BRINQUEDOTECA UNIVERSITÁRIA1
Marciana Aparecida Xavier dos Santos2
Darlene Novacov Bogatschov3
RESUMO: Este artigo tem como finalidade realizar um levantamento das instituições de
Ensino Superior do Estado do Paraná que tem projetos de brinquedoteca bem como a
organização das mesmas, e mencionar a importância do lúdico na formação de professores. A
Brinquedoteca é, portanto um espaço excepcional para a criança, levando-a a aprender de
forma satisfatória, harmônica e cooperativa. Tendo como objetivo oportunizar um espaço
lúdico-pedagógico para crianças que não tem condições de participar de brincadeiras em
ambientes educativos. Embora, seja um espaço educativo é importante que os cursos de
formação de professores, principalmente a pedagogia, ofereçam a oportunidade aos
acadêmicos do curso um espaço para analisarem e refletirem sobre o potencial formador da
brinquedoteca, fazendo desta um centro complementar à formação dos pedagogos. Desta
forma é importante destacar quais instituições de Ensino Superior implantaram projetos de
brinquedoteca como espaço de formação dos futuros educadores no intuito de compreender a
sua organização e possibilidades de pesquisa e extensão.
Palavras-chaves: Brinquedoteca; Formação Educadores; Aprendizagem
INTRODUÇÃO
A influência do mundo tecnológico está tão presente na sociedade que às vezes as
pessoas não percebem que além dos benefícios existem também os grandes malefícios
principalmente, no mundo infantil.
Hoje vemos crianças que desde o primeiro ano de vida recebem incentivos para
brincarem com brinquedos e jogos eletrônicos, crianças que possui a semana agendada com
compromissos como aula de balé, natação, aula de outros idiomas, entre outras atividades e
famílias que não dão importância para o ato de brincar. O que temos na sociedade atual é uma
desvalorização do brincar livre como o momento em que as crianças estão aprendendo e se
desenvolvendo.
As crianças hoje são incentivadas a viverem como adultos. Uma constatação disso é
que as roupas, calçados, acessórios, são todos idênticos aos dos adultos, deixando cada vez
mais de serem crianças e se transformando em adultos em miniaturas. Neste processo às vezes
1
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Pedagogia, da Universidade Estadual de Maringá Campus Regional de Cianorte, como requisito para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia.
2
Acadêmica do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá – Campus Regional de Cianorte.
3
Professora do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá- Campus
Regional de Cianorte.
pela família não perceber como é sério o brincar na infância para o desenvolvimento da
criança.
Cunha (2001, p.13) faz a seguinte afirmação: “[...] brincando, a criança aprende com
toda a riqueza do aprender fazendo, espontaneamente, sem estresse ou medo de errar, mas com
prazer pela aquisição do conhecimento”.
Para a criança a brincadeira é considerada um mundo de sonhos e fantasias, que auxilia
na satisfação de anseios que são impossíveis de serem realizados naquele momento. De acordo
com Kishimoto (2007), a criança idealiza um objeto ou um determinado brinquedo de acordo
com o que ela quer que seja, deixando de lado o verdadeiro significado, fazendo com que a
imaginação seja mais importante que o próprio objeto.
Kishimoto (2007, p. 66) relata que “Brincando, portanto, a criança coloca-se num papel
de poder, em que ela pode dominar os vilões ou as situações que provocariam medo ou que a
fariam sentir-se vulnerável e insegura [...]”. Desta forma, as brincadeiras auxiliam no
desenvolvimento da construção da auto-confiança, levando a obter autonomia diante das
diversas situações vividas.
Dessa forma, para que a criança tenha oportunidade de satisfazer seus desejos através
de brincadeiras é necessário um espaço livre para que possa se sentir mais à vontade. Porém,
nem todas as crianças tem essa oportunidade devido as diversas formas de moradias que
colaboram para o desaparecimento do espaço para brincar. Crianças que moram em casas cujo,
os espaços não são suficiente para que a realização de brincadeiras aconteçam, existem
também crianças que residem em apartamentos, que também não tem espaço adequado.
