EDUCAÇÃO E SAÚDE ENTRELAÇADAS NO PROCESSO DE LETRAR E CUIDAR
Wanderleia Azevedo Medeiros Leitão.
Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará-EAUFPA-Belém-Pará-Brasil.
Grupo de Estudo, Pesquisa, Ensino e Extensão em Educação Inclusiva - GEPEEI –EAUFPA.
[email protected]
Roberto Hesketh Cavalleiro de Macedo.
Grupo de Estudo, Pesquisa, Ensino e Extensão em Educação Inclusiva - GEPEEI –EAUFPA.
[email protected]
Erika Maria Carmona keuffer Cavalleiro de Macedo
Grupo de Estudo, Pesquisa, Ensino e Extensão em Educação Inclusiva - GEPEEI –EAUFPA.
[email protected]
Eixo Temático: Alfabetização, Diversidade e Inclusão.
RESUMO
Este texto trata de uma experiência pedagógica realizada em uma unidade de saúde na cidade
de Belém do Pará, com adultos não alfabetizados que apresentam dificuldades para
compreender e adotar recomendações médicas. Para mudar esse quadro foram desenvolvidas
ações com base nos princípios teórico-metodológicos de Paulo Freire. Como resultados
parciais aponta-se o reencontro dessas pessoas com textos poéticos, a ampliação de saberes,
mudança de atitudes com relação à saúde e o aumento da autoestima.
Palavras-Chave: Educação de Jovens e Adultos, saúde e educação, pedagogia de Paulo Freire.
ABSTRACT
This text is a pedagogical experiment in a health facility in the city of Belém do Pará, with
illiterate adults who have difficulties to understand and take medical advice. To change this
situation actions have been developed based on the theoretical and methodological principles
of Paulo Freire. As partial results pointing to the reunion of these people with poetic texts, the
expansion of knowledge, changing attitudes regarding health and increased self-esteem.
Keywords: Youth and adult education; health and Education; Pedagogy of Paulo Freire.
EXPLICITANDO A GÊNESE DA AÇÃO
A educação de jovens e adultos - EJA é um dos vários desafios que o Brasil enfrenta
no decorrer de sua história. Essa população além de necessitar de significativos investimentos
e alternativas metodológicas no que diz respeitos ao processo escolar, possui outras
dimensões que necessitam de um olhar cuidadoso e intervencionista, tais como: formação e
qualificação para o trabalho, educação inclusiva, educação para a saúde, dentre outras.
Com relação à educação para a saúde constatamos que um número significativo de
jovens e adultos que frequentavam uma unidade básica de saúde1, por hora denominada de
Cidade das Mangueiras, situada em um bairro periférico na cidade de Belém do Pará,
apresentava muitas dificuldades de comunicação e interação com os profissionais de saúde
que atuavam nessa unidade. Tal fato corroborava para que as orientações e recomendações
desses profissionais não fossem compreendidas e nem adotadas, fato que comprometia o
estado de saúde desse grupo.
Após algumas intervenções foi possível identificar que o referido grupo não era
alfabetizado e que pelo fato de não saber ler, não participava de várias ações promovidas pela
unidade. Conscientes de que as alternativas adotadas, visando à educação para a saúde não
atendiam toda a comunidade buscamos outras, em parceria com professores que atuavam na
Educação de Jovens e Adultos a fim de elaborar e colocar em prática, outras alternativas,
capazes de atender as necessidades e especificidades de todos os usuários.
ALFABETIZAR, LETRAR E CUIDAR
Inspirados em Paulo Freire (1985; 1986; 2002), que concebe o processo de
alfabetização como ação cultural para a libertação elaboramos uma ação pedagógica e
resolvemos colocá-la em prática por acreditarmos que:
[...] a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a
sociedade muda. Se a nossa opção é progressiva, se estamos a favor da vida
e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio,
da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro
caminho se não viver a nossa opção. Encarná-la, diminuindo, assim, a
distância entre o que dizemos e o que fazemos. (Freire, 1985, p. 59).
Nosso caminhar não se deu de forma isolada, procuramos unir profissionais da saúde e
da educação por concebermos que no processo de educar e cuidar há necessidade de trocas, de
descobertas e redescobertas. Para tanto, é preciso que haja diálogos, que haja comunicação.
