pure/
Pure Magazine / Edição 001 / Verão 2008
Ana Rita Clara em Entrevista
Marie Laure de Noailles
Arte: Armanda Duarte
Jovens Criadores
Freegans
Moda
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EDITORIAL
FICHA TÉCNICA
COLABORADORES
Nesta edição, e porque um dos objectivos
deste projecto é apoiar, divulgar e acompanhar
o trabalho de criativos, decidimos abordar
o tema “jovens criadores”. Jovens com coragem
que iniciam a sua actividade na área da moda
e se dispõem a lutar contra as dificuldades
que o mercado está a ultrapassar; jovens que
trabalham arduamente, muitas vezes sem grandes
recompensas monetárias; jovens que resistem
à massificação do produto e que acreditam na
moda, no seu lado mais genuíno e criativo;
jovens que trabalham anos a fio sem que deles
se ouça falar. Por vezes e felizmente, muitos
são “descobertos” e dão o salto. Os concursos
são verdadeiros impulsionadores que ajudam
a criar visibilidade proporcionando novas
oportunidades de carreira, como o iniciar
de uma marca própria. A moda, segundo estes
jovens, é uma profissão difícil que implica
muito trabalho e dedicação. Nós sabemos disso
e gostaríamos de dedicar este número a todos
aqueles que dão um pouco de si à moda.
DIRECÇÃO / EDIÇÃO
Helga Carvalho
DIANA DIAS
Nasceu em 1979. Concluiu a Licenciatura em Design de Moda na
Faculdade de Arquitectura de Lisboa em 2005. Iniciou estágio
curricular em 2004 no Atelier da criadora Alexandra Moura,
onde colaborou como Design assistente até Dezembro de 2007.
Durante os últimos anos e em paralelo ao trabalho realizado
no atelier de Alexandra Moura, desenvolveu a sua marca
DollsCollection, produzindo pequenas colecções de acessórios
de moda de autor. Actualmente trabalha como freelance nas áreas
de Design de Moda e gráfico, escrita e ilustração.
www.helgacarvalho.com
DESIGN GRÁFICO
Paulo Condez
www.designedbynada.com
PÓS-PRODUÇÃO:
Sara Magalhães Gomes
www.dollscollection.blogspot.com
http://www.flickr.com/photos/dollsbydianadias/
COLABORADORES
Edição/Texto
Diana Dias
Francisco Vaz Fernandes
Milene Matos
Michele Santos
Natacha de Noronha Paulino
Patrícia Boto Cruz
Tiago Santos
Sara Andrade
Fotografia
Christophe Banier
Ricardo Cruz
www.ricardo-cruz.com
Olivier Jacquet
www.olivierjacquet.com
Yves Lacroix
Helga Carvalho
Michele Santos
É formada em Design e Styling de Moda pela Faculdade de Arquitectura
da UTL e pelo Istituto Marangoni. Começou a sua actividade na
revista 20 anos, como assistente de moda. A colaboração como
stylist em várias revistas (Cosmopolitan, Maxmen, Vogue, Máxima,
Op, entre outras) manteve-se até 2006. Paralelamente, tem
desenvolvido a actividade de docência na licenciatura de Design
de Moda da FA UTL, onde é Assistente, e investigação, na área da
ergonomia aplicada ao vestuário, no Ergolab da FMH UTL
Natacha de Noronha Paulino
Nasce em Lisboa em 1976. Divide a sua actividade entre a moda e o
teatro. Apresenta colecções no país e no estrangeiro em concursos
como Jovens Criadores, Novos Talentos, Encontro Internacional de
Jovens Criadores da Europa e Mediterrâneo (Sarajevo), Big Torino
- Biennale Arte Emergente (Turim). Em 2003, assina a proposta
de design vencedora do concurso para a concepção de fardas da
Selecção Nacional de Andebol para o Campeonato Mundial desse ano.
Licenciada em Design de Moda pela Faculdade de Arquitectura de
Lisboa e com 16 anos de palco, tem escrito sobre os dois temas
para o Centro Português de Design, DIF Magazine, Número Magazine
e PARQ. Faz a sua estreia na Pure Magazine com o artigo “De recém-licenciado a jovem criador”.
PATRÍCIA CRUZ
Tem 34 anos e formação em Direito. Depois do estágio frequentou
cursos sobre matérias específicas ligadas àquela área e
trabalha no apoio jurídico a empresas de construção. Aproveita
a participação na Pure magazine para “descansar” da profissão e
estar envolvida num projecto que, entre outros, publica trabalhos
de moda, assunto de que gosta particularmente. Com diplomas em
línguas e workshops sobre escrita criativa, põe também em prática
nesta revista o seu interesse pela escrita. Afirma que se tem
divertido na pesquisa das tribos urbanas, tema que aqui assina.
foto capa:
Ana Rita veste casaco-camisa aba de grilo em algodão, WHITE TENT, €150 / Armações de óculos
em crochet, WHITE TENT
Ana Rita Clara fotograda por Ricardo Cruz / Styling Helga Carvalho
www.puremagazine.pt
TIAGO SANTOS
A música tem sido a nave onde viaja no tempo com os Cool Hipnoise
desde 95, no espaço com os Spaceboys, ou no ar com a rádio
Oxigénio 102.6 fm. Navega entre vinil numa cabine de Dj cruzando
o passado e o futuro da galáxia da música negra, desde 1997.
/
Se o vídeo matou as estrelas da rádio, trouxe-nos as da televisão.
Ana Rita Clara é disso exemplo. Habituou-nos a entrar pelas nossas
casas a dentro como um dos rostos da SIC. Tem cuidado com as palavras,
não fosse ela uma comunicadora. Projectos não lhe faltam e garante
que não consegue estar parada. É determinada e sabe bem o que quer.
por Milene Matos Silva
pag dir:
Ana Rita veste vestido ALEXANDRA MOURA, €379,37
FOTOGRAFADO POR RICARDO CRUZ / ASSISTIDO POR TIAGO CUNHA FERREIRA / STYLING HELGA CARVALHO / MAQUILHAGEM SÓNIA PESSOA COM PRODUTOS LANCÔME
E STUDIO FACE / CABELOS TONI & GUY LISBOA / ANA RITA CLARA - ELITE MODELS PORTUGAL
Ana Rita veste vestido e botins em camurça, ambos RICARDO DOURADO, €315 e €110 respectivamente
pag esq:
Ana Rita veste vestido NUNO BALTAZAR, €1430, Ténis CONVERSE, €71,30
em baixo:
Ana Rita veste vestido em seda e sapatos em pele PEDRO PEDRO,
€410 e €150 respectivamente.
nesta pag e pag dir:
Ana Rita veste casaco-camisa aba de grilo
em algodão, WHITE TENT, €150 / Leggings
em lycra, WHITE TENT, €60 (dois pares) /
Sapatos em pele, THE LOOSER PROJECT,
preço sob consulta
nesta pag:
Ana Rita veste top em algodão, A-FOREST DESIGN
pag dir:
Ana Rita veste camisa assimétrica em algodão, €182, calças em seda,
€369 e colete em algodão, €210, tudo RICARDO PRETO / Sapatos em
pele, HUGO BOSS, preço sob consulta
nesta pag:
Ana Rita veste top e calças LIDIJA KOLOVRAT, €165 cada um /
Tiara ANA MOREIRA para LIDIJA KOLOVRAT €75
Como é que entraste no mundo da
televisão, foi por brincadeira?
Brincadeira que se tornou num encontro sério. Costumo dizer sempre
que a televisão é que me encontrou
a mim. Sempre soube que teria um
trabalho relacionado com a comunicação, mas nunca tinha pensado em
fazer televisão. Pensei na escrita,
na programação cultural (como também
fiz) e na rádio. Enfim, queria comunicar de mil e uma formas. Mas, há
vários anos atrás surgiu a oportunidade de ingressar na TV.
Foste à procura dessa oportunidade?
A minha mãe inscreveu-me num Casting
para a SIC Radical. Na altura, estavam à procura de novas apresentadoras. Fui seleccionada para a final.
Houve logo uma simbiose muito engraçada. Nesta primeira experiência
tudo começou a fazer sentido.
Comecei logo a fazer directos em
televisão. Encontrei um espaço onde
eu me sentia bem porque estava
a falar de uma forma directa com
o público. Ainda hoje é o que mais
gosto de fazer. Logo a seguir à participação que tive no Curto-Circuito
(SIC Radical), a NTV, que estava
a surgir no Porto, convidou-me.
Entretanto, estava a estudar Sociologia e optei por não me envolver
tão directamente. Queria formar-me
primeiro, experimentar uma série
de coisas como viajar e só depois
voltar à televisão. E aí já com
a consciência plena de que era o
caminho que eu queria mesmo agarrar.
Mas parece que aconteceu tudo muito
rapidamente.
Sim, talvez.
Quantos anos é que tinhas na altura?
Tinha 19 a 20 quando comecei a fazer
televisão. Mas só quando terminei a
faculdade e os estágios é que comecei
a sério com um Talk Show, o XPTO.
Era um projecto de raiz, com uma
equipa de raiz e num canal de raiz
(a NTV). E estive em directo quase
um ano. Permitiu-me voar sobre outras
áreas, crescer muito e errar muito.
Ao mesmo tempo sempre estive ligada às artes, à cultura urbana e à
música. Esta última cada vez mais
presente na minha vida.
Como vieste parar a Lisboa?
No final de 2005 surge o convite das
produções fictícias para apresentar
o Inimigo Público com o Rui Unas e
a Joana Cruz. Já de si era um projecto alternativo. Agradou-me imenso
o facto que estar a entrar num canal
generalista de uma forma diferente.
Mas, ao mesmo tempo comecei com o
Êxtase em reportagens. A partir daí
nunca mais parei. As oportunidades
têm surgido. Fui o rosto do Rock In
Rio Lisboa 2006 e de outros festivais. Depois estive apresentar
o programa 5 estrelas. No ano que
passou fui apresentadora do programa
Êxtase em que tive oportunidade
de entrevistar nomes nacionais
e internacionais.
E neste momento…
A nova direcção propôs-me novamente
estar à frente do projecto Rock in
Rio Lisboa 2008 e ser um dos rostos presentes nesta grande operação
que está a ser feita pela SIC e que
é transversal a todos os canais da
operadora. Para além disso, tenho
a minha própria produtora, a Drop
Produções…
Como é que surge esse projecto da
Drop Produções?
Foi há dois anos atrás. E surgiu da
minha vontade e necessidade de estar sempre em movimento e absorvida
por novos projectos. Sempre fui uma
pessoa muito activa e com muitas
ideias. Quero estar sempre a fazer
coisas. A minha produtora surge
nesse sentido. Criei um conceito
de canais de televisão Online.
Foi um projecto pioneiro. Criei esses
canais na Internet para acompanhar
os concertos do Festival Super Bock,
Super Rock e para o Festival Sudoeste.
Este ano, quero que a DROP repita
essa realização e faça um Up Grade
desses projectos, abraçando outras
áreas.
Mudaste a tua vida para Lisboa, mas
ainda te sentes uma pessoa no norte?
Costumam dizer que as pessoas do norte
são diferentes, mas isso é o que se
diz. Acho que é muito importante sabermos de onde somos e de onde vimos.
Acho que sou uma mulher do norte e,
serei sempre, se isso significar que
sou determinada e forte. Mas, acima
de tudo sou portuguesa.
Em relação à Moda, segues
tendências?
Eu acho que tenho o meu estilo
próprio, que significa misturar
várias tendências. Tenho um olhar
sobre a moda ou do que existe no
que diz respeito a novos criadores.
Gosto muito de estética, de imagem,
da criação, dos tecidos e do design.
Presto atenção à moda, mas tento
construir o meu estilo. Não sou
uma vítima da moda porque nem tenho
paciência para isso. A minha
profissão exige, naturalmente,
que acompanhe as últimas tendências.
Como não gosto de coisas formatadas
tento ter um apontamento original.
Não perco muito tempo com compras,
mas apaixono-me por peças. Uma das
peças que mais gosto, que faz parte
dos acessórios é um lenço que
pertenceu à minha mãe nos anos 70.
A simplicidade com um apontamento
original é aquilo que eu mais
procuro.
Tens preferência por algum criador
português?
Gosto de vários. Acho que cada um
tem o seu próprio estilo. Por exemplo, o Pedro Pedro tem uns vestidos
muito bonitos, nas criações da
Alexandra Moura destaco a sua originalidade, Nuno Baltazar tem muita
elegância, o Filipe Faísca faz uma
boa combinação e a Lidija Kolovrat
tem linhas modernas, mas também
gosto da Ana Salazar, etc. Mas, mais
do que gostar dos criadores eu gosto
das peças. Tenho que olhar e apaixonar-me por elas.
E criadores estrangeiros?
Gosto muito da Stella Maccartney,
pelas linhas sóbrias. Gosto muito
de Prada, Jill Sander, entre outros.
/
news
4
6
8
por Patrícia Cruz
i won’t give up 1
Fabio Paleari, acompanhou e fotografou durante uma viagem de
dois anos, o seu amigo e vocalista dos “The Babyshambles”,
Pete Doherty. Com textos de Robert
Montgomery, o livro “I Won`t
give up” reúne sobretudo imagens
captadas em concertos da banda
e experiências vividas pelos
seus elementos nas, tais como
eles, desregradas comunidades de
Shoreditch High Street, Redchurch
Street and Brik Lane, em Londres.