As áreas consideradas públicas designadas para o lazer estão sendo substituídas por
comércios para fins lucrativos. No entanto, é necessário que essas crianças frequentam espaços
adequados para que possam desfrutar de brincadeiras para auxiliar no seu desenvolvimento
infantil. Sendo assim, o espaço adequado para brincadeiras e jogos assistidos em diferentes
espaços é na brinquedoteca, um ambiente estimulador que proporcionará muita diversão.
Embora a brinquedoteca seja o lugar ideal para crianças que precisam de espaço e
também de vários tipos de brinquedos e de jogos para brincar, é importante a construção de
mais espaços como a brinquedoteca para o atendimento de crianças. Desta forma, também
surge a necessidade de cursos de formação de docentes para se especializarem na área da
Brinquedoteca e do brincar, para que tenham capacidade para atuar em ambientes lúdicos
como na brinquedoteca.
Dessa forma, o presente artigo tem como objetivo mencionar a importância do lúdico
na formação de professores uma vez que o brincar é fundamental no desenvolvimento e na
aprendizagem da criança, bem como realizar um levantamento nas Instituições de Ensino
Superior do Paraná que possui Brinquedotecas.
Este artigo destaca a importância das atividades lúdicas como processo de ensino
aprendizagem; como surgiram as brinquedotecas; a organização e o espaço da Brinquedoteca;
a importância da Brinquedoteca como meio de formação para brinquedistas e efetua um
levantamento sobre as Brinquedotecas existentes nas universidades do estado do Paraná.
1
A
IMPORTÂNCIA
DO
LÚDICO
COMO
PROCESSO
DE
ENSINO
APRENDIZAGEM
A importância do brincar na infância é de extrema seriedade para o desenvolvimento da
criança tanto que adquire um respaldo legal no Estatuto da Criança e do Adolescente Lei nº
8.069/90, capítulo II, Art. 16, garantindo o direito de liberdade para o “brincar, praticar
esportes e divertir-se”.
O brincar tem uma função muito importante na vida da criança, “As crianças são
capazes de lidar com complexas dificuldades psicológicas através do brincar. Elas procuram
integrar experiências de dor medo e perda. Lutam com conceitos de bom e mal [...]”
(KISHIMOTO, 2007, p.67).
O brincar dá subsídio para a criança aprender a lidar com situações de frustrações
diante de brincadeiras que exige regras. Desta forma,
Ao aprender a lidar com possíveis frustrações de não ver seus desejos
sempre realizados, de ter que esperar sua vez para jogar, de dirigir a
brincadeira da forma como gostaria, a criança quebra sua rigidez autoreferente inicial e passa a jogar levando em conta diferentes perspectivas, em
diferentes contextos. Passa a ter uma forma de se conduzir mais flexível e
maleável. Aprende a lidar com os “ruídos” da comunicação, com os
imprevistos do percurso. Começa a perceber outras possibilidades de
interação além das que está acostumada, em seu ambiente usual e
convencional. É levada pelo grupo a ceder, improvisar, a ter jogos de cintura,
assim como a usar imaginação e sua intuição em equipe (OLIVEIRA, 2000,
p. 22).
As brincadeiras e os brinquedos estabelecem um elo de comunicação entre o mundo
infantil e o mundo adulto, proporcionando afinidade consigo mesma e com as demais pessoas
a sua volta. De acordo com Santos (2000, p. 159):
Com a ajuda do brinquedo ela pode desenvolver a imaginação, a confiança, a autoestima e a cooperação. O modo como a criança brinca revela seu mundo interior. O
brinquedo contribui, assim, para a unificação e integração da personalidade e
permite à criança entrar em contato com outras crianças.
Brougère (1990, apud, KISHIMOTO, 2007, p. 68): afirma que “A brincadeira aparece,
assim, como um meio de sair do mundo real para descobrir outros mundos, para se projetar
num universo inexistente”. Dessa forma a criança representa através da brincadeira situações
que ela realmente gostaria que acontecesse.
Embora, muitas crianças tenham condições favoráveis e recebam estímulos da família
para desenvolver brincadeiras prazerosas, existem crianças carentes de afeto, que não possuem
subsídio algum para cumprir suas necessidades afetiva.
Desta forma, pensando no desenvolvimento e no bem estar das crianças, e que elas
precisam ter oportunidade de satisfazer seus desejos; a brinquedoteca passa a ser o lugar
adequado para acolhê-las, um ambiente estimulador, com pessoas que demonstram carinho e
que interagem nas diversas brincadeiras proporcionando atividades lúdicas que auxiliam no
seu desenvolvimento.
