relatórios.
É no intento de cumprir com as exigências do mercado e, dessa forma, ratificar
sua participação no Novo Mercado - segmento da BM&FBOVESPA S. A., que a
empresa manteve suas declarações anteriores (discurso). Isso é admitido pela
empresa em seu relatório ao afirmar que “conduz seus negócios em conformidade
com as melhores práticas de governança corporativa, comprometida com a
prestação de contas e transparência na gestão” (TRACTEBEL, 2009, p. 30).
No ano de 2009, consolidou-se no segundo ciclo de expansão da empresa,
mantendo-se, desde o início das suas atividades, na liderança do setor privado de
geração de energia elétrica. Do ponto de vista da empresa, essa liderança revelouse como adequada sua estratégia de avaliação de riscos e oportunidades de
mercado (TRACTEBEL, 2010). Em 2009, as imagens mostraram-se muito próximas
às ilustradas no ano de 2007, evocando determinantes que se associam à
necessidade de aceleração do crescimento energético presente naquele contexto
brasileiro (Quadro 28). Contudo, diferentemente dos demais anos analisados, todas
as imagens foram apresentadas na tonalidade preto e branco, entremeados por um
tom acinzentado. Essas ilustrações sugerem que cada observador - neste caso em
específico o leitor do relatório - construa seu modo específico de ver e interpretar a
cor no objeto que se apresenta, a partir de uma memória pessoal.
163
Quadro 28: Imagens extraídas do Relatório de Sustentabilidade 2009
RS 2009, p. 22 (ilustração 13)
RS 2009, p. 46 (ilustração 14)
RS 2009, p. 76 (ilustração 15)
RS 2009, p. 12 (ilustração 16)
RS 2009, p. 34 (ilustração 17)
RS 2009, p. 74 (ilustração 18)
Fonte: Tractebel (2010).
O que não se pode afirmar é se as imagens foram utilizadas com esta técnica,
condicionando intensamente sua forma, significado e efeito ou apenas foram
transformadas de coloridas para preto e branco. Por exemplo, em 2009 identificamos
a mesma imagem de 2008, porém com enfoques e coloração diferenciados (Quadro
29).
Quadro 29: Imagens extraídas dos Relatórios de
Sustentabilidade 2008 e 2009
RS 2008, p. 66 (ilustração 8)
RS 2009, p. 22 (ilustração 13)
Fonte: Tractebel (2009; 2010).
Diferentemente das imagens coloridas, nas fotografias tiradas em preto e
branco costuma-se utilizar a luz e a sombra de forma mais proeminente para criar
164
efeitos estéticos, não tendo o mesmo alcance dinâmico44. Assim, longe de ser uma
representação sem vida, sem variedade ou sem sentido, as imagens em preto e
branco compõem o mundo físico visual “como ‘chaves’ ou partes integrantes da
construção perceptiva cromática em cada indivíduo, fazendo explodir cores
subjetivas e particulares, sendo, por isso, muito mais brilhantes e misteriosas que as
cores fisicamente fixadas nas imagens” (SILVEIRA, 2005, p. 154). A leitura que
fazemos das imagens no relatório do ano de 2009 da empresa remete à sua
capacidade e competência na produção de energia elétrica, no intuito de “fazer bem
feito” a sua atividade operacional. Todavia, não havia a preocupação visual,
aparentemente, com as dimensões sociais e ambientais.
Em 2010, início de uma nova década, a empresa se mostrou em seu relatório
por imagens de aspecto natural, isto é, apresentava certa integração com a
natureza, no sentido de mitigar e/ou compensar os impactos ambientais causados
pela atividade operacional (Quadro 30). A empresa se colocava numa proposta de
parceria com o meio ambiente e, consequentemente, com responsabilidade social. A
empresa se reconhecia como parte da natureza (ilustrações 19 e 23). A ilustração 20
permitiu entender que a empresa proporciona mais impactos positivos do que
negativos para com a sociedade, conforme constatamos nos estudos ambientais de
empreendimentos desta natureza. Por seu turno, a ilustração 21 evidenciou um
ambiente criado pela empresa (assemelha-se a um clube social) que conduz a uma
expectativa ou uma realidade na melhoria da qualidade de vida do seu entorno.
As imagens mostram aspectos de recuperação do elemento natural que foi
destruído ao longo do tempo (ilustração 22). Há uma presença maior de contrastes
de cores e luminosidade (ilustrações 19, 22, 23 e 24) e uma intervenção suave para
com a natureza de maneira integrada, como pode ser observada a continuidade
horizontal da montanha e instalações. As imagens se apresentaram de maneira
cíclica, nas quais a obra (construções, hidrelétricas, barragens etc.) estão
associadas à natureza de maneira integrada ao desenvolvimento. A empresa
encontrava-se em fase de pleno desenvolvimento, que procurou destacar a
associação harmoniosa e aspectos econômicos - intrínsecos a uma atividade
empresarial -, com questões ambientais e sociais. Nesta perspectiva, entendemos
44
Entende-se por alcance dinâmico, em fotografia, a faixa de luminância que uma câmara fotográfica
consegue captar, ou os limites dessa faixa.
165
que a empresa alinhou suas ações aos pressupostos estabelecidos como missão,
visão e valores da organização.
Quadro 30: Imagens extraídas do Relatório de Sustentabilidade 2010
RS 2010, p. 46 (ilustração 19)
RS 2010, p. 03 (ilustração 20)
RS 2010, p. 50 (ilustração 21)
RS 2010, p. 04 (ilustração 22)
RS 2010, p. 30 (ilustração 23)
RS 2010, p. 67 (ilustração 24)
Fonte: Tractebel (2011).
Surgem, diferentemente dos outros anos, ilustrações de pessoas que
retrataram, além dos valores e a visão da empresa, homenagear seus empregados –
entendidos pela empresa como ativo essencial à manutenção da qualidade e
excelência do negócio. O relatório foi ilustrado com fotos e depoimentos de
empregados que relataram seu trabalho, sua percepção e suas experiências
vivenciadas. Na ilustração 20, em específico, sob a forma de narrativa em verso, o
empregado declarou neste relatório “eu vejo [o milagre da energia] e faço parte [...]”.
Os conteúdos comunicativos retratados nas imagens passaram a celebrar a
valorização das pessoas de maneira mais explícita, e os próprios empregados
reconhecendo esse valor, abreviando, portanto, a quantidade de imagens de obras e
instalações.
É perceptível no relatório de 2010 o domínio de imagens relacionadas à
natureza, de que forma a empresa e o homem integram-se à ela. A empresa
encontrava-se imbricada a natureza, a ponto de confundirmos uma com a outra.
Esta constatação verifica-se também na ilustração 24, que trata de uma
condensação de imagens nas quais o azul e amarelo compõem e associam-se
166
simultaneamente às cores da tubulação de uma de suas usinas e de um tipo de
planta da natureza. Observamos, pois, a presença de uma empresa preocupada
com o uso racional dos recursos naturais, valorizando e respeitando o seu entorno.
Entretando, o que leva a essa postura de racionalização efetiva de recursos, pois um
dos principais problemas enfrentados pela sociedade foi a cultura de exploração e
apropriação da natureza de maneira desordenada, entendendo que os recursos
eram infinitos, contribuindo para o desenvolvimento econômico desenfreado.
Preocupada com a maneira pela qual é percebida, em 2011, a empresa “se
empenha em ser reconhecida não apenas pela qualidade de suas operações, mas
também por princípios fundamentais à conduta das suas atividades, como ética,
profissionalismo, respeito ao meio ambiente e às pessoas” (TRACTEBEL, 2012, p.
58). Tonalidades de cores que muitas vezes parecem confundir céu, terra e água, a
luminosidade e foco corroboram e ratificam o posicionamento da empresa, a
exemplo de 2010, de maneira mais enfática a necessidade de compreendê-la e
enxergá-la como mais um elemento pertencente à natureza (Quadro 31).
No relatório, a atividade de produção de energia foi retratada como uma
“criadora de beleza natural”. Sua presença provocou também encantos, além de
promover a saúde e bem estar de seus colaboradores. Em outras palavras, a
empresa resgatou os benefícios proporcionados pela atividade econômica
desempenhada de maneira harmoniosa.
Quadro 31: Imagens extraídas do Relatório de Sustentabilidade 2011
RS 2011, p. 04 (ilustração 25)
RS 2011, p. 27 (ilustração 26)
RS 2011, p. 66 (ilustração 27)
RS 2011, p. 48 (ilustração 28)
RS 2011, p. 54 (ilustração 29)
RS 2011, p. 87 (ilustração 30)
167
Fonte: Tractebel (2012).
Ao comparar as ilustrações apresentadas em cada abertura (capa) dos
Relatórios de Sustentabilidade (Quadro 32), reforçamos os aspectos apresentados
anteriormente, e podemos constatar um processo de transformação progressiva e
gradual em relação ao discurso da sustentabilidade no que tange à importância
evidenciada às dimensões econômica, ambiental e social. No início do período
analisado, a dimensão econômica era mais focada, enquanto que, nos últimos dois
anos de publicação dos relatórios, notamos a aproximação da relevância das outras
duas dimensões da sustentabilidade imbricadas com a primeira.
Quadro 32: Capa dos Relatórios de Sustentabilidade dos anos de 2007 a 2011 –
Tractebel Energia S.A.
RS 2007 (ilustração 31)
RS 2008 (ilustração 32)
RS 2010 (ilustração 34)
RS 2009 (ilustração 33)
RS 2012 (ilustração 35)
Fonte: Tractebel (2008; 2009; 2010; 2011; 2012).
Em 2007, a empresa apresentou o lema intitulado “um novo ciclo de
crescimento”. Em 2008, a empresa trouxe em sua capa inicial a comemoração de
“10 anos”. No ano de 2009, a empresa não demonstrou na capa um lema específico,
168
contudo retratou a imagem de uma de suas usinas hidrelétricas sugerindo o seu foco
no potencial da capacidade instalada, ratificando em sua mensagem inicial. Os dois
últimos anos analisados apresentaram ilustrações de uma empresa focada não
somente na questão econômica, mas preocupada e respeitando em suas operações
o equilíbrio das dimensões da sustentabilidade – econômica, ambiental e social. Em
2010, o lema reproduzido foi “a arte de renovar está em nossas mãos”.
Especificamente, o relatório daquele ano, chamou atenção, primeiramente,
pela presença na capa de uma litogravura de Maurits Cornelis Escher (ilustração
34), do artista plástico holandês, intitulado “Drawing Hands”45, traduzido para o
português “As mãos que desenham”. Em cada uma das mãos visualizamos, ao
mesmo tempo, a figura de criadora e criação. Essa imagem, a partir de uma
estrutura cíclica - e não linear como representada em 2007 -, explorou a ideia de que
a linguagem inventa ou reinventa a realidade.
A empresa assumiu um papel na sociedade de produzir energia para o
desenvolvimento de maneira sustentável, com respeito ao meio ambiente,
entremeada a diferentes realidades sociais em que convive e contribui para a
melhoria da qualidade de vida. Segundo a empresa (TRACTEBEL, 2011, p. 03), todo
este esforço “é o trabalho que realizamos com mãos empenhadas na arte de
renovar. Arte que é colocada em prática por nossos empregados [...]”. São
profissionais qualificados que garantem a perenidade, a qualidade e a eficiência do
negócio e materializam os princípios da gestão socioambiental. Complementaram
ainda que “são deles as mãos responsáveis pela arte de renovar”. A empresa
apresentou, portanto, em seu relatório a imagem não de uma detentora da verdade,
com uma ideologia dominante, mas realça uma organização participativa e aberta,
com responsabilidades para o seu entorno – natureza, pessoas etc. A empresa
buscou reinventar e reconstruir a natureza, por meio de imagens que transmitem
formas, efeitos, significados, cores, conectando-se com o emocional do leitor.
Em 2011, em conformidade ao ano anterior, a empresa apresentou como
lema “energia, movimento, mudança”, direcionando suas ações:
45
“A mão esquerda desenha a mão direita que por sua vez desenha a mão esquerda. Duas mãos
desenham com zelo uma à outra, aparentemente começando por si mesmas: as mãos já estão tão
definidas que parecem sair do próprio desenho que elaboram, e elas agora se dedicam a preparar os
punhos da sua camisa (como se só então começassem a desenhar o dono delas mesmas)”
(BERNARDO, 2007, p.02).