Para além disto, o livro contém
inúmeras fotos de conhecidos artistas, poetas e fotógrafos que
param muito por essas zonas,
bem como anónimos apanhados na
noite. Do meio dos conhecidos,
destaca-se Paul Roundhil, ou
“Professor Ro”, escritor, artista de multimédia, traficante
de droga e guru controverso, que
apresentou Paleari a Pete Doherty na sua “crack house”. Nomes
como James Mullord, manager da
banda e Abel Ferrara também surgem nesta compilação fotográfica
que retrata instantes de sexo, de
festas rave, de carros destruídos e de interiores de prédios
decadentes.
O livro surge em formato normal
ou numa edição especial a €30
e €400 respectivamente, publicado pela Damiani Editori.
www.guidocostaprojects.com
Fabio Paleari / Pete on the floor / © Fabio
Paleari / Courtesy Damiani Editore
1
A sHORT HISTORY OF
PHOTOGRAPHY 2
Harvey Benge faz neste trabalho
ao mesmo tempo leve e sério, uma
reflexão sobre o estilo fotográfico e uma antologia da fotografia
contemporânea, destacando os seus
nomes mais relevantes. Sabendo
este fotógrafo que quando olha
para uma foto, fácil e rapidamente
a atribui ao seu autor, resolveu
tentar outra experiência: tirar
fotografias como se tivessem sido
captadas por outro fotógrafo. São
originais dele mas que usam de
tal forma uma sensibilidade de
outros fotógrafos que podiam ser
destes. Pretende o autor levantar
questões como as de saber se a
influência de outros num trabalho
foi inconsciente ou intencional e
se é possível registar um estilo
fotográfico.
HE An – Publicações; Dewi lewis
2007; €38.
www.shaden.com
Fotografado por Harvey Benge estilo Eggleston
Modaçores 3
Com vista à promoção da Região
dos Açores e à sua divulgação
como destino turístico, a Câmara
do Comércio e Indústria de Ponta
Delgada, com o apoio da Secretaria da Economia e Direcção
Regional do Turismo, promoveu o
evento Modaçores que reuniu pela
quinta vez consecutiva não só um
grupo de criadores regionais ao
qual se juntaram alguns nomes já
conhecidos como Filipe Faísca,
como também os criadores internacionais Duprè Santabarbara e
Stella Cadente ambos originários
3
de França. Foram apresentadas
as colecções de Verão 2008 num
evento que primou pela da beleza
natural da ilha de São Miguel.
gos olímpicos de Pequim, a nova
gama de roupa homenageia a prática de Tai Chi, através de calças
fluidas, tops de alças, blusões
e calções em tecidos high tech
e muito confortáveis, como seda
ou malha. A colecção é composta
por duas linhas sob os nomes de
“Bliss” e “Energie”, à venda nas
lojas Celine. Além das referidas
peças, foram criados acessórios
como o saco 24 horas “Boogie” e
os ténis que nasceram da parceria entre a D.A. da Celine,
Ivana Omazic, Emmanuelle Seigner
e a marca chinesa Feiyue.
100 ANOS DA CONVERSE 4
Uma das marcas mais populares da
“Street Fashion” nasceu em 1908,
no Malden, Massachussets. O seu
criador, Marquis Mills Converse,
detentor de uma fábrica de sapatos de borracha adicionou-lhes
lona e inventou os famosos ténis.
Copiado por milhares de outras marcas, o modelo de maior sucesso,
“All Star” surgiu em 1917 e continua mais actual a cada ano que
passa. O facto de ter sido usado pelo jogador de basquetebol
Chuck Taylor em todos os jogos
deste, foi decisivo para que o
modelo mais representativo da
Converse se tornasse um ícone.
Nas infinitas combinações de cores,
tecidos e materiais, como o couro
ou lantejoulas, em versão botas
até ao joelho ou chinelos, com
ou sem atacadores, são uma espécie de vício que acompanha todas
as gerações, situações e classes.
Para comemorar o aniversário, a
marca lançou uma edição limitada de três modelos: “All Star”,
“Proleathers” e “All Star Revolution”, inspirados nas suas primeiras colecções e vendidos em
caixas de madeira.
MUSEU DA PERFUMARIA 6
Fechado quatro anos para obras,
o Museu Internacional de Grasse
reabre portas no próximo verão.
Criado em 1989, este estabelecimento público, agora com uma área
muito maior, dedica-se à defesa
e promoção do património internacional de odores e perfumes.
Neste museu poderá conhecer toda
a história do perfume até aos
dias de hoje e a evolução das
técnicas a ele associadas. É dada
aos visitantes a possibilidade de
acompanharem pormenorizadamente
todas as etapas da criação de um
perfume: os processos técnicos da
extracção do perfume das flores
através de gordura, da destilação, escolha e design dos frascos de vidro em que são vendidos.
Porque cada perfume depende de um
nariz profissionalmente treinado
para decorar, identificar e conjugar milhões de aromas, a arte
do perfumista é dissecada neste
museu. Assim, são explicados os
efeitos do olfacto no cérebro,
CELINE LANÇA-SE NO SPORTSWEAR
DE LUXO 5
A actriz Emmanuelle Seigner vai
ser a imagem da
nova marca de
desporto de luxo apresentada
pela casa Celine. No ano dos jo5
STATE 8
A vida e técnicas de um dos artistas mais conhecido dos últimos
trinta anos, Peter Saville, podem
ser conhecidas pela primeira vez
no seu livro “State”. Nele surge
o percurso deste designer gráfico inglês, co-fundador e responsável pela imagem da marca “Factory Records”, o qual concebeu as
capas dos discos dos Joy Division
e New Order. A publicação compila todos os arquivos do autor,
onde se encontram trabalhos preparatórios, fontes de inspiração, logótipos, cartazes de concertos e ensaios fotográficos.
Partindo da exposição da obra de
Saville em 2005, no Museu Migros,
em Zurique, o livro contém textos de Michael Bracewell, Heike
Munder e de artistas contemporâneos sobre a obra de Saville.
Publicado com o Migros Museum,
Zurique, 2007. 272 páginas impressas em papel brilhante, €38.
as sensações físicas e psíquicas
dele decorrentes e as quantidades
e conjugações adequadas de óleos
essenciais, produtos naturais
e
sintéticos
necessários
ao
aparecimento de uma fragância.
É ainda permitido experimentar e comprar todos os ingredientes de que um perfume é feito
ou um frasco do cheiro eleito.
Perfume do Século XVIII / Caixa de Bergamota
do Século XVIII
SKATE STUDY HOUSE 7
“Skateboard is design ” é o lema
da inovadora marca que alia a
cultura Skate ao design. Gil de
Lapoint, skater há catorze anos e
designer na indústria de desportos radicais, foi recolhendo
influências das capitais onde
pratica este desporto. Andre
Senizergue é presidente da Sole
Technologie e da Etnies e tem
usado o estilo skater em artigos
de qualidade. Juntos deram vida
a este projecto que mistura a
popularidade deste desporto com
arte de rua e consciência ambientalista. Do projecto resultou
a colecção “Skate Study House”,
composta por relógios de parede
e bengaleiros feitos com rodas
de skate, e candeeiros, estantes, cadeiras e tábuas de engomar
criadas a partir das pranchas dos
mesmos. Os autores partiram de
peças de design antigas e adicionaram-lhes acessórios de skate
verdadeiros. As pranchas de materiais naturais e os acessórios
podem ser desmontados das peças
e usados.
This is Hardcore Pulp
Island Album 1998
Art direction John Currin and Peter Saville
Photography Horst Diekgerdes
Casting Sascha Behrendt
Styling Camille Bidault-Waddington
Design Howard Wakefield and Paul
Hetherington at the apartment
Coming Up
Suede
Nude Album 1996
Cover Nick Night, Peter Saville and Brett
Anderson
Paintbox Steve Seal
Design Howard Wakefield at the apartment
www.skatestudyhouse.com
7
/
em baixo da esq para a dir:
1 Colecção Primavera/Verão 2008, PEDRO PEDRO. Portugal Fashion, Fotografia Cassiano Ferraz / 2 Colecção Primavera/Verão 2008,
SANDRA BACKUND. Fotografia Ola Bergengren / 3 Colecção Primavera/Verão 2005, PRISCILA ALEXANDRE. Arquivo Moda Lisboa, Fotografia Rui Vasco /
4 Colecção Outono/Inverno 2009, MARIOS SCHWAB. Fotografia Chris Moore / 5 Colecção Primavera/Verão 2008, Lara Torres. Arquivo Moda Lisboa,
Fotografia Rui Vasco / 6 Colecção Primavera/Verão 2008, FELIPE OLIVEIRA BATISTA. Portugal Fashion, Fotografia Cassiano Ferraz /
7 Colecção Primavera/Verão 2008, WHITE TENT. Arquivo Moda Lisboa, Fotografia Rui Vasco
De recém-licenciado a jovem criador.
por Natacha de Noronha Paulino
A escolha de uma carreira artística parte, a maioria
das vezes, de uma convicção pessoal e inquestionável.
Mas o seu lançamento é, isso sim, pleno de objectividade traduzido em esforço, disciplina e... dinheiro.
Várias opções se apresentam a um recém-licenciado em
design de moda, já que são mais as saídas profissionais do que à partida possa parecer, desde o
desenvolvimento de colecções para marcas, passando
por produção de moda, ilustração, fardamento, vitrinismo, colaboração com gabinetes de tendências, consultoria de moda (desenvolvida em várias áreas como
por exemplo na televisão), até à crítica de moda e ao
ensino. A todas estas hipóteses junta-se a que será,
provavelmente, a de eleição: a criação de marca
própria. Neste caso específico, o impulso monetário
é essencial para a entrada no meio competitivo do
mercado. Quer se trate de design de moda, criação
de moda ou alta-costura, a pró-actividade surge como
requisito sine qua non, no alcance de visibilidade,
que em raros casos acontece a custo zero. É para
colmatar o fosso que se instala entre o fim de um
percurso académico e o início de carreira, que surgem os concursos para jovens criadores, abertos à
escala mundial.
Quando em 1993 os holandeses Viktor Horsting e Rolf
Snoeren, recém-formados da Arnhem Academy of Art and
Design de Netherlands, concorrem ao Festival Internacional de Moda e Fotografia de Hyères (França), já sob
a denominação de Viktor & Rolf, estão longe de imaginar o alcance que hoje se sabe, conseguido em quinze
anos. Com três prémios arrecadados em Hyères, o ano
seguinte fica marcado pela atribuição de uma bolsa
pela ANDAM - Associação Nacional para o Desenvolvimento das Artes da Moda (França), que proporciona um
importante estímulo à carreira embrionária da dupla. É
no entanto em Outubro de 1997, que saem do anonimato,
conseguindo atrair as atenções para a sua exposição e
para o lançamento da primeira fragrância - Le Parfum.
Uma colecção em miniatura e um perfume-fantasma com
direito a campanhas publicitárias e pontos de venda
em várias lojas, são o comentário irónico às grandes
marcas do mundo da moda. Nessa fronteira com a arte,
decidem em 1998 como forma de entrada no mercado,
1
infiltrar-se no sistema atacando o seu centro: a
alta-costura parisiense. Com a colecção de Inverno
1999-2000 ganham finalmente reconhecimento junto da
imprensa internacional, ficando em Junho de 1999 integrados no calendário oficial na Chambre Syndicale
de Haute-Couture de Paris. Um ano depois lançam a
linha de pronto-a-vestir.
São organismos como a ANDAM que alavancam o início de
carreiras, assumindo como seu, o papel de providenciar
fundos financeiros que garantem a sua continuidade em
bases sólidas.
O ano passado dois novos nomes são lançados pela ANDAM
e pelo Festival Internacional de Moda e Fotografia
de Hyères: Bruno Pieters (Bélgica) e Sandra Backlund (Suécia), respectivamente. Enquanto Bruno Pieters
produz em 2006 a sua primeira colecção de homem após
arrecadar o prémio de €1000,00 atribuído pela Swiss
Textile Awards, promovido pela Swiss Textile Federation (Suiça), Sandra Backlund consegue em 2005 a sua
primeira grande exposição pública, ao ser premiada
pela FutureDesignDays (Suécia) e uma bolsa de €15,000
com o prémio ganho em Hyères.
Em Portugal existem actualmente duas associações que
promovem concursos para jovens criadores: Portugal
Fashion (Concurso de Design do Programa Aliança) e o
Clube Português de Artes e Ideias (Jovens Criadores).
Com perfis, objectivos e meios diferentes, ambas visam
a fomentação e projecção da moda nacional emergente.
De igual forma com a mesma aposta, correm em circuito
paralelo iniciativas de algumas autarquias, a uma escala reduzida, mas sem dúvida útil no que diz respeito
à prática do processo.
Embora por cá o fenómeno da moda seja relativamente
recente, a necessária adaptação ao mercado justificou
que algumas iniciativas se extinguissem ou tomassem
outros formatos. Dois dos nomes a referir pela sua
relevância são Novos Talentos (Optimus) e Sangue Novo
(ModaLisboa). Com início em Abril de 1992, o concurso
da ModaLisboa contou com nove edições, tendo lançado
para fora do anonimato oito novos criadores: Maria
Gambina; Miguel Flor; Osvaldo Martins; Susana Cabrito;
Carlos Raimundo; Marco Mesquita; Priscila Alexandre e
Lara Torres.
