UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE AS ATIVIDADES EXPERIMENTAIS
PRESENTES NOS LIVROS DIDÁTICOS DE FÍSICO-QUÍMICA DO ENSINO
MÉDIO
Rosivânia da Silva Andrade¹
Amanda Veruska dos Santos Ferreira da Silva²
Cláudio Henrique Alves Perdigão³
Kilma da Silva Lima4
1. Introdução
No ensino médio, precisamente no ensino de Química, é indiscutível o
distanciamento dos alunos com a disciplina. O desinteresse se dá relativamente à falta
de correlação entre os conceitos propostos pelos livros e suas aplicações. Nesse
contexto vale ressaltar que os livros didáticos, de uma forma geral, tem uma
importância extremamente grande no processo de ensino-aprendizado, por ser um dos
principais recursos didáticos, ou ate mesmo o único recurso, disponibilizado pelas
escolas aos professores e alunos.
Por conseguinte, o ensino de Química desenvolvido atualmente nas escolas,
sobretudo nas redes públicas de educação, tem se distanciado da verdadeira “essência”
do ensinar/aprender Química. Uma vez que a Química é uma ciência experimental,
FARIAS, Cristiane Sampaio; BASAGLIA, Andréia Montani; ZIMMERMANN afirma
que, é difícil compreende-la sem a realização de atividades práticas, em que proporciona
aos estudantes uma compreensão cientifica das transformações que nela ocorre. Nesse
¹Graduanda, em Licenciatura Plena em Química - IFPE campus Vitória de Santo Antão e
integrante do Grupo de Estudo e Pesquisas em Ensino de Ciências – IFPE/CNPQ,
[email protected]
²Graduanda, em Licenciatura Plena em Química - IFPE campus Vitória de Santo Antão,
[email protected]
³Graduado em Licenciatura Plena em Química (UFPE) e mestrando em Ensino de Ciências
(UFRRJ). Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Ciências - CNPQ.
Atualmente é professor e pesquisador do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Pernambuco – IFPE campus Vitória de Santo Antão.
[email protected]
4
Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia (UFPE), mestra e doutoranda em Ensino de
Ciências, na área de concentração de Física (UFRPE). Integrante do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Ensino de Ciências - CNPQ. Atualmente é professora e pesquisadora do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco - IFPE- campus Vitória
de Santo Antão. [email protected]
contexto a prática experimental tem um caráter motivador, significativo e
essencialmente vinculado aos sentidos (PERDIGÃO; LIMA, 2010).
Portanto, a experimentação no ensino de Química desperta curiosidade e
interesse nos alunos, sendo um recurso capaz de assegurar uma transmissão eficaz dos
conhecimentos científicos que muitas vezes não estão presentes de forma relevante nos
livros didático. Nesse contexto García et al. (2002) afirma que o livro didático tem sido
utilizado como a principal fonte de apoio ao professor em sala de aula. Além de cada
vez mais, ser utilizados não apenas como uma fonte de apoio, mas também como fonte
de pesquisa e estudo. E no ensino de Química enfatizam com assiduidade, apenas nas
dimensões representacional do conhecimento químico.
No ensino da Físico-Química, particularmente, os alunos sentem uma vasta
dificuldade na compreensão das aulas. Isso se dá por ser nessa área da Química em que
constantemente se aplica as formulas matemáticas e as leis da física para compreender
as propriedades das substâncias químicas como também explicar as características dos
fenômenos químicos. Contudo, a maioria dos professores se restringe apenas a
resolução das formulas e leis matemáticas e físicas aplicadas à Química. Deixando de
lado um dos tripés da Química, a experimentação, a qual seria uma aliada formidável na
compreensão de alguns conteúdos como propriedades físicas das substâncias,
fenômenos de ionização, propriedades térmicas, equilíbrio, velocidades de reação,
mecanismos de reação, sistemas químicos, dentre tantos os outros conteúdos abordados
nessa área. Portanto, a atividade experimental como recurso didático é vista em um dos
três níveis propostos por Atkins e Jones (2006) no qual trata da matéria, suas
transformações e propriedades em que podemos ver tais mudanças.
