LEITE, L. C. M. Invasão da catedral: literatura e
ensino em debate. Porto Alegre: Mercado Aberto,
1983. (Novas perspectivas, 6).
APRESENTAÇÃO:
Claudio Mello
e Vanderléia Oliveira
• Doutorado em Letras (Teoria Literária e Literatura
comparada). USP. Título: Regionalismo e modernismo: o
caso gaúcho, Ano de Orientador: Antonio Cândido. 1971 1974
• Mestrado em Letras (Teoria Literária e Literatura
Comparada). USP.
Título: Modernismo no Rio Grande do Sul: materiais para
seu estudo. Orientador: Antonio Cândido. 1969 – 1970
• Graduação em Letras. Universidade de São Paulo, USP.
1965 - 1968
• Área de atuação profissional: Profa. Titular da Cátedra de
Brasilianística do Instituto Latinoamericano da
Universidade Livre de Berlim, desde 1997
PROPOSTA DA OBRA
“A academia não suporta encarar seus avessos” p.16
• O livro é resultado de diferentes textos reunidos, mas que apresentam uma
coerência entre si, que é a de discutir conceitos de pesquisa e ensino. Eles
apresentam um caráter autobiográfico, pois partem da idéia de um projeto
(1977) que objetiva discutir literatura e educação. Objetivo era o de
pensar em literatura no Brasil, mas observar o que se passava lá fora
(França). Além de investigar os conceitos teóricos, o trabalho teria
pesquisa de campo – entrevistas com professores e alunos, aos moldes do
que realizou Rocco Fraga.
• Problemas a investigar: perspectiva teórica – sobre funções da literatura;
perspectiva pedagógica – sobre adequação das teorias educacionais às
diferentes condições econômicas e sociais em que se desenvolve o
trabalho didático.
ESTRUTURA
• PREFÁCIO – LIGIA: UMA LÚCIDA ESPERANÇA (feito
por Marilena Chauí)
• Há uma questão central nesse prefácio, que é o que a autora
chama de “Pedagogia poética e da ad-miração”, que
instaura, no lugar do conservador tipo de ensino centrado na
transmissão e na figura autoritária do professor, o
“seminário, a indagação permanente e o movimento” (p. 11),
como forma de propiciar a pesquisa e o questionamento livres
por parte do aluno, num processo em que também o professor
despe-se de sua (falsa) autoridade, para a construção de
novos sentidos do texto. Isso adquire maiores proporções,
quando se tem em conta que o objeto de estudo é o texto
literário, “um texto que expressa a vontade de criar, um texto
que mais interroga do que responde”.
• È, portanto, uma pedagogia libertadora, que
vai contra o que a prefaciadora chama de
“pedagogia da alienação”, praticada no diaa-dia das escolas, com aquele ensino de
literatura qualificado pela imobilidade,
centrado nas regras, na teoria da literatura,
na história literária; em lugar, disso, a
pedagogia da ad-miração tem por objetivo
ressignificar o ensino da literatura. que
deveria ser voltado para a experiência viva
com o texto literário.
UM PROJETO E ALGUMAS ILUSOES
Em busca de um resultado in-completo
• A autora faz um percurso de sua biografia, situando o
modo como o ensino de literatura se inseriu em suas
preocupações acadêmicas. Lembra que sua trajetória
aconteceu durante o regime militar (que foi de 19641985), fato que de alguma forma contribuiu para a
busca de uma proposta libertária, no campo
pedagógico. Revela que o livro é uma luta contra a
academia, pois tenta repensar o papel da universidade,
discutir o conceito de ensino que se fazia, buscando
alternativas pedagógicas – e, portanto, políticas.
• O projeto de pesquisa sobre literatura e educação
iniciou em 1977, período duro do regime militar, e
objetivava verificar se os problemas da docência e
pesquisa eram próprio da característica do Brasil, de
país subdesenvolvido. Como contraponto, ela
seleciona, a realidade francesa como campo de
pesquisa; a idéia era ver como as aulas eram
ministradas (ponto de vista do professor e dos alunos),
de modo análogo à pesquisa realizada no Brasil.
Registros dessa coleta de dados estão presentes nas
entrevistas anexadas ao livro.