169
para um movimento de mudança pautado pelo respeito ao meio ambiente,
em sintonia com o desenvolvimento socioeconômico. Gerencia seus
impactos, se empenha em maximizar benefícios e contribuir para formar
uma sociedade mais ética e sustentável. Este relatório remete a diferentes
circunstâncias do vínculo entre movimento e energia gerando mudanças no
ano de 2011, tanto na esfera de atuação da Companhia como no contexto
global, com o olhar para o futuro que a atividade da Tractebel Energia exige.
(TRACTEBEL, 2012, p.03)
Por meio da imagem (ilustração 35) verificamos a preocupação e o
cumprimento estabelecidos em suas diretrizes - Código de Meio Ambiente, Políticas
Tractebel sobre as Mudanças Climáticas, Política Tractebel Energia sobre Gestão
Sustentável, para exemplificar -, em relação as exigências dos órgãos ambientais, e
a interação com a população que vive sob a influência das usinas.
Depreendemos também, em relação aos relatórios apresentados pela
empresa, a presença de uma transformação na forma de tratar e exibir as
informações ao seu público de interesse reconhecido pela empresa (stakeholders),
dentre eles: (a) Empregados e seus representantes; (b) Comunidade; c) Imprensa;
(d) Clientes; (e) Fornecedores; (f) Governo; (g) Acionistas; (h) Entidades sociais,
ambientais e do setor; Instituições financeiras; e (j) Empresas do setor.
Em 2011, comparado ao relatório de 2007, a empresa buscava evidenciar
maior aproximação dos diversos stakeholders, apesar de enfatizar em seu discurso
textual, informações relacionadas ao mercado e, de certa forma, de interesse de
seus investidores. Assim, considerando o Relatório de Sustentabilidade um
instrumento de comunicação (GOMES, 2009) criado para atender às pressões dos
atores - Estado, mercado e sociedade -, verificamos que, embora os acionistas não
sejam os únicos destinatários de tais relatórios, são eles os mais atendidos no que
tange informações que podem auxiliar no processo decisório. A necessidade da
empresa, portanto, em simbolizar uma postura associada a resultados econômicos,
intenta alcançar vantagens competitivas.
A imagem só é – vamos dizer – competitiva se ela der resultados concretos
para a empresa. Que resultados são esses? Conseguir a preferência de
clientes e de consumidores, fazer crescer a renda e os lucros, alavancar
negócios, atrair – e manter – bons profissionais no mercado de trabalho,
despertar a confiança de investidores, abrir as portas dos poderosos,
comprar boa vontade de formadores de opinião e de tomadores de decisão,
aumentar o nível de tolerância da opinião pública [...]. Se a imagem da
empresa puder ser traduzida nestes resultados, ela gera vantagem
competitiva. (NEVES, 2000, p. 23)
170
Um veículo de comunicação, segundo Freitas (2009), pode assumir papel
relevante como mecanismo político para moderar a construção simbólica de uma
empresa (imagens, por exemplo) que tem o intuito de se projetar. As imagens
institucionais não só interagem com os empregados e sociedade, legitimando
também a organização. Tais imagens institucionais, conforme contatada nesta
análise,
“concorrem
para
criar
espaços
cênicos
no
ato
de
linguagem”
(CHARAUDEAU, 1983, p. 39), são decorrentes de efeitos da fala e parecem
constituir maneiras de pensar a realidade da empresa, bem como sua análise pode
contribuir para a consciência dos processos envolvidos na comunicação (FREITAS,
2009).
Esta análise dos Relatórios da Sustentabilidade vai ao encontro dos dizeres
de Voltolini (2009) ao revelar que, uma leitura minuciosa de tais relatórios reserva-se
àqueles que a fazem por motivos profissionais; surgem ainda os que preferem não
ler esses relatórios alegando que os textos não despertam interesse; outros julgam
que os relatórios se tornaram enigmáticos pela excentricidade ou que são apenas
auto-elogiosos, com o intuito de destacar práticas com as quais as organizações
almejam ser percebidas.
Assim,
corroborando esse
entendimento,
depuramos
das entrevistas
realizadas, e analisadas na próxima seção, a concepção do interesse da empresa
em posicionar suas ações estrategicamente no mercado financeiro, principalmente.
6.2.2 Análise das entrevistas
A partir do roteiro semi-estruturado (Apêndice C) entrevistamos os
empregados da empresa estudada que tinham ligação direta com a elaboração dos
Relatórios de Sustentabilidade. Seguem, nesta seção, as análises de alguns
enunciados constitutivos do discurso proferidos pelos empregados durante as
entrevistas, na qual adotamos as inscrições E1, E2, E3 e assim sucessivamente,
para designar os entrevistados.
Quando submetidos a questionamentos a respeito da riqueza social – bem
econômico coletivo gerado por uma empresa -, observamos que a produção e
171
distribuição de energia elétrica são indispensáveis na maior parte da produção desta
riqueza. Segundo o E1 (homem - Consultor de Sustentabilidade), “a companhia
considera que o bem que ela fornece para a sociedade é um bem essencial a vida.”
De acordo com os empregados entrevistados, eles entendem que o potencial
energético no Brasil é muito elevado, e acreditam da necessidade indispensável do
aumento capacidade de geração de energia, logo da atividade econômica da
empresa resultante da aplicação de capital. Este entendimento é compartilhado por
E5 (homem – Analista de Meio Ambiente), conforme suas declarações de que “a
empresa tem que crescer e a maneira de crescer é construir suas usinas”. A busca
por lucros está inerente a natureza do capital. Nos trechos discursivos dos
entrevistados, percebemos que a empresa não omitiu seus objetivos econômicos e
deixou evidente em seu discurso o entendimento de que sua atividade é
indispensável à sociedade, apesar de causar impactos ambientais e sociais. De
acordo com o E1, a construção do Relatório de Sustentabilidade (RS) é realizada
diretamente pela área responsável de relação com investidores, com mobilização
praticamente de toda a empresa. Trata-se, portanto, o RS de uma ferramenta que
tende a melhorar a imagem e atrair investidores. Todavia, apesar de ser relevante, a
questão da riqueza é apenas uma parte das questões que envolvem a
sustentabilidade.
Ao serem indagados sobre o comportamento da empresa em relação à
administração do plano de cargos e salários, bem como a distribuição de lucros,
prontamente E1 sugeriu que essa resposta fosse encontrada junto ao setor
competente na empresa – departamento de recursos humanos: “Bom, (+) nós
podíamos (+) encaminhar a senhora ao Departamento de Recursos Humanos para
eles poderem te responder melhor do que nós aqui”. Ao retomar este
questionamento, E1 insistiu na indicação de uma pessoa mais adequada para
responder questões relacionadas a macro categoria social: “Detalhes dessa política
é que alguém do RH deveria indicar [...]”, complementou E1. Num outro momento,
também este entrevistado indicou que eu buscasse respostas em outro
departamento face às indagações sobre fauna, flora, reciclagem e tratamento de
resíduos, entre outras questões ambientais: “[...] vamos indicar então (+) a
assessoria de meio ambiente [...] é o gerente e a pessoa certa para você contatar,
tá”. Não se trata de questionar aqui quem seria mais ou menos indicado, mas o que
chama atenção é o fato de E1 sentir-se à vontade e seguro para falar da categoria
172
econômica. Apesar de demonstrar conhecimento relacionado às questões ligadas as
categorias ambiental e social, E1 prefere não se manifestar.
Quando indagados sobre o acompanhamento e a garantia da biodiversidade
e suas condições de habitat, E1 manteve uma postura formal e institucional, que
podemos entender por conta de um contexto de regulação exigida. E1, portanto,
tratou de apresentar como resposta os procedimentos formais relacionados às
normas exigidas e seguidas pela empresa - no caso a ISO14001 – norma
internacional que estabelece os requisitos necessários para a gestão ambiental de
um
empreendimento.
Percebemos
um
deslocamento46
para
as
respostas
apresentadas pelos entrevistados E1 e reforçado pela E2 (mulher – Assessora de
Comunicação), e de maneira genérica em relação ao questionamento feito, na qual
se destaca o seguinte fragmento da entrevista: “Cada usina tem um representante
da administração local pela (++) que é responsável pela (++) pelo sistema de gestão
ambiental que também é atrelado a essa certificação. (++) E também para conhecer
em esses detalhes esse programa e tudo mais, aí eu vou te indicar a assessoria de
meio ambiente”.
E4 (homem – Gerente de Planejamento e Logística de Projetos) revelou que,
no caso de uma usina hidrelétrica, o impacto gerado pelo empreendimento “é muito
grande na comunidade que tá (+) instalada no entorno do rio”. Os empregados, pois,
reconhecem essa alteração no meio ambiente que a empresa causa, entretanto
procuram se assegurar perante a sociedade de que, apesar desse reconhecimento e
de que isso deveria ser um papel do Estado, eles entendem trazer mais benefícios
aonde ela vai se instalar, do que prejuízos. De acordo com E4, nessas localidades
onde as pessoas se instalam e fazem do rio um facilitador, além de proporcionar a
captura de alimentos para sobrevivência. Por outro lado, segundo E4, o rio passa a
ser um escoador de detritos. E4 afirma que as comunidades ali instaladas, via de
regra, não possuem tratamento de esgoto. Mesmo assim, fazem uso da água para
consumo.
No que tange à aceitação ou resistência por parte da comunidade do entorno
- os atingidos pelo empreendimento - E4 afirma que “sempre existe um momento de
rejeição porque as pessoas tão lá habituadas, às vezes, já tão, já é a segunda,
46
Esse deslocamento foi possível observar por meio da metodologia abordada, em que será melhor
explicado na seção 6.4, quando tratamos da análise das configurações narrativas – entrevistas
(Figura 26).
173
terceira, quarta geração que vive naquelas comunidades e eles não querem sair de
lá né”.
Todavia, E4 acredita que o trabalho de convencimento realizado nas
audiências públicas “sempre é bom; invariavelmente é bom porque a qualidade de
vida das pessoas melhora, ela sempre melhora [...] isso tudo faz parte das
compensações que nós temos que fazer. Muitas delas já vêm no próprio EIA [Estudo
de Impacto Ambiental] e já traz as compensações e outras são negociadas com as
comunidades locais e a gente acaba fazendo mesmo não estando no EIA”. Então, a
empresa acaba por realizar outras ações que não estão contempladas nos estudos
ambientais, complementa E4. Para ele [E4] o Estado não cumpre integralmente com
seu papel. Da mesma maneira que Santos (2000, p. 67), percebemos que se
estabelece no discurso a “crença da sua indispensabilidade, fator da presente guerra
entre os lugares, e em muitos casos, de sua atitude de chantagem frente ao poder
público, ameaçando ir embora quando não atendidas em seus reclamos”.
Quando
abordamos
a
questão
das
indenizações
referentes
ao
reassentamento da comunidade, percebemos preocupação por parte da empresa
em retribuir financeiramente os impactados. De acordo com E5 (homem – Analista
de Meio Ambiente), o termo compensação explica essa ação quando a empresa não
consegue mitigar ou evitar o impacto causado. Todavia, E5 externaliza a dificuldade
de dimensionar questões relacionadas com “o lado sentimental e tudo mais” –
questionamos, pois se esse é o preço da compensação, então? E o preço da
infração ambiental, da exploração da natureza se reduz e é traduzido no econômico?
Observamos que o E5 compreende que a compensação não consegue alcançar
todas as perdas causadas pela atividade do empreendimento. De outra maneira, E1
enfatiza que a empresa paga “royalties” como forma de compensação, além de
contribuir com ações relacionadas à cultura local.
Neste contexto apresentado pelo E4, cabe refletir sobre a dimensão social da
sustentabilidade. Existe um contraponto de ideias entre os atingidos pelo
empreendimento e a empresa. Os atingidos valorizam aspectos culturais
relacionados à sua história, ao modo de viver, ao seu cotidiano em si que não
podem ser reparados. A empresa, por sua vez, visualiza que faz a sua parte exigida
pela legislação, numa posição predominante vivida nos centros urbanos, ou seja, de
que a qualidade de vida está associada àquilo que é oferecido nas cidades ditas
desenvolvidas, tais como: infraestrutura, serviços básicos – saúde, segurança,
174
educação, transporte etc. Entretanto, sabemos que o progresso também traz
consigo a destruição do atraso em diversos níveis.
Os entrevistados demonstram acreditar no discurso institucional. Os
entrevistados reconhecem existir tensões e conflitos, mas que a maneira pela qual é
conduzido o processo de mitigação ou compensação favorece a qualidade de vida
das comunidades do entorno, apesar dos impactos negativos gerados. Em outras
palavras, o aumento da geração de energia elétrica é necessário, a presença da
empresa na localidade promove o desenvolvimento e traz mais benefícios do que
impactos negativos para o entorno.
