Revista
Cekaw
Novembro
2007
Ano I Nº 01
O que é o Cekaw?
O Centro de Estudos PolonoBrasileiros Karol Wojtyla - CEKAW é uma
instituição sem fins lucrativos, que visa preservar a
memória e a história dos imigrantes poloneses no
Brasil, abrindo espaço para a discussão sobre esta
temática.
Entre os seus objetivos, está o registro
das impressões dos imigrantes poloneses ainda
vivos e de seus descendentes, resgatando a história
de vida destas pessoas e o levantamento de dados
acerca dos primeiros passos da etnia no Rio Grande
do Sul. Uma proposta de trabalho ampla, mas que
já está oferecendo resultados.
O CEKAW também vem arrecadando,
conservando e disponibilizando a interessados,
documentos e fotografias atinentes à colonização
polonesa. Este material constitui-se basicamente de
doações realizadas por famílias de descendentes.
Para a consecução destes objetivos
contamos com estudantes, pesquisadores e
entusiastas que estejam dispostos a pesquisar e
compartilhar os resultados de seus trabalhos.
Tadeu Vilani
Descendentes em Gurani das Missões
Nesta edição:
Genealogia
Heráldica
A nova Krakowianka
Literatura
04
12
15
16
Convidamos os descendentes de
poloneses e também aqueles que tenham qualquer
identificação com nossos objetivos a conhecer a
nossa página na internet http://www.cekaw.org,
bem como participar ativamente neste
mapeamento da história da imigração polonesa no
Rio Grande do Sul em todas as suas nuanças, a
exemplo do que já ocorre, dentre outras, com a
colonização alemã, italiana e portuguesa.
Você está convidado a participar das
atividades do Cekaw.
Editorial
Uma homenagem ao papa polonês
O Centro de Estudos PolonoBrasileiros Karol Wojtyla - CEKAW
nasceu do desejo de alguns amigos em
criar uma entidade capaz de preencher
algumas das muitas lacunas existentes
no que se refere à preservação da
cultura polonesa em nosso país, que
nas últimas gerações vem se perdendo
rapidamente.
Para nós, uma parte
fundamental da cultura que precisa ser
preservada é a história destes nossos
antepassados, a memória desta
comunidade, que, a cada imigrante ou
filho de imigrante que nos deixa, é
perdida. Mas apenas registrar e
preservar os livros, documentos, fotos
e demais apontamentos, embora
fundamental, não cumpre o seu papel
mais importante, que é o de dar
visibilidade e mostrar à sociedade
parte da história de nosso país que é tão pouco conhecida.
Por isso, um de nossos principais objetivos foi o de criar um
veículo de divulgação capaz de trazer a lume um pouco
daquilo que se preservou e se descobriu sobre os nossos
ancestrais poloneses. A Revista do CEKAW é o primeiro
passo para atingir esse objetivo.
Gostaria de, nesta primeira edição, homenagear o
patrono do CEKAW, o nosso Papa Karol Wojtyla, do qual
adotamos o nome deste centro de estudos. Não pelo sentido
religioso apenas, mas pela sua importância para a
comunidade polonesa no mundo, pela sua luta pela liberdade
e pela paz entre os povos. O seu pontificado é um marco
excepcional para a Polônia e todos aqueles que a ela estão de
alguma forma ligados.
Os relatos do dia de sua eleição são emocionantes,
com a população dirigindo-se à Sociedade Polônia para
festejar. Na palavra do ex-presidente da entidade, o falecido
Eng. Mário Karpinski, o dia 18 de outubro deveria ser uma
das principais datas comemorativas da polonidade no
mundo. Por isso escolhemos esta figura tão ilustre como
nosso patrono.
A Revista do CEKAW vem para reduzir a
significativa falta de periódicos no meio polônico, embora
existam importantes iniciativas, como a Revista Projeções, de
Curitiba, o Kurierek, de Nova Prata, o recente jornal Polska w
Brazylii, de São Bento do Sul, e vários outros, mas cada um
com objetivos diferentes e abrangências especificas.
Pretendemos criar uma revista diversificada, não apenas
informativa, mas também com artigos e outras produções de
Sua Santidade com religiosas brasileiras em Roma
nível acadêmico, abrangendo um público variado.
Optamos por publicações trimestrais e pelo meio
digital inicialmente, mas, de acordo com a receptividade e
colaboração do público, esperamos ter uma versão impressa
de nossa revista.
Ademir J.K. Grzesczak - Presidente
Expediente
A Revista Cekaw é uma publicação digital do
Centro de Estudos Polono-Brasileiros Karol Wojtyla.
Av. Baltazar de Oliveira Garcia, 2315 - POA/RS
Endereço Eletrônico: www.cekaw.org
Presidente: Ademir J.K. Grzesczak
Vice-Presidente: Paulo Gilberto Geliski
Secretária: Elizara Nunes
Tesoureiro: Diego de Leão Pufal
Diretor de Comunicação: Estácio Nievinski Filho
Coordenação e Projeto Gráfico: Estácio Nievinski Filho
Jornalista Responsável: Rafael Lorenzato - DRT-RS 12887
Fotos: Tadeu Vilani e Pedro Czarnina
Colaboração:
Adriana C. Flores Nievinski
Ágata Grochot dos Santos
Leszek Celinski
Letícia Wierzchowski
Mauro Noskowski - Braspol Bento Gonçalves
Tomasz Barcinski
As opniões emitidas por nossos colaboradores não
significam, necessariamente, a opnião do CEKAW.
Contato para participar com artigos, sugestões e críticas:
[email protected]
2
Biografia
Feliks Bernard Zdanowski - 1859 / 1931
Por Rui Wachowicz, com apontamentos de Janina Figurski e Estácio Nievinski Filho
Ativista social, redator, editor,
tipógrafo, tradutor, primeiro
presidente da Sociedade Zgoda de
Porto Alegre, pioneiro da tipografia
polonesa no Rio Grande do Sul.
Nascido em Varsóvia no dia
20/05/1859, pode freqüentar uma
escola particular. Tinha grande
aptidão para línguas. Era poliglota:
dominava além do polonês, os
idiomas russo, alemão, francês, inglês, português, espanhol e
hebraico. Esteve na Rússia durante seis anos, nas cidades de
Moscou e São Petesburgo, aprendendo a arte tipográfica e de
impressão. Viveu na França no período de 1886/88. Em
Lipsk editou em polonês o semanário Czestochowa e o álbum
Jasna Góra (Monte Claro). Em 1893 veio para o Brasil,
chegando ao Rio de Janeiro no dia 05 de setembro, um dia
antes de estourar a Revolução Federalista.
Por isso,
ficou cinco meses nos barracões da Ilha das Flores,
aprendendo o português prático e colhendo informações
sobre as colônias polonesas. Em janeiro de 1894 chegou a
Porto Alegre, onde ficou até 1903, morando na Rua 24 de
maio. Aqui encontrou 400 famílias polonesas.
Imediatamente iniciou a tipografia e trabalhos editopopulares. Em 1896, acompanhou o Dr. Stanislaw
Klobukowski nas suas viagens a núcleos poloneses como
Jaguarí e Ijuí, ajudando a fundar associações polonesas. Ao
fim dessa viagem, em Porto Alegre, foi eleito por aclamação
para presidir a novel Sociedade Zgoda. Zdanowski dedica-se
então ao trabalho de pesquisas. Preparou o primeiro
“Kalendarz Polski” (Almanaque Polonês) em 1898 e, outras
duas edições em 1900 e 1901.
Estes almanaques apresentam muitas informações
estatísticas sobre os núcleos de poloneses existentes nos
estados sulinos. Em 1901, recebeu a cidadania brasileira
(naturalização). Em conversa com o Bispo Dom Cláudio
(Ponce de Leão), mencionou a necessidade de conseguir
padres poloneses em POA. O tempo livre dedicou ao
preparo do dicionário português-polonês, que foi editado em
Cracóvia no ano de 1905, por A.Ripper e, logo polonêsportuguês, também editado em Cracóvia, pelo mesmo editor.
Nesse trabalho foi auxiliado por Valdemar Lorenz. Preparou
também um livrinho guia para os que preparavam-se para
viajar ao Brasil, em 1908. Este guia contém preciosas e
detalhadas informações sobre o que um emigrante deve saber
sobre o Brasil.
Foi o principal informante sobre os núcleos
poloneses do Brasil para a Gazeta Informo-comercial de
Lwów entre os anos 1896-1900 e da revista Przeglad
Emigracyjny de Cracóvia, em 1902.
Em 1903, Zdanowski voltou para a Europa. Em
Viena trabalhou como intérprete em embaixadas. Propagava
a erva-mate, recebendo do governo brasileiro a medalha de
bronze. Foi depois para Liverpool como tipógrafo.
Antes da Primeira Guerra Mundial, voltou ao Brasil,
em 1914, fixando residência em Curitiba - PR. Encontrou-se
com os velhos cidadãos poloneses. Nas suas Memórias
(Memórias Paranaenses), recorda Saporski, Kossobudzki e
outros. Seus últimos anos dedicou-os ao trabalho de
divulgação entre os poloneses da imprensa polonesa e aulas
particulares. Encontrou abrigo no Asilo para Velhos, onde
faleceu em 25.12.1931. Enterrado no Cemitério Municipal,
acompanhado por poucos daqueles a quem dedicou toda a
sua vida.
* Zdanowski - Memórias escritas por ele e, entregue a família da Jan
Baranski. Mais tarde foi repassado ao Arquivo dos Padres Missionários,
redatores do Jornal LUD.
* Arquivo Nacional Rio - Registro de imigrantes Livro 75, No. 66600 de
1893.
* Polska Prawda no Brasil, ano 1932, necrológio.
* Czykiel Walerian “Lembranças”, texto datilografado pg.116.
* Swiat Paranski (Mundo Paranaense) - Curitiba 1924 No.06.
* Piton Jan - Pioneiros Brasileiros - caderno 11, XX-1973.