Pelos motivos apresentados, recentemente a escolha do livro didático tem
preocupado tanto os órgãos públicos responsáveis pelo setor educacional, quanto os
professores das diversas áreas. Deste modo, é necessária uma análise sobre como as
experimentações vem sendo abordadas nos livros didáticos de Química no ensino
médio. Ressaltando que nossa pesquisa irá se restringir ao livro didático e não às
situações ou os processos educativos que a ele correspondem.

O presente trabalho pretende analisar quais são os aspectos estruturais e
conceituais dos experimentos apresentados nos livros didáticos de Química
propostos pelo guia PNLD de 2012. Para que possamos compreender como está
sendo desenvolvida a prática experimental no ensino da Química,
particularmente, da Físico-Química. Procuraremos respostas para as seguintes
perguntas: os experimentos ajudam a compreender a teoria descrita no capítulo?
Fazem com que os alunos possam levantar hipóteses? Têm caráter de atividade
investigativa? Estão descritos de forma clara? Em qual categoria a atividade
experimental se adequam? Encaixam-se na sequência cronológica descrita no
capitulo? Os materiais que serão utilizados são acessíveis, principalmente
alternativos?
Pois segundo (DE, R. et al., 2008) o livro didático é um espelho de como a
Química é apresentada em sala de aula, o que infelizmente é algo natural, pois em
grande medida ele é a base com que se preparam as aulas.
2. Fundamentação Teórica
Mesmo com as longas transformações sofridas pela sociedade e com o avanço
tecnológico, o livro didático não perdeu a sua missão de atuar como mediador na
construção do conhecimento. No ensino de Química, particularmente, desempenha
papel fundamental na aprendizagem, por ser um dos instrumentos mais utilizados em
sala de aula (NASCIMENTO; MACEDO; OLIVEIRA, 2010).
Porém, muitos deles se prendem quase que unicamente à exposição de conceitos
e resoluções de exercícios, que conforme Brasil et al. (2011), “Atualmente, o ensino de
Química nas escolas segue o ritmo acelerado da aprendizagem teórica, sem ligação com
o cotidiano dos alunos e comunidade”. Este formato não oportuniza aos alunos o
desenvolvimento cognitivo crítico-social, o que nos parece nocivo por distanciar-se do
real objetivo do ensino de Química que segundo o PCNEM é “[...] possibilitar ao aluno
a compreensão tanto dos processos químicos em si, quanto da construção de um
conhecimento científico em estreita relação com as aplicações tecnológicas e suas
implicações ambientais, sociais, políticas e econômicas”. (PCNEM) ( grifo nosso)
Nesse contexto, a experimentação deve surgir como mais um instrumento de
mediação no ensino-aprendizagem de Química, buscando especificamente a
aprendizagem significativa crítica, no qual os conhecimentos cognitivos dos alunos
sejam levados em consideração e possam servir de âncora para novos conceitos. E, de
acordo com a Teoria da Aprendizagem Significativa de Asubel, após as discussões
sobre as atividades experimentais, estes novos conceitos possam ser ancorados aos
conhecimentos prévios, tornando-os melhor elaborados e expandindo a estrutura
cognitiva dos aprendizes. (MOREIRA; MASINI, 2001)
Pinho Alves (2000) ao longo de suas pesquisas vem discutindo sobre a prática
experimental em uma concepção construtivista. Na qual a atividade experimental não
é realizada com mera intenção de renomear coisas sabidas, mas sim como um objeto
pedagógico empregado para aperfeiçoar o processo de ensino aprendizado em química
tornando-o interativo e não um processo unilateral, no qual os alunos possam participar
de forma ativa, por está ser uma ciência experimental, no entanto que se difere da
“experiência” do cotidiano e da “experimentação” do cientista. (grifo nosso)
Em trabalho recente Pinho Alves (2002) destrinchou as atividades experimentais
em categorias que estão relacionadas aos diferentes momentos de um processo de
ensino aprendizagem, fornecendo os indicativos de seus atributos ou qualificações, tais
quais são citadas a seguir.
 Atividade Experimental Histórica: possibilita a reconstrução do cenário
histórico ligado ao conteúdo aplicado permitindo ao professor ensinar de forma
menos dogmática, no entanto esse tipo de atividade deve inspirar um cenário
próprio para uma recontextualização epistemológica, caso contrário não tem
sentido como componente didático. Portanto são experimentos que resgatam a
história da ciência por traz do fenômeno que está sendo discutido em sala.