Em outro questionamento em relação à conscientização ambiental no local de
trabalho, E1 comentou que existe uma coleta seletiva e que diversas campanhas
são proporcionadas pela empresa, e destacou os procedimentos de prevenção
interna de acidentes de trabalho e a semana de meio ambiente onde a sociedade
tem participação. E porque será que a sociedade participa? Pura satisfação, por
mobilização, ou publicidade. É natural que a comunidade, principalmente a do
entorno do empreendimento a ser erguido, queira apresentar sugestões para
minimizar impactos negativos ou maximizar benefícios, vez que tais impactos podem
afetar significativamente a qualidade de vida de todos que residem nas áreas de
influência direta ou mesma indireta do projeto. Apesar dos esforços emanados pela
empresa no sentido de viabilizar espaços para a participação da sociedade em
algumas decisões concernentes à gestão do meio ambiente, as ações da empresa
precisam ir além do discurso, e a prática ser continuamente acompanhada.
Os entrevistados E1, E2 e E3 (mulher – Assessora de Relações com
Investidores) comentaram que antes esta semana era chamada de “Semana Interna
de Meio Ambiente - SIMA”, mas que atualmente passou a ser intitulada de “Semana
de Meio Ambiente - SEMA”. Aqui há uma peculiaridade no discurso institucional,
apresentando um indicativo de que, apesar da mudança de nomenclatura do evento
proporcionado pela empresa de interno para externo, o protagonista é mantido. Em
outros termos, a referência continuou sendo a própria empresa com ênfase em um
ambiente externo, além do interno para assegurar seus diversos interesses
empresariais.
No que se refere às ações de gestão ambiental, de acordo com E4, “o custo
com o ambiental e sustentável” cresceu significativamente nos últimos anos. As
questões social e ambiental são o foco do discurso emitido pelos entrevistados E6
175
(gerente de Meio Ambiente) e E7 (Assessora de Planejamento e Logística de
Projetos). Estes entrevistados praticamente não abordam a dimensão econômica.
Destarte, convergem também as ações da empresa em programas sociais,
dentre eles o resgate arqueológico e da memória da comunidade que vive no
entorno do empreendimento. Convém ressaltar, que tais projetos se limitam a
atender apenas a locais próximos onde a empresa possui empreendimento, como
declarou E2 “a empresa não vai fazer um projeto desse no Rio de Janeiro, por
exemplo, porque não há [usina] e nem tem sede [do empreendimento]”.
Ainda a realização das entrevistas permitiu evidenciar o termo ‘memória’,
manifestado como um vocábulo-chave para justificar e legitimar determinadas
condutas por parte da empresa estudada no que tange a sustentabilidade –
dimensão social. Esta constatação levou a uma reconfiguração da posição
discursiva por meio da voz dos empregados da empresa, uma vez que ao propor o
resgatar a memória, alimenta-se de continuidades de vida e liga o passado ao
presente que está sendo reconstruído, no caso dos atingidos pelas barragens 47, por
exemplo. Todavia, a construção de uma barragem para produção de energia
elétrica, além dos benefícios proporcionados, pode gerar danos ao meio ambiente:
impactos ecológicos, os sócio-econômicos e os culturais.
A partir da análise das entrevistas verificamos que há um gradiente implícito
de valor atribuído no discurso em relação à posição discursiva: Quem fala? De que
posição se fala ou se produz o discurso? Em nome de quem falam? De que lugar
social ou de que conjunto de lugares produz seus discursos? Estas indagações
conduziram o levantamento da posição discursiva dos entrevistados, conforme se
mostra na seção 6.3.
6.2 3 Análise midiática – jornais, press releases e boletim informativo
O Relatório de Sustentabilidade é entendido como um elemento relevante na
comunicação entre a empresa e seus diversos públicos, sendo complementado com
47
A este respeito sugere-se a leitura de Rezende (2012), que trata do dano moral causado pela
construção de barragens hidrelétricas.
176
outros canais abertos de informação por parte da Tractebel Energia S.A., a saber: o
boletim informativo (Revista Boas Novas) para o público externo e também
encaminhado a todos os empregados, além do informativo interno (intitulado
Conexão) e outros boletins eletrônicos veiculados pela área de recursos humanos.
No intuito de compor a representatividade estrutural do estudo juntamente com os
relatórios e as entrevistas, realizamos a análise de alguns desses veículos midiáticos
que está contemplada a seguir.
Jornais
Quanto aos jornais – discurso midiático divulgado por terceiros (e não pela
própria empresa) – foram selecionados e analisados: um de circulação nacional –
Folha de São Paulo – e outro local/regional – Diário Catarinense.
Originária do jornal O Estado de São Paulo por um grupo de profissionais
egressos do jornal da família Mesquita, nasceu em 19 de Fevereiro de 1921 com o
título de Folha da Noite a publicação que daria origem mais adiante à Folha de São
Paulo, doravante Folha. Ao longo de nove décadas a Folha - pertencente ao Grupo
Folha desde a década de 1980 - tornou-se um dos jornais mais vendido do país
entre os diários nacionais de interesse geral. Tal crescimento está alicerçado nos
princípios editoriais do Projeto Folha: pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e
independência. O jornal é atualmente organizado em cadernos temáticos diários e
suplementos, com circulação em todo o país. Foi o primeiro veículo de comunicação
do Brasil a adotar a figura do ombudsman48 e a oferecer conteúdo on-line a seus
leitores. Destaque para o ano de 1995, quando o jornal se tornou o primeiro em
tempo real do Brasil: a Folha Web lança o Universo Online, e, em 2011, configurouse como o primeiro dos grandes jornais brasileiros a digitalizar seu acervo integral e
a colocá-lo à disposição dos leitores.
Fundado em 5 de maio de 1986, o Diário Catarinense (conhecido por DC) é o
jornal de maior tiragem e mais ampla circulação no Estado de Santa Catarina. É um
48
Criado nos Estados Unidos nos anos de 1960, este termo é utilizado, na imprensa, para designar o
representante dos leitores dentro de um jornal. (FOLHA DE SÃO PAULO, 2012)
177
jornal diário em formato tablóide publicado no Estado catarinense. O DC é editado
pela Rede Brasil Sul de Comunicação (RBS), que também publica outros jornais e
mantém as emissoras de televisão afiliadas à Rede Globo nos estados do Rio
Grande do Sul e Santa Catarina. O DC foi o primeiro jornal informatizado da América
Latina e também o primeiro jornal catarinense a utilizar fotos coloridas. Sua estrutura
compreende cadernos diários – política, editorial, economia, variedades, dentre
outros - e suplementos semanais, tais como cultura, viagem, informática,
gastronomia etc.
As frações discursivas surgem no texto e deram ao pesquisador o
entendimento de qual categoria pertencia. Cabe ressaltar que a preocupação estava
em categorizar de acordo com o tripé da sustentabilidade (TBL) e não quantificar
quais características surgiram em cada dimensão. As frações discursivas
representam a maneira pela qual se buscou identificar os elementos que
caracterizavam a respectiva categoria.
No jornal Folha de São Paulo constatamos que as notícias veiculadas
referentes à empresa em estudo estavam concentradas num caderno específico da
área econômica, intitulado Folha Dinheiro. Não obstante a característica do encarte,
as notícias estavam direcionadas ao mercado dentro da dimensão (categoria)
econômica com frações discursivas, tais como: aumento produtividade; aumento
cotação; empresa na bolsa de valores; compra de ações; crescimento de receita;
estratégia de negócio; geração de energia; compra de usina termelétrica;
participação de mercado; recursos para investidores; valorização bolsa de valores;
viabilização de pólo siderúrgico, dentre outros.
As categorias ambiental e social não figuram no discurso midiático analisado
no jornal Folha de São Paulo. Nesse caso, o discurso da sustentabilidade revelou-se
por incompletude. Por outro lado, ao verificar a mídia local – jornal Diário
Catarinense - no entorno da sede da empresa estudada, identificamos, nos últimos
anos analisados, baseado no Apêndice E, as frações discursivas que se
manifestaram nas três dimensões: econômica, ambiental e social (Quadro 33).
178
Quadro 33: Enquadramento das frações discursivas versus dimensões da
sustentabilidade - Jornal Diário Catarinense, 2008 a 2011
2008
AMBIENTAL
- crescimento acelerado
(lançamento de livro
institucional)
- melhor empresa do
setor
- compra usina
hidrelétrica
- distribuição de 95 %
dos lucros do ano
anterior
- produtividade (geração
de energia) 98%
disponibilidade das
usinas
- negociação de projeto
de construção de usina
N.I.
SOCIAL
ECONÔMICA
DIMENSÕES
- parceria com empresas
públicas e privadas
- campanha de
solidariedade
2009
- continuidade do
projeto de
investimento,
apesar da crise
- inauguração de
obras
- aumento de
produção eólica
- projeto de usina
em discussão
N.I.
N.I.
2010
2011
N.I.
- investimento em
geração de energia
- movimenta a
economia por meio
de investimento em
manutenção de
usinas
N.I.
- patrocínio de
campanhas
- doação para
campanha política
- presença de
barragens ajuda na
amenização dos
efeitos de
enchentes
- monitoramento de
espécies de peixes
- repovoamento do
rio
- indução à desova
e fertilização feita
em laboratório da
empresa
- promoção da
preservação de
espécies (piavas,
dourados e suruvis)
- movimenta a
economia por meio
de investimento em
melhoria dos
impactos ambientais
causados
- reconhecimento
pelo trabalho
dedicado de um
executivo da
empresa
- destinação de
recursos para
atividade cultural
(carnaval)
- patrocínio de
atividade cultural
(cinema infantil)
*Nota: N.I. – não identificada.
Fonte: Elaboração própria.
Constatamos que não se manifestam nos jornais analisados questões
relacionadas aos impactos negativos causados pela atividade operacional
desempenhada – geração de energia elétrica – por parte da empresa analisada.
Considerando nesse caso que ‘quem fala’ ou ‘quem pode falar’ na mídia que não
179
fosse a empresa, tinhamos a expectativa de encontrar a manifestação da sociedade
nos seus diversos segmentos, vez que em outras mídias ocorrem (COELHO;
GODOI, 2011). O que se observa é que a empresa não é citada por ações que
afetem sua imagem negativamente junto à sociedade. Tal silenciamento desta mídia
sugere, muitas vezes, a omissão da verdade, isto é, deixar de dizer, preterir ou
postegar
a
informação,
principalmente
quando
esta
revelar
a
sociedade
conhecimentos que vennha a obstacularizar a consecução de objetivos e atendem
interesses específicos.
Diferentemente do que se espera de uma empresa cuja atividade é
considerada de significativo impacto ambiental, não houve relatos provocados por
movimentos sociais e ambientais, deixando à margem a guerra econômica, a luta
ideológica e a luta de classes. A empresa é apresentada, portanto, com um discurso:
1) de salvadora dos lugares (presença de barragens ajuda na amenização dos
efeitos de enchentes; repovoamento do rio etc.); 2) de geradora de emprego e renda
(movimenta a economia por intermédio de investimento em melhoria dos impactos
ambientais causados; movimenta a economia por meio de investimento em
manutenção de usinas etc.); e 3) que contribui para o desenvolvimento e
modernidade do entorno (indução à desova e fertilização feita em laboratório da
empresa; destinação de recursos para atividade cultural etc.).
Press releases
Em se tratando dos press releases – comunicações oficiais emitidas pela
assessoria de imprensa da empresa, nos anos de 2007 e 2008, o discurso se
manifestou de maneira predominante dentro da categoria econômica. Em relação à
categoria ambiental, a empresa buscou evidenciar uma interface positiva com os
excelentes resultados econômicos obtidos. Ela destacou possuir o Índice de
Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo e suas usinas
serem certificadas por NBR ISO. No bojo da informação econômica, ela citou que
suas
ações
estavam
alinhadas
com
o
desenvolvimento
sustentável
e
180
responsabilidade
corporativa.