2
3
A destacar, pelo percurso de 16 anos, Maria Gambina
tem arrecadado inúmeros prémios e distinções com o seu
trabalho, mostrando-o em passerelles de cidades como
Dusseldorf, Estocolmo, Florença, Mênfis, Paris e São
Paulo. Abre em 1995 e 1999 as suas lojas, respectivamente no Porto e em Lisboa e desde 1994 lecciona a disciplina de Design de Moda no CITEX. Em 1998 assina em
parceria com José António Tenente a proposta de design
vencedora do concurso para a concepção de fardas para
os funcionários e colaboradores da Expo 98.
O LAB surgiu em 2002 como uma fórmula revista do extinto Sangue Novo. Tratava-se de uma plataforma de
divulgação de criadores em início de carreira, mantendo o formato de concurso, desta vez com candidatura
exclusiva por convite. Como objectivos teve também o
de um efeito de demonstração junto dos restantes alunos da área, bem como proporcionar maior visibilidade
dos têxteis nacionais, através da parceria/apoio às
propostas dos candidatos. Teve a sua última edição
em Março de 2007, tendo funcionado sempre dentro do
calendário de desfiles da ModaLisboa.
Actualmente o Concurso de Design do Programa Aliança, promovido pelo Portugal Fashion, constitui uma
forte aposta na busca de visibilidade para uma carreira inicial, dada a estreita relação que mantém com
a indústria têxtil portuguesa. Criado em 2004, visa
proporcionar aos jovens criadores a oportunidade de
apresentação das suas colecções ao público, assim como
a constituição de parcerias com a indústria, já que
o regulamento prevê a confecção dos coordenados em
empresas de vestuário nacionais. A selecção é realizada ou através de escolha directa, indo neste caso a
preferência para designers que já actuam no mercado
sem ainda uma base sólida de afirmação, ou através
de um concurso de design aberto a jovens entre os 18
e os 35 anos, residentes em Portugal e com formação
académica nas áreas da moda, confecção e/ou design. Os
primeiros classificados têm entrada directa na segunda
fase do Programa Aliança, designada por “Parcerias com
a Indústria”, que compreende um conjunto de benefícios, nomeadamente a participação no Portugal Fashion,
incentivos financeiros de apoio à criação e meios de
divulgação das colecções.
4
5
O evento funciona como alavanca de talentos emergentes, de forma a renovar e dinamizar o panorama da moda
nacional, facilitar a integração de novos designers no
mercado de trabalho e preencher lacunas que empresas
do sector tenham ao nível do design.
Independentemente das opções tomadas, os percursos
variam e nem sempre correm o trilho pensado. Se Osvaldo Martins segue hoje com o desenvolvimento de marca
própria de pronto-a-vestir (Add.Up – Osvaldo Martins),
tendo já estabelecido várias parcerias com a indústria do sector têxtil e do calçado para a criação de
colecções para marcas como Malhacila, Codizo, Fairly e
Bronze, passando pelo desenho de figurinos para dança
e teatro, até ao ensino, já Priscila Alexandre, também
vencedora do concurso LAB em 2002, enveredou pela via,
não menos bem-sucedida, do trabalho desenvolvido para
outros nomes, como a casa Louis Vuitton em Paris e
Proenza Schouler em Nova Iorque.
Felipe Oliveira Batista é mais um nome em português
a fazer história pelo mundo da moda. Este açoriano de
34 anos, cresceu em Lisboa e cedo partiu para Londres
onde se formou em Design de Moda pela Universidade de
Kingston. Os vários prémios que ganhou em concursos
para jovens criadores, os mais importantes atribuídos
pela ANDAM e pelo Festival Internacional de Moda e
Fotografia de Hyères, permitiram-lhe não só granjear
notoriedade junto da imprensa e da comunidade da moda
internacional, como injectar importantes incentivos
monetários para o desenvolvimento das suas colecções,
através das bolsas recebidas, graças às quais, em
2003 a marca Felipe Oliveira Baptista é oficialmente
lançada. Em 2005, e após novo prémio pela ANDAM, é
convidado pelo Comité da Chambre Syndicale de la Haute
Couture
a participar na Semana de Alta-costura de
Paris, proposta que tem vindo a ser renovada em cada
edição, tornando-se assim num dos primeiros cinco jovens designers internacionais a serem convidados por
esta associação. Pelo caminho, desenvolveu colecções
para a Uniqlo (Japão), Cerruti e Max Mara (Itália)
e Christopher Lemair (França). Com um percurso distinto, que se traduz em pontos de venda distribuídos
por catorze países, Felipe resume a sua carreira nas
palavras de Fernando Pessoa: “sentir é buscar”.
6
7
Seguem-se sete entrevistas a criadores convidados, que partilham
as suas experiências, diferentes, mas comuns num ponto: muito trabalho
e dedicação para singrar na carreira de Designer de Moda.
Felipe Oliveira Batista:
O facto de teres ganho um prémio/
concurso trouxe algum benefício
relevante à tua carreira?
Permitiu-me começar a minha marca.
É difícil ser Designer de Moda?
Bastante.
Sentes-te com bases para competir no
mercado internacional?
Presentemente vendo em 14 paises
(infelizmente portugal não consta na
lista).
O que melhorarias?
Mais meios para desenvolver a minha
equipa e multiplicar projectos.
É difícil ser Designer de Moda
em Portugal?
Sim. Eu acho que existe um grande
silêncio sobre este assunto em
Portugal (como sobre muitos outros),
mas na minha opinião é quase
impossivel ser Designer de moda
em Portugal.
Sentes-te com bases para competir no
mercado internacional?
Sim.
Gostarias de voltar algum dia
a trabalhar na tua marca?
Não penso nisso.
O que melhorarias?
Continuar a trabalhar no sentido
de estabelecer uma marca em vez de
apenas um rótulo.
Sentes-te com bases para competir no
mercado internacional?
Falta-me capacidade financeira mas
de resto sim, penso que sim, as
lojas e clientes que compram o meu
trabalho são na maioria Japoneses,
Gregos, Austriacos ou Alemães.
Um conselho para quem está
a começar.
Ter consciência de ambos os lados da
indústria, o lado mais criativo e
o mais comercial. É importante que
haja um equilíbrio entre os dois.
Um conselho para quem está
a começar.
Depende muito da vontade de cada
um... O mais importante é saber
escutar-se a si próprio e não ter
medo de se ouvir.
O que melhorarias?
Na minha opinião era bom recompensar
as plataformas de divulgação do
Design português que fazem um bom
trabalho, como a ModaLisboa e a
Experimentadesign para que continuem
esse trabalho de extrema importancia
que é a promoção do Design português
no contexto internacional.
Priscila Alexandre:
O facto de teres ganho um prémio/
concurso trouxe algum benefício
relevante à tua carreira?
Deu-me a possibilidade de ir para
Paris trabalhar com o Felipe Oliveira Batista, que para além da minha
admiração pelo seu trabalho, até
hoje tem sido uma pessoa extraordinariamente influente no meu percurso
profissional.
Um conselho para quem está
a começar.
Para além da perseverança e de uma
teimosia absurda muito trabalho e
projectos que levem à internacionalização do design português, é
importante juntar esforços nesse
sentido para criar um lugar do
design português no mundo.
Pedro Pedro:
O facto de teres ganho um prémio/
concurso trouxe algum benefício
relevante à tua carreira?
Sim, deu-me confiança para começar
a minha própria marca.
Um conselho para quem está
a começar.
“Sentir é buscar”, Fernando Pessoa.
É difícil ser Designer de Moda?
Sim é difícil, porque acho que
ainda existe algum desfasamento
entre o Designer de Moda e
o restante sector têxtil.
Sentes-te com bases para competir
no mercado internacional?
Sem uma estratégia comercial concertada é muito difícil vingar no mercado internacional.
Marios Schwab:
O facto de teres ganho um prémio/
concurso trouxe algum benefício
relevante à tua carreira?
Sim, em certa medida.
Lara Torres:
O facto de teres ganho um prémio/
concurso trouxe algum benefício
relevante à tua carreira?
Ganhar o concurso Sangue Novo
foi muito importante, criou a
oportunidade de estagiar com
Alexander Mcqueen.
É difícil ser Designer de Moda?
Considero que é uma das profissões
mais difíceis que existem.
O que melhorarias?
Maior confiança no design português
como produto comercializável.
Um conselho para quem está
a começar.
Preparar-se para ciclicamente para
querer desistir e nunca o fazer.
Sei que obtaste por seguir um caminho diferente da criação de marca
própria. Como foi esse processo
e qual o balanço que fazes?
Decidi regressar a Paris e procurar trabalho. O mais difícil é o
primeiro emprego. Tive a sorte de
começar a trabalhar numa grande marca e empresa como a Louis Vuitton,
primeiro como free-lancer e depois a
tempo inteiro para a linha de homem.
Mais tarde tive a oportunidade de
ir para a Balenciaga trabalhar no
design de malas, sapatos, etc, onde
estive um ano e meio. Foi uma
experiência inacreditável em termos
de criatividade, produto e nível
de exigência. Acabei de me mudar
para Nova Iorque onde trabalho para
a Proenza Schouler, para desenvolver
colecções de acessórios.
É difícil ser Designer de Moda
em Portugal?
É desgastante. Envolvemo-nos muito
mentalmente, trabalha-se muitas
horas, sobretudo em épocas de desfiles. É empolgante quando no fim
vemos o resultado físico de meses de
pesquisa, experimentação e decisões.
Sandra Backlund:
O facto de teres ganho um prémio/
concurso trouxe algum benefício
relevante à tua carreira?
Ter sido uma das finalistas e posteriormente a vencedora do grande
prémio do festival D’Hières o ano
passado fez com que tivesse tido
bastante atenção da parte da
imprensa o que ajudou a divulgar
e a promover o meu trabalho.
Também aprendi bastante acerca
de mim. Conheci muitas pessoas
importantes e interessantes o que
trouxe coisas boas à minha carreira.
O que melhorarias?
Gostava de ver a Moda tornar-se mais
numa forma artística do que somente
indústria.
Um conselho para quem está a
começar.
Perder tempo a aprender, explorar
as bases da modelagem e técnicas
artesanais. Estar atento a todos os
erros e ideias que surjam ao longo
do processo, que te possam levar
mais além dos teus conhecimentos que
definiste como ponto de partida.
White Tent:
Acham que ganhar um concurso pode
trazer algum benefício relevante à
carreira de um designer?
Sem duvida! Uma Carreira e feita de
várias etapas, e um concurso pode
ser um grande propulsor.
É difícil ser Designer de Moda?
Acho que depende muito do tipo de
pessoa que és e com que tipo de companhia ou marca com que trabalhas,
mas se me perguntares, eu terei de
admitir que é uma carreira difícil.
A Moda é uma área difícil e fazer
a tua própria marca não é o caminho
mais fácil a seguir. Eu trabalho
muito mas é isso que quero fazer.
É difícil ser Designer de Moda
em Portugal?
Depende da postura de cada um. Para se
ser designer aqui há que ter consciência
da realidade desta indústria em Portugal, as suas limitações e oportunidades.
Sentes-te com bases para competir
no mercado internacional?
Tento trabalhar sem pensar muito nas
coisas práticas tais como tendências, estações, “vestibilidade” e
o que as outras pessoas esperam de
mim. Resumindo faço o meu trabalho
somente para me satisfazer.
O que melhorariam?
A relação entre a indústria e os
criadores.
Sentem-se com bases para competir no
mercado internacional?
Estamos a trabalhar nesse sentido!
Um conselho para quem está a
começar.
Trabalho, abertura de espírito e
autocrítica.
/
A Viscondessa e a sua “Pequena Casa Interessante para Habitar”
por Milene Matos Silva
Situada na vila de Hyères, no sul da França,
a Villa Noailles é hoje um local de referência
artística onde se realizam festivais, concursos,
residências, exposições e eventos, em particular
nas áreas da fotografia, arquitectura e moda. Uma
casa que pela sua história sempre esteve associada
à cultura do século XX e que se cruza com a vida
de Marie-Laure de Noailles. Uma personalidade da
aristocracia francesa, mecenas da arte e que desde
cedo começou a reunir na sua casa artistas como
Salvador Dali, Luís Buñel, Jean Cocteau, Francis
Poulanc, Man Ray, entre muitos outros. Uma vida
excêntrica marcada por amores falhados.
Marie-Laure de Noailles casou, em 1923, com o visconde
de Noailles, um aristocrata
de gostos vanguardistas pouco comuns à época. No início
do casamento começaram por
coleccionar obras de artistas plásticos como Man Ray,
Max Ernst ou Yves Tanguy. E,
desde logo, estes artistas,
bem como, escritores surrealistas, em particular Jean
Cocteau tornaram-se convidados habituais do casal.
Marie-Laure, que nunca mais
voltaria a amar como a Jean
Cocteau, será toda a sua vida
uma menina rica que procura
amor e cujo o destino finta-a
nesta busca, como traça no
seu livro, Marie-Laure de
Noailles: La Vicomtesse Du
Bizarre, Laurence Benaim.
Após o casamento a sua vida
é marcada por bailes, festas, jantares e viagens.
