A Catequese Familiar
um modelo
A transmissão da fé na família
Tradição e documentos da Igreja
 Antigo Testamento:
- São inúmeras as referências à responsabilidade
dos pais na educação dos seus filhos.
- A missão do pai de ensinar o filho é uma ordem
de Deus (Dt 6, 4-7).
Shema´ Jisra´el
«Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus; o Senhor é único! Amarás o Senhor,
teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas
forças. Estes mandamentos que hoje te imponho estarão no teu coração».
Dt 6, 4-6
Liturgias domésticas
-Páscoa
– o centro da celebração à volta da mesa
é a narração da Páscoa (Ex 12,26; 13,8.14; Dt 4,9; 6,7.20; 32,7.46;
9,19).
-Provérbios
e Ben Sira – conselhos referentes à
educação em família (Pr 13, 24; Sir 30, 1-13).
Novo testamento

Col 3, 20-21
«Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, porque isso é agradável
no Senhor. Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não caiam
em desânimo».

Ef 6, 1-4
«Filhos, obedecei a vossos pais, no Senhor, pois é isso que é justo:
Honra teu pai e tua mãe – tal é o primeiro mandamento, com uma
promessa: para que sejas felizes e gozes de longa vida sobre a
terra. E vós, pais, não exaspereis os vossos filhos, mas criai-os com
a educação e correcção que vêm do Senhor».

Segue o modelo do AT e o esquema das «mesas domésticas».

Porém,
aqui a educação vem enquadrada num esquema de
reciprocidade.

O modelo, quer para os pais quer para os filhos, é: no Senhor.
(Rom 16, 3-5; 1Cor 16, 19 ; 2Tm 4, 19; 2Tm 1, 16)
S. Paulo sublinha a importância da relação pessoal, onde a educação
familiar deve acontecer sempre em referência a Cristo Ressuscitado.
A carta aos Efésios coloca a educação cristã em família na lógica do amor,
convidando ao exercício da paideia Kyriou (deixar-se guiar pela ágape cristã,
isto é, pelo amor desinteressado).
Nos textos do magistério

Ao longo da história, a Igreja insistiu na responsabilidade dos pais na
educação da fé dos filhos.

Os Padres da Igreja estimulam com insistência à leitura da Bíblia em
família.

S. João Crisóstomo aponta os deveres da Igreja doméstica, desafiando:
«faz da tua casa uma Igreja: uma vez que terás de prestar contas da
salvação dos teus filhos e dos teus servos».

O dever dos pais cristãos educarem os próprios filhos segundo a lei do
Evangelho tem o seu fundamento em Ef 6, 1-4.

«Volta para tua casa e prepara uma mesa dupla: uma, a dos alimentos, a outra,
a da Sagrada leitura… que os filhos a escutem e… deste modo farás da tua
casa uma Igreja».
O Concílio de Trento tira definitivamente a catequese do
coração das famílias e confia-a às paróquias.
O Concílio Vaticano II enfatiza o título de «Igreja
doméstica» (cf. LG 11; AA 11), sublinha o papel dos pais na
educação dos filhos e afirma que os pais são os primeiros e
principais educadores (GE 3).
Paulo VI [Evagelii nuntiandi (1975)], reforça a necessidade
de se oferecer aos pais o material e formação
adequada, fazendo das famílias verdadeiros lugares
de evangelização (EN 71).
Catechesi tradendae
Depois de falar da necessidade de uma catequese de adultos...
«trata-se do problema crucial da catequese dos adultos. É a principal forma de
catequese, porque se dirige a pessoas que têm as maiores responsabilidades e
capacidade para viverem a mensagem cristã na sua forma plenamente
desenvolvida». (CT 43)
... afirma que a ação catequética em família é uma ação insubstituível:
A ação catequética da família tem um caráter particular e, em certo sentido,
insubstituível, justificadamente posto em evidência pela Igreja, de modo especial pelo
Concílio Vaticano II (CT 68)
E, em seguida, exorta ao exercício da catequese familiar:
«A Catequese Familiar, portanto, precede, acompanha e enriquece todas as outras
formas de catequese (CT 68).

João Paulo II exortou inúmeras vezes a olhar a
educação da fé como função e missão da família
enquanto «Igreja doméstica».

Na sua primeira encíclica, Redemptor Hominis, escreve
que a catequese familiar é a forma fundamental (RH 19).

Na exortação apostólica sobre a missão da família cristã
no mundo, afirma que: «o ministério de evangelização
dos pais é original e insubstituível (FC 53).

O Código de Direito Canónico fala da específica
obrigação dos pais e do «grave» dever da catequese
(CDC 226.2; 793; 796.1; 797, 798; 799; 800; 1136).