De acordo com CUNHA, (2001), a brinquedoteca surgiu em meados de 1934 na cidade
de Los Angeles, com a finalidade de impedir os alunos de furtar brinquedos de uma loja
localizada nas proximidades de uma escola, passando a se transformar em um ambiente
adaptado para o empréstimo de brinquedos para as crianças. Em 1963, ficou conhecida na
Suécia como Lekotec tendo o intuito de direcionar famílias com crianças com necessidades
especiais proporcionando a aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades. Em 1967,
surgiram na Inglaterra as Toy Libraries, ou seja, bibliotecas de brinquedos também com a
finalidade de emprestar brinquedos para crianças levarem para casa, oportunizando o acesso ao
brincar para crianças que não tinham com o que brincar.
Em 1981 em São Paulo, a professora Nylse Cunha fundou a primeira brinquedoteca
brasileira, baseada em atividades lúdicas, humanizadoras, para oferecer as crianças o
desenvolvimento em vários aspectos, como: cognitivo, motor, afetivo e social, estimulando a
criatividade, auto-confiança e a autonomia. Através da construção desses conhecimentos a
criança aprende e se desenvolver com mais facilidade e de maneira satisfatória.
Santos (1997, p. 14), afirma que:
A principal implicação educacional da brinquedoteca é a valorização da
atividade lúdica, que tem como conseqüência o respeito às atividades
afetivas da criança. Promovendo o respeito à criança, contribui para diminuir
a opressão dos sistemas educacionais rígidos.
A tecnologia que está cada vez mais avançada auxilia na perda de espaço físico e até
social para brincar. Os locais apropriados para a criança exercerem atividades lúdicas quase
não existem mais. Sendo assim, os profissionais da educação deveriam compreender o
significado de uma brinquedoteca e repensar sobre a criação da mesma no ambiente escolar,
dando-se então grande importância ao brincar na infância, respeitando as necessidades
afetivas, além de amenizar os métodos tradicionais de ensino e possibilitar o aperfeiçoamento
das habilidades e capacidades da criança.
Santos (2000) ressalta que uma sala com vários brinquedos não significa ser uma
brinquedoteca, pois necessita de um profissional com formação e que se identifica com o
trabalho com crianças, levando a criança a soltar sua imaginação sem medo de ser punida por
alguma falha.
A brinquedoteca é, antes de mais nada, um espaço criado para que a criança
possa brincar livremente. Com isso, propicia-se o verdadeiro brincar, aquele
que possibilita a expressão das atividades mais profundas do ser humano;
aquelas que embora desconhecidas pode estar bloqueando a liberação de
potencialidades ou impedindo o acesso à felicidade (SANTOS, 2000, p.31).
Para a criação de uma brinquedoteca não basta uma sala com algumas atividades
lúdicas, paredes coloridas, confecção de brinquedos, uma pessoa responsável pela entrada e
saída de crianças que frequentam o local. Muito além do que se pode pensar, e antes de tudo,
necessita de um profissional responsável e capacitado que possa levar as crianças que ali
frequentam a um mundo diferentemente do que vive, além de acompanhar o processo de
desenvolvimento e da construção de conhecimento da criança.
Borja (apud SANTOS, 1997) ressalta o fato de a brinquedoteca não pode ser
comparada com uma creche, em que a criança é obrigada a permanecer o dia todo. A
brinquedoteca deve ser um espaço organizado com vários jogos e brinquedos, para que a
criança possa frequentar por livre e espontânea vontade.
Cunha, (2001), ressalta a importância da brinquedoteca ser constituída com brinquedos
e jogos de qualidades e de diversos tipos, além de possuir vários cantinhos diferenciados
como, por exemplo: o canto do faz-de-conta, com mobílias, bonecas, roupas, diversos tipos de
fantasia; o cantinho da leitura com livros, almofadas, tapetes, para que a crianças se sinta à
vontade e bem acomodada para o manuseio de livros; o cantinho das sucatotecas, lugar
propício para materiais recicláveis, para que a criança possa ser livre para criar brinquedos;
cantinho destinado para teatros, deixando de fácil acesso fantoches para o manuseio da criança
na criação de histórias; canto com jogos de regras, como: dama, xadrez, dominó, quebracabeça, entre outros.