 Atividade Experimental de Compartilhamento: permite acentuar as variáveis
envolvidas em um fenômeno, eventuais relações de causa e efeito sob a ótica
qualitativa. Dessa forma, os experimentos devem transpor os fenômenos
envolvidos em terminado conteúdo de maneira clara para que os alunos possam
interpretar o conhecimento com o “mesmo olhar”, ou seja, com o objetivo que o
professor quis transpor, mantendo o foco. Sendo essa atividade experimental
indispensável para a construção do conhecimento formal.
 Atividade Experimental Modelizadora: pretende mostrar aos alunos que a
natureza não é verdadeiramente aquela descrita pelas propriedades anexadas aos
modelos presente nos livros, mas sim construções humanas utilizadas para se ter
uma noção básica da realidade. Nesse caso os experimentos tem uma função
intermediária entre as abstrações da teoria e as ações concretas da
experimentação, fazendo com que os alunos atuem como modelizadores e
compreendam a utilidade referente dos modelos.
 Atividade Experimental Conflitiva: permite por em confronto as concepções
não formais dos estudantes, viabilizando o conflito, que por sua vez vai
direcionando o diálogo construtivista no sentido de mostrar a inadequação e
limitação de suas explicações pessoais. A presença dessa atividade experimental
é de extrema importância, pois extrai os experimentos pretende extrair os
conhecimentos prévios dos alunos sobre o fenômeno a ser estudado, e em
seguida direciona os mesmos a uma mudança conceitual.
 Atividade experimental crítica: possibilita ao professor a oportunidade de
induzir um diálogo que leve a diferenciar as variáveis que envolvem o conteúdo
em questão. Exige experimentos muito particulares, pois é preciso que consiga
mostrar explicitamente as diferenças entre as variáveis envolvidas de forma mais
clara possível. Essa atividade é de grande importância no diálogo construtivista.
 Atividade experimental comprovação: objetiva explorar, de maneira
concomitante, o método experimental, pois as relações de causa-efeito já estão
aprendidas e com isto abre-se espaço para enfatizar o método experimental
como um instrumento de investigação. Desse modo os experimentos se
comportam como ilustrações da teoria anteriormente aplicada e discutida.

Atividades experimentais de simulação: restringem ao uso de equipamentos
de mídia e dos respectivos softwares. Os experimentos que empregam esse
aparato são normalmente práticas difíceis, longas, ou perigosas de se realizar.
Contudo, não adianta apenas executar um experimento em aula, pois quando mal
realizados não contribuem para a melhoria do ensino. Vale ressaltar que independente
da classificação de um experimento, ele deve apresentar caráter investigativo e não ser
executado como uma “receita de bolo”. Pois, a experimentação não deve ser vista como
uma mera atividade física que deve ser executada por alunos ou professores, mas sim
como forma de tornar a aprendizagem significativa, dando espaço para discussões e
questionamentos. Portanto, “a experimentação, quando bem utilizada, é uma aliada do
processo de ensino-aprendizagem em ciências, por motivar os alunos e facilitar a
compreensão dos conteúdos”. (SANTANA; DOS SANTOS; CARVALHO, 2010).
Há evidências de que os livros didáticos apresentam propostas de trabalho
prático, mas que nada têm a ver com a experimentação, como pesquisas bibliográficas,
confecções de cartazes, dramatizações e separação de material para exposições. Por
outro lado, considera-se neste trabalho o conjunto das propostas de experimentação no
sentido amplo segundo Hodson1 (2008, apud MORI 2009), que afirma que a
experimentação deveria exigir do aluno uma postura mais ativa do que passiva, em que
fosse solicitado a construir, a registrar, a manipular ou a observar, podendo ocorrer ou
não em espaços como o laboratório didático, nem sempre se aproximando do que os
cientistas entendem como experimentos.
Nos conteúdos de Físico-Química, especificamente, os livros didáticos em sua
maioria enfatizam as representações de fórmulas e leis, em detrimento das propriedades
e reações que envolvem essa área, portanto deixando de lado as relações entre os níveis
macro e microscópico, ou seja, a representação desses fenômenos.
