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O MODELO GERENCIALISTA E A PRÁTICA DOCENTE
Maria das Graças Nóbrega de Almeida1
Liliane Stelzenberger2
Margarida Maria Dias Monteiro Gonçalves3
RESUMO
Atualmente o gerencialismo domina o léxico dos documentos relacionado à eficiência
docente nas políticas públicas de educação principalmente na questão da inovação. Os
discursos em foco são: um de caráter tradicional burocrático e outro com o pensamento pósburocrático, defensor da racionalidade dos custos e do estado mínimo. A administração
pública
burocrática
prega
procedimentos
rígidos
orientados
pelos
princípios
da
profissionalização, dos planos de carreira, da hierarquia, da impessoalidade e do formalismo para
alcançar o máximo rendimento, a Nova Gestão Pública (NPM) gera uma nova cultura
gestionária e propicia o perfil de um novo profissional de educação, que valoriza a eficiência,
a eficácia, a efetividade e a produtividade em detrimento da formação humanístico-cultural. O
perfil do docente se transforma, ele passa a ser responsável pela implementação técnica e suas
atribuições vão além do ato pedagógico de ensinar. O modelo burocrático cede ao gerencialismo na
gestão pública nos moldes das organizações privadas.
Palavras chaves: Gerencialismo, nova gestão pública, prática docente.
ABSTRACT
Currently managerialism dominates the lexicon of documents related to teaching efficiency in
public education policies mainly on the issue of innovation. The speeches focus on are: a
character with another traditional bureaucratic and post-bureaucratic thinking, defender of
rationality and cost the state minimum. The bureaucratic public administration preaches strict
procedures guided by the principles of professionalism, career plans, hierarchy, impersonality and
formalism to achieve maximum performance, the New Public Management (NPM) generates a new
1
Doutoranda em Gestão Pública – Universidade do Minho. Mestre em Administração – Área - Administração
Financeira – Universidade Federal da Paraíba. Professora da Universidade Federal da Paraíba.
2
Doutoranda em Ciências da Educação – Especialidade: Política Educativa – Universidade do Minho. Mestre em
Engenharia de Produção – Área – Mídia e Conhecimento – Universidade Federal de Santa Catarina. Professora
do Instituto Federal de Santa Catarina.
3
Doutoranda em Ciências da Educação – Especialidade: Política Educativa – Universidade do Minho. Mestre em
Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior – Área: Política Pública - Universidade Federal do Ceará.
Especialista em Controladoria e Gerência Contábeis – Universidade de Fortaleza. Especialista em Administração
de Recursos Humanos – Universidade Federal do Ceará. Bacharel em Direito. Contadora da Universidade
federal do Ceará.
2
managerial culture and provides a profile of a new professional education, which focuses on
efficiency, effectiveness, efficiency and productivity at the expense of humanistic-cultural training.
The profile of the teacher transforms, he becomes responsible for the technical implementation and
their assignments are beyond the pedagogical act of teaching. The model yields to bureaucratic
managerialism
in
public
administration
in
the
manner
Keywords: managerialism, new public management, teaching practice.
of
private
organizations.
3
SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Novas configurações de
gestão na administração pública;3. O discurso do modelo
gerencial; 4. A gestão e a prática docente;5. Considerações
Finais; 6. Referências Bibliográficas
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como foco o discurso gerencialista que atualmente se instala no
espaço educacional na concepção da Nova Gestão Pública (NPM) em conformidade com a
reestruturação do Estado no contexto global a partir da década de 1990.
Nos anos 90 surgem vários documentos oficias sobre a reforma da educação no
mundo que repercutiu e influenciou o Brasil na publicação de leis que atendessem esta
(re)configuração no seio do sistema educacional brasileiro.
Com a adoção da Nova Gestão Pública, o modelo burocrático rende-se ao
gerencialismo na gestão pública pautado nos moldes das organizações privadas. A burocracia
é colocada no banco dos réus e acusada de ineficiente e perdulária, por este motivo busca-se
a adoção de medidas para possiblitar a otimização dos recursos financeiros na configuração
do Estado Mínimo.
A valorização das técnicas utilizadas nas organizações privadas ganham corpo e a
ênfase na eficiência, na eficácia, na produtividade e efetividade se incorpora ao modelo da
adminstração pública, tomando proporções que secundariza o saber pedagógico e a formação
humanistica-cultural.