São muitas as possibilidades de organização de espaços quanto aos objetivos
específicos, quanto ao desenvolvimento dentro de uma brinquedoteca para oferecer várias
alternativas para a escolha da criança. É importante que os brinquedos fiquem em prateleiras
que facilite o acesso para as crianças manusearem. Na brinquedoteca deve prevalecer a
preferência da criança para a livre escolha da atividade a ser desenvolvida de maneira livre ou
dirigida, ou com os demais companheiros e, caso a criança escolher ficar sem brincar o
brinquedista não pode obrigá-la; o que ele deve fazer é tentar incentivá-la.
Para Friedman (1994, apud, SANTOS, 1997, p. 134) o:
mundo de brinquedo é a primeira idéia que surge para quem entra na
brinquedoteca. Brinquedos variados, coloridos, novos, usados, brinquedos de
madeira, plástico, metal, pano; aquele da propaganda, um outro com que
nossos pais brincavam, ou aquele tão desejado, mas é muito caro...
Brinquedos que vão realizar sonhos, desmistificar fantasias ou simplesmente
estimular a criança a brincar livremente.
A brinquedoteca deve oferecer brinquedos para as diversas faixas etárias para a
satisfação da criança. Cunha (2001) sugere que para crianças de zero a dois anos, período
sensório-motor, seria interessante brinquedos como: brinquedos coloridos, que possuem sons,
que se movimentam, brinquedos para morder, chocalhos, brinquedos com diferentes tipos de
texturas, caixa com vários brinquedos, livros de pano, entre outros. Para o período das
operações concretas, que ocorre dos dois anos aos 12 anos, seria recomendável: brinquedos
que representam utensílios de cozinha e objetos domésticos, bonecas de pano, de plástico,
brinquedos de pelúcia, massinha de modelar, carrinhos, caminhões, casinhas, quebra-cabeça,
livros de histórias, blocos de construção, peças de encaixe, diversos tipos de jogos, bolas,
boliche, entre outros.
Nela é importante que a criança não tenha acesso a brinquedos que representam
violência, pois na realização de suas brincadeiras, ao praticar atos considerados violentos,
mesmo que não entenda o significado de sua ação, quando tem em mãos brinquedos que
representam imitações de armas, espadas ou algum outro objeto violento em forma de
brinquedo pode estimular a criança o gosto pela brincadeira. Como afirma Cunha (2001 p.48):
O respeito pela vida humana deve ser cultivado também nas situações
lúdicas e é muito importante preservar a possibilidade de que haja algum
impacto, algum sentimento de estranheza diante de uma arma, diante de um
objeto que pode acabar com uma vida humana.
Desta forma, a brinquedoteca deve oferecer à criança um espaço lúdico que possibilita
a liberdade para a realização, recriação e criação de brincadeiras e de brinquedos, estimulando
a socialização entre várias crianças, contribuindo para o desenvolvimento da aprendizagem de
forma prazerosa.
No entanto, é necessário que a equipe da brinquedoteca trabalhe em conjunto, e com o
mesmo objetivo. Devem estar sempre em busca de formação continuada e realizar avaliações
sobre o desenvolvimento da sociabilidade das crianças que frequentam a brinquedoteca, pois,
caso tenha alguma criança com dificuldades em socialização é necessário que se promova
atividades que favoreça o desenvolvimento da interação.
A formação da equipe de profissionais que atuam na brinquedoteca faz a diferença no
seu desenvolvimento, levando a atingir os objetivos necessários para um desenvolvimento
gradativo e prazeroso das crianças que frequentam o espaço. A presença do profissional que
atua na brinquedoteca, o brinquedista, auxilia no desempenho das atividades, intervindo no
momento necessário.
Através das brincadeiras as crianças mergulham no lúdico, passando a viver um mundo
de magias, expondo os sentimentos de forma que elas não consigam perceber, porém,
facilmente observado para quem o assistem. Desse modo, é importante que o brinquedista
goste realmente do que faz, e que seja um profissional dinâmico para facilitar a capacidade de
valorizar e admirar os sentimentos que transparecem no momento das brincadeiras. Santos,
afirma que:
[...] para trabalhar numa brinquedoteca é necessário um profissional
diferente, o “brinquedista”, que antes de mais nada deve ser um educador, ou
seja, antes de ser um especialista em brinquedo, deve ter em sua formação
conhecimento de ordem psicológica, sociológica, pedagógica, artística...
