Monografia apresentada ao Supervisor do Programa de Residência
Médica da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, como
requisito parcial para obtenção do título de especialista em Pediatria
USO RACIONAL DE
ANTITÉRMICOS EM PEDIATRIA
Hospital Regional da Asa Sul (HRAS)/SES/DF
Mariana Calcagno Grillo
Orientador: Fabrício Prado Monteiro
www.paulomargotto.com.br
9/11/2009
INTRODUÇÃO

A febre é uma das principais causas de atendimento nas
emergências pediatricas

Em muitos casos, é um sintoma benigno e auto-limitado

Desde o século XVIII, a casca do salgueiro já era utilizada em
infusões para tratar a febre

Em 1897, a aspirina foi identificada e comercializada
Alves JGB. Dipyrone and acetaminophen: correct dosing by parents?. SP Med J. 2007 Jan; n° 1, 125(1):57-59
INTRODUÇÃO

“Febre fobia”

Tratar ou nao tratar?
Bricks LF. Analgésicos, antitérmicos e antiinflamatórios não-hormonais. Ped São Paulo. 1998 jul.-set; 20(3):230-46
INTRODUÇÃO

-
-
Escolha do antitérmico
fatores culturais
a legislação que controla a comercialização de fármacos
o papel da indústria que estimula o consumo através da
propaganda
dificuldades na atualização e reciclagem médica
a toxicidade dos medicamentos
INTRODUÇÃO
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O universo das drogas mais utilizadas no Brasil
Paracetamol
Dipirona
Ibuprofeno

Uso racional de medicamentos

-
Perspectivas políticas sobre medicamentos de la OMS. Promocíon Del uso racional de medicamentos:componentes
centrales. 2002 Sept; Disponível em: www.whqlibdoc.who.int/hq/2002/WHO_EDM_2002.3_spa.pdf.
OBJETIVOS

Realizar uma revisão da literatura comparando os principais
antitérmicos utilizados na prática pediátrica do Brasil

Promover o uso racional

Comparar a eficácia e segurança do
paracetamol
dipirona
ibuprofeno.
-
-
MÉTODOS

Revisão da literatura nacional e internacional nos últimos vinte
seis anos incluindo artigos originais, artigos de revisão,
editoriais, livros textos e diretrizes escritos nas línguas
portuguesa, inglesa e espanhola

Utilizadas palavras-chaves em várias combinações:
antitérmicos, pediatria, paracetamol, dipirona, ibuprofeno,
reações adversas, racional, febre
PARACETAMOL
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Antitérmico, n-acetil-p-aminofenol, derivado do alcatrão,
comercializado desde 1890
Principal antitérmico utilizado nos EUA
Principal causa de insuficiência hepática na Grã-Bretanha e
EUA
Principal causa de morte por medicamentos relatada à
Academia Americana de Pediatria
Goodman & Gilman´s. As bases farmacológicas da terapêtica. 1996
Katzung BG. Farmacologia básica e clínica. 2003.
PARACETAMOL

Administração via oral

Meia-vida de 2 a 4 h

Atravessa placenta e está presente no leite materno
Kalantzi CR. Biowaiver monographs for immediate release solid oral dosage forms: acetaminophen (paracetamol). Wiley
Interscience , 2005 www.interscience.wiley.com.
PARACETAMOL




Age na via das ciclooxigenases, aparentemente sob ação
central.
In vitro é um inibidor fraco da COX 1 e 2. Sugere-se uma
ação sob a COX 3
Como antitérmico, possui ação direta em centros
hipotalâmicos
Fraca ação antiinflamatória
Anderson BJ. Paracetamol (acetaminophen): mechanisms of action. Paed Anaest. 2008
Graham GG. Mechanism of action of paracetamol. Amer jour ther. 2005
PARACETAMOL
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Pouco efeito sobre o sistema CVC e digestivo
Não age sobre as plaquetas, tempo de sangramento
Elevação das enzimas hepática sem icterícia
Hepatotoxicidade
Poucas evidências de dano renal
Raras reações de hipersensibilidade
PARACETAMOL
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Permitido o uso em hepatopatas por até 14 dias
Não deve ser utilizado em crianças com hipersensibilidade a
droga
Dose para crianças: 10 a 20mg/kg/dose
Dose máxima: 120 a 150mg/kg/dia
1 gota por kg equivale a 10mg/kg
Wannmacher L. Paracetamol versus dipirona: como mensurar o risco?. Uso racional de medicamentos. 2005.
DIPIRONA

Derivado pirazolônico sintetizado na Alemanha em 1920

Teve sua venda proibida em diversos países devido à relatos
de agranulocitose

Amplamente utilizado no Brasil como antitérmico
Danieli P. Avaliação da segurança da dipirona: uma revisão. Rev Bras Farm. 2003.
DIPIRONA

Administração por via oral, venosa, retal e intramuscular

Efeito esperado em 20 a 30 min e meia-vida de 2 a 3 h

Está presente no leite materno
Almeida JLJ. Uso de antiinflamatórios não-hormonais durante a amamentação: quais podem ser utilizados?. Rev Pau
Ped. 2006; 24(2): 171-179.
DIPIRONA

Possível bloqueio a COX -2 ou 3 inibindo a síntese de
prostaglandinas no sistema nervoso central e no hipotálamo
Vale N. Desmistificando o uso da dipirona. In: Soc de Anest RJ. Med perioper. 2006.
Hinz B. Dipyrone elicits substantial inhibition of peripheral cyclooxygenases in humans: new insighits into the pharmacology of
an old analgesic. The FASEB Journal. 2007.
DIPIRONA