A Villa Noailles, em Hyères, no sul de França,
mandada construir em 1924 e inaugurada um ano
depois, é abrigo de artistas onde qualquer um
poderia chegar sem aviso. O projecto da casa construída sobre as ruínas de uma antiga abadia, foi
elaborado por Robert Mallet- Stevens que planeia
“uma pequena casa interessante para habitar”, como
sugere Marie-Laure. Mallet-Stevens surge como arquitecto deste projecto depois de Le Corbusier e
Mies Van der Rohe terem declinado o convite.
A geometria da Villa de cimento, com terraços e
jardins cubistas do artista Gabriel Guévréjian, de
origem arménia, é palco para a recepção da elite
cultural da época.
O casal dá sinais de uma vida excêntrica. Os
viscondes começam a orientar o mecenato para o
surrealismo. A Villa Noailles é o cenário do filme
de Man Ray “Les Mystères do Château de Dé”. E
depois da estreia do filme “Un Chien Andalou”, de
Luís Buñel e Salvador Dali, Charles de Noailles
decide encomendar um filme. Os viscondes deram
260 milhões de francos a Luís Buñuel para as filmagens de “L’Age D’Or”. Exibido, oficialmente,
em 1930, o filme causou bastante controvérsia. É
proibido pela comissão de censura parisiense. A
aristocracia francesa decide banir os viscondes
de Noailles. O casal refugia-se em Hyères e reage
de forma diferente à polémica. Charles dedica-se
à jardinagem e Marie-Laure
descobre que gosta de escândalos.
Em paris, os boatos continuam. Marie-Laure surpreende o
marido na cama com o instrutor de ginástica. À ruptura
social junta-se a ruptura
conjugal. Mas apesar de tudo
o casamento mantém-se. Após
o episódio, ela rodeia-se de
amigos, grande parte homossexuais. Na sua casa, organiza encontros de artistas.
Mas o pior golpe estava para
vir. Marie-Laure é confrontada com o novo romance de
Jean Cocteau (o homem que ela
nunca deixou de amar) com
uma jovem que representava a
beleza e o encanto. A viscondessa nunca viria a recuperar, pois seria a pior dor
que um homossexual poderia
infligir numa mulher: dormir com uma outra mulher.
Como vingança ela destrói tudo o que ele lhe havia
doado, e proíbe-o de entrar em sua casa.
Como forma de escape, Marie-Laure decide, aos 31
anos, ter amantes para chamar a atenção do marido
indiferente. O primeiro foi um milionário inglês
Edward James, casado com uma bailarina austríaca.
Um romance que é aceite por Charles. Embora contraditório, com o amante, ela pensava reconquistar
o marido que é um homem diminuído após a revelação
da sua homossexualidade, perante o julgamento da
aristocracia francesa, da qual ele faz parte.
Marie-Laure continua a apaixonar-se. Segue-se Igor
Markevitch, também bissexual, com quem se muda
para a Suiça. Depois Marie-Laure fica grávida,
mas o marido e o amante convencem-na a fazer um
pag esq:
nesta pag:
A viscondessa Marie-Laure de Noailles.
“Hyères culture physique”, fotografia pertencente à colecção da
Villa Noailles,
1930-35.
aborto. De regresso a Paris, a viscondessa volta
a privar com Jean Cocteau, que na altura estava
instalado na casa de Igor Markevichtch.
Seguem-se uma série de escapadelas amorosas. A
viscondessa passa a coleccionar amantes. Com Michel Petitjean, um editor de o jornal progressista
“La Fleche”, volta a viver um amor verdadeiro.
Durante a segunda Guerra Mundial chega a ter um
caso com um oficial Alemão.
Na década de 50, é obrigada a substituir os seus
fatos Chanel pelas saias de camponesa para disfarçar a sua grande barriga. O seu último grande amor
foi o pintor Óscar Domingez, que copiou os seus
quadros de Picasso e substituiu-os. Tendo vendido
os originais a um traficante.
Ao longo dos anos, Marie-Laure desenvolve uma
faceta literária e artística, exercendo-as com
algum talento. A Villa Noailles torna-se, entre
1946 e 1970, a sua residência de verão e onde
organiza exposições. Em Janeiro de 1970, morre
completamente sozinha.
Após a sua morte a Villa Noailles foi abandonada,
tendo sido ocupada. Em 1973 foi comprada e renovada pela autarquia de Hyères, que a transformou
num centro de artes.
pag esq:
A Villa Noailles fotografada por ©Michel Mallard
foto dir em cima:
Da esquerda para a direita: Henri Sauguet, músico; Jean Desbordes,
escritor e poeta; Luis Buñuel, cineasta; Francis Poulenc, músico;
Christian Bérard, pintor e decorador e Alberto Giacometti, escultor.
Fotografia pertencente à colecção da Villa Noailles, Abril de 1932.
foto dir em baixo:
O Duque de Kent na Villa Noailles com outros convidados (Charles de
Noailles, junto à porta). Fotografia pertencente à colecção da Villa
Noailles, 1928-30.
/
1 / 2
estilos de vida
Mergulhos no lixo - “O freeganismo”
por Patrícia Boto Cruz
Os vegan não comem carne, nem vestem peles de animais,
bem sabemos. Já os freegan vivem completamente fora do
mercado. Nos Estados Unidos e Inglaterra há mais uma
sub-cultura para a qual a prioridade é não participar
na economia de consumo, nem como trabalhadores nem
como consumidores. Crentes na máxima de que nada se
perde, tudo se transforma, recusam-se a pagar para
suprir necessidades básicas como alimentação, casa,
vestuário, transportes e serviços. Como? A principal
maneira é através do dumpster diving, uma espécie de
mergulho, mas agora no lixo.
Isto passa-se nas traseiras do comércio, quando acaba
o dia e há pessoas a remexer nos caixotes a resgatar
tudo o que ainda é “comível”. Como se sabe, se uma caixa
de iogurtes expira para a semana, não é comprada; se
numa embalagem de ovos um se parte, a caixa vai fora;
se uma maçã tem uma mancha, escolhemos a do lado.
Restam-nos duas opções: ou tudo vai acabar em lixeiras, poluir o ambiente e gerar mais custos, ou é comido
por freegans.
A imagem de alguém a escolher legumes do lixo está
normalmente associada a uma estratégia de sobrevivência de pessoas no limiar da pobreza, mas o que aqui
está em causa, na verdade, é uma nova moral na relação
com os bens posta em prática por pessoas que não tendo
necessidade, escolhem viver assim. É uma forma de
afirmação política contra a sociedade do usa (e não é
preciso usar muito) e deita fora.
Mais do que o resto da humanidade, estas pessoas
sentiram-se irreparavelmente culpadas e egoístas por
desperdiçar. Lembraram-se como os nossos antepassados
eram felizes sem sofrer do vício da compra nem da vontade permanente de deitar fora para depois substituir.
Neste quadro, é possível levar uma vida mais simples,
reagir contra a economia moderna e o lucro inerente, e
cuidar daquilo que em nome destes conceitos é preciso
sacrificar.
Tendo em conta que na produção da maioria dos bens que
adquirimos, inclusive nos produtos vegetarianos, se
realizam atentados sobre direitos dos animais (morte
ou testes neles realizados); ambiente (poluição e errado aproveitamento dos recursos naturais) e sobre os
direitos humanos (nos casos drásticos de exploração de
mão-de-obra), este grupo não aceita participar nesta
cadeia. Por isso, simplesmente não compra como tentativa de desconstruir o sistema.
E vão mais longe. A maior parte deles desemprega-se,
aprende e ensina este modo alternativo de vida. Da
contracção das palavras free e vegan, os freeganistas
estenderam o conceito a toda a sua existência.
Voltando às traseiras do supermercado… temos de tudo.
Os que chegam em grupos organizados e fazem “trash
tours”, ou seja percursos previamente definidos pelo
lixo da cidade (há sites com os “melhores lixos”,
horários de saída dos trabalhadores das lojas e da
passagem do camião do lixo).
Os mais afoitos, tomam balanço e disputam o melhor
mergulho enquanto se fotografam, porque apanhar um
balde ou um contentor é a diferença entre apenas submergir um braço ou o corpo todo. Sucede que todos respeitam os mandamentos para esta prática: equipar-se
com luvas e lanternas; não levar consigo o que seja
alvo de dúvida; deixar o local como o encontrou, para
não desmotivar futuros freegans e lavar em casa tudo
muito bem antes de confeccionar.
Não se pense que estas práticas são escondidas, porque
é já socialmente aceite a romaria ao caixote. Embora
confessem que a primeira ideia que lhes ocorreu ao
ouvir falar nisto foi de nojo, depois de verificarem a
segurança dos alimentos (alguns devidamente embalados
antes de colocados fora dos espaços onde eram vendidos) e comprovarem as suas propriedades nutritivas,
não se imaginam, garantem, a voltar à vida antiga.
E no caso de apanharem bactérias não faz mal, porque
se tratam com as ervas medicinais que plantam nas suas
casas para não entrar na farmácia. Surgem igualmente
jardins comuns onde cultivam alimentos biológicos e
“medicamentos”, em maior escala.
E depois da recolha feita no lixo? Partilham. Através
de grupos a que chamam “food not bombs” (expressão que
visa sensibilizar governantes para a circunstância de
que o que gastam em guerras dava para alimentar muita
gente), preparam refeições quentes que distribuem aos
sem abrigo.
A questão alimentar fica assim resolvida, mas há que
satisfazer o resto das necessidades básicas. Então,
o tal ideal anti-consumo é alargado a tudo quanto
é “restos”: mobília, louças, livros, sapatos, roupa,
electrónica, livros, música etc, recolhidos nos passeios, caixotes, grandes contentores e aterros. A cara
do movimento, o activista, Adam Weissman, aproveita
as entrevistas e palestras que dá pelo mundo ou os
manifestos sob a forma de panfletos que distribui,
para reforçar a ideia de que tudo o que aos outros já
não assentava bem, não estava fresco ou simplesmente
não fazia mais falta, é bom para eles viverem e ainda
distribuirem pelos mais pobres.
Regularmente promovem free markets nos quais, para além
de trocarem e concertarem os bens encontrados, também
repartem conhecimentos que facilitam o dia-a-dia, como
cursos de reciclagem de roupa, de bicicletas e aulas
de cozinha, onde é proibido o uso de moeda.
Acresce o facto de não quererem comprar casa, resolvendo o problema com a reabilitação e ocupação prédios
devolutos. Defendem que o direito a uma habitação se
sobrepõe ao da propriedade privada (dos que dela não
cuidam). Nalguns desses prédios montam escolas, infantários e o que demais acharem necessário.
No seguimento das preocupações ecológicas, obviamente
não usam transportes. Andam nas bicicletas, patins e
skates que encontraram ou consertaram e só em situações inevitáveis dividem boleias de carro. Verdade ou
não, os mais criativos, convertem carros a diesel para
trabalharem com os restos de óleo de cozinha que sobra
1
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e 2 Fotografado
Fotografado por
Fotografado por
Fotografado por
por Mischa www.mischaphoto.com /
Elizabeth A. Miller /
Michael Falco /
Circe
do restaurante.
O desentendimento que por vezes surge entre os proprietários das lojas e freegans motivou uma decisão judicial que se fixou no facto de apesar dos caixotes serem
propriedade pública, não há lei que proteja direitos
privados sobre bens deitados fora. Assim, o dumpster
diving é legal até que seja expressamente proibido por
normas estatais ou locais.
Por entretenimento organizam concertos e “freegan
fashion shows” onde são exibidos os modelos feitos à
mão a partir de roupas ou tecidos achados, na perspectiva de que o que é natural é mais elegante.
Porém, até nestas pequenas culturas há facções que
acabam por ser criticadas pelos freegans puros. Como
é o caso dos que regressam a um estilo de vida tão
primitivo que se alimentam dos animais que matam e dos
que sob o pretexto de ser aproveitado do lixo, também
comem carne (são os meagans, de meat e vegan). Entre
freegans e consumidores tradicionais, já vimos coexistências melhores. Os últimos acusam os freeganistas de
total hipocrisia, porque interpretam tanta moral como
a maneira fácil de viver “à pala”, e na sequência de
insultos tomam medidas mais enérgicas como inutilizar
a comida antes de a deitar fora, forçar a desocupação
de casas e destruir os jardins que aqueles clandestinamente ocuparam ou construíram.
Por cá há bastantes associados no freecycle.org, encontros de mercados livres onde em vários pontos do
país se troca de tudo.
Mas ninguém dá mergulhos?
Só em casos muito pontuais. Parece que os nossos
vendedores e compradores, neste caso provadores, estão tão envolvidos nesta causa que nas prateleiras de
alguns supermercados é possível encontrar embalagens
de comida já abertas. Alguém antes de nós assegura
que quem vier a seguir não vai comprar nada estragado.
À cautela.
3
4 / 5 / 6
/
plus
2
4
5
por Sara Andrade
Chloé Sevigny para
Opening Ceremony 1
É actriz, mas o seu rosto é mais
conhecido pela presença em inúmeras páginas de estilo, porque
Chloé Sevigny é um barómetro de
moda actual. Glamour e elegância
são palavras demasiado cliché
para descrever um gosto pessoal
que mistura o irreverente com o
clássico, o chique parisiense com
o streetwear e um magnetismo pessoal que traz coerência a todas
estas peculiares misturas. E depois de outros ícones lançarem
uma colecção de roupa, como Sarah
Jessica Parker com “Bitten”ou a
linha de Kate Moss para a Topshop, não é de estranhar que uma
referência como Sevigny se junte
ao calibre destas celebridades.