Nesse
sentido,
destacamos
algumas
frações
discursivas:
 Em janeiro de 2007: “fortalece a economia agregando valor a um subproduto
que antes era descartado e prejudicava o meio ambiente”, referindo-se ao uso
dos resíduos de madeira como biomassa;
 Em junho de 2007: “política de desenvolvimento sustentável [...] buscando
fontes econômicas e ambientalmente viáveis, [...]”, fazendo referência ao
aumento da receita num investimento de energia renovável utilizando o
bagaço da cana-de-açúcar como biomassa;
 Em outubro de 2008: “Desde o final de 2005 participa do Novo Mercado da
Bovespa e do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) indicador
composto de ações emitidas por empresas que apresentam alto grau de
comprometimento com sustentabilidade e responsabilidade social”;
 Em novembro de 2008: “A Tractebel Energia foi vencedora entre as melhores
companhias para os acionistas 2008, [...] O ranking aponta as companhias
que mais se destacaram em rentabilidade do negócio, rentabilidade da ação,
liquidez, governança corporativa e sustentabilidade.”
No ano de 2009, a empresa concentrou a ênfase nas categorias ambiental e
social. O contexto econômico não era tão favorável para indústria brasileira e
mundial. A categoria econômica continuava manifestada no discurso, todavia de
maneira subliminar, o que podemos considerar um ano atípico.
A empresa afirmou que os resultados econômicos foram superiores a 2008,
mas poderiam ser melhores considerando o baixo desempenho da indústria no ano
de 2009. Enquanto frações discursivas, podemos destacar os seguintes trechos
extraídos dos boletins que representaram este manifesto:
 Em fevereiro 2009: As áreas sociais e ambientais receberam investimentos de
mais de R$ 100 milhões aplicados em 35 programas relativos à educação
ambiental, ao remanejamento da população, ao monitoramento, salvamento e
conservação de fauna, flora e ictiofauna locais, entre outros. Na avaliação do
presidente da Tractebel Energia, esses investimentos vão ao encontro da
cultura da sustentabilidade defendida pela empresa;
 Em junho de 2009: apresentação de palestras, material educativo e cursos
práticos de utilização de resíduos [...], “Acreditamos que essas iniciativas
181
estimulam a educação ambiental, servem para reforçar a importância da
preservação do meio ambiente, do qual fazemos parte e extraímos recursos
essenciais”;
 Em outubro de 2009: “O maior desafio foi atender as necessidades da
Tractebel, que valoriza os conceitos de sustentabilidade tão exigidos pela
sociedade hoje em dia”.
Os anos de 2010 e 2011, destacamos a seguinte fração discursiva:
 Em março de 2010: “É muito importante o intercâmbio com a comunidade,
pois acreditamos que o desenvolvimento econômico está ligado também às
ações sociais e ambientais”.
As frações discursivas foram contextualizadas no intento de informar os
investidores (os stakeholders de uma forma geral) da capacidade da empresa em
gerenciar o capital investido frente a uma rentabilidade atrativa. Podemos observar
que o discurso valoriza a empresa enquanto geradora de benefícios econômicos
para aqueles que se relacionam com a empresa e, principalmente, para quem
investe nela.
As medidas mitigadoras e compensatórias relacionadas a ações ambientais e
sociais são realizadas aparentemente em consequência dos impactos causados pela
atividade da própria empresa. Ratificamos nossa percepção quando a empresa
destaca ter recorde de lucros, e o volume de suas receitas ter aumentado, bem
como os juros sobre capital próprio e seu parque gerador. A empresa enfatiza
também sua posição no mercado (maior empresa privada geradora de energia
elétrica do Brasil) e destaca com frequência seus projetos de expansão.
Boletim informativo
O boletim informativo, intitulado Revista Boas Novas, é uma publicação
bimestral da Tractebel Energia S.A, de responsabilidade da Assessoria de
Comunicação vinculada a Diretoria Administrativa Supervisão e Coordenação,
direcionado ao público externo.
182
A estrutura de apresentação deste boletim pode ser descrita em duas partes.
A primeira é composta pela capa, palavra do presidente, negócios, resultados e
aquisições, versando predominantemente sobre temáticas ligadas à categoria
econômica. Enquanto que a segunda, normalmente ocupa a maior parte do boletim,
abordando destaques da empresa junto a sociedade, além de enfatizar temáticas
relacionadas ao meio ambiente, a pesquisa, a cultura, e o outros aspectos sociais.
A capa, em específico, mescla discurso tanto textual quanto visual,
normalmente fazendo uma interface com aspectos relacionados às dimensões da
sustentabilidade (Quadro 34).
Quadro 34: Boletim informativo (Revista Boas Novas) –
Capa dos anos de 2008 a 2011
Boletim n. 25, 2008
Boletim n. 26, 2008
Boletim n. 27, 2008
Boletim n. 28, 2008
Boletim n. 29, 2009
Boletim n. 30, 2009
Boletim n. 31, 2009
Boletim n. 32, 2009
Boletim n. 33, 2010
Boletim n. 34, 2010
Boletim n. 35, 2010
Boletim n. 36, 2010
Boletim n. 37, 2011
Boletim n. 38, 2011
Boletim n. 39, 2011
Boletim n. 40, 2011
Fonte: Tractebel (2012).
Destacamos, no ano de 2008, que a matéria principal de cada capa
apresentada no boletim remeteu predominantemente a frações discursivas
183
identificadas como: lucro líquido; mais usinas; expansão do parque gerador.
Observamos, portanto, a presença dominante de elementos que valorizaram o
potencial de ocupação de mercado.
Nos anos subsequentes, contatamos a inserção de notícias (imagens e texto)
que versam a respeito da dimensão ambiental - Boletins n. 30 e n. 34, em 2010, e no
ano seguinte, destaque para os Boletins n. 35 e n. 36; e dimensão social é
destacada, em 2009, no Boletim n. 31 e, em 2011, Boletins n. 38 e n. 39. Contudo,
prevalecem matérias de capa focando a dimensão econômica quando a situação da
empresa está em alta e, quando a empresa apresenta resultados não muito
favoráveis, a ênfase das notícias concentra-se nas demais dimensões. A empresa
nos parece, portanto, manter seus colaboradores e, quiçá, atrair talentos, fazendo
uso do discurso da sustentabilidade para gerar benefícios – transparência,
reputação, conscientização, melhoria contínua – como ressalta a WBSCD (2002).
No que se refere à palavra do presidente proclamada no boletim, notamos a
presença das frações discursivas - crescimento com sustentabilidade; fontes
renováveis; atuação sustentável - para qualificar o discurso econômico. Neste
sentido, esta fonte discursiva busca enfatizar, desde a palavra do presidente até seu
encerramento, que a empresa é lucrativa, busca o crescimento e pretende expandir
seus negócios com responsabilidade social e ambiental.
Depreendemos, portanto, que o boletim informativo, em se tratando de
consulta, é direcionado a um público restrito, principalmente os empregados, tendo
em vista sua baixa capacidade de circulação física, apesar da acessibilidade ao
público em geral, e torna-se um discurso propagandístico da empresa, focando
aspectos positivos relacionados às três dimensões da sustentabilidade.
Na dimensão econômica prevaleceu a evidenciação dos lucros obtidos, da
expansão do parque gerador, a capacidade produtiva e a grandeza da empresa no
que se refere a sua consolidação como a maior produtora privada de energia elétrica
no Brasil. As dimensões ambiental e social foram manifestadas de maneira a
valorizar a imagem e a reputação da empresa frente à sociedade e seus
colaboradores. Apesar de não citar explicitamente, podemos verificar que as ações
realizadas e divulgadas pela empresa são práticas ditas de sustentabilidade, mas
que invariavelmente são oriundas do comprometimento firmado por meio dos
programas ambientais estabelecidos para obtenção e manutenção das licenças
ambientais.
184
Ressaltamos que a empresa divulga o que realiza no que tange as suas
ações voltadas às dimensões ambiental e social. Todavia, o processo de
licenciamento ambiental por si só exige, como condicionantes obrigatórias, medidas
mitigadoras e/ou compensatórias, em função dos impactos causados pela atividade
operacional desempenhada.
Nesse sentido, entendemos que a empresa nos conduz a imagem de estar
cumprindo com suas obrigações sem enfatizar que aquilo que ela diz fazer (ações)
ainda que se trate de uma obrigação legal assumida no processo de licenciamento.
Permanece, pois, do manifestado no discurso que a empresa realiza as ações em
prol da sustentabilidade de maneira endógena proativa. Entretanto, é de
conhecimento que a empresa, em função de sua atividade ser considerada de
impacto relevante em relação ao meio ambiente, possui obrigações a serem
cumpridas e exigidas por órgãos licenciadores – ações exógenas passivas. Isto é, as
ações tendem a ser invariavelmente exigidas pela legislação e necessárias para a
manutenção das licenças ambientais; e, por conseguinte, à sobrevivência do
negócio.
O termo propagandístico utilizado não pretende ser pejorativo, mas nos dá o
entendimento de que a empresa utiliza o boletim informativo para divulgar uma
imagem de si que busca a sustentabilidade do negócio. A empresa procura
manifestar equilíbrio em todas as suas ações, e “que só assim é possível manter
nossa solidez no futuro” (TRACTEBEL, 2009 – Boletim Informativo, n. 30, p. 2).
Das fontes discursivas analisadas, identificamos que o Relatório de
Sustentabilidade (RS) é um instrumento de relação principalmente com o investidor
e a empresa, conforme constatação neste estudo, procura atingir seu objetivo
econômico, mas também ambiental e social. Ademais, ela intenta gerar benefícios
por meio de sua ação administrativa frente à geração de energia elétrica.
Por sua vez, corroborando as entrevistas, press releases e boletim
informativo, a empresa declara o que faz, possuindo uma agenda discursiva própria.
Logo, o que, por ventura, deixa de fazer, poderia estar manifestado no contraditório
elaborado por terceiros, neste caso os jornais analisados. Nestas mídias analisadas,
a sociedade em geral (outra fonte de enunciação não estudada nesta tese) mantevese silenciada.
Constatamos, portanto, no período analisado, que os jornais não revelam
ações negativas da empresa. A Folha concentrou informações a respeito da
185
empresa estudada na dimensão econômica – ressaltando o contexto global -,
enquanto que o jornal DC esteve entremeado com notícias que dizem respeito as
dimensões ambiental e social, focando o contexto local.
A partir desta apresentação e interpretação do processo de investigação no
corpus, discutimos nas próximas seções, sob a perspectiva da Análise Sociológica
do Discurso, a análise das posições discursivas, das configurações narrativas e dos
espaços semânticos na construção do discurso da sustentabilidade em uma
empresa brasileira do setor de energia elétrico.
6.3
Posições discursivas
A análise de posições discursivas está associadas às frações constitutivas
identificadas, que remeteram a uma espécie de orientação geral (CONDE, 2009)
para realização da análise e construção do discurso da sustentabilidade da Tractebel
Energia S. A. Estas posições, segundo Ruiz Ruiz (2009, p.13), podem ser
entendidas como “papéis discursivos típicos socialmente definidos (ou questões) que
os sujeitos adotam em suas práticas discursivas concretas”.
Destarte, a análise das posições discursivas permitiu uma conexão dos
discursos concretos com o espaço social no qual tem surgido e, neste sentido, uma
interpretação sociológica do discurso.
A leitura ordenada estabelecida durante as tarefas iniciais de análise serviu de
caráter provisório para a leitura do corpus - visual ou textual – permitindo estabelecer
comparações entre um e outro material analisado e detectar a variabilidade entre
eles. Associadas as imagens fizemos a leitura e análise textual, em outros termos,
consideramos também a retórica que acompanhava as imagens apresentadas no
Relatório de Sustentabilidade.
A partir da apresentação e interpretação dos relatórios apresentadas neste
capítulo, incitamos o seguinte questionamento: Que tipo de lógica (visual e retórica)
surge no discurso da empresa por meio dos Relatórios de Sustentabilidade? Com
isso,
buscamos
reposicionar
a
empresa
em
seu
discurso
(Figura
20),
desconsiderando uma análise linear propriamente dita, considerando ser este um
estudo qualitativo.
186
Pelo mapeamento, observamos que a empresa tem passado por um processo
de amadurecimento e transformação, na qual a imagem apresentada nos relatórios
referente às instalações e natureza foi se modificando ao longo dos anos (de 2007 a
2011). Nos últimos anos, veiculou-se uma imagem de empresa que está preocupada
em evidenciar questões ambientais (natureza) e sociais (humana), além dos
aspectos econômicos.