Capa do Kalendarz Polski de 1898
3
Genealogia
Alguns Aspectos Genealógicos da Imigração Polonesa em Porto Alegre:
Primeiras Famílias.
Por Diego de Leão Pufal -- Advogado e Genealogista
O fluxo da imigração polonesa no Brasil teve seu início
em 1875 (apesar de imigrações anteriores isoladas), se
intensificando em meados da década de 1890, quando houve
considerável número de famílias embarcadas para o Rio Grande
do Sul.
Nessa mesma época, um grande grupo de poloneses
passou a viver em Porto Alegre, cujos integrantes vieram das
colônias a que foram destinados (a exemplo de Alfredo Chaves,
hoje Veranópolis, Barão do Triunfo, Dom Feliciano, Caxias do
Sul, Santo Antônio da Patrulha, Mariana Pimentel, Rio Grande,
Pelotas), até mesmo em razão dos ofícios que lhes eram próprios,
isto é, não ligados à agricultura, ou em busca de novas
oportunidades, sem prejuízos de outros fatores inerentes a cada
imigrante.
Na capital gaúcha estabeleceram-se nos arrabaldes da
cidade, como era conhecido o Quarto Distrito, enquanto que os
assuntos da alma eram tratados, aos católicos, inicialmente pelos
padres das igrejas de N.Sra. das Dores, N. Sra. do Rosário, até a
criação da N. Sra. da Conceição, em 12.04.1889, e, na seqüência,
pelos da então capela de N. Sra. das Navegantes, em 28.04.1897
(somente elevada à paróquia em 28.06.1919), São Pedro, em
20.04.1912 (curato), São João Batista, em 29.12.1916 (curato),
São Geraldo, em 13.09.1924, dentre outras, apesar de que a
grande incidência tenha sido mesmo na da Conceição e
Navegantes, foco de nossos estudos genealógicos.
Neste mesmo bairro, por força do expressivo
contingente de poloneses, e como forma de preservar a língua e
costumes, além de juntos prestarem auxílio mútuo, foram criadas
no final do século XX algumas associações, umas fundindo-se
com as outras, já outras extintas no decorrer dos anos. Em razão
de tal agregação, somada à dificuldade da língua portuguesa para
os poloneses, bem como em virtude de outras questões culturais,
é que as famílias (a exemplo do que ocorreu com outras etnias),
sempre buscavam casar-se entre si, dificilmente encontrando-se,
dentre as primeiras uniões, casamentos “mistos”.
Para se ter uma noção, dos cerca de 120 casamentos
realizados nas igrejas católicas de Porto Alegre entre 1850 a 1899,
apenas seis, pouco mais, pouco menos, deram-se com alemães,
italianos e portugueses (brasileiros), a demonstrar a união e
preservação dos hábitos e costumes entre a etnia em questão. Para
ilustrar, traz-se uma lista quase que completa dos primeiros
casamentos de poloneses realizados nos principais templos
católicos de Porto Alegre, com indicação dos nomes (conforme
grafia que consta no documento) dos nubentes, ano do ato e igreja
respectiva:
ANTONELLO, Vitório e MICHALAK, Francisca
N. Sra. da Conceição
BAGININSKI, Bronislau e BITTENCOURT, Manuela Rodrigues
Menino Deus
BAGUSZENSKI, José Gustavo H. e DIAS, Ana da Silveira
Madre de Deus - Catedral
BRONISZEWSKI, Luiz e VAVSINHESKI KRIKAK, Mariana
N. Sra. do Rosário
BROVSKI, Inácio e SCARMACH, Ana
N. Sra. do Rosário
CHICELSKI, Antônio e CHOLEWINSKI, Catarina
N. Sra. dos Navegantes
CUBIZESCKI, Voitscheck e CAMINSKA, Ana
Madre de Deus - Catedral
1898
1899
1871
1895
1894
1899
1896
DABROCASKI, Vicente e CZECHOWSKA, Francisca
N. Sra. da Conceição
DOMBROWSKI, Vicente e CZEKOWSKI, Francisca
N. Sra. da Conceição
GOLEMBIESKI, Ludwick e WODOLINSKA, Rosália
N. Sra. dos Navegantes
GOLEMBINSKI, Adão e KUZSEINSKA, Felícia
N. Sra. da Conceição
HARPINSKY, Antônio e SCHUELTZ, Mariana H.
livro de justificação
JACOBOWSKI, Romano e LEVANDOWSKA, Josefa
N. Sra. da Conceição
JANCZAK, Josef e LABCZESKA, Francisca
N. Sra. das Dores
JARSYNSKI, José e SOKOLOSKI, Josefina
N. Sra. das Dores
JARZYNSKI, Adão e MIETKOSKA, Pelágia
N. Sra. das Dores
KAMINSKY, Antônio e LUTKIE, Inácia Fernandes
Madre de Deus - Catedral
KARPATSKI, Anastácio e TOMERJISKA, Mariana
Madre de Deus - Catedral
KERKOVE, Francisco e DIAS, Ideltrudes
N. Sra. das Dores
KIERYBICKI, João e JASESKA, Severina
N. Sra. do Rosário
KOWALEZUK, João e WALCZUCK, Mariana
Menino Deus
MAIZATS, José e FIATSKOST, Estácia
Madre de Deus - Catedral
MARTINEWSKI, João e SCHNNOLDT, Paulina
São José
MATESKO, Mariano e LUSKOWSKA, Cecília
N. Sra. da Rosário
MAVOTZKY, Jacob e ROLIM, Maria Delfina
Madre de Deus - Catedral
MENDELSKI, Miguel e DOLINSKI, Alexandrina Ana
N. Sra. dos Navegantes
MOJINSKI, José e HOLLANDESKA, Sofia
N. Sra. do Rosário
MORLIK, Pedro e MAGOSK, Mônica
N. Sra. da Conceição
NICZOSKI, José e ORLONSKA, Josefa
N. Sra. da Conceição
ODOLINSKI, João e PRUDSINSKI, Eva
N. Sra. do Rosário
OSTROWSKI, João e KRUSZYNSKI, Verônica
livro de Justificação
PAROLVROSKI, Lourenço e WOSNICKA, Josefa
N. Sra. do Rosário
PERES, Agostinho e HAMERSKI, Francisca
livro de Justificação
PRITZBORROSKI, Propício Carlos e MELO, Amélia F. L. de
Madre de Deus - Catedral
PRZYBYLSKI, Ladislau e JUNG, Honorata
N. Sra. das Navegantes
PAKOLSKI, Miguel e PENTER, Stanislava
N. Sra. da Conceição
RUPP, João e RUTEILS, Mariana
N. Sra. da Conceição
STRUK, João e JARKIEWIECZ, Bronislawa
N. Sra. do Rosário
TANZAKI, José e LABISESKI, Francisca
N. Sra. das Dores
TIBORSKI, José e CRECHORSKA, Antonina
N. Sra. da Conceição
TURKEWITZ, Francisco e NICHNEWITZ, Henrietta
N. Sra. dos Navegantes
WEKORSKA, Estanislau e DAMBROSKA, Vanda
N. Sra. da Conceição
WIESINSKI, João e WOLFF, Maria
N. Sra. do Rosário
1895
1895
1899
1898
1890
1894
1894
1896
1892
1854
1891
1899
1893
1898
1893
1897
1896
1888
1899
1898
1894
1893
1895
1891
1894
1885
1886
1899
1893
1896
1895
1894
1895
1895
1898
1894
4
WODARSKI, Gregório e ODOLINSKA, Rosália
N. Sra. da Conceição
WOLSKI, João e IMBIROCKA, Antonia
N. Sra. das Dores
ZEILMANN, Henrique e SUK, Alfreda
N. Sra. dos Navegantes
1893
1891
1895
Esse mesmo número, aliado aos registros de batismos
e nascimentos da época, demonstra que ao longo da década de
1890 estavam estabelecidas em Porto Alegre cerca de
quatrocentas famílias polonesas, o que é corroborado por Feliks
Zdanowski, quando da edição do Kalendarz Polski de 1898, que
além de fazer dita citação, menciona pequena amostra do
contingente de poloneses que viviam por aqui no ano de 1897, a
qual se reproduz, indicando-se nome, residência e profissão
respectivamente:
Baginski, Bronislaw
Bialecki, Karol,
Boelter, Aleksander
Bogdanski, Jan
Borda, Ignacy
Bolinskii, Jósef
Bender, Jósef
Brzeski, Teodor
Brzozowski, Jósef
Broniszewski, Ludwik
Budaszewski, Ignacy
Ciesielski, Antoni
Czach, Jósef
Domaradzki, Jósef
Dworakowski, T.
Gaj, Franciszek
Gajkowski, J.
Galbierczyk, Jan
Godlewski, P.
Grochowalski, P.
Gruszczynski, Aleks.
Jachowicz, Michal
Jackowski, Roman
Jarzynski, St.
Jarzynski
Jaworski, Antoni,
Jakubowski Roman
Jarkiewicz, J.
Kaizer R.,
Kaczorowski, Antoni
Keil, Teofil
Kiedrowski, Stanislaw
Kletke
Klimkowski, W.
Klonowski, Maciej
Kozlowski, Jósef
Krzeminski, Fr.
Królikowski, Jan
Kowalczuk, Jan
Kaminski, F.
Konarzewski Jósef
Kosinski, J.
Lachowski, W.
Lachowski, J.
Lewandowski, Franc.
Lindner, Fr.
Majdecki, Waclaw
Majewski, J.
Marciniak, Tomasz
Marszal, Jós.
Miller, August
Meister, Marja
Meister Luiza
Miercynski, Antoni
Mroczkowski, Jósef
Niczewski, Jósef
Olszewski, Ant.
Olswewski, Wladyslaw
Olszewski, Antoni
Otwinowski, St.
Pierzchalski, Aleksand.
Puchalski, Aleksander
Przybylski, Stefan
Przybylski, Wladislaw
Raczynski, Jan
Raga, Apoliinary
Rejber, Oswald
Roza, J.
