Formação de Conceitos Matemáticos em Deficientes Visuais
Thais Presses Mendes
[email protected]
Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Helena Libardi
[email protected]
Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Palavras-chave: Formação de Conceitos, Deficiência Visual, Educação Matemática, Educação Inclusiva,
Metodologias do Ensino da Matemática.
Introdução
Formar conceitos matemáticos não é uma tarefa fácil, principalmente quando essa
formação deve partir de alunos com deficiência visual que sequer são incluídos nas aulas de
matemática. Entretanto, quando pensamos neste problema, nossa atenção não deve voltar-se
somente às dificuldades desses alunos, mas em quais atitudes os educadores devem tomar
quando se deparam com portadores de necessidades educacionais especiais em suas salas
de aula.
Em diversos trabalhos observamos relatos de professores que declaram não ter
formação para lidar com alunos cegos ou com visão reduzida e reclamam da falta de recursos
didáticos para o ensino destes (FERNANDES e HEALY, 2007). Além disso, as aulas de
matemática costumam ser expositivas, criando a concepção de uma aprendizagem construída
apenas com a visão, justamente o sentido que falta a esses alunos.
1
Em seus trabalhos sobre Defectologia , Vygotsky (1997) já argumentava que as leis de
desenvolvimento eram as mesmas tanto para as crianças normais quanto para as crianças
com alguma deficiência, e afirmava que o lugar para todas as crianças, inclusive as com
necessidades especiais, é na escola regular. Os professores necessitam então estar
preparados para receber estes alunos.
Dessa forma, este trabalho tem como objetivo procurar estratégias para facilitar a
formação de conceitos matemáticos em deficientes visuais, contribuindo para uma efetiva
inclusão escolar.
Segundo Batista (2005) os deficientes visuais apoderam-se desses conceitos a partir
de experiências táteis, olfativas e auditivas. Entretanto, o recurso didático mais eficiente e de
fácil acesso é o tato. Dessa forma, deve-se explorar, quando possível, atividades de ensino de
matemática que utilizem materiais concretos e que explorem as funções táteis. Nesta
concepção, Moura (s/d) destaca que a nova perspectiva do ensino da matemática, onde o
aluno constrói seu conhecimento através da interação, é que permite a utilização de material
manipulável como ferramenta de aprendizagem.
Pretendemos também verificar se as metodologias sugeridas para o ensino da
matemática são eficazes para a aprendizagem de alunos com deficiência visual e se os
professores que trabalham com materiais concretos, jogos e outras práticas não convencionais,
deixam sua sala de aula em condições mais favoráveis à inclusão desses estudantes.
No decorrer da pesquisa deveremos ser capazes de listar estratégias de ensino mais
eficientes à aprendizagem de deficientes visuais e fornecer mecanismos para que os
professores não se sintam despreparados para lidar com a inclusão destes.
1
Termo usado por Vygotsky para denominar a ciência que estuda os processos de desenvolvimento de
crianças com deficiências físicas, mentais ou múltiplas.
Materiais e Métodos
Realizamos o acompanhamento com um estudante do terceiro ano do Ensino Médio
de baixa visão que não participa das aulas de matemática da escola regular. Nestes encontros,
são estudados alguns conteúdos específicos da matemática e estratégias são propostas para
estabelecermos seus sucessos e limitações.
Como este aluno encontra-se no fim do Ensino Básico, presume-se que ele saiba os
conteúdos iniciais da matemática, por isso o foco é a aquisição de conceitos mais avançados,
não apenas a alfabetização matemática que consiste em conhecer os números e operações
básicas. Dessa forma o enfoque do trabalho é nos conteúdos mais frequentes em vestibulares
e ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) tendo em vista o desejo deste aluno de ingressar
no Ensino Superior através destes exames.
A formação de conceitos foi iniciada com a matéria de geometria, conteúdo muitas
vezes deixado de lado pelos professores devido à falta de preparo e à sua abordagem somente
no final dos livros.
A disponibilização de recursos táteis, geralmente frequentes no cotidiano do aluno,
torna o estudo da geometria mais fácil e prazeroso. Como exemplo de recursos utilizados,
temos o tangram, que possibilita o conhecimento das figuras geométricas, assim como suas
propriedades e diferenciações.
O trabalho com este estudante está em andamento. Após a aplicação das atividades e
o teste das estratégias de ensino, faremos uma análise completa sobre a potencialidade
destes.
Resultados e Conclusões
O ensino de matemática para portadores de necessidades educacionais especiais é
possível, em particular para alunos com deficiência visual. Para isso os recursos manipuláveis
são poderosos auxílios. O desafio é muito, principalmente porque a formação dos professores
não contempla a educação inclusiva. Mas em se tratando do uso de materiais manipulativos o
despreparo vai além do ensino inclusivo. Os professores não têm o costume de utilizá-los. Este
trabalho, além de mostrar que este tipo de atividades facilita a inclusão e o ensino de alunos
com deficiências, ainda torna mais significativo o ensino da matemática para todos os alunos.
Observamos que, apesar de não acompanhar as aulas regulares de matemática, o
aluno deficiente com quem trabalhamos tem uma base matemática razoável e que o uso do
material concreto o deixou mais motivado, facilitando a formação dos conceitos da geometria.
Referências Bibliográficas
BATISTA, C. G. Formação de conceitos em crianças cegas: questões teóricas e implicações educacionais.
Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 21, n.1, p. 007-015, jan-abril, 2005.
FERNANDES, S. H. A. A.; HEALY, L. Ensaio sobre a inclusão na Educação Matemática, Rev. Ib. Am. Ed. Mat., n.
10, p. 59, Jun 2007.
MOURA, M. O. O Jogo na Educação Matemática Disponível em http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias _07_
p062-067_c.pdf. Acesso em 28/06/2011
VYGOTSKI, L. S. Obras Escogidas V – Fundamentos de defectología. Madrid: Visor, 1997.
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