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

Extremamente imunogênica
Dipirona x agranulocitose x aplasia de medula
Sudorese profusa em crianças com febre alta e hipotermia
Uso muito prolongado tem relação com dano renal
Não foi comprovado efeito teratogênico e baixo peso ao
nascer
Hamerschilak N. Incidence and risk for agranulocytosis in Latin American countries – the LATIN Study. Eur J Clin Phar. 2008.
Hamerschilak N. Incidence and risk factors of aplastic anemia in Latin American countries: the LATIN case-control study. Haemat. 2009.
DIPIRONA

Deve ser evitado em crianças com hipersensibilidade a droga
e história de doenças hematológicas

Dose de 10 a 20 mg/kg

1 gota/kg equivale a 25mg/kg
IBUPROFENO

Ácido 4-isobutil-α-metilfenilacético antiinflamatório nãoesteroidal, derivado do ácido propiônico com boa ação como
antitérmico
Uso pediátrico apenas em 1989
Uso oral
Pico plasmático em 30 min e meia-vida de 2h

Atravessa facilmente a barreira placentária



IBUPROFENO

Inibidor não-seletivo da COX-1 e COX-2

Impede a formação de prostaglandinas, principalmente a tipo
2 nas regiões periventriculares e perto do hipotálamo
IBUPROFENO

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



Reações no trato gastrointestinal
Não foi relacionado à Síndrome de Reye
Efeitos hematológicos
Fechamento do canal arterial em RNPT e BP
IRA em pacientes críticos
Lesão renal por uso abusivo e crônico
Lesko SM. An assessment of the safety of pediatric ibuprofen. JAMA. 1995
IBUPROFENO
-
Deve ser evitado:
em crianças com hipersensibilidade ao ácido acetilsalicílico
ou outro AINE
-
em pacientes com lesão renal e desidratação
-
durante o terceiro trimestre de gestação
-
em < 6 meses o uso deve ser restrito

IBUPROFENO

Dose de 5 a 10mg/kg, 3 a 4x/dia

Dose antiinflamatória 30 a 40mg/kg/dia, sendo o máximo
60mg/kg/dia

1gota/kg equivale a 10mg/kg (100mg/ml)
ESTUDOS COMPARATIVOS

Lomar comparou dipirona (12mg/kg) e paracetamol
(15mg/kg) na 4oh os pacientes tiveram e mantinham uma
queda de 1,5o C na temperatura em 78,1% do paracetamol e
64,1% da dipirona.

A mesma eficácia foi demonstrada em um estudo brasileiro
comparando estas mesmas drogas
Lomar AV. Estudo comparativo duplo-cego e randomizado entre acetaminofen e dipirona nas doenças febris em pediatria. Pediatr
Mod. 1985.
Chiara AMM. Uso de paracetamol e dipirona, em dose única, em crianças portadoras de quadro febril. Rev Paul Pediatria. 1996.
ESTUDOS COMPARATIVOS

Paracetamol e dipirona foram semelhantes quando
comparados seus efeitos teratogênicos
Wannmacher L. Paracetamol versus dipirona: como mensurar o risco?. Uso racional de medicamentos. 2005.
ESTUDOS COMPARATIVOS

Um estudo comparando ibuprofeno VO e dipirona VO e IM
não mostrou diferenças entre a forma de aplicação, velocidade
de se abaixar a febre e reações adversas
Prado J. Antipyretic efficacy and tolerability of oral ibuprofen, oral dipyrone and intramuscular dipyrone in children. SP Med J.
2006.
ESTUDOS COMPARATIVOS

Outro estudo comparando o uso por 3 dias de ibuprofeno e
paracetamol em menores que 24m mostrou que os riscos de
reações adversas nos dois grupos são muito baixos
Lesko SM, Mitchell AA. The safety of acetaminophen and ibuprofen among children younger than two year old. Pediatrics. 1999.
ESTUDOS COMPARATIVOS

Aguado et al (2005) compararam ibuprofeno (7mg/kg) e
paracetamol (15mg/kg) e mostrou eficácia em 90% dos
pacientes em baixar a febre nas quatro horas após a
administração da dose
Aguado C. Eficaca de ibuprofeno y paracetamol como antitérmicos. An Pediatr (barc). 2005.
ESTUDOS COMPARATIVOS

Outros dois estudos comparando paracetamol na dose de 1015mg/kg e ibuprofeno na dose de 5-10mg/kg não mostou
diferença em reduzir a temperatura e manter o efeito
antipirético entre as drogas
Perrot DA. Efficacy and safety of acetaminophen VS ibuprofen for treating children´s pain or fever. Arch Ped Adol Med. 2004.
Wahba H. The antipyretic effect of ibuprofen and acetaminophen in children. Pharm. 2004.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O paracetamol mostrou ser um medicamento eficaz, seguro e
com poucas reações adversas

A dipirona tem eficácia comprovada e poucas reações adversas

O ibuprofeno é um antiinflamatório não-esteroidal e, portanto,
apresenta reações adversas referentes à inibição das
ciclooxigenases
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os três antitérmico são seguros para uso durante a lactação

O paracetamol é o antitérmico mais seguro para ser usado
durante a gestação
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O paracetamol e a dipirona são os antitérmicos que mais
atendem aos conceitos de uso racional, desde que seja evitado
o uso de sobredoses e subdoses
Obrigada!
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Uso racional de antitérmicos em Pediatria