Nesta nova forma de gestão, o fundamental é aderir as práticas das organizações
privadas e focar as questões em termos de custos, onde a relevância se concentra no fator
quantitativo em detrimento do qualitativo.
Com base na reforma consolidada todas áreas da gestão pública são afetadas,
inclusive a educação, a ênfase do discurso gerencial se sobrepõem ao discurso pedagógico e
estabelece o perfil de um novo profissional da educação, o gestor, que se torna responsável
pela implementação técnica deste novo processo.
Ao profissional da educação é imposta a prática gerencial e de acordo com
Shiroma (2003):
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o gerencialismo tende também a modificar a seleção dos vocábulos que os
profissionais empregam para discutir a mudança. Eficiência, competência, qualidade
total, inovação, cultura organizacional, empreendedorismo, gerência, liderança,
entre outros, são termos transplantados do vocabulário da administração de
empresas para a educação. Essa absorção de conceitos influencia não sóa a
linguagem mas, fundamentalmente a prática.(SHIROMA, 2003, p.78).
As reformas que ocorrem no setor público em relação a gestão são mecanismos de
mudanças técnica e estrutural das organizações e também uma maneira sedimentar um novo
perfil para os profissionais da adminstração pública, que neste trabalho foca-se na figura do
docente.
Neste contexto, o docente como parte desta organização está sujeito a julgamentos,
mensurações, comparações e metas que são mensuradas por meio de avaliações e levam
a contínuum na forma de ranking, escolhe-se e julgam-se as ações da gestão nas políticas
educativas com base na figura do educador pela contribuição que fazem com relação ao
desempenho organizacional e dos resultados obtidos.
2 NOVAS CONFIGURAÇÕES DE GESTÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A partir dos anos 90 nasce o debate de um movimento internacional pela reforma
do aparelho do Estado. Este movimento irrompe na Europa e nos Estados Unidos e sua base
se articula tanto no que diz respeito às reformas econômica e as reformas políticas de cunho
neoliberal que se justifica por meio de um conceito global que consolida práticas de
excelência na gestão pública de um modo geral.
No construto deste movimento as seguintes abordagens de administração pública
são utilizadas para implementação de nova estrutura gerencial: a new public adminstration,
implementada nos Estados Unidos durante o governo Reagan, a new public manangement, de
orientação liberal adotada no governo de Margareth Thatcher e o managerialism que gera na
Inglaterra visões diferentes de gerencialismo. O que leva a compreensão e a sintetização das
novas concepções que apregoa uma valorização do serviço público ao utilizar técnicas
gerenciais das empresas privadas, numa perspectiva de mais eficiência, cuja lógica
instrumental e financeira é considerada de melhor qualidade e que melhor satisfaz o cliente
(cidadão).
Portanto, na visão do gerencialismo, o cidadão é visto como contribuinte de
impostos, cliente e consumidor dos produtos e serviços regulados e ofertados pelo Estado,
com poder de escolha, enquanto seus direitos e deveres de cidadão são secundarizados.
5
Isto posto, observa-se que este movimento, é o oposto do modelo da
administração pública burocrática, utilizado desde o início do século XX, e que se caracteriza
pelos procedimentos rígidos e pelos príncipios da profissionalização, dos planos de carreira,
da hierarquia, da impessoalidade e do formalismo, que segue uma linha de racionalidade para
atingir seus objetivos, que de acordo com Weber (1998, p 145)
É a forma mais racional de exercício de dominação, por que nela se alcança
tecnicamente o máximo de rendimento em virtude de precisão, continuidade,
disciplina, rigor e confiabilidade, intensidade e extensibilidade dos serviços, e
aplicabilidade formalmente universal a todas espécies de tarefas[…]toda nossa vida
quotidiana está encaixada neste quadro.
Neste contexto, nas organizações públicas a administração burocrática centra-se
primordialmente no combate às práticas patrimonialistas e na promoção profissional do seu
quadro técnico.
Diante deste quadro, acusam o modelo burocrático de ineficiente e perdulário e
argumenta-se ainda o corporativismo e o imobilismo do funcionalismo público, além de suas
resistência às mudanças a fazer parte da estrutura burocrática, calcados nestes argumentos
surge a defesa da construção de um projeto minimalista do Estado para atender as
configurações do novo modelo político, económico e social neoliberal que carrega no seu
bojo a implementação de um modelo de gestão mais flexível que facilita a corrida pela
competitividade.