Em relação à prática experimental no ensino da Físico-Química, ela pode ser
uma forte aliada na aprendizagem, pois quebraria o paradigma sofrido pelos alunos de
que essa área é complexa. Além da maioria dos experimentos que envolvem esse campo
da Química apresentarem grandes efeitos visuais podendo dessa forma prender a
atenção e despertar a curiosidade dos alunos, como também esclarecer as aplicações
matemáticas e físicas que permeiam o conteúdo abordado, proporcionando deste modo a
aprendizagem da Química em si.
Entretanto, há indícios de que a prática experimental vem sendo mal
desenvolvida nas salas de aula, como também mal elaborada pelos livros didáticos do
Ensino Médio. Isso tanto em termos conceituais quanto estruturais. Ressaltamos que
problemas relacionados ao livro didático não é assunto atual. Para se ter uma idéia, o
1
HODSON, D. Experiments in science and science teaching. Educational philosophy and
theory, [S.l.], v. 20, n. 2, p. 53-66, 1988. Tradução de Paulo Alves Porto. Disponível em:
<http://www.iq.usp.br/wwwdocentes/palporto/TextoHodsonExperimentacao.pdf>. Acesso em:
16 nov. 2008.
Governo Federal, desde 1929, demonstra preocupação com os materiais didáticos
disponibilizados às escolas de rede pública em todo o país. Esta preocupação se
materializa na forma de programas de controle e normatização dos livros didáticos. E
que ao longo desses 80 anos, o programa foi aperfeiçoado e teve diferentes nomes e
formas de execução. Atualmente denominado Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD), direcionado à educação básica brasileira, tendo como única exceção os alunos
da educação infantil (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2012).
Anualmente o Ministério da Educação durante os procedimentos legais para a
adesão dos livros elabora Guias para auxiliar as escolas na seleção do livro didático em
que cada escola escolhe dentre os livros constantes no Guia do PNLD, aquele que
deseja utilizar, levando em consideração seu planejamento pedagógico. O guia PNLD
2012, o que será abordado nesse trabalho, é o segundo processo em que as obras
didáticas de Química estão participando no contexto das políticas públicas fomentadas
pelo MEC.
Em relação à parte experimental trazida nos livros, à avaliação pedagógica
segundo PNLD 2012 foi realizada com base em dois critérios:
“[...] (8) propõe experimentos adequados à realidade escolar,
previamente testados e com periculosidade controlada, ressaltando a
necessidade de alerta acerca dos cuidados específicos para cada
procedimento; (9) traz uma visão de experimentação que se afine com
uma perspectiva investigativa, que leve os jovens a pensar a ciência
como campo de construção de conhecimento permeado por teoria e
observação, pensamento e linguagem.”
Dessa forma, objetivando analisar os aspectos estruturais e conceituais dos
experimentos presentes nos conteúdos de Físico-Química oferecidos nos livros didáticos
de química propostos pelo guia PNLD é que o presente trabalho foi desenvolvido.
3. Metodologia
Realizou-se uma pesquisa de abordagem qualitativa, dentro da qual utilizou-se a
análise de conteúdo por ser um instrumento compatível com o perfil de estudo em tela.
O nosso objeto de pesquisa foi o livro didático. Analisamos cinco obras que
foram
previamente
avaliadas
e
validadas
pelo
PNLD/2012.
As obras que compreendem o guia correspondem a 26% de todas as obras
inicialmente inscritas no programa, ou seja, apenas cinco das dezenove obras atenderam
aos requisitos do processo de avaliação proposto pelo MEC. E são eles:
Código
Título
Autores
Editora
Código da
Coleção
1
QUÍMICA NA ABORDAGEM
DO COTIDIANO.
Eduardo Leite do Canto,
Francisco Miragaia Peruzzo
Moderna
25073COL
21
2
QUÍMICA – MEIO
AMBIENTE – CIDADANIA –
TECNOLOGIA
Martha Reis
FTD
25159COL
21
3
QUÍMICA
Andréa Horta Machado,
Scipione
25163COL
21
Eduardo Fleury Mortimer
4
QUÍMICA PARA A NOVA
GERAÇÃO – QUÍMICA
CIDADÃ.
