Memórias de um Sargento de Mílicias
I. Obra
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folhetins 1852/53 – Livro 1854/55 (Por um Brasileiro)
Apresenta dimensão realista na captação precisa da
realidade brasileira
Realismo genérico como oposição às atitudes subjetivas
A obra focaliza pessoas de baixa renda
As cenas não são idealizadas, mas reais
Ausência de Moralismos (ações humanas boas e más)
Troca do sentimentalismo pelo humorismo
II. Estilo
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Estilo oral e descontraído, derivado da conversa ou do
estilo jornalístico
•
Linguagem compatível com as personagens
•
Linguagem sem metáforas ou refinamentos
•
Antecipações da Modernidade
“Com a contribuição milionária de todos os erros.”
( O. Andrade)
• Estruturalmente, obedece ao módulo de uma novela: uma
seqüência de células dramáticas, ou episódios, equivalentes
aos capítulos, dispostos na ordem linear do tempo, com
predomínio da ação sobre a análise e da técnica do suspense
e do entrelaçamento.
• Aberta à inclusão ou exclusão de peripécias, quer no
desenvolvimento, quer no epílogo, poderia, como aconteceu,
sofrer uma mudança na disposição dos capítulos.
III. Narrador
• Narrador – observador que interfere, brinca e ironiza as
situações vividas pelas personagens
• O tom de deboche aos costumes e as práticas da época é
comum
“Quanto ao moral, se os sinais físicos não falham, quem
olhasse para a cara do Sr. José Manoel assinava-lhe logo um
lugar distinto na família dos velhacos de quilate. E quem tal
fizesse não se enganava de modo algum: o homem era o que
parecia ser. Se tinha alguma virtude, era a de não enganar
pela cara. Entre todas as suas qualidades possuía uma que
infelizmente caracterizava naquele tempo, e talvez que ainda
hoje, positiva e claramente o fluminense, era a maledicência.
José Manoel era uma crônica vivia, porém crônica
escandalosa, não só de todos os seus conhecimentos e
amigos, e das famílias destes, mas ainda dos conhecidos e
amigos dos seus amigos e de suas famílias”
• Algumas vezes, o narrador pula da terceira para a primeira
do plural, pedindo a cumplicidade do leitor. (Metalinguagem)
“Passemos por alto sobre os anos que decorreram desde o
nascimento e batizado do nosso memorando e vamos
encontrá-lo, já na idade de sete anos.”
IV. Críticas ao Romantismo
• Postura de independência em relação ao sentimentalismo
romântico
• O autor preocupa-se em manter o equilíbrio emocional
• Primazia da clareza
• Ridicularização do transbordamento emotivo em suas
personagens
“Tratava-se de uma cigana; o Leonardo a vira pouco tempo
depois da fuga da Maria, e das cinzas ainda quentes de um
amor mal pago nascera outro que também não foi a este
respeito melhor aquinhoado; mas o homem era romântico,
como se diz hoje, e babão, como se dizia naquele tempo; não
podia passar sem uma paixãozinha.”
“Dizem todos, e os poetas juram e trejuram, que o verdadeiro
amor é o primeiro: temos estudado a matéria, e acreditamos
hoje que não há que fiar em poetas: chegamos por nossas
investigações à conclusão de que o verdadeiro amor, ou são
todos ou é um só, e neste caso não é o primeiro, é o último. O
último é que é o verdadeiro, porque é o único que não muda.
As leitoras que não concordarem com esta doutrina
convençam-me do contrário, se são disso capazes.”
V. Tempo e Espaço
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“Era no tempo do rei”
•
Retrato da sociedade do inicio do século XIX, no período
de D. João VI
•
Ausentam-se duas classes sociais: a elite e os escravos.
•
Recriação do espaço urbano carioca, com suas festas de
ruas, procissões e comportamentos populares, nem
sempre louváveis (xeretar)
•
Constantes alusões a instrumentos, danças e modinhas
da época
“ As festas daquele tempo eram feitas com tanta riqueza
e com muito mais prioridade, a certos respeitos, do que as de
hoje: tinham entretanto alguns lados cômicos; um deles era
música de barbeiros à porta. Não havia festa em que se
passasse sem isso; era coisa reputada quase tão essencial
como o sermão; o que valia porém é que nada havia mais fácil
de arranjar-se; meia dúzia de aprendizes ou oficiais de barbeiro,
ordinariamente negros, armados, este com um pistão
desafinado, aquele com uma tromba diabolicamente rouca,
formavam uma orquestra desconcertada, porém estrondosa,
que fazia as delícias dos que não cabiam ou não queriam estar
dentro da igreja.”
IV. Personagens
• Na medida em que lutam pela sobrevivência, as personagens
agem de acordo com a necessidade, transitando entre o
universo da ordem e o universo da desordem sem
moralismos nem escrúpulos, uma vez que suas virtudes
compensam seus pecados.
• Outro comportamento retratado desta classe social: política
de favor ou “jeitinho brasileiro”.
