Desafios de política monetária
Março de 2010
Fundo Monetário Internacional
Nicholas Staines
FMI, Departamento de África
1-202-623-4431
[email protected]
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Objectivos
Esta apresentação analisa as implicações e os riscos que a
proposta de uma nova orientação da política fiscal
representam para a política monetária:
 A proposta para alargar o uso dos empréstimos internos
para financiar o investimento.
 A intenção do governo de contrair empréstimos externos
em condições não concessionais (ENC) para financiar o
investimento. A apresentação adopta o pressuposto de
um aumento temporário dos ENC.
2
3
Metas
Meta primária
 O principal foco da política monetária do Banco de
Moçambique (BM) é a manutenção da inflação em
baixa.
Metas secundárias
 Manutenção da estabilidade externa e de um nível
apropriado de reservas externas.
 Aumento da intermediação financeira, ajudando a
canalizar os recursos financeiros dos poupadores para
que sejam utilizados da melhor forma e alargando o
crédito ao sector privado.
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Implementação
 Implementação das políticas no quadro das metas para a
base monetária e no contexto de um regime de câmbio
flexível, buscando compensar os desequilíbrios sazonais e
temporários.
 O BM define a expansão monetária de acordo com o
crescimento económico projectado e a taxa de inflação
desejada.
 O BM está pronto para apertar as condições monetárias para
combater a inflação.
 Em breve, o BM estaria em posição de decidir se deseja
adoptar um regime de metas de inflação.
5
Conquistas
25
Na generalidade, o Banco de Moçambique (BM)
está a atingir as suas metas:
IPC, fim do período
Variação percentual
20
15
 A inflação está em baixa, a despeito das
10
dificuldades em cumprir as metas monetárias.
5
0
2000
2002
2004
2006
2008
prossegue a passos lentos.
M2
% do PIB
30
 A bancarização, medida como o rácio M2/PIB,
25
 Mas a participação do crédito ao sector
20
15
10
2000
2002
2004
2006
2008
Crédito ao sector privado
% do PIB
30
privado no PIB está em alta desde 2004,
embora o grande aumento de 2008/09 seja
provavelmente temporário.
 As políticas prudentes permitiram o
aligeiramento das condições monetárias
durante a subida dos preços dos
alimentos/combustíveis e a recente crise
financeira.
25
20
15
10
5
0
2000
2002
2004
2006
2008
6
7
Empréstimos internos x externos
O investimento adicional aumenta a procura agregada.
 Ao utilizar os empréstimos internos, o governo está a competir
com o sector privado pelos recursos produtivos. Se o crescimento
não for grande o bastante, o sector privado será marginalizado.
 Ao utilizar os empréstimos externos, o governo está a empregar
recursos estrangeiros produtivos sem competir com o sector
privado. Mas isto exige que os referidos recursos produtivos
sejam importados.
Produto
Despesas
do governo
Despesas
privadas
Importações
do governo e
privadas
8
Inflação - Impacto
Impacto do investimento na procura
100
90
Procura líquida
80
70
As pressões inflacionistas resultantes do
investimento adicional provavelmente seriam
limitadas.
 O investimento potencialmente estimularia a
60
50
procura interna e alimentaria a inflação.
Investimento
40
Importações
30
 Mas isto seria mitigado pelos vazamentos das
20
10
importações, que provavelmente seriam
grandes.
0
Impacto sobre a procura x oferta
% do PIB
4.0
investimento adicional
3.5
PIB adicional
3.0
2.5
2.0
1.5
 As pressões sobre os preços relativos
provavelmente seriam maiores nalgumas
áreas, ex. mão-de-obra qualificada e
construção. Talvez convenha ao governo
abrandar as restrições aos serviços
importados.
 Com o tempo, o aumento da produtividade
1.0
0.5
0.0
2010
2011
2012
2013
2014
2015
graças ao investimento reduziria as pressões
sobre os preços.
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Inflação – Política
 A mudança proposta na orientação da política fiscal poderia
dificultar a implementação da política monetária pelo BM.
 Como a meta primária é conter a inflação, o BM não tem
muito espaço para acomodar o aumento da procura. Se
houver pressões sobre a procura interna, o BM teria que
apertar as condições monetárias e restringir o crédito ao
sector privado.
 Não se deve confundir preços relativos com inflação geral.
 O BM poderia declarar o seu compromisso em manter a
inflação entre 5 e 6 por cento.
10
Investimento financiado por empréstimos internos
 Ao evitar os empréstimos
internos, o governo ajudou
a reduzir a inflação e abrir
espaço para o crédito ao
sector privado.