1
A Unidade terá seu nome preservado visando manter seu anonimato. Seu nome fictício para este trabalho será
Cidade das Mangueiras.
Nesse sentido, a comunicação deve ser concebida como elemento imprescindível para a
promoção da educação e da saúde. Assim foi elaborada e colocada em prática à alternativa em
foco Educação e saúde entrelaçadas no processo de letrar e cuidar. Para tanto, integramos
as proposta da Unidade de Saúde Cidade das Mangueiras às ações do Grupo de Estudo,
Pesquisa, Ensino e Extensão em Educação Inclusiva - GEPEEI-EAUFPA2, no qual
participamos como colaboradores e pesquisadores, em seus projetos criativos, inovadores,
interdisciplinares, que buscam o desenvolvimento de práticas socioculturais, pedagógicas e
inclusivas.
No que diz respeito ao direito à saúde e à alfabetização em saúde, amparamos-nos
legalmente na Constituição Federal 1988 e na Lei Orgânica da Saúde 8080/90. Com relação à
Constituição Federal, destacamos o art. 196, o qual estabelece que:
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1988).
Quanto a Lei 8080/90 baseamo-nos nos seguintes princípios e diretrizes, estabelecidos
no Art. 7º.
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de
assistência,
II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e
contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e
coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do
sistema;
III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade
física e moral;
IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de
qualquer espécie;
V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;
VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde
e a sua utilização pelo usuário;
VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a
alocação de recursos e a orientação programática;
VIII - participação da comunidade;
[...].
Com base nesses fundamentos legais, reafirmamos que a saúde é um direito de todos e
dever do Estado. Afirmativa que se estende também à educação. Nesse contexto e buscando
2
Grupo cadastrado no diretório do CNPq/MEC.
melhorias na qualidade de vida das pessoas usuárias dos serviços que lhes são oferecidos na
Unidade de Saúde Cidade das Mangueiras, recorremos à corrente pedagógica de Paulo Freire
visando à implementação de práticas educativas voltadas para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, articuladas a práticas de alfabetização e letramento, com a intenção não
somente de alfabetizá-las, mas, sobretudo, orientá-las e alfabetizá-las em saúde, por meio de
um processo dinâmico a fim de alfabetizar, letrar e cuidar.
Sabedores da complexidade desse processo de alfabetizar, letrar e cuidar,
consideramos inicialmente as distinções de Soares (2003) ao referir-se sobre os termos
alfabetização e letramento. Segundo Soares alfabetização é o processo pelo qual se adquire
uma tecnologia, assim como a escrita alfabética e as habilidades de utilizá-las para ler e
escrever. Com relação ao letramento a autora refere-se ao desenvolvimento efetivo de
habilidades da escrita, usadas nas práticas sociais. Para Soares (1998, p.47):
Alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao
contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever
no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o
indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo alfabetizado e letrado.
Diante ao exposto e tendo como referencial o âmbito escolar, há de se refletir a
respeito de práticas sociais de leitura e de escrita focando os dizeres de Israel e Medeiros
(2013), ao abordarem essa temática, no sentido de que a escola incentive a leitura e a escrita,
considerando o contexto sociocultural dos educando, suas especificidades e necessidades e
não simplesmente para cumprir com conteúdos. É de fundamental importância possibilitar aos
educandos conhecerem e vivenciarem situações significativas de ensino e aprendizagem, para
que possam tornar-se leitores e escritores, críticos e felizes. Há de se considerar ainda que
existem habilidades não consolidadas que inibem o avanço da competência leitora e escritora,
mesmo em adultos já alfabetizados. Assim, visando à formação e orientação cidadã de jovens
e adultos, reafirmamos o quanto é salutar o estímulo à leitura e a escrita para além da
alfabetização, capaz de contribuir com o letramento e consequentemente com a alfabetização
em saúde das pessoas envolvidas nessa ação, tendo-as como sujeitos críticos, atuantes e
pensantes.