E para reforçar este novo modelo gestional, Bresser-Pereira (1999, p.5) afirma
que: a reforma gerencial do Estado “é um novo fenómeno histórico, que ganhou forças nas
últimas décadas, quando as pessoas começaram a perceber que uma das razões pela [...] crise
fiscal do Estado era a ineficiência estrutural da administração pública burocrática”.
Em consonância com estes argumentos, o Estado implementa a reforma da
administração e adota a lógica das organizações privadas para a gestão pública.
Ao eleger a racionalidade econômica, a optimização, a eficácia e a eficiência como
elementos nucleares, os programas de modernização têm tomado por referência
privilegiada a actividade económica, a organização produtiva e o mercado,
exportando a ideia de empresa para o seio da administração pública ( LIMA, 2002,
p.20 in: LIMA & AFONSO, 2002).
Diante destas razões o modelo gerencialista se apossa das questões públicas e de
certa forma compromete o social, pois a base privatista raciocina na lógica da lucratividade, o
que pode até certo ponto causar um desconforto para o docente, principalmente no que se
refere à prática educacional.
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3 O DISCURSO DO MODELO GERENCIAL
O Estado ao configurar a reforma em sua gestão estabelece modelo gerencial na
administração pública e opta por seguir a visão da administração das organizações privadas.
Nesta perspectiva a construção de uma nova gestão pública é sedimentada por meio de
discursos para a população que evoca o controle, a eficiência e a competitividade como
institutos para alavancar e garantir um desempenho de qualidade nas atividades da
administração pública e instala-se um senso comum sobre Estado, economia e mercado.
Neste processo de reestruturação do Estado é inserido o realinhamento das
relações entre o Estado e o cidadão, o Estado e economia, e o Estado e suas formas
organizacionais (processo de trabalho), em consonância com a reorganização global do
capitalismo por meio do enxugamento do Estado e da expansão do seu alcance na sociedade
civil.
Para corroborar, Bresser-Pereira (1998) explica: os Estados modernos contam
com quatro setores: núcleo estratégico – centro no qual se definem leis e políticas; actividades
exclusivas – aquelas que garantem o cumprimento e financiamento de leis e políticas;
serviços não-exclusivos – educação, cultura, saúde e pesquisa científica e o quarto setor que é
o de produção de bens e serviços para o mercado – empresas estatais. A intenção é
descentralizar e delegar autoridade, e clarificar quais os setores que o Estado vai operar, mas
com maior responsabilidade e intensidade e as competências e as modalidades da
administração de cada setor especificamente de acordo com sua importância para o Estado.
Neste contexto, depreende-se que o Estado deve ausentar-se e renunciar de seu
papel de executor e minimizar seus gastos em investimentos sociais.
O gerencialismo neste sentido se reveste de significado para a gestão pública, pois
enfatiza a cultura da avaliação, transparência, publicização de indicadores, a preocupação com
eficácia, performatividade, metas e maximização dos resultados e é o principal meio “pelo
qual a estrutura e a cultura dos serviços públicos são reformadas... [e]... Ao fazer isso, busca
introduzir novas orientações, remodela as relações de poder e afeta como e onde são feitas as
opções de políticas sociais” (CLARKE, COCHRANE & MCLAUGHLIN, 1994, p.4).
Ao inserir a performatividade na alma do trabalhador a cultura gerencial utiliza as
tecnologias da política de reforma do setor público não apenas como veículos de mudanças
técnica e estrutural das organizações, mas como instrumentos de reforma dos profissionais do
7
setor público, neste caso, os professores, sujeito deste trabalho, uma vez se detêm na
centralidade do modelo gerencialista na educação.
Nesta visão, destaca-se a importância da performatividade, pois a mesma é o
veículo condutor da luta pela visibilidade, uma vez que é imputado ao trabalhador
julgamentos, mensurações, comparações e metas por meio de informações coletadas,
registradas e publicadas em um contínuum na forma de ranking, e no campo da educação não
é diferente, o professor também está sujeito a estas ações como parte deste tipo de
organização. Cada vez mais, escolhe-se e julgam-se as ações, e elas são julgadas por outros,
com base na contribuição para o desempenho organizacional, apresentado em termos de
resultados. A produtividade é a matriz fundamental para o julgamento desta performance, os
julgamentos éticos e morais perdem sua valoração e fazem parte de um discurso ultrapassado.
