Colóquio comemorativo dos 25
anos do Memorial do Convento
A construção de edifícios em Portugal no século XVIII:
de Mafra à reconstrução de Lisboa
João A. Silva Appleton
Mafra, 17 Novembro de 2007
A construção ao longo do tempo
Edifícios de Transição
Edifícios
Antigos
Pré-Pombalinos
até 1755
Pombalinos
1755 - 1850
Tardo-Pombalinos
1850 - 1900
(Cimento Portland / Betão Armado)
1930 - 1950
Gaioleiros
1880 - 1940
Betão 1ª Fase
(1900 – 1960)
Edifícios
Recentes
Betão 2ª Fase
(1960 – 1980)
Betão 3ª Fase
(1980 – ...)
Aço e Aço / Betão
(1990 – ...)
Notas:
1. As datas de início e fim de cada época correspondente a uma dada
tipologia são indicativas, podendo sobrepor-se, o que significa que
num dado momento coexistem diferentes soluções construtivas.
2. A arquitectura do ferro desenvolve-se num período que
praticamente coincide com o dos “Gaioleiros”.
3. Cada tipologia construtiva apresenta soluções vanguardistas e
tardias, o que significa que as datas referidas podem ser alargadas.
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A construção ao longo do tempo
Conhecer a forma como, mesmo com materiais cujo uso
pouco se alterou ao longo de séculos, foi evoluindo o modo
de produção de edifícios é importante, na medida em que esse
conhecimento permite compreender melhor qual a
importância dos elementos construtivos em presença, quais
os que são originais e quais os que resultaram de alterações
mais ou menos tardias, orientando assim os procedimentos
associados a uma operação de reabilitação.
Deve notar-se que qualquer tentativa de sistematização
histórica apresenta limitações significativas, já que existem
numerosos factores que perturbam a possibilidade de uma
classificação ou de uma tipificação; em primeiro lugar,
existem factores regionais e locais que não podem ser
desprezados, associados à especificidade da produção de
materiais (existência de madeira e de pedra, espécies
disponíveis, por exemplo); em segundo lugar, em cada
momento coexistem soluções inovadoras ou vanguardistas,
com outras que já se podem considerar ultrapassadas.
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A construção ao longo do tempo
Além disso, em cada momento da história da construção,
coexistem projectistas e construtores com competências
muito distintas que aplicam “à sua maneira”, o que entendem
ser as regras da arte de bem construir (não pode falar-se de
construção pombalina, como de um “estilo” único, tal como
não existe “uma” construção manuelina, etc).
O terramoto de 1 de Novembro de 1755 é o grande marco na
classificação da construção de edifícios: primeiro, é razoável
separar-se entre edifícios pós e pré-pombalinos, conforme
tenham ou não sido marcados pelo espírito da reconstrução
que se seguiu em muitas zonas do País ao terrível cataclismo;
também, é razoável considerar-se que a perda contínua da
memória do grande sismo leva à deturpação do modelo
pombalino e ao predomínio da construção dos “gaioleiros”;
mais marcante é o aparecimento do cimento, do betão e do
aço, determinando, em passos sucessivos, o fim da
construção tradicional e a passagem definitiva para o que se
entende como modernidade da construção, associada ao
recurso quase exclusivo às estruturas de aço e de betão.
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A construção ao longo do tempo
Em termos de soluções construtivas, pode dizer-se que a
primeira grande transição referida (edifícios pré e póspombalinos) é associável à forma como se passam a construir
e, sobretudo, a organizar as paredes de frontal, com a sua
característica Cruz de Santo André; também o principal sinal
distintivo entre pombalinos e "gaioleiros" é dado pelo
desaparecimento das paredes de frontal e sua substituição
por tabiques de tijolo e de madeira.
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A construção ao longo do tempo
Também as diferenças regionais e locais acentuam o
centralismo das cidades e o isolamento do campo: as
soluções novas chegam mais depressa e mais rapidamente se
expandem onde há mais “desenvolvimento”; pelo contrário,
soluções já ultrapassadas mantêm-se vigorosamente nas
zonas menos desenvolvidas, mais abandonadas e tal deve-se
a questões tanto económicas como tecnológicas.
Também se deve salientar que as tentativas de classificação
só fazem sentido em edifícios comuns, habitacionais, que
correspondem ao maior volume de construção; os edifícios
especiais são quase únicos, embora possam constituir subgrupos de análise muito interessante, pelo menos em termos
arquitectónicos (conventos, igrejas, palácios e edifícios
públicos seguem a alguma distância a evolução da
construção).
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A construção ao longo do tempo
Edifícios como os conventuais foram menos sensíveis ao
tempo e às suas consequências, mesmo quando ele foi
marcado por grandes catástrofes ou por roturas tecnológicas.
Embora se verifique que algumas lições do sismo de 1755
foram absorvidas por esses edifícios, nomeadamente pela
forma mais organizada que passou a regular as suas
estruturas, as diferenças são muito esbatidas, quando
comparadas com o impacto que o mesmo acontecimento teve
na construções de edifícios comuns.