Rucinski, Michal
Rutkowski, Antoni
Skiba, Jan
Smialkowski, Ludwik
Sosinski, Ant.
Stelczyk, Edward
Struk, Jan
Sieczkowski, Antoni
Suszczynski, Wlad.
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Szeregowski, J.
Szram, Gustaw
Szulc, Jósef
Tokarski, Tomasz
Urbanski, Roman
Walaszewski, Jan
Wawrzynkiewicz, Piotr
Werowski, Fr.
Wieczorek, Leonard
Wieczorek, Kazimierz
Wieczorkowski, St.
Wierzbicki, Jan
Wilkuszynski, Wlad.
Winkelman, Pawel
Wittman, Franciszek
Wudarski, Jan
Zegarski, Wladislaw
Zielinski, Michal
Visc.Rio Branco
Rua Ernesto Fontoura
R. Rio Branco
Av. Industrial
Rua São Pedro
Rua do Parque
Rua da Azenha, 28
Rua do Parque
R.Pontas de Paris, 36
Aven. da Fábrica
R. Minas Geraes
Navegantes garbarnia
Av. Sanga da Serra
Rua S.Rafael, 82
Av. Germania
Av. Germania
Rua Rafael, 90
R.Visc. Rio Branco
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felczer
majster mularski
Comp.hydráulica
Rua Rafael, 82
Página do Kalendarz Polski de 1898, com os “proprietários” de casa em POA
Afora tais personagens, vários outros (e famílias) já
estavam radicados em Porto Alegre em 1898, tais como: Josef
Bedick, Marcilio Berclaski, Ignaz Borde, Josef Bruski, Antoni
Budzyn, Antoni Budzki, Ladislau Carbowinski, Simon
Cholewinski, Antoni Czerkowski, Jan Cieslak, Antoni
Czerwinski, Antoni Czewonski, Domingos Czechowski, Vicente
Dobrowski ou Dambrowski, Heinrich Doppler, Michal Dulinski,
Constante Influflscki, Felix Frohlich, Karol Gerowski, Adam
Golembinski, Judwick Gotembieski, Jan Jablowski, Piotr Jakoski,
August Jung, Antoni Krawucki, Gregório Kulesza, Aleksander
Mendelski, filhos de Antoni Odolinski, Jan Pauluszkiewicz,
Andreas Prandzynski, Antoni Prundzinski, Michal (Miguel)
Pukulski, Josef Penter, Piotr Romanczeck e Piotr Wawrik.
Já no início dos anos de 1900, diversas famílias
entraram no cenário de Porto Alegre, muitas vindas diretamente
da Polônia, outras das colônias vizinhas: Mariana Pimentel, Santo
Antônio da Patrulha, Dom Feliciano, dentre outras, e, por sua
vez, também fixadas no Quarto Distrito, as quais, casando-se com
as primitivas compatriotas, acabaram por formar uma grande
comunidade.
É por isso que se está buscando levantar a genealogia
desses primeiros desbravadores polônios, juntamente com a
história pessoal de cada um, não só com o fito de preservar suas
memórias, mas também para manter firmes as tradições e traçar
um aspecto do imigrante polonês, sua vida e suas lutas.
5
Estudos e Pesquisas
Retificação Jurídica de Sobrenomes
Por Elizara Nunes - Acadêmica de Direito
Neste texto temos por intuito, orientar o
leitor em relação à possibilidade de retificação
da certidão de nascimento quanto aos dados
constantes nela, como sobrenomes, datas entre
outros aspectos, a fim de preservar a herança
genética e cultural de nossos antepassados, que
nos é passado através do nome patronímico ou
mais conhecido como nome de família.
Art. 16 do Código Civil Brasileiro - Toda
pessoa tem direito ao nome, nele
compreendidos o prenome e o sobrenome.
Quando da chegada de nossos ancestrais ao
Brasil a situação era precária para eles, uma vez que
perfazia-se quilômetros até a província mais
próxima a fim de se obter qualquer auxílio do
governo. Naquela época registrava-se um
nascimento somente na paróquia onde o indivíduo
era batizado emitindo-se para tanto a certidão de
batismo, que valia como um documento.
Devemos ainda lembrar que não era
obrigatório o registro de nascimento, até séc. XIX,
aqui no Brasil, assim durante o séc. XVIII e
anteriores, o registro era somente a certidão de
batismo. Após a promulgação da Lei que torna
obrigatório o registro de nascimento, não se
registram melhorias, pois os cartórios se
localizavam em grandes províncias e o colono
ainda não tinha acesso a tais dependências públicas
naquela época devido a grande distância entre uma
e outra.
Outro ponto que devemos destacar, que
acarretou erros de escrita nos sobrenomes, foi o de
que inúmeros colonos portavam apenas o
passaporte, portanto a base de escrita dos nomes e
sobrenomes era em língua estrangeira, que em
muitos casos não era compreendida pelos
brasileiros, como é caso dos imigrantes poloneses.
Corrobora ainda mais para a deturpação destes nomes
e sobrenomes a forma como era feito o registro, que era
e é ainda verbalmente, ou seja com base apenas na
pronuncia fonética do nome pelo colono, perante o
oficial do cartório, o que permitia a dúbia interpretação
e em diversos casos este nem ao menos sabia como
escrever o nome na língua pronunciada.
Acentue-se ainda ao sotaque carregado dos
colonos, os tabeliões, que nesta época falavam apenas o
português, e em alguns casos eram semi-analfabetos,
pois, por ser cargo de confiança, necessitava-se apenas
saber ler e escrever o mínimo. Diante de tais
circunstâncias podemos verificar as origens de tais erros
em nossas certidões de nascimento. Cabe trazer a baila
o seguinte esclarecimento do Desembargador Carlos
Prudêncio do TJSC:
“Ademais, sendo o apelido materno de origem
polonesa, não raro que os cartórios se
equivocassem, fazendo constar nos registros
nome diverso do original. Ressalta-se, ainda,
que a partir do primeiro equívoco é
compreensível que este tenha se propagado ao
longo dos anos, sendo registrado erronea e
sucessivamente da forma Schalata e não na
grafia correta Szlachta”.
Era registrado pelo cartório como nome apenas
aquilo que se ouvia do próprio imigrante, e isso
ocasionou o abrasileiramento de inúmeros nomes,
como Georg que virou Jorge, Christina que passou a ser
Cristina dentre outros. Ainda existem os erros de
tradução e de escrita, assim a partir de tal entendimento
podemos concluir que inúmeros dos erros cartoriais
originam-se desta época, e estes por sinal se perpetuam
nos demais registros de nossos ancestrais chegando até
nós.
Atualmente existem inúmeras possibilidades de
alteração dos nomes e sobrenomes tendo como base a
6
Lei de Registro Públicos 6.015/1973 (LRP). O
ordenamento Jurídico prevê a possibilidade de
alteração de nomes e sobrenomes judicialmente
em alguns casos, como iremos ressaltar. As
hipóteses mais relevantes e que nos competem são:
as de erro de grafia, de alteração de ordem dos
sobrenomes, dos nomes vexatórios, da adoção de
pa tr on ím ic o d os av ós ou da mã e, e a
impossibilidade de extirpar o sobrenome do
próprio nome, bem como a legitimidade de
propor ação para retificar registro de ancestral por
inconsistência gráfica ou erro de dados descritos
no registro.
O erro de grafia é o mais comum dos
existentes nas certidões de nascimento, a falta de
letras, acentos ou mesmo acréscimo de letras,
nomes, datas e locais diversos do que deveria
constar, tem ocasionado o surgimento de
imperfeições, que podem ser sanadas logo após a
maioridade do individuo (18 anos), o qual tem o
prazo de um ano para requerer pessoalmente no
cartório de Registro Público a retificação do
registro que contiver alguma imperfeição
conforme o artigo 56 da lei 6.015/73:
“O interessado, no primeiro ano após ter
atingido a maioridade civil, poderá,
pessoalmente ou por procurador bastante,
alterar o nome, desde que não prejudique
os apelidos de família, averbando-se a
alteração que será publicada pela
imprensa.”
mesma ação a retificação dos dois sobrenomes. Mas
para obter tal correção em ambos os sobrenomes, o
antepassado deve ser morto, para que o indivíduo
detenha legitimidade para requer em seu nome e do
falecido. Detêm legitimidade para requerer tal
correção os descendentes em linha reta, na linha
colateral até 4º grau e o cônjuge, conforme preceitua o
Art.12 parágrafo único do Código Civil Brasileiro:
“Em se tratando de morto, terá legitimação para
requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge
sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou
colateral até o quarto grau.”
Neste caso leva-se em conta para concessão de
tal correção a perpetuação do erro em registros
posteriores simplesmente por ocasião de registro.
Porém estando o antepassado vivo de quem propõe a
retificação do sobrenome, esta correção não o atingirá,
pois a legitimidade do descendente decorre da morte
do antepassado, se este quiser a retificação deverá
intentar ação em seu próprio nome.
A justiça admite ainda, que poderá o familiar na
linha descendente requerer a adoção dos sobrenomes
maternos ou avoengos sob a égide da continuidade do
nome familiar, baseando-se no princípio “Jus
sanguinis”, este que nos é tão familiar, pois deriva pura
e simplesmente do direito natural de sucessão, assim a
maior herança de uma família é sobrenome pois à
identifica no tempo e espaço, devendo os membros
dela zelar pela sua lisura e continuidade no ceio da
social.
Porém, tardando-se o mesmo a requer tal
retificação no cartório, uma vez que o prazo é de
um ano, poderá fazê-lo mediante a propositura de
ação Judicial de retificação de registro. A ação
deverá ser ajuizada por advogado constituído
perante o juiz do local, onde mora o indivíduo que
pretende obter tal correção.
“PARENTESCO. (..) COGNAÇÃO. (...) O
segundo baseava-se, exclusivamente, nos laços
da consangüinidade. Era um parentesco natural,
em que falava, apenas, a voz do sangue.
(NOGUEIRA. Adalicío Coelho. Introdução ao
direito Romano. Ed. Forense. Ano 1966).”