• Dentre os vários eventos citados no livro, que contribuíram
para o amadurecimento acerca dos pressupostos do ensino de
literatura que deveria substituir o então existente, destaca-se
o evento de Vincennes. Na fala de Jean Verrier, ela aponta
que a “ideia era abrir a Universidade ao intercâmbio com os
outros níveis” (p. 20). A partir daí, ela pensa uma proposta
de “pesquisa-ação”, por envolver os sujeitos pesquisados
numa perspectiva transformadora, em lugar da conservadora
forma de “reciclagem” ou “treinamento”, nas quais os
sujeitos ficam bastante passivos.
Em sua pesquisa, ela relativiza duas questões, uma teórica e
outra pedagógica.
No âmbito teórico, um dos elementos de indagação,
existentes já no início da pesquisa, era o conceito de
literatura (função, objetivo, natureza). Depois de
apresentar alguns conceitos, ela chega no conceito
“relativização” pautado nas transformações históricas, de
que a própria literatura e seus conceitos fazem parte (p.
23) - (defendido, p. ex., por Eagleton).
No âmbito pedagógico, ela questiona a validade para a sua
pesquisa-ação da Pedagogia do oprimido, de Paulo
Freire, devido ao fato de a clientela-foco de sua pesquisa
não ser o tipo oprimido, mas ser um tipo de classe média,
ou que aspira a ela.
• Anexo (Projeto Teoria da literatura e didática da literatura:
França e Brasil).
• Ela apresenta o projeto de modo interessante: pessoal (o que, na
época, implicou em questionamentos, mas... passou). Ela conta
sua própria trajetória de leitura e de formação escolar, da
infância à pós-graduação, para chegar ao seu objeto de
pesquisa: questionar o lugar do ensino e da investigação no
ensino de literatura. A pesquisa nas aulas de literatura faz coro
com a sua idéia de um ensino pautado na construção, na
descoberta, no gosto pelo lúdico, no valor da literatura como
algo vivo para professores e alunos, e não apenas como uma
mera disciplina escolar.
• Objetivos, dentre outros: “criação de uma didática da literatura,
... revisão das concepções teóricas sobre o papel formados da
literatura”.
I ENSAIOS E PERPLEXIDADES
• A partir de 1968 – discussões = Osman Lins, Antônio
Candido, Luiz costa Lima, Afrânio Coutinho Afonso
Romano Sant’Anna= problemas no ensino de literatura:
teórico, pedagógico e político.
• Livro didático – transplante de teorias entre nós criação da disciplina de teoria da literatura –
expansão dos cursos de letras - historia das leituras: “É
por aí que envereda, por exemplo, o conhecido grupo de
Constance, sob orientação de Hans Robert Yauss,
divulgando princípios de uma estética da recepção que
começa a fazer “furor” no Brasil, mas que, na verdade,
tem pouco de novo a oferecer, já que esses princípios são
encontráveis nos teóricos dos anos 20, senão antes. ”p.64.
• Teoria da literatura e ensino de literatura: o caso Frances
- A autora apresenta contribuições de teóricos
renomados (Barthes, Todorov, Genette, Greimas)
no colóquio de Cérisy-la-Salle, em 1969, que se
dispuseram a dialogar com colegas professoras de
1º. E 2º. Graus.
Perspectivas:
- Doubrowsky (professor) e Pingaud (escritor): Há
uma crise da literatura, tanto como produção
como ensino, frutos de uma sociedade capitalista.
Questiona-se, aí, a importância da literatura, e
mesmo se ela pode ser ensinada.
- Barthes – Lembra que, na escola, a literatura é tida
como história literária, portanto, para ser
ensinada mesmo, ainda que ele a veja como
instrumento de desalienação. Anos mais tarde, o
teórico revê essa posição, chegando à conclusão
de que a literatura deve ser vista “não como
transmissão do saber, mas como prática” (p. 42).
Numa altura em que questionava-se o poder da
literatura em representar o real, questionava-se
também o valor da didática da literatura,
“tentando inventar um modo novo de se
relacionar com os textos, os alunos e o saber”.
- Favry – seguindo a Pedagogia Freinet, coloca como sugestão para
o início do ensino de literatura, os textos criativos dos alunos,
como expressão livre; a ideia é fazer um “compromisso entre
invenção e reproduçã0o, entre adaptação ao e transformação do
distema” (p.44)
- Jean Verrier – “Na mesma direção vai a proposta de Verier, para
quem o papel od professor é ajudar a cada um a extrair
conclusões de suas próprias pesquisas, ajudar a ler, a aprender a
aprender”.