• Personagens tipos, sem individualidade psicológica: o
barbeiro, a parteira, a cigana, o fidalgo. o mestre-decerimônias, etc.
• Leonardinho Anti-herói
malandro,
Herói
pícaro,
preguiçoso e esperto; vive ao sabor dos acontecimentos sem
grandes preocupações ou valores morais.
• Leonardo Pataca - Imigrante português, aventureiro e
mulherengo.
• Pai de Leonardinho, abandonado por Maria da Hortaliça e por
uma cigana, é feliz
com Chiquinha (filha da comadre) –
(Meirinho)
• Maria da Hortaliça - Imigrante portuguesa sensual e volúvel
• Mãe de Leonardinho
• Comadre - parteira, madrinha de Leonardinho, espécie de
anjo da guarda
• Compadre - Barbeiro. padrinho de Leonardinho, cria-o como
filho e nunca o repreende
• Major Vidigal- representante da lei e da ordem;funções de
policial e juiz
“Era o Vidigal um homem alto, não muito gordo, com
ares de moleirão; tinha o olhar sempre baixo, os movimentos
lentos, e voz descansada e adocicada. Apesar deste aspecto de
mansidão, não se encontraria por certo homem mais apto para o
seu cargo, exercido pelo modo que acabamos de indicar.
Uma companhia ordinariamente de granadeiros, às
vezes de outros soldados que ele escolhia nos corpos que
haviam na cidade, armados todos de grossas chibatadas,
comandada pelo major Vidigal, fazia toda a ronda da cidade de
noite, e toda a mais polícia de dia. Não havia beco, travessa, rua
nem praça, onde não se tivesse passado uma façanha do Sr.
major para pilhar um maroto ou dar caça a um vagabundo. A
sua capacidade era proverbial, e por isso só o seu nome incutia
grande terror em todos os que não tinham a consciência muito
pura a respeito de falcatruas.”
• D. Maria -Velha rica e bondosa, gosta das causas judiciais, é
tutora e tia de Luisinha,amiga da comadre.
• Consente o casamento com J. Manuel.
• José Manuel- caça-dotes
• Luisinha - primeiro amor e futura esposa de Leonardinho
filho.
“Era a sobrinha de D. Maria muito desenvolvida, porém, que
tendo perdido as graças de menina, ainda não tinha adquirido
a beleza de moça; era alta, magra, pálida; andava sempre
com o queixo enterrado no peito, trazia as pálpebras sempre
baixas e olhava a furto; tinha os braços finos e compridos; o
cabelo cortado dava-lhe apenas até o pescoço, e como
andava mal penteada e trazia a cabeça sempre baixa, uma
grande porção lhe caía sobre a testa e os olhos como uma
viseira..”
• Maria Regalada - Conhecida de D. Maria, amante do Vidigal,
intercede por Leonardo, livrando o moço das punições
militares.
• Vidinha - Nova paixão do herói
“Vidinha era uma mulatinha de dezoito a vinte anos, de
altura regular, ombros largos, peitos alteados, cintura fina e pés
pequeninos; tinha os olhos muito pretos e muito vivos, os lábios
grossos e úmidos, os dentes alvíssimos, a fala um pouco
descansada, doce e afinada. // Cada frase que proferia era
interrompida com uma risada prolongada e sonora, e com um
certo caído de cabeça para trás, talvez gracioso se não tivesse
muito de afetado.(..) Além do costume das risadas tinha Vidinha
um outro, e era o de começar sempre tudo o que tinha a dizer
por um “qual” muito acentuado.”
VI. Enredo
• Nascimento de Leonardo
“Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos
enjôos; foram os dois morar juntos; e daí a um mês
manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do
beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável
menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho,
cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que
nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peio. E este
nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais
nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói
desta história.”
• Aos sete anos, a mãe é pega em adultério
• Fuga da mãe com o Capitão do navio para Portugal
• Abandonado pelo pai, é acolhido pelo barbeiro
“O pequeno quando se achou novato em casa do padrinho,
portou-se com toda a sisudez e gravidade; apenas porém foi
tomando mais familiaridade, começou a pôr as manguinhas de
fora. Apesar disto porém captou do padrinho maior afeição, que
se foi aumentando de dia em dia, e que em breve chegou ao
extremo da amizade cega e apaixonada. Até nas próprias
travessuras do menino, as mais das vezes malignas, achava o
bom do homem muita graça; não havia para ele em todo o
bairro rapazinho mais bonito, e não se fartava de contar à
vizinhança tudo o que ele dizia e fazia; à vezes eram
verdadeiras ações de menino malcriado, que ele achava cheias
de espírito e de viveza; outras eram ditos que denotavam já
muita velhacaria para aquela idade, e que ele julgava os mais
ingênuos do mundo.”