Quando se tratar de erro oriundo da
certidão dos antepassados, poderá ser requerida na
Consubstanciado no princípio constitucional
da igualdade de pessoas e dos cônjuges perante a lei
(art.5° caput e Art. 226, § 5º da CF.), é possível também
7
requerer a mudança de ordem dos apelidos de
família. A constituição Federal, bem como o
próprio Código Civil já reconhece a igualdade dos
sobrenomes de família, tanto que a mulher ao se
casar, não necessita mais obrigatoriamente adotar
o sobrenome do marido, portanto não há razão
para o sobrenome da família paterna vir ao final do
nome dos filhos. Conforme enuncia a
jurisprudência:
(...) “considerando que o homem e a
mulher são iguais perante a lei
(Constituição Federal, art. 5°, inciso I) e que
ambos os nubentes podem acrescer ao seu
o sobrenome do outro (Código Civil de
2002, art. 1.565, § 1°), conclui-se que não
existe uma ordem rígida para registro dos
apelidos de família pois todos possuem a
mesma importância, devendo, portanto, ser
deferido o pedido do requerente para
inverter o sobrenome materno com o
paterno, tendo em vista que ocasiona
diversos constrangimentos o fato de seu
nome e de seu pai, quando abreviado,
ficarem iguais.” (TJ SC
AC v n.
2002.020288-1, de Tubarão, rel. Des.
Carlos Prudêncio, j. 29.04.03).
Ainda é aceito alteração do nome do
indivíduo quando este é tido como vexatório,
desde que seja provado tal desalinho do nome a
pessoa, bem como a intenção de não prejudicar
terceiros com a troca de nome. Ressalte-se ainda
que é vedada a extirpação de sobrenome, pois os
tribunais entendem que fere o preceito
constitucional do direito ao nome, a família.
Podemos concluir, assim, que para o
indivíduo intentar a retificação do nome, deverá ter
provas documentais de grafias, datas equivocadas e
sobre o que se quer provar e o que deverá ser
modificado.
“A retificação do nome dos ascendentes no
registro civil somente é cabível quando
comprovado que tenha havido erro de
grafia ao ensejo da lavratura do assento, sendo
descabida tal pretensão apenas para oportunizar
a parte a obtenção da dupla cidadania”.(Grifo
Original)
(Centro de Estudos do Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul - Conclusão nº. 48);
Assim os tribunais subentendem como provas
válidas documentos oficiais da época, certidões
registros, correspondências oficiais etc... Além de todas
as provas lícitas admitidas pelo Processo Civil
Brasileiro.
Bibliografia
ABREU FILHO. Nylson Paim de. Código Civil,
Código de Processo Civil, Constituição Federal. Porto
Alegre. Verbo Jurídico. 2007.
BRASIL. LEI Nº 6.015, DE 31 DE DEZEMBRO DE
1973. Dispõe sobre os registros públicos, e dá outras
providências. Brasília, 31 de dezembro de 1973.
BRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Apelação Cível nº. 2002.020288 1. Relator Des.
Carlos Prudêncio. DJSC 29.04.2003.
BRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Apelação Cível nº. 2001.008669-7. Relator Des. Orli
Rodrigues. DJSC 03.06.2003.
BRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Apelação Cível nº. 70005038575. Relator Desª. Maria
Berenice Dias, DJRS 06.11.2002.
BRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Apelação Cível nº. 70005158290. Relator Des. Sérgio
Fernando de Vasconcellos Chaves, DJRS 27.11.2002.
BRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Apelação Cível nº. 7000197477. Relator Des. Antonio
Carlos Stangler Pereira, DJRS 02.05.2002.
BRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Apelação Cível nº. 70007582463. Relator Des. Rui
Portanova, DJRS 12.02.2004.
BRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Apelação Cível nº. 70018906024. Relator Desª. Maria
Berenice Dias, DJRS 08.08.2007.
DINIZ. Maria Helena. Teoria Geral do Código Civil
1°Volume. São Paulo. Saraiva, 2004.
NOGUEIRA. Adalício Coelho. Introdução ao Direito
Romano. São Paulo. Forense. 1966.
8
Estudos e Pesquisas
Poloneses em Porto Alegre
4º Distrito O bairro dos poloneses
Por Estácio Nievinski Filho, pesquisador.
Convencionou-se que a imigração polonesa no Rio
Grande do Sul começou no ano de 1875, com a chegada de
alguns grupos destinados a povoar a região serrana. O
primeiro desses grupos instalou-se numa localidade hoje
pertencente ao município de Carlos Barbosa. Entre os anos
de 1890 e 1894, ocorreu o maior fluxo imigratório de
poloneses para o Brasil. Na Polônia, este período ficou
conhecido como “febre brasileira”.
Composto em sua maioria por agricultores, havia
também neste contingente, imigrantes oriundos de regiões
desenvolvidas da Polônia, com ofício, alfabetizados e
politizados. Este pessoal, tão logo chegou, procurou se
estabelecer em centros maiores, aonde pudessem melhor
desenvolver suas atividades.
Paralelamente, neste período, grupos de
empreendedores criaram fábricas e indústrias no 4º Distrito.
Foi o princípio do bairro-cidade, do bairro dos poloneses. Na
década de 1890 as ruas são abertas, as indústrias crescem e
cada vez mais mão de obra qualificada é necessária para
atender a demanda de trabalho. Neste contexto, forma-se um
bairro multi-etnico, de muitas línguas, costumes e religiões.
Mas, sem dúvida, uma expressiva parcela de poloneses foi
fixando-se na região.
A necessidade de prover estudo para os filhos, a
defesa de interesses comuns, lazer e cultura deu vazão para a
criação de inumeráveis associações polonesas no 4º Distrito.
Em 1896, nascia a Towarzystwo Zgoda (Sociedade
Concórdia), a primeira diretoria foi composta por Feliks
Bernard Zdanowski
Presidente, Edward Stelczyk.Secretário e Jan Królikowski Tesoureiro. Em 1904, era
criada a Sociedade Águia Branca, resultado da fusão da
Zgoda com uma sociedade também chamada Orzel
Bialy(Águia Branca em polonês), surgida naquele mesmo
ano. A imagem da águia branca sobre um fundo vermelho é o
símbolo nacional da Polônia. Os imigrantes optaram pela
permanência do patriótico nome.
Esta sociedade é muito cara ao bairro, pois se instalou
desde a sua fundação na Av. São Pedro, nº78, esquina Av.
Pernambuco. Muitos moradores antigos lembram-se da
escola mantida pela sociedade e os eventos por ela
promovidos. Independente da origem étnica de seus alunos a
Escola da Sociedade Águia Branca prestou relevantes
serviços à educação das crianças do bairro.
Próxima a atual praça Florida, foi criada em 1900
outra importante sociedade polonesa: Tadeusz Kosciuszko.
Durante quase três décadas estas duas entidades rivalizaram
positivamente na promoção de teatros, manifestações cívicas
(polonesas e brasileiras) e lazer para os sócios. Apenas em
1930, depois de muitas tratativas, as associações entraram
num acordo de fusão, surgindo assim a Sociedade Polônia de
Porto Alegre. Até meados de 1960, existia ainda a Sociedade
Cultura, voltada exclusivamente, como o próprio nome diz, a
promoções culturais. Ao ser absorvida pela Sociedade
Polônia, um precioso acervo de mais de 5.000 livros foi
Antiga Escola Polonesa. Professor Ignacio Budaszewski
incorporado à Biblioteca da Sociedade Polônia.
A Igreja Polonesa Nossa Senhora do Monte Claro,
situada na Av. Presidente Roosevelt, é uma preciosa jóia
construída pelos imigrantes e seus descendentes na década
de 1920. Seu altar veio da Polônia e, aos domingos pela
manhã, ainda é rezada missa em polonês. O pároco é o padre
Leon Lisiewicz. A Igreja possui seu grupo folclórico,
biblioteca e coral.
Tamanha a representatividade polonesa no bairro no
início do século XX que a Av.Polônia foi inaugurada em
1935. Esteve presente ao evento o prefeito Alberto Bins e,
quem descerrou a placa, foi o Desembargador André da
Rocha.
Em 2006 a Sociedade Polônia completou 110 anos
de vida. Mantém um grupo folclórico, biblioteca, turmas de
interessados em aprender o idioma polonês, uma sede de
veraneio em Belém Novo e um Ginásio de Esportes na Av.
Santos Dumont. Todo este patrimônio foi construído
exclusivamente pelos seus sócios, poloneses e descendentes
em caráter de mutirão.
A perseverança em manter viva a memória polonesa
na cidade cabe hoje à Sociedade Polônia, a Braspol, a Igreja
Polonesa e ao CEKAW. Estas entidades têm suas raízes
cravadas no 4º Distrito, o bairro dos poloneses.
Fachada da Igreja Polonesa
9
Estudos e Pesquisas
Polônia: o nascimento de uma grande nação
Por Ademir J. K. Grzesczak, graduando em História
Este artigo compila informações esparsas de diversas
fontes historiográficas que abordam a formação do Estado polonês
no final do século X. Visa abordar os aspectos políticos e
geográficos referentes à agregação das tribos eslavas
lingüisticamente aparentadas na Europa Central, sob um governo
centralizado.
Antes de abordar os aspectos históricos deste
país que é o assunto central deste artigo, é importante
relatar, entre outras coisas, as motivações e objetivos
que levaram a sua produção. A Polônia é, para a grande
maioria dos brasileiros, um país distante, estranho, do
qual pouco se sabe, apenas que era parte da União
Soviética e que tem uma história curta que se inicia com
a queda da chamada Cortina de Ferro.
Este desconhecimento e visão errônea da
história do país, causada por diversos fatores, que vão
desde a propaganda contra a Polônia promovida pelo
Reich e pelos soviéticos, na Segunda Guerra Mundial,
que permeia o inconsciente coletivo, até pela distância
e dificuldades lingüísticas. É com o objetivo de
apresentar ao leitor a origem e a milenar tradição deste
país que escrevo este artigo e para atingir estes objetivos
a busca de bibliografias e informações em diversos
meios foi árdua, em virtude da deficiência de material
disponível, principalmente em português, o que
justificou ainda mais levar a frente este trabalho.