Chloé Sevigny para Opening Ceremony é uma parceria entre a actriz e esta concept-store novaiorquina que resulta numa linha
de roupa e acessórios femininos
com peças bem ao género desta
francesa internacional. De blazers estruturados a bombers, de
óculos de sol “cat-eyes” a bonés
de motard, há uma variedade de
peças para recriar o estilo paradoxal e versátil de Sevigny, inspiradas nos seus ídolos de liceu
e na juventude passada no Connecticut e em Nova Iorque. Inicialmente apenas disponível em
Nova Iorque e Los Angeles, a Europa já pode comprar a colecção
na Colette.
1
2
20LTD, Edições limitadas
de luxo 2
Numa era em que há listas de espera
para se conseguir uma determinada
carteira, acessórios que nascem
com nome próprio ou peças de roupa que se assumem como autênticas
obras de arte, o ser-se original
deixou de ser opcional. Se por
um lado, se assiste à democratização e massificação da moda,
com designers consagrados a contribuírem para grandes armazéns,
cresce, também, a busca pelo que
é único e individual, pelo que é
reservado a apenas alguns. E para
responder a esta procura, o website www.20ltd.com oferece objectos de topo, em edições tão limitadas que, por vezes, só cinco
compradores conseguirão possuir
determinado produto. Com padrões
de exigência que ultrapassam o
simples luxo, só os melhores e
mais especiais poderão figurar
nesta lista de elite, já que a
entrada no website é feita por
convite e aprovação dos editores
do mesmo. De acessórios e peças
de roupa a mobiliário e meios de
transporte, nomes como Christian
Louboutin, Vivienne Westwood ou
David Hicks, contribuem com objectos especiais, feitos apenas uma
vez, vendidos apenas aqui e que
não voltarão a entrar no circuito comercial. E além desta característica de exclusividade, a
sua excelência é ainda comprovada
pelos próprios editores do site,
que estão intrinsecamente ligados
a cada um dos itens em venda, já
que pessoalmente os inspeccionaram, estiveram nos seus locais de
produção e tratam por tu os designers que os criaram, bem como
conhecem e apreciam a história por
detrás de cada uma das suas criações. O recurso online ideal para
preencher o desejo de originalidade ou para encontrar o presente
para a pessoa que tem tudo.
Anel Solange / Cadeira Barber Osgerby
Os bastidores de Diane Von
Furstenberg 3
Depois de décadas sem lançar uma
campanha publicitária, Diane Von
Furstenberg não só o faz com a
modelo Natalia Vodianova e o fotógrafo artístico François-Marie
Banier, como o disponibiliza online para quem quiser seguir a sua
realização e resultado antes de
ser publicada. Em dvfprojects.com
é possível aceder a uma galeria
virtual com os bastidores desta campanha supervisionada por
David Lipman, bem como a um relato de como foi trabalhar com o
artista e a musa da moda. Vídeos
da colaboração são uma constante
em todos os links e já é possível ver em primeira mão o esboço das fotos depois da intervenção de Banier – o resultado
de um trabalho transcendente e
cru, que dispensou a presença de
um stylist, maquilhador ou cabeleireiro, e que, nas palavras
de Vodianova, estabeleceu uma
“ligação não falada, um encontro
de duas almas a um nível surreal,
quase”. Nestas imagens rudimentares de Natalia, surgem pinceladas
artísticas e peculiares, bem ao
género de François-Marie Banier,
mas diferentes de qualquer obra
que o fotógrafo, pintor e artista
alguma vez criou.
Um projecto inédito a testemunhar em www.dvfprojects.com.
3
Linha de homem YSL em vídeo 4
A colecção masculina para o Inverno 2008/09 da casa Yves Saint
Laurent não precisou de passerelle. Stefano Pilati, o director
criativo da marca, decidiu apresentá-la em vídeo com o propósito de, como explica a Suzy Menkes do Herald Tribune, mostrar
a colecção, expor os detalhes,
mas também apelar ao lado emocional da audiência e dotar toda
a película da mood que inspirou e circunda a colecção. Numa
sucessão de imagens poéticas,
quase como se de um catálogo em
movimento se tratasse, o actor
britânico Simon Woods dá vida às
peças clássicas, mas modernas,
num cenário minimalista, ainda
que com o seu quê de romântico.
Num crescendo de acção, o vídeo
é passivo e sóbrio no início,
mas mais movimentado e colorido
à medida que se avança na apresentação – uma clara analogia à
colecção de Pilati, constituída
por peças intemporais, como blazers, que se desconstroem em três
tipos de silhueta (uma mais estruturada, outras mais largas),
e que surge num espectro de cores
que começa em neutros cinzentos
e acaba em vibrantes amarelos e
azuis. Apresentada à imprensa no
showroom do designer, no meio de
instalações costumizadas, o projecto resulta de uma colaboração
entre o criador e Sarah Chatfield
e Chris Sweeney, da produtora
londrina Colonel Blimp. Já disponível online em www.ysl.fr.
Publicidade Vuitton na tv 5
Pela primeira vez na sua história,
a Casa Vuitton lança uma campanha para televisão. Mantendo o
tema do itinerário pessoal como
o cerne da publicidade, a série
começada com Catherine Deneuve e
Mikhail Gorbatchev, entre outros,
na imprensa escrita, viaja agora
até ao pequeno ecrã num anúncio
de noventa segundos realizado
por Bruno Aveillon e traduzido
em treze línguas. Sob a égide
de questões como “O que é uma
viagem” e “Para onde te levará
a vida”, que envolvem o espectador desde o início, a campanha
televisiva terá uma banda sonora
composta e conduzida pelo vencedor da academia Gustavo Santaolalla (responsável pela música
dos galardoados filmes Babel e
Brokeback Mountain) e terá como
director criativo o senhor responsável pelas reconhecidas campanhas da Nestlé, Mattel ou American Express, Christian Reuilly. À semelhança das campanhas
Vuitton na imprensa, onde celebridades de renome são habituais,
a estreia na televisão promete
ser outro sucesso de imagem,
com este elenco de luxo. Decerto
conseguirá apanhá-la nos nossos
ecrãs, mas para os mais curiosos,
o site é www.louisvuitton.fr.
4
40 anos de carreira de Rykiel
com peças de edição limitada 6
No ano em que atinge a sua quarta década de moda e numa altura
em que a loja principal é reinaugurada, é justificado celebrar os eventos com um lançamento
especial. Depois de nove meses
em remodelação, a loja Sonia
Rykiel número 1, no 175, Boulevard Saint-Germain, em Paris,
reabre as suas portas mesmo a
tempo de comemorar os quarenta
anos de chique parisiense a que
a criadora nos habituou e marca a ocasião com a reedição de
uma das suas primeiras camisolas
Poor Boy. Uma relíquia reavivada
dos arquivos do Verão de 1972,
que surge agora modernizada e
apropriadamente limitada a 175
cópias, como o número da sua
estimada loja. Rykiel lança a
camisola totalmente em caxemira
e acrescenta ainda um alfinete
inspirado nesta criação – dois
pássaros sobre um poleiro, iguais
aos ilustrados na camisola, criados em metal e com cristais.
A colette aproveita a ocasião
especial para incluí-los na sua
lista de selectos produtos, disponíveis em www.colette.fr.
6
/
beauty
Shopping Beauty - keep it simple
3
1
7
2
4
5
6
9
8
10
1 Lip Balm, SPF 15, KIEHL’S, €14 / 2 Loção concentrada, Benetint, BENEFIT, €31,50 / 3 Sabonete J’adore, 150grs, DIOR, €13,70 / 4 Gel para o
corpo “Moelleux reveil-corps”, “Euphorisant”, KENZOKI, €40 (preço aprox.) / 5 Creme para o rosto “The moisturizer”, HAKANSSON
/ 6 Toalhitas desmaquilhantes,100 unidades, M.A.C., €34 / 7 Loção Hidratante de Pré-Tratamento, YVES SAINT LAURENT, €32,20 / 8: Sombra de
olhos, SHU UEMURA / 9 Sombra metalizada em creme, LAURA MERCIER / 10 Eau de Parfum, “Rose 31”, 50ml, LE LABO, €110, na Colette
FOTOGRAFADO POR Olivier Jacquet
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1 Óculos “way Shiner”, LANVIN / 2 Sombra de olhos, SHU UEMURA / 3 Pulseira em metal escovado, LOUIS VUITTON, €450 / 4 Vestido em seda,
PEDRO PEDRO, €365 / 5 Ténis em shantung de seda e lona, PF FLYERS, €75 / 6 Base hidratante SPF 15, GIORGIO ARMANI, €43,60 /
7 Pochette “Tosca” em pele aveludada, SONIA RYKIEL / 8 Pochette em pele e metal, CHRISTIAN LOUBOUTIN / 9 Anel em ouro amarelo
com diamantes e pedra citrino e anel em ouro branco com diamantes e topázio, Classe One Croisière, CHAUMET, €2750 e €2980 respectivamete /
10 Sandálias em pele, PATRIZIA PEPE, €251
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Baton, “Rouge Pur, Rose Orchidée”, YSL, €24,80 / 2 Carteira em pele envernizada, MARNI / 3 Pulseiras em plexiglas, MANGO, €10,90 /
Pulseira em metal banhado a ouro com aplicações de plexiglas, LOUIS VUITTON, €400 / 5 Sabrina em pele envernizada, CELINE /
Sandália em pele envernizada, SERGIO ROSSI / 7 Desodorizante, ROGER & GALLET, €12,37 / 8 Carteira em pele, VICTOR HUGO, €905 /
Anel “cerise” em ouro amarelo, diamantes e coral, DIOR JOALHERIA, €3200 / 10 Óculos com armação em plexiglas, BALENCIAGA, €230
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1 Óculos com armações em massa, MIU MIU, €80 / 2 Sandália em pele aveludada com salto compensado, SONIA RYKIEL / 3 Saco em pele
envernizada, CELINE / 4 Havaiana “Summer” com motivos, HAVAIANAS, €18,90 / 5 Vestido em seda, PEDRO PEDRO, €460 / 6 Eau de Parfum
BLACK XS, PACO RABANNE, €54 / 7 Anel “Gigaoui” em ouro branco e diamante, DIOR JOAILLERIE, €12.000 / 8 Sandália “Tammie” em pele polida,
HUGO, €199 / 9 Bracelete em metal com Ágatas pretas, CELINE / 10 Desodorizante perfumado “J’adore”, DIOR, €33,10
1 Óculos com armações em plexiglas, MARC JACOBS, €270 / 2 Bracelete “Seventies” em ouro, DINH VAN, €2800 / 3 Fio-corrente em ouro amarelo
“Gourmette de Dior”, DIOR, €7300 / 4 Baton “Rouge Dior”, DIOR, €25,70 / 5 Vela “Colette Sex” à venda na COLETTE, €25 /
6 Saco de viagem em pele “Taurillon Clémence”, Lindy 45, HERMÈS, €4600 / 7 Creme de côr, SPF 15, 50ml, BENEFIT, €32 / 8 Cinto em pele
com logo em metal, LOUIS VUITTON, €430 / 9 Ténis em pele, “Dunk Vintage”, NIKE, €112 / 10 Eau de Toilette 100ml, Original Musk,
KIEHL’S, €68,50
/
FOTOGRAFADO POR CHRISTOPHE BANIER / STYLING HELGA CARVALHO /
MAQUILHAGEM E CABELOS YUSHI KOSHIKO / MODELO YANA W.
METROPOLITAN PARIS www.metropolitanmodels.com
Lingerie em seda, ERES
Lingerie em seda, GUIA LA BRUNA /
Calças em malha, TILLMAN LAUTERBACH
Vestido em malha de algodão, BY MALENE BIRGER
Lingerie em algodão estampado com aplicações
em renda, GUIA LA BRUNA
Vestido em organdi de seda estampado,
JUNKO SHIMADA
Lingerie em organdi, GUIA LA BRUNA /
T-Shirt em algodão estampado, IKOU TSCHSS
Túnica em seda estampada, LIE SANG BON
Blusa em algodão, €230, LEMAIRE / Cardigan em caxemira, €262,
EURYTHMIC / Lingerie em seda, ERES
Túnica em malha de algodão com aplicações
de tricotados, €933, BLESS
Sweat em algodão, BEND SPORT COUTURE /
Lingerie em seda, GUIA LA BRUNA
Vestido em malha de algodão, €340,
COSMIC WONDER
/
por Yves Lacroix
/
Yves Lacroix, fotógrafo francês, apresenta-nos uma selecção
de imagens que fazem parte do seu trabalho pessoal. Uma América
alternativa repleta de inspirações “Lynch” em cores quentes
que nos remetem para ambientes Seventies.
“Levantava-me cedo todas as manhãs e antes de fotografar os jogadores,
partia com a minha máquina em busca duma outra América”.
Yves, onde e quando foram feitas
estas fotos?
A grande parte das imagens foram
feitas em Las Vegas há cerca de
um ano atrás, no mês de Abril enquanto lá estive a fotografar um
torneio de Póquer. Levantava-me
cedo todas as manhãs e antes de
fotografar os jogadores, partia
com a minha máquina em busca duma
outra América.
Como caracterizas o teu estilo
fotográfico?
É a pergunta mais difícil que me
podias ter feito. Caracterizar o
meu estilo seria como fechar-me
numa espécie de “pequena caixa”.