Enfim, matérias que lhe dêem uma visão clara e crítica sobre criança, jogo,
brinquedo, brinquedoteca, escola, homem, sociedade e, ao mesmo tempo,
seja uma pessoa com sensibilidade entusiasmo, determinação, dinamismo,
que chora, que ri, que canta e que brinca (SANTOS, 1997, p. 100).
Deve ter sensibilidade para respeitar as crianças, seus sentimentos e pensamentos
diferenciados uma das outras, além de transmitir alegria para tornar um ambiente prazeroso e
acolhedor. De acordo com Cunha (2001, p. 22) “As crianças precisam vivenciar suas idéias,
em nível simbólico, para poderem compreender seu significado na vida real”.
O brinquedista necessita ter uma formação teórica sólida para analisar e compreender o
desenvolvimento da criança através dos jogos e das brincadeiras, para que seja possível fazer a
relação de acordo com as ações analisadas. Além de possuir uma formação teórica o
brinquedista necessita de uma formação pedagógica e de uma formação pessoal. A formação
pedagógica para dar subsídio à formação teórica através de experiências concretas em
ambientes lúdicos. A formação pessoal para oportunizar o profissional a se auto-conhecer,
analisando o prazer e o desprazer encontrado na atividade desenvolvida, para que dessa forma
se identifique para atuar como brinquedista, auxiliando a aprendizagem por meio de jogos e
brincadeiras, acolhendo, demonstrando carinho e afeto para a criança.
Santos (1997, p. 89-90), afirma que:
[...] em relação à formação pessoal, esta sim, é uma vertente totalmente
inovadora, uma vez que deve oportunizar que pedagogo em formação
vivencie, por um lado, experiências lúdicas ou que tenha esta finalidade, sem
preocupação com o gesto técnico. Por outro lado, que oportunize vivências
de sensibilização corporal na relação com objetos e com seus iguais,
constituindo-se assim em um meio a mais que vai completar sua formação
que utiliza ação, pensamento e linguagem (comunicação e verbalização) com
elemento pedagógico, sem a preocupação com performance. Esta formação
objetiva que o adulto passe a ter mais disponibilidade corporal, conheça
melhor suas limitações e, ao mesmo tempo, possa refletir sobre elas.
Cunha (2001) sugere algumas características consideradas indispensáveis para o
brinquedista, dentre elas: sensibilidade, entusiasmo, determinação e competência. Ter
sensibilidade para manter o respeito com as crianças e aceitando-as cada uma com suas
respectivas diferenças. O entusiasmo também é de grande importância para o estímulo da
criança e para a alegria do ambiente. A determinação é necessária para serem persistentes
diante das dificuldades e no trabalho do dia-a-dia. E a competência para que o trabalho seja
bem desenvolvido. De acordo com Cunha (2001, p.76).
[...] as boas intenções não asseguram bons resultados. Se não estudarmos, se
não refletirmos profundamente sobre o que estudamos, sobre o que
observamos e sobre o que fazemos, podemos estar fazendo muitas coisas
erradas.
Além da realização de reuniões para se tratar do desenvolvimento das crianças que
freqüentam a brinquedoteca, também é necessário a equipe se reunir para grupos de estudos
para discussão de assuntos referentes ao desenvolvimento das crianças e da brinquedoteca,
fazendo com que dessa forma se aperfeiçoem cada vez mais para o desempenho de seu
trabalho.
É de suma importância a persistência no brinquedista, pois, assim como em todas as
áreas educacionais, na brinquedoteca existem dificuldades a serem enfrentadas e seja qual for
o obstáculo encontrado necessita-se de muita cautela para que o andamento do trabalho não
seja prejudicado.
Existem muitas crianças que precisam encontrar em outros lugares e em outras pessoas
a afetividade para suprir suas angústias, medos, ansiedades e sonhos, portanto, na
brinquedoteca ela deve encontrar pessoas que através do trabalho realizado auxiliem a resgatar
sua auto-estima, a buscar o prazer de ser criança brincando e deixando de lado seus problemas,
pois “Brincando a criança está nutrindo sua vida interior, descobrindo sua vocação e buscando
um sentido para sua vida”. (CUNHA, 2001, p. 13).