O Catecismo da Igreja Católica (1992) reforça a centralidade da
catequese familiar e a sua inserção na vida da paróquia (CEC 2226).
O Diretório Geral da Catequese, além de referir a importância
da catequese familiar, reafirma a responsabilidade dos pais
em serem os primeiros educadores da fé dos filhos.
O Papa Bento XVI também reforça a necessidade desta primeira
responsabilidade dos pais na educação da fé dos seus filhos.
Chama a atenção sobretudo para a relação entre iniciação cristã e
família; na ação pastoral, sempre se deve associar a família cristã ao
itinerário de iniciação (Sacramentum caritatis 19).
O Papa Francisco, na Encíclica Lumen Fidei (escrita a quatro
mãos, as dele e as de Bento XVI) acentua o papel da família na
transmissão da fé: “em família, a fé acompanha todas as idades da
vida, a começar pelas da infância” (LF 52). E na exortação apostólica
Evangelii Gaudium lembra que “todo o povo anuncia o evangelho”
(EG 111) e propõe uma Igreja que apareça no mundo como “uma
mãe de coração aberto” (EG 46-49).
Concluímos
A
transmissão da fé na família é tão antiga como
o Povo de Deus, não sendo algo novo.
Compreender
o quanto é importante, necessário e
urgente recuperar algo fundamental na transmissão da fé:
a catequese em família.
Catequese Familiar: um desafio para a
Iniciação Cristã em Portugal
De onde vimos?
Após
o Concílio, a catequese em Portugal evoluiu no sentido de um
projecto centralizado de catequese, promovido pelo Secretariado
Nacional de Catequese:
- Valorizaram-se as grandes linhas do Concílio Vaticano II
(comunidade, liturgia, palavra de Deus, etc);
-Elaboraram-se catecismos para um itinerário de IC estruturado em
10 anos.
Esta
fase do movimento catequético, em Portugal, surge a partir dos
anos 70/80 e pode ser definida como: a passagem da «doutrina» para
a catequese «para que acreditem e tenham vida».

Hoje há uma grande sensação de ineficácia do processo de
Iniciação Cristã cristã, pensado apenas para a infância e
adolescência.

Tradicionalmente, apesar das limitações de métodos e conteúdos, a
catequese tinha um contexto, garantido pela família, pela
comunidade, pela escola e também pelo próprio ambiente
envolvente.

A descontextualização da catequese é, sem dúvida, um
problema central e, simultaneamente, um desafio.
O
período actual está marcado pela
procura de uma nova fase da
catequese em Portugal.
 Exemplo
são os novos projectos
promovidos pelo SNEC.
Para onde vamos?
A mudança de perspectiva pode ser
definida da seguinte forma:

De uma catequese centrada apenas nas crianças e adolescentes e
que não consegue realizar a IC, apenas a sacramentalização de
muitos, para um processo de IC que tem no centro os adultos e
não se preocupa apenas com os sacramentos, mas inicia a uma vida
cristã (uma catequese para todos).
A centralidade dos adultos na
catequese
•
•
«“A catequese dos adultos, uma vez que é
dirigida a pessoas capazes de uma adesão e de
um compromisso realmente responsáveis, deve ser
considerada como a principal forma de catequese,
para a qual todas as demais, nem por isso menos
necessárias, estão orientadas” (DCG (1971) 20).
Isto implica que a catequese das outras idades
deve tê-la como ponto de referência e deve
articular-se com ela, num projecto catequético de
pastoral diocesana que seja coerente» (DGC 59).
Cf. DGC 274 (projecto diocesano de pastoral
que envolva todos)
Eis algumas perspectivas e desafios
para a IC em Portugal

Concentrar a atenção nos adultos e sobretudo nas famílias. O que
não significa abandonar as crianças e adolescentes.

O sujeito da catequese deixa de ser o catequista e passa a ser a
comunidade.

O acesso ao processo de iniciação por parte dos adultos é
caracterizado pela liberdade e pela proposta.

O trabalho em equipa é a forma mais comum para promover e
realizar tal experiência.
Catequese Familiar
A proposta

Itinerário de IC com as Famílias.

Um novo horizonte no qual se quer colocar o
caminho da Iniciação Cristã.

«A família tornou-se “a célula primeira e
vital da sociedade” (AA 11)» (FC 42)

«A futura evangelização depende, em
grande parte, da Igreja doméstica» (FC 52)

«A família, como a Igreja, deve ser um lugar onde
se transmite o Evangelho e donde o Evangelho
irradia. Portanto, no interior de uma família
consciente desta missão, todos os membros
evangelizam e são evangelizados» (FC 52).
Que pretendemos da CF
Recuperar o papel central da família na
transmissão da fé, ajudando os pais a aprofundar
a sua fé com vista a darem testemunho dessa
mesma fé aos seus filhos, exercitando a sua
missão de primeiros catequistas.