Figura 20 - Discurso institucional - Relatório de Sustentabilidade, 2007 a 2011
NATUREZA TRANSFORMADA
(reconstruída)
2011
2010
Instalações mais duras;
não adaptadas à
natureza
2009
TEMPO
Maior adaptação da
empresa ao entorno
(cíclico)
Pessoas – em reflexão
(pensando;
comunicando-se com o
leitor)
Instalações com
tecnologias mais limpa;
flexível; empresa mais
adaptada a natureza
2008
Pessoas – em ação
(trabalhando; não
interage com o leitor)
2007
Transformação radical
pela empresa do
entorno (linear)
NATUREZA VIRGEM
(intacta)
Fonte: Elaboração própria.
Assim, o discurso visual foi observado em paralelo com o discurso textual, isto
é, analisamos em conjunto a retórica que acompanhava esta imagem, bem como
outros discursos promovidos pela empresa (entrevistas, press releases, boletim
informativo) e pela mídia nos jornais. A partir daí se foi reconstruindo o discurso em
cada texto (áudio-verbo-visual) e atentando a dinâmica existente entre eles.
A tendência do discurso visual, a princípio, deve manter a mesma trajetória do
discurso textual (Figura 21), conforme foi evoluindo ao longo dos últimos anos. Por
isso, buscamos textos a partir de diferentes construções de linguagem. Não tratamos
neste estudo de fazer uma análise cartesiana em cima de eixos, mas de representar
187
uma tendência que ocorre, impossibilitada de ser enquadrada por métodos
quantitativos, tendo em vista sua natureza subjetiva que parte da interpretação do
pesquisador.
Figura 21 - Tendência do discurso da sustentabilidade – RS
NATUREZA
20??
2011
2010
INTERNO
EXTERNO
2009
2008
2007
INSTALAÇÕES
Fonte: Elaboração própria.
Por seu turno, a Figura 22 representa a tendência de evolução da empresa em
um eixo de progressiva tração de trabalho e de uma menor intervenção sobre a
natureza, comparando o ano de 2007 a 2011.
Figura 22 - Tendência de evolução da empresa
RECURSOS HUMANOS
20092
010
2011
PESSOAS
atuação
reduzida
PESSOAS
atuação mais relevante, com
interação ao leitor
Tendência do discurso
da sustentabilidade
INSTALAÇÕES
mais presente e relevante, com
forte intervenção sobre a
natureza
INSTALAÇÕES
presença
reduzida
2007
2008
INSTALAÇÕES
Fonte: Elaboração própria.
188
Pelas imagens que se apresentam nos relatórios, observamos que as
instalações (máquina, construção etc.) representam um modelo de transformação e
de intervenção maior junto à natureza e que vai se modificando ao longo dos anos, e
os recursos humanos em 2011 passam a ter uma presença e uma valorização
melhor, com forte interação junto ao leitor.
Em se tratando das entrevistas (Figura 23), E1 apresentou uma posição
discursiva de acordo com o cargo que desempenha na empresa, adotando um estilo
de discurso politicamente correto que, em outras palavras, apresenta em suas
respostas informação sem emissão de opinião pessoal, respondendo questões
referentes ao âmbito da posição que ocupa na empresa. Para a organização,
segundo Faria e Meneghetti (2001, p. 09), “o discurso ‘politicamente correto’ está
inserido num contexto temporal e de localidade pertinente aos objetivos
organizacionais”. Tal discurso segue uma das formas discursivas – a do discurso
social comum, sugerida por Faria e Meneghetti (2001), na qual a organização faz
uso de expressões que compartilham no processo de construção do discurso
praticado pela maioria, comuns em todos os locais – desde ao chão de fábrica, além
mesmo na sala da presidência.
Figura 23 - Posições discursivas – entrevistados
______ desenvolvimento econômico
(produção; riqueza social)
Dimensão 1
E1
______ crescimento e desempenho econômico
--------------------------------------------______ bônus
______ salários
Dimensão 2
E2, E3,
E6 e E7
______ auxílio social (creche, assistência saúde, vale alimentação)
______ qualificação profissional
--------------------------------------------______ flora, fauna e ictiofauna
______ biodiversidade
Dimensão 3
______ reciclagem
E2, E3,
E4, E5,
E6 e E7
______ emissão de resíduos
______ assentamento população afetada
Fonte: Elaboração própria.
189
Percebemos que o discurso do entrevistado E1 parte de uma ênfase para a
dimensão 1 (econômica) valorando os benefícios econômicos. Enquanto que, os
entrevistados E2, E3, E6 e E7, ressaltam a dimensão 2 (social). Posteriormente, os
entrevistados E2 e E3 passaram a valorar a dimensão 3 (ambiental) durante a
dinâmica da entrevista, corroborado pelos entrevistados E4, E5, E6 e E7.
Em relação ao discurso midiático (Figura 24), a partir da identificação das
frações discursivas, montamos um mapa de posicionamento estabelecido entre o
tipo de mídia (jornais, press releases, revista) em relação às dimensões da
sustentabilidade (econômica, social e ambiental):
Figura 24 – Tipo de mídia versus Dimensões da sustentabilidade
(Triple Bottom Line)
SUSTENTABILIDADE
AMBIENTAL
Diário
Catarinense
DISCURSO DA
Revista
SUSTENTABILIDA
Boa DE
Nova
Folha de
São Paulo
SUSTENTABILIDADE
SUSTENTABILIDADE
ECONÔMICA
SOCIAL
press
releases
Fonte: Elaboração própria.
Na figura 23, podemos analisar a constituição do discurso da sustentabilidade
em relação ao TBL (Triple Bottom Line) de acordo com o tipo de mídia. O jornal
Folha de São Paulo, concentra suas informações a respeito da empresa estudada
voltada a sustentabilidade econômica. O Diário Catarinense, por sua vez,
compreende
notícias
entremeadas
na
sustentabilidade
ambiental
e
a
190
sustentabilidade social. Os press releases divulgados pela empresa concentram-se
entre a sustentabilidade econômica e a sustentabilidade social. A única mídia
analisada, e esperada por ser de elaboração da própria empresa, contemplando os
três pilares da sustentabilidade – econômico, ambiental e social – é a Revista Boas
Novas (Boletim Informativo da empresa).
A respeito disso, Bahia (1990, p. 67) esclarece que o jornalismo em si, além
de difundir a informação, deveria promover o bem comum, estimulando a troca de
ideias, já que seu “dever é mostrar a realidade por trás da aparência”. Percebemos,
pois uma representação de realidade social repassa da por informações
fragmentadas.
6.4
Configurações narrativas e espaços semânticos
As configurações narrativas representaram, neste estudo, uma maneira de
descrever o latente expresso no nível manifesto dos textos e imagens. O conteúdo
espontâneo de aparição de temáticas centrais da pesquisa durante a análise das
entrevistas, relatórios e mídia permitiu o progressivo encadeamento dos temas que
configuraram a base da ASD do discurso da sustentabilidade.
Partindo do eixo principal compreendendo, de um lado, uma natureza virgem
(intacta) e, de outro, uma natureza transformada (reconstruída), constatamos que a
onda de propagação que representa os interesses econômicos permaneceu
imbricada no discurso da sustentabilidade ao longo dos anos (Figura 25) nas
diferentes fontes discursivas.
Acreditamos que a dimensão econômica está indissociada das demais
(ambiental e social). Notamos com o passar do tempo, a inserção de
posicionamentos no âmbito ambiental e social, por parte da empresa, seguindo uma
tendência mundial no contexto organizacional. Esta constatação converge com os
achados no estudo de Kavinski (2009).
A dimensão ambiental passa a ser considerada como um condicionante para
a lucratividade do empreendimento. Isso não representa que a atividade se torne
191
necessariamente menos lucrativa. Mas, a sustentabilidade ambiental passa a
constituir um fator econômico que determina a alocação mais eficiente dos recursos.
Figura 25 - Configuração narrativa – Relatórios de Sustentabilidade
NATUREZA TRANSFORMADA
(reconstruída)
Recuperação do elemento natural
Aspecto harmonioso/natural
Discurso da
sustentabilidade
Valor humano
Resgate
natureza e
pessoas
Recuperação
arqueológica
Imagem cíclica
TEMPO
Empresa industrial
Imagem linear
Participação no mercado
Aspecto superficial
Desenvolvimento econômico
Ênfase instalações
NATUREZA VIRGEM
(intacta)
Fonte: Elaboração própria.
Na Figura 26 estabelecemos as configurações narrativas a partir dos discursos
(entrevistas). Observamos que quando os discursos percorrem na direção da
dimensão econômica, os entrevistados tematizam sobre lucros, royalties, que
envolvem questões globais e econômicas. Num outro extremo, tratam de abordar
sobre comunidade, proteção social, quando questionamos os entrevistados sobre
192
questões mais locais e relacionadas ao meio ambiente e a questões sociais, ou seja,
mantêm-se na dimensão ambiental e social.
Figura 26 - Configurações narrativas – entrevistas
DIMENSÃO ECONÔMICA
DISCURSO
INSTITUCIONAL
DISCURSO
POLITICAMENTE
CORRETO
ROYALTIES
LUCROS
LEGISLAÇÃO
BRASILEIRA
ESTADO
(ANEEL)
GLOBAL
DESLOCAMENTO DE
POSICIONAMENTOS
LOCAL
DISCURSO
INSTITUCIONAL
COMUNIDADE
PROGRAMA
SOCIAL
DISCURSO NA
PRÁTICA
COMPENSAÇÃO
DIMENSÕES AMBIENTAL E SOCIAL
Fonte: Elaboração própria.
Há um deslocamento de respostas no discurso que percorre do da dimensão
econômica às dimensões ambiental e social, visto que ante as questões sociais da
comunidade os entrevistados respondem sob o ponto de vista do mix energético
gerado pela empresa, e quando questionamos temas relacionados ao meio
ambiente logo tratavam de questões econômicas. Percebemos um discurso
entendido como politicamente correto (dimensão econômica) e um discurso mais
relacionado à prática – dimensões ambiental e social. Quando se tenta fazer uma
aproximação de tais dimensões, remetemos novamente a um deslocamento local e
global.
Nas ciências sociais existe uma série de modelos analíticos que servem de
ajuda na prática de ASD. Um deles trata-se da configuração triangular baseada no
193
modelo de triângulo de Lévi-Strauss49, constituído a partir de três vértices – natural,
cultural e artificial - que explicam os processos de mudança sociocultural entre um e
outro grupo social. Neste estudo, fizemos uso deste modelo para analisar a
configuração narrativa referente ao discurso da sustentabilidade. Em cada vértice do
triângulo foi possível se observar um nível de cristalização das dimensões da
sustentabilidade – econômica, ambiental e social – que coexistem num momento
histórico determinado, consideradas como um espaço de inscrição do discurso da
sustentabilidade.
Durante
as
entrevistas
constatamos
que
as
questões
econômicas
apresentaram-se como um conceito mais resistente e permanente por parte de
alguns entrevistados (E1, E4, E5) e que vem perpetuando todos esses anos
analisados. A dimensão econômica é manifestada como um conceito resistente e
forte no discurso da sustentabilidade, apesar de muitas vezes ser considerado como
tema central. A partir desta dimensão o discurso é construído de maneira dinâmica
em direção as outras dimensões: social e ambiental. As discussões envolvendo a
dimensão ambiental são tratadas como um conceito central, enquanto que, no que
tange à dimensão social, circunda um conceito emergente no processo de
construção do discurso da sustentabilidade por parte dos entrevistados (Figura 27).
Figura 27 - Configuração narrativa – entrevistados
AMBIENTAL
E5
Conceito
central
E6
E4
E7
E3
E2
DISCURSO DA
SUSTENTABILIDADE
E1
Conceito
resistente
ECONÔMICA
Conceito
emergente
SOCIAL
Fonte: Elaboração própria.
49
Para mais detalhes e aprofundamento do modelo de triângulo de Lévi-Strauss, sugere-se a leitura
de Conde (2009, p.185-195) quando trata dos possíveis modelos de análise já existentes na prática
de Análise Sociológica do Discurso.
194
Numa outra configuração narrativa elaborada, utilizamos também o triângulo
de Lévi-Strauss para estabelecer os espaços semânticos face às dimensões da
sustentabilidade segundo proposto por Sachs (1993). Estes espaços foram definidos
a partir das fontes discursivas - Relatórios de Sustentabilidade, entrevistas e
discursos midiáticos (Figura 28).