Imagino-me em constante evolução
e penso que o meu trabalho segue
essa evolução.
Que tipo de imagens preferes
fazer?
Igualmente difícil de responder.
Sinto-me dividido entre a Moda e o
trabalho pessoal. Creio que prefiro um pouco dos dois, ou seja,
imagens pessoais que se adaptam
às personagens que dirijo.
O que mais me interessa é levar o
observador a imaginar a continuação da história. Eu construo um
universo, as primeiras páginas
de uma história e quem está do
outro lado deverá imaginar o final. Diria que o meu estilo é
uma mistura de reportagem e de
imagens pensadas. É sem dúvida um
universo bastante cinematográfico onde os lugares e situações
têm um papel preponderante. Este
tipo de interacção interessa-me
enormemente; eu pinto o décor,
crio um cenário, uma aventura,
e a seguir a vós de imaginarem o
desenrolar da situação. Pensem,
deixem-se ir, trabalhem o vosso
imaginário!
Como acabaste de referir, no
teu trabalho existe um universo
bastante cinematográfico, que
tipo de referências tens?
Sou um grande amante de cinema.
As minhas influências são variadas embora ache que David Lynch
é um dos realizadores que mais
me inspira; os seus ambientes,
a complexidade e multiplicidade
do seu trabalho são fascinantes!
Mas aprecio igualmente Michael
Mann, os
irmãos Coen e ainda
Sergio Leone pelas suas personagens caricaturais e jogos de côr.
Em geral as minhas influências
vêm do cinema americano da década
de 70
até 90. Acho que o que
vemos na nossa juventude é de importância primordial
marca-nos
para o resto da vida.
Fotografia analógica ou o digital?
Não tenho preferência, penso que
é necessário viver de acordo com
os tempos modernos e sobretudo
saber adaptar-se às diferentes
técnicas que vão aparecendo. Tive
a sorte de pertencer a uma geração
que acompanhou bem as duas técnicas. Cresci com o filme e igualmente com os computadores. Tive
formação em fotografia analógica
mas facilmente me adaptei ao formato digital sem deixar de lado
a técnica mais tradicional. Hoje
em dia continuo a trabalhar nos
dois registos. Diria que a grande
parte do meu trabalho pessoal é
feito em analógico. Adoro o facto
de pensar que vou ter um negativo, qualquer coisa concreta
que vou poder guardar nos meus
arquivos. O negativo permite-me
igualmente aumentar a imagem com
a facilidade que um aparelho digital banal não é capaz de fazer,
só os mais caros.
E a Pós-produção que papel tem no
teu trabalho?
Não sou adepto da pós- produção.
Acho que é um instrumento que se
deve usar como qualquer outro.
Não sou fã das imagens construídas a 3D ou em Photoshop, não
é de todo o meu universo, mas
respeito esse trabalho. A minha
aproximação à pós-produção é no
trabalho de chroma, onde as possibilidades são fantásticas. Depois
é necessário saber adaptar-se ao
que é pedido. Há determinados
trabalhos em que a pós-produção é
essencial. A Moda e a publicidade
requerem normalmente um trabalho
de pós-produção mais intenso.
Todas as tuas imagens têm uma espécie de ligação entre elas. É
certo que os décors são fortes
e existe uma estética bastante
marcada. Houve alguma tentativa
de construção de uma história, ou
aconteceu por acaso?
Creio que a história está na minha cabeça. Não penso concretamente, surge naturalmente, pelo
menos surgem os traços gerais.
Claro que existe um período de
reflexão e intelectualização que
faz parte do sentido da construção da história, e como já
referi anteriormente adoro fazer
com que o leitor entre no meu
universo mas sem lhe dar respostas concretas.
/
Cinema
Ousmane Sembène: a queda do príncipe africano
por Carlos Natálio
A pureza artística, hoje expressão cínica caída
em “desgraça”, merece contornos de revitalização
quando olhamos a obra do senegalês Ousmane Sembène,
“pai do cinema africano”. A sua morte, na passada Primavera aos oitenta e quatro anos, abre uma
infeliz visão retrospectiva do que foi o cinema
do “terceiro mundo” nos últimos cinquenta anos.
Citando Fredric Jameson, nome incontornável do pensamento contemporâneo, o intelectual do “terceiromundo” está sempre condenado a ser um intelectual
político, cuja agenda é ditada pela experiência e
necessidade de um povo. Esse destino inevitável é
uma evidência no percurso de Ousmane Sembène.
O contacto inicial com
as regiões mais pobres
do Senegal, em que passou os primeiros anos de
vida, nunca o deixaram.
Aos catrorze anos, após
ter sido expulso da escola, o seu pai envia-o
para Dakar onde passou
por
inúmeros
trabalhos
manuais. Seis anos depois
combatia pela França na
segunda Guerra Mundial e
pouco depois contra esse
próprio país, nas forças
de libertação do Senegal.
Em 1947, na continuação
da sua aprendizagem na
“escola da vida”, muda-se
para França. Aí, trabalha
numa fábrica da Citroën em
Marselha e integra-se nos
movimentos sindicalistas
locais. Este é o momento da descoberta do activismo
político, juntando-se com naturalidade ao partido
comunista e ao CGT (Confederation Générale des Travailleurs). Aos poucos a sua vitalidade intelectual, permitiu deixar para trás a vida de trabalhador
assalariado, conquistando o estatuto de humanista
e pensador do movimento trabalhista.
A par da actividade política, na qual luta para
liberar a sociedade francesa do estatuto iliterado
e apolítico dos trabalhadores africanos, Ousmane
desenvolve uma carreira como romancista. As suas
primeiras obras fundem a tradição do romance burguês do século XIX com experiências pessoais. São
os casos de “Le Docker Noire” (1956), relato ficcionado de um africano trabalhador nas docas de
Marselha, ou a sua sequela “Ô Pays, Mon Beau Peuple”
(1957). A partir daí, nas suas obras estará sem-
pre presente uma dimensão de crítica social, de
uma perspectiva materialista. A crítica inicial
de Sembène repousa sobretudo nos abusos de poder
colonialista e dos seus efeitos ao nível da distorção dos valores culturais e das jovens sociedades
africanas em formação. “Les Bouts de Bois de Dieu”
(1960), romance sobre a segunda grande greve de
caminhos de ferro no território da África Ocidental dominado pela potência francesa, é disso bom
exemplo.
Aos quarenta anos, Sembène, já no Senegal, agora
independente, dá-se conta que o cinema é a arte que
lhe permite ultrapassar a iliteracia do seu povo.
Ao longo de quatro décadas
realiza apenas nove longas metragens, todas elas
partindo da transposição
do literário ao fílmico.
“La Noire de...” (1966),
a sua primeira obra é
um retrato realista, com
influência
estilística
da Nouvelle Vague, dos
efeitos nefastos do colonialismo. Dois anos depois, “Mandabi”, filmado
em Wolof a língua local
do Senegal, confirma o
cinema populista e recto
de Sembène. A cada novo
filme
vão-se
sucedendo
os entraves à produção e
divulgação. “Ceddo”, uma
re-escrita
da
história
do Islão no Senegal, foi
censurado em quase todo o
mundo. Consequência: dez anos sem filmar. “ Le Camp
de Thiaroye”, vencedor do grande prémio do júri
em Veneza e proibidíssimo em França, retrata um
episódio de massacre das autoridades gaulesas dos
soldados africanos regressados da Segunda Grande
Guerra. Sembène fecharia o século com dois filmes
sobre a luta pelo estatuto da mulher africana:
“L’Heroism au Quotidien” e “Faat Kiné”. “Moolaadé”
de 2004, a sua última obra, premiada um pouco por
todo o mundo, critica o costume da excisão feminina
em países africanos.
A obra irreverente que Ousmane Sembène nos deixa
tem uma preocupação única: esbater diferenças entre mundos. A fusão do político e do pessoal, a
indegenização do “medium” e a denúncia são batalhas
que, com o artista, começam a ser travadas, a partir
de “dentro”.
nesta pag:
pag dir:
Ousmane Sembène
Imagens retiradas do filme “Moolaadé”.
/
Arte
Armanda Duarte: Combinações e jogos
por Francisco Vaz Fernandes
O universo criativo de Armanda Duarte parte de
princípios conceptuais que mergulham no seu quotidiano próximo. A artista constrói um universo
sensorial que mesmo inserido num quadro social,
nunca se conforma com uma reacção imediata ou tentativa de representação simplista do real. O seu
trabalho apela sempre a uma construção poética
dessa realidade e ao discernimento de sentimentos
universais partilháveis em qualquer contexto cultural. A artista inscreve-se no meio dos acontecimentos que geram a sua ordem poética apelando mais
ao seu ser que à sua presença.
Nessas circunstâncias, é difícil falarmos do seu
trabalho a partir de uma perspectiva formal e técnica quando se olha para o conjunto da sua obra.
Ela varia muito de trabalho para trabalho, com
opções materiais e formais ao serviço da poética
das ideias. O que vigora em cada projecto são jogos de relações, por isso, os materiais, formas e
expressão são convocados conforme as necessidades
de cada projecto. O que resulta é uma interrogação
sobre a possibilidade de uma representação do real
mais complexa.
Ao abordar o trabalho de Armanda Duarte, dou ênfase ao seu mais recente trabalho que se encontra exposto na Plataforma Revolver, em Lisboa e
aproveito para fazer uma pequena retrospectiva do
seu percurso através de algumas das suas obras emblemáticas. Relativamente ao trabalho exposto na
Plataforma Revolver abordo mais directamente, como
exemplo da sua actividade artística, o trabalho
que se intitula, “Uma Bata e uma Combinação”. Composto por círculos de barro que contêm água, esta
obra resulta de várias referências. Da memória
de uma viagem, em que tecidos enrolados ao lodo
serviam para estancar e conduzir a turbulência da
água da enxurrada, e parte ainda da lembrança dos
vasos de flores que se perfilam nos pátios portugueses, nomeadamente dos pratos que reservam a
água debaixo deles. No entanto, o que conduz este
trabalho não é tanto o retrato dessas duas realidades imediatas nem as questões socio-culturais
implícitas, mas a observação de um gesto de cuidado de manutenção com um valor mais amplo, universalista e abstracto. Para além da plasticidade
do trabalho, o que se requer é a manutenção diária
das formas circulares de barro. Este lado performativo é manifesto diariamente por cinco eleitos
do seu círculo de amigos, denominados “Os Vigilantes”, título doutro trabalho exposto. Uma vez por
dia, um deles passa pela galeria para verificação
e manutenção da obra. Têm ao seu dispor, no próprio
espaço expositivo, à vista do público, todos os
elementos necessários para os seus cuidados: água
para preencher os contentores, assim como uma tesoura e uma bata que pode ser retalhada para o caso
de ser necessário vedar as gretas que se possam
gerar nas paredes de barro. A enumeração dos elementos é uma das constantes na obra da artista que
nos faz lembrar a preocupação de uma objectivação
do trabalho artístico fora de qualquer tentativa
de transcendência.
Seria a presença dos “Vigilantes” que daria, então,
origem a um segundo trabalho a expor na Plataforma
Revólver. O projecto começou com a solicitação de
um desenho em torno da idade de cada um dos participantes que, posteriormente, deveria enviá-lo
pelo correio. Na sequência, a artista desenhou com
um certo realismo cada um dos projectos enviados para, depois, expor numa prateleira. De certa
forma, são cinco desenhos de desenhos explorando
a sua tridimensionalidade. São igualmente a oportunidade de registar outras presenças. Armanda,
neste como em outros trabalhos, tem abordado a
possibilidade de uma comunicação dialógica entre
ela e os assistentes. Esta prática vem de uma certa
relação que a artista estabelece com o projecto em
si. Cada projecto constitui-se como um enunciado
que estabelece, à partida, uma ordem e uma perspectiva de desenvolvimento. Podem autonomizar-se
seguindo as premissas muitas vezes de ordem lógica
ou matemática.
Daí que, momentaneamente, possam estar à deriva,
sob efeito de factores exteriores, que tanto podem
ser outros sujeitos como outros factores de ordem
natural. A organicidade que está em geral presente
nos seus trabalhos, prende-se muitas vezes a esta
questão da sobreposição de acidentes decorrentes
de um desenvolvimento natural das coisas. É como
se a linearidade estabelecida pelo enunciado se
prestasse a um espaço suficiente para o outro, ao
imprevisível e ao disforme que lança o caos regenerador. No caso desta exposição, os contentores
encontram-se à mercê das reacções do próprio material, assim como das intervenções dos “Vigilantes” que os vão condicionar provocando diariamente
transformações. Em outros trabalhos anteriores
verificaram-se vários estratagemas de calendarização e de contabilização que eram sobrepostos a uma
outra temporalidade marcada por transformações da
organicidade dos elementos convocados.
“Pequena Torre Sem Fim” Trabalho constituído por dedais dourados empilhados fazendo referencia à “Coluna Infinita” de Brancusi
e ao interesse comum pela concepção de módulos que se possam estender até a um infinito. Este trabalho realizado cerca de 60 anos
depois ganha um sentido de instalação e refere-se a um universo feminino e às tarefas domésticas desse universo, também elas repetitivas
até ao seu infinito.
“Uma Bata e Uma Combinação” instalação na Plataforma Revolver, 2008.