Diante desta lógica, o gerencialismo, no campo educacional, diferente dos
modelos de administração que lhe antecedem, segundo Shiroma e Campos (2006, p.227),
É um movimento que tenta modificar não só a organização da escola, imprimir
outra lógica ao funcionamento do sistema educacional [...]”, visa, sobretudo, “operar
uma transformação na subjectividade dos educadores, por meio da implantação de
mecanismos bastante objectivos de controle que afectam a organização, a avaliação
e, portanto, a gestão do trabalho docente.
O trabalho do gestor escolar, renomeado como “gerente”, ou “líder educacional”:
Deveria assumir funções não só de captação e administração de recursos, mas a
responsabilidade pelo gerenciamento de professores, ser gestor das escolhas e
responsável pelos acontecimentos previsíveis e imprevisíveis. Em suma, atribui-se
ao gestor educacional a responsabilidade de gerir os casos e os acasos, as emoções,
os conflitos, as crises e o caos (SHIROMA & CAMPOS, 2006, p. 227 in Feldfeber,
M & Oliveira, 2006 ).
Nesta visão o discurso pedagógico é substituido pelo discurso gerencial no âmbito
educacional tendo em vista um pensamento único para solução dos problemas da educação e,
nesta digressão o debate político é secundarizado, o discurso técnico e elevado a categoria da
mais valia, de maneira que:
O discurso gerencialista oferece representações particulares da relação entre
problemas sociais e soluções. É linear e orientado para um pensamento único.
Preocupa-se com metas e planos mais que com intenções e julgamentos. Refere-se a
ação mais que a reflexão. Concentra-se em análises mais que em sínteses. Estabelece
fronteiras entre políticas e fornecimento, estratégia e implementação, pensamento e
ação. Oferece um discurso tecnicista que priva o debate sobre suas bases políticas,
de modo que a discussão sobre os meios suplanta a dos fins(CLARKE &
NEWMAN,1996, p. 148).
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Conforme com Lima (2002, p. 98), o modelo gerencialista
Foi suportado por políticas públicas de inspiração neoconservadora e neoliberal que
anunciam cortes de despesas públicas com a educação, assim apostando num
aumento da qualidade através de ganhos de eficiência interna e do crescimento da
produtividade das instituições, o modelo institucional gerencialista emerge entre
discursos políticos, actos legislativos, medidas aparentemente avulsas
de
administração e gestão, ganhando adeptos entre sectores conservadores e
tecnocráticos […]
A constante e suposta crise atribuída a educação transforma-se em motivo para o
Estado suprimir os investimentos de recursos e de combater o modelo burocrático por suas
alegadas deficiências gestionárias, com o simples objetivo de justificar a adoção de um novo
modelo de gestão para satisfazer as exigências do mercado e transformar a educação em uma
mercadoria rentável.
4 A GESTÃO E A PRÁTICA DOCENTE
A guisa de reflexão sobre o gerencialismo na educação é necessário entender o
que é intrínseco neste modelo.
A partir dos anos 1990, começa a ocorrer a implantação das reformas na
administração pública, por este motivo inicia-se discussões da gestão da escola nos diferentes
setores sociais e sua importância converge para a perspectiva que esta ação consiga promover
a qualidade na educação, e nesta visão os discursos com relação à escola e sua gestão surgem
frutos da concepção das transformações do capitalismo no mundo e pela reestruturação dos
estados nacionai que instala o gerencialismo no espaço educacional
Utilizando de argumentos que apresentam a escassez de recursos para justificar a
lógica de priorizar a centralidade da gestão das escolas, como o caminho viável para obtenção
de maior eficácia nos resultados prevalece da máxima de: “fazer mais com menos”, otimizar
recursos para responder à crise e criar-se alternativas.
Diante da realidade supostamente credível traça-se um percurso, onde um novo
modelo de gestão passa a ser sugerido, principalmente pelos organismos internacionais,
amparados na ideia de que para a obtenção de melhores indicadores de qualidade é necessária
uma gestão escolar eficiente, combinanda com uma avaliação externa e com uma
responsabilização pelos resultados, no campo pedagógico e administrativo-financeiro. E desta
forma o discurso da gestão por resultados passa a ser usual no âmbito da gestão educacional.
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E neste sentido, Ball (2005), observa que o papel do professor se transforma para
adequar-se a esta nova conjuntura. Os compromissos humanísticos, como a ética do serviço
são substituídos pela teleológica visão do profissional técnico – o gerente; prevalece a eficácia
e a ordem em oposição a ética e o caos.