Para analisar a origem da Polônia1 como
Estado é preciso antes ver de onde surgiu este povo. Os
poloneses, cuja origem do nome remonta à tribo dos
polanos, que significa aqueles que cultivam a terra2,
pertencem ao grupo lingüístico indo-europeu
setentrional, mais especificamente aos eslavos
3
ocidentais . A origem dos eslavos, cujo nome está
relacionado à palavra escravo e remonta ao tempo do
Império Romano, durante séculos esteve envolta em
mitos e foi muito discutida, até que no final da década
de 1940 uma série de estudos foi realizada e atualmente
as origens dos eslavos estão situadas na região central da
4
5
6
Europa, entre os rios Elba , Oder e Vístula , região que
corresponde em boa parte ao atual território da
Polônia. A partir daí, entre os séculos V e VII,
migrações para o Leste e Sul deram origem aos
ucranianos e aos eslavos do sul.
O ano de 966 é conhecido como o início da
Polônia como país independente, marcado pela
adoção do cristianismo pelo Duque Mieszko I (962992), mas esse foi certamente um processo lento e que
tem explicações mais práticas. A unificação das tribos das
bacias do Oder e do Vístula foi uma realização da dinastia
7
Piast , da qual provém Mieszko, que foi possível graças a
uma rede de comércio e cidades estratégicas que
possibilitaram o rompimento do isolamento das regiões e
uma maior integração.
O batismo e submissão ao papado de Roma, é tida
por muitos como resultado da influência da esposa
8
Dobrawa, irmã do Duque da Boêmia , com a qual Mieszko
casara-se em 965. Mais do que uma manifestação religiosa,
foi uma importante decisão para o futuro da Polônia, pois
determinou a tradição latina polonesa, diferentemente de
outras nações eslavas, como a Rússia, que adotou o
cristianismo oriental (bizantino). Também estrategicamente
era uma garantia de soberania, uma vez que a posição da
Polônia era muito difícil pelas pressões dos vizinhos, em
especial os germânicos, que também eram católicos, e
teriam menos justificativas de invadir as terras polonesas
tendo sido o catolicismo adotado.
Além destes aspectos, a adoção do cristianismo
abriu as portas da Polônia para a herança cultural da
Antigüidade e da Europa Ocidental da época, com a vinda
de artesãos de outras regiões para a construção de catedrais
e prédios reais. Essa decisão política teve uma importância
fundamental para o
desenvolvimento da Polônia nos
ca mp os c ul tu ra l, p ol ít ic o e
econômico, ditando os rumos do
novo Estado. Mieszko I teve como
capital do seu reino a cidade de
Gniezno e teve um reinado sempre
muito preocupado com a conquista
de novas terras e expansão do seu
reino. Lutou contra os margraves
da Marca do Norte e combateu a oposição dos veletes9 e
volínios10, na Pomerânia Ocidental, mas em certos
momentos precisou buscar alianças, como com a Boêmia, e
mesmo prestar homenagem ao imperador germânico Oton
I do Sacro-Império, em 963. Mas aos poucos dominou
11
diversas regiões polonesas, como a Grande Polônia , a
12
13
14
Mazóvia , a Pomerânia e a Silésia .
Com a morte de Mieszko assumiu o Reino da
Polônia o seu filho Boles³aw I (992-1025), que continuou a
política de expansão e consolidação do reino iniciada pelo
pai. Aceitou de seu avô, o Duque da Boêmia, a cidade de
15
16
Cracóvia e incorporou a região da Pequena Polônia .
Também empreendeu guerras contra a Pomerânia, a
Rutênia e o Sacro Império Romano-Germânico. Em 1025,
pouco antes de sua morte, foi coroado Rei da Polônia pelo
10
Arcebispo de Gniezno, tornando-se
primeiro “rei” polonês, pois até esta data os
soberanos poloneses eram apenas Duques,
sem a coroa e o sinal de apoio da Igreja.
Por sua atuação enérgica foi
chamado de Chroby (bravo, valente). É
considerado por alguns autores como o
verdadeiro fundador do Estado polonês
por ser o seu primeiro rei, mas,
independente da formalidade, foi uma
figura de extrema importância na expansão
e consolidação da Polônia no início século
XI, seja através de conquistas ou de acordos
de paz, como o realizado com Henrique II
em Bautzen em 1018. Também assegurou
seus domínios através de laços familiares, como com
Sviatopolk, seu genro, grão-príncipe de Kiev. Boles³aw
também fortaleceu o cristianismo, com missões
apostólicas, numa das quais o bispo tcheco Wojciech,
em 997, foi assassinado na Prússia, sendo em seguida
sepultado em Gniezno e tornando-se santo (Santo
Alberto). No ano 1000 foi modificada a administração
da Igreja na Polônia, com arcebispado em Gniezno e
bispados em Cracóvia e Ko³obrzeg
Com a morte de Boles³aw I assume o reinado o
seu filho Mieszko II, mas este não tem um reinado à
altura do realizado pelo seu pai. Ele perde a coroa e
diversas regiões, como a Morávia, a Rutênia e a
Lusácia. Os tchecos saqueiam Cracóvia e Gniezno,
ocupando a Silésia. O reino se divide em áreas de
influência de diversos senhores e a Polônia reduz-se a
um Estado débil e descentralizado. Essa fragmentação
de poder, embora continue existindo a Polônia,
perdurará até o século XIII, quando o reino será
novamente unificado.
1
Em polonês o território (país) chama-se Polska e Polonia é
denominada a comunidade de poloneses e polono-descendentes que
vivem fora do território polonês.
2
Encontra-se algumas discussões sobre essa origem. Parece-nos mais
coerente a origem etimológica apresentada por Paulo Tomaz
Marmilicz, citada por Thaís Janaína Wenczenowicz. Roger Portal, no
entanto, traz a origem como “povo da planície”.
3
KOKUSZKA, Pedro Martim. Nos rastros dos imigrantes polobeses.
2 ed. Curitiba: Ed. Gráf. Arins, 2001, p. 1.
4
Rio que praticamente atravessa a atual Alemanha, na região oriental,
passando por Dresden e Hamburgo.
5
Odra (polonês): rio divisor entre a Alemanha e a Polônia, que
deságua no Báltico.
6
Wisla (polonês): rio que atravessa o país, passando por Varsóvia
(Warszawa) e deságua próximo a Gdansk, no Báltico.
7
Nome atribuído ao Duque legendário polonês que seria antepassado
de Mieszko.
8
A Boêmia atualmente pertence a República Tcheca.
9
Também citados como viletos por Jan Knieniewicz. Tribos que
habitavam as margens do Oder.
10
Tribos que habitavam o golfo de Szczecin, no noroeste da atual
Polônia.
11
Wielkopolska em Polonês. Região mais ao oeste da Polônia,
atravessada pelo rio Warta, onde se localiza a cidade de Poznan.
12
Região centro-oriental polonesa, onde se localiza a capital Varsóvia.
13
Região noroeste da atual Polônia, próxima ao Báltico.
14
Região sudoeste da atual Polônia, na fronteira com a República
Tcheca.
15
Kraków em polonês.
16
Ma³opolska em polonês. Região ao sul da atual Polônia, onde
localizam-se cidades como Cracóvia e Wieliczka.
Referências:
GARCEZ, Neusa Cidade. Colonização e Imigração em Erechim: a
saga das famílias polonesas (1900-1950). Erechim, 2003.
GIE£¯YÑSKI, Wojciech. La Cultura en Polonia. Varsóvia:
Interpress.
GIORDANI, Mário Curtis. História do Mundo Feudal:
acontecimentos políticos. Petrópolis: Editora Vozes, 1974.
KIENIEWICZ, Jan. Polônia: identidade de um país.
KOKUSZKA, Pedro Martim. Nos Rastros dos Imigrantes Poloneses.
2 ed. Curitiba: Gráfica Arins, 2001.
PORTAL, Roger. Os Eslavos. Lisboa: Cosmos, 1965.
WENCZENOWICZ, Thaís Janaína. Montanhas que Furam as
Nuvens: imigração polonesa em Áurea - RS - (1910-1945). Passo
Fundo: UPF Editora, 2002.
11
Heráldica
O que é Heráldica?
Por Leszek Celinski e Paulo Gilberto Geliski, pesquisadores.
A heráldica é uma arte que ensina
a criar e interpretar os brasões,
isto é, os símbolos da antiga
nobreza, que indicam as
genealogias, os títulos e a história
dos indivíduos, das famílias e das
nações. Na sua complexidade,
encerra grandes belezas e
testemunha todo o modo
de viver duma sociedade
desaparecida. Nas batalhas
travadas no período
medieval, a função do
brasão era de identificar o
aliado e o inimigo.
Pintados nos escudos, nas
bandeirolas e nos arreios
dos cavalos, impediam a
confusão certa, numa
época em que não era
comum o uso de uniformes militares padronizados, nem a
alfabetização era comum, e assim, os brasões preenchiam
essas lacunas de comunicação. Assim nasceu a heráldica,
antes de escrever com letras a humanidade escrevia com
símbolos.
As ilustrações que decoram os escudos dos
brasões representam as figuras que tiveram alguma relação causal
com a sua origem histórica. Se o fundador da linhagem se
distinguiu por um ato de bravura em ataque ou defesa bélica,
como prêmio, o rei concedia-lhe um brasão ornamentado com a
arma ofensiva (flechas, lanças, machados e espadas) usada na
ocasião; seteiras, torres, muros, portões blindados e similares
simbolizavam êxitos defensivos. Havia também distinções
nobiliárquicas concedidas aos protagonistas de episódios
extraordinários ocorridos em caçadas reais, eram memorizados
com figuras de animais selvagens. Ferimentos graves sofridos por
combatentes audazes apareciam ilustrados no escudo sob a forma
de partes do corpo humano atingidos pela injúria. Plantas,
animais domésticos e mitológicos, cruzes, ferramentas, figuras
geométricas e eventualmente, suas combinações, tinham motivos
factuais com as atividades locais, militares, econômicas, religiosas
e sociais da época. Reconstruindo assim, o sentido de uma
multiplicidade de imagens retratando ações, lendas, superstições,
dinastias, triunfos e derrotas. A mistura de regras que consentem
adentrar-se nesse mundo de emblemas, que é à base daquela que
por séculos foi considerada uma ciência por excelência, chamada
heráldica.