• Tópico: Pedagogia e Terapia- Os autores que defendem uma
utilização da experiência pessoal dos alunos no ensino aludem a
uma experiência psicanalítica como proposta pedagógica, em que
entra “pesquisa séria e jogol, vivência prazerosa e, à vezes,
dolorosa da polissemia”.
• Segundo a autora, essa proposta tende a realizar
um papel liberador.
Mas adverte que essa posição não é a de todos no
evento, pois há aqueles que advogam pelo ensino
de literatura com explicação dos textos.
O evento recoloca, portanto, a dicotomia existente
no ensino de literatura: de um lado criatividade
(ensino pautado na experiência do leitor e no
papel libertador do texto), de outro crítica (ensino
pautado na análise e explicação)
• Teoria da literatura e ensino de literatura: o caso brasileiro
A partir de 1968 – discussão sobre o papel das letras no mundo contemporâneo,
dominado pela técnica.
Para que serve literatura? Qual ou quais as funções sociais do letrado? Quais os
objetivos de um curso de Letras? P.53
Discussão nos meados de 1970 pelos teóricos: problema teórico, pedagógico e político.
Osman Lins, analise dos manuais didáticos. Maria Tereza Rocco fraga - pesquisa
evidencia – co profs. da USP e PUC, a falta de amadurecimento da reflexão sobre o
uso dos textos na escola – distância da universidade e da educação básica. P. 55;
1974 – colóquio no RJ sobre ensino de literatura: Luiz Costa Lima – insistência num
método inspirado na psicanálise; Afrânio Coutinho: defendia primado do texto e da
literariedade; Affonso Romano Sant’Anna – propunha aos universitários
desvestirem-se dos preconceitos aristocráticos e mergulharem no estudo do texto –
entendido de uma forma mais ampla e genérica – relativizava o próprio conceito de
literatura. p.55
Em 1975 – RJ – polêmica entre Luiz Costa Lima e profs. e alunos da UFRJ = crítica ao
método estruturalista – teorizar era confundido com imitar. P.56
Problema da aplicação da teoria e do distanciamento na formação do professor para o
secundário.
Tópico teoria, filosofia e história = novidade da disciplina Teoria da Literatura.
Criação da década de 50 – projeto de A. Coutinho
para a UFRJ. Em 1960-63 = expansão para as
demais universidades – RS, SP, Brasília e Bahia.
RS = estética de Croce, RJ = Coutinho – ciência da
literatura – new criticism; SP – Antônio Candido
– caráter geral e sistemático da disciplina e seu
parentesco com outras áreas das humanidades.
P.57-8
Reuniões da SBPC – 1976 e 1977 = processo de
crítica e autocrítica – buscando repensar as
relações entre literatura e sociedade, história,
cultura, bem como a função do ensino da própria
teoria literária depois da onda estruturalista. p.60
A autora passa a refletir sobre a importância da disciplina de
teoria da literatura – teorizar sobre literatura é pensar
historicamente o próprio conceito de literatura e é também
teorizar-se, pensar historicamente o próprio pensamento. P.63
1983 – teóricos se voltem para a História das Leituras – p.64 – ‘É
por aí que envereda, por exemplo, o conhecido grupo de
Constance, sob orientação de Hans Roberto Yauss, divulgando
princípios de uma Estética da Recepção que começa a fazer
“furor” no Brasil mas que, na verdade, tem pouco de novo a
oferecer, já que esses princípios são encontráveis nos teóricos dos
anos 20, senão antes”. P.64.
Síntese: houve discussão sobre o problema do conceito de
literatura, sobre a problematização da história literária. Mas não
foi discutido o problema da transmissão do saber e da sua
produção.
Retomar a idéia do princípio educativo - seminário.
Notas em defesa do seminário
Terracini e Mariani – a autora se embase nas duas professoras
de literatura em universidades italianas – para quem se ensina
literatura. Investigação do contexto da mensagem didática –
contexto imutável e estático – professor emissor; aluno –
receptor. Representação didática tradicional p. 67.
Seminário – trabalho de semente – reprodutor e produtor ao
mesmo tempo. P. 67.
Dificuldade de se adotar (tanto professor e aluno) uma atitude
realmente autônoma, na prática da investigação e das aulas. P.