“Grande Coração de Canela” de 1998 é constituído por bagos de arroz alinhados no solo que marcam uma quadrícula mais ou menos geométrica
tal como encontramos nos desenhos com que se decora o arroz doce. Neste trabalho apresentado pela primeira vez no Japão, a artista procura
referências da sua própria cultura e inscreve as suas práticas artísticas num saber comum. Ao mesmo tempo faz referência, por via erudita,
à escultura de Carl André, nomeadamente à horizontalidade das suas propostas. Contudo a proposta da artista preserva uma dimensão de desenho.
“Transporte aos Quadradinhos.“ Este trabalho foi desenvolvido paralelamente com outros e em todos eles a artista procura transportar o seu
contexto criativo, o seu próprio espaço de atelier, para uma sala de exposições. Procura estabelecer um espaço que contenha outro espaço.
Mais do que reconstuí-lo ou representá-lo, este subsiste de forma indicial. “Transporte aos Quadradinhos” consiste em pequenos quadrados
empilhados feitos a partir da velha alcatifa que ocupou durante anos o solo do atelier da artista.
“Muro” trabalho realizado durante uma residência na Fábrica da Pólvora em 2007 no qual a artista propôs a construção de uma peça in situ
apenas com os materiais que se encontravam na zona envolvente. O espaço que se desenha a partir de diferentes elementos empilhados em torno
da artista, circunscreve-se a um espaço vital, área de intervenção e de mobilidade. A artista confronta a fragilidade da sua construção
com a possibilidade de sobreviver num espaço público. Convida o público a intervir e a colectar materiais para a sua construção que são
depositados em três caixas segundo a sua natureza.
“Palmira 66F” neste trabalho que foi mostrado na Culturgest em 2001, Armanda apresentou uma instalação onde sobre folhas de papel foram
depositados restos de chapéus de criança. Desfeitos, todos os componentes que formavam um chapéu foram depositados ou indexados sobre
a folha. Irreconhecíveis, os que foram de natureza galante, restam como matéria amorfa, explorando um certo sentimento de abjecto.
/
“Quero desenvolver essencialmente,
peças sem falsas aparências, sem pretensiosismo.” Ricardo Dourado
Escolheria a palavra multifacetado para definir este jovem criador que
além de apresentar as suas colecções sazonais, desenvolveu projectos
para indústria têxtil e de calçado a nível nacional e internacional,
colaborou com a Search Magazine no departamento de styling e permanece
como formador no CITEX.
por Diana Dias
Nasceu em 1980, e é já uma
referência entre os jovens
criadores portugueses. A sua
formação passou pelo CITEX,
onde é formador de Design
de Moda. Colaborou também
nos ateliers de Osvaldo
Martins, Helena Matos e
Lidija Kolovrat. Envolveu-se
em vários concursos como
as plataformas para jovens
criadores, Sangue Novo,
Mod’tissimo e os Novos
Talentos Optimus
Foram estes os trilhos
percorridos até chegar
às apresentações no LAB
da ModaLisboa.
A colecção de Verão 2008
veio mais uma vez confirmar
a excelência do trabalho
deste jovem criador que
ostentou uma combinação
quase intelectual entre
a forma e a côr. Os tons
surgiram secos numa paleta
de cores terra, sóbria,
rasgada por laivos de luz
azul, amarelo/dourado
ou vermelho.
Na linguagem de Ricardo
Dourado, esta estação
tem uma modelagem quase
“matemática”, remetendo-nos
de imediato para um universo
desconstrutivista que me faz
criar uma ponte entre
a Moda e a Arquitectura.
Um universo que se define
por um desenho não linear,
pela manipulação da
aparência das estruturas
em que a linha visual final
é caracterizada por uma
ideia de caos controlado.
Ricardo Dourado surpreende-me em cada colecção pela
sua linguagem contemporânea,
integrando-se perfeitamente
nas linhas condutoras das
tendências internacionais.
Vamos conhecer a pessoa
por detrás deste imaginário.
Ricardo, frequentaste o curso de
Moda do Citex onde actualmente és
formador. Qual a importância da
formação nos trabalhos criativos
como a Moda e como vez o panorama
actual deste tipo de formação no
nosso país?
Admitindo que a formação de Moda
em Portugal tem pouco mais de 20
anos, entendo que ainda temos
um longo percurso pela frente.
Grande parte dos formadores de
Moda têm a mesma experiência,
direccionada principalmente para
a indústria têxtil, sector muito
forte nas décadas de 80/90. Só
mais tarde surgem os Produtores,
Editores, Stylists e Criadores
com diferentes formações académicas vindo conferir à formação de
Moda uma abrangência de saberes
e experiências imprescindíveis.
Actualmente este tipo de formação está cada vez mais especializada e melhor estruturada,
podendo os alunos escolher desde
cursos
técnico/profissionais,
a licenciaturas ou outros cursos específicos. No meu caso e
após o curso no CITEX concluo que
ainda pertenci à geração formada
especificamente para desenvolver
carreira no sector industrial,
ainda que com fortes componentes
conceptuais ao nível da pesquisa, criação de projecto bem como
desenvolvimento de pensamento
sócio-cultural.
Acredito que estas componentes
tenham sido determinantes para a
minha formação enquanto designer,
muitas
vezes
recordo-me
de
frases/conselhos que me ajudam a
tomar direcções. Embora acredite
que um designer seja capaz de desenvolver um trabalho ecléctico,
ou que a escola deva incutir no
aluno um conjunto de noções e experiências diferenciadas, estou
convicto que
o início da carreira de um designer começa na
escolha da escola, que por sua
vez deve seguir directrizes o
mais distintas possíveis criando
assim uma marca diferenciada de
design .
O que mais gostas na tua actividade de professor/formador? Achas
que esta tua vertente influencia
de alguma forma a evolução do teu
trabalho como Designer de Moda?
Sem dúvida que influencia, especialmente na forma como encaro
os meus preconceitos (todos os
temos). Ainda que sem ter essa
noção, muitos dos meus alunos
ajudam-me a ultrapassar alguns
preconceitos relativos ao desenho específico de peças, ou ainda no desenvolvimento conceptual
das colecções, através da descontextualização ou de misturas de
temas/ambientes/conceitos. Por
outro lado, um grupo de pessoas
a partilhar experiências e diferentes perspectivas, faz com que
algumas aulas se tornem muito
estimulantes.
Definitivamente se algo está a
faltar em Portugal, não é talento. Entendo que faltam essencialmente plataformas onde se possa
mostrar trabalho, para assim podermos contar com um futuro em
que a Moda nacional se faça notar
pelo design inovador.
O Porto tem-se distinguido pelo
estímulo dado à interacção entre
criadores e indústria. Que experiências já tiveste nesta área
e como as avalias?
Posso referir algumas boas experiências como a Eical, onde
desenvolvo colecções de knitwear de alta qualidade, com base
em matérias primas como sedas,
caxemiras, bambus, sojas, etc.
A Onara, na qual desenvolvi uma
marca para homem, onde ressalta
a experiência na área da distribuição, não muito comum em
Portugal, e recentemente na LCDINOV.DESIGN à qual me associei
pela perspectiva inovadora que
em cima da esq para a dir:
Colecção Verão 2005, Arquivo Moda Lisboa, Fotografia Rui Vasco, Pós-Produção (recortes) Sara Gomes / Colecção Inverno 2005/06, Arquivo
Moda Lisboa, Fotografia Rui Vasco, Pós-Produção (recortes) Sara Gomes / Colecção Verão 2006, Arquivo Moda Lisboa, Fotografia Rui Vasco,
Pós-Produção (recortes) Sara Gomes
tem relativamente à industria do
vestuário.
As tuas colecções têm como fio
condutor a modelagem e o cuidado cromático. Que factores consideras que te diferenciam dos
outros criadores? Qual é a tua
“imagem de marca”?
No meu projecto tento desenvolver uma perspectiva minha, mais
que criar novas fórmulas.
Neste momento tento estabelecer
no meu trabalho uma espécie de
street couture onde desenvolvo
volumes particulares em tecidos
especiais, mas sem
esquecer o espaço de
rua ou um ambiente de
conforto.
Naturalmente que para sentir que o trabalho
é digno, necessito
de uma pesquisa intensa
ao nível da
modelagem. A paleta
funciona a um nível
mais intuitivo.
Ao desenvolver as
colecções,
muitas
vezes
estabeleço
com alguma subtileza sentidos paralelos às peças. Por
exemplo na colecção
de Verão 08, apresentei um vestido
com
guizos,
que
acrescentou
“som”
à colecção. Na colecção anterior a essa, apresentei o “holograma” e nesta última (Inverno 2008/09) apresentei
uma peça com vários relógios
digitais “casio”. Talvez sejam
estas pequenas intervenções nas
colecções, que ajudam a criar uma
“imagem de marca”. Contudo quero desenvolver essencialmente,
peças sem falsas aparências, sem
pretensiosismo.
No panorama internacional quem
tens como referência?
em cima da esq para a dir:
Colecção Inverno 2006/07, Arquivo Moda Lisboa/ Fotografia Rui Vasco / Colecção Verão 2007, Arquivo Moda Lisboa, Fotografia Rui Vasco,
Pós-Produção (recortes) Sara Gomes / Colecção Inverno 2007/08, Arquivo Moda Lisboa, Fotografia Rui Vasco, Pós-Produção (recortes) Sara Gomes /
Colecção Verão 2008, Arquivo Moda Lisboa, Fotografia Rui Vasco, Pós-Produção (recortes) Sara Gomes
Rem koolhaas, Oscar Niemeyer,
Rick Owens, Damien Hirst e Michael Mayer.
As tuas colecções remetem-me sempre para um universo de correntes
históricas ou artísticas, é essa
a tua intenção? Fazes muita pesquisa antes de desenvolveres uma
colecção?
Não tenho uma intenção definida, surgem naturalmente talvez
por serem as minhas áreas de interesse. Pesquiso muito, costumo
dizer que a linha que divide o
meu trabalho e a minha vida pessoal não existe, no sentido em
que estou sempre em pesquisa.
Muitas vezes é em viagem, ao
volante que surgem as primeiras
ideias, depois é só passar para
o papel e desenvolver, limpar e
arrumar tudo... Entretanto, durante o processo de esboço, surge
não sei bem de onde, outra ou
outras ideias que vêm ajudar a
sustentar
transversalmente
a
colecção.
Ricardo Dourado fotografado por Ricardo Cruz
Em 2006 participaste nos “European Fashion Awards” em Milão.
Como vez esta participação na
evolução da tua carreira?
No início os concursos eram a
única forma de apresentar publicamente o meu trabalho e de o tentar fazer notar-se. As revistas
de moda portuguesas que existiam
eram muito poucas, hoje encaro
um concurso como uma forma de
conhecer novas pessoas, perspectivas e inevitavelmente novas
oportunidades.
Durante
um
determinado período
colaboraste como
stylist na publicação Search Magazine. Para ti qual
é a importância do
styling em Moda?
Entendo
que
o
styling é um processo
criativo
tão válido como a
criação de Moda ou
de design. Quando
colaborei com a
Search procurava
peças identificativas dos ambientes em que a
Search circulava,
no sentido de lhe
atribuir através
da
Moda
alguma
identidade.
É nesta perspectiva que gosto de
pensar em styling na criação /
destruição, contextualização ou
descontextualização de identidades ou simbologias
Para terminar,
como vez o teu
trabalho no futuro?
Não sei bem ... quanto ao futuro tenho vontade de fazer tanta
coisa que não sei bem por onde
começar...
/
Música
FUNK GLOBAL: das Caldas a Tel-Aviv
por Tiago Santos
Do país deles não vem funk nem há groove, mas há
ventos de soul e bons casamentos de electrónica
com os breaks do Mr.Dynamite, James Brown. Da terra de onde vêm não há tradição do funk, mas ainda
assim, cada um destes talentos mergulha no som da
América negra para descobrir novas pistas para a
música de hoje.
Dj Ride, das Caldas da Rainha, e o músico Kutiman,
de Tel-Aviv, partilham mais do que a deslocação
dos grandes centros da indústria. Ambos têm um
profundo enraizamento na música que lhes chega sobretudo de velhos discos de vinil e demonstram procurar na tradição, as bases para os seus primeiros
voos. Além disso, os dois jovens de vinte e poucos
anos, parecem no seu imenso talento, verdadeiros
prodígios, num mundo impregnado de estrelas semi-despidas pela televisão.
A atracção do poder minimal de um break, só pode
ser comparado ao efeito magnético de determinadas
capas de LP. O seu efeito é viciante, por tudo o
que comporta de energia e de afirmação do ser humano. Mas o que para a maioria de nós não passa de
um pedaço mágico de música, significa para muitos
a fonte sonora ou apenas a inspiração, para novas
abstracções. Lançando deste modo, as sementes para
o futuro e a garantia que a luta (traduzida em
tantos gritos de orgulho, de metais, de guitarras
ou de scratch) continua.
Se o hip-hop é a primeira forma musical da globalização, então o funk que o alimenta e inspira é a
sua raiz mais funda numa história que começou nos
finais da década de 60. Mas talvez por isso mesmo,
essa descarga livre de ritmo e luta concentrada
num break de bateria, assume hoje tantas formas
distintas em todas as partes do mundo.