Para a autora o profissional ideal para trabalhar em uma brinquedoteca é aquele que
gosta de criança, que gosta de brincar, passando a ser para as crianças um companheiro, um
amigo além de ser uma pessoa que busca o conhecimento constantemente.
Observando e refletindo sobre a grande necessidade de brinquedotecas no ambiente
escolar e a ausência de profissionais que se dedicam a essa área, surge a necessidade de refletir
a respeito da brinquedoteca universitária, que além de ampliar a possibilidade ao acesso das
crianças à diversas atividades lúdicas, possui o objetivo no processo de formação dos
profissionais, ou seja, brinquedistas.
De acordo com Santos (1997), os acadêmicos e professores da universidade buscam
novos métodos através de estudos e observações das vivências do dia-a-dia. As análises
realizadas auxiliam algumas alterações que devem ser feitas no currículo dos cursos de
formação de professor, dando ênfase a necessidade de criar disciplinas e cursos de pósgraduação voltada para atividades lúdicas:
[...] os pedagogos envolvidos com o lúdico se deparam com a tarefa de ter que traçar
o perfil de uma profissão emergente, o brinquedista (ludotecário), isto é, aquele que
deve ser preparado, não apenas para atuar como animador, mas também como
observador e investigador da demanda dos usuários no âmbito das brinquedotecas.
Tarefas desta dimensão social requerem uma formação consistente que nos
atrevemos perfilar [...] formação teórica – formação pedagógica – formação pessoal
(SANTOS, 1997, p. 87).
A brinquedoteca na universidade oferece apoio pedagógico para os professores e
acadêmicos dos cursos de Pedagogia, tendo como base o desenvolvimento da criança a partir
do brincar. Dessa forma, os alunos de pedagogia tem a oportunidade de se aprofundar em
estudos teóricos referentes à ludicidade com o acesso fácil para o desenvolvimento prático de
oficinas lúdicas.
A finalidade da brinquedoteca universitária é de aperfeiçoar os futuros profissionais da
educação para que se valorize o brincar, para que possam realizar pesquisas com ênfase à
importância dos jogos e brincadeiras para o desenvolvimento da criança.
Através da prática na brinquedoteca e as experiências do dia-a-dia o brinquedista pode
refletir se há necessita de alguma mudança para que tenha maior desempenho profissional e
para um desenvolvimento gradativo das crianças oferecendo qualidade para as atividades
desenvolvidas. As situações de conflitos vivenciadas darão subsídio para trocas de idéias e
realização de pesquisas entre as demais pessoas envolvidas na equipe, contribuindo para a
ampliação do conhecimento e da capacidade profissional.
2 BRINQUEDOTECAS DAS FACULDADES E UNIVERSIDADES DO ESTADO DO
PARANÁ
Diante da importância da brinquedoteca na formação de professores verificamos
através de pesquisas em sites das faculdades e universidades do Paraná a existência das
mesmas. Das pesquisas realizadas nas universidades e faculdades do Estado do Paraná
constataram a existência de seis brinquedotecas sendo elas encontradas nas seguintes
instituições: Faculdade de Guairacá, Faculdade FADEP em Santo Antônio da Platina,
Faculdade FAFIJAN em Jandaia do Sul, Faculdade FASUL na cidade de Toledo, Faculdade
FEATI em Ibati e a Universidade Estadual de Londrina.
A brinquedoteca da Faculdade de Guairacá, Brinquedoteca Moitará, na cidade de
Guarapuava, cujo nome é de origem indígena, tem como finalidade proporcionar à
comunidade acadêmica o acesso a atividades lúdicas. Para a contribuição do desempenho nas
atividades, a brinquedoteca se divide em vários espaços, sendo eles: espaço do faz-de-conta,
espaço da matemática, espaço para estimulação, espaço da informática, espaço das artes e
sucatoteca.
A cidade Santo Antônio da Platina conta com a Brinquedoteca da Faculdade de Pato
Branco, FADEP. A mesma é utilizada pelos acadêmicos do curso de Pedagogia da Faculdade.
A Brinquedoteca possui uma grande variedade de brinquedos, alguns confeccionados com
materiais recicláveis. O local é visitado por crianças da educação infantil das escolas de Pato
Branco e da região.