E ainda segundo Ball: “ essa mudança na consciência e na identidade do professor
apoia-se e ramifica-se pela introdução, na preparação do professor, de formas novas de
treinamento não intelectualizado, baseado na competência”(BALL, 2005, p.548) e “durante o
treinamento, o professor é “re-construído” para ser um técnico e não um profissional capaz de
julgamento crítico e reflexão. Ensinar constitui apenas um trabalho, um conjunto de
competências a serem adquiridas (idem, p.548).
Por esta ótica esta cultura incorpora-se e consolida-se desde a formação inicial
dos professores, conforme a seguinte afirmação:
Esta explicação ajuda a esclarecer, em parte, razões pelas quais a política da
formação de professores busca reduzir a base de conhecimento da docência e abolir
as análises sócio-históricas dos cursos de formação, recomendando prioridade à
formação prática, cada vez mais distante do ambiente universitário” (SHIROMA,
2003, p. 77).
Neste espaço de culto ao gerencialismo, o capitalismo promove o esvaziamento da
teoria e determina o que é bom, o que é válido e o que é legitimo de acordo com a demanda
do mercado, de acordo com a visão de Emir Sader (2003).
Neste novo modelo organizacional muitas práticas sofrem modificações, o que
pode ser verificado até mesmo na linguagem vocabular dos profissionais que se integram ao
modelo gerencialista, ou seja, hoje o léxico, eficiência, competência, qualidade total,
inovação, cultura organizacional, empreendedorismo, gerência, liderança, são terminologias
correntes utilizadas no ambiente educacional (SHIROMA, 2003).
Neste percuso a educação, por meio da gestão educacional sofre uma verdadeira
invasão de conceitos e teorias das mais diversas áreas de conhecimento, tais como,
administração, engenharia e psicologia, dentre outros. Apesar de haver semelhanças as
posições políticas são muitas vezes contraditórias ou diferentes, mas alguns teimam em
apresentá-las com igual significado.
Para os teóricos liberais da educação no campo da gestão escolar, as escolas
tornam-se mais eficazes quando o trabalhador é flexível, proativo e sua formação se faz por
competências, pois auxiliam a estabelecer a competitividade nos sistemas de ensino e levar
mais eficácia para as escolas. Por esta razão muitos defendem a implementação, na área da
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educação, dos princípios do mercado na gestão educacional, enaltecendo as “virtudes do
mercado” e propagando a crença de que a eficiência da gestão reside em seu caráter técnico.
Desta forma a gestão educacional enfatizada pelo gerencialismo visa o aumento
da eficiência e da eficácia das escolas expressos em indicadores de desempenho ou em
resultados, que perpassa basicamente na mudança da cultura organizacional. A ideia da escola
como “organização que aprende” leva, portanto, a essencialidade da atividade gestora pautarse na inovação, na criatividade e na proatividade em todos os seus segmentos. Nessa
imposição, pouco se valoriza o processo e pouco se questiona o que é um bom resultado. A
escola é concebida para cumprir o papel de uma organização social e não de uma instituição
social.
O objetivo das reformas educacionais a partir da década de 1990 que ocorreu em
vários países tem o cunho eminente de tornar mais flexíveis os sistemas educacionais, para
com isso torná-los mais eficazes. A pretensão é desburocratizar as escolas públicas, no
sentido de eliminar o modelo burocrático até então adotado, considerado rígido e ineficiente, e
alçá-las ao modelo gerencilaista das organizações privadas, julgadas mais produtivas.
Entretanto, na realidade questionam-se os princípios e as finalidades da educação e o seu
carácter público e democrático.
Diante do exposto as reformas gerenciais e performativas interferem na prática do
ensino, nos aspectos da profissionalidade e altera também o controle de seleção de pedagogias
e dos curriculos. Transformam-se a prática docente e consequentemente a dinâmica das aulas,
a ênfase se aplica a educação no seu papel técnico para atender as demandas externas por
mão-de-obra qualificada para absorção do mercado. Prevalece na cultura gerencial as ações
voltadas para a performance técnica e gerencial do educador
e a dimensão política é
subestimada, dissocia-se as finalidades e os objetivos da educação e os meios para atingi-los,
acredita-se que a utilização dos instrumentos de gestão condiciona o alcance da qualidade na
educação, observa-se que o pensamento se finca na perspectiva da neutralidade das técnicas e
a maneira de como conforma-se no ato da sua utilização.