Figura 28 - Espaços semânticos das fontes discursivas face às dimensões da
sustentabilidade de Sachs
ECOLÓGICO
Compensação
de danos (troca)
Evolução do
conceito de
sustentabilidade
Manutenção do
sistema de vida
Responsabilidade
Social Corporativa
Reconhecimento do
impacto do
empreendimento
SOCIAL
Preocupação com
acidentes de
trabalho (obras)
Ampliação parque
gerador
(crescimento)
DISCURSO DA
SUSTENTABILIDADE
Sustentabilidade
mais integrada;
Incorporação de
tradição e memória
da comunidade
Indenização – dano
irreversível (perda)
Investimentos
ECONÔMICA
ESPACIAL
CULTURAL
Reparação das
perdas sociais e
culturais
Assentamento da
população
Fonte: Elaboração própria.
Os
espaços semânticos
relacionam-se estreitamente
com o
campo
semântico, entendido como o conjunto de unidades léxicas, consideradas a título de
conjecturas de trabalho, como dotadas de uma organização estrutural subjacente.
Todavia, no percurso da Análise Sociológica do Discurso, a vinculação e a possível
organização estrutural subjacente, se deu desde sua pertinência com o contexto
social, pragmático e histórico da investigação em relação ao discurso da
sustentabilidade – objeto de estudo nesta tese. Aproxima-se, pois, ao ‘domínio
195
semântico’ de Nelson (apud ALONSO, 1998), que trata de relações de similaridade,
contraste, hierarquização e proximidades capazes de gerar sentidos diferentes aos
fatos, cuja utilização pressupõe uma competência social específica.
Assim, na Figura 28, foi possível configurar e delimitar os principais
conteúdos, suas materialidades verbais e suas fronteiras. Ademais, estendemos a
análise e interpretação no uso da língua, nos discursos concretos – institucional e
midiático -, e de como esse discurso se vinculou ou se dissociou as diferentes
formas de abordar o discurso da sustentabilidade. Em tal procedimento, levamos em
consideração os distintos caminhos narrativos, os segmentos argumentativos e
discursivos, que se desenvolveram e foram se reconstruindo através dos discursos.
O discurso da sustentabilidade é manifestado pela empresa enfatizando que
seu crescimento (expansão) é obtido com responsabilidade social e ambiental, com
uso de energia limpa ou renovável e de tecnologias limpas, em prol do
desenvolvimento sustentável apregoado pelo Estado. O discurso revela que a
empresa realiza suas ações em favor da perspectiva de contribuir para o
desenvolvimento sustentável do País, ao utilizar os recursos naturais de maneira
sustentável. Destacamos a tensão junto à sociedade e aos investidores em torno
dos impactos ambientais gerados pela atividade operacional desenvolvida pela
empresa (sociedade/investidores) e da manutenção da atividade econômica frente a
rentabilidade proporcionada (investidores).
Desta maneira, a sociedade é entendida como beneficiária. A empresa
manifesta seu discurso em prol da sociedade. O aumento do fornecimento de
energia elétrica é entendido como necessário para a melhoria da qualidade de vida e
bem estar da sociedade. Inferimos que o discurso busca legitimar o que a empresa
faz – produção/geração de energia elétrica.
Em relação aos investidores, a empresa conduz seu discurso no sentido de
evidenciar sua capacidade e condições de gerar rentabilidade satisfatória dos
negócios. Neste sentido, considerando o contexto econômico, a empresa revela
seus projetos expansionistas e de ocupação de mercado e busca atrair investidores.
A
sustentabilidade
é
entendida
como
uma
variável
propagandística
de
convencimento dos investidores. É predominante no discurso, ao longo dos anos
analisados, a ênfase à dimensão econômica. As demais dimensões são
manifestadas de maneira a corroborar com a imagem positiva da empresa como
coadjuvantes, ou seja, proporcionar lucros com responsabilidade.
196
Em outra perspectiva, a empresa é exigida por lei a realizar medidas
mitigadoras e compensatórias para manter o licenciamento ambiental, e, por
conseguinte, suas atividades produtivas. Assim, a empresa utiliza o discurso para
revelar suas ações em prol do meio ambiente: compensações e indenizações;
manutenção do sistema de vida; responsabilidade social; resgate do patrimônio
cultural (tradição histórica e memória da comunidade); assentamento da população
atingida pelos empreendimentos; dentre outras práticas de sustentabilidade.
Sem nos render à ditadura do método (MORIN, 2001; DEMO 2001),
procuramos buscar uma explicação do que consiste a perspectiva de Análise
Sociológica do Discurso (ASD), visando diferenciá-la e, simultaneamente, aproximála a outras perspectivas (GODOI, COELHO, 2011) e estabelecer uma sistematização
da abordagem direcionada ao campo de estudos organizacionais descrita no
próximo capítulo.
A ASD, portanto, como enfoque metodológico dentro da visão qualitativa
neste estudo, representou uma ferramenta capaz de decompor o discurso,
construindo e evidenciando a face do discurso da sustentabilidade que buscamos
estudar. Ademais, a adoção de tal método contribuiu para o fortalecimento da
tradição de pesquisas qualitativas no campo organizacional brasileiro.
No campo dos estudos organizacionais, o intercâmbio com as discussões do
campo da sociologia nos permitiu desmistificar a análise do discurso ao encontrar
uma metodologia preocupada não com estilo internalista textual, ou com sua
estrutura subjacente, mas com a atuação deste “complexo fenômeno cognitivo e
social” (ALONSO, 1998, p. 332) chamando de discurso.
197
7
SISTEMATIZAÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE SOCIOLÓGICA
DISCURSO (ASD) A PARTIR DA EMPRESA ESTUDADA
DO
A Análise Sociológica do Discurso (ASD) é aplicável a investigações baseadas
em entrevistas pessoais e aos chamados grupos triangulares, e em outros tipos de
investigações qualitativas, como é o caso da análise dos discursos da imprensa
escrita – jornais, revistas etc. Constitui-se a ASD, portanto, em um esforço de
‘análise-interpretação’ que, num primeiro momento, predomina o termo ‘trabalho’
(medido em tempo, como em qualquer atividade laboral) sobre a ‘análiseinterpretação’. E, num segundo momento, a ‘análise-interpretação’ se sobressai em
relação ao (tempo de) ‘trabalho’ (CONDE, 2009).
Todavia, os aspectos metodológico-técnicos (VALLES, 1997) de análise
sociológica do corpo do texto e imagens constituem o alicerce da investigação e
determinam como são estabelecidas as bases de construção do sistema de
discursos (CONDE, 2009). A opção pela metodologia da ASD nesta pesquisa
ocorreu em virtude da completude e detalhamento do método que os espanhois vêm
conduzindo, com o alerta de que o uso dos procedimentos depende do processo
criativo e singular de cada pesquisa. Dois fatores principais estão associados a esta
escolha: (1) ao aprofundamento de pesquisas iniciadas no Brasil pela professora
Christiane Kleinübing Godoi, em 2001, ao desbravar, a nível teórico, uma
possibilidade de análise do discurso no campo organizacional; (2) a realização
anterior de um ensaio teórico que objetivou a sistematização do método de Análise
Sociológica do Discurso na prática voltada ao campo organizacional brasileiro
(GODOI; COELHO, 2011).
A pesquisa ganhou robustez a partir de elementos abstraídos nas orientações
junto a Araceli Serrano Pascual (professora da Universidad Complutense de Madrid UCM) e a Fernando Conde Gutiérrez del Álamo (diretor do instituto Comunicación,
Imagen e Opinión Pública – CIMOP), durante o estágio de curta duração (doutorado
sanduíche) realizado em Madri na Espanha, no período de Setembro/2011 a
Janeiro/2012, bem como das vivências desta metodologia realizadas no instituto
Colectivo IOÉ.
A sistematização proposta nesta tese é apresentada neste capítulo e tratamos,
portanto, de um fluxo contínuo de procedimentos adotados, de idas e vindas durante
198
todo o processo de interpretação e análise. Não é nossa pretensão prescrever uma
fórmula padronizada de praticar ASD, dado que há diversas variações entre os
autores. Intentamos propor uma série de etapas a serem perseguidas durante a
utilização do método nos estudos organizacionais, a partir do estudo realizado e das
práticas existentes em outras áreas de conhecimento.
As etapas são procedimentais flexíveis, que podem servir de guia de
orientação à prática da pesquisa, pois, no entender de Conde (2009), não se pode
confundir criatividade com anarquia metodológica. Dividimos a Análise Sociológica
do Discurso em três amplos procedimentos (Figura 29): (1) realização de trabalhos
práticos iniciais, desde a escolha do caso e das fontes discursivas; (2)
procedimentos de interpretação; e (3) procedimentos de análise realizada
simultaneamente ou não.
Figura 29 - Procedimentos de Análise Sociológica do Discurso (ASD)
1) Trabalhos práticos iniciais
• 1.a - preparação da análise dos textos e imagens
• 1.b - preparação do trabalho de leitura
• 1.c - separação entre a decomposição e a abordagem integral do texto
• 1.d - anotações gerais de textos e imagens
2) Procedimentos de interpretação
• 2.a - conjecturas pré-analíticas
• 2.b - estilos discursivos
3) Procedimentos de análise
• 3.a - Posições discursivas
• 3.b - Configurações narrativas
• 3.c - Espaços semânticos
Fonte: Elaboração própria.
199
Após delineamento do estudo de caso a ser investigado, no conjunto de
trabalhos
práticos
iniciais
atentamos
em
relação
às
fontes
discursivas,
principalmente, para o detalhamento das seguintes etapas:
Etapa 1: TRABALHOS PRÁTICOS INICIAIS
(1.a) Preparação da análise dos textos e imagens:
• Elaboração de mapas de posicionamento e identificação de pontos de conflito
(texto e imagem);
• Identificação de temáticas significativas;
• Análise do contexto – fontes discursivas (texto e imagem);
• Elaboração do perfil dos entrevistados;
• Anotação das primeiras intuições, sensações, ideias e conclusões das
entrevistas realizadas; e
• Transcrição literal das entrevistas.
Os mapas de posicionamento ajudam a visualizar o comportamento ou o fluxo
de ideias considerando os textos e as imagens. É fundamental anotar outras
questões consideradas relevantes, como identificar os temas mais significativos e,
sobretudo, os significantes, as expressões literais que pareçam ser mais relevantes
para o objeto de investigação. A identificação destas temáticas significativas auxiliam
na perseguição do objetivo da pesquisa – nesta tese, foi analisar a construção do
discurso da sustentabilidade -, a partir das frações discursivas que frequentemente
aparecem no discurso. A análise do contexto, na qual estão inseridas ou coletadas
as fontes discursivas, permite marcar as posições e dar sentido às estratégias que
realizam as práticas discursivas.
Quando da realização de entrevistas, a elaboração do perfil dos entrevistados
contribui para subsidiar a análise da dinâmica dos diálogos realizada. Nesta
preparação, temos ainda que fazer anotações daquilo que emerge das primeiras
percepções do pesquisador. Estas primeiras ideias – evocações do que está em
jogo nesta dinâmica – são representadas graficamente (gráficos, matrizes,
esquemas,
figuras
etc.)
num
esquema
em
que
tratamos
de
assinalar,
essencialmente, os seguintes aspectos: a) grupos de pessoas que agem ou pensam
diferentemente da maioria com posições discursivas diferenciadas, formando
subgrupos; b) o jogo de diferenças e de oposições que se vão produzindo entre uns
e outros subgrupos; c) cada subgrupo, com alusão as suas posições dentro do
200
grupo; principais linhas de consenso e de diferenças surgidas entre os subgrupos.
As representações gráficas, portanto, ajudam a visualizar e ordenar os resultados da
análise realizada e identificar as dimensões mais relevantes das linhas de
interpretação e análise.
(1.b) Preparação do trabalho de leitura:
• Criação de uma ordem inicial e provisória de leitura (ordem inteligível) das
entrevistas, trechos midiáticos e imagens que compõem o corpus de análise;
• Leitura literal do texto/imagem, atentando para a mudança da forma habitual de
leitura; e
• Identificação de peculiaridades geradoras de pistas que conduzem as
conjecturas.
Na preparação do trabalho de leitura, sugere-se separar as fontes discursivas e
determinar a leitura de cada fonte na íntegra (e na ordem cronológica, quando
possível) para facilitar a percepção da influência do contexto no discurso, bem como
a permanência ou não na forma de manifestar o discurso. Selecionar as imagens e
os textos permite, durante o processo de análise, identificar as peculiaridades que
dão indícios para a condução das conjecturas analíticas.
(1.c) Separação entre a decomposição e a abordagem integral:
• Aproximação global e integral, de maneira mais holística para, posteriormente,
realização de um trabalho mais particularizado e de detalhes;
• Decomposição analítica – unidades elementares de análise (rubricas, temas ou
categorias de análise, unidades de sentido etc.) para posterior síntese.