Eliane Nilvana Ferreira de
Castro et. al
Nova
Geração
25164COL
21
5
SER PROTAGONISTA
QUÍMICA
Julio Cesar Foschini Lisboa
SM
25174COL
21
No entanto, a avaliação pela qual esses livros passaram foi realizada de forma
ampla, analisando a coleção como um todo. Em contrapartida o presente estudo analisou
em particular o segundo volume de cada coleção para termos uma resposta mais precisa
sobre o problema em questão.
Foram estabelecidos os critérios para a avaliação e classificação dos
experimentos. Levou-se em consideração o caráter investigativo, o grau de participação
dos alunos em uma dada proposta de atividade experimental, além dos aspectos
conceituais e estruturais que abrange os experimentos. Tendo em vista esses aspectos e
para alcançar os objetivos propostos nesse trabalho, foram desenvolvidas as seguintes
etapas:
a) Seleção e organização dos livros analisados - Os livros de Química aprovados no
PNLD/2012.
b) A leitura de todos os capítulos da área de Físico-Química proposta pelos livros,
realizada tanto no levantamento exploratório quanto no levantamento focalizado
nas propostas de atividades experimentais.
c) Investigação focada nas atividades experimentais presentes nos conteúdos de
Físico-Química, nos livros selecionados tendo como referência as tendências
contemporâneas de ensino e os critérios adotados para a avaliação pedagógica
descrita pela PNLD/2012.
4. Resultados e Discussões
QUÍMICA NA ABORDAGEM DO COTIDIANO (Eduardo Leite do Canto e
Francisco Miragaia Peruzzo)
O volume estudado se prende a representações teóricas como gráficos, imagens
e não a práticas. Nesse contexto, os experimentos encontrados no decorrer de cada
capítulo que compreende o volume eram simples ilustrações, sem nenhuma intitulação.
De tal modo, só foi encontrado duas atividades práticas que se aproximam de um caráter
experimental, mas não se enquadra em nenhuma daquelas categorias de atividades
experimentais citadas por segundo Pinho Alves (2002).
A descrição estrutural dos experimentos não apresenta tópicos que possam
ajudar na compreensão para uma execução segura, além de não apresentar questões a
serem discutidas pelos alunos. Sendo assim, os experimentos descritos nesse volume
não apresentam características de uma atividade experimental contemporânea.
Figura 1: Química na abordagem do cotidiano. Expressando a concentração de soluções aquosas.
Capítulo 1, pág.: 19.
Observou-se uma pouca incidência de experimentos dinâmicos e
contextualizados. Nos casos que ocorreram eram necessários reagentes de difícil
aquisição, matérias e equipamentos sofisticados.
Todas as ilustrações e atividades que se assemelham a uma prática experimental
ganharam certa relevância dos autores no que se diz respeito aos alertas de
periculosidade, sendo estes bem elaborados.
Entretanto, ao analisar o manual destinado aos professores, pode-se notar a
presença de atividades experimentais, que podem se encaixar em atividades
contemporâneas, como também serem classificadas segundo Pinho Alves (2002). Nesse
contexto foi detectada atividade experimental conflitiva, de compartilhamento e
principalmente de comprovação. Vale ressaltar que tais atividades não eram distribuídas
uniformemente no decorrer do volume nem tão pouco estavam presentes em cada
capítulo, apresentando consigo alertas de periculosidade.
Porém, poucas atividades experimentais sugeridas pelo autor são transcritas de
forma clara e objetiva obedecendo a uma sequência ordenada. A maioria se restringia
apenas a sugestões de artigos com atividades experimentais relacionadas ao conteúdo e
ainda sim não era distribuídas uniformemente. Conforme observa-se adiante.
Figura 2: Química na abordagem do cotidiano. Manual do professor, pág.: 14.
Pg.14 manual do professor
A partir dessas analises pode-se notar que o volume não considera a importância
da atividade experimental, indo contra os critérios propostos pela PNDL.
QUÍMICA – MEIO AMBIENTE – CIDADANIA – TECNOLOGIA (Martha Reis)
O volume de uma forma geral envolve e explora questões relacionadas à
cidadania, tecnologia e meio ambiente.