Em Israel, não haverá grande tradição do funk. Mas
isso não impediu o jovem Ophir ”Kutiman” Kutiel,
de ser apanhado pelo vício do groove. Este “OVNI
de Zichron, uma pequena aldeia do norte de Israel”, como Kutiman se apresenta, tornou-se aos
vinte e cinco anos na vanguarda do funk, na frente
do médio-oriente. Multi-instrumentista e produtor,
Kutiman iniciou-se no estudo da música aos seis
anos de idade. Mais tarde, quando integrou a universidade musical de Rimon, em Tel Aviv, descobre,
através do seu amigo e cúmplice Dj Sabbo, a música
de James Brown e de Fela Kuti e a sua dieta de
jazz começa a ser quebrada com gordas quantidades
de breaks calóricos. Depois de vários singles receberem destaque na imprensa e rotação nas malas
de alguns dos maiores Djs internacionais, Kutiman
lançou no final do ano passado o álbum homónimo de
estreia, onde desde no primeiro compasso se instala a sensação de estarmos a iniciar uma verdadeira
viagem à galáxia do groove. Imaginem a música que
se poderia ouvir no lounge cósmico na abertura do
filme 2001: Odisseia no Espaço, misturado com as
possíveis visões de Barbarella sobre o efeito da
droga do amor. Tudo isto, compilado numa cassete
para ouvir nas rodagens de Shaft in Africa, a
soar como se os “Fabulosos Quatro”, fossem afinal
negros e tivessem vindo de Lagos, na Nigéria. Ou
seja, música a cruzar os limites do nosso tempo,
repleta de visões de funk e afrobeat, coloridas
pelo psicadelismo, a servir unicamente os propósitos da evasão. Num disco baseado na instrumentação
clássica de uma banda de funk, interpretada na sua
maioria pelo próprio Kutiman, esta estreia guarda
na produção e na originalidade dos arranjos, o
toque de modernidade que garante o sabor contemporâneo da nova geração do funk deste milénio.
Manipulando a mesma matéria-prima, mas numa perspectiva do hip-hop, Dj Ride oferece na sua estreia, uma colecção de temas onde o “turntablismo” se
associa às sonoridades quentes dos sintetizadores
vintage e ao poder universal dos breaks. Chegando
mesmo a arriscar com sucesso o formato das canções, Ride, um duplo campeão nacional de scratch
no circuito ITF (International Turntablism Federation) apresenta no seu disco, Turntable Food, um
conjunto de argumentos para esperar o melhor de um
futuro, que agora se descobre. Mas acima de tudo,
revela uma capacidade de criar um universo próprio
a partir de uma tradição que continua, mais de
trinta anos depois, a se renovar.
pag esq:
nesta pag:
Músico Kutiman, Tel-Aviv
Dj Ride, Caldas da Rainha
O funk e os seus mestres, devem observar das estrelas com um sorriso dourado, esta nova revolução.
KUTIMAN-LUTIMAN, MELTING POT 2007
DJ RIDE- TURNTABLE FOOD, LOOP 2007
/
novas tecnologias
Vestuário e tecnologia
A simbiose entre o vestuário e a tecnologia continua e reflecte
as preocupações da nossa época. Neste número, apresento três exemplos
que versam sobre a saúde, o desporto e a ecologia.
por Michele Santos
Moda Solar
Numa época em que se acentuam cada vez mais as
opções pelas energias alternativas, a moda tenta
também seguir as boas práticas nesta área. Começa-se
a falar, e a comercializar, a moda solar. Existem
várias peças, desde acessórios a parkas, com estes
dispositivos, que servem para armazenar os raios
solares e transformá-los em energia. A energia
armazenada serve para carregar pequenos dispositivos, como PDAs, telefones ou MP3. Uma das empresas
que comercializa este tipo de produtos é a SOLARC,
que em colaboração com a Artbag24 desenharam alguns modelos de malas.
www.solarc.de
Vestuário que monitoriza o coração
A NuMetrex tem uma linha de vestuário desportivo
que usa um tecido inteligente, onde estão incorporadas fibras sensitivas, que monitoriza o ritmo
cardíaco. Estas peças de vestuário vêm substituir
as tiras de elástico e borracha que em contacto
com a pele avaliavam o ritmo cardíaco. A NuMetrex
oferece uma alternativa mais confortável, incorporando nas várias peças, adequadas à prática de
exercício físico, este sistema que transmite as
informações recolhidas para um relógio de pulso ou máquina de exercício físico compatível.
Os eléctrodos têxteis são incorporados na malha
de modo a acompanhar os movimentos, por isso,
quando nos movemos, a malha e os eléctrodos também se movem. Estes eléctrodos, em contacto com
a pele, sentem o pulsar do coração. Um pequeno
transmissor é colocado num bolso, na frente da
peça, permitindo a comunicação dos dados do batimento cardíaco para outro dispositivo compatível. As peças são feitas em malha sem costuras,
numa mistura de nylon e Lycra ®, conferindo aos
seus utilizadores uma sensação de segunda pele.
www.numetrex.com
O desporto de elite e a moda avant garde
de Comme des Garçons
A Speedo na criação do seu último modelo de fatos
de banho LZR Racer, em conjunto com uma das marcas de moda mais influentes, a Comme des Garçons
apresentaram, não só o fato de banho mais rápido e
inovativo, como também, o mais criativo e apelativo. O fato é construído com o exclusivo tecido LZR
Pulse da Speedo. Ultra leve, potente e repelente
à água, o LZR Pulse reduz as oscilações musculares
e as vibrações da pele através da compressão que o
tecido faz na pele. Este tecido de secagem rápida
oferece também menos atrito que a pele humana.
Um estabilizador interno, na zona da cintura abdominal, comprime e ajuda a manter o corpo na posição
adequada, debaixo de água, durante mais tempo.
As costuras são coladas, criando uma superfície suave e flexível. Mais de 400 atletas de
elite foram medidos, com o auxílio de um scanner
3D, para melhor adaptar o molde do fato do banho,
à forma dos seus corpos. Dentro de alguns meses
veremos desfilá-los, não nas passerelles, mas no
cais da piscina olímpica de Pequim, onde os nadadores mais talentosos os farão brilhar dentro e
fora de água. Um exemplo da mistura de competências e da criação de um bom design , nas vertentes
técnicas, funcionais, estéticas e user centered
design .
www.speedo80.com/lzr-racer/
/
expos moda
BIJUTARIA DE DIETER ROTH 1
Em colaboração com as Edições
Periferia de Lucerne (Suíça) o
Museu das Artes Decorativas em
Paris, apresenta uma exposição
de bijutaria de Dieter Roth que
reúne um conjunto de peças inovadoras desenhadas pelo artista
nas décadas de 60 e 70, consideradas verdadeiras obras de arte
portáteis.
Dieter Roth (1930/1998), pintor, escultor, designer, poeta,
realizador de cinema, escritor
e comissário das suas próprias
exposições, é considerado actualmente um dos mais influentes
criadores do século XX.
Esta exposição apresenta seis
modelos de “anéis-esculturas”
transformáveis, dando a possibilidade de obter cerca de 40
anéis diferentes! Documentos,
desenhos, croquis, cartas, e
postais enviados por Dieter a
Hans Langenbacher (ourives Suíço
proprietário da colecção), permitem acompanhar passo a passo
toda a interactividade entre o
artista e o ourives.
Exposição a ver brevemente no
MUDAC.
www.mudac.ch
1
DYS-FASHIONAL Adventures
in Post Style 2
Esta é uma exposição dedicada à
Moda mas que não expõe vestuário.
Mete em cena todas as matérias
que fazem da Moda um dispositivo de representação de migração
identitária. “Moda” é um termo
que designa vestuário e mudanças
sazonais mas o fenómeno “Moda” na
sociedade pós-moderna ultrapassa
o domínio estético para se tornar
sensação, ritmo espaço e ainda
mais, uma disposição global do
indivíduo que delega à aparência mutável a capacidade de se
definir.
A ideia desta exposição é de
inverter os princípios e convidar os criadores de Moda a não
apresentarem as suas colecções,
mas a realizarem instalações que
exprimam o seu universo e imaginário. Hussein Chalayan, Jean
Colonna & Jeff Burton, Hiroaki
Ohya, Maison Martin Margiela,
Antonio Marras, Grit & Jerszy,
SHOWstudio, Raf Simons, Sissel
Tolaas e Gaspard Yurkievich construíram os seus ambientes, objectos e filmes, num horizonte
complexo, plural onde a Moda está
presente para lá dos objectos que
a materializam, como um laboratório de experiências ou como
um estado de sensibilidade. Um
espaço híbrido entre o atelier, a
galeria e o concept store. Um lugar inteiramente consagrado aos
artistas e designers emergentes
que exploram as zonas de fronteira da Moda contemporânea.
No MUDAC.
MUDAC- Musée de Design et d’Arts
appliqués contemporains
Pl. de la Cathédrale 6, Lausanne
Denis Piel apresenta FACESCAPES
no Museu Nacional do Traje
e da Moda 3
O Museu Nacional do Traje e da
Moda expõe de 18 de Abril a 19
de Outubro de 2008, o trabalho de
Denis Piel composto por fotografia de grande formato
e trabalhos multimédia. “FACESCAPES
pretende explorar a essência
comum da condição humana, apresentando imagens de rostos que
revelam, de perto, como a vida
deixou a sua marca – como o tempo 3
e a experiência altera o rosto
assim como o clima e a intervenção humana alteram a topografia da paisagem natural. São fotografias abstractas, estáticas,
frontais e, por vezes, análises
dramáticas”.
O trabalho de Denis Piel (França
1944) dispensa apresentações.
Fotógrafo, realizador e escritor, com uma sólida carreira de
45 anos, dedicou-se à publicidade
e à moda onde efectuou variadas
campanhas para grandes marcas e
trabalhou nas mais conceituadas
revistas. Em paralelo, Denis tem
exposto o seu trabalho um pouco
por todo o mundo.
Fotografia Denis Piel
2
VÉRONIQUE BRANQUINHO TOuTe NUe 4
O Museu da Moda de Anvers (MoMu)
apresenta de 12 de Março a 17
de Agosto a exposição VÉRONIQUE
BRANQUINHO TOuTe NUe para celebrar os 10 anos de carreira da
criadora belga.
Através desta retrospectiva, Véronique dá a conhecer o seu mundo
ambíguo oferecendo uma visão de
temas múltiplos que dominam o seu
trabalho e conferem às colecções
uma assinatura inequívoca. Referências como o cinema, música e
fotografia estão presentes no
trabalho da criadora. Véronique
caracteriza-se por uma constante
dualidade: seduzir e rejeitar.
A mulher que a criadora representa é inocente e sensual; bem
humorada e segura; misteriosa e
complexa. Na concepção desta exposição, Véronique contou com o
apoio do Collectif Blitz
MoMu- Mode Museum Provincie Antwerpen
Nationalestraat 28, B-2000 Anvers.
Tel +32 3 470 27 70
www.momu.be
Fotografia Ronald Stoops
Fotografia Denis Piel
4
“De clics en couacs!
Copie sur internet” No Museu
da Contrafacção 5
Uma exposição que tem como objectivo alertar a vigilância dos
consumidores que efectuam compras através da Internet e que
estão sujeitos a serem enganados
ou roubados. Desvenda igualmente
o panorama da ciber-criminalidade mostrando como as cópias
proliferam em determinados sites
de venda, muitos deles dedicados
somente à cultura da falsificação. Mostra-nos como sites não
oficiais das marcas, distorcem a
verdadeira essência do “particular ao particular” e como redes
organizadas oferecem aos falsificadores industriais, informações que os ajudam distribuir
as suas falsificações. No rol
encontram-se produtos de luxo,
medicamentos, produtos alimentares e brinquedos.
No museu da contrafacção, criado
em 1951 pela Union des Fabricants, podemos encontrar igualmente a
exposição permanente
que
de forma didáctica informa o público acerca da contrafacção e a sua repercussão sobre a economia mundial. Apela
à tomada de consciência para a
importância da propriedade industrial e dá a conhecer as sanções previstas pela lei. Único
no seu género, apresenta um inventário bastante diversificado
de produtos autênticos e contrafeitos dando a oportunidade ao
visitante de comparar e ver as
diferenças: bronzes de Rodin,
perfumes, tabacos, dicionários,
programas informáticos, CD/DVD,
louça, marroquinaria, peças de
automóveis, etc.
HERMÈS e a Arte Nómada: 6
No Museu de Arte Contemporânea
de Castilha e León, podemos encontrar a H Box, a mais recente
proposta de Arte Nómada da casa
Hermès. Concebida por Didier Fiuza Faustino, artista e arquitecto e Benjamin Weil (responsável pela direcção artística),
esta espécie de nave futurista
projectará anualmente
criações
de oito artistas cineastas em
diferentes países. O projecto
foi iniciado no mês de Novembro no Centro George Pompidou em
Paris, e seguiu para Espanha onde
esteve até ao dia 4 de Maio, onde
“voará” para o MUDAM , Museu de
Arte Moderna Grand-Duc Jean no
Luxemburgo até 23 de Junho. De 2
a 31 de julho estará patente na
Tate Modern, Londres.
www.musac.es
www.mudam.lu
www.tate.org.uk
6
www.mudac.ch
Musée de la Contrefaçon,
16, rue de la Faisanderie. 75116 Paris.
Tel +33 (01).56.26.14.00
Exposição temporária até Maio de 2008
5
/
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Ana Rita Clara em Entrevista Marie Laure de