A Catequese Familiar desafia a comunidade cristã a
abandonar um esquema escolar de catequese semanal
para proporcionar condições mais favoráveis à IC, criando
um contexto mais amplo de anúncio, dilatando os tempos,
os lugares e as presenças:
◦ de uma hora semanal passa-se para um ritmo mensal, tendo no centro
o Domingo;
◦ da «aula» de catequese passa-se para os vários ambientes nos quais a
família pode viver a fé: casa, sala paroquial, igreja;
◦ de um único catequista passa-se a uma série de presenças que
trabalham em equipa: pais, figuras ministeriais da comunidade, a
comunidade que celebra.
O caminho de IC em cada itinerário anual
articula-se em etapas mensais, ritmadas numa
divisão semanal:

1ª Semana – Comunicação ou diálogo em
família

Com a ajuda de simples propostas, promove-se o diálogo dos
pais com os filhos, em casa. A finalidade é testemunharem a fé aos
seus filhos, partindo da vivência familiar, a educação de algumas
atitudes, acontecimentos, mas sobretudo num diálogo que leve à
oração em família.
2ª Semana – Encontro com os pais na
paróquia:
Propõe-se
aos
pais, enquanto
adultos, um
caminho
de
redescoberta da fé, através de um itinerário «transformativo» (não
uma série de conferências) realizado a partir da catequese dos
seus filhos (seguindo os catecismos da IC das crianças). Neste
encontro, sugere-se também como comunicar na família o que foi
amadurecido no grupo.
2ª Semana - Encontro de catequese das
crianças na paróquia
(com a duração, pelo menos, de duas horas, nunca depois da escola e antes do qualquer
actividade desportiva).
Tem como objectivo:
◦
permitir às crianças viverem uma verdadeira experiência de acolhimento;
◦ permitir que partilhem o que viveram em família;
◦ de proporcionar-lhes uma experiência catequética que respeite o ritmo
próprio da idade;
◦ viver um momento de envolvimento comunitário, além do catequista, com
outras figuras representativas da comunidade cristã: o pároco, alguns pais
voluntários, alguns jovens, ministros extraordinários da comunhão, algum avô
ou outras figuras que possam fazer equipa com o catequista e levem o seu
contributo «carismático» específico (caritativo, musical, lúdico…).
3ª Semana – Comunicação ou diálogo
em família

com a ajuda de simples propostas, promove-se o diálogo dos
pais com os filhos, em casa. A finalidade é testemunharem a fé
aos seus filhos, partindo da vivência familiar, a educação de
algumas atitudes, acontecimentos, mas sobretudo num diálogo
que leve à oração em família.
4ª Semana – Encontro / catequese com
os pais e com as crianças na paróquia

Domingo com a família:
◦ este encontro deve realizar-se, preferivelmente, no Domingo
de manhã, uma/duas horas antes da missa, coordenado pelo
pároco ou um formador. Os pais reencontram-se para uma
avaliação da experiência vivida em família e para aprofundar as
questões abertas. Simultaneamente, as crianças têm a sua
sessão de catequese, onde preparam uma oração, um gesto ou
um sinal para exprimirem na missa alguma coisa da caminhada
feita, envolvendo a assembleia.

Ritmo Mensal
◦ 1ª Diálogo em Família
◦ 2ª Catequese Pais/Filhos na paróquia
◦ 3ª Diálogo em Família
◦ 4ª Domingo com a Família
Semana
Pais
Filhos
Família
(na paróquia)
(na paróquia)
(em casa)
1ª
2ª
Já vou à catequese
O lugar de Jesus na nossa
vida: pessoal e familiar
- Sugestões para o diálogo em
família
- Síntese do diálogo em família
Já vou à catequese
Tenho mais Amigos
3ª
4ª
Domingo em família
A família na família cristã
vivendo o Dia do Senhor
A família c/o comunidade
A comunidade c/o família
- Síntese do diálogo em família.
- Sugestões para o diálogo em
família
Tenho mais Amigos
FESTA do ACOLHIMENTO
FESTA do ACOLHIMENTO

Cada paróquia é desafiada a realizar este
modelo de Catequese Familiar tendo presente
o próprio contexto, a própria realidade, as
famílias envolvidas…

Paróquias piloto
Subsídios

Este processo de Catequese Familiar é apoiado por
um conjunto de “Subsídios” elaborados para 3 anos.
Estes Subsídios constam de:
◦ Guia dos Pais: 1º, 2º e 3º anos.
◦ Guia do Animador Familiar: 1º, 2º e 3º anos.
Formação de Catequistas

São indispensáveis catequistas dotados de competência
para este tipo de catequese. Sem dúvida que a
formação de catequistas é um dos grandes desafios
desta proposta:
◦ Animador ou casal animador do grupo de
pais
◦ Catequista das crianças
Jornadas Nacionais de Catequistas
A Catequese e a Família
Fátima, 6 de Outubro 2011
P. Vasco A. da Cruz Gonçalves
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família - Paróquia Nossa Senhora da Hora