Em se tratando das atividades experimentais, estas estão contidas na
apresentação do volume, como também no início ou final do capítulo. Faz-se menção
ainda, quanto à segurança, dinâmica e acessibilidade de tais experimentos. A questão do
meio ambiente norteia as atividades.
Em termos estruturais os experimentos seguem uma sequência lógica (material
necessário, como fazer e investigue). Ao final apresentam questões investigativas,
porém alguns perdem tal caráter por apresentar uma prévia teoria.
Após análise minuciosa, constatou-se que os experimentos são em sua maioria
Atividades Experimentais Críticas. Por conseguinte, sua minoria foi caracterizada como
sendo: Atividade Experimental de Comprovação, segundo as classificações de Pinho
Alves (2002).
Apesar de validar certa qualidade nos experimentos encontrados, a insuficiência
quanto à quantidade dos experimentos é preocupante. Em todo o volume analisado só
foram encontradas 9 (nove) atividades experimentais. Sendo, em se tratando da
quantidade de atividades experimentais. Indo, portanto em desencontro ao que o
PNLD/2012 propõe.
QUÍMICA (Andréa Horta Machado e Eduardo Fleury Mortimer)
Pode –se afirmar que os experimentos por apresentar exemplos relacionados a
vivencia dos alunos e interação entre a teoria e o cotidiano, assim como a obra é
contextualizado e dinâmico.
Com relação à distribuição ao longo da obra as atividades experimentais
aparecem ao longo do capítulo. Para cada conteúdo abordado são propostas, em sua
maioria, mais de uma atividade experimental. O autor demonstra cuidados na
elaboração didática das práticas sugeridas adaptando procedimentos específicos para
conteúdos específicos. Desta forma, em determinados conteúdos a prática foi explorada
antes da discussão teórica, já em outros momentos iniciou-se com a discussão teórica e
os experimentos surgiram para validar a teoria abordada.
As atividades experimentais iniciam-se com pequenos textos introdutórios, em
seguida os materiais a serem utilizados, o método, e por fim propõem questões que
devem ser respondidas a partir do conhecimento adquirido.
Durante o procedimento alguns experimentos apresentaram textos explicativos na
intenção de sustentar as teorias que os fundamentam. Vale ressaltar que o titulo dado às
atividades experimentais é atividade e que estas são numeradas em decorrência do
volume. Outras atividades que não apresentam caráter experimental também possuem a
denominação de atividade.
O volume em si dá uma ênfase significativa à prática experimental. Mesmo
quando os experimentos são descritos, por necessitarem de materiais sofisticados e de
um longo período de execução.
Na maioria dos experimentos propostos os materiais são de baixo custo e
acessíveis, como também não dependem de uma estrutura sofisticada para as suas
execuções. Porém, apenas três dos experimentos presentes no volume fogem da
realidade das escolas da rede pública.
Figura 3: Química. Soluções e solubilidade. Capítulo 1, pág.: 22
Nesse volume o manual do professor traz sugestões de outros experimentos, em
que cita as obras no quais são encontrados. Além de apresentar sugestões, alternativas e
cuidados para a realização. Vale ressaltar que as obras citadas no volume se adequam à
realidade escolar.
Os experimentos possuem caráter variado, entre os quais: investigativo,
conflitivo, modelizador, crítico, comprovativo e de simulação. Os dois últimos
apareceram com menos frequência. Em todas as atividades experimentais estão
presentes avisos de segurança para realização.
Pode-se afirmar que o volume examinado não apenas se enquadra nos critérios
propostos pela PNLD, mas também nos PCN’s e PCNEM’s.
QUÍMICA PARA A NOVA GERAÇÃO – QUÍMICA CIDADÃ (Eliane Nilvana
Ferreira de Castro et. Al)
As atividades experimentais nesse volume apareceram constantemente, porém
uma atividade por capítulo, as quais se encontravam descritas geralmente, ao término de
cada capítulo ou ainda, disseminada entre as “partes” existentes em cada conteúdo.
As práticas descritas obedeciam a uma ordem sequencial, além de apresentarem
ao fim do experimento, observações compostas por perguntas a respeito da
experimentação, exercitando dessa forma uma aprendizagem significativa. Sua
localização em meio ao conteúdo é está intitulada e destacada em cores diferenciadas.