• Leonardo-pai procura um feiticeiro para salvar sua relação
com Cigana
• Prisão de Leonardo – pai / Proteção da comadre / Soltura
• Padrinho desconhece sua própria origem/ África / Retorno ao
Brasil
• Capitão do navio confiou-lhe sua fortuna / Problemas com
vizinha
• Primeiras letras com o Padrinho / Escola (02 anos)
• Saída da escola e torna-se sacristão da Igreja
• Vingança da vizinha e depois do Padre (Horário do Sermão)
• Armação de Leonardo Pataca contra Padre / Vida com a
Cigana
“Os leitores devem já estar fatigados de histórias de
travessuras de criança; já conhecem suficientemente o que foi o
nosso memorando em sua meninice, as esperanças que deu, e
o futuro que prometeu. Agora vamos saltar por cima de alguns
anos, e vamos ver realizadas algumas dessas esperanças.
Agora começam histórias, senão mais importantes, pelo menos
um pouco mais sisudas.”
• Leonardinho conhece Luisinha, através do padrinho
• Presença de José Manuel / Histórias contrárias da Comadre
• Leonardo Pataca une-se à Chiquinha / Morte do Padrinho /
Herança
• Todos passam a morar juntos, inclusive a Comadre
• Exclusão de Leonardinho / Surge Vidinha / Casa da rua d’Vala
“Leonardo passava vida completa de vadio, metido em
casa todo o santo o dia, sem lhe dar o menor abalo o que se
passava lá fora pelo mundo. O seu mundo consistia
unicamente nos olhos, nos sorrisos e nos requebros de
Vidinha.”
• Prisão e fuga do herói / Emprego na ucharia ( Despensa do rei)
• Caso com mulher do Toma-largura / Prisão
• Romance do Toma-largura com Vidinha (Vingança)
• Festa na casa de Vidinha / Toma Largura bebeu demais
• Major Vidigal e seus granadeiros, inclusive Leonardinho
• Diabruras na polícia / Surra e perdão / Proteção ao bicheiro
Teotônio
• Prisão com promessas de chibatadas
• Comissão de mulheres para proteger Leonardo: D Maria,
Comadre e Maria Regalada
• Promessa de Promoção a Sargento
• José Manuel, casado com Luisinha, morre de derrame
• Enterro sem choro, pois ele maltratava a esposa e preocupava-se
somente com o dinheiro dela.
• Reencontro no velório
• Soldados na Ativa não podiam casar, Major Vidigal transfere-o
para a Milícia (guarda civil)
“ Depois disto entraram todos em conferência. O major
desta vez achou o pedido muito justo, em conseqüência do fim
que se tinha em vista. Com a sua influência tudo alcançou; e em
uma semana entregou ao Leonardo dois papéis: um era a sua
baixa da tropa de linha; outro, sua nomeação de Sargento de
Milícias.
Além disto recebeu o Leonardo ao mesmo tempo carta
de seu pai, na qual o chamava para fazer-lhe entrega do que lhe
deixara seu padrinho, que se achava religiosamente intacto.
Passado o tempo indispensável do luto, o Leonardo, em
uniforme de Sargento de Milícias, recebeu-se na Sé com
Luisinha, assistindo à cerimônia a família em peso.
Daqui em diante aparece o reverso da medalha. Seguise a morte de Dona Maria, a do Leonardo-Pataca, e uma
enfiada de acontecimentos tristes que pouparemos aos leitores,
fazendo aqui o ponto final.”
VII. Comentário Final
• Trata-se de um romance muito agitado e festivo, em que não
há nenhuma página sem um incidente ou surpresa espantosa.
• “Dialética da malandragem”(A. Cândido)
• Movimento de convivência de opostos que tornam-se o
elemento estrutural do romance: jogo de oposições e
conciliações entre ordem e desordem.
• Leonardo Pataca – (oficial de justiça) desce aos mais
escuros porões da desordem por causa das paixões.
• Leonardinho – malandro premiado e integrado numa posição
social respeitável.
• Padrinho – homem bom, mas tem a base de sua situação
decente num episódio condenável.
• Major Vidigal – Representante máximo da ordem no final
entrega-se a um delicioso compromisso com a desordem
• Os namorados da Memórias tratam-se por Senhor e Senhora
• A linguagem do narrador é descontraída , mas o seu registro
lingüístico não deixa de obedecer a norma culta do idioma.
• “Ai, criatura, quereis que vos reze um responso para
cantardes uma modinha?“ (Mãe de Vidinha)
• Quando as personagens se expressam, elas o fazem pelo
padrão popular
• Leonardinho faz pouco uso do diálogo, valorizando mais a
ação do que a fala. ( Mário de Andrade – adaptado)
• As Memórias apresentam capítulos unitários, contendo
quase todos um episódio completo.
• Bibliografia:
1. Memórias de um Sargento de Mílicias – Análise da Obra – Prof.
Fernando Teixeira de Andrade - Sistema de Ensino Objetivo
2. www.portrasdasletras.com.br
3. Memórias de um Sargento de Mílicias - Editora Objetivo
 Observação: as referências acima não seguem o padrão da ABNT por
opção do professor.
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Memórias de um sargento de Mílicias Manuel A. de Almeida