A Brinquedoteca de FAFIJAN da Faculdade de Jandaia do Sul foi fundada no ano de
2003, tendo como principal objetivo proporcionar aos acadêmicos do curso de Pedagogia um
espaço para pesquisa sobre o lúdico e a importância do brincar, além de atender os filhos dos
funcionários da Faculdade.
Ao atingir o grande objetivo no desenvolvimento da Brinquedoteca da Faculdade de
Fafijan, passou a gerar projetos de extensão paralelos, como: tardes recreativas e
Brinquedoteca Itinerante, com jogos, pinturas, oficinas, músicas e brincadeiras, nos bairros da
cidade de Jandaia do Sul.
O projeto leva os acadêmicos do curso de Pedagogia ao contato com muitas crianças de
contextos diferenciados, passando a presenciar diversas situações entre as mesmas, oferecendo
dessa forma subsídio para suas pesquisas, tendo também como ponto positivo a troca de
experiências dos professores das escolas participantes com as acadêmicas envolvidas no
projeto da Brinquedoteca. O projeto oferece a oportunidade para os acadêmicos do curso de
Pedagogia, o cumprimento de carga horária como estágio.
A Brinquedoteca da FASUL, Brinquedoteca da Faculdade Sul do Brasil, na cidade de
Toledo, conta com um espaço lúdico, com o objetivo de facilitar o acesso para as crianças da
comunidade em vários tipos de brincadeiras. É um espaço preparado para apoiar as aulas
práticas de diversas disciplinas do curso de Pedagogia. As atividades práticas são realizadas
com crianças da educação infantil, e dos anos iniciais do ensino fundamental.
O espaço da Brinquedoteca da FASUL contém jogos pedagógicos, livros infantis,
diversos tipos de brinquedos para auxiliar no desenvolvimento das crianças. Conta com
professores especialistas em Brinquedotecas para atuar no ambiente, e por possuir especialistas
no assunto já proporcionou cursos de formação de Brinquedistas.
A Faculdade de FEATI, Faculdade de Educação, Administração e Tecnologia, da
cidade de Ibati, possui uma brinquedoteca com o objetivo de auxiliar as práticas pedagógicas
dos acadêmicos do curso de pedagogia. Os alunos das escolas de Educação Infantil e de Séries
Iniciais do Ensino Fundamental, da cidade de Ibati são convidados para desfrutarem de todas
as atividades que fazem parte da Brinquedoteca como: contação de histórias, cantar, dançar,
brincadeira com jogos pedagógicos e brincadeiras dirigidas pelas acadêmicas do curso de
Pedagogia, pelas professoras das escolas visitantes e também pelos pais que visitarem a
Brinquedoteca.
São realizado grupo de aproximadamente 30 crianças, para as atividades direcionadas
devido ao espaço físico disponível. As crianças que freqüentam a brinquedoteca são acolhidas
pelas acadêmicas do curso de Pedagogia para a apresentação do espaço, dos brinquedos e
demais materiais disponíveis. Após a apresentação são esclarecidas as regras da brinquedoteca.
Os alunos são acompanhados pela professora da escola visitante em todas as atividades
desenvolvidas. É estipulado um tempo de duas horas para a permanência das escolas
visitantes.
As acadêmicas do curso de Pedagogia realizam atividades com as crianças de acordo
com a supervisão da coordenadora da Brinquedoteca. A carga horária realizada pelas
acadêmicas é considerada como atividades extras, pois as mesmas são solicitadas no
Regimento do curso de Pedagogia. A Brinquedoteca FEATI pode ser utilizada pelos
professores da Faculdade e do curso do Magistério para realizações de oficinas e estudos.
A Universidade Estadual de Londrina possui um programa de extensão Ludotéca na
cidade de Londrina para atender a comunidade. Seu público alvo são crianças e préadolescentes na faixa etária entre 4 a 10 anos de idade, de escolas públicas e privadas.
A Ludotéca tem como finalidade planejar e executar atividades como: cursos para
alunos de graduação que está em formação; cursos para educadores de educação infantil e
universidades; oficinas lúdicas para oportunizar a possibilidade de criação e recriação de
brinquedos com sucata além de trabalhar com assessoria.
