artigo anterior 934 Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, 21-26 abril 2007, INPE, p. 4767-4774. A elipsometria e os parâmetros do vetor de Stokes Nilo Sergio de Oliveira Andrade 1,2 Antonio Nuno de Castro Santa Rosa 2 Paulo César de Carvalho Faria 3 1 Comando da Aeronáutica – Centro de Lançamento de Alcântara – CLA Av. dos Libaneses, nº 29 – Tirirical – 65056-480 – São Luís – MA, Brasil [email protected] 2 Instituto de Geociências – Universidade de Brasília – UNB Campus Universitário Darcy Ribeiro – CEP 70910-900 - Brasília – DF, Brasil [email protected] 3 Departamento de Química – Instituto Tecnológico da Aeronáutica – ITA Praça Mal Eduardo Gomes, 50 – Vila das Acácias – 12228-900 – S.J.Campos – SP, Brasil [email protected] Abstract. From the mathematical representation of the components of an electric field vector, important relations among the parameters that characterize the polarization ellipse are derived. Using these relations, the link between the Stokes vector and the polarization ellipse is established. In fact, it is proved that the Stokes vector represents the coordinates of a point P on the Poincaré sphere. Then, it is shown that points on the surface of this sphere represent the state of a fully polarized electromagnetic field. This concept is extended to points inside the sphere (partially polarized fields). The center of that sphere represents a completely unpolarized wave. In addition, one concludes that the degree of polarization is given by the distance of the point P to the center of the sphere. Palavras-chave: remote sensing, radar polarimetry, Poincaré sphere, polarization, sensoriamento remoto, polarimetria, esfera de Poincaré, polarização. 4767 Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, 21-26 abril 2007, INPE, p. 4767-4774. 1. Introdução Há duas abordagens clássicas para se caracterizar, por intermédio de vetores, a polarização de uma onda eletromagnética: a do vetor de Stokes e a do vetor de Jones. Neste trabalho, a partir dos parâmetros que caracterizam a elipse de polarização, será deduzido o vetor de Stokes. Também será introduzida a representação desse vetor por intermédio da esfera de Poincaré. Inicialmente, serão deduzidos os parâmetros que caracterizam a elipse de polarização. 2. Relações entre os parâmetros que caracterizam a elipse de polarização Seja o vetor campo elétrico E dado por: E = xEx + yE y (1) Tendo: Ex = ax sen (ωt − β z ) e E y = a y sen (ωt − β z − δ ) (2) Sem perda de generalidade, pode-se fazer z = 0 , onde z corresponde à distância percorrida na direção do deslocamento da onda; assim: Ex = ax sen (ωt ) e E y = a y sen(ωt − δ ) (3) O que conduz às seguintes equações: v = av sen (ωt ) , com E x ↔ v e ax ↔ av (4) h = ah sen (ωt − δ ) , com E y ↔ h e a y ↔ ah (5) v = sen (ωt ) av (6) Portanto, − av ≤ v ≤ av ; − ah ≤ h ≤ ah e h = sen (ωt − δ ) = sen (ωt ) cos (δ ) − cos (ωt ) sen (δ ) ah (7) Multiplicando-se a última equação de (6) por cos (δ ) e, do resultado, subtraindo-se (7), obtém-se (8). Por outro lado, (9) é o resultado da multiplicação da última equação de (6) por sen (δ ) , ou seja, v h cos (δ ) − = cos (ωt ) sen (δ ) av ah (8) v sen (δ ) = sen (ωt ) sen (δ ) av (9) Elevando-se (8) e (9) ao quadrado obtém-se (10) e (11): v2 2vh h2 2 cos δ − cos δ + ( ) ( ) 2 = cos 2 (ωt ) sen 2 (δ ) 2 av av ah ah 4768 (10) Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, 21-26 abril 2007, INPE, p. 4767-4774. v2 sen 2 (δ ) = sen 2 (ωt ) sen 2 (δ ) 2 av (11) Somando-se (10) e (11) tem-se: v 2 2vh h2 − cos δ + = sen 2 (δ ) ( ) 2 2 av av ah ah (12) Verifica-se que a equação (12) é a de uma cônica, neste caso específico, uma elipse, a elipse de polarização. Esta equação na forma matricial fica: 1 av2 (v h) − cos (δ ) aa v h O determinante de (13) é: − cos (δ ) av ah v 2 = sen (δ ) h 1 2 ah (13) − cos (δ ) 1 2 av av ah cos 2 (δ ) sen 2 (δ ) 1 det = − 2 2 = − cos (δ ) av2 ah2 av ah av2 ah2 1 aa ah2 v h A equação da elipse na forma canônica é dada por: (14) 1 a2 0 V H ) = sen 2δ (15) 1 H 0 b2 Investigando, agora, as relações que existem entre as coordenadas de um ponto qualquer, P, expressas nesses dois sistemas de eixos v, h e V , H . Esses sistemas diferem entre si por uma rotação de ψ graus, conforme apresentado na Figura 1. V2 H2 + 2 = sen 2δ , com senδ ≠ 0 ou (V 2 a b h P H V ψ ψ v Figura 1. Coordenadas de um ponto “ P ” em dois sistemas de eixos v, h e V , H , defasados entre si de um ângulo de ψ graus. 4769 Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, 21-26 abril 2007, INPE, p. 4767-4774. Da figura anterior é fácil verificar que: v cosψ = h senψ − senψ V cosψ H (16) v V Trocando por e ψ por −ψ , chega-se a: h H V cosψ = H − senψ senψ v cosψ h (17) Substituindo (17) na segunda equação de (15) tem-se: 1 0 2 cosψ − senψ a cosψ (v h) 1 − senψ senψ cosψ 0 b2 Comparando (13) e (18), tem-se que: 1 a2 v − cos δ aa v h − cos δ av ah cosψ = 1 senψ ah2 1 − senψ a 2 cosψ 0 senψ v 2 = sen δ cosψ h (18) 0 cosψ 1 − senψ b2 (19) senψ cosψ Logo, 1 a2 v det − cos δ aa v h − cos δ 1 2 av ah = det a 1 0 2 ah 0 = invariante sob uma rotação de eixos 1 b2 (20) As equações (14) e (20) conduzem a: sen 2 (δ ) 2 2 v h a a = 1 ∴ a 2b 2 sen 2 (δ ) = av2 ah2 ab (21) 2 2 Também, a partir de (19), chega-se a (22). 1 a2 v − cos δ av ah − cos δ cos 2 ψ sen 2ψ + 2 av ah a b2 = 1 senψ cosψ senψ cosψ − ah2 a2 b2 senψ cosψ senψ cosψ − a2 b2 sen 2ψ cos 2 ψ + a2 b2 (22) Ou seja, antes da rotação dos eixos, a matriz que representava a elipse de polarização era: 1 a2 0 1 1 , cujo traço é 2 + 2 . 1 a b 0 2 b Depois da rotação dos eixos de coordenadas, essa matriz passa a ser: 4770 (23) Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, 21-26 abril 2007, INPE, p. 4767-4774. cos 2 ψ sen 2ψ + 2 a b2 senψ cosψ senψ cosψ − a2 b2 senψ cosψ senψ cosψ − a2 b2 sen 2ψ cos 2 ψ + a2 b2 , cujo traço, (24) cos 2 ψ sen 2ψ sen 2ψ cos 2 ψ 1 1 + + + , também é 2 + 2 . 2 2 2 2 a b a b a b (25) Temos, assim, mais um invariante sob a rotação dos eixos: o traço das matrizes que representam a elipse de polarização. A partir dessa comprovação e de (13), decorre que: av2 ah2 1 1 1 1 a 2b 2 + = + ou = av2 ah2 a 2 b 2 av2 + ah2 a 2 + b 2 (26) Para estabelecer o ângulo ψ , que relaciona a forma canônica da elipse de polarização com o polinômio quadrático com termo em “ xy ”, que também representa a mesma elipse, deve-se aplicar (16) a (13), obtendo-se, então, (27): − cos (δ ) av