No que tange ao cuidar, tanto a educação quanto a saúde em suas diretrizes
estabelecem que o cuidar deve transpassar suas ações cotidianas, a esse aspecto, destacamos o
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica, Brasil (2013), ao apontar que “[...]a
dimensão articuladora da integração das diretrizes curriculares compondo as três etapas e
as modalidades da Educação Básica, fundamentadas na indissociabilidade dos conceitos
referenciais de cuidar e educar;.[...], constituem-se em ideias e forças.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Primeiros Passos, Primeiras Palavras
Para alcançar os objetivos traçados recorremos ao Círculo de Cultura, apontado por
Freire (1985 e 2002). No Círculo de Cultura todos tem importância, seus saberes são
reconhecidos e valorizados, o educando e o educador são sujeitos do processo. Todos são
importantes e têm voz e vez, podendo escrever e reescrever a realidade, o mundo, a partir de
suas vivências, seus saberes, seus conhecimentos.
Após o Círculo de Cultura, no qual foi possível ouvir os participantes e conhecer as
histórias de suas vidas, demos continuidade às ações fomentando uma cultura de valorização
da leitura e da escrita, na unidade de saúde Cidade das Mangueiras, fazendo uso de vários
gêneros textuais, músicas, poesias, notícias de jornais, de revistas, receitas culinárias etc. Em
seguida realizamos atividades de sensibilização e ação, por meio das seguintes etapas:
a) Identificação e seleção dos jovens e adultos que participariam das oficinas.
Para tanto fizemos um levantamento das pessoas que seriam atendidos pelas ações
previstas e definimos os acervos que seriam utilizados nas atividades, assim como os
temas que seriam trabalhados durante as oficinas e demais atividades.
b) Realização de palestras. Nessa etapa foram proferidas palestras por especialistas da área
de Educação e da área da Saúde. Os temas selecionados para as palestras foram gravidez
na adolescência, aleitamento materno, o uso indevido de drogas, dengue e direitos e
deveres dos usuários do SUS, a importância do ato de ler e escrever, educação e saúde
direito de todos.
c) Roda de Conversas e minicursos, abordando a temática leitura e escrita nos espaços
sociais da saúde.
d) Implementação de ações culturais focando educação e saúde, levando-se em consideração
a importância de se refletir sobre os cuidados com a saúde. Para tanto foram realizadas
gincanas, festival de leituras, varal de poesias.
e) Realização de oficinas pedagógicas voltadas para a prática de alfabetização em saúde.
f) Realização de leituras dramatizadas, sessões de filmes;
g) Realização de peças teatrais, performances e apresentação de danças;
h) Realização do Círculo de Cultura – Socialização dos novos saberes.
A seguir apresentamos alguns textos trabalhados durante as atividades. São textos que
retratam a realidade cultural da cidade de Belém, que falam de amor, de afetividade, assim
como textos que demonstram o cotidiano de jovens e adultos que passam por dificuldades,
têm seus direitos negados e são excluídos da sociedade. Os mesmos serviram para nossas
reflexões e atuações, assim como para a sensibilização do outro no que se refere à importância
de estar, sentir- se incluído e ter seus direitos garantidos.
Carta de um contratado3
Eu queria escrever-te uma carta amor
Uma carta que dissesse deste anseio de te ver
Deste receio de te perder
Deste mais que bem querer que sinto
Deste mal indefinido que me persegue
Desta saudade a que vivo todo entregue...
Eu queria escrever-te uma carta amor
Uma carta de confidências íntimas Uma carta de lembranças de ti, de ti Dos teus lábios vermelhos como tacula
Dos teus cabelos negros como dilôa Dos teus olhos doces como macongue Dos teus seios duros como maboque Do teu andar de onça E dos teus carinhos Que maiores não encontrei por aí... Eu queria escrever-te uma carta amor Que recordasse nossos dias na capôpa Nossas noites perdidas no capim Que recordasse a sombra que nos caía dos jambos O luar que se coava das palmeiras sem fim Que recordasse a loucura Da nossa paixão
E a amargura nossa separação...
Eu queria escrever-te uma carta amor
Que a não lesses sem suspirar
Que a escondesses de papai bombo
Que a sonegasses a mamãe kieza
Que a relesses sem a frieza do esquecimento
Uma carta que em todo kilombo
Outra a ela não tivesse merecimento...