A Heráldica Polonesa
Na Polônia medieval existiam brasões pioneiros e o
seu surgimento está relacionado com a organização militar. As
unidades militares eram constituídas por membros de um clã
ou moradores de uma região territorial. Mas nem todos os
combatentes dispunham de recursos para custear
dispendiosas armaduras. Em troca do armamento, alistavam-
se e combatiam junto aos benfeitores, adotando também o
brasão do comandante, que passava a ser também o de seus
descendentes. Esse costume, diferentemente de outros países
europeus, fez com que cerca de 10% da população fosse
constituída de indivíduos blasonados.
Os costumes heráldicos na Polônia eram semelhantes,
mas não idênticos aos demais povos europeus, havia brasões
de clãs que abrigavam até centenas de linhagens familiares,
cada uma com o seu próprio sobrenome, distinto dos
sobrenomes das demais linhagens, devido ao sistema
patrilinear e patriarcal que era adotado pelos antigos eslavos.
O sistema preconizava que os descendentes masculinos
herdavam o sobrenome, o patrimônio e as dignidades
existentes. Projetado no tempo, esse sistema formava
inicialmente a linhagem e depois, quando o grau de parentesco
se afastava, tornava-se um clã. A perda dessa relação de
parentesco os tornaria estranhos entre si os membros do clã, o
que foi evitado, justamente pelo uso de um escudo.
Providência indispensável em época de guerra, uma vez que os
clãs constituíam unidades militares separadas. Há casos onde
os sobrenomes homônimos têm brasões diferentes.
Não existia na Polônia uma hierarquia feudal como
nos países ocidentais, onde um brasão pertencia somente a
uma pessoa ou família, na Polônia era o contrário, famílias
com sobrenomes diferentes pertenciam ao brasão do seu
respectivo clã. A ideologia da igualdade social entre os gentis
homens poloneses era muito forte, mesmo que alguns dos
blasonados fossem bem pobres. Mas seus direitos civis e
políticos, respeitados e defendidos até com sangue. O
tratamento comum entre eles era de "Senhor Irmão" e o seu
código de honra freqüentemente citado. Na extinta nobreza
polonesa todos os cavaleiros eram considerados iguais. O Rei
era considerado o primeiro entre os iguais. Um cavaleiro podia
ter várias propriedades, mas ele era igual ao cavaleiro pobre,
que tinha apenas a sua espada presa à cintura por um simples
pedaço de corda. A coragem era a principal arma de um
cavaleiro e a fé a sua proteção divina.
12
O brasão apresentado a
seguir, curiosamente é mais que
milenar. Segundo as crônicas, um
príncipe polonês entre os anos 805
a 815 d.C, chamado Leszek III teve
quatorze filhos, escolheu um deles
como seu sucessor e para assegurar
solidariedade entre todos, atribuilhes como brasão comum, a figura
mitológica de um grifo meio leão,
meio águia simbolicamente
determinando que todos os seus
filhos devem ser valentes como
leões mas ao mesmo tempo,
seguirem a liderança do irmãosucessor, representado pela águia.
O brasão seguinte é do
século XII. Durante uma batalha
havida naquele tempo, um
guerreiro polonês chamado Do³ega
flechou mortalmente o comandante
dos inimigos que em vista disso,
foram facilmente dominados. Como
o herói já possuía um brasão com
uma asa perfurada por uma flecha, a
nova façanha foi incluída no brasão
anterior, representada por uma
flecha dirigida para baixo.
A terceira ilustração é do
século XIV. As três barras
horizontais representam três leitos
de rios da Hungria: o Sava, o Drava e
o Danúbio, o que revela a origem
magiar do brasão; o cão eu o encima
é uma lembrança de um líder, cujas
ações fizeram com que fosse
apelidado de cão pelos seus súditos
e eu oi derrubado pelo guerreiro
que era portador o brasão dos três
rios.
Como podemos observar, o
brasão era o principal símbolo de
status dessa classe de pessoas.
Devido àqueles costumes heráldicos
poloneses já citados, às vezes
centenas de famílias de sobrenomes,
tinham direito ao idêntico brasão.
Os brasões poloneses catalogados
até os dias de hoje, dão uma idéia da
quantidade de pessoas com
sobrenomes polacos - geralmente
terminados em "ski", "cki" e "icz" - que
têm origem fidalga. Segundo alguns
estudiosos do assunto, a terminação
"ski" e "cki" em sobrenomes eram
adotadas pelos proprietários rurais,
enquanto que a terminação em "icz"
completava os dos proprietários urbanos.
Dessa maneira moldou-se a origem e a
formação de "famílias" ou "casas" de
indivíduos consangüíneos os diretamente
agregados a determinados brasões
suseranos, base da genealogia.
Até aproximadamente o século XV, em
época de guerra, todos os indivíduos
masculinos em idade hábil e membros de
um clã, constituíam unidades militares
próprias que eram identificadas pelos
escudos. Na maioria dos países europeus,
cada família fidalga era dona de um brasão
próprio. No caso de batalha, não era tão
fácil lembrar-se de todos os aliados, a não
ser que se conhecessem as centenas de
brasões amigos. Um verdadeiro quebracabeça até para um especialista em
semiótica!
A Heráldica de qualquer país faz parte de
sua herança cultural. Estudá-la e conhecê-la
é desvendar o patrimônio social da nação.
Entre os eslavos, os brasões poloneses são
aqueles que os melhor representam, haja
vista que são os que têm a mais antiga e a
mais bem consolidada cultura européia
ocidental.
As mudanças geopolíticas européias
trouxeram ao Brasil muitos descendentes
de seculares de famílias heráldicas
polonesas. Desde 1869, seus herdeiros se
expandiram e formaram o que se
convencionou chamar de Colônia Polonesa
no Brasil.
Os brasões foram símbolos muito
marcantes na Polônia medieval, e por que
não dizê-lo, continuaram sendo até os
nossos dias. Claro, hoje, mais por uma
sensação do status histórico assegurado
pelos ascendentes que consolidaram e
perpetuaram a linhagem ou clã. Mesmo
considerando que alguns daqueles fidalgos
se pauperizaram diante das vicissitudes
fatalisticas da história. Aliás, os fidalgos
portugueses que vieram para colonizar o
Brasil, estavam em condições equivalentes.
Todavia, as origens permaneceram,
obviamente, inalteradas, o que permite
supor que a maioria dos descendentes dos
poloneses, seja no Brasil, seja em outros
países, tem o direito histórico ao brasão da
estirpe.
13
Localidaes
Lá ainda se fala em polonês
Santo Antônio do Palma - Os Cárpatos
Próximo aos municípios de Casca e São
Domingos, no planalto gaúcho, existe uma pequena
cidade chamada Santo Antônio do Palma, ou
simplesmente Palma. Lá, vivem famílias de descendentes
de poloneses que conservam tradições e costumes. Uma
localidade na região tem o nome de Cárpatos, repleta de
morros verdejantes, onde pelo caminho cruzamos com
gente loira, de olhos azuis e que fala polonês.
Dentro desse recanto há uma casa ricamente
decorada com motivos poloneses. Já foi alvo de
reportagens e é uma referência em ter mos de
casas típicas polonesas no sul do Brasil. Nela
moram os Grochot. Gente que lida com a terra e
cuida de preservar a herança de seus
antecessores.
O responsável pela paróquia do Palma é o
padre polonês Zbigniew Perdion. Numa visita de
sua irmã à cidade, foi recepcionada na casa dos
Grochot. Halina Perdion registrou suas
impressões num artigo intitulado Dom w Kwiaty
Malowany (casa vestida com flores pintadas),
publicado na Polônia. Aqui temos a tradução do
texto, feita por Ágata Grochot e família, que nos
dá uma boa noção desse recanto polonês no sul
do Brasil.
Fantástico foi o meu encontro com a
polonidade visitando a família Grochot, no interior de
Santo Antônio do Palma. Nas terras montanhosas
enxerga-se de longe a casa azul pintada com flores
coloridas.
Quando entramos para dentro os olhos não
podem encontrar um lugar que não se identifique com a
cultura polonesa. As paredes são pintadas com flores
coloridas, assim como antigamente se pintava na região de
Lublin, enfeitados com wycynanki das regiões de Kurpie
e Kujawiak; no teto da sala pendem correntes feitas à mão,
assim como os montanheses penduram nas suas festas.
Todos esses elementos foram confeccionados por Ágata
e os membros da casa.
Na casa há uma alegre e sincera atmosfera; de
cada canto exala a polonidade. O marido brasileiro de
Ágata admira nossa cultura, o qual, junto com seus filhos,
canta em polonês e através dos wycinanki, faz galos
característicos da região de Kurpie.
Isadora e Lucas, os filhos de Ágata adoram cantar
e estão fascinados pelas coisas polonesas. Gostam muito
de ver os desenhos poloneses (przygody, kozio³ka,
mato³ka).
Na parede da sala tem um grande quadro da
Polônia e Isadora me mostra as cidades polonesas que
tem brasão. Com grande honra, mostra para mim os
Montes Cárpatos (Karpaty). E na Escola também
mostraram os Montes Cárpatos para seus colegas, para
que todos saibam de onde procede o nome, pois uma vez
se dava risada chamando quem morava nos Montes
Cárpatos de carrapatos.
O Lucas me traz o Elementarz de Marjan Falski,
no qual eu também aprendi a ler. E com grande
admiração (fiquei com lágrimas nos olhos), assisti a ele e
seu pai lerem a palavra “escova” em polonês. E, apesar da
dificuldade da pronúncia, continuam lendo.
