UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
Departamento de Zootecnia
EFEITO DA UTILIZAÇÃO DE PRÓBIÓTICOS EM DIETAS PARA BOVINOS
NELORE TERMINADOS EM CONFINAMENTO
INTRODUÇÃO
Aditivos alimentares são utilizados em dietas para bovinos de corte em
confinamento com o objetivo de melhorar o desempenho animal, sua eficiência alimentar
e diminuir os riscos de doenças ligadas à digestão tais como acidose e timpanismo.
Dentre os aditivos utilizados, os antibióticos ionóforos tais como a monensina
apresentam resultados positivos na maioria das vezes, melhorando em torno de 7% a
eficiência alimentar animal.
Entretanto, devido à preocupação em relação ao desenvolvimento de resistência por
microorganismos aos antibióticos, aditivos deste tipo tem sido banido da nutrição animal
em alguns países, gerando a demanda de outros tipos de aditivos alimentares nãoantibióticos ou “naturais”.
Exemplos de aditivos não-antibióticos são os chamados probióticos. Probióticos
podem ser microrganismos vivos tais como bactérias e leveduras, ou mesmo extratos de
culturas de microrganismos que trazem consigo componentes que podem exercer
influência sobre a fermentação microbiana ocorrida no rúmen e também no intestino.
Dentro dos efeitos sobre a fermentação microbiana ruminal ligados ao uso de
probióticos estão a manutenção do pH ruminal, diminuição da produção de lactato,
aumento da concentração de propionato e aumento da digestão da fibra. Tais efeitos
podem também estar relacionados ao aumento do consumo de alimento e do ganho de
peso, diminuição do risco de acidose ruminal e aumento da digestibilidade da dieta.
Av. Duque de Caxias Norte, 225 - 13635-900 – Pirassununga, SP
Fone: 19-3565.4047/4043 - Fax: 19-3565.4114 - E-mail: [email protected]
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
Departamento de Zootecnia
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do probiótico DBR® sobre o
desempenho e características de características de carcaça de bovinos Nelore confinados,
na fase terminação, com dietas contendo alto teor de concentrado.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no Departamento de Zootecnia, da Faculdade de Zootecnia e
Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, em Pirassununga, SP. Foram
utilizados 18 bovinos da raça Nelore, com média de idade de 18 meses e 362±30kg de
peso vivo, no início do experimento. Os animais foram distribuídos aleatoriamente em
baias individuais cobertas, com acesso a sombra e água.
A alimentação foi fornecida ad libitum, duas vezes ao dia, às 8h e 16h, com uma
dieta a base de bagaço de cana-de-açúcar como fonte de volumoso (18%) e concentrado
(82%) conforme descrito na Tabela 1. Além da dieta citada, os animais receberam
diariamente 100g de uma mistura contendo fubá de milho, pela qual foram fornecidas
quantidades específicas de monensina e probiótico DBR® conforme os tratamentos a
seguir:
1) MON - monensina sódica
- fubá de milho + 275mg de monensina sódica;
2) DBR - probiótico DBR®
- fubá de milho + 2,0g de probiótico DBR®;
3) DBR+MON - probiótico DBR® + monensina sódica
- fubá de milho + 1,0g de probiótico DBR® + 138mg de monensina sódica.
Av. Duque de Caxias Norte, 225 - 13635-900 – Pirassununga, SP
Fone: 19-3565.4047/4043 - Fax: 19-3565.4114 - E-mail: [email protected]
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
Departamento de Zootecnia
As misturas foram preparadas em misturador com capacidade de 100 kg e então
foram acondicionadas em sacos plásticos, devidamente identificados, na quantidade a ser
fornecida ao animal (100g). Os saquinhos contendo as misturas foram então armazenados
ao abrigo da umidade e de insetos, até o momento do fornecimento.
Tabela 1 – Composição de ingredientes e de nutrientes da dieta utilizada
Ingredientes
% na MS
Bagaço de cana in natura
18,0
Milho grão seco
42,5
7,0
Farelo de soja 49%
Casca de soja peletizada
30,0
1,0
Uréia
Núcleo mineral
1,5
Nutrientes estimados
Proteína bruta, %
14,2
Proteína degradável no rúmen, %
9,05
72,4
NDT, %
Ca
0,44
P
0,29
Durante os primeiros 15 dias após a chegada ao local do estudo, os animais foram
adaptados ao local e à dieta. Neste período os animais receberam uma mistura de bagaço
de cana crú e silagem de milho à vontade e ração concentrada na quantidade de 2,0
kg/animal nos dias 1 a 5; 4,0 kg/animal nos dias 6 a 10 e 6,0 kg/animal entre os dias 11 e
15 da adaptação. Esta fase não foi computada para fins de cálculo de consumo de
alimentos e ganho de peso dos animais. As misturas com aditivos não foram fornecidas
nesta fase.