Eu queria escrever-te uma carta amor
Uma carta que te levasse o vento que passa
Uma carta que os cajus e cafeeiros
Que as hienas e palancas 3
Autoria de Antônio Jacinto, poeta angolano. Disponível em https: //WWW.google.com.br./webhp?sourceid=chromeinstant&ion=1&esp=2&ie=UTF 8#q=carta%20de%20contratado%20antonio%20jacinto. Acesso em 10 de outubro de 2015.
Que os jacarés e bagres
Pudessem entender
Para que se o vento a perdesse no caminho Os bichos e plantas compadecidos de nosso pungente sofrer De canto em canto
De lamento em lamento
De farfalhar em farfalhar
Te levasse puras e quentes
As palavras ardentes As palavras magoadas da minha carta Que eu queria escrever-te amor... Eu queria escrever-te uma carta...
Mas ah meu amor, eu não sei compreender
Por que é, por que é, por que é, meu bem
Que tu não sabes ler
E eu - oh! desespero - não sei escrever também.
Me Ensina a Escrever4
Me ensina a escrever
A folha em branco me assusta
Eu quero inventar dicionários
Palavras que possam tecer
A rede em que você descansa
E os sonhos que você tiver.
Meu amor
Me ensina a fazer
Uma canção falando quanto custa
Trancar aqui dentro as palavras
Calando e querendo dizer
Não sei se o poema é bonito
Mas sei que preciso escrever
Meu amor
Me ensina a escrever
A folha em branco me assusta
Eu quero inventar dicionários
Palavras que possam tecer
A rede em que você descansa
E os sonhos que você tiver
Trancar aqui dentro as palavras
Calando e querendo dizer
4
Autor Oswaldo Montenegro. Disponível em http://www.vagalume.com.br/oswaldo-montenegro/me-ensina-aescrever.html. Acesso em 10 de março de 2014.
Não sei se o poema é bonito
Mas sei que preciso escrever.
Por do sol5
Se você deixou de acreditar
se a vida só faz piorar.
Pegue a estrada e desligue o celular
veja o por do sol em frente ao mar.
Problemas na vida todo mundo tem,
você não é pior nem melhor que ninguém
Se quiser amar, aprenda a se doar.
Faça que os erros te façam crescer,
Na dúvida escolha o melhor pra você,
Dê mais importância a quem lhe quer bem...
E a vida, há de ser bem melhor pode crer
E na vida, ame mais, sem porém, nem por que
Que a vida, passa depressa. Não perca tempo
Que o final só Deus pode prever.
Cante a vida, na beleza da imperfeição
Dance a vida, feche os olhos tire os pés do chão
Viva a vida, ouça os seus discos, reveja os amigos
Que o melhor nessa vida é viver de coração.
Ao por do sol6
Ao por do sol
Eu vou te dizer
Que o nosso amor
Não pode morrer
Quando as estrelas
No céu despontarem
Vão dizer que a lua
Eu fiz pra você.
E então, eu serei amor
O sereno,e o luar será você
Ardente de paixão
Que raia no meu coração.
5
Musica gravado pelo grupo Sorriso Maroto. Disponível em: http://www.vagalume.com.br/sorrisomaroto/por-do-sol.html#ixzz3Za5nfEy7. Acesso em 10 de março de 2014.
6
Música gravada por Teddy Max. Disponível
sol.html#ixzz3Za73fVzs. Acesso em em 10 de março de 2014.
em:
http://www.vagalume.com.br/teddy-max/ao-por-do-
Sabor Açai7
E prá que tu foi plantado
E prá que tu foi plantada
Prá invadir a nossa mesa
E abastar a nossa casa...
Teu destino foi traçado
Pelas mãos da mãe do mato
Mãos prendadas de uma deusa
Mãos de toque abençoado...
És a planta que alimenta
A paixão do nosso povo
Macho fêmea das touceiras
Onde Oxossi faz seu posto...
A mais magra das palmeiras
Mas mulher do sangue grosso
E homem do sangue vasto
Tu te entrega até o caroço...
E tua fruta vai rolando
Para os nossos alguidares
Tu te entregas ao sacrifício
Fruta santa, fruta mártir
Tens o dom de seres muito
Onde muitos não têm nada
Uns te chamam açaizeiro
Outros te chamam juçara...
Põe tapioca
Põe farinha d'água
Põe açúcar
Não põe nada
Ou me bebe como um suco
Que eu sou muito mais que um fruto
Sou sabor marajoara
Sou sabor marajoara
Sou sabor...