Com frequência, verifica-se, por exemplo, que é mais fácil
distinguir a época de construção de uma Igreja ou de um
convento, a partir da geometria das abóbadas (de canhão, de
nervuras, artesoadas, de arestas...) do que por soluções
construtivas que se mantêm quase inalteradas ao longo de
muitos séculos (as abóbadas de tijolo ao cutelo usam-se, pelo
menos desde o período romano até ao final do século XIX, ou
mesmo até anos bem mais recentes, como sucede no
Alentejo).
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios Especiais
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios especiais
Ao contrário do que sucedia com os edifícios
correntes, conventos, igrejas e palácios assumiam-se
construtivamente de forma muito distinta, tirando
partido de alvenarias e cantarias como materiais
dominantes, nomeadamente na execução de paredes,
colunas, arcos e abóbadas, estas constituindo
estruturas de pavimentos e de coberturas em terraço.
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios especiais
A pedra aparelhada é elemento distintivo: transmite
uma ideia de perenidade que se associa a edifícios de
carácter excepcional, ao mesmo tempo que
representa também o estatuto da própria edificação.
Com este material se formam abóbadas, paredes,
colunas, pavimentos e escadas.
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios especiais
A madeira tem nestes edifícios um papel muito menos
destacado, frequentemente apenas usada como
estrutura de telhados, de alguns pavimentos e como
material de caixilharia e de alguns revestimentos.
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios especiais
As tipologias construtivas baseando-se num pequeno
número de soluções distinguem-se sobretudo pelo
próprio estatuto dos edifícios e dos seus
proprietários, através de um maior ou menor recurso a
cantarias mais ou menos elaboradas, bem como pela
adopção de uma exuberância decorativa muito
variável.
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios especiais – planta geral do piso 0
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios especiais – planta geral do piso 1
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios especiais – coberturas
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios especiais – alçado principal
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios especiais – alçado poente
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios correntes
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios correntes
Num pequeno quarteirão de origem medieval, os
edifícios são o produto de contínuas transformações,
havendo natural dificuldade em datar intervenções,
materiais e soluções construtivas. A existência do
andar de ressalto é um dos sinais mais claros da
antiguidade desta construção, embora a sua feição
actual possa ser o produto de uma reconstrução
setecentista, posterior ao terramoto de 1755,....
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios correntes
...como o parecem demonstrar as soluções
observadas na parede exterior e no pavimento, cuja
regularidade contrasta com a desorganização de uma
parede
interior
decerto
mais
antiga,
que coexiste com outros frontais que são, apesar de
tudo, claramente “Pombalinos”.
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios correntes
Os pavimentos evidenciam a longa história dos
edifícios, com muitos sinais de reaproveitamento de
materiais, a que conduz à falta de standardização das
soluções;
Afinal o que é certo, é que nestes edifícios o tempo se
cruza com a construção, deixando por todo o lado
sinais da sua passagem.
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios correntes - planta do piso 0
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios correntes - planta do piso 1
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios correntes - planta de coberturas
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Edifícios Pré-Pombalinos
Edifícios correntes - alçados
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Edifícios Pombalinos
Edifícios correntes
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Edifícios Pombalinos
Edifícios correntes
Nos edifícios pombalinos construídos no final do
século XVIII a varanda corrida, no último andar,
aproveita a primitiva cimalha e denuncia uma
ampliação, provavelmente levada a cabo no
século XIX.
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Edifícios Pombalinos
Edifícios correntes
Nos pisos mais baixos as abóbadas e arcos são
habitualmente construídos com tijolo maciço similar à
ainda usada baldoza alentejana; os frontais são
dotados de robustas peças de madeira, sobretudo nos
prumos e travessanhos e, mesmo os poucos tabiques
de prancha ao alto exibem uma qualidade construtiva
notável.
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Edifícios Pombalinos
Edifícios correntes
Também os pavimentos de madeira evidenciam
a qualidade deste tipo de construção,
destacando-se a cuidadosa ligação às paredes
de alvenaria através de frechais fixados nestas.
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Edifícios Pombalinos
Edifícios correntes - planta do piso -1
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Edifícios Pombalinos
Edifícios correntes - planta do piso 2
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pág. 31
Edifícios Pombalinos
Edifícios correntes - planta do piso 4
Colóquio comemorativo dos 25 anos do Memorial do Convento
pág. 32
Edifícios Pombalinos
Edifícios correntes - coberturas
Colóquio comemorativo dos 25 anos do Memorial do Convento
pág. 33
Edifícios Pombalinos
Edifícios correntes – alçado principal
Colóquio comemorativo dos 25 anos do Memorial do Convento
pág. 34
Edifícios Pombalinos
Edifícios correntes - corte
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pág. 35
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