Os animais foram distribuídos aleatoriamente aos três tratamentos, num total de
seis animais em cada. Na fase de avaliação, as misturas entre fubá de milho e os aditivos
foram fornecidos juntamente com a alimentação matinal. Após o fornecimento da dieta,
Av. Duque de Caxias Norte, 225 - 13635-900 – Pirassununga, SP
Fone: 19-3565.4047/4043 - Fax: 19-3565.4114 - E-mail: [email protected]
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
Departamento de Zootecnia
as misturas foram servidas sobre a ração total misturada, não sendo misturadas a esta,
com o objetivo de garantir o consumo integral das misturas contendo os aditivos.
O consumo de alimento (CMS) foi determinado diariamente sendo calculado como a
diferença entre a quantidade de ração total fornecida e as sobras alimentares, as quais
foram determinadas três vezes por semana. A quantidade de alimento fornecida foi
ajustada de forma a manter 5 a 10% de sobras em relação ao total fornecido. Amostras de
bagaço de cana e concentrado foram obtidas ao longo do período experimental para
determinar o conteúdo de matéria seca da dieta e das sobras.
Os animais foram pesados, após jejum alimentar de 16h, no início e no final do
período experimental e também a cada 28 dias. Durante as pesagens foram realizadas
avaliações de carcaça através da ultrassonografia, para avaliação da área de olho de
lombo e espessura de gordura subcutânea sobre a região entre as 12ª e 13ª costelas e
sobre a garupa. O período experimental de avaliações teve duração de 84 dias.
Os dados obtidos foram analisados e são apresentados em função de subperíodos de
28 dias e em função do período total de 84 dias. A análise estatística foi realizada
utilizando o pacote estatístico SAS (SAS Institute Inc., Cary, NW, EUA). Diferenças entre os
tratamentos foram consideradas significantes apenas quando os valores de probabilidade
foram menores que 0,05 (5%).
Av. Duque de Caxias Norte, 225 - 13635-900 – Pirassununga, SP
Fone: 19-3565.4047/4043 - Fax: 19-3565.4114 - E-mail: [email protected]
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
Departamento de Zootecnia
Resultados
A dieta utilizada no estudo proporcionou adequado consumo de matéria seca,
observando-se um aumento na ingestão de alimentos ao longo do teste, como
apresentado na Figura 1. Foram observados poucos surtos de acidose subclínica, quando
houve pequenas depressões na ingestão de alimentos, por curto período de tempo.
Avaliando-se o comportamento semanal do consumo de alimentos nos três tratamentos
estudados, não se verificou diferenças significativas entre os tratamentos DBR®,
monensina e DBR®+monensina.
14,0
Consumo de alimentos, kgMS/dia
12,0
10,0
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
7
14
21
28
35
42
49
56
63
70
77
Tempo em confinamento, dias
DBR
DBR+MONENSINA
MONENSINA
Figura 1 – Consumo de matéria seca de bovinos Nelore confinados, recebendo DBR®,
DBR®+Monensina e Monensina, em função do tempo em confinamento.
Comportamento semelhante ao observado para o consumo de alimentos ocorreu
com o ganho de peso dos animais nos diferentes tratamentos, como mostrado na Figura
2. Não se observou também diferenças significativas entre os tratamentos, ao longo do
Av. Duque de Caxias Norte, 225 - 13635-900 – Pirassununga, SP
Fone: 19-3565.4047/4043 - Fax: 19-3565.4114 - E-mail: [email protected]
84
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
Departamento de Zootecnia
período do estudo. Os três tratamentos avaliados proporcionaram ganhos de peso
considerados muito bons.
550,0
Peso Vivo, kg
500,0
450,0
400,0
350,0
300,0
0
28
56
84
Tempo em confinamento, dias
DBR
DBR+MONENSINA
MONENSINA
Figura 2 – Peso vivo de bovinos Nelore confinados, recebendo DBR®,
DBR®+Monensina e Monensina, em função do tempo em confinamento.
Na Tabela 2, são apresentados os dados de desempenho em confinamento de
tourinhos Nelore recebendo dieta de alto concentrado contendo diferentes aditivos.
Os resultados foram divididos em função de três períodos de 28 dias. Observou-se
que em todos os subperíodos avaliados os animais alimentados com o probiótico DBR®
apresentaram desempenho semelhante àqueles animais recebendo monensina ou a
mistura entre os dois aditivos.
Durante o período 2, entre 28 e 56 dias em confinamento, observou-se que houve
uma tendência estatística (P=0,09) dos animais recebendo monensina apresentarem
melhor conversão alimentar que animais recebendo DBR®, porém considera-se que a
diferença apresentada não é estatisticamente significativa.