RESULTADOS PARCIAIS E CONSIDERAÇÕES NÃO CONCLUSIVAS
Compreendemos o quanto é fundamental que as pessoas tenham seus direitos
garantidos, seja no âmbito escolar, no âmbito da saúde, ou em outros setores. Fomos
instigados a contribuir de alguma maneira com essa concretização. Sensibilizados e
encorajados pela realidade à nossa frente – pessoas que estavam distantes da vivência de ler,
escrever, dizer, resolvemos colocamos em prática uma ação de ensinar e aprender,
fundamentados na pedagogia de Paulo Freire, tendo como eixos norteadores os
7
Autoria de Nilson Chaves e Vital Lima. Disponível em: http:// WWW. letras.mus.br/nilson-chaves/217034/. Acesso em 15
de março de 2015.
conhecimentos dos sujeitos, e a partir desses conhecimentos pensamos e buscamos uma
educação concebida como ato de libertação, transformação, como ato político e ato de amor.
A partir dos primeiros passos dados, podemos afirmar que houve melhorias no
processo de comunicação entre os profissionais da saúde e os usuários dos serviços da
Unidade Cidade das Mangueiras. Assim como melhorias significativas no aprendizado desses
usuários, no que diz respeito ao processo de alfabetização e letramento, possibilitando-os
acesso aos conhecimentos referentes à saúde. Esses fatores contribuíram para que houvessem
mais participação nas atividades desenvolvidas pela Unidade de Saúde, assim como
favoreceram o processo de criticidade das pessoas, inserção na sociedade como cidadãs.
Consideramos válido registrar ainda que o reencontro dessas pessoas com textos
poéticos possibilitou a ampliação de seus saberes, a mudança de atitudes com relação à saúde
e o aumento da autoestima.
Ressaltamos que as atividades realizadas tiveram êxitos e que o encontro e a parceria
entre os profissionais da educação e da saúde foram de grande relevância. Proclamamos que
ações como essas, merecem ser mapeadas, socializadas e multiplicadas. A mobilização por
parte dos sujeitos envolvidos demonstrou que a pedagogia da humanização, da
problematização, da libertação, cuida e ensina e ao mesmo tempo aprende.
Nesse processo, instigados para novos saberes, novos conhecimentos, nossa
caminhada continua. Assim seguimos pensando e repensando nossas próximas estratégias de
prevenção e intervenção tendo a educação orientada pelos princípios da universalidade, da
acessibilidade, do cuidado, da integralidade, da responsabilização, da humanização, da
equidade e da participação social, ou seja, pelos princípios da inclusão. Nesse sentido,
retornamos a Paulo Freire, nosso alicerce: “Onde quer que haja mulheres e homens, há
sempre o que fazer, há sempre o que ensinar, há sempre o que aprender”. Esta será a base da
nossa trajetória, outras vivências virão. Instiga-nos saber que vozes, que novos saberes
teremos nos próximos círculos de cultura.
Referências
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica/ Ministério da
Educação. Secretária de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral.
Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de
1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
BRASIL.
Lei
nº
8.080,
de
19
de
setembro
de
1990.
Disponível
em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em 20 de abril de 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde.
As Cartas da Promoção da Saúde – Brasília-DF: Ministério da Saúde, 2002.
Brasil. Ministério da Saúde. Humaniza SUS. Política Nacional de Humanização. Brasília;
2004.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 33 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 8 ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 11 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 16 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1985.
Israel, Silvia Cristina Rodrigues, MEDEIROS, Wanderleia Azevedo Leitão. EJA
carimbolando na cultura paraense: em busca da formação de leitores e escritores. In: Anais do
I CONBALF – Congresso Brasileiro de Alfabetização “Os sentidos da Alfabetização no
Brasil: o que sabemos, o que fazemos e o que queremos?”. Belo Horizonte- Minas Gerais,
julho de 2013. Entidade promotora: ABALF – Associação Brasileira de Alfabetização.
SOARES, Magda. Letramento e escolarização. In: RIBEIRO, Vera Masagão (Org.).
Letramento no Brasil: relfexões a partir do INAF 2001. São Paulo: Global, 2003.
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