O pesquisador pode fazer uso de sua criatividade e capacidade dissertativa, a
qualquer tempo, para aproximar-se da análise global da temática proposta. A
decomposição analítica auxilia na identificação do posicionamento discursivo e seus
respectivos sujeitos.
(1.d) Anotações gerais:
• Aproximação texto de forma global e integral;
• Desenvolvimento posterior de análise particularizada e detalhada (aproximação
integrativa).
201
No caderno de notas apontamos as diversas incidências, impressões e
intuições que vão traçando o trabalho de campo, consideradas muitas vezes como
iluminadoras do contexto em que se desenvolve a pesquisa. A releitura das
transcrições pode auxiliar, posteriormente, na análise de associações, de
deslocamentos, das tensões, dos giros, e das próprias expressões produzidas
durante as entrevistas. Tais anotações ajudam a responder determinados
questionamentos da investigação ou na tomada de decisões para as seguintes
etapas a serem realizadas.
Etapa 2: PROCEDIMENTOS DE INTERPRETAÇÃO
Uma vez realizados os trabalhos iniciais, prosseguimos com os procedimentos
de interpretação dos textos e imagens propriamente ditos, situando os sujeitos
discursivos em seus contextos.
(2.a) Conjecturas analíticas:
• Neste momento levantam-se as primeiras intuições ou hipóteses prévias
(conjecturas), tratando de expressar e formalizar a apreensão mais geral dos
textos e imagens. Por meio destes indícios, busca-se a captação do possível
sentido e compreensão em sua totalidade.
Não existem regras para se fazer conjecturas, mas métodos para validá-las. A
validação pode, portanto, dar-se por meio da análise da coerência e consistência do
conjunto de textos e imagens junto as conjecturas estabelecidas, com verificação do
encaixe da consolidação destas, ou estabelecimento de novas conjecturas. As
conjecturas são traçadas e constantemente utilizada durante todo o processo
investigativo, buscando, portanto, sua validação.
(2.b) Estilos discursivos:
• A partir das conjecturas identificam-se os estilos discursivos, realizando análises
das formas mais expressivas, idiossincráticas, singulares, enunciativas, dos
giros expressivos, estilos narrativos e tipos de aproximação/construção
discursiva de um fenômeno social que foram surgindo em cada entrevista
(transcrição), bem como nos trechos e imagens extraídos dos relatórios,
boletins, revista institucional e da mídia.
202
Nesta pesquisa, os estilos discursivos foram analisados no interior de cada
fonte
discursiva:
primeiramente,
no
discurso
institucional
-
Relatórios
de
Sustentabilidade e entrevistas - e, posteriormente, no discurso midiático – jornais
(divulgados por terceiros), bem como press releases e boletins informativos
(divulgação própria da empresa). A etapa 2, nos proporciona subsídios para
avançarmos nos procedimentos de análise.
Etapa 3: PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE
Esta etapa abrange a continuação do trabalho de interpretação, avançando na
análise dos textos e imagens de maneira global. Iniciamos tais procedimentos que
são desenvolvidos de forma parcialmente simultânea as etapas anteriores.
(3.a) Análise das posições discursivas:
• Perspectivas ou pontos de vista que os sujeitos abordam sobre o tema;
• Tentativa de responder às perguntas: Quem fala? De que posição se fala ou se
produz o discurso (lugar social)?
Esta etapa é marcada pela habilidade, experiência e sensibilidade do
pesquisador. O momento de interpretação reúne todo o trabalho laboral das etapas
já desenvolvidas. Desvelar ‘quem fala’ e ‘em qual posição o sujeito se encontra’,
auxilia no processo de análise. Na medida em que as posições individuais e grupais
se expressam, é fundamental que o pesquisador reveja a análise contextual para
identificar a polarização ou não de posições dominantes, a representação social e de
generalização do discurso. Nas entrevistas, esta etapa permite identificar se os
discursos são produzidos e/ou reproduzidos em grupo. Assim, as posições
discursivas servem de guia geral na construção do discurso para proceder a análise
das configurações narrativas.
(3.b) Análise configurações narrativas:
• Perspectiva ou pontos de vista que os participantes abordam o tema;
• Tentativa de responder às perguntas: O que está em jogo? O que se quer dizer
com o que se disse?
• Geração de uma primeira hipótese sobre dimensões, eixos ou vetores dos
textos.
203
A análise das configurações narrativas relaciona-se com a das posições
discursivas, podendo ocorrer simultaneamente. Consideramos, neste procedimento,
as tensões, os conflitos, as diferenças de posições e de opiniões expressadas pelos
sujeitos discursivos. Essa análise busca, pois, apontar o eixo principal da mensagem
manifestada no discurso. Em outras palavras, procuramos identificar o que está em
jogo, para quem se direciona o discurso e o que se busca por meio desse discurso.
3.c) Análise dos espaços semânticos:
• Configuração e delimitação dos principais conteúdos e suas materialidades
verbais;
• Tentativa de responder às perguntas: Do que se fala? Como se organiza a fala?
• Análise do uso da língua, dos discursos concretas dos participantes, e de como
esse discurso se vincula ou se dissocia as diferentes formas de abordar o objeto
de pesquisa.
A análise dos espaços semânticos se desenvolve a partir de elementos
básicos, tais como: (1) análise dos atratores semânticos (principais expressões
verbais e simbólicas que organizam e configuram o campo de significações de cada
espaço); e (2) análise dos eixos discursivos (que vinculam um ou outro atrator
semântico, tecendo a trama que relaciona um espaço semântico e outro).
Na análise de distanciamento entre a análise das configurações narrativas e
dos espaços semânticos é realizada em função dos objetivos da pesquisa. Todos
estes procedimentos elencados resultam na elaboração de um texto escrito –
relatório, informe, livro, artigo etc. -, dos resultados que constroem, de forma
narrativa, o sistema de discursos analisado durante toda a investigação.
Complementarmente
aos
procedimentos
de
interpretação
e
análise,
buscamos realizar a análise de associações – temas, conteúdos, expressões etc. -,
de deslocamentos – existência ou não de conflitos, repressão ou censura -, bem
como a análise de condensações - interseções de várias cadeias associativa,
entendidas como porta de entrada (acesso) ao latente.
Não se pretende com essas sínteses esquemáticas, que acabam,
inevitavelmente, por simplificar o método, transmitir a impressão de demasiada
formalização e manualização simplificadora. A Análise Sociológica do Discurso é um
processo criativo, intuitivo, reflexivo, minucioso e, como adverte o próprio Conde
(2009), que exige tempo de trabalho, atenção, concentração, dedicação à leitura,
204
pois está repleto de idas e voltas, contrastes, esclarecimentos e matizações na
busca de regularidades e diferenças.
205
8
CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES
Este capítulo apresenta as conclusões, as limitações e recomendações para
futuras investigações no campo dos estudos organizacionais.
8.1
Conclusões
O percurso desenvolvido neste estudo iniciou por algumas inquietações sobre
a complexidade do discurso no contexto organizacional, especificamente no que
tange à sustentabilidade. O discurso da sustentabilidade tornou-se objeto desta
pesquisa em razão de estar imiscuído no jargão dos negócios, tornando-se uma
palavra de ordem e de uso politicamente correto. Isto posto, notamos que diversas
são as fontes discursivas que emitem tal discurso. Dos estudos teóricos outrora
realizados, observamos que o discurso da sustentabilidade vem sendo fragilizado
por críticos como um instrumento propagandístico, e, por vezes, falacioso e
banalizado.
Nossa inquietação esteve mais centrada em buscar desenvolver uma
abordagem metodológica que atribuísse mais robustez aos argumentos críticos do
discurso. Nesse ínterim, optamos pela abordagem discursiva crítica (GORDO, 2008),
proveniente da Escola Qualitativista Crítica de Madri - Análise Sociológica do
Discurso (ASD), posicionada no nível social-hermenêutico (ALONSO, 1998; CONDE,
2009). Mais do que um método para analisar discursos, o que encontramos na ASD
foi uma série de práticas e procedimentos que os sociólogos têm usado de forma
muito diferente em seu trabalho profissional. Assim, compreender a construção do
discurso da sustentabilidade a partir de uma abordagem metodológica – ainda não
enraizada no Brasil - consistiu nosso maior desafio.
Durante o processo investigativo no que se refere à utilização da metodologia
desenvolvida por espanhois, sentimos ausência de um guia, um direcionador que
permitisse a compreensão na execução dos procedimentos, e ainda esclarecesse
como as as fontes discursivas poderiam ser exploradas, analisadas e interpretadas.
Foi no campo de pesquisa que sentimos a necessidade de propor tal sistematização.
Na ausência de uma prescrição metodológica, optamos por buscar segurança
na epistemologia, desenvolvendo, inicialmente, as bases epistemológicas de
206
sustentação da tese. A teoria crítica apresentou-se não exatamente como uma visão
de mundo prévia do pesquisador, mas como o olhar paradigmático mais coerente
com o método escolhido e com a visão critica sobre o tema da sustentabilidade. O
percurso teórico também teve significativa relevância ao estabelecer o escopo desta
pesquisa – apresentação de resultados de outros estudos que estavam
proximamente relacionados -, compartilhando com o leitor a importância de se
estudar, no campo organizacional, o discurso da sustentabilidade tanto institucional
quanto midiático, sob a perspectiva da Análise Sociológica do Discurso. Estes
puderam criar parâmetros para a interpretação e análise final, sendo consolidados
pelo percurso metodológico, viabilizando a abordagem crítica discursiva optada no
estudo.
Cabe destacar que tomamos o cuidado em descrever que a sistematização
proposta consiste num fluxo contínuo de procedimentos adotados, de idas e vindas
durante todo o processo de interpretação e análise. Não foi nossa pretensão
prescrever uma fórmula padronizada de praticar a Análise Sociológica do Discurso,
dado que há diversas variações entre os autores. Intentamos propor uma série de
etapas a serem perseguidas durante a utilização do método nos estudos
organizacionais, a partir dos estudos realizados, principalmente de Conde (2009), e
das práticas existentes em outras áreas de conhecimento. O desafio ampliou-se na
medida em que ousamos propor uma sistematização para uma abordagem
qualitativa, indo além do que foi proposto por Conde (2009), principalmente em
virtude de inserir, no interior das etapas, a análise de materiais visuais.
A imersão na Espanha por um período na égide da abordagem da ASD,
principalmente no encontro com autores da sociologia espanhola junto a Universidad
Complutense de Madrid e instituto Comunicación, Imagen y Opinión Pública, nos
permitiu apresentar e discutir nossa proposta de pesquisa, na qual foi entendida
como pertinente na evolução e, em especial, na aplicação desta abordagem no
contexto organizacional. A partir disso, conduzimos a análise da construção do
discurso da sustentabilidade em uma empresa do setor de energia elétrica.
Intentamos, portanto, por meio deste sujeito discursivo (empresa), cumprir o objetivo
de analisar a construção do discurso da sustentabilidade. E a pergunta de pesquisa
– Como se manifesta o discurso da sustentabilidade no discurso institucional e
midiático em uma empresa do setor de energia elétrica? – tornou-se o elemento
207
norteador da construção não somente das etapas do trabalho, mas também das
etapas do método que, posteriormente, nos levou à sistematização do mesmo.
Concluímos, portanto, que a intertextualidade é manifestada no discurso à
medida que expressa, conduz a significados específicos para os três atores
envolvidos – Estado, mercado e sociedade. Fica explícito no discurso que a empresa
estudada quer continuar crescendo do ponto vista econômico, ela precisa, pois, da
confiança dos investidores no intento de atrair capital, financiamento de seus
projetos expansionistas. Com a intencionalidade de zelar e valorizar sua imagem, a
empresa procura utilizar o discurso da sustentabilidade para evidenciar que é
lucrativa realizando suas ações, com responsabilidade ambiental e social. Dito isso,
não podemos deixar de destacar o que está silenciado no discurso, ou seja, a
empresa atende a todas as exigências legais para a manutenção das licenças
ambientais no intuito de continuidade dos negócios e, principalmente, no projeto de
expansão e ocupação de mercado. Em outras palavras, o discurso da
sustentabilidade manifesta-se, principalmente, na direção de transparecer a
competência da empresa de gerenciar os riscos inerentes a uma atividade de
significativo impacto ambiental e ainda oferecer credibilidade à sua continuidade no
projeto de crescimento econômico para os stakeholders.