 Dada a meta do BM de manter
a inflação em baixa, a margem
de aumento da expansão
monetária para acomodar o
endividamento interno é
limitada.
 Por conseguinte, se o
Endividamento interno do governo
% do PIB
2.0
1.0
0.0
2000
-1.0
-2.0
-3.0
-4.0
-5.0
2002
2004
2006
endividamento interno do
governo for muito grande, o
espaço para o crédito ao sector
privado será restrito.
2008
 O governo poderia declarar
o seu compromisso em
limitar o financiamento
interno.
11
Investimento financiado por ENC
 Um aumento do investimento financiado por ENC criaria
problemas bastante complexos para a política.
 A problemática é similar à dos fluxos da ajuda – mas os ENC são
mais onerosos e geram riscos maiores.
 Os fluxos de ENC deveriam ser usados principalmente para
importações ligadas a investimentos. (Uma parcela deveria ser
poupada para efectuar o pagamento do serviço da dívida). Do
contrário, os fluxos de ENC marginalizariam os gastos privados
ou seriam usados para financiar importações privadas
(inclusivamente bens de consumo).
12
Os ENC e a taxa de câmbio
Endividamento temporário e serviço da dívida
Milhões de dólares
300
Empréstimos adicionais
250
Serviço da dívida adicional
200
150
100
50
2010
2015
2020
2025
2010
2015
2020
2025
-9
-10
-12
-13
-14
2030
Conta corrente excl. juros
% do PIB de base
-7
-11
 A referida apreciação seria maior se os fluxos
de capital fossem gastos no mercado
doméstico. O BM teria que vender reservas para
esterilizar a liquidez injectada na economia
através dos gastos internos.
 Ela seria menor se o governo utilizasse os
0
-8
 A princípio, os fluxos de entrada de ENC poderiam
causar a apreciação da taxa de câmbio e a deteriora
da conta corrente externa (‘doença holandesa’).
Base
Com empréstimos
2030
recursos principalmente no financiamento
das importações. Isto reduziria a necessidade
de esterilização de liquidez pelo BM.
 As pressões sobre a moeda seriam mais tarde
compensadas pelos ganhos de produtividade
derivados do investimento.
 Posteriormente, o BM teria que vender reservas para
pagar o serviço da dívida externa ou permitir a
depreciação da moeda e a contracção do défice da
conta corrente externa excl. juros.
-15
13
Os ENC e as reservas externas
O BM deveria acumular reservas para cobrir os pagamentos do
serviço da dívida.
 Isto moderaria as oscilações da taxa de câmbio e daria sustentação à
confiança do mercado.
 Mas isto custaria caro, pois implica o uso de recursos de ENC
onerosos para investir em títulos estrangeiros de baixo retorno – e
não no crescimento – e exigiria uma custosa esterilização com
BTs. O MF deveria reembolsar o BM.
 Os recursos não podem ser empregados duas vezes. Utilizar a
mesma parcela dos recursos dos ENC tanto para investimento como
para reservas tem o mesmo efeito que o endividamento do sector
público. Por conseguinte, isto restringe o crédito ao sector privado.
 O BM não deveria acumular reservas para cobrir importações
financiadas por ENC, pois estas são temporárias.
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Os ENC e a gestão da liquidez
Grandes fluxos de entrada de ENC complicam a gestão da
liquidez.
 Os fluxos de entrada das ajudas depositados pelo governo
junto ao BM já representam a principal fonte de liquidez (56% do PIB). O BM esteriliza o excesso de liquidez através da
venda das reservas em divisas ou de BTs.
 Canalizar grandes volumes de ENC através do BM provocaria
um grande aumento da liquidez injectada, e complicaria
imenso a gestão da liquidez.
 O governo e o BM precisam melhorar a sua
coordenação no que respeita à gestão da liquidez.
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Conclusões
A mudança na orientação da política fiscal gera grandes desafios para a política
monetária.
 O BM precisa continuar empenhado em manter a inflação em baixa. Ele deve
declarar o seu compromisso em manter a inflação na faixa dos 5 a 6 por
cento.
Endividamento interno
 O financiamento do investimento com empréstimos internos poderia
marginalizar o crédito ao sector privado, pois o BM tem margem limitada de
acomodação.
Aumento temporário dos ENC
 Os recursos dos ENC deveriam ser usados principalmente nas importações
ligadas a investimentos, pois isto beneficiaria o crescimento e a estabilidade.
 O BM deveria acumular reservas para cobrir os pagamentos do serviço da
dívida dos ENC. O governo precisa reembolsar o BM pelos custos.
 O governo e o BM precisam melhorar a coordenação no que respeita à gestão
da liquidez.
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