Nossa comunidade começou a se formar em 1986, quando éramos aproximadamente 30 famílias; Os terrenos em área de preservação nos foram vendidos por nativos da região e por um estrangeiro, que cercou uma determinada faixa de areia da região e passou a comercializá-la; Até 1996, havia na área 89 A famílias na Vila; partir dessa data, a vinda de novos moradores se intensificou com a grande demanda de mão de obra na construção civil. As famílias continuaram a comprar seus terrenos na Vila. Não havia mão-de-obra local que desse conta das obras dos hotéis, condomínios, etc. que surgiam nos Ingleses; É importante ficar claro que os moradores da Vila não invadiram as dunas; eles compraram os terrenos próximos as dunas; A construção civil, o comércio, o serviço doméstico contrata por salários muito baixos que não são suficientes para que os trabalhadores possam ter uma moradia digna; O setor privado emprega em Florianópolis em média por 1 salário e meio e, segundo o IBGE, em Santa Catarina a falta de moradias dignas ocorre para as famílias que ganham menos que 3 salários mínimos; Assim, como podemos resolver isso? Se estamos nesse grupo dos que recebem menos que 3 salários? Podemos ter esperança que o setor privado nos pagará o suficiente para podermos morar bem? Nós investimos as nossas economias neste local que não possui infra-estrutura como água, luz e rua calçada; Porém, as dunas começam a se movimentar em direção as nossas casas; os problemas de respiratórios,alergias etc.); saúde se agravam (problemas A comunidade começou a sofrer preconceitos por morar sobre as dunas, por ser pobre e não poder construir uma bela casa como a maioria que vive no entorno; A comunidade no entorno da Vila (rua do Siri) e muitas propriedades no nosso distrito estão em área de preservação, seja sobre dunas, seja na margem dos rios; Porém nem todos sofrem preconceitos, ainda que morando em áreas de preservação e estando ilegais; se a lei valesse para todos, mais de 60% das propriedades do distrito seriam atingidas; Muitos ilegais não se acham ilegais porque possuem casas de alvenaria, com azulejos e jardins... Confundem a ilegalidade com a pobreza e a precariedade das moradias; Em 1998, sofremos a primeira denúncia aos órgãos ambientais por habitarmos sobre as dunas. Até Paulo Afonso Vieira passou por aqui e disse que tomaria providências. Nada aconteceu! Em 1999, o Ministério Público Federal encaminhou à Prefeitura a recomendação 010/99. Ela visava a adoção de providências administrativas e/ou judiciais,fixando um prazo de 90 dias para informar à Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão sobre as medidas determinadas; Em 1999, o Departamento de Desenvolvimento Social do Município realiza levantamento sócioeconômico, indicando a existência de 127 casas e uma população de 438 habitantes; Somente 2 anos depois, em dezembro de 2001, o levantamento sócio-econômico é despachado pelo então Gerente de Habitação para encaminhamento à FLORAM. No despacho, a remoção das famílias é apresentada como alternativa, entretanto, não há previsão de recursos orçamentários no município para tal fim; Em 2003 a comunidade já está com 210 famílias, 791 pessoas; A comunidade cresce, os problemas aumentam, e cada dia que passa fica mais difícil resolver... Promessas e enganações por parte do poder público. Eles nos visitam, fazem levantamentos, estudos, mas solução que é bom, nada. E a areia continua entrando nas nossas casas. Em 2004 entra a nova gestão da Prefeitura, tudo de novo, novamente a comunidade e lideranças trabalham em busca de soluções; Foi realizada a primeira Audiência Pública sobre a Vila do Arvoredo na Câmara de Vereadores em dezembro de 2004. Estavam presentes todos os órgãos que poderiam dar uma solução para a comunidade. Começamos a acreditar que agora encontraríamos a solução; Novo Estudo: A Prefeitura contrata um especialista em dunas, Prof. Bigarella, a fim de verificar se existiria a possibilidade de reurbanizar a área. Resultado: A comunidade não pode permanecer no local por ser uma área de risco. A areia continua se movendo muito rápido, e se continuar assim, em menos de 20 anos ela chegará na praia. Todo o investimento será desperdiçado. Com os financiamentos do Ministério das Cidades e outros parceiros, existe verba para o reassentamento das famílias para outro local por meio de um projeto habitacional; Falta “só a terra”; Como se fosse simples! Aprendemos na pele o que significa em Florianópolis o acesso à terra! Assim, todos os envolvidos neste processo se mobilizam para buscar uma área adequada para a comunidade. A busca era por terrenos públicos, pois a Prefeitura não “dispõe” de verba para pagar o preço da terra em Florianópolis; 1ª alternativa – Local: Rio Vermelho – terreno público – cerca de 44.000 m2; são necessários cerca de 30.000 m2 no total; Problemas: A comunidade do Rio