Após análise concisa, pôde-se perceber que grande parte dos experimentos foi
classificada como sendo composta por atividades experimentais de Comprovação, o que
se agrega grande importância.
O caráter objetivo e explorador desta modalidade induzem o aluno a investigar, de
forma que venha a possuir um pensamento construtivista, de comprovação, levando em
consideração que as relações de causa-efeito já foram, previamente, compreendidas.
A abordagem clara, com materiais de custo moderado adequam-se perfeitamente, a
um ambiente escolar. Periculosidade sempre dentro de níveis ponderados, mas que
requerem importância da mesma forma.
É relevante mencionar, que dentre a maioria dos experimentos ditos de
comprovação, houve incidência de um caso em especial: (Cap. 7 – Eletroquímica I =
Pilhas Químicas) uma atividade experimental Conflitiva. Esta permite um confronto
entre as concepções não formais dos estudantes, criando um diálogo, do qual surge um
conhecimento prévio para que, assim haja abordagem do conteúdo.
No Capítulo 9 – Radioatividade, não houve atividade experimental. Sabe-se da
incidência de índices significativos de periculosidade, ou custo elevado de materias, no
entanto existem práticas experimentais simplórias que aludem a tal conteúdo sem
comprometer a segurança ou a eficácia da atividade, no que se diz respeito ao processo
de ensino-aprendizagem.
Contudo compreende-se que os experimentos desta obra de modo geral, estão
atentos as atuais tendências da experimentação no ensino de Ciências, incentivando o
pensamento, a ação, o diálogo, e a construção do conhecimento.
SER PROTAGONISTA QUÍMICA (Julio Cesar Foschini Lisboa)
Os experimentos presentes nesse volume se concentram unicamente ao final de
cada capitulo das unidades. Vêm intitulados como Atividade experimental e abordam
em geral apenas um tema especifico previamente estudado no capítulo, com exceção
apenas da unidade que aborda a temática: Reações nucleares. Sendo compreensível pelo
fato da periculosidade de qualquer experimento que aborde a temática.
As atividades experimentais presentes no volume como um todo se enquadram
como atividades experimentais de Comprovação, porém com traços investigativos.
Ressaltando várias ilustrações experimentais no transcorrer do volume.
Apesar de expor tais traços, as atividades experimentais em sua maioria não
estão interligadas ao cotidiano. Nesse contexto os questionamentos propostos estão em
sua maioria ligados aos conceitos teóricos.
Com relação ao caráter estrutural apresenta-se bem organizado e dinâmico.
Apresenta experimentos simples e baixa periculosidade. Não se prende a avisos de
segurança, mas se preocupa com o descarte adequado dos resíduos produzidos.
No exemplar do professor possuem sugestões extras de atividades experimentais
que podem ser desenvolvidas em sala de aula, geralmente propostas a cada capítulo.
Como também traz avisos de segurança, além de deixar clara a importância de cada
atividade experimental proposta.
Portanto, as atividades descritas no volume analisado, mesmo paralelas ao
cotidiano, instigam a investigação, o que confere uma característica das atividades
experimentais contemporâneas.
5. CONCLUSÃO
No âmbito da pesquisa experimental contemporânea, pôde-se perceber quais as
incoerências e méritos de cada obra analisada, suas especificidades e preocupação com
o uso da atividade experimental que auxiliam o processo educativo.
Mesmo concordando com a impossibilidade da existência de um livro didático
perfeito de Química, devido ao fato das peculiaridades de cada escola, cada sala de aula
e cada professor, existem aqueles que mais se aproximam das novas abordagens.
Nesses, o aprendizado deve possibilitar ao aluno a compreensão tanto dos processos
químicos em si, quanto da construção de um conhecimento científico em estreita relação
com as aplicações tecnológicas e suas implicações ambientais, sociais, políticas e
econômicas (PCN, 1998).
Entende-se que os experimentos no ensino de Química são aqueles que instigam
para a formação não apenas de um cientista, mas também de cidadãos mais conscientes.