Para Ball:
O gestor é o herói cultural do novo paradigma. O trabalho do gestor envolve a
infusão de atitudes e culturas nas quais os trabalhadores se sentem eles próprios
responsabilizados e simultaneamente comprometidos ou pessoalmente envolvidos
na organização. O enquadramento mais rígido do novo gerenciamento permite que
um maior leque de comportamento dos trabalhadores se torne público (2001, p.108).
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O discurso gerencial e sua inserção até certo ponto generalizada nas ações dos
educadores se tranformam em práticas rotineiras incentivada por meio dos instumentos
oficiais e da midia em todas as esferas. Neste contexto vale ressaltar o seguinte:
O discurso gerencial institui uma nova linguagem para promover a mudança na
cultura da escola. Embasado na ideologia técnico-bucrocrática, incorpora o léxico da
reengenharia, o discurso participativo da transformação, do empreendedorismo, do
cidadão pró-ativo.[…]. Busca transformar o “servidor burocrático” num líder
dinâmico, tenta provocar transformações na subjectividade dos educadores.[…].O
gerencialismo tende a modificar a natureza da linguagem que os profissionais
utilizam para discutir a mudança. Esse discurso influencia não só a linguagem, mas,
fundamentalmente, a prática. Afecta a forma de ser professor e director de escola
(SHIROMA E CAMPOS. 2006, p. 232 in FELDFEBER, M & OLIVEIRA, 2006).
Percebe-se na nova gestão pública que a linguagem utilizada pela educação são
atualmente captada de outras profissisões e confundem-se nas re-significações. Esta é a forma
encontrada para fragilizar o sentido político do fazer pedagógico pela inserção asséptica da
técnica ao estabelecer uma nova cultura no campo educacional de maneira intencional, para
controlar e otimizar os recursos condizentes com a instalação e a configuração do Estado
mínimo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A nova gestão pública está relacionada com o modelo econômico neoliberal que
defende e pratica o Estado mínimo o qual concentra suas ações apenas nas funções
consideradas estratégicas e exclusivas.
A administração pública por muito tempo consolidou suas práticas no modelo do
Estado burocrático que com o passar dos tempos começou a sofrer críticas com relação a uma
situação de ineficiência e a manutenção de uma estrutura rígida na gestão da coisa pública que
concorria para a lentidão gestionária, fato que encetou uma reconfiguração na administração
pública, para dar espaço a uma nova administração, sob o pretexto de melhorar a qualidade
das funções estatais e encobrir sua real intenção, ou seja, estabelecer a eficácia, a eficiência, a
competitividade e a performatividade para transformar a administração pública de
determinados setores, em um negócio lucrativo e atrativo para as organizações privadas.
Desta forma desresponsabilizando o Estado de atividades consideradas não exclusivas como:
a educação, a saúde, e o setor de produtos.
A adequação das mudanças na área educacional é um fato que deve ser levado em
consideração, pois as escolas necessitam transformar-se e adequar-se às mudanças em curso,
tornarem-se mais produtivas e efetivas na sua função social e na busca pela qualidade que não
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deve condicionar-se apenas aos parâmetros econômicos. Por conseguinte, é fundamental que
os valores orientadores dessas mudanças valorizem a visão holística do ser humano e
privilegie a ética em oposição aos valores defendidos pelo mercado, pois o risco de redução
em relação à complexidade da formação humana pode levar a minimização da importância do
processo pedagógico e sua simplificação em relação à técnica se sobrepondo à teoria.
Nesta configuração que se instala, ou seja, na consolidação do gerencialismo na
gestão pública, novos conceitos se incorporam no universo educacional, tais como
competência,
habilidade,
autonomia,
flexibilidade,
descentralização,
sociedade
do
conhecimento justificadas pela busca da competividade que reduz a complexidade pedagógica
a meros processos administrativos, reificando as relações humanas.
Observa-se desta forma que a reforma educacional modifica o perfil do professor
ao exigir a otimização de seu desempenho por meio de métodos e técnicas da administração
aplicada nas organizações privadas, uma vez que, na óptica gerencialista, os processos e
procedimentos administrativos tanto no campo privado ou público possuem a mesma
natureza.
Deste modo, infere-se que ao atribuir os problemas da educação na premissa
funcional da má administração e transferir ao professor a aplicação dos métodos e das
técnicas para implementar uma gestão flexível no espaço escolar na tentativa de atingir a
qualidade na educação, é retirar do Estado a responsabilidade e ocultar a intencionalidade da
racionalidade capitalista contemporânea para maximizar os lucros e privilegiar o mercado.
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