A Ludotéca também presta assistência para instituições interessadas em organizar
espaços lúdicos como: em hospitais, escolas, universidades e demais espaços educativos que
tem como propósito trabalhar o lúdico em seu contexto.
As atividades desenvolvidas relacionadas à Ludotéca dão subsídio para a formação
profissional de acadêmicos de diversas áreas como: Matemática, Pedagogia, Psicologia,
Educação Física e Música. Os acadêmicos vinculados ao programa da Ludotéca participam de
grupos de estudos com os supervisores para discutirem sobre a ludicidade no desenvolvimento
e na aprendizagem humana, para discutirem sobre questões relacionadas a rotina da Ludotéca e
para planejarem as atividades que serão desenvolvidas na Ludotéca. Todas as atividades
preparadas para serem desenvolvidas na Ludotéca pelos acadêmicos são discutidas pela
supervisão.
Assim, percebe-se como são importantes os projetos das Brinquedotecas das faculdades
e universidade citadas acima, pois disponibilizam os laboratórios lúdicos para o
desenvolvimento de pesquisas referente ao aspecto lúdico, proporciona subsídios para
acadêmicos do curso de Pedagogia, dando-lhes a oportunidade de participar do projeto para
obtenção de experiência na área do brincar, além de oferecer cursos de capacitações para os
professores que se interessam pelo projeto e atendem crianças que não tem oportunidade de
brincar em espaços adequados, com diversos brinquedos e jogos educativos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A criança necessita de um espaço adequado para realizar suas brincadeiras, porém, o
que dificulta essa possibilidade são as diversas formas de moradias existentes nos tempos
atuais. Dessa forma, surge a necessidade de um espaço lúdico para que a criança possa se
sentir a vontade e ter acesso a diversos brinquedos e jogos. Um ambiente colorido e prazeroso
com pessoas que interage em diversas brincadeiras, este espaço é a Brinquedoteca, organizada
por profissionais que se identificam com o trabalho.
Porém, não existem Brinquedotecas suficientes para o atendimento de crianças.
Contudo, é interessante refletir sobre a idéia de Brinquedotecas Universitárias, que além de
atender um grande número de crianças, auxiliaria o curso de Pedagogia no desenvolvimento de
estudos e pesquisas relacionadas à importância do brincar e a necessidade do espaço lúdico
para o desenvolvimento da criança, aperfeiçoando e especializando os futuros profissionais
como brinquedistas para atuarem em Brinquedotecas.
O levantamento de dados realizados nas Universidades e Faculdades do Estado do
Paraná, consta que apenas cinco Faculdades e uma Universidade com o projeto de
Brinquedoteca. Dessa forma, é importante a reflexão sobre a importância da criação de
Brinquedotecas, pois além de auxiliar a comunidade com um espaço lúdico e estimulador para
o desenvolvimento de brincadeiras também dará oportunidade para os acadêmicos do curso de
Pedagogia e de outros cursos de vivenciarem experiências lúdicas com as crianças percebendo
sua importância no desenvolvimento das mesmas.
Embora, o curso de Pedagogia tenha uma grade curricular ampla com diversas
disciplinas com a finalidade de formar profissionais habilitados em diversas áreas, seria
importante a criação de Brinquedotecas em Faculdades e Universidades para o
desenvolvimento e enriquecimento das disciplinas de caráter lúdico na prática, para a
oportunidade de realização de pesquisa de extensão e capacitações para a formação de
professores.
REFERÊNCIAS
BRINQUEDOTECA DA FADEP: é referência para projeto. Disponível em: www.fadep.br .
Acesso em 10 de out. 2011.
BRINQUEDOTECA DE FAFIJAN. Disponível em: www.fasul.edu.br . Acesso em 10 de out.
2011.
BRINQUEDOTECA DA FASUL. Disponível em: www.fasul.edu.br . Acesso em 10 de out.
2011.
BRINQUEDOTECA DA FEATI. Disponível em: www.feati.com.br . Acesso em 10 de out.
2011.
CUNHA, Nylse Helena Silva. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. São Paulo: Vetor,
2001.
FACULDADE
DE
GUAIRACÁ:
brinquedoteca
moitará.
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SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico. São Paulo:
Vozes, 2000.
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SANTOS, Marciana Aparecida Xavier dos. Brinquedoteca