Sendo por esse e por outros motivos que essa temática deve frequentemente ser
investigada, analisada e avaliada. Contribuindo para a melhoria do ensino dessa ciência
tão importante e frequente em nosso dia-a-dia.
Das cinco obras analisadas, apenas duas delas atenderam aos critérios
estabelecidos nesta pesquisa, quais foram: critérios do PNLD/2012 e recomendações
dos PCNEM’s. Portanto, há a necessidade da produção de obras dinâmicas e
contextualizadas que atendam às especificidades do processo de ensino-aprendizagem
contemporâneo de Química. E que as seleções que definem quais livros serão
recomendados sejam criteriosas, pois esses são os principais instrumentos na
transformação de um aluno em um ser social verdadeiro.
6. REFERÊNCIA
ATKINS, Peter; JONES Loretta. Princípios de química: questionando a vida
moderna e o meio ambiente. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.
BRASIL, Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares
Nacionais: ciências naturais, matemática e suas tecnologias. Secretaria de Educação
Média e Tecnológica. Brasília.
BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências naturais. Secretaria de
Educação Média e Tecnológica. Brasília: 1998.
BRASIL, Robledo et al. Utilizando a experimentação como uma estratégia pedagógica
no estudo de reações orgânicas. In: ENCONTRO DE DEBATES SOBRE O ENSINO
DE QUÍMICA, 35., 2011, Rio Grande, RS.
FARIAS, Cristiane Sampaio; BASAGLIA, Andréia Montani; ZIMMERMANN,
Alberto. A importância das atividades experimentais no Ensino de Química. In:
CONGRESSO PARANAENSE DE EDUCAÇÃO EM QUÍMICA, 1., 2009, Londrina,
PR.
GARCÍA, Maria Torres et al. Un estudio sobre la evaluación de libros didácticos. In:
ENCUENTRO IBERO-AMERICANO SOBRE INVESTIGACIÓN EN EDUCACIÓN
EN CIENCIAS, 1., 2002, Burgos, Espanha.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Guia de livros didáticos: PNLD 2012: Química.
Brasília: Secretaria de Educação Básica, 2011. 52 p.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Livro Didático. Brasil, Fundo Nacional de
Desenvolvimento
da
Educação.
Disponível
em:
<http://www.fnde.gov.br/index.php/programas-livro-didatico>. Acesso em: 05/01/2012.
MOREIRA, Marco Antonio; MASINI, Elcie F. Salzano. Aprendizagem significativa:
a teoria de david ausubel. 2. ed. Centauro, 2001.
MORI, Rafael Cava. Análise de experimentos que envolvem química presentes nos
livros didáticos de ciências de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental avaliados no
PNLD/2007. 2009. 203 f. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Química de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2009.
NASCIMENTO, Aparecida Maria do; MACEDO, Nael Ferreira de; OLIVEIRA, Maria
José Houly Almeida de. Livro didático de química: uma análise da prática de
Contextualização e seu uso nas escolas públicas Estaduais de Arapiraca. In:
COLÓQUIO INTERNACIONAL EDUCAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE, 5.,
2010, São Cristovão, SE.
PERDIGÃO, Cláudio Henrique Alves; LIMA, Kilma da Silva. A prática docente
experimental de química no ensino médio. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL
EDUCAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE, 4., 2010, Laranjeiras, SE.
PEREIRA, Cláudio Luiz Nóbrega. A história da ciência e a experimentação no
ensino de química orgânica. 2008. 125 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade de
Brasília, Brasília, 2008.
PINHO ALVES, J. Atividades experimentais: do método à prática construtivista.
Tese de Doutorado. CED/ UFSC. Florianópolis. 2000.
PINHO ALVES, Jose. Atividade Experimental: uma Alternativa na Concepção
Construtivista. In: ENCONTRO DE PESQUISA EM ENSINO DE FÍSICA, 8., 2002,
Águas de Lindóia, SP.
SANTANA, Joselaine Carvalho; DOS SANTOS, Clédson; CARVALHO, Luana Cunha
de. A experimentação no ensino de química e física: concepções de professores e
alunos do ensino médio. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL EDUCAÇÃO E
CONTEMPORANEIDADE, 5., 2010, São Cristovão, SE.
Download

1. Introdução