TERÇA-FEIRA, 20 DE DEZEMBRO DE 2011
Coisas tão mais
Dez anos após sua morte, Cássia
Eller é lembrada pelos amigos
com filme e caixa de CDs
O
documentário de Paulo Henrique Fontenelle não tem nome
ainda, mas bem que poderia
conter a palavra saudade. Ela
permeia o discurso dos integrantes da trupe de Cássia Eller.
– Ela era uma pessoa de grupo. Quando
viajávamos em turnê, o motorista do carro
dela ficava de bobeira: a Cássia preferia ir na
van com todo mundo – lembra o violonista
e produtor Luiz Brasil.
Saudade é também o que move o projeto
de livro-CD de Nando Reis, outro ainda inominado. Ele brinca que seria um Relicário 2,
referindo-se ao recém-lançado CD de subtítulo As Canções Que o Nando Fez Pra Cássia Cantar, e que tem registros inéditos, como Baby Love, cortada de Com Você... Meu
Mundo Ficaria Completo (1999), e duetos
dela com Nando em Um Tiro no Coração e
As Coisas Tão Mais Lindas.
Se tudo der certo (a negociação é com
a editora Cosac Naify), em breve estará nas
lojas uma compilação de “sete ou oito” cartas de Nando enviadas ao apartamento do
bairro de Laranjeiras cantado em All
Star, desenhos inspirados em músicas, declarações de amor, de amizade e de admiração.
– Era uma correspondência
de mão única, eu mandava
de São Paulo, de hotéis, e ela
nunca me respondia. Numa,
falo sobre o que a voz dela significava para
mim – antecipa Nando.
Um CD com demos e versões inéditas de
músicas, registradas apenas em fitas cassete,
virá encartado. Inclusive o momento em que
ele apresenta a Cássia os versos “O problema
é que eu te amo/ Não tenho dúvidas que eu
queria estar mais perto”.
Também chegou às prateleiras Caixa Eller, com nove CDs que revelam o processo
evolutivo de seu canto. São oito de carreira, de Cássia Eller, de 1990, do sucesso Por
Enquanto, ao Acústico MTV, dos hits e das
ótimas sacadas Non, Je Ne Regrete Rien, Vá
Morar Com o Diabo e Partido Alto, e o póstumo Dez de Dezembro, de All Star e No Recreio. Vem também o DVD Violões (2010),
com uma compilação de programas da TV
Cultura entre 1990 e 1999.
Além desses produtos, a gravadora de
Cássia, a Universal, ainda tem por lançar
(não há previsão de data) o DVD do projeto
A Luz do Solo, registrado no atual Citibank
Hall, no Rio. É o item do baú considerado mais relevante
pelos que acompanharam tudo o que ela
fez. Trata-se de uma
Cássia pouco vista:
em versão intimista,
contida num banquinho, no 2001 que começaria na apoteose
do Rock in Rio – foi
lindas
o show nacional arrebatador do festival –,
seria marcado pela mais intensa agenda de
sua vida e terminaria com sua morte.
Foram duas noites apenas, e um repertório de 16 músicas, hits e surpresas. À época,
divulgou-se que os shows não haviam sido
filmados e não seriam lançados, para não
atrapalhar a divulgação do registro para a
MTV (a emissora, aliás, exibe dia 29 uma
programação especial dedicada a ela).
“Tô nervosa pra c.!”, ela brincou, ao se
ver sozinha, sem a sua turma. O foco eram
a voz e o violão. Intimidante para quem não
se achava “exatamente uma cantora que saiba cantar”. Quem viu o trabalho ficou encantado com as releituras de músicas do repertório de Joni Mitchell (Cherokee Louise),
Billie Holiday (You’ve Changed), Gilberto Gil
(Queremos Saber) e Vitor Ramil (Espaço).
mas ninguém se interessou em lançar. Hoje,
esse disco para mim não quer dizer absolutamente nada – desdenha Victor Biglione.
– Cássia me confessou que ela
não estava concentrada, vivia muito louca.
Quem vai decidir tudo agora é o Chicão –
diz o seu último empresário, Ronaldo Villas,
sobre o filho da cantora.
Bem parecido com Cássia, Chicão está
com 18 anos, é percussionista de seu grupo
e divide seu tempo entre a música e o vestibular. Crianças em 2001, os meninos de sua
geração se identificam com o jeito libertário
de Cássia, o escracho, os palavrões, a imagem da mulher que dispensava sutiã e se
dizia “espada”.
Camila Eller, de 22 anos, sobrinha que
mora em Maceió, não quer deixar isso se
perder. Programou junto com a irmã um
show tributo no tradicional Jaraguá Tênis
Clube, no dia 22. Conta que conseguirá arSobrinha promove
rastar a banda de Cássia até lá.
tributo em Maceió
– Os jovens se identificam. Ela é muito
Outra Cássia nada conhecida é a do CD querida por aqui. Para mim, era uma tia dicom o guitarrista Victor Biglione, gravado há vertida, sensacional, que me ensinou a andar
20 anos e engavetado. Foi derivado de shows de skate.
que ela fez a convite dele. Cássia ainda despontava (a voz, cheia de recursos, era mal
colocada; a emoção e o viço, contagiantes) e
Serviço
Biglione a chamou para cantar Beatles (Got
Caixa
Eller, de
To Get You Into My Life) e sucessos antigos
Cássia Eller, Unide Nat King Cole (When Sunny Gets Blue) e
versal Music, 9
Freddie King (Some Old Blues).
CDs, R$ 150
– Os fãs dela gostariam de ver, é lindo,
Chicão, hoje com 18
anos, em um momento
com a mãe Cássia Eller
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Dez anos após sua morte, Cássia Eller é lembrada pelos