A contribuição desta pesquisa para a empresa estudada encontra-se na
utilização dos resultados para um processo de reflexão e auto-avaliação, longe de
caracterizar um desmonte ou construção de uma imagem. Neste momento,
destacamos que os achados não se encerram em si mesmos.
De acordo com a abordagem metodológica utilizada, trata-se de um processo
que leva em consideração dentre os diversos fatores, a percepção do pesquisador.
Enfatiza-se que durante todo o percurso da pesquisa estivemos centrados no
problema de pesquisa proposto. Ademais, os resultados podem e devem ser
questionados por aqueles que estiverem em outra posição como observadores.
A partir do material empírico produzido pelos sujeitos discursivos – empresa e
mídia estudadas -, passamos a compreender o discurso como parte da construção
da realidade. Ao analisarmos o discurso da sustentabilidade, podemos elencar
alguns pontos, no intuito de responder Quem fala? De que posição se fala? Do que
se fala? O que está em jogo? Como se organiza a fala?
208
 A empresa é responsável pela elaboração do discurso. Não é anormal que o
discurso manifeste que a empresa realiza ações em favor das três dimensões
da sustentabilidade;
 Demonstrar que a empresa atinge seus objetivos econômicos com maestria
considerando em seu planejamento aspectos ambientais e sociais. Do discurso
manifestado, depreendemos que há o entendimento da necessidade e
importância de aumentar a oferta de energia elétrica constante no projeto de
desenvolvimento do Brasil. Assim, a empresa internaliza e externaliza seu
papel na sociedade;
 A produção de energia elétrica é legitimada, apesar de seus impactos
ambientais, pelo poder de convencimento imposto de que o consumo de
energia é entendido como uma necessidade básica, isso ocorre se não
considerarmos o contexto de recepção. A melhoria da qualidade de vida da
sociedade é superior com a presença da empresa, no entendimento dela. Fica
implícito no discurso que todos são beneficiados isonomicamente nas três
dimensões da sustentabilidade e que a empresa está comprometida com esta
realidade. A empresa enfatiza o que faz de melhor para a sociedade e não
destaca com profundidade os danos irreparáveis ao meio ambiente, bem como
as desigualdades sociais. Nesse sentido, ela manifestou que cumpre com suas
obrigações por meio das compensações ambientais;
 Está explícito no discurso que a empresa opta, preferencialmente, por
produzir energia elétrica com uso de tecnologias limpas e renováveis. A
empresa manifesta solidariedade com as gerações futuras. Entretanto, ela
aproveita uma oportunidade de mercado frente ao processo de privatização
deflagrado nas últimas décadas no Brasil. Considerando que o Brasil possui
características geográficas e hídricas favoráveis, notamos que as ações da
empresa vão ao encontro do uso de tais tecnologias. Em outras palavras, o
governo atrai investidores para o setor e a empresa luta para ocupar mercado
com os recursos naturais disponíveis. Desta maneira, a sustentabilidade é
considerada como um discurso oportuno por conta de configurações
institucionais.
 É manifesto no discurso que a empresa preocupa-se com a preservação dos
recursos naturais e do meio ambiente. A empresa busca destacar uma
imbricação positiva à medida que busca seus objetivos econômicos. As
209
dimensões - ambiental e social - apresentam-se inseridas no planejamento
para o desenvolvimento econômico da empresa como uma variável necessária
para a sobrevivência do negócio. De maneira implícita, a empresa faz parte do
engendramento necessário do sistema social que gera emprego, promove a
segurança social e respeita os aspectos culturais;
 No discurso da sustentabilidade organizacional a empresa é manifestada em
uma abordagem socialmente responsável, corroborando o estudo de Kavinski
(2009). Ela ressalta ser uma empresa transparente no intento de legitimar suas
ações frente à sociedade e ao mercado. Ela faz uso desse discurso para
melhorar sua reputação ao longo dos anos analisados, bem como criar valor
financeiro e atrair capital.
 Nas fontes discursivas pesquisadas não foram encontradas manifestações
contraditórias ao discurso da sustentabilidade da empresa. O contraditório era
esperado pelo pesquisador à medida que outras pesquisas apontavam nesse
sentido (REZENDE, 2007; SEVÁ, 2008; COELHO; GODOI, 2010, para
exemplificar).
A empresa, portanto, desenvolve suas atividades operacionais de acordo com
a legislação existente. Ela cumpre seu papel enquanto empresa, quando revelou
estar interessada em ser uma empresa geradora e transmissora de energia elétrica
com responsabilidade socioambiental. Enfatizando de forma contextualizada nas
fontes discursivas analisadas, a empresa é apresentada com sua capacidade
produtiva e de geração de retorno do capital investido. Seu manifesto esteve focado
em ser eficiente e eficaz do ponto de vista econômico, incorporando uma demanda
de mercado, isto é, realizar sua atividade operacional evidenciando estar imbricada
com a sustentabilidade.
Em outra perspectiva, salientamos a inexistência do contraditório no que
tange os impactos negativos gerados pela atividade desempenhada, mas sim a
mídia revelou a ideologia explícita da contribuição empresarial no que tange a
sustentabilidade. Nas fontes discursivas analisadas – Relatórios de Sustentabilidade,
entrevistas, press releases e boletim informativo -, sendo estas elaboradas e
divulgadas pela empresa, o discurso manifestado segue, de certa forma, uma
tendência do próprio mercado: enfatizar aquilo que fortalece a imagem e a
necessidade de aumentar a produção da energia elétrica para a sociedade.
210
Entretanto, quando são analisadas as fontes discursivas midiáticas divulgadas
por terceiros (e não pela empresa), o discurso da sustentabilidade manifestou-se
sem a presença da contradição. Tínhamos como pressuposto inicial que tais fontes
pudessem revelar a contestação da sociedade frente à sustentabilidade da atividade
de geração e transmissão de energia elétrica da empresa em estudo. Como não foi
observada a presença do contraditório na mídia, depreendemos que é possível a
sociedade incorporar tal discurso da empresa como uma “normalidade”. O progresso
e o desenvolvimento parecem caminhar juntos. Em outros termos, a sociedade nos
parece aceitar que o bem (energia elétrica) fornecido “é um bem essencial a vida”,
ou que a sociedade seja incapaz de contribuir ou mesmo interferir no projeto de
desenvolvimento do país.
Considerando, pois, que a sociedade está sendo conduzida e não
participando do processo decisório de forma ativa, ela não demonstra forças
suficientes para lutar por seus interesses. O processo de tomada de decisão na
empresa pode ser considerado como induzido, ou ainda “não democrático” por um
sistema dominado pela lógica da economia de mercado. Neste caso, entendemos
que o projeto de desenvolvimento é promovido pelo Estado e contribui com esta
realidade.
Não
existem
dúvidas
de
que
os
empreendimentos
geradores
ou
transmissores de energia elétrica provocam significativos impactos positivos e
negativos frente à sociedade. Assim, entendemos que o discurso da sustentabilidade
justifica para a sociedade que os benefícios proporcionados são superiores aos
impactos negativos gerados. O ator sociedade, portanto, ao não manifestar seu
posicionamento dá significado ao projeto de desenvolvimento do Estado. Neste
sentido, entendemos que a sociedade encontra-se não emancipada.
Existe um entendimento (mito) de que o discurso da sustentabilidade recai
apenas na dimensão ambiental. Todavia, o discurso da sustentabilidade estudado
demonstrou enfatizar a dimensão econômica como principal condutor das ações e,
as demais dimensões ambiental e social são visualizadas como integrantes do
planejamento para atingir os objetivos econômicos. A evolução do discurso da
sustentabilidade analisado junto à empresa, não é isonômico entre as três
dimensões.
Do período estudado, observamos que a dimensão econômica está
indissociável às demais dimensões. Contudo, notamos, com o passar do tempo, a
211
inserção de posicionamentos no âmbito ambiental e social, por parte da empresa,
seguindo uma tendência mundial no contexto organizacional. Esta constatação
confirma a conjectura levantada neste estudo, de que a empresa percorreu, seja por
conscientização ambiental, seja oportunismo de mercado ou restrição legal, ao longo
dos anos, em se tratando do discurso da sustentabilidade, de uma máxima
intervenção e maior impacto em relação ao meio em que opera suas atividades para
uma atuação de mínima intervenção e menor impacto em relação ao seu entorno.
O discurso da sustentabilidade não é uma construção ingênua (LIMA, 2003).
Entendemos que qualquer posicionamento é carregado de interesses, sejam eles
individuais ou coletivos. A construção do discurso da sustentabilidade manifestada
neste estudo não fugiu a este pensamento. Uma empresa cuja atividade operacional
é considerada de alto impacto ambiental precisa apresentar justificativas à
sociedade que realiza com responsabilidade suas ações.
Estas
inferências
foram
possíveis
a
partir
das
fontes
analisadas,
principalmente, quando do uso de material visual nos incitou a repensar os achados,
trazendo um efeito que o texto não reproduz, conectando-se diretamente o
emocional. Isso nos remete a destacar o principal diferencial em relação à maneira
com a qual trabalham os autores de primeira geração - Jesús Ibánez, Alfonso Ortí,
dentre outros – e os de segunda geração – representados principalmente por
Fernando Conde. Outro destaque a partir da construção do método foi a
oportunidade de aproximação entre autores tradicionais e as técnicas desenvolvidas
na Espanha por autores de terceira geração – Araceli Serrano e Ángel Gordo – a
partir da convivência com eles em Madri durante o estágio doutoral.
Desde o percurso de descoberta até a efetiva construção metodológica,
utilizando o discurso da sustentabilidade da empresa e da mídia como objeto,
traçamos, primeiramente a conjectura analítica – que nos guiou incessantemente
durante todo o percurso investigativo até os resultados. A interpretação dos estilos
discursivos nas fontes escolhidas – institucional e midiática – nos permitiu atingir o
último
procedimento
denominado
análise
das
posições
discursivas,
das
configurações narrativas e dos espaços semânticos, na construção do discurso da
sustentabilidade em uma empresa do setor de energia elétrica.
212
8.2
Limitações do estudo
Não gostaríamos de considerar aqui as características constitutivas da análise
qualitativa e da análise do discurso referentes à subjetividade como limitações
específicas deste estudo. Evidentemente, que toda a narrativa tecida, desde a
definição das conjecturas iniciais aos últimos procedimentos analíticos, que acabam
por validar e aprimorar as conjecturas, é dependente do olhar particular do
pesquisador. Tampouco culparemos o tempo pela incompletude, pois a abertura à
crítica, a outros olhares e ao ausente, da mesma forma são inerentes ao método
qualitativo-discursivo.
Ao refletir sobre os aspectos que este estudo deixa de fora, recaímos
necessariamente em um aspecto metodológico: não tivemos, infelizmente, a
oportunidade de vivenciar a prática do grupo de discussão no interior da empresa.
Tal metodologia de análise qualitativa de grupos foi desenvolvida na Espanha
juntamente com a ASD pelos seus mentores. Grande parte da riqueza do trabalho
de autores como Jesús Ibánez e Fernando Conde está centrada na sistematização e
prática dos grupos de discussão. Ainda que algumas entrevistas conhecidas tenham
sido realizadas na empresa, no momento de sua realização, não dispúnhamos de
conhecimento aprofundado sobre a prática de grupos e de sua relevância dentro da
pesquisa qualitativa espanhola.
8.3
Recomendações para futuros trabalhos
As sugestões para pesquisas futuras que este estudo permite tecer circulam
não somente em torno daquilo que ficou a nosso ver ausente, mas também acerca
da abertura de possibilidades metodológicas e teórico-empíricas a partir daqui
originadas, quais sejam:
a) aprofundamento do estudo e da prática da metodologia de grupo de
discussão, suas origens no interior da pesquisa social qualitativa espanhola
e vinculação à Análise Sociológica do Discurso;
b) estudo e aplicação dos grupos triangulares – metodologia desenvolvido por
Fernando Conde;
213
c) continuidade da utilização conjunta da análise qualitativa de matéria áudiovisual e das metodologias da análise do discurso;
d) recuperação de outras abordagens ainda consideradas marginais de
análise do discurso, desenvolvidas em diferentes países a partir de seu
contexto histórico-político específico;
e) continuidade de análise da construção do discurso da sustentabilidade em
relação aos demais atores – o Estado e, pricipalmente, a sociedade; e
f)
prosseguimento da utilização da ASD em outras temáticas do campo dos
estudos organizacionais.
214
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