BRUNO AGOSTINI (EMAIL) Publicado: 12/04/14 - 21h06 RIO - “Nasci em uma pequena cidade da Borgonha. Em 1980 fui para o Uruguai, onde abri meu primeiro restaurante. Em 1982, eu já inaugurava outro em Punta del Este. Na França, pegava rã, e minha avó preparava, com muito alho. Hoje, este é um dos pratos que me dá mais prazer. Sem dúvida, uma homenagem a ela” Conte algo que não sei. Quando vim pela primeira vez para a América do Sul, há mais de 30 anos, parei no Rio de Janeiro. Do aeroporto vim direto para este hotel, e fiquei hospedado aqui. Agora eu estou aqui novamente, comandando a cozinha, muito feliz de estar no Rio de Janeiro, e no Brasil. Coisas do destino. A gastronomia brasileira reflete bem as nossas características? A cozinha reflete muito bem a grandeza do país. Fico contente porque o Brasil ama a França, exceto no futebol, claro. E o Brasil gosta da França por causa da comida, dos vinhos. Quando chegaram os primeiros chefs franceses no país, no fim dos anos 1970, eles tiveram uma importante participação nesse processo de renovação da cozinha do país. O Alex Atala, por exemplo, tem formação francesa e explora os ingredientes nacionais, com ênfase na Amazônia, usando muita coisa ainda pouco conhecida. São novas fronteiras, novas descobertas. Assim como ele, muitos outros fazem isso. Essa nova cozinha brasileira tem alma, tem coração e originalidade, com um repertório de ingredientes ilimitado. O único problema é a manteiga. Não sei por quê, mas a manteiga brasileira é muito ruim. Você fala muito de amor quando se refere à cozinha... A cozinha não é uma religião, ou apenas um ofício, é um ato de amor, um elemento de sedução, uma inspiração erótica. Quando um homem cozinha para uma mulher, ou vice-versa, ele está sendo sedutor. Isso é lindo. É seduzir sem tocar. É fazer carinho nas entranhas. É cuidar, é respeitar, é viver. O mercado de cozinheiro anda na moda. Que conselhos você daria para um jovem que deseja entrar neste concorrido mercado? Que só faça da cozinha uma profissão se for por amor. Parece clichê, mas não é. O trabalho de um chef é duro, mas se torna leve e prazeroso se for feito com prazer e amor. É como uma relação entre duas pessoas. A sua mulher pode ser uma pessoa insuportável, mas, se você amá-la de verdade, vai suportar. O amor é cego. Sem falar que a cozinha é o prazer número 1 da Humanidade. Podemos até viver, muito mal, sem amor, mas não sem comida e bebida. Como os vizinhos enxergam o Brasil atual? O Brasil é um grande país, forte, com uma gigantesca importância regional e que vem se reinventando nos últimos anos. O brasileiro acredita no país. Quais são os seus pratos prediletos? Gosto das coisas mais simples. O tempero do alho, como se faz em Portugal, e de pratos como um belo filé ao molho béarnaise com purê de batatas, ovo frito... Simplicidade. Gosta de futebol? Vem para a Copa do Mundo? Não sou dos maiores entusiastas. Prefiro rúgbi, acho mais nobre. Mas o Mundial é um evento à parte. Nunca fui a um estádio nem no Brasil nem na Argentina. Mas gostaria de ver a final da Copa, no Maracanã. Imagine como seria lindo Brasil e França se enfrentando? Um francês que tem restaurantes no Uruguai, na Argentina, no Chile e no Brasil vai torcer para quem? Que vença o melhor, sem hipocrisia. Que faça uma campanha merecedora. Seria lindo o Brasil vencer, mas tem que merecer, jogar bonito. Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algoque-nao-sei/a-cozinha-uma-inspiracao-erotica-garante-chef-frances12181507#ixzz2yzIXPB60 © 1996 - 2014. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.