Pergunto a Ágata como aconteceu que, dentro
dela surgiu um amor tão grande pela Polônia. E como ela
Tadeu Vilani
imaginou e conseguiu pintar e transformar assim a sua
casa. Ela me fala de seu avô João que, já nascido aqui,
tinha um imenso amor à pátria de seus pais e este amor ele
demonstrava através de seu violino. À tardinha, depois
dos trabalhos, seu avô sentava na área da casa e cantava
lindas canções polonesas.
Ágata me diz que este amor acordou em seu
coração e ela começou a pesquisar e encontrou muito
material. Seguindo os passos dos antepassados poloneses,
ela começou a pintar e assim aconteceu.
Hoje, as pessoas vêm de muitos lugares visitar a
sua casa. Na Escola onde seus filhos estudam, Ágata
procura aproximar a Polônia das crianças, falando para
elas sobre o País de seus antepassados e mostrando-lhes a
beleza da cultura polonesa.
Os pais de Ágata me contam que os antepassados
deixarama língua e os costumes aos filhos também por
causa dos padres, que com sua sabedoria e dedicação
sempre ajudaram muito.
Dona Vanda (mãe da Ágata) mostra para mim
fotos de seus avós, e os padres, os quais levavam a fé,
esperança e polonidade para os seus descendentes. E eles
faziam vários quilômetros a pé, andando de mulas ou
cavalos. Apesar de ultimamente as capelas usarem a
língua portuguesa, ainda os poloneses rezam em sua
língua , como disse-me uma senhora:
“Eu sempre rezo em polonês porque parece que Deus
me entende melhor na minha língua.”
14
Notícias
Eleita nova Krakowianka
Com a participação de 580 pessoas vindas de
quatorze cidades gaúchas, foi realizado no dia 01 de
setembro, o Jantar Típico Polonês e a escolha da
Krakowianka e suas Królewnas, em comemoração ao
XIV ano de fundação da BRASPOL de Bento
Gonçalves e dos 132 Anos de Imigração Polonesa no
RS. A imigração polonesa começou em 1875 na Linha
Azevedo de Castro, interior do atual município de
Carlos Barbosa. A polonesa Joanna Podgónska, que
está hospedada em Porto Alegre e veio prestigiar o
evento, reside em Wroclaw, sul da Polônia, ficou
Fotografias Helena
encantada com tantos trajes típicos que, na Polônia, só 1ª Królewna Ana Paula Donis - Krakowianka Daiana Kriger e 2ª Królewna Gabriela Belitzki
tinha visto no Museu Etnográfico.
manhã.
Entre as atividades propostas para o
O jantar típico polonês foi servido com
próximo ano, estará a realização de uma pesquisa sobre a
tranqüilidade e as pessoas puderam saborear algumas
culinária polonesa entre os seus descendentes e,
iguarias da culinária polonesa, como a sopa de legumes,
posteriormente, a publicação de um livro.
pernil de porco assado, batatas a vapor, "pierogi" (pastéis
recheados com requeijão ao molho branco - um dos Mauro César Noskowski
pratos mais conhecidos da culinária polonesa e que já Diretor de Cultura
encontramos em alguns restaurantes de Bento
Neiva Salete Lavandoski
Gonçalves), seguidos por almôndegas gratinadas, maçãs
Presidente - Braspol Bento Gonçalves
ao forno, saladas diversas e tortas de maçã.
O grupo de cantos da BRASPOL levou muitas
pessoas a se emocionar quando da entrada do quadro com
a foto de Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II, momento
em que a pequena Bárbara Gromowski cantou “Szla
Dzieweczka”.
Com o comando da BRASPOL - POA, o Espaço
No final da apresentação a pista ficou pequena, Internacional da 53ª Feira do Livro de Porto Alegre, um dos
com a integração dos convidados, grupos de canto e de mais importantes eventos literários da América Latina, teve
toda equipe da cozinha, composta na sua maioria por a presença das letras polonesas.
integrantes da diretoria da BRASPOL.
Títulos poloneses, brasileiros, pesquisas e estudos
A escolha da nova "Krakowianka" foi outro publicados estiveram disponíveis ao público da feira. Na
momento de muitas emoções, onde Daiana Kriger da tarde do dia 08 de Novembro, ocorreu a sessão de
cidade de Áurea, foi coroada como Krakowianka autógrafos conjunta dos autores Pedro Kokuszka, Vitor
2007/2009 (Rainha), substituindo Janine Klucznik de Kozlowski e Aidê Dill.
Bento Gonçalves. Ana Paula Donis Bueno de Erechim,
ficou como 1ª Królewna (Princesa), substituindo Silvane
Kolesny Podel de Porto Alegre e Gabriela Belitzki, de
Cotiporã, como 2ª Królewna, substituíndo Tauana
Gromowski Campagnollo de Caxias do Sul. O próximo
concurso será realizado em 2009, na Cidade de Áurea.
(51) 8198-7068 / 9833-2034
O baile, animado por Ignácio Arend de Jaraguá do
Particulares ou em Grupos
Sul, enalteceu com músicas polonesas e também em
outros idiomas, animando os convidados até às 2 horas da
Feira do Livro em Poa
Aulas de Polonês
Leonardo Kolesny
15
Literatura
Um trem atravessa lento e pesado a ferrovia
Transiberiana, em 1918. O valor da carga é
inestimável: 500 toneladas de ouro, correspondendo
a todo o tesouro dos Romanov. A operação
é mantida em sigilo absoluto pelos bolcheviques,
mas agentes dos serviços secretos de vários
países conseguem se infiltrar no comboio. Russos
brancos, ingleses, franceses, japoneses, americanos,
todos sonham em por as mãos no ouro.
Apresentando uma galeria de personagens
inesquecíveis, o Trem de Ouro reconstrói com
maestria a atmosfera da Rússia pós-revolucionária,
em um delicioso romance histórico.
O Autor
O Tradutor
Tomasz Barcinski nasceu em
Varsóvia, em 27 de agosto de 1936. Passou
toda a Segunda Guerra Mundial como os
seus pais, na Polônia. Tanto o seu pai,
quanto a sua mãe, fizeram parte da
Resistência, dentro dos quadros da Armia
Krajowa (AK).
Assim que a guerra terminou os
pais de Tomasz decidiram emigrar para o
Brasil, chegando ao Rio de Janeiro em
fevereiro de 1947. Fez os estudos no Brasil
e Estados Unidos especializando-se em
engenharia industrial.
Ao se aposentar em 1999, foi
contatado pela maior editora brasileira, a
Editora Record, para traduzir para o
português o livro "Querido Franz", de Anna
Bolecka. Traduzido em 2001 e editado em
2002, o livro abriu para Tomasz uma
ocupação para o resto da vida. Assim
sendo, começou a peregrinar entre as
editoras, oferecendo-se para traduzir
outros livros poloneses.
A tarefa revelou-se difícil. As
editoras brasileiras não estão interessadas
na literatura polonesa e não sabem nada a
seu respeito. No entanto, não se dando por
vencido, Barcinski conseguiu convencer a
Editora Record para que o contratasse para
traduzir o livro "O Pianista" de Wladyslaw
Szpilman, argumentando que o livro seria
um sucesso editorial, já que Roman
Polanski estava rodando um filme baseado
no mesmo. E, com efeito, o livro, editado
em maio de 2003 (junto com o lançamento
do filme nas telas brasileiras), foi um
sucesso de vendas, com cinco edições e
tendo figurado na lista dos mais vendidos
por 16 semanas consecutivas.
Desde o início o sonho secreto
de Tomasz Barcinski foi o de traduzir a
Miroslaw M. Bujko, tem 56 anos é musicólogo, doutor em
ciências humanísticas e chefe do Instituto de Comunicação
Social da Escola Superior de Comunicação e Mídias Sociais
Jerzy Giedonyc, em Varsóvia. Em 2003 estreou no mundo literário
ao publicar “O Livro dos Feitos”. Recentemente participou da
Jornada de Literatura de Passo Fundo e esteve em Porto Alegre
para uma palestra, no mês de setembro.
Atualmente, está escrevendo um novo livro, “A Ilha das Vespas Gigantes”.
A editora Record vai publicar “O Touro Vermelho”.
Traduções Feitas por Tomasz Barcinski
Ano da
Autor
Edição
A)
Já editadas
2002
Anna Bolecka
2002
Ryszard Kapuscinski
2003
Wladyslaw Szpilman
2004
Henryk Sienkiewicz
2005
Henryk Sienkiewicz
2005
Ryszard Kapuscinski
2006
Witold Gombrowicz
2006
Henryk Sienkiewicz
2006
Ryszard Kapuscinski
2007
Miroslaw Bujko
2007
Witold Gombrowicz
Título original
Título em
português
Editora
Kochany Franz
Heban
Pianista
Ogniem i Mieczem
Potop
Cesarz
Ferdydurke
Pan Wolodyjowski
Podróze z Herodytem
Zloty Pociag
Kosmos
Querido Franz
Ébano
O Pianista
A Ferro e Fogo
O Dilúvio
O Imperador
Ferdydurke.
