Por que você deveria parar de bater
cartão ainda hoje.
Acervo da página 4 pés 4 patas
Tirar uma pausa de sua rotina por um ano ou mais sempre foi um plano do Psiquiatra
Bruno Lamoglia (32). Já para Heleno Ferraz (50), a vontade surgiu quando começou a pensar
na próxima fase de sua vida. Com cada vez mais adeptos, o ano sabático é uma referência
bíblica ao descanso na terra ordenado por Deus. A ideia é desligar-se de tudo o que te prende
à atual vida para embarcar em um encontro mais inquietante; um encontro com você mesmo.
Esta desconexão com rotinas e a mudança de cenário, não quer dizer que não
existirão horários ou que uma vida de ócio se estabelecerá, a maior parte dos viajantes
acabam se envolvendo em projetos locais ou de divulgação da própria viagem. “Eu fiz um
trabalho voluntário no Nordeste do Brasil trabalhando com crianças desprivilegiadas, também
remodelei o jardim da minha mãe, eu nunca gostei de plantas ou jardinagem, mas descobri
que gosto desta atividade”, contou Heleno que reside em Londres cerca de 20 anos e realizou
o seu ano sabático pelo Nordeste e Sudeste do Brasil.
Em icônica frase Airton Ortiz, o jornalista, escritor e fotógrafo que escalou o
Kilimanjaro afirma: “ Somos o resultado dos livros que lemos, das viagens que fazemos e das
pessoas que amamos”. Bruno parece concordar com Ortiz, em sua ainda não completa
jornada, já passou pela Flórida e pretende seguir para o Canadá, Alaska, Europa, Marrocos,
Egito, Rússia e cheio de otimismo o Sudeste Asiático. O psiquiatra viaja com um amigo e sua
linda Rottweiler, Tchuba, a atriz principal de sua página 4 pés 4 patas no Facebook, em que
relata sua rotina.
Acervo da página 4 pés 4 patas
Sem muitas garantias e com a certeza de que esta aventura é um processo individual,
uma pausa na vida pode muito bem significar um novo começo, para Heleno que já está de
volta a Londres algumas mudanças são visíveis: “Estou notando algumas mudanças agora que
voltei, como menor stress e nível de autoconfiança maior. A minha rotina mudou, eu decidi
não voltar a trabalhar período integral, gastar mais tempo com amigos e fazendo aquilo que eu
gosto”.
Abandonar tudo pode parecer difícil, especialmente se as pessoas que demonstrariam
apoio em qualquer outra situação não conseguem entender a sua busca e consequentemente
tem dificuldade em aceitar este momento: “Não houve muito apoio, você precisa entender
que as pessoas têm seus próprios medos, muitos deles com razão, numa tentativa de te
proteger de alguma forma. Mas felicidade é algo pessoal e a voz interna deve ser sempre mais
ouvida que as externas”, revelou Bruno.
Se felicidade é algo que você procura, talvez você deva considerar tirar um ano
sabático, quando questionado se qualquer um estaria preparado para este período Bruno
surpreende: “Qualquer um tem potencial, sem dúvida, mas psicologicamente encontramos
pessoas ainda muito enraizadas às suas culturas, família e trabalho, ou seja, ainda veem como
essencial a vida em sociedade como tal conhecida. Deve se manter em mente que um
pequeno trabalho de desconexão emocional deve ser feito, a maior parte só vai acontecer
após o momento em que você se encontrar durante a solitude. E digo solitude e não solidão,
pois a primeira é opcional e consciente, enquanto a solidão é um infortúnio indesejado”.
Ficar longe de casa por um ano parece muito tempo, mas a demanda de planejamento
é muito maior, “Tive que abrir mão de algumas coisas, vender o carro, sair do meu
apartamento e ir morar com os amigos, a preparação é um processo, eu me preparei em 18
meses” diz Heleno. Além da preparação financeira é preciso também se preparar
emocionalmente, “Mesmo com um planejamento minucioso, ainda terão inesperados
acontecimentos. Seja positivo, tudo tem seu lado positivo e aprendi aqui a duros custos. De
fato, tudo poderia ser pior, mas existe uma “sorte” secreta para todo viajante do mundo”
afirmou Bruno.
Entender que o mundo tem muitas coisas boas a oferecer pode ajudar os mais
inseguros, “Conhecemos um senhor alemão chamado Axl, que viajou por 103 países, ele nos
livrou de uma grande ansiedade, falou que viajar é moleza, sempre foi muito bem recebido e
quase não viu violência por aí” dispara Bruno e complementa, “É um período de aflição, não
saber se está certo, mas a partir do momento que você entende que seria muito pior ficar no
mesmo
local,
fazendo
a
mesma
coisa,
você
ganha
forças.
Uma sensação de que esta fazendo a coisa certa toma conta, você ganha um sentido na vida e
uma angustia morre dentro de você”.
A volta pode parecer assustadora, e encontrar um novo lugar para o seu novo eu,
cheio de descobertas pode ser complicado, “Dificilmente voltarei da mesma forma, o
autoconhecimento adquirido na viagem é assustador, vertiginoso! Então tudo o que for
danoso a sua pessoa, você tornará consciente e não tenderá a repetir” assegura Bruno. Com
tanta inspiração, todos aqueles que já estão em “busca” de algo parecido acharão impossível
encarar um mapa-múndi sem um friozinho na barriga.
Jaqueline Gomes
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