ah cosψ − senψ V cosψ 2 (V H ) = sen (δ ) senψ cosψ H 1 − senψ 2 ah Desenvolvendo-se esse produto matricial chega-se a: 1 senψ av2 cosψ − cos (δ ) aa v h (V cos 2 ψ sen 2ψ sen 2ψ − + av2 av ah ah2 H) sen 2ψ 1 1 cos ( δ ) cos 2ψ 2 a2 − a2 − av ah h v 1 cos ( δ ) cos 2ψ 2 − 2 − 2 ah av av ah sen 2ψ sen 2ψ cos ( δ ) cos 2 ψ sen 2ψ 1 av2 + av ah + ah2 (27) V = H (28) = sen 2 (δ ) O termo em “V H” anula-se se: 1 1 cos (δ ) cos 2ψ 2a a 1 = 0, donde tg 2ψ = 2 v h2 cos (δ ) sen2ψ 2 − 2 − 2 av ah av − ah ah av Onde, ψ define o ângulo de rotação do eixo principal da elipse de polarização. Introduzindo-se o ângulo “ α ” (ângulo auxiliar) tal que: a tgα = h , av (29) (30) e, aplicando-se a relação trigonométrica entre tg 2α e tgα , tem-se que: ah av 2a a 2tgα tg 2α = = ∴ tg 2α = 2 v h2 2 2 a 1 − tg α av − ah 1 − h2 av 2 . Substituindo (31) na segunda equação de (29), obtém-se: 4771 (31) Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, 21-26 abril 2007, INPE, p. 4767-4774. tg 2ψ = tg 2α cos ( δ ) (32) Seja “ χ ” tal que: b (33) a Onde, “ χ ”está relacionado à excentricidade da elipse de polarização. Porém, da trigonometria, tem-se a seguinte relação: 2tg χ sen 2 χ = (34) 1 + tg 2 χ tg χ = ± Substituindo (33) em (34), tem-se que: 2b a ∴ sen 2 χ = ± 2ab sen 2 χ = ± 2 a 2 + b2 1+ b 2 a Da relação apresentada em (26) e de (35), obtém-se: sen2 χ = ± 2a 2b 2 1 2av ah av ah ⋅ = ± a 2 + b2 ab av2 + ah2 ab (35) (36) De (21) tem-se que: av ah = sen (δ ) ab Usando (37) em (36), obtém-se (38): 2a a sen 2 χ = 2 v h2 ⋅ sen (δ ) av + ah ± Mais uma vez, da trigonometria, tem-se a seguinte relação: 2tgα sen 2α = 1 + tg 2α (37) (38) (39) (30) em (39) conduz a: sen 2α = 2 ah av 2a a = 2 v h2 2 2 1 + ah av av + ah (40) Aplicando, agora, (40) em (38) tem-se (41): sen2 χ = sen2α ⋅ sen (δ ) (41) Assim, foram estabelecidas relações muito importantes entre os parâmetros que caracterizam a elipse de polarização: a 2ª equação de (29); (30); (32); (33); (38) e (41). Essas equações são essenciais no relacionamento do vetor de Stokes com a elipse de polarização. 3. Dedução do vetor de Stokes a partir dos parâmetros que caracterizam a elipse de polarização Tomando I 0 , a intensidade total do vetor campo elétrico, por av2 + ah2 , tem-se: I 0 = av2 + ah2 Elevando (42) ao quadrado, tem-se: 4772 (42) Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, 21-26 abril 2007, INPE, p. 4767-4774. I 02 = av4 + 2av2 ah2 + ah4 = av4 − 2av2 ah2 + ah4 + 4av2 ah2 ∴ I 02 = ( av − ah ) + 4av2 ah2 ∴ 4av2 ah2 = I 02 − ( av − ah ) 2 2 (43) A partir das relações (38) e (42) obtém-se (44). I 0 sen 2 χ = 2av ah sen (δ ) (44) É fácil notar, ainda, que a relação apresentada na 2ª equação de (29) acarreta (45). tg 2ψ ( av2 − ah2 ) = 2av ah cos (δ ) (45) Assim, elevando-se (44) e (45) ao quadrado e somando-se os resultados obtidos, resulta que: I 02 sen 2 2 χ + ( av2 − ah2 ) tg 2 2ψ = 4av2 ah2 2 (46) Aplicando (43) em (46) obtém-se (47): I 02 sen 2 2 χ + ( av2 − ah2 ) tg 2 2ψ = I 02 − ( av − ah ) 2 2 (47) Desenvolvendo (47) para ( av2 − ah2 ) obtém-se: 2 (a 2 v − ah2 ) (1 + tg 2 2ψ ) = I 02 (1 − sen 2 2 χ ) ∴ ( av2 − ah2 ) = I 02 cos 2 2ψ cos 2 2 χ ∴ 2 2 av2 − ah2 = I 0 cos 2ψ cos 2 χ (48) Agora, as relações (45) e (48) acarretam: 2av ah cos (δ ) = ( I 0 cos 2ψ cos 2 χ )( tg 2ψ ) ∴ 2av ah cos (δ ) = I 0 sen 2ψ cos 2 χ (49) Assim, define-se o Vetor de Stokes por: 2 2 I0 I 0 av + ah 2 2 Q av − ah I 0 cos 2ψ cos 2 χ S = = = U 2av ah cos (δ ) I 0 sen 2ψ cos 2 χ I 0 sen 2 χ V 2av ah sen (δ ) (50) I 0 = av2 + ah2 ; Q = I 0 cos 2ψ cos 2 χ ; U = I 0 sen 2ψ cos 2 χ e V = I 0 sen 2 χ (51) Ou seja, 4. A esfera de Poincaré É importante notar que os parâmetros Q, U e V nada mais são do que as coordenadas de um ponto sobre a superfície esférica de raio I 0 , a esfera de Poincaré, ou seja, o estado de polarização de uma onda completamente polarizada é mapeado em um ponto único P na superfície daquela esfera. Portanto, a esfera de Poincaré é uma forma alternativa de representar o vetor de Stokes. Um vetor de Stokes que correspondente a uma onda não polarizada é caracterizado pelos parâmetros Q, U e V todos nulos: o centro da esfera de Poincaré. Já a polarização parcial é caracterizada por I 02 > Q 2 + U 2 + V 2 o que conduz a um ponto localizado no interior da esfera de Poincaré. Pelo exposto, fica claro que o grau de polarização é dado pela distância entre o ponto “P” e o centro da esfera de Poincaré. 4773 Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, 21-26 abril 2007, INPE, p. 4767-4774. Q, U e V são as coordenadas cartesianas do ponto P (Ulaby and Elachi, 1990), de longitude 2ψ e de latitude 2 χ . Esse ponto da esfera também pode ter sua posição definida pelos parâmetros 2α e δ , passando a ser denominado de ponto M. O sinal de χ determina a orientação da polarização. Portanto, o hemisfério superior ( χ > 0 ) apresenta as polarizações orientadas para a esquerda, enquanto o hemisfério inferior ( χ < 0 ) apresenta as polarizações orientadas para a direita. O pólo norte representa as polarizações circulares para a esquerda e o pólo sul representa as polarizações circulares para a direita e, no plano do equador são encontradas as polarizações lineares horizontais e verticais. Sabe-se da trigonometria esférica (Coutinho, 2001) que cos 2α = cos 2 χ cos 2ψ ; tg 2 χ tg ( δ ) = ; tg 2ψ = tg 2α cos (δ ) e sen2 χ = sen2α sen (δ ) , podendo, todas essas sen 2ψ equações, ser deduzidas da trigonometria esférica - Figura 2. V Estado de Polarização: P ( χ , ψ ) ou M (α , δ ) 2α I0 2 χ (latitude) Q δ U 2ψ (longitude) Figura 2. Coordenadas de um ponto “ P ” ou “M” na Esfera de Poincaré. 5. Conclusão A partir das equações de definição do campo elétrico e das relações entre os parâmetros que caracterizam a elipse de polarização foi possível deduzir os parâmetros do vetor de Stokes e mostrar que o estudo da polarização também pode ser representado pela esfera de Poincaré. Vetor de Stokes e esfera de Poincaré são, portanto, representações equivalentes do mesmo fenômeno. Referências Andrade. N. S. O. Radar de Abertura Sintética Polarimétrico do SIVAM – Análise e Aplicações. Tese de Doutorado (em fase de escrita). Universidade de Brasília, Instituto de Geociências, Brasília – D.F. 2006. Coutinho, L. Convite às geometrias não-euclidianas. Editora Interciência, Rio de Janeiro, 2001. Ulaby, F. and Elachi, C. Radar Polarimetry for Geoscience Applications, Artech House, 1990. 364 p. 4774