Vermelho começa a questionar a vinda dos moradores da Vila; Motivos apresentados pelo Rio Vermelho: o bairro não teria estrutura para a remoção; O que fazem? Um abaixo-assinado contra o projeto. A Prefeitura aceitou o abaixo-assinado e recuou. Decisão da Prefeitura: Vamos buscar outra área, agora um pouco mais próxima, na Vargem do Bom Jesus, com mais espaço para toda a comunidade, incluindo área de lazer, galpão para os catadores; e lá vamos nós de novo... 2ª. Alternativa – Terreno na Vargem do Bom Jesus Novo abaixo-assinado, cerca de 2.500 assinaturas, ainda que o número de eleitores na Vargem não chegue a 1.500; Houve ação junto ao Ministério Público, e os moradores da Vargem perderam, pois o juiz decidiu que o motivo era preconceito, mas o projeto não vingou, voltamos a estaca zero; Houve indenizações para as famílias que não queriam ficar mais na comunidade e assim retornaram ao seu local de origem; O valor das indenizações é normalmente muito reduzido, inferior a 3 mil reais. Muitos moradores aceitaram a indenização por falta de orientação e oportunidade. Em 2005, tínhamos uma associação de moradores, mas ela não era forte o suficiente. Março de 2006, a comunidade é pega de surpresa por um tornado que destelhou várias casas e deixou diversas famílias desabrigadas; Novas famílias desistem de permanecer no local, além de perderem suas casas, perderam também sua dignidade e força para lutar por uma moradia digna, pois seus sonhos se foram naquela avalanche de areia; A associação é desmobilizada, com o afastamento da presidente. Em Julho de 2007, os moradores começam a se mobilizar para ativar a associação, que havia se desfeito com a saída da presidente; Cerca de 800 pessoas que dependiam da organização dos moradores, foi realizada nova eleição e o trabalho tomou fôlego; A Associação se mobilizou e entrou em contato com as demais Associações do bairro; Em 23/08/2007, foi realizada uma reunião comunitária na ACIF-Ingleses onde todas as Associações do distrito votaram que a solução para a Vila do Arvoredo deve ser encontrada no distrito de Ingleses, já que os moradores são de Ingleses; Preferencialmente dividir o projeto em áreas menores, dois a 3 terrenos; Nova maratona em busca de terrenos no distrito de Ingleses (Ingleses, Santinho e Capivari); Foram encontrados dois terrenos, mas não foi possível a negociação; o preço era alto, e tudo que se tentou não deu certo! 3ª. Alternativa Em março de 2008, a Prefeitura procurou a comunidade para apresentar uma nova proposta; desta vez ela tinha o terreno; o governo do estado doou o terreno da CASAN para a Prefeitura; A Prefeitura apresenta o novo projeto para a comunidade; Problemas: A área onde se localiza o projeto foi muito questionado pela comunidade local por acharem que não seria a melhor área ,mas a comunidade vila do arvoredo ,concorda que a prefeitura realize o projeto nesta área. Apesar de todos os questionamentos contra,sabemos a nossa realidade do que é viver sobre dunas, e não poderíamos ser contra,já que receberíamos toda a infra-estrutura como água, luz e saneamento ou seja (moradia digna). As negociações continuam junto as lideranças comunitárias. A Prefeitura não dispõe de outro terreno público a não ser o da CASAN; a prefeitura não disponibilizou no orçamento do município verba para compra de terrenos para habitação popular; 4° Alternativa Foi feito um estudo por uma engenharia sanitarista e foi encontrada uma área no terreno da CASAN que possuía uma cota que não alagaria; Nova reunião com as Associações de Ingleses em abril de 2008 na qual é aprovada a nova proposta global na área estudada, sem prejuízo ambiental, além dos benefícios para a comunidade como um todo, pois seria criado o Parque do Capivari, o único Parque do distrito; Agora vai, pensamos...... Problemas: A área citada pela engenheira sanitária era da igreja católica, pois esta doação já teria sido feita a muitos anos,a prefeitura procurou negociar,já que e área era perfeita para a comunidade. Foi procurado os proprietários,o padre ,e até o Bispo mais foi em vão Tentamos fazer uma reunião com a comunidade em torno mais infelizmente fomos muito mal recebidos, e a reunião nem aconteceu não tivemos a oportunidade de esclarecer a grande necessidade da comunidade pela aquela área. Não somos os únicos moradores de Ingleses que precisam de moradias dignas. Andando pelo nosso bairro, é possível ver várias moradias precárias. Projetos Habitacionais, financiamentos pela Caixa Econômica deveriam ser a rotina para a grande maioria da população brasileira. O que deveria ser a regra, é a exceção. Quem sabe juntos, poderemos vislumbrar uma solução. No nosso dicionário, qual a definição de caridade, de justiça, de bondade, de desamparo...? Contribuir para que os moradores da Vila do Arvoredo possam enfim, depois de 22 anos, ter uma moradia digna, estará incluído?