Av. Duque de Caxias Norte, 225 - 13635-900 – Pirassununga, SP
Fone: 19-3565.4047/4043 - Fax: 19-3565.4114 - E-mail: [email protected]
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
Departamento de Zootecnia
Tabela 2 – Desempenho em confinamento de bovinos Nelore recebendo dietas contendo
monensina, DBR® e DBR® + monensina
Tratamento
DBR®
Monensina
DBR®+Monensina
Característica
Período 1 (0 a 28 dias)
Peso vivo inicial, kg
359
368
361
Peso vivo 28 dias, kg
423
423
407
Ganho médio diário, kg/dia
2,30
1,95
2,00
Consumo de alimentos, kg/dia
10,30
10,58
9,36
Conversão alimentar, kg/kg
4,62
5,97
5,49
Eficiência alimentar, kg/kg
0,225
0,184
0,193
Período 2 (28 a 56 dias)
Peso vivo 56 dias, kg
468
480
474
Ganho médio diário, kg/dia
1,76
2,20
2,11
Consumo de alimento, kg/dia
10,9
11,1
10,5
Conversão alimentar, kg/kg†
6,36
4,97
5,24
Eficiência alimentar, kg/kg
0,162
0,199
0,209
Período 3 (56 a 84 dias)
Peso vivo 84 dias, kg
521
532
526
Ganho médio diário, kg/dia
1,77
1,99
1,81
Consumo de alimento, kg/dia
11,1
12,3
11,8
Conversão alimentar, kg/kg
6,58
6,68
6,33
Eficiência alimentar, kg/kg
0,160
0,166
0,153
Período total (0 a 84 dias)
Peso vivo inicial, kg
359
368
361
Peso vivo final, kg
521
532
526
Ganho médio diário, kg/dia
1,94
2,05
1,86
Consumo de alimento, kg/dia
10,8
11,3
10,6
Conversão alimentar, kg/kg
5,63
5,69
5,55
Eficiência alimentar, kg/kg
0,181
0,176
0,182
† Tendência (P<0,10) de diferenças entre os tratamentos.
Quando avaliado o 1º subperíodo, verificou-se que a alimentação com DBR® resultou
em ganho de peso e eficiência alimentar semelhante àquela apresentada com a
monensina. Os primeiros dias de confinamento podem ser críticos à adaptação do animal
Av. Duque de Caxias Norte, 225 - 13635-900 – Pirassununga, SP
Fone: 19-3565.4047/4043 - Fax: 19-3565.4114 - E-mail: [email protected]
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
Departamento de Zootecnia
à dieta de confinamento e, por isso, a monensina é utilizada com o objetivo de dimiuir os
riscos de acidose e desempenho deprimido nesta fase. Vistos os resultados obtidos no 1º
subperíodo, é possível sugerir que o probiótico DBR® pode ser utilizado em substituição
parcial ou total à monensina sódica em dietas de confinamento.
Em relação às características de carcaça (Figuras 3, 4 e 5), também não houve
diferenças entre os tratamentos estudados. Verifica-se que todos os tratamentos
contendo DBR® proporcionaram um crescimento linear da área do músculo Longissimus,
que é considerada uma medida de musculosidade e rendimento de porção comestível da
carcaça bovina.
90,0
Área de Olho de Lombo, cm2
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
0
28
56
Tempo em confinamento, dias
DBR
DBR+MONENSINA
MONENSINA
Figura 3 – Área de olho de lombo de bovinos Nelore confinados, recebendo DBR®,
DBR®+Monensina e Monensina, em função do tempo em confinamento.
Av. Duque de Caxias Norte, 225 - 13635-900 – Pirassununga, SP
Fone: 19-3565.4047/4043 - Fax: 19-3565.4114 - E-mail: [email protected]
84
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
Departamento de Zootecnia
7,0
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
0
28
56
84
Tempo em confinamento, dias
DBR
DBR+MONENSINA
MONENSINA
Figura 4 – Espessura de gordura subcutânea sobre o músculo Longissimus de bovinos
Nelore confinados, recebendo DBR®, DBR®+Monensina e Monensina, em
função do tempo em confinamento.
8,0
7,0
Espessura de Gordura na Garupa, mm
Espessura de Gordura Subcutânea, mm
8,0
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
0
28
56
Tempo em confinamento, dias
DBR
DBR+MONENSINA
MONENSINA
Figura 5 – Espessura de gordura sobre a garupa de bovinos Nelore, recebendo DBR®,
DBR®+Monensina e Monensina, em função do tempo em confinamento.
Av. Duque de Caxias Norte, 225 - 13635-900 – Pirassununga, SP
Fone: 19-3565.4047/4043 - Fax: 19-3565.4114 - E-mail: [email protected]
84
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
Departamento de Zootecnia
Todos os tratamentos proporcionaram cobertura de gordura na carcaça adequada
quanto
às
exigências
da
indústria
frigorífica,
com
carcaças
apresentando
aproximadamente 5 mm de gordura subcutânea sobre o lombo e a garupa.
Conclusão
Com base nos resultados obtidos neste estudo, verificou-se que a administração do
probiótico DBR® na dieta dos animais, resultou em ganho de peso e eficiência alimentar
semelhante aos resultados obtidos com a administração da monensina. Dessa forma, é
possível sugerir que o probiótico DBR® pode ser utilizado em substituição parcial ou total
à monensina sódica em dietas de confinamento.
Pirassununga, 24 de agosto de 2010
Prof. Dr. Saulo da Luz e Silva
Dr. Rodrigo da Costa Gomes
Av. Duque de Caxias Norte, 225 - 13635-900 – Pirassununga, SP
Fone: 19-3565.4047/4043 - Fax: 19-3565.4114 - E-mail: [email protected]
Download

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO