Dermatofitose felina
Profa. Dra. Ana Claudia Balda
(FMU/Hovet-Pompéia)
Microsporum canis (M. canis) é um fungo dermatófito que desencadeia cerca de 95% das infecções dermatofiticas. Esse
dermatofito é zoofílico e acomete gatos jovens e idosos, de forma mais frequente, da raça Persa. A infecção acontece por
contato direto ou por fômites. Aproximadamente 25% dos gatos são portadores assintomáticos do M. canis, ou seja,
possuem o dermatófito na pele, sem apresentar lesões, mas são fontes de infecção para outros animais ou seres
humanos, sendo atualmente uma zoonose importante pela quantidade de pessoas imunossuprimidas que podem entrar
em contato com esse fungo e adquirirem a infecção, estima-se que a transmissão da dermatofitose a partir do gato para
o ser humano ocorra entre 21 a 30% dos casos humanos.
A imunidade humoral não tem importância na fisiopatogenia da infecção, enquanto a imunidade celular se correlaciona
com a recuperação e desaparecimento das lesões.
As lesões são alopécicas, descamativas e tem na maior parte das vezes conformação circular, na espécie felina não se
observa prurido. Em relação à localização, as áreas mais acometidas são as cefálica e de membros.
O diagnóstico definitivo deve ser estabelecido por cultivo micológico do pelame, assim o clínico consegue determinar o
gênero e a espécie do fungo. O isolamento do dermatófito é importante para que se estabeleça a fonte de infecção, no
caso do M. canis sendo o gato, é necessário que se faça o tratamento também desse animal assintomático. Caso o gato
seja portador do fungo sem apresentar lesões, a colheita do pelame deve ser realizada pelo método do carpete que visa
a detecção de portadores assintomáticos, alguns autores reforçam a necessidade de que esse cultivo deve ser repetido
pelo menos duas vezes para que se classifique realmente o animal como portador. A cultura demora de 3 a 4 semanas
para que se obtenha o resultado, mas outros exames, como exame direto, Lâmpada de Wood e exame histopatológico
tem sensibilidade bem mais baixa em relação ao cultivo micológico, que é sempre o método de escolha para
estabelecimento do diagnóstico definitivo.
O tratamento deve ser realizado por via tópica e sistêmica. Os xampus são mais práticos e eficientes, além disso acabam
contribuindo com a diminuição dos esporos ambientais. Princípios como cetoconazol, clorexidine e miconazol a 2% são
eficazes, bem como associações. Antifúngicos sistêmicos devem ser prescritos em infecções multifocais ou generalizadas
e também na presença de grande número de contactantes, há diversas opções como griseofulvina, cetoconazol,
itraconazol e terbinafina.
A griseofulvina é muito eficaz e segura na dose de 50 mg/kg a cada 24 horas, porém já foi retirada do mercado em
diversos países. O cetoconazol tem boa eficácia na dose de 5 mg/kg a cada 24 horas, mas acarreta efeitos colaterais
como inapetência, êmese e alterações hepáticas com maior frequência em relação aos demais medicamentos. Itraconazol
na dose de 5 a 10 mg/kg a cada 24 horas, que deve ser administrado após as refeições, pois é lipofílico e terbinafina na
dose de 20 mg/kg a cada 24 horas.
A pulsoterapia consiste na utilização de doses altas de medicações que se acumulam em tecidos queratinizados, como
itraconazol e terbinafina. A administração do fármaco escolhido deve ser realizada quando se opta pelo itraconazol, na
dose de 10 mg/kg ou da terbinafina na dose de 20 mg/kg a cada 24 horas horas, durante sete dias, esse período é
chamado de pulso e é seguido de três semanas de descanso, ou seja, nesses 21 dias o animal não receberá o fármaco. O
pulso associado ao período de descanso é chamado de ciclo e para cada situação o número de ciclos a ser realizado pode
ser diferente. A suspensão do fármaco deve ser estabelecida baseada em dois cultivos micológicos negativos. Essa
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modalidade terapêutica tem menor custo e maior adesão dos proprietários quando há muitos animais para serem
tratados, além de pelo fato dos animais receberem menor quantidade de fármaco, há menor chance de efeitos colaterais.
O aumento da atividade sérica das enzimas hepáticas pode ocorrer, portanto a monitoração da ALT, FA e GGT deve ser
feita pelo menos mensalmente, principalmente em terapias muito prolongadas. O tempo de tratamento é em média de
60 dias, mas o ideal é que se realize pelo menos dois cultivos micológicos consecutivos para que se suspenda o fármaco
escolhido.
Em relação às vacinas, os estudos demonstram que são eficazes como auxiliares no tratamento, mas não como
prevenção, já que a imunidade humoral tem pouca importância na infecção dermatofítica, porém recomenda-se que
sempre se associe um antifúngico sistêmico e nunca se utilize apenas a vacina para tratamento.
Leitura sugerida
Balda, A.C.; Otsuka, M.; Larsson, C.E. Ensaio clínico da griseofulvina e da terbinafina na terapia das dermatofitoses em
cães e gatos. Ciência Rural, v. 37, p. 133-140, 2007.
Balda, A.C.; Larsson, C.E.; Otsuka, M.; Gambale, W. Estudo restrospectivo das dermatofitoses em cães e gatos atendidos
no Serviço de Dermatologia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. Acta
Scientiae, v. 32, n.2, p. 133-140, 2004.
Moriello, K.A. Treatment of dermatophytosis in dogs and cats: review of publishied studies. Veterinary Dermatology,
v.15, p. 336-415, 2004.
Scott, D.W.; Miller, W.H.; Griffin, C.E. Small Animal Dermatology. 6th ed. Philadelphia: Saunders, 2001.
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