O Pequeno Cavaleiro
Viagens com Heródoto
O Trem de Ouro
Cosmos
Record
Cia. Das Letras
Record
Record
Record
Cia. Das Letras
Cia. Das Letras
Record
Cia. Das Letras
Record
Cia. Das Letras
b)
2007*
2008*
Já traduzidas e em processo de revisão
Ryszard Kapuscinski
Wojna Futbolowa
Miroslaw Bujko
Czerwony Byk
A Guerra do Futebol
O Touro Vermelho
Cia. Das Letras
Record
c)
2008*
Em processo de tradução
Boleslaw Prus
O Faraó
Record
d)
2006
2006
Revisões Técnicas (já editadas)
Norman Davies
Rising '44
Letícia Wierzchowski
O Levante '44
Uma ponte para Terebin
Record
Record
Pornografia
Carreira de N. Dyzma
Cia. Das Letras
Record
e)
a serem contratadas
2008*
Witold Gombrowicz
2009*
Dolega-Mostowicz
* Previsão
Faraon
Pornografja
Kariera N. Dyzmy
"Trilogia" de Sienkiewicz. Tendo isto em mente e sob
os auspícios da Editora Record e dos consulados
poloneses de Rio de Janeiro e São Paulo, proferiu
palestras naquelas cidades, intituladas "Por que a
literatura polonesa é tão pouco conhecida pelos
brasileiros?". Graças a estes esforços, A Editora Record
concordou em editar a Trilogia: "A ferro e fogo" , "O
Dilúvio" e "O pequeno cavaleiro". Para estimular os
leitores brasileiros, Tomasz proferiu um novo ciclo de
palestras, desta vez não somente no Rio e em São
Paulo, mas também em Curitiba e Porto Alegre, sob o
título de "O resgate de Henryk Sienkiewicz - Prêmio
Nobel de 1905".
Os esforços de Tomasz Barcinski em
difundir a literatura polonesa no Brasil foram
reconhecidos pelo governo polonês, e o Presidente da
República agraciou-o com a Medalha de Honra ao
Mérito do Governo da República da Polônia.
Para saber mais sobre livros poloneses consulte www.roeditores.com.br
16
Literatura
Uma ponte para Terebin é um dos mais
recentes livros da escritora gaúcha Letícia
Wierzchowski. Juntamente com Cristal Polonês e
O Dragão de Wawel escrito em parceria com
Anna Klacewicz formam uma trilogia polonesa.
Letícia é neta de poloneses. Seu avô, Jan
Wierzchowski, personagem central do romance,
participou de um episódio pouco conhecido,
mas de conotação romanticamente patriótica: a
ida de imigrantes poloneses radicados aqui no
Rio Grande do Sul como voluntários do Exército
Polonês na II Guerra Mundial. Além dos detalhes
da II Guerra, o livro traz o cotidiano das famílias
polonesas na Polônia e as emigradas, no Brasil.
O livro dá uma visão bastante real dos
fatos ocorridos há mais de sessenta anos. Para isto,
Letícia apoiou-se em documentos, cartas, fotografias
e depoimentos de quem viveu aquele conturbado
período .
Do meu avô polonês
Eu ouvi muitas histórias ao longo da infância sobre
meu avô Jan. Que era um homem justo, corajoso, irascível,
bom no pôquer, grande apreciador de vodka e de
mulheres. Que tinha vindo da Polônia no final da década
de 30 com uma mão na frente e outra trás, e que aqui, a
despeito de todas as dificuldades que um jovem imigrante
polonês que não dominava uma palavra do idioma
local poderia ter, Jan Wierzchowski venceu na
vida, tornando-se um construtor de sucesso.
Foram, literalmente, obras suas alguns dos prédios
do campus da UFGRS na Agronomia, o prédio
dos Correios no centro da cidade, e o Teatro
Leopoldina (hoje teatro da Ospa), muito embora
ele tenha morrido ainda completamente confuso
com as próclises e mesóclises, com os verbos e
substantivos da nossa língua portuguesa.
Foi na década de 50 que ele comprou um
carro e, sem saber dirigir, saiu da sua casa no bairro
Higienópolis e seguiu em frente. Desceu a
Marcelo Gama e a Benjamin Constant e cruzou
direto sobre os trilhos do bonde, porque não sabia
usar o freio do bendito automóvel. Depois, com o
tempo e com sustos repetidos, Jan instituiu
algumas elegâncias na sua vida motorizada:
contratou um vigia noturno talvez o primeiro vigia
de bairro da cidade de Porto Alegre. Esse vigia
tinha incumbência de fechar a porta da garagem quando o
carro de Jan chegava. Porque meu avô entrava, da rua, na
garagem. Direto. Sem pisar no freio. O carro parava
quando batia na parede e apagava. Dizem as tias que meu
avô apagava ali também. Depois de alguma vodka,
freqüentemente dormia dentro do carro. Minha avó então
descia na pontinha dos pés para cobri-lo com uma manta
enquanto o vigia noturno cerrava as portas sem fazer
nenhum ruído. Bucólico, não? E prático, tirante a parede
Assim como a história da
Polônia, Uma Ponte para Terebin é
permeado pela emoção,
dramaticidade e decisões fortes.
Ao es cr ev er um li vr o
homenageando seu avô, Letícia
traz à luz um rico naco da história
gaúcha, quando os olhos dos filhos
de além mar (independente da
etnia), viraram-se apreensivos em
direção à pátria de origem e o
mundo em suspenso, parecia
prestes a ruir.
Letícia está participando
da primeira edição da Revista do
Cekaw com uma crônica publicada no jornal Zero
Hora, nos contando um pouco mais do seu avô polonês.
Boa Leitura!
da garagem, que com o tempo passou a ter ares de uma
caverna escalavrada.
Mas apesar dos perigos de dirigir meio alto e com um
grande desconhecimento do uso do freio, só uma vez um
poste cruzou a frente de Jan, e ele não conseguiu chegar em
casa como de costume, deixando seu guarda-noturno e sua
esposa muito angustiosos. Mas também, naquele tempo em
Letícia Wierzchowski autografa para alunos
que uma centena de carros rodava a cidade inteira e que só se
roubavam galinhas, creio que ninguém vaticinou uma grande
tragédia. E não houvera mesmo. Para um homem que tinha
conhecido as duas grandes guerras mundiais e lutado na
linha de frente da segunda delas, um poste era inimigo fácil.
Acho até que meu avô voltou caminhando para a casa, mas
sempre posso estar imaginando coisas.
17
Curiosidades
Como Eram os Antigos Banquetes Poloneses?
Por Leszek Celinski, historiador e pesquisador
Os banquetes poloneses caracterizavam-se pela
abundância de comidas e bebidas. Eram geralmente
promovidos para festejar casamentos, batizados, mas
principalmente datas onomásticas (dia em que o nome da
pessoa coincide com o do santo que a igreja católica celebra).
É que na Polônia, desde tempos imemoriais até os dias de
hoje, não se tem comemorado aniversários de nascimento,
mas se realizavam inesquecíveis banquetes no dia do santo
do nome da pessoa. Assim, aquele que se chamasse, por
exemplo, Romualdo, tinha a sua ruidosa e etílica festança
programada, todos os anos, para o dia 19 de junho, que é
justamente o dia de São Romualdo.
Cena do filme Ogniem i Mieczem
As mesas eram dispostas em forma de ferradura
cobertas com toalhas brancas. Homens sentavam de um
lado, mulheres de outro ou em mesa vizinha. Elas só
participavam de primeira parte do banquete, antes que fosse
servido o vinho. Sobre a mesa, travessas e pratos, mas sem
talheres. Esses eram pessoais, portanto, trazidos pelos
próprios convidados.
Comia-se com vontade. As carnes com abundantes
molhos. Muitos pratos diferentes eram servidos.
Adicionavam-se muitos e variados temperos.
Um cardápio de 1582 relata:
O primeiro prato consistia em carne
de frango e pavão assados com alho,
vinagre e pimenta; lombo de cervo e
pão de forma. Como segundo prato
era servido carne de caça temperada
com açúcar de confeiteiro e
amêndoas, carne de carneiro inglês
com molho escuro, uma bebida feita
com leite fervido e gema de ovo,
pastéis, alho, frango ao vinho grego
doce. O terceiro prato era composto
de carne de frango com molho verde açucarado, lagostim à
manteiga com pimenta, bolos e doces. A cerveja
acompanhava todos esses pratos. O vinho era servido após,
quando as mulheres se retiravam, porque o banquete
geralmente terminava em homéricas bebedeiras.
A cerveja era usada na Polônia para reanimar-se e
matar a sede, e feita em casa pelas mulheres. Mas
diferente da atual: mais fraca, de cor verde-pálida e
espumante no copo. Servia-se também essa cerveja
artesanal como a primeira refeição do dia, mas aquecida e
acompanhada de cubinhos de pão tostado e pedacinhos
de queijo branco.
Até o século XVIII, a vodka era inserida
principalmente com fins terapêuticos e cosméticos.
Obtinha-se da destilação de plantas e frutos diversos. A
utilização de cereais, ainda no século XVI, dotou-a de
elevado teor alcoólico e abriu caminho ao modo e à
intensidade de consumo atual.
Bebia-se também o hidromel, uma bebida
alcoólica adocicada de remota origem escandinava.
Resultava da adição de temperos ao mel e da fermentação,
adquirindo, depois de alguns anos de repouso em barricas
de carvalho, um alto teor alcoólico. Tomado, ao invés de
"subir" à cabeça, "descia" para as pernas, diziam seus
adeptos.
O café, como bebida, surgiu na Polônia a partir do
século XVII e no século seguinte, tornou-se bastante
popular.
O tabaco aportou na Polônia em 1590. Suas
folhas eram mascadas, inaladas com rapé e postas em
cachimbos. Um rei polonês, Stanislaw Leszczynski (1677 1766), chegava a fumar mais de "trinta cachimbadas" por
dia. Faleceu com o dito na boca. Os malefícios da nicotina
já eram apregoados desde o final do século XVIII.
E o vinho? A importação maciça deu-se a partir
do século XVI e prosseguiu até tornar-se, nos séculos
XVII e XVIII, a bebida alcoólica mais consumida na
Polônia. O vinho era comprado na Itália, França,
Espanha, Grécia, Creta e com acentuada preferência, da
Hungria. Considerava-se o vinho como bebida nobre e
saudável. A embriaguez causada pelo vinho não era
constrangedora. Por isso era tão apreciado e tão
livremente consumido em banquetes pelos convivas
masculinos, que varavam a noite e, não raras às vezes, se
engalfinhavam em igualmente homéricas contendas
fidalgais.
E a água? A água como bebida era detestada.
Diziam a respeito: "Animalia aqua, homini vino bebunt"
(Os animais bebem água, os homens, vinho).
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