68. Situação idêntica na graduação e pós-graduação.
Representação didática tradicional – p.66-7
Seminário – semente-sementeira – novas regras do jogo –
Gramsci
O perfil do letrado
Quem é hoje o profissional das Letras?
A autora utiliza o livro Os intelectuais e o capital, de Piccone-stella, para
pensar este profissional.
Perfil ontem e hoje – repensar a formação e seus métodos de trabalho p. 74
– ideal de universidade – USP - depois de 68 – fragmentação do trabalho
intelectual – pulverizaçao dos diversos cursos, pulverizaçao de alunos e
professores p. 74
Síntese: intelectual encurralado: ou generalidade e as totalizações apresadas (a
ignorância culta) ou a especialização extrema e medrosa que, no limite, é
debruçar-se sobre o ínfimo ou sobre o nada – p. 74 Sobre os 4 primeiros tópicos
- “Estes quatro textos formavam um só intitulado Teoria da literatura e teoria
do ensino da literatura escrito em 1979. Reformulado em algumas passagens,
foi posteriormente desmembrado, permanecendo inédito até aqui.” (LEITE,
1983, P.36)
.
Rousseau, Freinet e Paulo Freire: educação
transformadora e educação conservadora
O tópico representa o caminho de investigação
da autora em busca do sentido de sua profissão.
Fazer com a tradição livresca uma utilização
antropofágica p.77
Conquistas e perdas nas universidades francesa e brasileira de 68 a 79
Quer pensar o ano de 68 e da questão universitária até hoje.
Analisar as conquistas, os limites, os impasses, erros e acertos de 68.
Hoje (1983) voltamos a viver coisas que vivemos em 68 = se organizam
sociedades estudantis, se criam ou revigoram associações de professores, se
instauram debates sobre relação professor-aluno, sobre ensino, sobre papel da
universidade etc.
Segundo ela é preciso insistir na diferença para não cometer os mesmos erros.
3 níveis para pensar: órgãos de poder, situação dos docentes, situação dos
alunos. P. 80
Síntese: a diluição das propostas novas na estrutura arcaica da universidade
como indício de que a universidade no sistema capitalista é mais contraditória
do que dava a entender a tese da sua adequação imediata às solicitações do
mercado de trabalho. P.82
A arte literária na universidade
Sentido mais amplo: relação das artes com a universidade e a sociedade. P.84
A autora fala a partir de sua vivência na USP.
Criação da USP – projeto liberal. Importava concepção européia, das grandes
e tradicionais universidades francesas e alemãs. – ideal da universitas
Papel fundamental da área de filosofia, ciências e letras – p. 86 = formaria
homens nao para um quadro profissional restrito, não para funções técnicas
detalhadas, mas para a filosofia, as letras e as ciências,...p.87
Papel das artes = monumento e como patrimônio de alguns poucos eleitos p. 88
Tópico: Há arte literária na Universidade? = é adorno, supérfluo e um tanto
“démodé”. P.89
Tópico: Ah! Arte literária na Universidade! = visão democrática de arte.
Propostas de ateliers ou oficinas de produção de texto na escola ou na
universidade. P. 93
Encontrar ou reencontrar o prazer do texto. p. 94
Pedagogia da ad-miração
Comunicação apresentada em mesa redonda à XXXII SPBPC – 1980. P.95.
problema da formação x alienação – pedagogia da ad-miração (princípios)
p.100
Do manual: pelo manual? Outro manual? Contra o manual?
Crítica ao livro didático – o saber ao alcance da mão...
Pedagogia da invenção – invenção da pedagogia
- publicado em Leitura e crise na escola – Porto Alegre: mercado aberto, 1982.
Posição sobre leitura d obra literária – do papel de mediador.
Ex.: “escolhido o texto, junto com os alunos, de preferência, ou depois de uma
sondagem de seus interesses, e tendo sido criada uma atmosfera descontraída,
mas tensa de curiosidade, é a conversa que passará a ocupar o vazio da sala.”.
p.113
II ENTREVISTAS
O ensino de literatura no 1. e 2. Graus: a voz dos alunos
franceses
(a autora utilizou o padrão de pesquisa de Fraga Rocco)
Literatura, escola e ideologia: a opinião dos professores
(entrevistados: Jacques Leenhardt (1978), Claude Abastado
(1978), Claude Leroy (1978), Geneviève Idt (1979), Jean
Pellegrim, (1979), Claude Duchet, Jean Verrier)
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Título - UENP-CCP